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RECIFE-PE
2017
TEMA
Este projeto centra-se nos artesãos e o artesanato de Timbaúba, cidade que fica na
zona da mata norte do Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil e a 100 km da capital,
Recife. Conforme o levantamento intitulado O Artesanato Nordestino: Características e
Problemática Atual, do Banco do Nordeste, na década de 70 e 80 do século passado, aqueles
artesãos faziam parte do concerto artesanal de Pernambuco devido a suas produções de redes
e tapetes. A partir do que é relatado no Projeto de Melhoria da Comunidade Artesanal de
Mocós, promovido pela SUDENE em 1969, também é possível perceber que praticamente
todas as famílias do bairro de Mocós, em Timbaúba, participavam da produção de redes
artesanais e utilizavam como instrumento principal o tear.
Esses questionamentos aliados ao fato de que boa parte dos jovens de Timbaúba hoje
desconhece a existência da prática (quase extinta) do artesanato naquela cidade (tal percepção
obtive a partir de algumas visitas com estudantes de Ensino Médio de Timbaúba ao museu da
cidade, o Funjáder, no qual há um exemplar de tear), motivaram a escrita deste projeto. Se o
artesanato foi tão relevante para a economia e identidade local, o que faltou ou falta para a
preservação daquela prática? Que contexto ou transformações provocaram seu declínio?
Tal situação é oportuna para refletir sobre as políticas públicas voltadas para o
artesanato e que critérios utilizaram para subsidiar os artesãos. Por que, por exemplo, a
ARTENE – artesanato do Nordeste -, subsidiária da SUDENE, faz muita menção em suas
práticas à fábrica de artesanato Casa Caiada, em Lagoa do Carro e à cerâmica do barro, de
Tracunhaém, mas com muita limitação aos produtores de redes de Timbaúba, apesar de sua
intensa produção? Há artesanato mais representativo que outro? Talvez a concepção de
cultura popular a que ligam a produção de redes de Timbaúba nos ajude a compreender o
possível silenciamento ao qual aqueles artesãos foram colocados.
Seguindo a indicação de Walter Benjamim, a de que a história deve ser escrita a partir
da experiência dos sujeitos históricos envolvidos, a contrapelo e levando em consideração que
a prática humana está no campo das possibilidades, acredita-se que melhor forma de
compreender os artesãos de redes de Timbaúba, seu esplendor, motivos, significações e
ressignificações no decurso do tempo, bem como suas lutas por manter a tradição, será a partir
deles mesmos, de seus relatos.
Uma pesquisa nessa perspectiva será útil para refletir a historicidade do artesanato em
Timbaúba, seu processo de patrimonialização (em que sentido?) e a construção e variações da
identidade local diante da falta de políticas públicas na atualidade que visem à preservação
daquela atividade (existe uma lei municipal que intenciona promover e proteger a prática do
artesanato, mas não especifica qual tipo de artesanato)
Para tanto, esta pesquisa focará na produção do artesanato em Mocós nas décadas de
60, 70 e 80, pelo fato de nesse período haver a emergência de politicas públicas de
valorização ao artesanato nacional.
Discussão Historiográfica
O tema artesanato é por natureza muito complexo haja vista as suas muitas variações,
matéria-prima utilizada, processo de produção, níveis de organização dos artesãos, bem como
a finalidade a que muitos dos produtos artesanais se destinam. Da função utilitária,
econômica, turística à decorativa, o artesanato tem sido alvo de pesquisas sob perspectivas
bastante diversas.
Ao trazer essas questões para décadas mais recentes, deparamo-nos com outros
questionamentos em uma complexidade ainda maior. Maria Rosilene Barbosa alvim (1972)
em seu trabalho sobre a ourivesarias em Juazeiros se propõe a estudar aquele artesanato
através do conceito de modo de produção, o que a leva a restringir sua análise, embora por
esse mesmo motivo ela critica Pierre Bourdieu quando ele se propõe a estudar o artesanato na
Argélia. Qual seria, então, a fórmula mais adequada para estudar o artesanato? Porque
levando em consideração os “modelos rígidos de análise” sempre se correrá o risco de perder
de vista as várias dimensões que a produção do artesanato pode apresentar. Uma delas é, no
caso, a divisão de trabalho na produção artesanal.
Para caracterizar um produto artesanal não é suficiente, entretanto, o fato de não haver
divisão de trabalho ou de haver controle pelo trabalhador de todas as etapas do processo de
trabalho como se observou em COIMBRA, S. R. e outros (1980) “no caso dos oleiros do
nordeste, por exemplo, mesmo os mais tradicionais, ou na penitenciária Lemos de Brito na
Bahia, encontramos uma clara divisão de trabalho, ou ainda nas oficinas de fundo de quintal
ou pequenas oficinas em São Paulo, que aspiram tornar-se microempresas com mão de obra
assalariada, incentivadas pelo Estado.
Pois bem, sendo o artesanato um tema tão complexo, como bem expressou Raul Lody
(1986) “... sendo o produto artesanal a visão de mundo de quem o produziu... e o testemunho
insofismável do complexo homem”. Embora essa afirmação de Lody talvez seja a mais
coerente com a ideia de artesanato, ainda é digno observar duas ideias referentes a essa
temática.
Mostra-se oportuno a este ponto retomar Aloísio Magalhães uma vez que na década de
70 ele, através do Centro Nacional de Referência Cultural, fez um trabalho de valorização do
artesanato brasileiro na fase Mapeamento do artesanato brasileiro. Através desse
mapeamento, o CNRC tentou lançar um olhar novo sobre os processos culturais...
apresentando uma crítica à visão romântica predominante entre os folcloristas. A partir dessa
concepção, o artesanato seria entendido como “um momento da trajetória e não uma coisa
estática”. Para Aloísio, esta visão de artesanato era politicamente errada e culturalmente
impositiva.
O método que será utilizado para a realização da pesquisa é a História Oral. “Método
que consiste em realizar entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou
testemunharam, acontecimentos e conjunturas do passado e do presente... dessa forma, amplia
as possibilidades de interpretação do passado” (Alberti). Embora, como mostra Sônia Maria
de Freitas (2002), a História Oral, em seu surgimento no século XIX tenha enfrentado
problemas de credibilidade uma vez que, argumentava a historiografia sob forte influência
positivista (que veementemente se esforçava para proteger e propagar a história oficial), essas
fontes são "subjetivas, falíveis e eram comprometidas pelas notícias tendenciosas, mentiras e
calúnias".
As informações obtidas serão cruzadas com as fontes escritas abaixo elencadas, as que
estão em bases de dados; e o processo de interpretação ocorrerá à luz da concepção teórico-
metodológica dos autores, a saber, Michel Foucault, Roger Chartier, Pierre Bourdieu, Michel
de Certeau, Peter Burke, Carlos Ginzburg, Walter Benjamim dentre outros. Como bem
sugeriu Carlos Ginzburg, seguir os rastros de informações, fontes, evidências... fazem parte
do processo da construção de uma narração.
Fontes Oficiais:
Jornais e Revistas
Estes são apenas alguns exemplos de notícias publicadas em jornais sobre o tema artesanato
no período, mas há diversas outras disponíveis na base do Museu do Folclore, bem como
pesquisarei o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commércio.
OBJETIVOS
Geral:
Específicos:
CRONOGRAMA
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