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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA-PPGH


JOSÉ JANILTON GONÇALVES DA SILVA

PROJETO DE PESQUISA: O ARTESANATO EM MOCÓS

RECIFE-PE
2017
TEMA

Este projeto centra-se nos artesãos e o artesanato de Timbaúba, cidade que fica na
zona da mata norte do Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil e a 100 km da capital,
Recife. Conforme o levantamento intitulado O Artesanato Nordestino: Características e
Problemática Atual, do Banco do Nordeste, na década de 70 e 80 do século passado, aqueles
artesãos faziam parte do concerto artesanal de Pernambuco devido a suas produções de redes
e tapetes. A partir do que é relatado no Projeto de Melhoria da Comunidade Artesanal de
Mocós, promovido pela SUDENE em 1969, também é possível perceber que praticamente
todas as famílias do bairro de Mocós, em Timbaúba, participavam da produção de redes
artesanais e utilizavam como instrumento principal o tear.

No entanto, a despeito da representatividade tanto da identidade local quanto para a


economia desempenhada por aqueles artesãos ao longo de décadas, na atualidade, o artesanato
de Timbaúba tem sofrido, em termos quantitativos, um grande declínio. Enquanto em 1969
todas as famílias do bairro (aproximadamente 210) eram artesãs, hoje o total de famílias ainda
perseverantes na atividade não passa de 10 famílias, totalizando aproximadamente 30 pessoas.
A que se pode atribuir esse declínio? Esse é um dos questionamentos que me instigaram à
busca por documentos sobre aquela comunidade.

Talvez um primeiro obstáculo para compreender a prática artesanal seja a definição da


própria prática: artesanato. Uma primeira tentativa afirma que o artesanato como modo de
produção pré-capitalista pressupõe a unidade da força de trabalho e dos meios de produção e
do produto de trabalho e a participação do trabalhador em todas as etapas do processo
(MARX, 1980). Parece provável que essa definição seja insuficiente para o artesanato e sua
complexidade nos dias atuais. Além do que a atividade do artesão varia de acordo com os
instrumentos que utilizam a técnica, a comercialização, os motivos, etc.

Quanto aos artesãos de Timbaúba, há um ponto curioso o qual é capaz de pôr o


recorrente conceito de artesanato em dúvida bem como a terminologia que melhor se adeque
para denominá-los: seu vínculo com a fábrica de tecelagem na mesma cidade. Produtora de
fios, a fábrica Queiroz & Andrade era a maior fornecedora de fios para os artesãos que por
sua vez os utilizavam como matéria-prima para as redes artesanais. Nas décadas de 70 e 80, a
presença da fábrica e a produção de artesanato eram, para grande parte da população de
Timbaúba, a única fonte de renda. Hoje a fábrica não existe mais, os artesãos de redes são,
numericamente, inexpressivos e a atividade econômica predominante é o comércio lojista.
Mesmo assim é relevante ressaltar que havia interdependência entre artesãos (e seu
artesanato) e os produtos da fábrica (os fios). Não é o artesanato uma atividade pré-industrial?
Se esse conceito ainda é válido, então que conceito se dá aos artesãos de Timbaúba que
dependiam de um produto industrial para realizar o seu artesanato, ao mesmo tempo em que
fomentavam a indústria? Neste caso, seus produtos ainda podem ser percebidos como
artesanato? E quanto aos artesãos? O que os diferencia dos tecelões que trabalhavam na
fábrica? Afinal, ambos os grupos trabalhavam com fios. Trabalhadores de teares são tecelões
ou artesãos? Talvez as definições idealistas para artesanato assegurassem que em Timbaúba
não houve e nem há artesanato. Precisa-se de um neologismo, talvez. Jugo ser importante
considerar inserir aqueles artesãos no campo de discussão conceitual de sua atividade porque
assim facilita ao pesquisador a compreensão daquela atividade face às políticas públicas
criadas a partir da década de 70 para promover o artesanato no Brasil.

A exemplo dessas políticas públicas pode-se falar no PNDA – Plano Nacional do


Desenvolvimento do Artesanato, criado em 1977, na governo do presidente Geisel a fim de
“promoção do artesão e comercialização de seus produtos”. Tal órgão estaria vinculado ao
Ministério do Trabalho. Outra criação de muita relevância em prol do artesanato no Brasil foi
o CNRC, originado e presidido por Aloísio Magalhães. O Centro Nacional de Referência
Cultural – CNRC, criado em 1975, dois anos antes, portanto, do PNDA, inicialmente
pretendia fazer um mapeamento das produções culturais do Brasil. No segundo momento,
dentre outras ações, um mapeamento do artesanato brasileiro a fim de possibilitar um olhar
diferenciado para os processos culturais. De acordo com Maria Cecília Londres, foi nesse
âmbito em que o CNRC obteve resultados mais significativos. Ainda sobre as políticas
públicas, é relevante ressaltar o papel da SUDENE, através da ARTENE e o Banco do
Nordeste no desenvolvimento do artesanato no nordeste e em Timbaúba.

O tratamento que esses projetos dispensaram ao artesanato brasileiro relaciona-se a


uma perspectiva folclórica, turística e, portanto, comercial. Uma pesquisa que tente
compreender o artesanato de Timbaúba em sua historicidade, a partir das experiências dos
próprios artesãos, suas identidades e ressignificações no decurso do tempo, permitir-nos-á
entender as carências que viviam suas articulações, resistências e também, tentar compreender
as dificuldades de políticas públicas que visem à preservação daquele “saber-fazer” como
uma defesa da cidadania.
JUSTIFICATIVA

LucienFebvre defendia que a História é a ciência do passado e a ciência do presente: é


a forma pela qual o historiador atua na sua época, na sua sociedade e deve ajudar a explicar o
social no presente. Na mesma perspectiva, Certeau afirma que a escrita da história é uma
forma de exorcizar aquele que não existe mais, localizar o sujeito no presente, situá-lo em
relação ao passado e apropriar-se dos seus significados para que assim haja uma continuidade
de experiências. Para ambos, portanto, a história possui uma função social.

É baseando-se na importância da história para a sociedade que este projeto se propõe a


compreender a comunidade de artesãos do bairro de Mocós, em Timbaúba, PE. De acordo
com a reportagem do Jamildo Melo em 2003, esse bairro adquiriu certa proeminência no
Estado pela sua produção, ao longo de décadas, de redes e tapetes artesanais com a utilização
do tear rústico. Tal informação encontra correspondência na pesquisa realizada pelo Banco do
Nordeste S.A, em 1982. Ainda de acordo com as informações acima, a revista de
comemoração de 100 anos de emancipação daquele município, a Timbaúba Centenária de
fevereiro de 1982, os artesãos de Mocós viviam de forma quase que independente do restante
da cidade, pois economicamente o artesanato lhes supria as necessidades, os jovens
frequentavam as escolas do próprio bairro além de que lá havia (e há) uma paróquia para os
moradores.

Vê-se, portanto, certo esplendor e vivacidade presentes entre os tecelões (artesãos?) de


Mocós ao longo de décadas. Hoje, entretanto, apenas dez famílias continuam produzindo
redes artesanais naquele bairro. Considerando que na década de 60, a SUDENE aplicou um
projeto para aqueles artesãos com o objetivo “de elevar o nível da comunidade de Mocós,
através da melhoria de condições sanitárias e do aumento da produtividade do trabalho
artesanal”, talvez seja provocador perguntar como estariam os artesãos de Timbaúba hoje caso
aqueles projetos não tivessem existido. Digo, que impactos reais os projetos da SUDENE e do
Banco do Nordeste S.A tiveram sobre o artesanato de Mocós?

Esses questionamentos aliados ao fato de que boa parte dos jovens de Timbaúba hoje
desconhece a existência da prática (quase extinta) do artesanato naquela cidade (tal percepção
obtive a partir de algumas visitas com estudantes de Ensino Médio de Timbaúba ao museu da
cidade, o Funjáder, no qual há um exemplar de tear), motivaram a escrita deste projeto. Se o
artesanato foi tão relevante para a economia e identidade local, o que faltou ou falta para a
preservação daquela prática? Que contexto ou transformações provocaram seu declínio?

Tal situação é oportuna para refletir sobre as políticas públicas voltadas para o
artesanato e que critérios utilizaram para subsidiar os artesãos. Por que, por exemplo, a
ARTENE – artesanato do Nordeste -, subsidiária da SUDENE, faz muita menção em suas
práticas à fábrica de artesanato Casa Caiada, em Lagoa do Carro e à cerâmica do barro, de
Tracunhaém, mas com muita limitação aos produtores de redes de Timbaúba, apesar de sua
intensa produção? Há artesanato mais representativo que outro? Talvez a concepção de
cultura popular a que ligam a produção de redes de Timbaúba nos ajude a compreender o
possível silenciamento ao qual aqueles artesãos foram colocados.

Seguindo a indicação de Walter Benjamim, a de que a história deve ser escrita a partir
da experiência dos sujeitos históricos envolvidos, a contrapelo e levando em consideração que
a prática humana está no campo das possibilidades, acredita-se que melhor forma de
compreender os artesãos de redes de Timbaúba, seu esplendor, motivos, significações e
ressignificações no decurso do tempo, bem como suas lutas por manter a tradição, será a partir
deles mesmos, de seus relatos.

Uma pesquisa nessa perspectiva será útil para refletir a historicidade do artesanato em
Timbaúba, seu processo de patrimonialização (em que sentido?) e a construção e variações da
identidade local diante da falta de políticas públicas na atualidade que visem à preservação
daquela atividade (existe uma lei municipal que intenciona promover e proteger a prática do
artesanato, mas não especifica qual tipo de artesanato)

Para tanto, esta pesquisa focará na produção do artesanato em Mocós nas décadas de
60, 70 e 80, pelo fato de nesse período haver a emergência de politicas públicas de
valorização ao artesanato nacional.

Na atualidade o artesanato de Timbaúba é anualmente lembrado em sua


espetacularização na FENEARTE, evento comercial e cultural que ocorre na cidade de
Olinda, no Centro de Convenções. Contudo, quem convive com os artesãos daquela cidade,
percebe que a participação naquele evento é fruto de tensões políticas e sociais e que reforçam
o contraste entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativa dos grupos envolvidos.
Isso instiga a conhecer os processos históricos daquele grupo de artesãos para compreendê-los
no presente. Mas a propósito, no mundo pós-moderno ainda há espaço para se estudar a
cultura popular?

Discussão Historiográfica

O tema artesanato é por natureza muito complexo haja vista as suas muitas variações,
matéria-prima utilizada, processo de produção, níveis de organização dos artesãos, bem como
a finalidade a que muitos dos produtos artesanais se destinam. Da função utilitária,
econômica, turística à decorativa, o artesanato tem sido alvo de pesquisas sob perspectivas
bastante diversas.

Em um discurso realizado em Recife, em 1976, o então coordenador geral do CNRC,


Aloísio Magalhães (um dos mais proeminentes na valorização do artesanato no Brasil na
década de 70), afirma que nos padrões ortodoxos do artesanato, (aqueles que cristalizam o
artesanato como uma atividade pré-capitalista), não é possível afirmar que no Brasil existe
artesanato. O que existe, contudo, é a disponibilidade imensa para o fazer. Aloísio continua
seu raciocínio dizendo que o homem brasileiro estaria mais próximo de conceitos de design
do que propriamente artesanais no sentido clássico. Talvez isso seja um reflexo da ideia
apresentada por Sérgio Buarque de Holanda, ao afirmar que no período colonial, a América
Portuguesa possuía uma débil organização artesanal, perante a economia agrária e escravista.
Diante disso, urge questionar de que forma a prática artesanal no Brasil foi marcado ou
mesmo se é possível falar em prática artesanal nos dias atuais.

Ao trazer essas questões para décadas mais recentes, deparamo-nos com outros
questionamentos em uma complexidade ainda maior. Maria Rosilene Barbosa alvim (1972)
em seu trabalho sobre a ourivesarias em Juazeiros se propõe a estudar aquele artesanato
através do conceito de modo de produção, o que a leva a restringir sua análise, embora por
esse mesmo motivo ela critica Pierre Bourdieu quando ele se propõe a estudar o artesanato na
Argélia. Qual seria, então, a fórmula mais adequada para estudar o artesanato? Porque
levando em consideração os “modelos rígidos de análise” sempre se correrá o risco de perder
de vista as várias dimensões que a produção do artesanato pode apresentar. Uma delas é, no
caso, a divisão de trabalho na produção artesanal.

Para caracterizar um produto artesanal não é suficiente, entretanto, o fato de não haver
divisão de trabalho ou de haver controle pelo trabalhador de todas as etapas do processo de
trabalho como se observou em COIMBRA, S. R. e outros (1980) “no caso dos oleiros do
nordeste, por exemplo, mesmo os mais tradicionais, ou na penitenciária Lemos de Brito na
Bahia, encontramos uma clara divisão de trabalho, ou ainda nas oficinas de fundo de quintal
ou pequenas oficinas em São Paulo, que aspiram tornar-se microempresas com mão de obra
assalariada, incentivadas pelo Estado.

Há ainda os que analisam o artesanato do ponto de vista da economia a exemplo de


Paulo Renato de Souza, 1983 e José Reginaldo Prandi, 1978 também deixam a desejar quando
limitam a prática analisada aqui como atividade própria de período de retração da economia.
É nessa linha que Leila SollbergerJeolás (1988) expõe sua pesquisa sobre o artesanato de
Embu e em Campinas e a participação dos artesãos na feira de artesanato de Campinas como
uma alternativa à crise econômica. O mesmo ocorreu na produção de Lúcia Cysneiros Passos
e Virgínia Alves dos Santos (1974) sobre a cerâmica de Tracunhaén, em Pernambuco ao
perceber que aqueles artesãos também utilizavam aquela prática como alternativa ao
retrocesso econômico. CANCLINI ao analisar o artesanato como um produto capitalista, diz
que o produto do artesão é a representação de práticas sociais de seus próprios produtores.

Pois bem, sendo o artesanato um tema tão complexo, como bem expressou Raul Lody
(1986) “... sendo o produto artesanal a visão de mundo de quem o produziu... e o testemunho
insofismável do complexo homem”. Embora essa afirmação de Lody talvez seja a mais
coerente com a ideia de artesanato, ainda é digno observar duas ideias referentes a essa
temática.

MirkoLauer (1983) quando analisou o artesanato do Peru, discutiu a respeito de qual


seria o verdadeiro conceito para essa atividade. Ele inicia afirmando que “artesanato não é
uma categoria universal do espírito humano... tratar-se-ia de uma criação cultural e de classe
e, consequentemente, de um fenômeno historicamente determinado... destinado a sofrer
modificações a partir das avaliações da sociedade.” No mesmo trabalho ele ainda aborda o
artesanato como cultura popular e que essa categoria é sempre definida pela alteridade,
portanto, pela dominação pelos quais se delimita e seleciona o terreno de estudo. Mas no
cerne de sua discussão ele apresenta o artesanato, como uma criação social e desvinculada de
conceitos clássicos e idealistas. Daí ele trata o artesanato como plástica ou arte. A arte de um
povo, sua criatividade, seus valores e sua mensagem. Se artesanato é arte, conforme Lauer,
então os artesãos de Mocós em Timbaúba também são artistas. (?) Se essa concepção de
artesão como artista faz algum sentido, então ela dialoga de modo confortável com Richard
Sennet (2009) ao apresentar a atividade do artífice como fruto de suas ideias e planejamento
(essa ideia se contrapõe à de Hannan Arendt segundo a qual o homem é o Animal laborens
que se preocupa inicialmente em produzir algo como um fim em si mesmo, com o único
objetivo de “fazer a coisa funcionar”, a despeito da consequência disso) e que já possui um
fim específico. Ou seja, o artífice cria, racionaliza antes de produzir e, talvez o mais
importante, passa pelo processo de capacitação uma vez que a habilidade de produzir não é
inata. É importante conhecer essas concepções, pois entender que o processo de criação do
artesanato passa pelo contexto social dos artesãos e sua capacidade criadora, facilitará a
desconstrução de reificações comumente empregadas ao artesanato.

Mostra-se oportuno a este ponto retomar Aloísio Magalhães uma vez que na década de
70 ele, através do Centro Nacional de Referência Cultural, fez um trabalho de valorização do
artesanato brasileiro na fase Mapeamento do artesanato brasileiro. Através desse
mapeamento, o CNRC tentou lançar um olhar novo sobre os processos culturais...
apresentando uma crítica à visão romântica predominante entre os folcloristas. A partir dessa
concepção, o artesanato seria entendido como “um momento da trajetória e não uma coisa
estática”. Para Aloísio, esta visão de artesanato era politicamente errada e culturalmente
impositiva.

Sendo assim, apesar de várias abordagens sobre o artesanato, senti falta na


historiografia brasileira de alguma pesquisa voltada para a historicidade do artesanato, sua
análise no campo da cultura popular bem como as experiências vividas pelos próprios
artesãos. A maior parte das produções que temos, é fruto de uma visão vertical, folclorizante e
homogeneizante. Considerando, contudo, o contexto pós-moderno, no qual, segundo Stuart
Hall, não há mais espaço para uma identidade essencialista e centralizada, como a
desvalorização da cultura popular dos artesãos de Timbaúba pode interferir no seu exercício
da cidadania? Ainda é possível falar em cultura popular na contemporaneidade diante da
cultura de massa e, portanto, de consumismo?
METODOLOGIA

O método que será utilizado para a realização da pesquisa é a História Oral. “Método
que consiste em realizar entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou
testemunharam, acontecimentos e conjunturas do passado e do presente... dessa forma, amplia
as possibilidades de interpretação do passado” (Alberti). Embora, como mostra Sônia Maria
de Freitas (2002), a História Oral, em seu surgimento no século XIX tenha enfrentado
problemas de credibilidade uma vez que, argumentava a historiografia sob forte influência
positivista (que veementemente se esforçava para proteger e propagar a história oficial), essas
fontes são "subjetivas, falíveis e eram comprometidas pelas notícias tendenciosas, mentiras e
calúnias".

Com o advento da Escola dos Annales em 1929, o debate em torno da abordagem


histórica rompe com essa concepção tradicional e se redimensiona, passando a História, a se
centrar em novos sujeitos históricos, novos objetos, novas fontes, novas relações de áreas de
conhecimento, etc. e é nesse contexto que a concepção de História Oral começa a ser revista
até passar a ser inerente ao ofício de historiador nos dias atuais. Aos historiadores tradicionais
que ainda se opõem às fontes orais a propósito de seu caráter subjetivo, Freitas diz que em
História Oral o entrevistado deve ser considerado, ele próprio, um agente histórico e sua visão
acerca de sua própria experiência e dos acontecimentos sociais, dos quais participou,
necessitam ser resgatados. Com relação à subjetividade, ela está presente em todas as fontes
históricas, sejam: orais escritas ou visuais.

Essa metodologia lida com a questão da memória. As informações obtidas durante as


entrevistas são frutos das lembranças que cada depoente possui. Suas vivências e experiências
muitas vezes vêm marcadas por emoções e sentidos que são muito importantes para a
pesquisa. As omissões, a sequência dos relatos dos acontecimentos e também as
distorções...ao mesmo tempo em quesão dificuldades inerentes ao método escolhido, tornam-
se instigantes na busca por uma melhor compreensão da realidade que se está pesquisando e
da construção de identidade de um povo. Que informações não correspondem às fontes
escritas? O que fazer com elas? Como interpretá-las? São questões que fazem parte da
trajetória da pesquisa e norteiam o prosseguimento das entrevistas, mas também as
interpretações.
A utilização de depoimentos como fontes históricas será de muita importância para a
pesquisa a que este projeto se propõe pelo fato de que, aliados aos documentos escritos até
então coletados, contribuirão para a construção da narrativa de suas experiências e
ressignificações de suas identidades. Obviamente não se pretende afirmar com isto que as
entrevistas responderão todas as perguntas, mas, como afirma Montenegro, as fontes orais são
só mais uma fonte que o historiador tem a possibilidade de trabalhar. Para tanto, o historiador
deve saber interpretar os documentos de que dispõe... e as palavras que escuta. Portanto as
fontes orais serão importantes para que contribuam para a construção da história dos artesãos
de Mocós e tais entrevistas deverão ser interpretadas junto com os outros documentos. Os
remanescentes dos artesãos (ativos e inativos, por assim dizer) do bairro de Mocós são idosos
e sentem prazer (diria orgulho) em contar suas experiências. Já estive com todos eles em
vários momentos diferentes, e também já os observei em suas atividades artesanais. Eles
gostam de mostrar as fotos de honrarias municipais que em algum momento conquistaram e
relatam o vigor que marcava a comunidade que às 4:00 da manhã acordava com o barulho dos
teares nas várias casas. Portanto há pessoas disponíveis para contribuir com a pesquisa.

As informações obtidas serão cruzadas com as fontes escritas abaixo elencadas, as que
estão em bases de dados; e o processo de interpretação ocorrerá à luz da concepção teórico-
metodológica dos autores, a saber, Michel Foucault, Roger Chartier, Pierre Bourdieu, Michel
de Certeau, Peter Burke, Carlos Ginzburg, Walter Benjamim dentre outros. Como bem
sugeriu Carlos Ginzburg, seguir os rastros de informações, fontes, evidências... fazem parte
do processo da construção de uma narração.

Fontes Oficiais:

 Projeto de Melhoria da Comunidade Artesanal de Mocós em Timbaúba, PE –


SUDENE – DRH – DIVISÃO DE HABITAÇÃO.
 O Artesanato Nordestino: Características e Problemática Atual – Banco do
Nordeste – 1982
 O Artesanato em Pernambuco – Assembleia Legislativa do Estado de
Pernambuco – 2003
 Análise Organizacional de uma Sociedade de Economia Mista – Artene.
Recife, 1981.
 Relatório de Grupo de Trabalho para Avaliação da Artene – 1986
 Séries Monografia Municipais, Timbaúba. CODEPE. 1982.

Jornais e Revistas

 Jornal do Commércio, 1972. Artesanato, Riqueza do Povo- Sudene.


 Diário de Pernambuco, 31 de julho de 1978. Tracunhaén, um artesanato puro e morto
à fome.
 Jornal do Commércio, 1978. Tracunhaén, cidade do Barro.
 Diário de Pernambuico, 21 de março de 1976. Olê, mué rendeira....
 Revista TIMBAÚBA CENTENÁRIA, fevereiro de 1982. Mocós.
 Livro Timbaúba Ontem e Hoje. Lusivan Suna,1992.

Estes são apenas alguns exemplos de notícias publicadas em jornais sobre o tema artesanato
no período, mas há diversas outras disponíveis na base do Museu do Folclore, bem como
pesquisarei o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commércio.
OBJETIVOS

Geral:

Compreender as experiências dos artesãos de redes e tapetes da cidade Timbaúba no recorte


temporal delimitado por este projeto, a historicidade daquele artesanato, a construção de
identidades no decorrer dos anos e como a memória que os remanescentes possuem referente
a suas práticas colaboram para o processo de ressignificação daquele “saber-fazer” enquanto
luta por permanência.

Específicos:

 Discutir o conceito de artesanato e como a prática dos tecelões (artesãos?) de


Timbaúba se insere na discussão.
 Entender como as Políticas Públicas para o artesanato, criadas pelo Governo Federal,
influenciaram a prática dos artesãos do bairro de Mocós em Timbaúba.
 Analisar os artesãos de Mocós dentro da discussão de cultura popular e como a
concepção que se gera a respeito desse tipo de cultura colocou aquele grupo no
esquecimento
 Conhecer os instrumentos comumente utilizados para a prática da preservação de uma
cultura popular e o que falta para a tecelagem de Timbaúba ser preservada enquanto
patrimônio imaterial daquele município.

CRONOGRAMA

Atividades/ 1 semestre 2 semestre 3 semestre 4 semestre


Levantamento e x
discussão
bibliográfica
Levantamento x
documental
Entrevistas x x
Elaboração de plano x
de redação
Qualificação x
Conclusão da redação x
e defesa
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