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Teoria do Direito e
Discricionariedade
fundamentos teóricos e crítica
do positivismo
1ª Edição
Santa Cruz do Sul - RS
2014
CONSELHO EDITORIAL
COMITÊ EDITORIAL
Prefácio 14
Notas introdutórias 18
1. Método 182
2. Semiologia e semiótica 183
3. Ciência da linguagem 185
4. Signos 190
5. Relações 194
6. Silogismo 202
7. Linguagem-objeto e metalinguagem 208
8. Definições 210
9. Falácias 218
10. Senso comum teórico dos juristas 223
CONCLUSÃO 228
REFERÊNCIAS 232
Prefácio
1
ROCHA, Leonel. Epistemologia jurídica e democracia. São Leopoldo: Unisinos,
1995, p. 34.
Teoria do Direito e discricionariedade 20
e Herbert Hart. Por que não Austin ou Ross? Essa é uma indagação
a qual não conseguimos responder, e nem parece um resultado óbvio
pela adoção do sistema, haja vista termos instrumentos e mecanismos
que remontam às teorias austro-germânicas, bem como à americana,
como ocorre no controle de constitucionalidade, no misto controle
difuso e concentrado. Quiçá explicar a influência de Hart em nossas
reflexões quando o mesmo observa a realidade Inglesa, que em
muito se difere do “civil law” (se é que ainda podemos assim referir
o sistema brasileiro),o qual, em tese, rege nosso sistema. Se a escolha
doutrinária em algum momento justificou-se ou mesmo foi aleatória
para observar o sistema brasileiro (que, ao fim e ao cabo, encontra
mais “Pontes de Miranda” em sua fidelidade), não sabemos, mas é fato
que não podemos desconhecer e negar a importância que tais autores
assumiram na academia brasileira, enquanto ditos “precursores do
positivismo analítico”. Teorias modernas, como a de Neil MacCormick
em sua obra L.A Hart, chegam a classificá-lo como um possível pós-
positivista, dado o espaço de discricionariedade que o mesmo teria
atribuído a um Tribunal. No entanto, ressaltamos novamente: na
maioria dos manuais sobre teoria do direito no Brasil estão os referidos
positivistas Kelsen e Hart, influenciando nossos conceitos sobre norma
fundamental, normas primárias e secundárias e tantos outros.
E quanto a Dworkin? Qual seu papel em tudo isso? Mais uma
vez, impossível negar que a obra de Dworkin, cujo autor é classificado
como um “pós-positivista”, nasce de uma crítica ao sistema analítico/
descritivo de Hart, e daí segue sua importância e influência na doutrina
brasileira. O fato é que, para se falar em regras e princípios hoje, é
praticamente condição sine qua non falar nesse autor. Mas aqui seu
papel está um pouco além do senso comum, pois, como entendemos
que é o solipsismo o elo entre as teorias analisadas, acreditamos que
o combate à discricionariedade propiciou abertura ou margem à
própria discricionariedade. Sob esse aspecto, acreditamos que também
Dworkin (e seu Hércules solipsista) caiu no mesmo erro que fez questão
de apontar em Hart, ao buscar velar os argumentos morais, dando-lhes
21 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
ASPECTOS FUNDACIONAIS NA
LEITURA DE KELSEN, HART E
DWORKIN: CONHECENDO OS
ELEMENTOS CONCEITUAIS
Teoria do Direito e discricionariedade 24
2
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
3
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Prólogo. In: COELHO, Fabio Uchoa. Para entender
Kelsen. São Paulo: Saraiva, 2001, p. XIII.
4
RONALDO JR., Porto Macedo. Carl Schmitt e a fundamentação do Direito: Sobre os
três tipos do pensamento jurídico; o Führer protege o Direito de Carl Schmitt. Tradução
de Peter Naumann. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 164-178.
5
MICHELON JR., Cláudio Fortunatto. Aceitação e objetividade: uma comparação entre
as teses de Hart e do positivismo precedente sobre a linguagem e o conhecimento do
direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 92.
Teoria do Direito e discricionariedade 26
6
Cf. BARZOTTO, Luis Fernando. O Positivismo Jurídico contemporâneo: uma
introdução a Kelsen, Ross e Hart. São Leopoldo: UNISINOS, 1999, p. 29.
7
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
27 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
8
ibidem, p. 1.
9
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 1.
Teoria do Direito e discricionariedade 28
10
Ibid., pp. 1-2.
29 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed.
11
Kelsen afirma:
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
13
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
14
diz Kelsen, está apoiada pela hipótese [...] de uma norma suprema, a Grundnorm,
mas esta norma não é outra coisa senão a hipótese [...] da validade objetiva da ordem
jurídica! A definição em círculos salta aos olhos”.
18
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, p. 1.
19
KELSEN, Hans. O que é Justiça? A Justiça, o Direito e a Política no espelho da
ciência. Trad. de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 252.
Teoria do Direito e discricionariedade 34
a) Caráter descritivo:
20
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito. 6. ed, p. 89. Conforme o autor, particularmente,
a proposição jurídica não é um imperativo, mas um juízo: a afirmação sobre um objeto
dado ao conhecimento. E também não implica qualquer espécie de aprovação da
norma jurídica por ela descrita. O jurista científico que descreve o Direito não se
identifica com a autoridade que põe a norma jurídica.
21
Ibid., p. 82.
35 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
b) Caráter neutro:
Observa o autor:
c) Caráter produtivo:
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
22
1.3.1 Norma
25
Seguimos aqui a lição da tradução lusitana: KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito.
Trad. da 2ª edição alemã de 1960 por João Baptista Machado. 3. ed. Coimbra: Arménio
Amado, 1974. p. 3.
26
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, 1998, p. 4.
Teoria do Direito e discricionariedade 38
27
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, 1998, p. 3.
28
Ibid., p. 9.
39 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
1.3.4 Validade
a) Existência:
29
KELSEN, Hans. Justiça e Direito Natural. Trad. de João Baptista Machado, do
Apêndice da 2ª edição alemã da Reine Rechtslere. 2. ed. Coimbra: Arménio Amado,
1970, p. 115.
Teoria do Direito e discricionariedade 40
b) Pertinência:
c) Obrigatoriedade:
d) Legalidade:
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
30
33
Ibid., p. 215.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed.
34
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed.
35
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
36
Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 80. Segundo Kelsen: “É, com efeito, uma característica
muito significativa do Direito regular sua própria produção” [...].
37
Ibid., p. 246.
38
ibid., p. 246.
Teoria do Direito e discricionariedade 44
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
39
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
40
a) Norma pensada:
b) Norma hipotética:
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
42
c) Norma formal:
d) Norma jurídica:
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
46
49
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 79. Nesse entendimento, predica o autor: “A ciência
jurídica procura apreender o seu objeto ‘juridicamente”, isto é, do ponto de vista do
Direito. Aprender algo juridicamente não pode, porém, significar senão aprender algo
como Direito, o que quer dizer: como norma jurídica, como determinado através de
uma norma jurídica [...]”.
49 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
50
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
52
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed.
55
56
TROPER, Michel. Un système pur du droit: le positivisme de Kelsen. In: BOURETZ,
Pièrre (Diy.). La Force du Droit. Trad. de Alfredo Storck. Paris: Éditions Esprit, 1991,
pp. 133-134.
53 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
Herbert L. A. Hart não deve ser confundido com outros estudiosos do Direito, como H.
Hart e H. L. Hart. Portanto, o hábito de Hart antepor ao seu sobrenome as três iniciais
não é devido a nenhum esnobismo, nem tampouco a uma imitação do costume norte-
americano, mas simplesmente por uma questão de identificação.
62
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961.
63
Ibid., prefácio. “Não obstante sua preocupação com a análise, o livro pode ser
também encarado como um ensaio de sociologia descritiva; porque a sugestão de
que as investigações sobre os significados das palavras apenas lançam luz sobre as
palavras é falsa [...]”.
Teoria do Direito e discricionariedade 56
64
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 21. Conforme Hart, [...] os erros da teoria
imperativa simples são uma melhor bússola para a verdade, do que os de suas rivais
mais complexas [...]”.
65
ARGÜELES, Juan Ramon de Pavamo, op. cit. Segundo este autor, John Austin
(1790-1859) foi o fundador oficial da Teoria Analítica do Direito durante os séculos XIX
e XX. Nesse sentido, o nome de John Austin não pode ser confundido com o de J. L.
Austin, filósofo da linguagem que teve uma influência direta na obra de Hart.
66
Ver nota de rodapé nº 57.
67
HART, Herbert L. A., O Conceito de Direito, op. cit., p. 21.
57 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
desobediência.68
68
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 31.
69
Ibid., p. 21.
70
Ibid.
71
Ibid., p. 37.
Teoria do Direito e discricionariedade 58
72
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 52.
73
Ibid., p. 54. “[...] O direito é não só a ordem do soberano, como a dos subordinados
que aquele pode escolher para darem ordens em seu nome [...]”.
74
MICHELON JR., Cláudio Fortunatto, op. cit., p. 144.
59 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
75
MICHELON JR., Cláudio Fortunatto, op. cit., p. 144.
76
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961.
Teoria do Direito e discricionariedade 60
77
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 64.
78
Ibid., p. 65.
79
Ibid., p. 65. “[...] Para que uma regra social exista, alguns membros, pelo menos,
devem ver no comportamento em questão um padrão geral a ser observado pelo
grupo como um todo. Uma regra geral tem um aspecto interno para além do aspecto
externo que partilha com o hábito social [...]” (grifo do autor).
61 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
80
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes. Lisboa:
Calouste Gulbenkian, 1961, p. 65. Conforme Hart, “uma regra social tem um aspecto
interno para além do aspecto externo que partilha com o hábito social e que consiste
no comportamento regular e uniforme que qualquer observador pode registrar [...]”
(grifo do autor).
Teoria do Direito e discricionariedade 62
81
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 90. Como afirma o autor, “a causa da raiz da
derrota reside no facto de que os elementos a partir dos quais a teoria foi construída,
nomeadamente as ideias de ordens, obediências, hábitos e ameaças, não incluem
e não podem originar, pela sua combinação, a ideia de uma regra, sem a qual não
podemos esperar elucidar mesmo as formas mais elementares de direito [...]”.
82
Ibid., p. 103. Para o autor, “o remédio para cada um destes três defeitos principais,
nesta forma mais simples de estrutura social, consiste em complementar as regras
primárias de obrigação com regras secundárias, as quais são regras de diferente
espécie [...]” (grifos do autor).
83
Ibid., p. 99.
63 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
84
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 103.
Teoria do Direito e discricionariedade 64
subordinação [...].85
85
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 112.
86
Ibid., p. 113.
87
Ibid.
88
Ibid., p. 113.
Teoria do Direito e discricionariedade 66
98
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 116.
99
Ibid., p. 114.
73 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
100
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961.
Teoria do Direito e discricionariedade 74
101
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 118.
102
Ibid., p. 117. Segundo Hart, “a regra de reconhecimento, que faculta os critérios
através dos quais a validade das outras regras do sistema é avaliada, é, num sentido
importante que tentaremos clarificar, uma regra última: e onde, como é usual, há
vários critérios ordenados segundo a subordinação e primazia relativa, um deles é
supremo” (grifos do autor).
75 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
103
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 120.
104
Ibid.
105
Ibid., p. 121.
106
Ibid., p. 121.
107
Ibid., p. 134.
Teoria do Direito e discricionariedade 76
108
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961
109
Ibid., p. 6.
77 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
110
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 6. Citação de Holmes, feita por Hart. O. W.
Holmes, The path of law, 1920, p. 173: “Aquilo que designo como direito [...] são as
profecias que os tribunais farão”.
não fosse possível comunicar padrões gerais de conduta que multidões de indivíduos
pudessem perceber, sem ulteriores diretivas, padrões estes exigindo deles certa
conduta, conforme as ocasiões, nada daquilo que agora reconhecemos como direito
poderia existir [...]”.
Teoria do Direito e discricionariedade 78
112
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 134.
Ibid., p. 139. Conforme Hart, “[...] a incerteza na linha de fronteira é o preço que
113
deve ser pago pelo uso de termos classificatórios gerais em qualquer forma de
comunicação que respeite as questões de fato [...]”.
114
Ibid., p. 141.
Teoria do Direito e discricionariedade 80
115
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 141. Segundo Hart, “a primeira desvantagem
é a nossa relativa ignorância de fato; a segunda, a nossa relativa indeterminação de
finalidade [...]”.
116
Ibid., pp. 138-139. Conforme Hart, “haverá na verdade casos simples que estão
sempre a ocorrer em contextos semelhantes, aos quais as expressões gerais são
claramente aplicáveis [...] mas haverá casos em que não é claro se se aplicam ou
não [...]”.
117
Ibid., p. 119. Segundo Hart, “em qualquer sistema jurídico deixa-se aberto um vasto
e importante domínio para o exercício do poder discricionário pelos tribunais e por
outros funcionários, ao fornecerem precisos padrões que eram inicialmente vagos, ao
resolverem as incertezas das leis [...]”.
81 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
de predição”.118
É precisamente rechaçando essas duas posições
extremadas119que Hart constrói uma posição intermediária entre o
“paraíso dos formalistas” e o “absolutismo dos céticos”. Nesse contexto,
embora para esse jurista o dilema apontado seja afirmado como um
“falso dilema”120, tal assertiva não alude à necessidade de que o autor
construa uma teoria da interpretação, superando o formalismo e o
ceticismo, para dar conta dos problemas que surgem à efetiva realização
do Direito. Dito de outra forma, ou chega-se a resolver teoricamente
o problema da indeterminação das regras gerais, ou arrisca-se a dar
guarida a um ceticismo relativo à natureza das regras jurídicas.
Essa última opção também é inaceitável para Hart, na medida
em que seu modelo jurídico busca descrever o Direito, superando
as tradicionais definições que se fundamentam na força ou no
pragmatismo. Portanto, o dilema é real e deve ser respondido – e é
assim que este jurista fará, seja porque “os homens não podem viver
unicamente de deduções”121, como querem os formalistas, ou porque
a posição dos céticos ameaça a compreensão do sistema jurídico
como um todo. A ameaça é tanto mais séria, que aquele que se mostra
cético em relação à natureza das regras vai ser chamado por Hart
de “absolutista desapontado”.122 De outro lado, como já verificado, o
modelo dos formalistas tampouco serve para Hart, ao não dar conta
118
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 152.
119
Ibid., p. 143. Nesse sentido, conforme Hart: “A teoria jurídica tem nessa matéria uma
história curiosa; porque está apta, quer a ignorar, quer exagerar as indeterminações
das regras jurídicas”.
120
Ibid , pp. 152-153. Hart constrói o exemplo da visita prometida a um amigo, não
cumprida por alguma razão de maior gravidade, afirmando que daí não decorre que
“não haja regra que exija que as promessas sejam cumpridas”.
121
HART, H. L. A. Positivism and the Separation of Law and Morals. Law Review,
Harvard, n. 71, pp. 593-629, 1958. Tradução para o espanhol de CARRIÓ, G.R.
El Positivismo Jurídico y la Separación entre el Derecho e la Moral. Buenos Aires:
Abeledo-Perrot, 1970, p. 27. Tradução livre.
122
Ibid., p. 152.
Teoria do Direito e discricionariedade 82
123
HART, H. L. A. Positivism and the Separation of Law and Morals. Law Review,
Harvard, n. 71, pp. 593-629, 1958. Tradução para o espanhol de CARRIÓ, G.R.
El Positivismo Jurídico y la Separación entre el Derecho e la Moral. Buenos Aires:
Abeledo-Perrot, 1970, p. 142. Hart assim o define: “O vício conhecido na teoria
jurídica como formalismo ou conceptualismo consiste numa atitude para com as
regras formuladas [...], que [...] procura disfarçar e minimizar a necessidade de tal
escolha, uma vez editada a regra geral”.
Ibid., p. 143. Conforme Hart, “a perfeição desse processo é o ‘paraíso dos conceitos’
124
dos juristas; atinge-se quando a um termo geral é dado o mesmo significado, não só
em cada aplicação de uma dada regra, mas sempre que aparece em qualquer regra
do sistema jurídico [...]” (grifo nosso).
125
CARRIÓ, G.R, op. cit., p. 27.
por Montesquieu. Nesse sentido, ver: MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Brasília:
Universidade de Brasília, 1982. [Livro Décimo Primeiro, VI].
83 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
127
HART, Herbert L. A, O Conceito de Direito, Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 152.
128
Ibid., p. 152.
129
Ibid.
Teoria do Direito e discricionariedade 84
130
HART, Herbert L. A, O Conceito de Direito, Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 148.
131
Ibid., p. 150.
132
Ibid., p. 151. Segundo Hart, “[...] os indivíduos não se limitam ao ponto de vista
externo [...]. Ao contrário, exprimem continuamente em termos normativos a sua
aceitação partilhada do direito como guia de conduta [...]”.
133
Ibid., p. 151. Conforme o autor, “não se pode pôr em dúvida que, em qualquer
caso, em relação a certos domínios da conduta de um Estado moderno, os indivíduos
efetivamente mostram toda a série de condutas e atitudes que designamos como
ponto de vista interno [...]”.
85 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
134
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 166.
Teoria do Direito e discricionariedade 86
135
HART, Herbert L. A, O Conceito de Direito, Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 159. Grifos nossos.
136
Ibid., p. 159.
87 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
137
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961.
138
Ibid., p. 168.
Teoria do Direito e discricionariedade 88
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. de Nelson Boeira. São Paulo:
140
Martins Fontes, 2002. pp. 6-7. Conforme o autor, os realistas “argumentavam que a
teoria ortodoxa fracassara pelo fato de ser adotada uma [...] teoria do direito, tentando
descrever o que os juízes fazem, concentrando-se apenas nas regras que eles
mencionavam em suas decisões. Trata-se de um erro, argumentavam os realistas,
pois na verdade os juízes tomam suas decisões de acordo com as suas próprias
preferências [...] e então escolhem uma regra apropriada como uma racionalização”.
91 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
144
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. e notas de Nelson Boeira.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 35. Conforme o autor: “Resolvi concentrar-me
na sua posição [...] porque o pensamento que visa construir deve começar com um
exame das concepções de Hart” (p. 27). No mesmo sentido: “Quero lançar um ataque
geral contra o positivismo e usarei a versão de H. L. A. Hart como alvo, quando um
alvo específico se fizer necessário”.
93 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
147
CARRIÓ, G. R, op. cit., p. 339. Tradução livre. Grifos nossos.
95 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
prever quais ações podem ou não ser permitidas para seu exercício.
Nessa linha, o caráter não conclusivo dos princípios pode ser melhor
visualizado através do seguinte caso hipotético.
A maior parte de uma comunidade pode estar de acordo que o
horário matinal nas férias escolares é inadequado para a transmissão de
filmes de forte apelo sexual na “TV aberta”. Todavia, essa concordância
pode não se verificar em relação ao horário noturno. Nesse último
período poderia estabelecer-se um conflito entre o princípio da
liberdade de expressão e o princípio da dignidade humana (podendo ser
compreendido, nesse caso, como proteção à infância). Como resolver
esse conflito entre princípios? A resposta, na concepção de Dworkin,
introduz uma segunda distinção substancial entre princípios e regras:
a ponderação. Esse é o segundo aspecto de distinção entre princípios e
regras, derivado de um nível lógico.
Assim, se o primeiro aspecto, como analisado acima, é a
indeterminação e generalidade dos princípios – contraposta ao “tudo ou
nada” da lógica das regras jurídicas –, a segunda diferenciação decorre
da comparação entre os princípios. Dito de outro modo, os princípios
estão providos de uma dimensão de peso ou de importância relativa,
conforme o caso concreto, de que as regras jurídicas carecem.151Desse
modo, a importância de todo princípio é controvertida, na medida em
que não existe nenhum teste a prioripara determiná-la.Especialmente
porque em toda controvérsia são aplicáveis sempre diversos princípios
que podem estabelecer um conflito entre si, de tal forma que, para
decidir o caso, é preciso valorar o peso relativo dos princípios
implicados. Essa valoração pode ser compreendida como a ponderação
dos princípios em jogo, e traz como resultado a solução de que um
dos princípios envolvidos prevalecerá sobre os outros. Contudo, os
princípios preteridos conservarão sua validade. Daí porque deve ser
escolhida a solução que menos fere a aplicação dos demais princípios.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 42. Afirma Dworkin: “Essa primeira diferença
entre regras e princípios traz consigo outra. Os princípios possuem uma dimensão
que as regras não têm – a dimensão de peso ou importância”.
99 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
156
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. e notas de Nelson Boeira.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 36. Segundo Dworkin: “Com muita frequência,
utilizarei o termo princípio de maneira genérica, para indicar todo esse conjunto de
padrões que não são regras; eventualmente, porém, serei mais preciso e estabelecerei
uma distinção entre princípios e políticas”.
157
ÁVILA, Humberto, op. cit., p. 32.
101 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
Ibid., pp. 43-44. Segundo o autor, “a forma de um padrão nem sempre deixa claro
160
169
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre factividade e validade. Trad. de
Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, v. I, pp. 256-257.
Para este autor, é preciso prudência diante dessa premissa estabelecida por Dworkin
na teoria adjudicativa. Ou seja, do fato de que, para este jurista, o Direito e a Moral se
entrelaçam no campo argumentativo não decorre de que esta usurpe a função daquele
e, sim, sobretudo, que a reflexão moral deve ser articulada no plano jurídico como
elemento do Direito. É nesse contexto que se evidencia a temática dos princípios.
Esse também parece ser o sentido empregado por Habermas, ao dispor: “Quando
Dworkin trata em argumentos de princípio que são tomados para a justificação
externa de decisões judiciais, ele tem em mente, na maioria das vezes, princípios
do direito que resultam da aplicação do princípio do discurso no código jurídico [...]”.
Complementando: “O conteúdo moral de direitos fundamentais e princípios do Estado
de Direito se explica pelo fato de que os conteúdos das normas fundamentais do
direito e da moral, às quais subjaz o princípio do discurso, se cruzam”.
107 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. e notas de Nelson Boeira. São
181
Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 50. Nas palavras do autor: “Tentarei mostrar de que
modo estas confusões a respeito desse conceito e, em particular, uma incapacidade
de discriminar os diferentes sentidos nos quais é empregado, explicam a popularidade
da doutrina do poder discricionário”.
182
Ibid., p. 51.
Teoria do Direito e discricionariedade 116
183
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. e notas de Nelson Boeira.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, pp. 53-54. Conforme o autor: “Devemos evitar
uma confusão tentadora. O sentido forte de poder discricionário não é equivalente à
licenciosidade e não exclui a crítica”. Complementando: “O poder discricionário de um
funcionário não significa que ele esteja livre para decidir sem recorrer de bom senso
e equidade, mas apenas que sua decisão não é controlada por um padrão formulado
por autoridade particular que temos em mente quando colocamos a questão do poder
discricionário. Sem dúvida, esse último tipo de discricionariedade é importante; é por
isso que falamos de um sentido forte de poder discricionário”.
117 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
187
DWORKIN, Ronald, O Império do Direito, p. 277.
DWORKIN, Ronald. Uma Questão de Princípio. Trad. de Luís Carlos Borges. São
188
Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 220. Conforme o autor: “[...] Estudar a interpretação
121 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
190
DWORKIN, Ronald, O Império do Direito, p. 229.
191
CHUERI, Vera Karan de. Filosofia do Direito e Modernidade: Dworkin e a possibilidade
de um discurso instituinte de direitos. Curitiba: JM, 1995, p. 101. Conforme a autora,
“[...] o ato de interpretação do juiz acompanha uma teoria política cujo fundamento
está na história e em cuja base se assenta uma teoria das decisões judiciais. O que
retira o possível senso de aleatoriedade que o interpretar sugere. Quando ocorre dos
princípios conflitarem é a teoria política que vai ser decisiva ao sugerir que princípio
se ajusta a um sentido mais agudo de justiça no qual seguirá, em consequência, a
interpretação do juiz”.
123 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
192
DWORKIN, Ronald, op. cit., p. 272.
195
CALSAMIGLIA, Albert. Derechos em Sério. Apresentação à edição espanhola
traduzida por Patrícia Sampaio. Barcelona: Ariel, 1984, p. 13.
Teoria do Direito e discricionariedade 128
REFLETINDO
SOBRE OS ESPAÇOS DE
DISCRICIONARIEDADE A
PARTIR DOS ELEMENTOS
FUNDACIONAIS: O DIREITO
DECIDINDO
Teoria do Direito e discricionariedade 132
DWORKIN, Ronald. O Império do direito. Trad. Jeferson Luiz Camargo. 2. ed. São
196
Por meio de Hércules, seu juiz imaginário, Dworkin pretende apenas demonstrar
197
um esquema de argumentos que deveria ser utilizado pelos juízes na práxis judicial e
que ultrapassasse os limites do deducionismo.
198
A integridade, para o autor, existe na verdade em dois níveis. Um nível é chamado
de princípio legislativo, que diz aos legisladores que simples barganhas entre justiça
e imparcialidade estão erradas; o outro é um princípio adjudicativo, que diz aos juízes
e advogados que façam suas decisões e argumentos se integrarem ao corpo do
direito existente. GUEST, Stephen. Ronald Dworkin. Trad. Luiz Carlos Borges. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2009. p.51.
Teoria do Direito e discricionariedade 134
DWORKIN, Ronald. O Império do direito. Trad. Jeferson Luiz Camargo. 2. ed. São
199
caminhos que bem entendessem, mas sim o fio condutor que manteria
a coerência argumentativa do direito na comunidade.
Note-se que, além do juiz Hércules ter de conhecer todos os
princípios para a justificação, deve possuir uma visão total do Direito
vigente, e suas referências devem se relacionar sempre de forma
coerente – exigência da própria equidade. Além disso, a comunidade
ideal para a atuação do juiz Hércules é a chamada comunidade de
princípios (equidade, justiça, legalidade e integridade), pois é a única
que preenche as exigências de uma comunidade associativa que
respeita a integridade e que está de acordo com as responsabilidades
de cidadania. Nessa forma de comunidade, seus membros aceitam ser
governados por princípios debatidos através da política, e as obrigações
e decisões não são tomadas por particulares. São princípios como os da
justiça e da igualdade que imperam nessa forma associativa, e a própria
exigência de integridade pressupõe que todas as pessoas são igualmente
dignas. O papel do juiz – que só existe concretamente na decisão
judicial – na interpretação terá influência direta na comunidade, afinal
o princípio da integridade na prestação da justiça “não é de maneira
alguma superior ao que os juízes devem fazer diariamente”. Em
termos práticos, isso significa que o direito é autoproduzido através da
interpretação, legitimando, assim, seu próprio procedimento205.
Cabe assim discorrer acerca do Direito como integridade,
uma vez que será determinante no modelo de atuação do juiz Hércules.
Dworkin cria um conceito de justiça como fórmula de redundância
do conceito de integridade, que ele prefere tratar como virtude da
integridade política. Esse, por sua vez, é um objetivo, um ideal político,
que deve ser perseguido pelo Estado através de um conjunto coerente
de princípios. Para tanto, as exigências da integridade são divididas
em dois princípios: os de integridade da legislação, que exigem que
os responsáveis pela criação da legislação a façam em julgamento, que
apela para que os que decidem o que é a lei a vejam como um todo e em
DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. Trad. Jeferson Luiz Camargo. 2. ed. São
205
DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. Trad. Jeferson Luiz Camargo. 2. ed. São
206
uma obra literária em cadeia. Como Dworkin acredita que toda interpretação do
Direito é uma interpretação construtivista, no sentido de permitir uma atuação “criativa
dos juízes” para decidir os casos concretos como forma de atualização do próprio
ordenamento, não poderá desconsiderar as regras o ordenamento em si e nem as
interpretações que os outros juízes deram a casos semelhantes, sob pena de a “obra”
apresentar-se fragmentada, ou seja, sem coerência: “Decidir casos controversos
no Direito é mais ou menos como esse estranho exercício literário. A similaridade é
mais evidente quando os juízes examinam e decidem casos do Common Law, isto é,
quando nenhuma lei ocupa posição central da questão jurídica e o argumento gira em
torno de quais regras ou princípios de Direito “subjazem” a decisões de outros juízes,
no passado, sobre matéria semelhante. Cada juiz, então, é como um romancista na
corrente. Ele deve ler tudo o que outros juízes escreveram no passado, não apenas
para descobrir o que disseram, ou seu estado de espírito quando o disseram, mas para
chegar a uma opinião sobre o que esses juízes fizeram coletivamente, da maneira
como cada um de nossos romancistas formou uma opinião sobre o romance coletivo
escrito até então. Qualquer juiz obrigado a decidir uma demanda descobrirá, se olhar
nos livros adequados, registros de muitos casos plausivelmente similares, decididos
há décadas ou mesmo séculos por muitos outros juízes, de estilos,filosofias judiciais e
políticas diferentes, em períodos nos quais o processo e as convenções judiciais eram
diferentes. Ao decidir o novo caso, cada juiz deve considerar-se como parceiro de um
complexo empreendimento em cadeia, do qual essas inúmeras decisões, estruturas e
convenções e práticas são a história; é seu trabalho continuar essa história no futuro
por meio do que ele faz agora. Ele deve interpretar o que aconteceu antes porque tem
a responsabilidade de levar adiante a incumbência que tem em mãos e não partir em
alguma nova direção. Portanto, deve determinar, segundo seu próprio julgamento, o
motivo das decisões anteriores, qual realmente é, tomado como um todo, o propósito
ou o tema da prática até então”. Cf. DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio.
São Paulo: Martins Fontes, 2000, pp.237-238.
209
GUEST, Stephen. Ronald Dworkin. Trad .Luiz Carlos Borges. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009, pp. 159-160.
Teoria do Direito e discricionariedade 140
WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem. 2.ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio
213
214
Ressalta-se que “Austin denomina de ‘ato locucionário’ a totalidade da ação
linguística em todas as suas dimensões, e a teoria que trata desses atos sob essa
perspectiva de ‘pesquisa de locuções’.Cada procedimento linguístico é, pois, um
tipo de ação humana, isto é, um ato ilocucionário [...]. É considerando o próprio
ato locucionário que Austin descobre uma outra dimensão do ato de fala,a qual ele
denomina “ilocucionária”: no ato de dizer algo fazemos também algo. [...] Além disso,
executando atos locucionários e ilocucionários podemos realizar uma outra ação:
é a terceira dimensão dos atos de fala, que Austin denomina de ato ‘perlocutório’,
isto é, provocar, por meio de expressões linguísticas, certos efeitos nos sentimentos,
pensamentos e ações de outras pessoas. OLIVEIRA, Manfredo Araújo de, op.
cit.,pp.157-160.
Teoria do Direito e discricionariedade 144
WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem. 2.ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio
215
219
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta linguístico-pragmática na filosofia
contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001, pp.253-254.
220
Aqui quer se atentar para a distinção necessária entre conceitos de verdade e
validade. A validade das normas “consiste” no reconhecimento universal que as normas
ganham, porque as exigências de validez morais falham em relação às conotações
ontológicas que são características para as exigências de verdade. A orientação para
o alargamento do mundo social, isto é, a inclusão sempre mais ampla de exigências
de verdade, se coloca no lugar dos referentes no mundo objetivo. A validez de uma
afirmação moral temo sentido epistêmico de que seria aceita sob condições ideais de
justificação. Entretanto, quando “correção moral” esgota seu sentido de aceitabilidade
racional, diferentemente de “verdade”, nossas convicções morais devem permitir
finalmente, a partir do potencial crítico do autoultrapassamento e da descentralização
que é construída com a “perturbação”, uma antecipação idealizadora da prática da
argumentação – e na autocompreensão dos seus participantes. Cf. HABERMAS,
Jürgen. Agir comunicativo e razão descentralizada. Trad. Lúcia Aragão. Rio de
147 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
225
“[...] Uma sociedade pluralista só pode subsistir enquanto sociedade pluralista se
for, também, uma sociedade tolerante. Pois somente em uma sociedade tolerante é
possível a coexistência de projetos distintos sobre realizar a vida boa e, mais que isto,
somente em uma tal sociedade é possível que tais projetos se atualizem na maior
medida possível. O pluralismo não é, de fato, uma mera coexistência de concepções
divergentes, mas uma convivência desses projetos, realizados e atualizados da melhor
forma exequível. Se um projeto não puder ser realizado de forma alguma, por limitações
impostas pelo grupo que assume o poder central, então os projetos minoritários estão
fadados a desaparecer e, com eles, o próprio pluralismo [...]. Evidentemente, a defesa
do pluralismo é uma característica do Estado Democrático de Direito, paradigma que
a Constituição do Brasil prescreve não só como modelo de Estado, mas também
como um projeto para a sociedade”. Cf. GALUPPO, Marcelo Campos.Hermenêutica
Constitucional e Pluralismo. In: Hermenêutica e Jurisdição Constitucional:estudos em
homenagem ao professor José Alfredo de Oliveira Baracho. Belo Horizonte: Del Rey,
2001, p. 53.
151 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
226
Nesse sentido, Hércules deve se mostrar um ser que vive a presença.No contexto
de sua obra, pode-se dizer que viver a presença é questionar a si próprio, a sua
tradição e, consequentemente, o próprio Direito. Daí sua autenticidade consigo e com
sua própria história – a história terá o condão de mostrar a autenticidade do ser.
HEIDEGGER, Martin. Ser e o tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante. Rio de janeiro:
Vozes, 2006, pp. 42-43.
Teoria do Direito e discricionariedade 152
230
A ideia de discurso prático geral ganhou importância na tese de Alexy, a qual surgiu
como resposta à crítica de Habermas, que afirmava não ser possível o discurso
jurídico ser um caso especial do discurso prático moral, já que o discurso moral, no
sentido de Habermas, se refere à universalização, e somente à universalização, de
normas, enquanto o discurso jurídico “precisa manter-se aberto a argumentos de
outras procedências, especialmente a argumentos pragmáticos, éticos e morais. Toda
proposição jurídica erige necessariamente uma pretensão de correção. Correção
significa aceitabilidade racional, apoiada em argumentos. Uma proposição que
se pretende correta nada mais é do que uma proposição que pode ser justificada
racionalmente através de uma argumentação racional e não arbitrária e despojada de
valor, ou seja, meramente subjetiva. Implícita na afirmação de que toda proposição
jurídica necessariamente erige uma pretensão de correção está algo mais além de
uma disputa acerca do caráter científico da jurisprudência”. Evidentemente, Alexy não
acredita que o juiz possa se despojar de toda a carga pessoal na fundamentação.
Há, por certo, na tomada de decisão, uma mistura entre a sua impressão inicial
com a necessidade de justificar a decisão. Mas essa justificação não se reduz a um
esclarecimento da psique do juiz. Ela deve ser feita à luz do ordenamento jurídico
vigente e vista como uma tentativa de ser a resposta mais adequada ao caso. Cf.
ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: teoria do discurso racional como
teoria da justificação jurídica. São Paulo: Landy, 2007, pp. 259-261.
Teoria do Direito e discricionariedade 154
Diga-se que aqui, quando se utilizar questões ou argumentação moral, não se quer
231
adentrar na polêmica de definição moral, mas sim apenas referir-se a argumentos que
são reiteradamente criticados por “não ser jurídicos”, ou seja, que carregariam uma
gama de subjetividade do juiz em suas fundamentações e decisões. Logo, a questão
central é a discussão de como a dogmática tenta encobrir que estas questões não
apenas estão presentes como são partes necessárias do próprio Direito.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
232
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
240
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
243
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
245
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Teoria da norma jurídica. Rio de Janeiro: Forense,
246
1978, p. 128.
Teoria do Direito e discricionariedade 162
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. de João Baptista Machado. 6. ed. São
247
249
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 181.
Teoria do Direito e discricionariedade 164
250
MACCORMICK, Neil. H.L.A Hart.Trad. Cláudia Santana Martins. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010, p. 206. Grifos do autor.
165 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
251
HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. Trad. de Armindo Ribeiro Mendes.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1961, p. 139.
255
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta linguístico-pragmática na filosofia
contemporânea. São Paulo: Loyola, 1995, p. 206.
261
Neste artigo, a abordagem sobre a obra de Dworkin limita-se à questão moral nos
fundamentos das decisões judiciais, muito embora sua teoria seja bem mais complexa
e ampla em relação à sua observação sobre o Direito – tema já enfrentado em outros
artigos da autora.
Teoria do Direito e discricionariedade 172
errônea, pois, ainda que não existam regras aplicáveis ao caso concreto,
sempre será possível instrumentalizar os princípios.262
Dworkin afirma que a controvérsia moral circunda o ambiente
da própria divergência sobre as tese da resposta certa em Direito – fato
que os positivistas tentam ocultar:
262
DWORKIN, Ronald. O império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
263
Ibid., p. XIII. Grifos do autor.
173 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
DWORKIN, Ronald. O império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 11.
264
Grifos do autor.
Teoria do Direito e discricionariedade 174
265
DWORKIN, Ronald. O império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 12.
266
Ver o caso completo Dworkin (2007, p. 20). Um dos casos mais discutidos na Corte
Americana em 1882 foi o direito de herança de Elmer, que, após ter envenenado
propositalmente seu avô para se beneficiar da herança, valeu-se de uma “lacuna” do
direito, ou seja, como ele estava citado no testamento teria de ser aplicado o direito
positivo contratado, independente do fato do mesmo ser o causador da morte do
testamentário.
175 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
267
DWORKIN, Ronald. O império do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 25.
268
Ibid., p. 55.
Teoria do Direito e discricionariedade 176
2007.
Fontes, 2012.
177 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
2007, p. 302.
2007, p. 301.
Teoria do Direito e discricionariedade 178
275
Ibidem, p. 180.
179 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
RECORRENDO-SE A
WARAT E ÀS CONTRIBUIÇÕES
DA SEMIÓTICA E DA
SEMIOLOGIA PARA
DENUNCIAR OS EXPEDIENTES
RETÓRICOS POSITIVISTAS
E SITUAR O PROBLEMA DA
DISCRICIONARIEDADE
Teoria do Direito e discricionariedade 182
1. MÉTODO
2. SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA
276
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 11.
Teoria do Direito e discricionariedade 184
3. CIÊNCIA DA LINGUAGEM
2. primado da “teoria”;
277
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito I: interpretação da lei, temas para uma
reformulação. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995, p. 19
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito III: o Direito não estudado pela Teoria
279
4. SIGNOS
281
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 25.
282
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito I: interpretação da lei, temas para uma
reformulação. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1994, p. 35.
191 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
283
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 26.
Teoria do Direito e discricionariedade 192
284
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 27.
Teoria do Direito e discricionariedade 194
5. RELAÇÕES
285
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito I: interpretação da lei, temas para uma
reformulação. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1994, p. 68.
195 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
286
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 39.
197 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
287
WARAT, Luis Alberto. A definição jurídica: suas técnicas. Porto Alegre: Atrium, 1977,
p. 27.
199 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
289
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 45.
201 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
6. SILOGISMO
291
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito I: interpretação da lei, temas para uma
reformulação. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1994, p. 77.
Teoria do Direito e discricionariedade 204
292
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 89.
207 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
7. LINGUAGEM-OBJETO E METALINGUAGEM
293
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 48.
209 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
294
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 50.
Teoria do Direito e discricionariedade 210
8. DEFINIÇÕES
295
WARAT, Luis Alberto. A definição jurídica: suas técnicas. Porto Alegre: Atrium, 1977,
p. 55.
Teoria do Direito e discricionariedade 212
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito III: o Direito não estudado pela Teoria
296
298
WARAT, Luis Alberto. A definição jurídica: suas técnicas. Porto Alegre: Atrium, 1977,
p. 33.
215 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
9. FALÁCIAS
300
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1995,
p. 69.
219 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
302
WARAT, Luis Alberto. Introdução ao Direito I: interpretação da lei, temas para uma
reformulação. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1994, p. 148.
223 Caroline Müller Bitencourt, Eduardo Dante Calatayud, Janriê Rodrigues Reck
WARAT, Luis Alberto. Mitos e teorias na interpretação da lei. Porto Alegre: Síntese,
304
1979, p. 17.
Teoria do Direito e discricionariedade 226