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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Estrutura Diafórica do Texto e Inferências


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ESTRUTURA DIAFÓRICA DO TEXTO E INFERÊNCIAS

ESTRUTURA DIAFÓRICA DO TEXTO E INFERÊNCIAS (E DEDUÇÕES LÓGICAS)


• dia (palavra latina que significa passagem).
• fórica tem formação adjetiva de "afórica", derivado de anáfora.
• Anáfora: repetição, reiteração, retomada.
• Inferências: deduções, depreensões, deduções lógicas.
• Conteúdo do texto

5m A Rotina e a Quimera
Sempre se falou mal de funcionários, inclusive dos que passam a hora do expediente
escrevinhando literatura. Não sei se esse tipo de burocrata-escritor existe ainda. A racionaliza-
ção do serviço público, ou o esforço por essa racionalização, trouxe modificações sensíveis ao
ambiente de nossas repartições, e é de crer que as vocações literárias manifestadas à sombra
de processos se hajam ressentido desses novos métodos de trabalho. Sem embargo, não se
terão estiolado de todo tão forte é, no escritor, a necessidade de exprimir-se, dentro ou fora da
rotina que lhe é imposta. Se não escrever no espaço de tempo destinado à produção de ofí-
cios, escreverá na hora do sono ou da comida, escreverá debaixo do chuveiro, na fila, ao sol,
escreverá até sem papel – no interior do próprio cérebro, como os poetas prisioneiros da última
guerra, que voltaram ao soneto como uma forma que por si mesma se grava na memória.
E por que se maldizia tanto o literato-funcionário? Porque desperdiçava os minutos do
seu dia, reservado aos interesses da Nação, no trato de quimeras pessoais. A Nação pagava-
-lhe para estudar papéis obscuros e emaranhados, ordenar casos difíceis, promover medidas
úteis, ouvir com benignidade as “partes”. Em vez disso, nosso poeta afinava a lira, nosso
romancista convocava suas personagens, e toca a povoar o papel da repartição com palavras,
figuras e abstrações que em nada adiantam à sorte do público.
É bem verdade que esse público, logo em seguida, ia consolar-se de suas penas na trova
do poeta ou no mundo imaginado pelo ficcionista. Mas, sem gratidão especial ao autor, ou talvez
separando neste o artista do rond de cuir, para estimar o primeiro sem reabilitar o segundo.
O certo é que um e outro são inseparáveis, ou antes, este determina aquele. O emprego do
Estado concede com que viver, de ordinário sem folga, e essa é a condição ideal para um bom
número de espíritos: certa mediania que elimina os cuidados imediatos, porém não abre pers-
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pectiva de ócio absoluto. O indivíduo tem apenas a calma necessária para refletir na medio-
cridade de uma vida que não conhece a fome nem o fausto; sente o peso dos regulamentos,
que lhe compete observar ou fazer observar; o papel barra-lhe a vista dos objetos naturais,
como uma cortina parda. É então que intervém a imaginação criadora, para fazer desse papel
precisamente o veículo de fuga, sorte de tapete mágico, em que o funcionário embarca, arre-
batando consigo a doce ou amarga invenção, que irá maravilhar outros indivíduos, igualmente
prisioneiros de outras rotinas, por este vasto mundo de obrigações não escolhidas.
(Carlos Drummond de Andrade)
A Rotina e a Quimera
1º parágrafo
Sempre se falou mal de funcionários, inclusive dos que passam a hora do expediente
escrevinhando literatura. Não sei se esse tipo de burocrata-escritor existe ainda. A racionaliza-
ção do serviço público, ou o esforço por essa racionalização, trouxe modificações sensíveis ao
ambiente de nossas repartições, e é de crer que as vocações literárias manifestadas à sombra
de processos se hajam ressentido desses novos métodos de trabalho. Sem embargo, não se
terão estiolado de todo tão forte é, no escritor, a necessidade de exprimir-se, dentro ou fora da
rotina que lhe é imposta. Se não escrever no espaço de tempo destinado à produção de ofí-
cios, escreverá na hora do sono ou da comida, escreverá debaixo do chuveiro, na fila, ao sol,
escreverá até sem papel – no interior do próprio cérebro, como os poetas prisioneiros da última
guerra, que voltaram ao soneto como uma forma que por si mesma se grava na memória.
• "burocrata" retoma a "funcionários".
"escritor" retoma a "escrevinhando literatura"
• "racionalização" = "serviço público"
• "vocações literárias"
• "processos" tem a ver com burocrata, com funcionários e com rotina.
• Se "processos" tem a ver com burocrata, ambiente tem a ver com rotina: quando o
autor usa "vocações literárias", "escritor", "escrevinhando literatura", ele quer fazer
inferência à quimera.
• "sem embargo" quer dizer "apesar disso" (apesar dessa racionalização): é concessivo.
• "estiolado": enfraquecido de todo
• "forte": antônimo = fraco
10m • "burocrata-escritor" = é o funcionário que, apesar da rotina, não deixa de manifestar as
suas vocações literárias.
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• "ofícios" = "rotina"
• "que" retoma a forma do soneto.
• No 1º parágrafo, Carlos Drummond diz que há um tal burocrata-escritor, daquele que
apesar da rotina (apesar da racionalização) do serviço público, não deixa de manifestar
suas vocações literárias.
• Só se deve passar para o próximo parágrafo, quando as ideias anteriores estivem real-
mente no arquivo mental do candidato.
• Quais ideias? As essenciais.
• E como se descobre essas ideias? Pela exploração da estrutura diafórica, pela explora-
ção da coesão lexical e da coesão gramatical.

2º parágrafo
E por que se maldizia tanto o literato-funcionário? Porque desperdiçava os minutos do
seu dia, reservado aos interesses da Nação, no trato de quimeras pessoais. A Nação pagava-
-lhe para estudar papéis obscuros e emaranhados, ordenar casos difíceis, promover medidas
úteis, ouvir com benignidade as “partes”. Em vez disso, nosso poeta afinava a lira, nosso
romancista convocava suas personagens, e toca a povoar o papel da repartição com palavras,
figuras e abstrações que em nada adiantam à sorte do público.
• "literato-funcionário": para não repeti burocrata, o autor usa funcionário. Para não repe-
tir escritor, o autor usa literato.
• "interesses da Nação": reforça "funcionário"
• "quimeras pessoais": reforça "literatura"
• "quimeras" tem a ver com sonho/imaginação.
• o "burocrata" está preocupado com os "interesses da Nação".
• "em vez disso": em vez de corresponder a esses interesses da Nação.
• "nosso poeta": nosso "burocrata", "literato", "escritor".
• "repartição": "rotina".
• No 2º parágrafo, o literato/funcionário, que na verdade é o burocrata-escritor, em vez
15m
de corresponder aos interesses da Nação (hiperônimo), recorre às quimeras pessoais
(palavras, figuras e abstrações).
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3º parágrafo
É bem verdade que esse público, logo em seguida, ia consolar-se de suas penas na
trova do poeta ou no mundo imaginado pelo ficcionista. Mas, sem gratidão especial ao autor,
ou talvez separando neste o artista do rond de cuir, para estimar o primeiro sem reabilitar
o segundo.
• "poeta": romancista, escritor, ficcionista (um show de coesão lexical)
• "neste": cuidado com pronome (preposição em, pronome este). O pronome "este" pode
ser catafórico (fazer referência ao que irá dizer), e também pode ser anafórico (desde
que seu objetivo seja retomar o termo sintático próximo).
• Se o "artista" retoma o "ficcionista", o que será então que quis dizer com o rond de cuir?
• "para estimar o primeiro" = o artista.
• "sem reabilitar o segundo" = rond de cuir
• "neste" = o autor

4º parágrafo
20m O certo é que um e outro são inseparáveis, ou antes, este determina aquele. O emprego do
Estado concede com que viver, de ordinário sem folga, e essa é a condição ideal para um bom
número de espíritos: certa mediania que elimina os cuidados imediatos, porém não abre pers-
pectiva de ócio absoluto. O indivíduo tem apenas a calma necessária para refletir na medio-
cridade de uma vida que não conhece a fome nem o fausto; sente o peso dos regulamentos,
que lhe compete observar ou fazer observar; o papel barra-lhe a vista dos objetos naturais,
como uma cortina parda. É então que intervém a imaginação criadora, para fazer desse papel
precisamente o veículo de fuga, sorte de tapete mágico, em que o funcionário embarca, arre-
batando consigo a doce ou amarga invenção, que irá maravilhar outros indivíduos, igualmente
prisioneiros de outras rotinas, por este vasto mundo de obrigações não escolhidas.
• "rond de cuir" retoma "funcionário".
• "funcionário" determina o "artista".
• "fausto" = "riqueza"
• "imaginação criadora": "quimera"
• "fuga": da rotina
• "por este vasto mundo": onde estamos
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• Carlos Drummond mostra nesse último parágrafo que a condição de funcionário deter-
minada a condição de artista, porque ele foge da rotina, embarca num tapete mágico
para fazer literatura, para se utilizar das palavras/figuras/abstrações. Por isso a rotina
e a quimera mais uma vez.

No que diz respeito ao conteúdo do texto, julgue os itens que se segue.


1. Somente o funcionário “burocrata-escritor” tem sido criticado pela população.

Errado.
• O texto começa: "sempre se falou mal de funcionários, inclusive dos que passam hora
do expediente escrevendo literatura".
• "Inclusive" e não "somente".

2. A verdadeira vocação literária só se manifesta no ambiente do serviço público.

Errado.
• Porque quando o autor disse que ele escreve em qualquer circunstância (debaixo do
chuveiro, na fila, no sol), e pode se manifestar também no serviço público.

3. Infere-se do texto que, no Brasil, o Estado tem, indiretamente, subvencionado a lite-


ratura nacional.
25m • Quando o examinador diz "infere-se", quer dizer que está afirmando agora e que não
está escrito no texto com todas as letras, mas quer saber se é uma dedução lógica que
o candidato verifica no intertexto, com base nos indícios existentes no texto.
• "estado" = "Nação" = "Brasil"
• "subvencionado" significa patrocinado/custeado.
• O Estado, diretamente, patrocina/subvenciona a rotina, mas para fugir da rotina, o lite-
rato/funcionário apresentado durante todo o texto, recorre à quimera (literatura).
• Então se é uma fuga, o Estado, diretamente, subvenciona a rotina. Mas se para fugir
da rotina, o funcionário faz literatura, então é uma fuga, então indiretamente, o Estado
subvenciona a literatura nacional.
• Há todos esses indícios no texto.
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4. Infere-se do texto que a expressão francesa rond de cuir significa burocrata.


• O rond de cuir é o funcionário/burocrata.

5. A condição de escritor determina a condição de funcionário público.


• A condição de funcionário determina a condição de escritor, porque ele foge da rotina
para fazer literatura.

6. Os vocábulos “este” e “aquele” têm como referentes “rond de cuir” e “artista”, respectiva-
mente.
• Este = rond de cuir
• Aquele = artista.

 Obs.: o examinador não pediu a tradução da palavra em francês, e sim a inferência.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Fernando Moura.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura
exclusiva deste material.

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