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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Estrutura Diafórica do Texto e Inferências Estrutura Diafórica do Texto e Inferências


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ESTRUTURA DIAFÓRICA DO TEXTO E INFERÊNCIAS pectiva de ócio absoluto. O indivíduo tem apenas a calma necessária para refletir na medio-
cridade de uma vida que não conhece a fome nem o fausto; sente o peso dos regulamentos,
ESTRUTURA DIAFÓRICA DO TEXTO E INFERÊNCIAS (E DEDUÇÕES LÓGICAS) que lhe compete observar ou fazer observar; o papel barra-lhe a vista dos objetos naturais,
como uma cortina parda. É então que intervém a imaginação criadora, para fazer desse papel
• dia (palavra latina que significa passagem).
precisamente o veículo de fuga, sorte de tapete mágico, em que o funcionário embarca, arre-
• fórica tem formação adjetiva de "afórica", derivado de anáfora.
batando consigo a doce ou amarga invenção, que irá maravilhar outros indivíduos, igualmente
• Anáfora: repetição, reiteração, retomada.
prisioneiros de outras rotinas, por este vasto mundo de obrigações não escolhidas.
• Inferências: deduções, depreensões, deduções lógicas.
(Carlos Drummond de Andrade)
• Conteúdo do texto
A Rotina e a Quimera
1º parágrafo
5m A Rotina e a Quimera
Sempre se falou mal de funcionários, inclusive dos que passam a hora do expediente
Sempre se falou mal de funcionários, inclusive dos que passam a hora do expediente
escrevinhando literatura. Não sei se esse tipo de burocrata-escritor existe ainda. A racionaliza-
escrevinhando literatura. Não sei se esse tipo de burocrata-escritor existe ainda. A racionaliza-
ção do serviço público, ou o esforço por essa racionalização, trouxe modificações sensíveis ao
ção do serviço público, ou o esforço por essa racionalização, trouxe modificações sensíveis ao
ambiente de nossas repartições, e é de crer que as vocações literárias manifestadas à sombra
ambiente de nossas repartições, e é de crer que as vocações literárias manifestadas à sombra
de processos se hajam ressentido desses novos métodos de trabalho. Sem embargo, não se
de processos se hajam ressentido desses novos métodos de trabalho. Sem embargo, não se
terão estiolado de todo tão forte é, no escritor, a necessidade de exprimir-se, dentro ou fora da
terão estiolado de todo tão forte é, no escritor, a necessidade de exprimir-se, dentro ou fora da
rotina que lhe é imposta. Se não escrever no espaço de tempo destinado à produção de ofí-
rotina que lhe é imposta. Se não escrever no espaço de tempo destinado à produção de ofí-
cios, escreverá na hora do sono ou da comida, escreverá debaixo do chuveiro, na fila, ao sol,
cios, escreverá na hora do sono ou da comida, escreverá debaixo do chuveiro, na fila, ao sol,
escreverá até sem papel – no interior do próprio cérebro, como os poetas prisioneiros da última
escreverá até sem papel – no interior do próprio cérebro, como os poetas prisioneiros da última
guerra, que voltaram ao soneto como uma forma que por si mesma se grava na memória.
guerra, que voltaram ao soneto como uma forma que por si mesma se grava na memória.
• "burocrata" retoma a "funcionários".
E por que se maldizia tanto o literato-funcionário? Porque desperdiçava os minutos do
"escritor" retoma a "escrevinhando literatura"
seu dia, reservado aos interesses da Nação, no trato de quimeras pessoais. A Nação pagava-
• "racionalização" = "serviço público"
-lhe para estudar papéis obscuros e emaranhados, ordenar casos difíceis, promover medidas
• "vocações literárias"
úteis, ouvir com benignidade as “partes”. Em vez disso, nosso poeta afinava a lira, nosso
• "processos" tem a ver com burocrata, com funcionários e com rotina.
romancista convocava suas personagens, e toca a povoar o papel da repartição com palavras,
• Se "processos" tem a ver com burocrata, ambiente tem a ver com rotina: quando o
figuras e abstrações que em nada adiantam à sorte do público.
autor usa "vocações literárias", "escritor", "escrevinhando literatura", ele quer fazer
É bem verdade que esse público, logo em seguida, ia consolar-se de suas penas na trova
inferência à quimera.
do poeta ou no mundo imaginado pelo ficcionista. Mas, sem gratidão especial ao autor, ou talvez
• "sem embargo" quer dizer "apesar disso" (apesar dessa racionalização): é concessivo.
separando neste o artista do rond de cuir, para estimar o primeiro sem reabilitar o segundo.
• "estiolado": enfraquecido de todo
O certo é que um e outro são inseparáveis, ou antes, este determina aquele. O emprego do
• "forte": antônimo = fraco
Estado concede com que viver, de ordinário sem folga, e essa é a condição ideal para um bom
10m • "burocrata-escritor" = é o funcionário que, apesar da rotina, não deixa de manifestar as
número de espíritos: certa mediania que elimina os cuidados imediatos, porém não abre pers-
suas vocações literárias.
ANOTAÇÕES

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Estrutura Diafórica do Texto e Inferências Estrutura Diafórica do Texto e Inferências
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• "ofícios" = "rotina" 3º parágrafo


• "que" retoma a forma do soneto. É bem verdade que esse público, logo em seguida, ia consolar-se de suas penas na
• No 1º parágrafo, Carlos Drummond diz que há um tal burocrata-escritor, daquele que trova do poeta ou no mundo imaginado pelo ficcionista. Mas, sem gratidão especial ao autor,
apesar da rotina (apesar da racionalização) do serviço público, não deixa de manifestar ou talvez separando neste o artista do rond de cuir, para estimar o primeiro sem reabilitar
suas vocações literárias. o segundo.
• Só se deve passar para o próximo parágrafo, quando as ideias anteriores estivem real- • "poeta": romancista, escritor, ficcionista (um show de coesão lexical)
mente no arquivo mental do candidato. • "neste": cuidado com pronome (preposição em, pronome este). O pronome "este" pode
• Quais ideias? As essenciais. ser catafórico (fazer referência ao que irá dizer), e também pode ser anafórico (desde
• E como se descobre essas ideias? Pela exploração da estrutura diafórica, pela explora- que seu objetivo seja retomar o termo sintático próximo).
ção da coesão lexical e da coesão gramatical. • Se o "artista" retoma o "ficcionista", o que será então que quis dizer com o rond de cuir?
• "para estimar o primeiro" = o artista.
2º parágrafo • "sem reabilitar o segundo" = rond de cuir
E por que se maldizia tanto o literato-funcionário? Porque desperdiçava os minutos do • "neste" = o autor
seu dia, reservado aos interesses da Nação, no trato de quimeras pessoais. A Nação pagava-
-lhe para estudar papéis obscuros e emaranhados, ordenar casos difíceis, promover medidas 4º parágrafo
úteis, ouvir com benignidade as “partes”. Em vez disso, nosso poeta afinava a lira, nosso 20m O certo é que um e outro são inseparáveis, ou antes, este determina aquele. O emprego do
romancista convocava suas personagens, e toca a povoar o papel da repartição com palavras, Estado concede com que viver, de ordinário sem folga, e essa é a condição ideal para um bom
figuras e abstrações que em nada adiantam à sorte do público. número de espíritos: certa mediania que elimina os cuidados imediatos, porém não abre pers-
• "literato-funcionário": para não repeti burocrata, o autor usa funcionário. Para não repe- pectiva de ócio absoluto. O indivíduo tem apenas a calma necessária para refletir na medio-
tir escritor, o autor usa literato. cridade de uma vida que não conhece a fome nem o fausto; sente o peso dos regulamentos,
• "interesses da Nação": reforça "funcionário" que lhe compete observar ou fazer observar; o papel barra-lhe a vista dos objetos naturais,
• "quimeras pessoais": reforça "literatura" como uma cortina parda. É então que intervém a imaginação criadora, para fazer desse papel
• "quimeras" tem a ver com sonho/imaginação. precisamente o veículo de fuga, sorte de tapete mágico, em que o funcionário embarca, arre-
• o "burocrata" está preocupado com os "interesses da Nação". batando consigo a doce ou amarga invenção, que irá maravilhar outros indivíduos, igualmente
• "em vez disso": em vez de corresponder a esses interesses da Nação. prisioneiros de outras rotinas, por este vasto mundo de obrigações não escolhidas.
• "nosso poeta": nosso "burocrata", "literato", "escritor". • "rond de cuir" retoma "funcionário".
• "repartição": "rotina". • "funcionário" determina o "artista".
• No 2º parágrafo, o literato/funcionário, que na verdade é o burocrata-escritor, em vez • "fausto" = "riqueza"
15m
de corresponder aos interesses da Nação (hiperônimo), recorre às quimeras pessoais • "imaginação criadora": "quimera"
(palavras, figuras e abstrações). • "fuga": da rotina
• "por este vasto mundo": onde estamos
ANOTAÇÕES

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• Carlos Drummond mostra nesse último parágrafo que a condição de funcionário deter- 4. Infere-se do texto que a expressão francesa rond de cuir significa burocrata.
minada a condição de artista, porque ele foge da rotina, embarca num tapete mágico • O rond de cuir é o funcionário/burocrata.
para fazer literatura, para se utilizar das palavras/figuras/abstrações. Por isso a rotina
e a quimera mais uma vez. 5. A condição de escritor determina a condição de funcionário público.
• A condição de funcionário determina a condição de escritor, porque ele foge da rotina
No que diz respeito ao conteúdo do texto, julgue os itens que se segue. para fazer literatura.
1. Somente o funcionário “burocrata-escritor” tem sido criticado pela população.
6. Os vocábulos “este” e “aquele” têm como referentes “rond de cuir” e “artista”, respectiva-
Errado. mente.
• O texto começa: "sempre se falou mal de funcionários, inclusive dos que passam hora • Este = rond de cuir
do expediente escrevendo literatura". • Aquele = artista.
• "Inclusive" e não "somente".
 Obs.: o examinador não pediu a tradução da palavra em francês, e sim a inferência.
2. A verdadeira vocação literária só se manifesta no ambiente do serviço público.

Errado. �Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
• Porque quando o autor disse que ele escreve em qualquer circunstância (debaixo do preparada e ministrada pelo professor Fernando Moura.
chuveiro, na fila, no sol), e pode se manifestar também no serviço público. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura
exclusiva deste material.
3. Infere-se do texto que, no Brasil, o Estado tem, indiretamente, subvencionado a lite-
ratura nacional.
25m • Quando o examinador diz "infere-se", quer dizer que está afirmando agora e que não
está escrito no texto com todas as letras, mas quer saber se é uma dedução lógica que
o candidato verifica no intertexto, com base nos indícios existentes no texto.
• "estado" = "Nação" = "Brasil"
• "subvencionado" significa patrocinado/custeado.
• O Estado, diretamente, patrocina/subvenciona a rotina, mas para fugir da rotina, o lite-
rato/funcionário apresentado durante todo o texto, recorre à quimera (literatura).
• Então se é uma fuga, o Estado, diretamente, subvenciona a rotina. Mas se para fugir
da rotina, o funcionário faz literatura, então é uma fuga, então indiretamente, o Estado
subvenciona a literatura nacional.
• Há todos esses indícios no texto.
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