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Resumo
Apesar de o Brasil produzir boa parte de sua energia através das hidrelétricas, a matriz
energética do país, pode ser mais diversificada e explorada. De acordo com ABEÉOLICA -
Associação Brasileira de Energia Eólica, a maior parte da produção elétrica vem dos rios. É
nesse contexto que a energia eólica se apresenta como uma fonte alternativa. Nesse sentido, o
objetivo dessa pesquisa foi descrever e analisar o histórico dessa fonte de energia no Brasil,
mais especificamente a partir do início de 1990 até os dias atuais, abordando a sua
implantação, fixação e os esforços da administração pública, principalmente a federal, para
incentivar e ampliar a exploração do potencial elétrico oriundo dos ventos. A importância do
estudo se encontra, portanto, na atualidade evidente do tema tanto no que diz respeito às
questões ambientais, quanto referente à economia e, inclusive, àqueles que vislumbram a
administração pública como uma ferramenta de transformação social. Foi realizado uma
pesquisa bibliográfica exploratória, com a intenção de conhecer e analisar as principais
contribuições teóricas concernentes ao assunto em diferentes artigos, documentos, pesquisas
científicas e livros. Os resultados evidenciam que o potencial de geração de energia eólica no
Brasil hoje é três vezes maior que o somatório total de energia produzida (hidrelétrica,
biomassa, gás natural etc.) e que o setor tem uma capacidade exponencial na geração de
empregos diretos e indiretos
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Scielo https://www.scielo.br/?lng=pt
2
Capes https://www.periodicos.capes.gov.br/
Foi priorizado materiais relevantes e de publicações atuais. Ocorreu uma pesquisa
atenta de vários trabalhos, chegando a uma totalidade de 40 fontes entre artigos, dissertações,
livros, monografias, reportagens, relatórios e gráficos (ou imagens), que sustentaram e
aprofundaram a análise do tema, embasando de forma sólida a revisão teórica aplicada.
Vale ratificar que os dados numéricos e estatísticos que envolvem informações do
setor energético brasileiro (e principalmente o eólico) foram de fontes relevantes sobre essa
fonte renovável, destacando-se a ABEEÓLICA - Associação Brasileira de Energia Eólica,
ANEEL - Atlas de Energia Elétrica do Brasil, CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia
Elétrica -Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, MME- Ministério de Minas e Energia, entre
outros.
Martin (1992) relata em seu livro “A economia Mundial de Energia” que, no início da
década de 70, o mundo foi abalado pela alta do preço do petróleo. Assim, em 1972, o valor do
barril era de US$1,77 passando para valores superiores a US$35,00 em 1979. Devido a essa
alta dos preços, a Agência Internacional de Energia (AIE) propõe à Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) medidas que visavam minimizar o
impacto causado pelo desajuste do preço do petróleo na economia. As possíveis medidas de
minimização do problema foram: racionalidade na utilização da energia, diversificação das
fontes de importação de petróleo e, por fim, substituição do petróleo por outras fontes de
energia.
A partir da segunda metade da década de setenta (por volta de 1975), países como
Estados Unidos, Alemanha e Suécia retornaram seus investimentos e suas pesquisas no setor
eólico de grande porte, o que possibilitou o crescimento da indústria eólica tanto para o
mercado onshore3 como para o promissor mercado offshore4. Percebe-se, então, uma grande
evolução em um curto espaço de tempo nesse setor. Em 1985, a capacidade de produção de
um aerogerador era de aproximadamente 50kW de energia e, em 2000, a produção passou
para 4500kW, representando um aumento de 9000 por cento na capacidade produtiva
(TOLMASQUIM, 2004).
Almejando todo o potencial financeiro do setor, em 1990 diversos países, entre eles,
Dinamarca, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos, empenharam-se em estudos para a
viabilidade de aplicação em grande escala de fazendas eólicas no mar (offshore). Segundo
Costa (2009), a Dinamarca, em 1995, se torna pioneira na comercialização de energia gerada
por usinas eólicas em alto-mar (a fazenda de Vindeby)5 aproveitando de forma inteligente os
fortes ventos marítimos. Desde então, vários países desenvolveram suas fazendas em modelo
similar.
Diante desses estudos e investimentos, a Agência Internacional de Energia (AIE) se
posicionou bem otimista quanto à utilização dessa vertente eólica. A título de comparação, em
1980 uma torre eólica possuía 15 metros de altura, passados 25 anos, as torres já se
apresentavam com 126 metros, e pesquisas revelam que, no ano corrente, as mesmas podem
chegar a 300 metros (COSTA, 2009).
Com a adoção de muitos incentivos para a energia eólica, sua participação aumentou
em vários países, ocorrendo um alto crescimento a partir de 1996, e, assim, solidificando-se.
Para se ter uma ideia, em 2011, a capacidade eólica em operação no mundo chegou a 238 GW
(GWEC, 2012).
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Parques eólicos onshore encontram-se localizados em terra ao largo da costa marítima ou no interior
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Parques eólicos offshore são parques onde os aerogeradores são instalados no mar .
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A primeira usina eólica off-shore foi construída em Vindeby, na Dinamarca, em 1991. Posicionada
no Mar Báltico a aproximadamente 2 km da costa, era composta por 11 turbinas eólicas, cada qual com 450 kW
de capacidade
Um exemplo bastante assertivo, de acordo com NESLEN, foi o governo
Dinamarquês que, em 2014, investiu de forma significativa no setor eólico. Acarretando no
ano seguinte uma produção de cento e quarenta por cento de sua demanda por energia eólica,
levando o país a exportar esse excedente para Alemanha, Noruega e Suécia.
FIGURA 01- Mapa do Brasil por regiões e velocidade (m/s) média anual dos ventos a partir de 50
metros de altura. Fonte: Potencial Eólico Brasileiro [CEPEL,2001]
Segundo Alves (2010), esse programa não foi capaz de gerir e proporcionar estrutura
para a entrada de todos os projetos eólicos apresentados ao governo brasileiro no prazo
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Crise que ocorreu entre 2001 e 2002, sendo o resultado da falta de investimentos na geração e
transmissão de energia e uma grande estiagem, reduzindo os reservatórios de água em todo o país ,
principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste.
estabelecido. Além disso, favoreceu o acesso de muitas empresas estrangeiras, o que acarretou
a necessidade de uma legislação regulamentadora e específica de caráter duradouro. Devido à
demanda de projetos e interesses no setor, nasce, então, o Programa de Incentivo às Fontes de
Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, que será apresentado a seguir.
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É uma tarifa diferenciada, ou seja, o produtor eólico tem sua produção elétrica mais valorizada que a
de uma produção da rede pública. A tarifa prêmio paga ao produtor visa proporcionar uma taxa interna de
retorno (TIR) bem mais atrativa para o investidor.
Além do BNDES, o programa teve parcerias com outras instituições, como Fundo
Constitucional do Nordeste (BNB/FNE) com financiamentos de 80% do empreendimento e a
Caixa Econômica Federal, sendo essa uma intermediária entre o projeto e o
BNDES(SALINO,2011). Devido a vários atrasos, a primeira fase do PROINFA teve algumas
prorrogações sendo que, em dezembro de 2011, o programa chegou ao seu fim.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Parque Eólico de Osório, forma o mais completo parque de energia elétrica através
da força dos ventos da América Latina. Possui três parques com 75 aerogeradores de 2 MW
cada um, com torres de mais de cem metros. Gera uma energia equivalente ao consumo
residencial de 650 mil pessoas, mais do que a metade da população de Porto Alegre,
localizado no Rio Grande do Sul.
Sem dúvida, a energia eólica é uma fonte renovável que oferece inúmeras vantagens
na geração de grandes blocos de energia. Em todo o mundo, o uso dessa energia na geração
complementar de energia elétrica tem sido amplamente difundido. Destacam-se como
atrativos no uso da energia eólica a diversidade de suprimento no parque gerador, o rápido
desenvolvimento e a inovação tecnológica presente em diferentes condições do projeto.
Devido aos incentivos do governo federal brasileiro através dos programas PROINFA
e PROEÓLICA, financiamentos favoráveis e investimentos no setor, foram concretizados
muitos projetos eólicos que vem ganhando espaço e desenvolvendo-se cada vez mais. Com
essa expansão, as vantagens contemplarão tanto a área econômica como, também, a proteção
do meio ambiente. Com o incentivo à exploração da fonte eólica, ocorreu uma diversificação
da matriz energética brasileira. Devido a crescentes investimentos, esse setor tem aumentado
bastante, e o Brasil tornou-se um atrativo rentável para os investidores, que o enxerga como
um futuro exportador de energia eólica para outros países da América Latina (COSTA,2017).
Em 2017 o Brasil foi o oitavo maior gerador de energia eólica, ficando atrás apenas de
China, EUA, Alemanha, Índia, Espanha, Reino Unido e França. Isso só foi possível com os
programas de incentivo feitos pela administração pública e os vários investimentos no setor,
tanto públicos quanto privados, no início dos anos 2000.
Foi delineada, ainda, a importância do desenvolvimento do setor eólico na criação de
empregos. Até 2020, têm-se a perspectiva da criação de quase 200 mil postos de trabalho.
Observou-se que o setor eólico tem o potencial de desenvolver a indústria brasileira e,
sobretudo, o desenvolvimento socioeconômico regional. A criação de uma fazenda eólica
pode movimentar vários setores da região, como o hoteleiro, a prestação de serviços e o
comércio local. A atuação da administração pública na concessão de financiamentos para os
empreendimentos eólicos foi importante para o desenvolvimento das fazendas eólicas. Só o
BNDES destinou mais de 4 bilhões para o setor e já estão aprovados novos projetos e novos
financiamentos para os próximos anos.
Por fim, a energia eólica, é uma fonte renovável e limpa, e pode se tornar uma
alternativa para a crise do setor de geração de energia elétrica no Brasil. Ressalto que esse
trabalho não tem o objetivo de esgotar o debate em relação a essa matriz energética e que
novos trabalhos, pesquisas de campo e estatísticas podem agregar e complementar a análise
do tema.
REFERÊNCIAS
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