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SONHO ERÓTICO
R. Bava

Digitalização & Revisão:


ÐØØM SCANS

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Editora Contato
Caixa Postal 14637
São Paulo — SP

Impresso em offset
Gráfica Editora Hamburgo
Rua Bogaert, 64 — Vila Vermelha — São Paulo
Fone: 946-0233 — Cep: 04298

Com filmes fornecidos pelo editor

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A mão se introduziu habilmente pela abertura


lateral do vestido de Sara Handke, deslizando sutil-
mente pela cintura, da jovem, até onde seu braço
atingiu.
Ela beijou-o como provocação no pescoço. Seu
hálito de mulher apaixonada parecia queimar a pele
de Adam Kline, empolgando-o.
A pista de dança, às escuras, possibilitava que
extravasassem seus desejos, excitando-se mutua-
mente, preparando-se para o melhor da noite, que
poderia ser sugerido a qualquer momento.
A pele da garota, à altura do ventre, era lisa e
ardente, entontecendo Adam, fazendo-o perder o
compasso da música.
Ele sentiu que a jovem o provocava, agora com
os quadris se movendo de um lado para outro, ro-
çando os dele. Enquanto isso, seus lábios experi-
mentados mordiscavam a ponta da orelha de Adam,
sua língua insinuante o acariciava em ligeiras pene-
trações.
Ele a apertou contra si, afrouxando em seguida
para que sua mão tentasse chegar ao fim daquele
ventre e acariciá-la em um ponto mais sensível.
O metal do fecho prendeu-lhe a manga do pale-
tó.
— E se a música acabasse agora? — indagou
ela, enquanto ele conseguia se desvencilhar.
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— Seria uma boa desculpa para sairmos — res-
pondeu ele, a mão tomando outra direção, a dos
seios da garota.
Um frêmito emocionado percorreu seu corpo ao
atestar a rigidez jovem e apetitosa daquele seio. A
música chegava ao fim. Adam retirou apressada-
mente sua mão dali, tratando de fechar-lhe o vesti-
do.
As luzes do ginásio se acenderam sobre a pista
de dança. Os casais aplaudiram o conjunto e retor-
naram a suas mesas.
Adam acompanhou a garota até a mesa que,
juntos, haviam reservado para aquela noite.
A garota passava dos dezenove anos, mas sua
beleza ainda conservava aquele traço inconfundível
e fascinante da adolescência.
Seus cabelos eram louros, muito claros, assim
como seus olhos, ligeiramente amendoados.
— Você está sujo de batom — disse ela, sorrin-
do.
Adam apressou-se em retirar o lenço do bolso e
em esfregá-lo disfarçadamente no pescoço e no ros-
to. Tinha pouco mais de vinte anos. O porte atlético
o caracterizava como um dos campeões do time de
futebol do colégio.
Aquele era um baile de formatura. Adam e Sara
já haviam passado por aquilo. Lutavam, agora, por
uma vaga em Universidades diferentes, onde cada
um pretendia seguir sua especialidade.
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Adam pretendia ser engenheiro mecânico; Sara
queria se dedicar à Diplomacia.
Os momentos de excitação os deixaram ligeira-
mente afogueados. Procuravam, agora disfarçar os
desejos íntimos que os incendiavam.
Eram apenas namorados. Apesar de estarem
juntos há mais de um ano, Sara não se via presa a
ele totalmente. Era um tipo de relacionamento onde
cada um aceitava a liberdade do outro.
Desse modo, conseguiram conciliar gostos dife-
rentes e dar um toque especial à paixão que os unia.
Sara deixara a casa de seus pais, num dos bair-
ros afastados do centro, desde que começara a tra-
balhar, enquanto aguardava sua vaga na Universi-
dade.
Adam vivia numa pensão com alguns amigos.
Seus pais eram do interior e ele, na mesma situação
de Sara, cuidava sozinho de sua vida.
Adam acendeu um cigarro e fez sinal a uma das
garotas que serviam. Pediu um uísque para si. Sara
preferiu uma cuba libre com muito gelo.
Fazia calor naquela noite. O ginásio de esportes
do High College estava repleto. As tabelas de bas-
quete haviam sido arriadas. Mesas foram dispostas
ao redor da quadra. Muita gente preferia as arqui-
bancadas, próximas das entradas de ar, muito agra-
dável naquela noite quente.
— Quer dançar um pouco mais ainda? — inda-
gou Adam, com um pretenso convite no tom de
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voz.
— Adam, seu apressado! Vamos aproveitar a
noite, temos tanto tempo. Por que só pensa em
sexo?
— Consegue pensar em algo mais agradável
para uma noite como essa? — sorriu ele, em res-
posta.
Ela debruçou a cabeça no ombro dele e aceitou
o rápido beijo que o rapaz depositou em sua testa.
Gostava de Adam, era agradável e sabia como
preencher o vazio de uma noite. Era apenas isso.
Sara desejava que houvesse algum motivo a mais
para ligá-los, mas, por mais que se esforçasse, não
conseguia chegar a uma conclusão favorável.
Talvez porque tivesse outros planos para si e um
secreto desejo de menina-moça, nascido nas horas
inquietas da adolescência, quando a descoberta do
corpo ganhava uma importância fundamental em
sua vida.
Sara sonhava com um príncipe, toda garota so-
nhava. Era, talvez, o sonho mais disfarçado, mais
oculto e, por isso, mais tentador.
Ela sonhava com arrebatamento interior, nos si-
nos, repicando, com toda a sorte de coisas românti-
cas que via no cinema ou nos filmes de televisão.
Seria um homem alto e forte, personalidade
marcante, dominador, mas gentil e terno, maduro e
experiente nas coisas do amor.
Dois rapazes se aproximaram da mesa ocupada
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por eles. Eram amigos de Adam.
— Adam, você tem que me ajudar — disse um
deles, com visível desespero na voz.
— O que houve, Mike?
— Consegui aquela garota, mas meu carro en-
trou em pane. Só você sabe como me ajudar.
— Quer que eu dê uma olhada?
— Você é um mágico, quando se refere a moto-
res e máquinas — disse Mike, olhando com malícia
e cumplicidade na direção de Sara.
Adam sorriu e suspirou. Sara apertou sua mão
sobre a toalha da mesa.
— Está tudo bem, Adam. Vá salvar seu amigo
de uma noite desastrosa — disse ela.
Adam retribuiu o aperto de mão, levantando-se.
No instante seguinte, misturava-se às pessoas, na
direção da saída.
A garota trouxe as bebidas. Sara pagou-as com
o seu dinheiro; era normal aquilo. Adam não tinha
idéias ou teorias machistas que não o permitissem
aceitar aquilo de sua garota.
Ela aguardou o gelo de seu copo derreter, gi-
rando-o com o dedo. Depois tomou um ligeiro
gole, estalando a língua com satisfação.
Sentiu-se, então, incomodada, com o estranho
pressentimento de que era observada intensamente.
O conjunto voltava ao palco improvisado à saída
dos vestiários.
Os casais se movimentaram para o centro da
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quadra, esperando o diminuir das luzes. Sara correu
os olhos ao seu redor, procurando a origem daquela
sensação incômoda.
Algo pareceu lhe atingir o estômago com força,
tirando-lhe o fôlego. Não muito longe dela, apoiado
à cerca que divisava a quadra das arquibancadas,
alguém a olhava com insistência.
Era alto e forte, rosto másculo, mas simpático,
um copo de uísque numa das mãos, um cigarro
acesso na outra. Era moreno e maduro. Seus cabe-
los bem penteados revelavam um cuidado extremo
com a aparência. O terno bem-talhado realçava um
físico proporcional.
A garota tentou vencer aquela emoção e desviar
os olhos, mas era impossível. Sentiu-se fascinada
por aquela imagem, como se ela já estivesse dentro
de si há muito tempo. Tudo se transformou para
Sara. No clube do colégio, era vítima de emoções
sensuais.
O desconhecido sorriu ligeiramente. Os lábios
de Sara se entreabriram sem que ela pudesse evitar,
correspondendo àquele sorriso inicial.
Com elegância o estranho levou o cigarro aos
lábios antes de atirá-lo com displicência para o
lado. Ele se endireitou e caminhou na direção da
garota, girando lentamente o copo em sua mão.
Em suspense, Sara aguardou a chegada dele, in-
capaz de desviar seus olhos daquele rosto que a
prendia inapelavelmente.
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Antes que ele parasse diante dela, alguém lhe
cortou a frente, inclinando-se para a garota e convi-
dando-a para dançar.
Sara se viu num dilema terrível. O desconheci-
do pareceu entender isso, tocando gentilmente o
ombro do rapaz que a convidara.
— Desculpe-me, amigo. A garota já está acom-
panhada — falou ele.
Seu timbre de voz era extremamente gentil, mas
firme o bastante para dissuadir o rapaz do inoportu-
no convite.
— Desculpe-me — disse ele, retirando-se.
Sara e o estranho se entreolharam. Ele sorriu,
enquanto levava o copo aos lábios e tomava um
gole. Depois depositou o copo sobre a mesa, fazen-
do um gesto convidativo.
Ele não precisou dizer nada. Aquele gesto dizia
tudo o que ele queria dela e Sara sentiu que bastaria
um outro gesto como aquele para cair aos pés dele,
submissa.
Ela se levantou, como que hipnotizada. Aquelas
sensações românticas com que sempre sonhara pa-
recia cercá-la.
Com cavalheirismo, ele a segurou suavemente
pelo braço, levando-a até o centro da quadra.
Olharam-se por instantes, antes que Sara ofere-
cesse seu corpo àqueles braços gentis, mas domina-
dores. Uma sensação violentamente excitante inva-
diu seu corpo, ao gozar a proximidade daquele es-
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tranho total para ela.
Não o conhecia, mas conhecia aquela imagem.
Ela estivera dentro de si durante muito tempo.
— Sou Fred Bernard — disse ele, apresentando-
se.
— Sara Handke — conseguiu dizer ela.
— Você é muito bonita, Sara. Sempre tive certe-
za disso.
— Sempre? — indagou, sem entender.
— Sim, já a via antes, mas você não me notou
nunca.
— Onde eu o vi?
— Trabalhamos próximos. De minha janela eu
posso vê-la todos os dias — falou ele, traindo certa
emoção em suas palavras.
— Janela? Você trabalha no prédio ao lado do
meu?
— Sim. Em frente à sua janela.
— É um advogado, então?
— Sim, sou.
— Nunca o notei...
— Você vive compenetrada em seu trabalho.
Mal consegue notar o que se passa ao seu redor.
— Desculpe-me — pediu ela, como se houvesse
cometido uma falta grave.
— Não se aborreça por isso — falou ele, as
mãos exercendo uma pressão maior às costas da
garota.
Sara se sentiu sem forças para evitar aquilo. Seu
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corpo tocou o dele, como se ela desejasse aquele
contato e não pudesse fugir a ele.
— Aquele rapaz que a acompanhava...
— Adam?
— Sim, se esse é o nome dele.
— O que há com ele?
— São namorados?
— Não — negou eia, incapaz de dizer a verda-
de.
— Eu os vi dançando — observou ele, com cer-
ta decepção no tom de voz.
Sara abaixou a cabeça envergonhada de sua
mentira. Desejou poder reparar aquela falta imedia-
tamente, mas se sentia um tanto confusa.
Aquele homem a dominava estranhamente, ti-
rava-lhe o raciocínio, despertava-lhe sensações so-
nhadas com insistência.
Era diferente de estar com Adam. Entre eles, ha-
via sempre um jogo aberto e deliberado de provo-
cações, como se apenas isso os mantivesse juntos.
Com Fred, no entanto, Sara sentia suas sensa-
ções subirem a um estágio inexplicável de emoção.
Idéias eróticas de entrega total a assustavam terri-
velmente.
Uma sugestão, um pedido apenas e ela sabia
que o seguiria, sem forças para lutar contra aquele
fascínio para o qual não desejava explicações.
— Eu a perturbei? — indagou ele, diante do si-
lêncio dela.
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— Desculpe-me.
— Não precisa se aborrecer, você é dona de sua
vida.
— Sou? — retrucou ela, como se, naquele mo-
mento, duvidasse disso.
— É o que sempre demonstrou.
— Você fala de mim como se me conhece há
muito tempo...
— Já disse, eu a conheço há algum tempo.
— Mas... — hesitou ela, como se fosse incapaz
de coordenar seus pensamentos.
— Eu a observava passar bem ao meu lado.
Você, às vezes, para junto de mim. Seus olhos, no
entanto, parecem não me ver.
Sara não podia acreditar naquilo. Se o tivesse
visto antes, tinha certeza de que ele teria chamado
sua atenção. Esse detalhe não a prendeu, no entan-
to.
Era o tom de voz dele, quente e íntimo, que pa-
recia revelar um acento apaixonado e sonhador ao
falar daquelas coisas.
— Por que não me dirigiu a palavra antes? —
indagou ela sentindo como se houvesse perdido um
tempo precioso.
— Não sabia se me receberia. Como eu disse,
você passava por mim e nem me notava. Animador
isso, não?
— E esta noite? Por que veio, então?
— Você sorriu para mim, ao me olhar.
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— Sorri?
— Sim, isso mudou tudo. Eu pretendia ficar lá,
olhando-a a noite toda.
— Que desperdício! — lamentou ela, aconche-
gando-se melhor nos braços dele.
Sara sentia suas faces em fogo, seu corpo trê-
mulo e ansioso, contagiado pelo calor do corpo de
Fred. Havia um mudo e irresistível apelo que vinha
dele e a dominava absurdamente, fazendo-a buscar
uma proteção que a excitava sobremaneira.
Fred entendeu isso. Suas mãos acariciaram as
costas e a cintura da jovem. Havia suavidade e fir-
meza no toque de suas mãos.
Ele a beijou nos cabelos. Houve uma certa timi-
dez da parte dele, mas para a garota apenas impor-
tou o calor daquele beijo.
Ela levantou a cabeça, oferecendo-se a ele. Não
podia resistir àquilo. Os olhos dele percorreram
toda a face da garota, enquanto sua cabeça se incli-
nava lentamente, presa do fascínio que vinha da be-
leza da garota.
Sara não ouviu sinos e isso não fez nenhuma di-
ferença. Nunca um beijo lhe trouxera tanta certeza
e tanta emoção. Ela se apertou contra ele, prolon-
gando aquele contato de lábios, roçando seu corpo
ao dele, extravasando os sentimentos que deixavam
sua pele extremamente sensível.
Ele deixou seus lábios escorregarem para o
queixo da garota. Sara dobrou a cabeça lentamente
15
para trás, à medida que os lábios dele avançavam
para seu pescoço.
Ela sentiu-se pequena demais para tudo que vi-
brava dentro dela. Suas mãos o acariciaram no ros-
to, nos cabelos, escorregando, a seguir, para aquele
peito másculo e protetor.
— Está muito quente aqui, não? — disse ele,
num convite velado.
— Sim — concordou ela, acalorada.
Não sabia se o calor extremo que sentia vinha
da noite ou de dentro de si mesma.
— Meu carro está lá fora, podemos andar um
pouco, tomar um pouco de ar — sugeriu ele.
— Sim claro — aceitou ela, incapaz de outra re-
ação.
Esgueiraram-se por entre os outros casais. À sa-
ída pôde observar Adam e os amigos, ainda às vol-
tas com o motor do carro.
Não sentiu remorso. Apenas certeza de si mes-
ma.

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2

O carro de Fred era um Lincoln azul metálico,


de linhas sóbrias. Ele, gentilmente, abriu a porta
para que Sara entrasse.
Por momentos ela hesitou, dominada por um re-
ceio que era mais uma tentação. Se entrasse naque-
le carro, não seria mais dona de si mesma, de seus
atos, de sua vontade.
Poderiam, ela e Fred, gozar de uma intimidade
que facilmente poderia chegar às últimas conse-
quências. O fascínio daquele homem, seus modos
gentis e cavalheirescos, a maneira como ele surgira
em sua vida, casando-se com aquela imagem ro-
mântica e irreal que ela, secretamente, cultivava a
longo tempo, tudo isso a atraía e a assustava.
— Por favor! — pediu ele.
Sara não pôde evitar. Acomodou-se em seu as-
sento. Fred fechou a porta, entrando pelo outro
lado. Antes de dar partida no carro, olhou-a terna-
mente.
— Diga-me que não estou sonhando — falou
ele.
— Como posso saber? Acho que tudo isso é um
sonho.
— Vivemos o mesmo sonho, então.
— É possível.
— Assustada?
— De algum modo...
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— De que tem medo?
Ela preferiu não pensar naquilo. Tinha medo de
alguma coisa? Sim, talvez de ver tudo aquilo aca-
bar de um momento para o outro, tão rapidamente
como se iniciara.
— Tem um cigarro? — indagou ela.
Ele retirou uma cigarreira de ouro do bolso de
seu paletó, abriu-a e estendeu-a à garota. Sara reti-
rou um cigarro.
Fred guardou a cigarreira, apanhando o isquei-
ro. Seus gestos eram lentos e estudados, com muita
classe e distinção.
Ao acender o cigarro para ele, seus corpos fica-
ram próximos. Sara sentiu a pertubação daqueles
olhos invadir seu corpo, deixando-a trêmula e ven-
cida.
Fred, lentamente, retirou o cigarro dos lábios
dela, esmagando-o no cinzeiro do carro, sua mão
tocou o rosto da garota.
Sara ficou imóvel, apenas sentido aquele toque.
— Você é muito bonita, Sara. Mais bonita do
que eu pensava — falou ele, quase num sussurro.
O rosto dele pendeu ligeiramente. Suas mãos
deslizaram para os cabelos da jovem e para sua
nuca, atraindo-a lentamente.
O beijo se iniciou quase que timidamente, ga-
nhando febrilidade a seguir. Contagiada, as mãos
da garota buscaram o corpo de Fred para abraçá-lo
com força.
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Fred também a enlaçou e ambos se entregaram
a um beijo sem tempo e sem calma.
Arfavam, quando se separaram. A mão de Fred
acariciou ainda o rosto de Sara, os contornos pro-
vocantes de seus lábios úmidos e sensuais, a curva
insinuante dos ombros.
Sem dizer nada, ele deu partida no motor do
carro. Sara não se importou em perguntar para onde
iam. Qualquer lugar seria interessante, na compa-
nhia de Fred.
Ela recompôs os cabelos e se sentou ligeiramen-
te voltada para ele, observando-o, enquanto ele di-
rigia. Fred se voltava e sorria.
Sara tentava entender o que se passava dentro
dela e ao seu redor. Aquilo era algo com que sem-
pre sonhara. Fred surgia como nos seus sonhos se-
cretos, arrebatando-a e levando-a para longe, para
um lugar que ela própria desconhecia.
Romantismo em excesso? Sonho demais?
Como saber? Como entender aquele momento, se o
que importava era senti-lo e gozar cada segundo.
Ela entendeu que esqueceria sua vida passada
em função daquele encontro. O tempo seria medido
em antes e depois da chegada de Fred.
E quem era ele? O que pretendia ao certo com
relação a ela? Até que ponto fora sincero em tudo
que dissera?
Sara, confiante, sentiu que nada daquilo impor-
tava.
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— Em que está pensando? — indagou ele, des-
viando os olhos para encará-la.
— Em como nunca o notei antes.
Fred sorriu.
— Isso a incomoda?
— De algum modo.
— Eu menti para você — confessou ele.
— Mentiu?
— Sim, nunca a havia visto antes.
Ela se sentiu terrivelmente confusa, sem enten-
der se aquela sensação incômoda dentro dela era
decepção apenas.
— Ficou aborrecida com isso?
— Bem... Por que fez isso?
— Não sei lhe dizer ao certo.
Sara sentiu que, dentro dela, em alguma parte,
um pedaço de uma imagem se quebrava. Só não
pôde calcular a extensão íntima daquela pequena
tragédia.
Não devia ser daquele modo. Fred não precisa-
va mentir daquela forma. Não se enquadrava ao ro-
mantismo de seus sonhos aquele acontecimento
inesperado.
— Eu a decepcionei, não?
— É o que estou tentando concluir.
—Desculpe-me, eu não devia...
— Mesmo assim, como sabia de mim?
— Quando vi você, dançando com aquele ra-
paz...
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— Adam?
— Sim, Adam. Quando os vi dançando, inda-
guei a alguém sobre você. Achei que seria mais
fácil iniciarmos uma conversa se eu soubesse algo
a seu respeito.
— Podemos voltar? — indagou ela, endirei-
tando-se em seu assento.
— Voltar? — surpreendeu-se ele.
— Sim, voltar.
— Por favor, Sara.
— Vamos voltar, Fred, e recomeçar, desta vez
sem mentiras — propôs ela.
Ele sorriu resignado. Algum tempo depois esta-
vam de volta ao High College. Fred estacionou o
carro num recanto um pouco menos iluminado.
Dali Sara podia observar Adam, só que agora
ele não trabalhava no carro de Mike e, sim, no de
um outro amigo. Sorriu com certa ironia, sentindo-
se terrivelmente mal.
Para Fred, aquela mentira podia não ter um sig-
nificado maior. Fora apenas um estratagema, um
modo de se aproximar da garota e cativá-la.
Para Sara, no entanto, aquela mentira parecia
haver destruído muita coisa daquele enorme castelo
que ela construíra dentro de si em poucos momen-
tos.
Não conseguia explicar-se nem entender o que
se passava com ela. Sabia apenas que a mentira a
deixara deprimida e quase que angustiada.
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Fred desligou o motor do carro, passou o braço
sobre o encosto do assento da garota e ficou olhan-
do para ela. Cabisbaixa, Sara evitou olhá-lo.
— Foi tão ruim assim?
— Sim, eu... Eu não consigo explicar-lhe.
— Olhe para mim, por favor, — pediu ele, to-
cando-a no queixo.
Sara hesitou por instantes, mas terminou por en-
cará-lo.
— Quando a vi, senti que teria de ser você e
mais ninguém. Pode entender isso?
— Acho que posso.
— Aquilo que eu disse, a mentira, foi apenas
um modo de fazê-la pensar em mim com mais for-
ça. Eu precisava entrar em sua vida com alguma
vantagem...
— Você não precisava disso. Quando o vi... —
interrompeu-se ela, sentindo-se, apesar de tudo, im-
potente diante dele.
— Quando me viu...
O silêncio de Sara era um convite irresistível e
eloquente. A cabeça de Fred pendeu lentamente na
direção dela, até que seus lábios se tocaram.
Foi um beijo rápido, como se Fred apenas dese-
jasse testar a receptividade da garota.
Quando se separaram, Sara ficou olhando para
ele, incapaz de resistir às sensações que a emocio-
navam. Sua língua deslizou lentamente pelos lá-
bios, umedecendo-os e tornando-os mais tentado-
23
res.
O braço de Fred escorregou do encosto para os
ombros dela. Havia desejo e arrependimento nos
olhos dele.
— Diga-me que já me perdoou — pediu ele.
Como responder com palavras aquela pergunta
se o clima que os cercava estava carregado de ape-
los irresistíveis? Ela se aninhou nos braços dele.
Beijaram-se longamente. Sara sentia voltar den-
tro de si aquela confiança de antes. O desejo de ser
amada por ele latejou em suas têmporas e fez seu
coração bater mais rápido.
O que sentia dentro de si dizia tudo de que pre-
cisava para se convencer de que, apesar de tudo,
Fred ainda era o homem de seus sonhos.
Misterioso e falso, fascinante e decepcionante,
Fred ainda encarnava, em tudo, aquela essência ro-
mântica que criara em seus sonhos de adolescente.
Fred se mostrava cheio de ternura. Suas carícias
eram eficazes e contagiantes. Uma de suas mãos a
massageava o ombro; a outra, subiu pela cintura da
garota, até pousar sutilmente sobre um de seus sei-
os.
A carícia foi empolgante e extremamente sensí-
vel, breve o bastante para deixar Sara insatisfeita,
longa demais para tudo que ela desejava dele.
— Fred! — suspirou ela, apertando-o contra si,
sentindo-se perturbada e inquieta com aquelas sen-
sações que a enchiam de emoção.
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A mão que acariciava seus seios deslizou pelo
seu ventre até pousar em suas pernas. Os lábios de
Fred, incansáveis e sôfregos, tiravam o fôlego da
garota, incendiavam seus sentidos e a deixavam
transtornada.
Sara estendeu suas pernas o mais que pôde,
afastando seus joelhos. Sensações desconcertantes
deixavam seu corpo num estado de excitação sensí-
vel e crescente.
Lentamente a mão de Fred deslizou por uma das
pernas da garota, até vencer o vestido e tocar-lhe a
pele macia do joelho.
A carícia foi suave, mas possessiva. Massagean-
do com suavidade, a mão dele retornou, dessa vez
carregando o tecido para permanecer em contato
com a pele acetinada daquelas coxas esculturais e
tentadoras.
Sara sentia faltar ar em seus pulmões. O carro
parecia oscilar, acompanhando o latejar febril e ex-
citado de suas têmporas. Seu ventre como um vul-
cão, seus rins se tornaram deliciosamente dolori-
dos.
E os lábios de Fred, incansáveis, faziam aumen-
tar aquela sensação crescente de insatisfação dentro
dela, que pedia uma solução.
Beijos ávidos se sucederam. Sara entreabriu os
lábios para deixar penetrar a língua inquieta de
Fred, sugando-a e mordiscando-a com luxúria.
A volúpia se tornou total, devorando seu corpo.
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Fred a puxou para si com paixão.
A mão que a acariciava no ombro penetrou pelo
decote, buscando um dos seios.
As carícias sincronizadas em suas partes mais
sensíveis ameaçavam enlouquecê-la. Ela se viu
brutalmente excitada, desejando Fred com uma pai-
xão que ultrapassava seu entendimento.
Quando a mão dele escorregou mais fundo por
suas coxas, buscando febrilmente sua intimidade,
Sara sentiu que desfaleceria, tal sensação que a do-
minou.
Os dedos de Fred repuxaram a calcinha de Sara,
buscando a umidade de suas partes mais sensíveis.
A garota sentiu seu corpo estremecer e espasmos de
prazer agitaram-na.
— Sara, prometa-me uma coisa — pediu ele,
cessando suas carícias e deixando-a dolorosamente
frustrada.
— Fred — pediu ela, mordendo-o no queixo e
beijando-o no pescoço.
— Sara — insistiu ele, segurando-a pelos om-
bros e fazendo-a se afastar um pouco para encará-
lo.
— Fred, o que há? — indagou ela, sem entender
aquela expressão ansiosa e assustada nos olhos
dele.
— Como posso encontrá-la amanhã?
— Amanhã? — retrucou ela, sem entender.
— Sim, não posso lhe explicar agora, mas você
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terá de ir.
— Fred, não entendo...
— Sara, onde a encontro?
Ela balbuciou seu endereço e o número de seu
telefone Fred apanhou um bloco de anotações no
porta-luvas do carro e tomou nota.
Depois desceu rapidamente, indo abrir a porta
do carro para que Sara descesse. A garota ficou
olhando para ele, sem entender o motivo daquilo
tudo.
— Sara, por favor, depois eu lhe explico — fa-
lou ele, tomando-a pelo braço e fazendo-a descer
do carro.
A seguir, ele quase que a empurrou pela calça-
da, até as portas do ginásio de esportes.
— Eu ligo para você amanhã, está bem? Agora
prometa-me que vai entrar e me deixar ir.
— Fred, eu não...
— Por favor! — quase suplicou ele.
— Está bem, mas...
Ele se inclinou rapidamente, beijando-a.
— Vá, por favor — insistiu.
Sara, totalmente abobalhada, caminhou pela
porta. Não pôde continuar, no entanto. Retornou al-
guns passos, olhando o que acontecia.
Fred caminhava apressadamente na direção do
carro. Havia um casal e uma garota aguardando por
ele. Sara o viu abrir as portas do carro e, em segui-
da, tomar lugar ao volante.
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Quando o carro partiu, ela teve quase que certe-
za de que tudo aquilo fora um sonho.
— Desculpe-me tê-la feito esperar, querida —
disse Adam, caminhando na direção dela.
Tinha as mangas da camisa dobradas para cima,
as mãos sujas de graxa e óleo e o paletó sobre os
ombros. Ele a beijou ligeiramente.
— Sabe quantos carros tive de regular? — inda-
gou ele, com certa euforia que Sara não pôde enten-
der.
Naquele momento, aliás, sara não podia enten-
der nada do que acontecia. Seus pensamentos esta-
vam confusos e ainda presos a Fred.
Seu corpo trêmulo e sensível, dava-lhe a certeza
de que tudo aquilo, na verdade, havia mesmo acon-
tecido.
— Cinco carros, querida — disse Adam, empur-
rando-a para dentro com o cotovelo. — E isso não
é tudo. Volte para a mesa e me espere. Prometo que
vou recuperar todo o tempo perdido, assim que me
livrar dessa sujeira toda.
Ainda incrédula, Sara voltou à mesa. O gelo da
bebida já havia derretido, tornando-a sem sabor.
Mesmo assim, Sara tomou um gole enorme, tentan-
do voltar à calma.
O copo deixado ali por Fred lhe dava a certeza
de que ele realmente estivera ali. Aquela frustração
em seu corpo a deixava nervosa e inquieta.
Adam surgiu pouco depois, como se nada hou-
28
vesse acontecido. Sentou-se e tomou um gole de
uísque.
— Prepara-se para a maior surpresa de sua vida
— disse ele.
— Como?
— Surpresa, a boa notícia que lhe prometi.
— De que está falando?
— Você sabe quem é o pai de Mike?
— Para ser franca, não tenho a menor idéia.
— Steve Karson, o proprietário daquela cadeia
de oficinas de carro.
Sara tomou um gole de sua bebida, olhando
abobalhada para Adam. Não conseguia entender so-
bre o que ele estava falando.
Ele a segurou pelo queixo, beijando-a rapida-
mente e encarando-a a seguir.
— Sabe o que Mike vai fazer?
— Não... Como vou...
— Ele prometeu falar com o pai dele a meu res-
peito. Você precisava ver aqueles carros, depois que
os toquei!
Sara não o escutava. Pensamentos sensuais lhe
povoavam o cérebro. Raciocinou que não deveria
ter ido ao clube do colégio. Ao clube das sensuais
emoções...

29
30
3

Sara estava alheia, mergulhada na sua confusão


interior, onde pensamentos desencontrados não a
conduziam a uma explicação aceitável para aquela
brusca despedida da parte de Fred.
Tudo ia muito bem. Sara reconhecia isso pela
sensação terrível de dor e ansiedade que tornava
seu corpo sensível e ardente.
Adam, no entanto, estava eufórico, entusiasma-
do com a promessa feita por Mike. Via naquilo a
chance de sua vida, traçando novos planos e rumos
em seu futuro.
A Universidade poderia esperar. Seus argumen-
tos provavam que era possível enriquecer naquele
ramo, principalmente trabalhando para a maior das
redes de oficinas mecânicas.
Experiência, era isso o que importava para ele.
Experiência para lhe abrir definitivamente as portas
do sucesso e da fortuna.
Aprenderia depressa, sempre aprendera depres-
sa. Bastaria conhecer os detalhes daquele empreen-
dimento e ele sentia que poderia continuar sozinho,
abrindo sua própria firma.
— ...assim, quando eu tiver o meu próprio capi-
tal, sara, ninguém vai me segurar — finalizou ele,
olhando-a quase ofegante.
Falara durante todo o tempo, desde o High Col-
lege até as proximidades do Central Park, onde fi-
31
cava o apartamento de Sara.
— E então, o que me diz? — indagou ele, desli-
gando as luzes, já dentro da garagem do prédio, e
passando o braço pelos ombros da garota.
Ela se deixou atrair por ele. Como que acordan-
do, percebeu onde estavam. Mal notara todo o tra-
jeto. Alguma conclusão parecia se definir em seus
pensamentos.
Adam deslizou sua mão pelo rosto de Sara,
olhando-a com paixão.
— Você ficou realmente surpresa, não? — inda-
gou ele, beijando-a nos olhos, depois nas faces e no
pescoço, lentamente, saboreando cada um dos bei-
jos.
— Sim, realmente — balbuciou ela sem respos-
ta.
Percebera apenas pedaços do que Adam falara.
Dizia respeito a uma cadeia de oficinas, uma
chance que lhe surgia e, principalmente, muitos
planos antecipados até demais.
— Vamos subir? — indagou Adam, deixando
seus lábios entreabertos roçarem com provocação
os de Sara.
— Sim, claro — concordou ela.
Adam desceu imediatamente, caminhando para
a porta do elevador. Sara ficou olhando para ele,
como se estivesse faltando alguma coisa.
Adam percebeu que ela ainda permanecia no
carro. Parou, olhando-a divertido.
32
— O que há? Chegamos, princesa! — sorriu
ele.
Sara desceu do carro, fechando a porta lenta-
mente.
Ficou olhando o pequeno veículo, com algumas
falhas na pintura e um pequeno amassado no teto.
Havia uma diferença enorme entre aquele carro
e o de Fred, assim como entre seus proprietários.
Sara caminhou, então, ao encontro de Adam.
Por outro motivo, ele julgou haver entendido o
pensamento da garota.
— Agora poderei completar o que comecei nele
— disse o rapaz, apontando para o carro. — A
máquina está ótima, falta apenas o serviço de lan-
ternagem, que não é minha especialidade. Garanto
que você vai gostar dele depois.
Sara sorriu. Não sabia ao certo porque sorria.
Adam passou seu braço pelo ombro dela, enquanto
aguardavam o elevador.
Fora um sonho, um conto de fadas o que lhe
acontecera a meia-noite, seu príncipe a deixara,
contrariando, porém, a história. Não lhe deixava
nenhuma pista, a não ser a lembrança de uma men-
tira e um fogo interior que não se extinguira.
Ela se sobressaltou quando a porta do elevador
se abriu. Sozinhos ali dentro, Adam a abraçou com
força, olhando-a com ternura.
— Aposto que sei tudo que se passou em sua
adorável cabecinha — disse ele, beijando-a na pon-
33
ta do nariz.
— Sabe? — retrucou ela, surpresa e assustada,
trêmula repentinamente.
— Sim, e estou disposto a discutir tudo isso
com calma, como duas pessoas adultas que somos.
Os lábios de Sara tremeram ligeiramente. Ela se
sentiu embaraçada. Como Adam havia descoberto?
Por que não tocara antes no assunto?
No momento seguinte, no entanto, ele a fez sus-
pirar aliviada e tranquila, ao afirmar:
— Aposto como pensou em casamento, mas
ainda é cedo, querida. Afinal, foi apenas uma pro-
messa de Mike, ainda não sabemos o que o pai dele
vai achar — descartou Adam, mudando seu tom de
voz.
Toda a certeza dos planos que elaborara durante
a vinda era repensada, como se o compromisso, de
algum modo, o assustasse.
— Eu não quis dizer isso, que você pensou ago-
ra, Sara — adiantou ele.
Por momentos Sara se viu confusa diante da
própria confusão de Adam em contornar tudo que
sugerira.
— Adam, tenha calma — pediu ela. — Eu não
disse nada ainda e você já se antecipou a mim.
Ele a olhou, voltando à naturalidade. Beijou-a
com carinho.
— Desculpe-me. A promessa de Mike me dei-
xou realmente entusiasmado.
34
— Disso eu tenho certeza.
— Kitty está em casa? — indagou ele, refe-
rindo-se à garota com quem Sara dividia o aparta-
mento.
— E fim de semana, ela deve ter ido para o
apartamento do namorado. Por que perguntou?
— Porque devemos celebrar, só nós dois.
— Celebrar uma promessa?
— Celebrar meus planos. Afinal, se alguma coi-
sa falhar, pelo menos não perderei tanto.
— Você é maluco, Adam — sorriu ela, contagi-
ada pela alegria dele.
Beijaram-se rapidamente. A porta se abriu,
quando o elevador se deteve. Eles caminharam pelo
corredor, até uma das portas.
Quando entraram, Adam a enlaçou pela cintura,
puxando-a para si, enquanto, com o calcanhar, em-
purrava a porta atrás dele.
A sala estava às escuras, Sara pensou por ins-
tantes na conclusão a que pretendera chegar a res-
peito de Fred, mas já os lábios de Adam cobriam os
seus com desejo.
— Desculpe-me se estraguei sua noite — disse
Adam, num sussurro.
— Por favor, não fale nisso — pediu ela, sentin-
do que a escuridão da sala era um convite à fanta-
sia.
— Vou recompensá-la por isso — falou ele, vol-
tando a beijá-la.
35
Fred deixara seu corpo num estado de suspense.
Aquela dorzinha incômoda no ventre era reflexo de
um desejo insatisfeito.
Ali, naquele momento, a escuridão cúmplice a
fazia estar com quem desejaria estar. Que importa-
va se era Adam que a abraçava e beijava, se bastava
imaginar, apenas imaginar, que Fred estava ali?
Sara se entregou àqueles beijos, excitada com
sua própria fantasia. Eram os braços de Fred que a
apertavam. Eram suas mãos que deslizavam pelas
costas da garota, gentis e carinhosas.
Eram os lábios de Fred, quentes e sensuais, que
dominavam os seus. Sara aceitou o calor do corpo
de Adam, vibrando com aquelas sensações que a
punham excitada.
Havia febrilidade no abraço de Adam. O roçar
de seus corpos era emocionante. As mãos de Adam
dominaram totalmente seu corpo, fazendo-a venci-
da e apaixonada.
Os beijos ganharam empolgação. Uma ansieda-
de crescente tornara as carícias mútuas cada vez
mais febris. Suas respirações eram descompassa-
das. O corpo de Adam, emocionado, se apoiou à
porta.
Por momentos, então, ele dominou sua empol-
gação para que suas mãos, ágeis, mas afobadas,
buscassem livrar Sara de seu vestido.
Ela aceitou a pausa, levantando os braços para
facilitar a tarefa do rapaz. O vestido foi atirado a
36
um canto. Sara retribuiu, procurando desnudá-lo.
Enquanto a deixava tomar conta de suas roupas,
Adam a beijava nos ombros e no pescoço. Daquela
forma, quase despidos, caminharam para o amplo
sofá.
Conheciam o apartamento, sabiam da localiza-
ção de cada móvel. Adam a puxou pela mão. Aco-
modaram-se emocionados. Um beijo prolongado e
sôfrego se seguiu.
Uma das mãos do rapaz sobre o ventre de Sara,
acariciando-o, antes de caminhar, com provocação
carinhosa, na direção dos seios.
Ele aumentou a intensidade de seus beijos,
quando seus dedos empurraram o sutiã para cima,
tocando a pele sensível daqueles seios.
Sara vibrou emocionada, saboreando o toque
carinhoso daquela mão que massageava e acaricia-
va os bicos eriçados pelo desejo.
As mãos que enlaçavam o corpo de Adam se
soltaram por instantes para livrarem-se do sutiã.
Eletrizado, Adam a beijou no pescoço e nos om-
bros.
Retribuindo as carícias daquelas mãos incansá-
veis que dominavam seu corpo, Sara deslizou sua
mão ao longo do corpo de Adam, até a sunga, em-
purrando-a para baixo.
Adam a ajudou naquela tarefa, movendo o cor-
po. A mão de Sara retornou ao ventre de Adam,
onde circulou ligeiramente antes de avançar resolu-
37
ta.
O prazer fez Adam imobilizar seu corpo por ins-
tantes para se concentrar no toque macio e sutil da-
queles dedos incrivelmente femininos e hábeis.
Depois, eletrizado, ele reagiu com febrilidade
àquela carícia estonteante. Com febrilidade, suas
mãos buscaram livrar a garota de sua peça íntima.
Sara sentiu que perderia o controle de seu cor-
po, no abraço que se seguiu. A masculinidade de
Adam a tocava em seu ponto mais sensível, aluci-
nando-a.
Um calor envolvente fez aflorar toda a sensibili-
dade de seu corpo, vibrando-o em toda a sua exten-
são com a extrema sensibilidade que lhe invadia os
nervos.
Os lábios incansáveis de Adam deslizaram pela
curva insinuante do pescoço de Sara e foram sugar
os bicos de seus seios.
Espasmos de prazer agitaram seu corpo com
frenesi, quando as mãos dele se tornaram mais ou-
sadas. Um suspiro mais alto escapou de sua gargan-
ta, seguido de um gemido de prazer que eletrizou
ainda mais Adam.
Ele avançou seus dedos com habilidade exci-
tando-a na região mais feminina e sensível de seu
corpo, fazendo-a retribuir as carícias com febrilida-
de.
Sensações eletrizantes invadiram o corpo do ra-
paz, quando as mãos de Sara o tocaram com habili-
38
dade. Um frenesi alucinante tomou conta de seus
corpos.
Carícias ousadas e sôfregas tiveram lugar, na
ânsia desesperada de buscar a satisfação no prazer
total.
O clímax do desejo e da paixão os fazia inquie-
tos e alheios a tudo, concentrados apenas naquela
ânsia incontida de se buscarem e se completarem.
Sara apenas vivia a violência das emoções que
agitavam seu corpo. Sua fantasia era real e o mo-
mento final era aguardado como a solução para
aquela inquietação que Fred despertara em seu cor-
po e deixara em suspenso.
O corpo de Adam, apressando e excitado, domi-
nou o de Sara, que lhe facilitou todos os movimen-
tos.
Seus quadris buscaram a melhor posição. Adam
pressionou suavemente, sentindo-se, mais uma vez,
possuidor daquele corpo ardente e inquieto.
Por momentos tudo parou, enquanto pareciam
sentir o momento delicioso e excitante da posse ab-
soluta. Depois, como que acordando para seus reais
desejos, seus quadris se moveram eletrizados.
Sara jogava o seu corpo contra o de Adam, ha-
bilmente. O rapaz, concentrado em seus movimen-
tos de macho e na sensação que se agigantava den-
tro dele, deixou-se contagiar pela empolgação.
Sara se entregou as sensações que a faziam deli-
rar, suspirando e gemendo a cada golpe de quadril
39
que incendiava seu corpo.
Ela acariciou o corpo de Adam sem nenhum pu-
dor do modo como gostaria que fosse com Fred.
O prazer total se aproximava intensamente a
ponto de fazê-la se sentir sufocada. Os quadris de
Adam se tornaram mais rápidos.
Um beijo alucinado aconteceu, enquanto ambos
deixavam livremente dentro deles sensação maior.
Era madrugada Sara agitou seu corpo dolorido
no sofá, estendendo os braços à procura de um cor-
po ao seu lado. Abriu os olhos.
Procurou por Adam. Percebeu luz sob a porta da
cozinha, fechada. Por momentos ainda vivia um
resto de sonho. Fred estivera ali com ela e a amara
com loucura.
Quando se levantou, instantes depois, a realida-
de a fez se sentir decepcionada. Fora um sonho.
Fred fora um sonho. Sonhara realmente com Fred?
Passou as mãos pelos cabelos, tentando coorde-
nar os pensamentos. Havia ido ao baile de formatu-
ra do High College em companhia de Fred.
Não. Fora em companhia de Adam. Fred surgira
depois. Ele a estava observando, apoiado à cerca
que separava a quadra da arquibancada.
Fred existira, não fora um sonho. O sonho fora
imaginá-lo consigo naquela noite, vibrando mo-
mentos de delírio no auge da paixão.
Olhou novamente para a porta da cozinha. O
que Adam fazia lá? Antes de ir ver, passou pelo seu
40
quarto e vestiu um “negligé”.
— Olá dorminhoca! — disse Adam, surpreso,
ao vê-la abrir a porta.
Sara bocejou antes de indagar:
— Que horas são?
— Sei lá, o que importa?
Adam vestira sua calça. A camisa estava entrea-
berta no peito forte e atlético.
— O que está fazendo?
Adam depositou a caneta que segurava sobre
um bloco de anotações. Sara se aproximou. Adam
havia rabiscado uma porção de contas.
— O que acha? — indagou ele, puxando-a pelo
pescoço para beijá-la.
— Do quê?
— Dos meus cálculos.
— Cálculos? Que cálculos? — retrucou ela, ain-
da sonolenta.
Adam se levantou sorridente, abraçando-a com
ternura. Sara se sentiu protegida e amada nos bra-
ços dele. Por momentos achou preferível esquecer
o sonho que era Fred é se concentrar naquela sensa-
ção que a agradava como mulher.
Debruçou a cabeça no ombro de Adam. Ele aca-
riciou seus cabelos com delicadeza, enquanto esfre-
gava seu rosto contra o dela.
Sara fechou os olhos e viveu momentos recon-
fortantes.
— Quer um café? — indagou ela, ainda de
41
olhos fechados.
— Sim, acho que agora podemos conversar —
disse ele.
— A respeito de quê? — quis saber a garota, en-
direitando o corpo para encará-lo.
— A respeito daquilo.
— Então me explique tudo, enquanto cuido do
café — pediu ela, indo apanhar o que precisava.
— Tenho tudo calculado. Se Mike cumprir a
promessa e seu pai se interessar pelo meu trabalho,
estamos feitos.
— Estamos?
— Compreendi muita coisa nesta noite, Sara —
disse ele, sério, levantando-se para abraçá-la.
Os olhos de Adam diziam muita coisa. Sara ten-
tou se convencer de que estava enganada a respeito
do que via ali, mas foi inútil.
As mãos do rapaz acariciavam as faces da garo-
ta, ternamente, enquanto ele a olhava com um sor-
riso amoroso pairando em seus lábios.
— Se tudo der certo, quer se casar comigo? —
indagou ele, de repente. — Fiz as contas, sei quan-
to vou pedir. E o bastante para todos os nossos pla-
nos.
— Não está depositando confiança demais
numa simples promessa, Adam?
— Vale a pena. Você aceitará?
Sara, incapaz de responder, abraçou-o com for-
ça. Adam entendeu naquilo uma certeza, beijando-a
42
com carinho. Para ela, no entanto, a proposta de
Adam apenas fazia aumentar a sua confusão interi-
or.

43
44
4

No aparelho elétrico, o café escorria. Sara,


olhando-o, tentava pôr em ordem seus pensamen-
tos, enquanto Adam voltava as suas contas e pla-
nos.
Naquele momento, muita coisa parecia ter sido
um sonho principalmente Fred e o arrebatamento
com que a envolvera, confundindo-a.
Restava, agora, uma conclusão que feria a garo-
ta internamente. Fred não era um homem livre.
Apenas isso justificava aquela sua quase fuga.
Não havia nada mais que pudesse explicar um
gesto tão apresado, justo quando ambos vibravam
momentos de encantamento e prazer.
Ela se lembrava de ter visto um casal e uma ga-
rota se dirigem ao carro. O casal ocupou o banco
traseiro; a garota se sentou ao lado do motorista.
A garota poderia ser a esposa de Fred. Por al-
gum motivo, ela a deixara no salão de danças pas-
sando a acompanhar Sara.
Não viviam bem? Esse pensamento fê-la sentir
pena de Fred. Como alguém podia não se entender
com uma pessoa tão maravilhosa como ele?
Havia uma porção de indagações que ela gosta-
ria de ver respondidas. Não havia como fazer isso,
a não ser aguardar um novo encontro com Fred.
Adam a enlaçou por trás repentinamente, fa-
zendo-a despertar de seus pensamentos.
45
— Eu a deixei realmente surpresa, não? — in-
dagou Adam, beijando-a no pescoço, enquanto es-
fregava seu quadril contra as nádegas dela.
— Adam, isso são horas de... — protestou ela,
interrompendo-se quando ele a girou e a beijou de-
moradamente.
— O café vai esfriar — disse ele — Vamos nos
sentar e falar com calma.
Sara apanhou duas xícaras num armário e as le-
vou para a mesa. Adam já a aguardava com a cafe-
teira na mão. Serviu as duas xícaras, puxando sua
cadeira para junto daquela ocupada por Sara.
Suas pernas se roçaram. A garota se sentia
alheia, o calor de Adam não a incomodava nem a
atraía.
— Olhe aqui, Sara — pediu ele, caneta em pu-
nho, apontado no bloco de anotações que havia en-
chido de contas. — Se eu conseguir esse salário,
você não precisará se preocupar com a Universida-
de. Alugaremos este apartamento só para nós, mais
tarde procuraremos um outro maior...
— Não vejo aí o total dos meus ganhos— ob-
servou ela.
— Você não terá de trabalhar, isso é, se quiser.
Pense na Universidade, todo o tempo de que puder
dispor é importante...
— E você? Não vai mais estudar?
— Precisarei?
— Adam, acha que conseguirá um salário inici-
46
al de dez mil dólares ao ano?
— É o meu preço.
— Você me surpreende, Adam. É um bom me-
cânico, sei disso, mas o assunto é sério. Você não
pode se basear apenas numa promessa.
— Por que não? Se ela não der certo, paciência.
Não vamos assumir nada antes de tudo que pensei
se tornar concreto. O que me importa agora é que
você concorde comigo, só isso. Amanhã será um
outro dia. Hoje sonhamos juntos.
Ela se sentiu invadir por uma ternura enorme
pelo rapaz. Adam estava tão entusiasmado, tão or-
gulhoso de si mesmo que não havia como não se
contagiar.
Como ele dissera, amanhã seria um outro dia.
Se naquela noite todos os sonhos podiam se tornar
realidade, porque não sonhar? Aquela era a noite
dos sonhos, prova disso era a presença forte e mar-
cante de Fred, confundindo-a com indagações em
respostas.
— E então, o que me diz? — indagou ele, sol-
tando a caneta para rodeá-la pelos ombros.
Sara sorriu enternecida e cansada.
— O que quer de mim, uma promessa? — quis
saber ela.
— Não, uma certeza.
— Aqui está sua certeza — respondeu ela, bei-
jando-o rapidamente.
Antes que pudesse afastar seu rosto, os braços
47
de Adam a apertaram com força. Ele a beijou com
paixão.
— Você deve estar cansada — disse ele, alisan-
do carinhosamente os cabelos dela.
— E estou mesmo.
— Vá dormir, eu vou em seguida.
Sara o beijou novamente e depois caminhou
para o quarto. Não queria pensar em nada. As coi-
sas estavam acontecendo depressa demais ao seu
redor, deixando-a tonta e confusa.
Um bom sono poria seus pensamentos em or-
dem. No dia seguinte poderia pensar com mais cal-
ma e lucidez em tudo que lhe acontecera naquela
noite.
Retirou o “negligé”, deixando-o caído a sua
passagem. Atirou-o na cama, cobrindo o corpo e fe-
chando os olhos. Imagens desencontradas ainda es-
tava fixas em suas retinas.
Ouviu passos de Adam que entrava no quarto.
Ele acendeu o abajur da cama ao lado, que perten-
cia a Kitty. Sara abriu os olhos. Adam se despia,
olhando-a.
O sono era mais forte. Ela fechou os olhos e de-
sejou não sonhar naquele resto de noite. Percebeu
que a luz do abajur se apagava.
O lençol que a cobria foi retirado lentamente.
Ela pressentiu a proximidade de Adam. O quarto
estava às escuras. A respiração dele se aproximou
do corpo da garota, arrepiando-a.
48
Um beijo suave sobre seu ventre a deixou inqui-
eta. Depois um outro, sobre um de seus seios, lhe
deu a certeza de que Adam não estava com tanto
sono quanto ela.
As mãos da garota se estenderam na escuridão,
acariciando os cabelos do rapaz.
— Adam! — exclamou ela, como num protesto
sem forças.
O silêncio de Adam confirmou as suspeitas de
Sara. Um beijo em seu ventre lhe deu a certeza to-
tal. Uma das mãos dele pousou sobre os cabelos de
Sara, acariciando-os. A outra deslizou numa das
pernas.
Ele sugou levemente o bico de um dos seios,
eriçando-o. A seguir, deu a mesma atenção ao ou-
tro. Suas mãos se tornavam possessivas, inquietas e
ousadas.
Seus lábios, com luxúria, sugaram mais forte o
seio da garota. A mão que deslizava sobre suas co-
xas buscou uma intimidade maior, espantando o
sono de Sara.
A garota suspirou, incentivando-o. Os beijos se-
guintes sobre a sua pele foram mais sôfregos e fa-
mintos. Era impossível suportar a provocação.
As mãos dela, então, buscaram o corpo de
Adam, completando o círculo de carícias mútuas e
progressivas. O sono, Fred e a confusão de uma
promessa se viram vencidos pelo desejo que Adam
fazia arder em seu corpo.
49
O sábado amanheceu encalorado, prometendo
delícias para quem resolvesse aproveitá-lo junto ao
mar. Sara, apesar de tudo, acordou cedo.
Adam ainda dormia, quando ela deixou silenci-
osamente o quarto. Foi para a cozinha e preparou
seu desjejum. Conhecia os hábitos de Adam.
A não ser que alguma coisa especial aconteces-
se, ele não se levantaria antes do meio-dia. Sara
precisava daqueles momentos de solidão para pen-
sar com calma em tudo que se passara.
À mesa, pouco depois, procurava pôr seus pen-
samentos em ordem. Ainda tinha dentro de si a níti-
da impressão de que Fred fora um sonho, não fosse
a certeza de carícias e sensações que ainda faziam
seu corpo vibrar, à simples lembrança delas.
Quem era ele? Essa pergunta a incomodava.
Queria saber mais sobre Fred, sobre aquela imagem
masculina que povoara inexplicavelmente seus so-
nhos, mesmo antes de o conhecer.
Era emocionante pensar nele. A presença dele
na noite passada era uma certeza. O arrebatamento
em que fora envolvida totalmente ainda a deixava
confusa.
Adam estava lá no quarto, dormindo, possivel-
mente sonhando com todas as contas e planos que
fizera na noite anterior.
Era um bom rapaz. Durante o tempo em que o
conhecia, Sara apenas experimentara momentos
agradáveis. Nunca ouvira dele uma grosseria.
50
A vida com Adam fora sempre agradável. Tudo
indicava que assim sempre seria. Sara não tinha
dúvidas de que aceitaria a proposta da noite anteri-
or sem pestanejar, se não houvesse encontrado
Fred.
Tudo era diferente com ele. O que sentira, o que
experimentara, tudo. Fred a fizera sentir romântica
e arrebatada, feminina e cercada de ternura.
Tudo que se referia a ele, no entanto, era um
enorme ponto de interrogação. Apesar disso, Sara
tinha uma certeza dentro de si, com respeito àquele
homem.
Ele estava dentro dela, mesmo antes de co-
nhecê-lo. Uma imagem elaborada sabe-se lá com
que elementos de sua vida. Nada disso importava.
Valia apenas saber que ele era real e que a fazia
se sentir como Adam nunca a fizera. Como não va-
lorizar essa verdade?
O telefone tocou, sobressaltando-a. Ela pensou
carinhosamente em Adam. Ele poderia ser acorda-
do, por isso correu a atender.
Ao retirar o fone do gancho, porém, interrom-
peu seu movimento. Fred prometera ligar. Aquilo a
pôs numa dúvida atroz.
Deveria atender? O que tinha a dizer a Fred?
Conseguiria resposta para todas as dúvidas, sem
que o encantamento da noite anterior a pusesse
submissa aos pés dele?
Acima de tudo, mais forte foi a vontade de ou-
51
vir novamente aquela voz modulada e carinhosa,
saber dele, encontrar um rumo em sua confusão in-
terior.
— Alô! — disse ela, visivelmente emocionada.
— Sara? Aqui é o Mike. Posso falar com
Adam?
A frustração e a decepção deixaram-na sem rea-
ção por instantes, como se todos seus pensamentos
fossem varridos repentinamente de seu cérebro.
— Sara? — insistiu Mike.
— Estou aqui.
— Adam me disse que estaria....
— Sim, mas ele está dormindo ainda.
— Ainda? Não pode acordá-lo?
— Sim, se for importante.
— E importante para ele...
— Está bem, um momento.
Sara deixou o telefone e foi até o quarto. Afas-
tou ligeiramente as cortinas. Instintivamente, Adam
puxou o travesseiro sobre os olhos.
— Adam! — disse ela.
O rapaz resmungou qualquer coisa, apertando
ainda mais o travesseiro contra o rosto.
— Adam — repetiu ela, um pouco mais impaci-
ente, aproximando-se da cama.
Sentou-se ao lado dele, tocando-lhe o ombro.
— Mike deseja falar com você, disse que é im-
portante...
Adam resmungou um pouco, depois retirou o
52
travesseiro do rosto e se sentou, acordando ainda.
— Você disse Mike?
— Sim, ele mesmo.
Adam ficou um segundo imóvel, como se re-
passasse todos os planos da noite anterior. Depois
pulou rapidamente da cama e correu ao telefone.
Sara ficou sentada na cama, olhando o corpo nu
do rapaz, enquanto ele falava ao telefone. Uma sen-
sação inquietante a dominou.
Imaginar como seria o corpo nu de Fred foi um
exercício de excitação e erotismo a que não pôde se
furtar. Como seriam os músculos de seu peito? As
linhas de seus quadris? Tudo o mais?
Adam parecia eufórico, repetindo monossílabos,
concordando excitado com o que Mike dizia. Perdi-
da em sua fantasia, Sara apenas acordou quando o
rapaz desligou o telefone e saltou, gritando de ale-
gria.
Antes que voltasse a si de seus pensamentos, ela
o tinha diante de si, ajoelhado. Adam, com os olhos
ainda sonolentos, olhou-a feliz.
— Adivinhe! — disse ele.
A única adivinhação que passava pela mente da
garota era a respeito do corpo de Fred ainda. Abo-
balhada, ela deu de ombros lentamente.
— O pai do Mike quer me ver.
— Realmente? — retrucou ela, acordando para
Adam.
— Sim. Mike contou-lhe maravilhas a meu res-
53
peito. Por uma sorte incrível, o pai dele está preci-
sando de um mecânico de primeira para dirigir uma
das oficinas.
— Dirigir? Acha que pode...
— Sou capaz de tudo que for preciso para não
perder essa chance, Sara.
— Vai vê-lo?
— Sim, imediatamente. Onde estão minhas rou-
pas? Ajude-me, não posso me atrasar.
Sara, por momentos, encontrou ocupação na
pressa de Adam e na alegria que se estampava no
rosto do rapaz. Quando ele se vestiu, finalmente,
Sara ainda começava a se dar conta do que aconte-
ceu.
— Sara, meu bem, é a minha chance. Seria um
mentiroso se dissesse que não estou nervoso. Diga
que confia em mim — suplicou ele, trêmulo.
Por algum motivo, Sara teve a nítida impressão
de que vivia um momento que poderia ser decisivo
em suas vidas. A solidariedade que tinha para com
Adam a fez sentir o quanto ele precisava de sua
confiança naquele momento.
Ela acariciou os cabelos dele, tentando penteá-
los. Adam segurou a sua mão, beijando-a com es-
pecial carinho. Havia dúvida e temor nos olhos
dele, como se a oportunidade surgida o assustasse
pela responsabilidade exigida.
Sara entendeu tudo isso ao olhá-lo. Não podia
deixar de incentivá-lo.
54
— Adam, fique calmo, sei que conseguirá.
Ele parecia cheio de dúvidas.
— Acha que dez mil dólares por ano é muito?
— Adam!
— Não posso perder essa chance — disse o ra-
paz, sem esconder seu nervosismo.
— Você pode, querido — disse ela, tentando en-
contrar a melhor maneira de convencê-lo disso.
Adam a abraçou com força, antes de começar a
rir. Sara se contagiou com seu riso nervoso, enca-
rando-o.
— Quem me viu e quem me vê — falou ele. —
Ontem à noite parecia tão fácil...
— É fácil, basta que você acredite em si mes-
mo.
— Diga-me que é importante para nós, Sara —
pediu ele, segurando-a pelos ombros.
— Sim, é — afirmou ela, com uma certeza ca-
paz de convencer Adam, mas não a si mesma.

55
56
5

Sara se arrependeu, logo após a saída de Adam,


da certeza que incutira nele. Ficou apoiada na porta
fechada, pensando no que fizera.
Desejava aquilo realmente? Ela e Adam tinham
muito em comum, principalmente na habilidade de
contornar toda e qualquer divergência.
Nunca brigavam, estavam sempre dispostos um
ao outro. A sugestão de Adam era séria, realmente
séria.
Aprofundar aquele relacionamento era um pas-
so importante.
Não que Sara não acreditasse no casamento. Os
possíveis dissabores poderiam ser contornados pela
disposição mútua de proporcionar ao outro apenas
momentos felizes.
Entendiam-se bem com relação a sexo. Um diá-
logo franco tornara tudo mais fácil entre eles. Intri-
gava Sara, no entanto, saber se havia amor, na ro-
mântica acepção da palavra.
A imagem de Fred não lhe saía da mente. Sara
se sentia imatura e adolescente ainda diante daque-
las reações e sensações desencontradas, despertadas
por Fred dentro dela.
Não havia termo de comparação, quando tenta-
va juntar os dois homens em seus pensamentos.
Fred era superior. Sua maturidade, seu fascínio sé-
rio e carinhoso, quase maternal, faziam a garota vi-
57
brar muito mais que a figura descontraída e alegre
de Adam.
De algum modo ela se sentia presa a Adam, não
com a mesma força com que se via presa à imagem
de Fred. Desejou saber mais sobre o último deles.
A suposição de que Fred já não fosse livre era
difícil de suportar. Encarar esse fato era reconhecer
uma falha terrível na concretização daquele sonho
romântico.
Ela foi até a cozinha e se serviu de mais café.
Sentou-se à mesa e ficou olhando para a xícara,
como se esperasse a solução do problema nascer do
líquido escuro e fumegante.
Sentiu-se revoltada. As, coisas não deveriam
acontecer daquela forma. Esperara por alguém
como Fred durante anos, noite após noite, vivendo
a inquietação de seu corpo.
Adam surgira um dia, como algo passageiro em
sua vida e acabou por ficar, solitário, companheiro,
amante. Não vivia arrebatamentos como o daquele
momento passado com Fred. Mesmo assim, não ti-
nha do que se queixar.
Adam era bom, sabia calar no momento certo e
quando sair. Tinha sempre uma boa idéia para os
fins de semana ou para as noites desocupadas de
ambos.
Nada exigia de Sara que ela não quisesse dar es-
pontaneamente. Era uma vida tranquila e divertida.
Com Fred, tudo aquilo prometia ser diferente,
58
como a diferença entre um lago calmo e um rio
caudaloso, pontilhado de corredeiras perigosas.
Ele despertava isso nela. Emoção, perigo, sub-
missão e selvageria, tudo num só pensamento.
Por isso ela temeu um momento de decisão,
principalmente se Fred cumprisse o que prometera
e lhe aparecesse novamente.
Julgou ter passado horas mergulhada em seus
pensamentos, mas um relógio sobre um armário da
cozinha lhe provava o contrário. A manhã avançava
lentamente. Precisava dar um jeito no apartamento.
Levantou-se, disposta, e se atirou às arruma-
ções, tentando, no cansaço físico, encontrar um
modo de afastar todos aqueles pensamentos que,
gradativamente, deixavam-na angustiada.
O tempo, assim, pareceu correr mais rápido. Su-
bitamente, o telefone tocou, fazendo-a interromper
seu trabalho e olhar na direção do aparelho.
Compassadamente a campainha se repetiu. Sara
pensou numa porção de coisas, assustada com as
sensações que tornavam trêmulo o seu corpo.
Caminhou na direção do telefone e atendeu.
Não podia resistir àquele chamado que repercutia
profundamente dentro dela.
A idéia de que poderia ser Fred se sobrepunha a
todas as outras.
— Sara? — indagou aquela voz quente e cari-
nhosa do outro lado da linha.
— Sim, Fred — respondeu ela apressadamente,
59
incapaz de dominar a ansiedade que a tomava fe-
bril.
— Reconheceu minha voz?
— Eu a reconheceria entre um milhão de outras.
— Está sozinha?
— Sim.
— Eu prometi que ligaria...
— Eu sei.
Houve um momento de silêncio, quebrado ape-
nas pelas suas respirações.
Sara apertou o fone contra o rosto, totalmente
infantil, ingenuamente adolescente. O simples fato
de saber que Fred estava do outro lado da linha,
mesmo em silêncio, emocionava-a terrivelmente.
— Quer almoçar comigo? — convidou ele, na-
quele mesmo tom de voz que a convenceria a se-
gui-lo onde quer que fosse.
— Sim — concordou ela imediatamente, sem se
lembrar que Adam existia.
— Que tal eu levar alguma coisa para fazermos
aí mesmo em seu apartamento?
Ela, então, se lembrou de Adam, de que ele po-
deria voltar a qualquer momento.
— Não...
— Prefere um outro lugar?
— Sim...
— Eu a apanho aí em uma hora, está bem?
— Esperarei na calçada — disse ela, ansiosa.
— Não sei o que você causou em mim, Sara.
60
Sei apenas que é grande demais para que eu possa
suportar sozinho.
— Fred! — exclamou ela, deliciada.
— Em uma hora, está bem?
— Em uma hora — respondeu ela, aguardando
até que ele desligasse para, então, repor o fone no
gancho.
Quando aquele carro grande e reluzente se apro-
ximou da calçada e estacionou, o coração de Sara
parecia querer saltar fora do peito.
Fred desceu, sorridente. Vestia-se esportivamen-
te, mas com elegância. A camisa entreaberta no pei-
to deixava ver músculos delineados e másculos.
— Olá! — disse ele, parando diante dela, giran-
do as chaves do carro na ponta do dedo.
— Olá! — balbuciou ela, tentando entender o
que ele tinha de especial para pô-la naquele estado.
— Você está linda, Sara — elogiou ele, sempre
sorrindo com simpatia.
— Bondade sua — retrucou ela, lisonjeada, as-
segurando-se de que todo aquele nervosismo e in-
segurança diante do espelho valiam a pena.
— Vamos?
Sara concordou com a cabeça. Fred segurou-a
gentilmente pelo braço, acompanhando-a até a ou-
tra porta do carro. E a agradeceu, após se acomodar
no assento.
Fred fechou a porta e deu a volta para tomar seu
lugar ao volante.
61
— Quer ir a algum lugar em especial? — inda-
gou ele.
Sara desejou responder que iria a qualquer parte
na companhia dele, mas conseguiu se controlar.
Tentou pensar em algum lugar onde desejaria estar
com ele, mas apenas pensamentos ousados passa-
ram por sua mente.
— Você escolhe — disse ela, finalmente.
— Espero que aprecie a minha escolha — falou
ele, pondo o veículo em movimento.
Sara, ao lado dele, apenas o olhava. Não quis
saber para onde ele a levava. O importante era dei-
xar que todas aquelas sensações emocionantes
acontecessem dentro dela.
A companhia de Fred, no momento, era a coisa
mais desejada por ela. Sua proximidade a incendia-
va. Seu fascínio deixava-a submissa e deslumbrada.
— Vai gostar do local — disse ele, olhando-a e
sorrindo.
Sara então, notou que abandonavam a cidade
pela Rodovia Estadual. Não lhe importava isso.
Sentia-se segura a respeito de Fred.
— Sei que gostarei — afirmou ela.
Fred levou-a para um dos mais famosos motéis
da cidade de Nova Iorque. Sara ouvira Adam men-
cioná-lo vagamente. Era caríssimo e luxuoso, como
acomodações que incluíam, sauna e restaurante ca-
talogado internacionalmente.
Fred parecia conhecer tudo por ali. Com desem-
62
baraço e rapidez tratou de tudo. Momentos depois,
Sara se viu introduzida no quarto mais luxuoso e
excitante que jamais vira.
Tudo que ela conhecera a respeito de motéis em
companhia de Adam era insignificante diante do
que examinava atentamente.
Fred sorriu divertido, fazendo-a caminhar pelo
aposento. Demonstrando familiaridade, ele foi até
um armário e abriu-o, escolhendo a bebida.
Sara caminhou fascinada para aquela enorme
cama circular, coberta de lençóis de cetim brilhante
e convidativos. Fred se aproximou, estendendo-lhe
uma taça.
— Um brinde — propôs ele.
— A quê?
— A nós, Sara — sussurrou ele, tocando a taça
de Sara com a sua.
Fred apenas umedeceu os lábios; Sara tomou
um gole generoso daquela bebida borbulhante e de-
liciosa, sentindo-se aquecida e disposta.
— Sara — disse ele, deixando sua taça e to-
mando-a delicadamente pelos ombros.
Olharam-se nos olhos. Sara não conseguia defi-
nir o que sentia no momento. Viu-se entregue e sem
vontade diante do toque firme mas carinhoso da-
quelas mãos.
Ele, então, retirou gentilmente a taça da mão da
garota, deixando-a de lado. Com uma leve pressão
ele a fez se deitar. Os cabelos dela se espalharam
63
sobre o lençol colorido.
No teto, um enorme espelho refletia os dois.
Sara fechou os olhos, quando os lábios dele busca-
ram sofregamente os seus. De algum ponto do apo-
sento se ouvia música suave e erótica.
Fred tocou mais alguma coisa com uma das
mãos e as cortinas pesadas foram acionadas, dei-
xando o aposento mergulhado em trevas.
— Qual sua cor preferida? — indagou ele, sem
interromper o ritmo de seus beijos.
— Azul — suspirou ela.
Imediatamente o aposento se viu banhado fan-
tasticamente de tons azuis.
Fred, então, levantou o corpo para olhá-la. O
corpo da garota era uma promessa de momentos
inesquecíveis. Ela desejou, então, saborear, lenta e
calmamente, a descoberta daquela pele ardente e
jovem.
Sara era solidária ao desejo de Fred, entre-
gando-se submissa, facilitando a tarefa. Seu corpo
nu se descobriu lentamente aos olhos de Fred, exci-
tando-o brutalmente.
As mãos dele estremeceram levemente ao tocar
os seios de Sara, numa carícia deslumbrada. Os bi-
cos eriçados davam um toque de excitação a mais à
beleza daqueles seios pequenos e redondos.
Sara mantinha seus olhos fixos nos de Fred, go-
zando intensamente aquela carícia inicial. Seu cor-
po estremeceu subitamente, quando aquelas mãos
64
fortes e possessivas deslizaram pelo seu ventre e
buscaram os contornos de seus quadris.
Fred não escondia sua admiração por aquele
corpo à sua mercê. Sara permaneceu imóvel, exci-
tando-se com o desejo que lia nos olhos dele. Seu
peito ofegava em movimentos ritmados.
Ela entreabriu os lábios num convite mudo e ir-
resistível. Fred deixou o corpo da garota por mo-
mentos para se livrar de suas roupas.
Sara se sentiu terrivelmente excitada em ob-
servá-lo. Nu, finalmente, Fred a abraçou, cobrindo-
a com seu corpo. Lentamente, seus lábios e beija-
ram no rosto, no pescoço e nos ombros.
As mãos dele, em movimentos carinhosos e ex-
citantes, desceram pela linha da cintura da jovem e
avançaram para suas nádegas firmes e roliças.
Após esse ligeiro reconhecimento, Fred deixou
que seu desejo fugisse ao controle, beijando-a com
furor.
Sara retribuiu aquele abraço forte, confusa por
aquela paixão que a punha transtornada. Sentir-se
amada e desejada por Fred era a coisa mais sublime
de sua vida.
Tudo o mais não tinha a menor importância. A
vida não existira antes de Fred. Só ele importava,
assim como suas carícias empolgantes e progressi-
vas que a faziam suspirar e gemer debilmente.
Era urgente e imperioso retribuir. Suas mãos
buscaram o corpo de Fred com maior intimidade,
65
massageando seus músculos, buscando as partes
mais sensíveis.
Seus lábios se encontravam com volúpia e delí-
rios. Suas línguas buscavam a intimidade maior na
troca de carícias e saliva.
Sensações alucinantes brotavam do ventre da
garota, dando-lhe a certeza de que tudo era diferen-
te na companhia de Fred. O prazer era mais inten-
so, as carícias eram mais alucinantes.
Pertencer a ele era a realização total de um so-
nho vivido durante muitas noites. Havia uma reper-
cussão maior, um sentido deliciosamente diferente,
apaixonadamente irresistível.
Ela sentiu o hálito quente de Fred escorregar
pelo seu pescoço e pairar por momentos sobre seus
seios. Depois, seu corpo feminino se agitou, quan-
do ela o sentiu sugá-la e beijá-la nos seios.
Como uma torrente avassaladora, uma nova
sensação se somou àquela, quando uma das mãos
dele buscou-a em sua intimidade. Inquieta e vibran-
te, Sara suspirou mais alto, buscando retribuir na
mesma medida.
Empolgado, Fred aumentou o ritmo de seus ca-
rinhos. A febrilidade dominou suas mãos e lábios
que percorreram o corpo da garota em toda a sua
extensão.
Sara experimentou sensações emocionantes em
seus seios, no ventre, em suas coxas sedutoras.
Fred a brindou com carícias alucinantes, mergu-
66
lhando seu rosto no calor mais intenso daquele cor-
po.
Atingiram o ponto insustentável da excitação.
Um contato mais íntimo se fazia urgente para apla-
car a sede que os deixava sem fôlego.
Sara percebia a razão, a lucidez e a lógica fugi-
rem rapidamente de seus pensamentos, até que tudo
se resumisse naquela sensação mais íntima e vi-
brante.
Fred buscou se acomodar sobre ela. Seus qua-
dris se encaixaram aos da garota. Ele se sentiu des-
lizar por carnes úmidas e delirantes.
Sara se apertou contra ele, alucinada pelo dese-
jo. Movimentos frenéticos da parte de Fred, num
ritmo indescritível, fizeram-na perder o controle de
seu próprio corpo.
Tudo se resumia naquele complexo de sensa-
ções e emoções desencontradas que se agigantavam
até o instante do delírio total.
Vencidos pelo êxtase, deixaram-se ficar naquele
contato íntimo.
A lucidez parecia voltar lentamente, assim
como a calma ao seu corpo. Sara acariciou as cos-
tas de Fred e toda a extensão de seu corpo, sem pu-
dor, com ternura.
Pertenciam-se agora. Ela se sentia dele como
nunca fora de ninguém. Mesmo Adam, naquele
momento, parecia nunca tê-la possuído com tanta
intensidade.
67
Tudo era diferente e inexplicável com Fred, dis-
so ela estava certa e isso bastava.
Fred depositou um beijo cansado nos lábios de
Sara. Ela sugou-lhe o lábio inferior retendo-o.
Sara se lembrou de algo, então, e desejou saber,
era importante saber. Não fazia sentido naquele
momento, mas ela indagou:
— Fred, você é casado?
Ele hesitou antes de responder:
— Não!

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69
6

Por alguns momentos seus corpos repousaram


lado a lado. Os tons azuis tornavam o apartamento
repousante e tranquilo. A música parecia surgir de
toda parte, suave, sensual.
A mão de Fred, então, escorregou para o corpo
nu da garota, acariciando rente à pele, fazendo-a se
arrepiar. Ele girou o corpo para beijá-la, antes de se
levantar e procurar pelos cigarros.
Sara se apoiou nos cotovelos para observá-lo. O
corpo de Fred, coberto de reflexos azulados, ganha-
va uma aparência irreal.
Podia notar perfeitamente os contornos sem
exageros de toda a sua musculatura. Fred deveria
ser um esportista, isso era visível em seu corpo.
A chama do isqueiro e a brasa do cigarro fize-
ram contraste com as luzes do aposento. Fred tra-
gou demoradamente seu cigarro, depois caminhou
de volta para a cama, estendendo-se todo.
Sara se debruçou sobre ele. Fred sorriu ligeira-
mente, acariciando seus cabelos.
— Você é um esportista, acertei? — falou ela.
— Em cheio.
— Deixe-me acertar qual seu esporte preferi-
do...
— Não conseguirá.
— Apostamos?
— O que você quiser.
70
Sara sorriu deliciada e embevecida, beijando-o
levemente antes de erguer a cabeça. Seus cabelos
fizeram cócegas no rosto de Fred, que os afastou
com as duas mãos, segurando-os atrás da cabeça de
Sara.
— Se eu perder, prometo que serei sua para
sempre; se eu ganhar, prometa que será meu por
toda a vida — propôs ela, incapaz de controlar sua
impulsividade romântica.
— É para valer mesmo, Sara — lembrou ele,
após pensar por instantes.
— Eu prometo.
— Aconteça o que acontecer?
— Aconteça o que acontecer.
— Feito.
Ela sorriu, beijando-o novamente. Fred apertou-
a contra o peito, deslizando suas mãos, calmamen-
te.
Sara prolongou o beijo. O calor daqueles lábios
sensuais a transtornavam, pondo-a num estado
constante de suspense e inquietação.
Emoções fortes se agitavam dentro dela. Isola-
dos ali, amando-se, era tudo que ela poderia dese-
jar.
— E então, qual é o meu esporte? — indagou
ele, afastando-a gentilmente para olhá-la.
— Natação — afirmou ela, com um sorriso ma-
roto.
— Como soube?
71
— Um palpite.
— Espere um pouco — pediu ele, como se se
lembrasse de algo.
Levantou-se, então, e foi até uma das janelas.
Afastou discretamente as cortinas, voltando-se em
seguida para a garota.
— Que tal nadarmos um pouco?
— Agora? — espantou-se ela.
— Alguns minutos apenas, por favor.
— Mas eu não trouxe roupas apropriadas...
— Isso não é problema. Qual é o seu número?
— indagou ele, caminhando até o telefone.
Fred se mostrou um exímio nadador. Com bra-
çadas elegantes atravessou a piscina de lado a lado.
Sara tentou segui-lo, mas era impossível acompa-
nhar-lhe o ritmo.
Ele chegou antes e alçou o corpo, sentando-se
na borda, enquanto observava a chegada de Sara.
Ela segurou nos pés dele para se manter à tona.
— Você perdeu — disse ele, espirrando água
contra o rosto dela.
Sara retribuiu, fazendo-o cobrir as faces com as
mãos. Riram divertidos. Ele estendeu a mão para
ela, enquanto se punha em pé.
Com extrema facilidade ele a tirou da água. Go-
tejante, com o sol brilhando sobre as gotas que co-
briam, Sara era particularmente excitante.
Seus cabelos escorriam-lhe pelo rosto. Os bicos
eriçados de seus seios se destacavam contra o teci-
72
do fino do biquíni.
— Nunca me cansarei de dizer que você é linda,
Sara — falou ele, com seriedade.
— Fred! — exclamou ela, lisonjeada, caindo
nos braços dele.
— Que acha de pedirmos algo para comer? —
sugeriu o homem.
— Boa idéia, estou faminta!
— Vamos nos enxugar e voltar para o nosso
cantinho — Ordenarei que nos sirvam lá.
— Eles fazem isso?
— Claro que sim — informou ele, com naturali-
dade.
Sara se deixou abraçar, enquanto caminhavam
rapidamente para os vestiários. Momentos depois,
estavam de volta ao quarto.
Quanto entraram, Fred rapidamente fechou a
porta, enquanto a retinha pelo braço. Sara se voltou
para ele, encarando-o.
Os olhos dele percorreram o corpo da garota,
detendo-se nos seios que se comprimiam nus por
detrás da blusa. As mãos dele se levantaram lenta-
mente, tocando-os.
Sara fechou os olhos e saboreou a carícia. A res-
piração de Fred se acelerou. Os seios de Sara pare-
ciam fasciná-lo naquela forma.
No momento seguinte ele a abraçou com força,
beijando-a no pescoço.
— Sara! Você me enlouquece! — exclamou ele.
73
— Fred! Fred! — balbuciou a garota, os lábios
buscando apressadamente os dele.
Um beijo frenético os uniu. Seus corpos se jun-
taram e se roçaram com volúpia.
— Seus cabelos ainda estão molhados — obser-
vou ele, espalhando beijos pelas faces dela.
— Se você quiser...
— Não, eu os adoro assim — interrompeu ele,
apressadamente.
Separaram-se por momentos. Havia um brilho
cúmplice em seus olhos. Sara sabia reconhecer
aquele brilho e vibrava intensamente com ele. Era
um sinal de que Fred a desejava e isso a enchia de
satisfação.
Ela sorriu com provocação, deslizando a ponta
da língua pelos lábios. Aquele simples movimento
o excitou sobremaneira.
Suas mãos fortes seguraram Sara pelos ombros,
para, em seguida, deslizarem pelos braços dela até
a altura da cintura. Ali saltaram para os quadris da
garota, atraindo-o para si.
Aquela sensação de total submissão se fez sentir
novamente no corpo da garota. Os beijos fortes e
quase violentos de Fred punham-na em ebulição.
Ele respirava apressado, beijando-a no pescoço,
nos ombros ainda molhados, nas faces frescas. Suas
mãos a pressionaram pela cintura. Sara pendeu a
cabeça para trás, oferecendo seu colo aos beijos
ávidos de Fred.
74
As mãos dela soltaram-lhe os botões da camisa
e buscaram o contato com sua pele. Suas unhas se
firmaram levemente às costas dele.
Fred vibrava numa excitação enorme. Suas
mãos a livraram de sua blusa, massageando por
momentos aqueles seios tentadores.
Em seguida, aquelas mãos hábeis e experientes
buscaram o fecho da saia da garota. O tecido farfa-
lhou, amontoando-se aos pés dela.
As mãos dela, instintivamente, buscaram o cin-
to e o fecho da calça de Fred. Ele apreciou aquilo,
livrando-a do resto de suas roupas. Depois a fez re-
cuar contra um móvel.
Sara se deixou conduzir por ele, totalmente ar-
rebatada pelas sensações e emoções violentas que
se acendiam dentro dela.
Completamente nus, seus corpos se tocaram,
suas peles roçaram excitadas, contagiadas no mes-
mo calor.
Sara fechou os olhos e se entregou às carícias
que a punham em delírio. Sua respiração era entre-
cortada, acentuando-se nos movimentos de corpo
de Fred, que esfregava-se contra ela contagiado
pela sua paixão.
A excitação era um vulcão explodindo repenti-
namente e pedindo uma rápida solução. Sara bus-
cou um melhor apoio. Fred se encaixou ao corpo
dela da melhor maneira. A penetração foi lenta e
eletrizante.
75
A garota sentiu que todas as suas forças não a
manteriam em pé, quando Fred iniciou seus movi-
mentos. Espasmos de prazer faziam-na tremer e
fraquejar.
Ele apertou-a com mais força, firmando-a em
seus braços. Seus golpes fortes e profundos se repe-
tiam cada vez mais rápidos e alucinantes.
Sara deu vazão a tudo que sentia no momento,
mordendo-o nos ombros, traçando sulcos verme-
lhos na pele dele com as suas unhas.
A dor era prazer naquele instante e mais excita-
da, e incendiava Fred. O corpo da garota se abalou
convulsamente. O êxtase chegava como ondas su-
cessivas. Seus olhos se apertaram com força, seu
corpo se viu transpassado por correntes eletrizan-
tes, sua garganta pareceu secar.
Vibrando as mesmas sensações, Fred a golpeou
mais forte, abraçando-a em seguida com todas as
suas forças e beijando-a com frenesi.
Nada podia ser mais gratificante para a garota
que o fluir ritmado do prazer dentro de si, tor-
nando-a frenética e impulsiva no último momento.
Por momentos ficaram imóveis. Depois Fred a
deixou suavemente, caminhando tropegamente para
a cama, onde se estendeu de braços abertos.
Sara o olhou com orgulho de si mesma, depois
caminhou para ele, deitando-se a seu lado.
Ele a acariciou gentilmente nos cabelos.
— Eu a adoro, Sara — falou ele, lentamente, sa-
76
boreando cada palavra pronunciada.
— Você é tudo que eu sempre quis, Fred.
— Como?
— Sempre sonhei com alguém como você.
— E como sou eu?
— Diferente, especial.
— Em que sentido?
— Você me arrebata, tira a minha vontade pró-
pria. Sinto-me dominada e sem forças junto de
você. Faria qualquer coisa que me mandasse.
— Faria? — duvidou ele.
— Sim, faria — afirmou ela, convicta.
— Então acenda um cigarro para mim — sorriu
ele.
— Fred! — exclamou ela, preguiçosamente, an-
tes de fazer menção de se levantar.
— Por favor, querida! Desculpe-me — falou
ele, retendo-a pelo braço.
Sara se juntou novamente a ele, beijando-o de-
moradamente.
— Seus pedidos são uma ordem, meu amo e se-
nhor — disse ela, divertida, pondo-se em pé e exe-
cutando uma ligeira mesura.
Fred sorriu, enquanto ela procurava pelo paletó
dele.
— O que vamos comer? — indagou ele, sem
olhá-la.
— Qualquer coisa deliciosa.
— Servem pratos realmente deliciosos aqui —
77
disse ele.
— Sim, e como sabe? — indagou ela, distraída,
revistando os bolsos do paletó.
Fred levantou ligeiramente a cabeça, ao ouvir a
pergunta. Viu-se embaraçado no momento, sem sa-
ber o que responder. Sara, no entanto, não parecia
ansiosa por uma resposta e isso pareceu tranquilizá-
lo.
— Um amigo me disse — mentiu ele, voltando
a relaxar o corpo.
Fred sorriu, então, com certo cinismo e seguran-
ça, como se acabasse de vencer uma tremenda difi-
culdade e se recomendasse prudência no que dizia.
Sara não insistiu. Estava em silêncio, procuran-
do pelos cigarros.
— Achou os cigarros? Estão no bolso interno
do paletó... — interrompeu-se ele, sentando-se na
cama como se acabasse de receber um choque
elétrico.
Sara, com o rosto transtornado, olhava algo na
carteira aberta em suas mãos. Fred passou as mãos
pelo rosto, tremendamente agitado e confuso.
— Sara, eu posso explicar — disse ele, pondo-
se em pé.
A garota recuou um passo, olhando confusa a
carteira e o rosto alterado de Fred.
— Você mentiu para mim, Fred — disse ela,
como se o mundo houvesse desabado dolorosamen-
te sobre ela.
78
— Sara, deixe-me explicar.
— Explicar o quê? Que essa fotografia não é de
sua esposa e de sua filha?
— Sim, não vou negar isso, mas...
— Por que mentiu?
Fred passou as mãos nervosamente pelos cabe-
los, depois caminhou resolutamente para Sara, to-
mando-lhe a carteira e guardando-a no paletó.
Apanhou um cigarro. Acendeu-o e caminhou
até as cortinas.
Sara ficou olhando para ele, aguardando algo
que pudesse remediar todo aquele inferno que ardia
dentro dela no momento.
— Sim, é minha esposa e minha filha, mas... es-
tamos separados.
Já não era a mesma coisa para a garota. Sentia
que perdera o que de mais importante depositava
em Fred: a sua confiança.
Como acreditar nele? Fred já lhe mentiu uma
vez, na noite em que se conheceram. Mentira na-
quela dia. O que mais esconderia ele?
— Você tem que acreditar em mim — falou ele,
esmagando o cigarro num cinzeiro e caminhando
para a garota.
Sara ainda recuou um passo, mas parou junto à
parede.
— Por favor — pediu ele, as mãos segurando-a
pelos ombros.
Sara levantou os olhos para ele. Havia incredu-
79
lidade e desilusão nos olhos dela, que também es-
pelhavam um sofrimento quase insuportável.
Era como ver ruir todo um castelo romântico,
elaborado com sonhos apenas, por isso julgado for-
te e inabalável como rocha.
Sua confusão interior a desesperava e angustia-
va. Não conseguia pensar com clareza, sua lucidez
parecia haver ficado no papel brilhante de uma
simples fotografia.
A dúvida era o pior tormento, tão forte que a fa-
zia vencer aquela sensação de submissão total dian-
te de Fred, afogando todo o arrebatamento anterior.
— Por que, Fred? — indagou ela, como se hou-
vesse uma explicação plausível.
— Sara, não me julgue mal, não é nada do que
está pensando...
— Se ao menos você tivesse sido sincero, talvez
eu até nem me importasse com esse detalhe. Fred,
você mentiu para mim, isso me deixa... — ela não
conseguiu terminar.
Um soluço cortou sua voz. Fred a abraçou com
força, acariciando seus cabelos quase com desespe-
ro.
— Vamos nos divorciar, um advogado já está
cuidando de tudo. E só uma questão de tempo.
Numa última tentativa para não deixar fugir
tudo que sempre desejou, Sara procurou acreditar
nas palavras dele, mas era impossível.
— Leve-me para casa — pediu ela, empur-
80
rando-o lenta, mas firmemente.
Fred percebeu que nada a demoveria daquilo.

81
82
7

De nada adiantaram todos os argumentos apre-


sentados por Fred, no caminho de volta. Era difícil
para a garota acreditar em qualquer um deles.
O que a torturava, no entanto, era que, dentro de
si, ainda desejava desesperadamente acreditar nele.
Uma terrível batalha íntima deixava-a angustiada e
em prantos.
Seus sonhos românticos pediam uma continui-
dade inconsequente, forçando-a a aceitar aquela si-
tuação e se entregar a Fred, apesar de tudo.
Seu orgulho feminino e sua razão, no entanto, a
forçavam na direção oposta, procurando meios de
esquecer aquela aventura toda.
Fred sabia ser persuasivo, suas palavras atingi-
am em cheio cada ponto sensível da garota, confun-
dindo-a a ainda mais.
— Sara, você precisa acreditar em mim, por fa-
vor — pediu ele, quando chegaram.
Sara não sabia o que responder. Queria um tem-
po para pensar e, ao mesmo tempo, nunca mais de-
sejava revê-lo.
— É inútil, Fred. Eu...
— Por favor, não tome nenhuma decisão preci-
pitada. Pense a respeito, eu ligo para você.
— Não, Fred. Acho que não dará mais certo.
— Diga, então, o que devo fazer para tê-la de
volta?
83
Sara o encarou patética, como se fosse possível
voltar atrás no tempo e recomeçar, dessa vez com
sinceridade, com a verdade toda.
— Fui egoísta, eu sei, reconheço, mas fiz isso
por você, Sara. Quando a vi, senti que você era
quem eu sempre procurei. Isso foi recíproco, você
não pode esconder. Eu sabia que a decepcionaria se
lhe contasse toda a verdade desde o início, mas eu
tinha de tentar...
— Tentar me enganar?
— Não, tentar fazê-la ver, primeiro que havía-
mos nascido um para o outro. Meu casamento atual
foi um erro, Sara. Se eu a tivesse conhecido antes...
Esse argumento final sensibilizou profundamen-
te a garota. Ela olhou Fred enternecida por instan-
tes. Queria acreditar mais uma vez na sinceridade
dele.
Não queria perder novos momentos de empol-
gação e felicidade total. Fred também era tudo que
ela sempre procurava, isso não podia ser posto de
lado facilmente, apesar de seu conflito íntimo.
— Estamos nos divorciando, senhora. Posso
levá-la ao meu advogado, ele comprovará o que
digo. Não quero e não posso perdê-la. Sara. Por fa-
vor, acredite em mim.
— Eu... — vacilou ela. — Eu preciso pensar,
Fred — disse, descendo rapidamente do carro e en-
trando no prédio.
Adam ainda não estava de volta. Sara se sentiu
84
desesperada com a decisão que teria de tomar. Sen-
tiu que precisava de alguma coisa forte para
acalmá-la.
Encontrou uísque. Serviu uma dose pura e en-
tornou-a, fazendo uma careta. Depois esmurrou a
mesa diversas vezes, até desabafar aquela raiva in-
contida dentro de si.
Ela correu, então, para o seu quarto e se atirou
na cama, soluçando. Chorou até sentir que não ti-
nha mais lágrimas que desabafassem sua desilusão.
Quando estava mais calma, as coisas começa-
ram a se tornar mais fáceis de entender. Detalhes
surgiram em sua mente, pensando contra Fred.
A familiaridade com que ele se movia pelo mo-
tel. Ele conhecia tudo por lá, não tivera dificuldade
nenhuma para fechar eletronicamente as cortinas,
para mudar as luzes, para escolher a música.
A sensação de que não passara de mais uma
aventura na vida dele era decepcionante. Não podia
entender, a princípio, essa contradição.
Se fora uma aventura na vida dele, por que tanta
insistência da parte dele em aquela separação?
Talvez ele falasse a verdade e Sara fosse algo
especial em sua vida. Um outro detalhe, no entanto,
a fez duvidar disso.
Fred poderia ser um tremendo conquistador.
Sua familiaridade com o motel explicava isso. Na
certa, escolhia e descartava suas conquistas.
Seu orgulho de conquistador nunca admitiria
85
que uma dessas garotas lhe dessem o fora. Sara ha-
via feito isso. Fred não queria perder o domínio so-
bre elas.
Mas ele mencionou o divórcio. Esse detalhe po-
deria ser a chave de tudo, se houvesse um meio de
ser provado. Sara pensou nisso e concluiu que não
era difícil de ser feito.
Poderia tentar naquele mesmo momento. E de-
pois? E se Fred dizia a verdade? Se havia mesmo
um divórcio encaminhado, como encará-lo nova-
mente?
E se ocorresse o contrário, a prova definitiva de
que Fred era mesmo um mentiroso farsante? Ainda
havia dentro dela, apesar de tudo, uma esperança de
não perder aquele seu sonho realizado.
Era difícil toda e qualquer decisão. Sara sentiu o
desespero voltar. Não fosse a chegada de Adam, te-
ria chorado novamente.
— Sara? — indagou o rapaz, após fechar a por-
ta.
Seu tom de voz era levemente eufórico.
— Estou aqui — respondeu ela, recompondo-se
da melhor maneira.
Adam chegou à porta do quarto e a viu no leito.
— Desculpe-me se demorei, mas foi sensacio-
nal, Sara. Você precisava estar lá — falou ele, indo
se sentar ao lado dela.
Ele se inclinou para beijá-la suavemente. Sara
se agarrou a ele com o desespero de sua indecisão,
86
buscando uma solução final naquele beijo.
Adam a abraçou com força, retribuindo o beijo
inquieto que recebia da garota.
— O que houve? Andou bebendo? — indagou
ele, quando ela o soltou.
— Tomei um trago, enquanto esperava por você
— mentiu ela.
— Devia repetir isso mais vezes — falou ele,
abraçando-a e beijando-a novamente.
— Conte-me tudo que houve — pediu ela, sen-
tando-se com as pernas cruzadas e olhando fixa-
mente para ele.
Adam era um rapaz bonito. Não tinha aquela
beleza madura e adulta de Fred, mas aquela jovem
e impulsiva.
— Falei com o sr. Karson, o pai de Mike. Eu
lhe disse tudo que sabia.
— Disse quanto pretendia ganhar?
— Sim, descaradamente, apesar de todo o meu
nervosismo. Ele riu...
— Riu?
— Sim, como se eu houvesse contado uma pia-
da.
— E daí?
— Estavam fechando a oficina. Adivinhe o que
chega, então?
— Deixe de suspense, Adam.
— Uma autêntica Ferrari último tipo, dupla car-
buração, oito cilindros e...
87
— Deixe os detalhes, não entendo nada mesmo.
— Está bem. A máquina estava com um proble-
ma na carburação. O proprietário era um figurão.
Aí aconteceu o melhor: nenhum dos mecânicos ali
conhecia aquele tipo de carburação.
— E você...
— Sim, eu havia lido sobre isso numa das revis-
tas que assino. Tinha um conhecimento teórico,
mas tudo estava claro para mim, quando examinei
o problema. O sr. Karson ficou observando, incré-
dulo. Eu deixei aquela máquina capaz de vencer
um Fórmula Um — finalizou ele.
— Adam, querido! — exclamou ela, feliz com
aquilo.
Ao abraçar novamente Adam, sentiu que havia
algo mais naquela sua espontaneidade. Não era a
mesma coisa que abraçar Fred, reconhecia.
Com Adam tudo parecia uma conquista compar-
tilhada a cada momento, algo que se solidificava a
cada novo passo.
Fred lhe parecia o contrário. Sentia que o perdia
a cada momento, como se nunca pudesse ser real-
mente, dona dele por completo.
Adam a beijou carinhosamente no pescoço e na
ponta da orelha. Suas mãos deslizavam suavemente
pelas costas dela.
— Segunda-feira farei o teste final. Se me sair
bem, terei o emprego e o que pedi por ele. Sabe o
que isso significa?
88
— Sim? — quis saber ela.
— Que todos aqueles nossos planos poderão se
realizar. Você está comigo, não está?
— Claro, Adam — respondeu a garota, duvi-
dando de si mesma, de seus sentimentos, do que re-
almente desejava.
— Sabe o que vamos fazer? Vamos sair e come-
morar isso. O que acha?
— Fantástico! — concordou a garota.
Precisava, pelo menos por algum tempo, clarear
suas idéias, divertir-se se possível. Tinha muito em
que pensar e decisões a serem tomadas.
Naquele momento não se sentia capaz de nada
disso. A companhia de Adam, sua alegria e sua eu-
foria talvez a ajudassem.
Haviam caminhado pelo Central Park, passado
por uma lanchonete, antes de rumarem para a Bro-
adway. Os cartazes diante dos teatros e casas de
shows chamaram suas atenções.
Diante de um cinema, Adam a olhou com um
sorriso malicioso nos lábios.
— Lembra-se do primeiro filme a que assisti-
mos juntos?
— Adam! — exclamou ela, entendendo aquele
sorriso.
Encontraram lugar na última fila. A fita não in-
teressava. Reviviam um acontecimento e aquilo ex-
citava Sara. Sentiu-se bem em ter algo em comum
a recordar com alguém.
89
Não era apenas tirar uma imagem de seus so-
nhos e se apegar a ela! Significava muito mais que
isso. A sensação era boa e reconfortante.
Assim que se acomodaram, Adam passou seus
braços pelos ombros dela, puxando-a para si. A
mão livre tocou o joelho de Sara, puxando a saia
lentamente para cima. Depois desabotoou-lhe os
primeiros botões da blusa.
— Podemos apressar o início, não? — disse ele,
beijando-a nos cabelos.
Sara girou a cabeça para que seus lábios tocas-
sem os dele com vibração. O beijo foi suave, mas
provocante. A ponta da língua de Adam roçou os
lábios de Sara.
A mão que a apertava no ombro deslizou um
pouco mais para repousar sobre um de seus seios. A
outra mão de Adam tocou-lhe a pele acetinada de
uma das pernas.
O beijo se prolongava, contagiando-os na mes-
ma empolgação. Sara julgou que não devia se sentir
daquela forma, mas Adam realmente a provocava.
Comparou suas reações quando com Adam e
com Fred. Era totalmente diferentes, mas ali, na-
quele momento, Adam lhe dava tudo que poderia
desejar de um homem.
Se assim fosse, qual a utilidade de Fred? Por
que aquela angustiante sensação de que estava
traindo alguém? Seria Fred ou o próprio Adam?
Não pôde pensar mais nisso. A mão de Adam
90
deslizou pelo tecido do sutiã, tocando a pele e bus-
cando o bico eriçado. Sara suspirou e se apertou
contra Adam, buscando em seu calor a resposta
para suas perguntas.
— Vamos para casa, Sara? — convidou ele, im-
paciente, tomando-lhe o rosto entre as mãos.
Sara podia sentir o hálito quente e excitado de
Adam bater contra seu rosto, excitando-a também.
— Está bem, Adam — concordou ela.
Deixaram o cinema. Apanharam um táxi e vol-
taram ao apartamento. Durante o caminho, Adam a
abraçara com ternura. Sara repousou sua cabeça no
ombro dele.
Algo a incomodava. Sentia-se incapaz de levar
aquilo adiante, após haver sentido todas as sensa-
ções possíveis com Fred.
Temia falhar, deixando que seus problemas ínti-
mos interferissem naquele momento desejado por
Adam. Ele não podia saber de nada que se passava
com ela.
Sara desejava evitar isso a todo custo. Adam
não merecia uma desilusão. Ainda assim, como su-
perar suas próprias dúvidas e se entregar a ele com
a sinceridade de sempre?
Mas ela queria uma prova de si mesma. Precisa-
va saber se ainda era capaz de vibrar as mesmas
emoções costumeiras com Adam.
Eram relações que a satisfaziam plenamente,
apesar de não conterem os ingredientes com que
91
Fred a brindara. Tudo era diferente com ele.
Uma espécie de obsessão tomava conta da garo-
ta, deixando-a deprimida. Aquela dúvida constante
entre fugir ou não fugir de Fred era um tormento.
— Hoje é um dia especial para mim, Sara —
disse Adam, despindo-se ao lado da cama.
Sara ficou junto à porta, olhando-o. O descobrir
daquele físico jovem e proporcional à emocionava
como sempre. Não entendia suas contradições.
Podia amar e desejar dois homens ao mesmo
tempo? No momento isso lhe pareceu possível.
— Algo errado? — indagou Adam, terminando
de se despir e se metendo sob os lençóis.
— Não, nada errado — disse ela, começando a
se despir.
Ela se viu trêmula e assustada com o que pode-
ria acontecer em seguida. Não queria decepcionar
Adam, mas precisava estar certa de suas reações
quanto a ele.
Nua e terrivelmente feminina ela se aproximou
do leito.
Adam se apoiou nos cotovelos para olhá-la.
Seus olhos passearam por aquele corpo tentador,
dois seios redondos, com bicos róseos e túmidos ao
quadril bem-conformado.
Sara umedeceu os lábios, parada ao lado da
cama. Adam lhe estendeu as mãos.
— O que há, Sara? — quis saber ele, perceben-
do algo errado no conflito que se estampava no ros-
92
to dela.
A garota se ajoelhou sobre a cama, ao lado dele.
As mãos do rapaz pousaram sobre suas pernas, ini-
ciando uma carícia.
— Estou confusa, Adam — conseguiu dizer ela.
— Confusa com o quê?
— Com tudo.
— Diz respeito aos meus planos?
— Sim, isso mesmo — afirmou ela, após um
instante de hesitação.
— Você é a razão deles, Sara, mas peça-me o
contrário e eu a atenderei — respondeu ele, com
sinceridade.
— Você me ama, Adam?
— Se amar é pensar sempre na pessoa amada,
eu a amo loucamente, Sara.
Ela pousou suas mãos nas dele, apertando-as
com força, como desejando extrair delas a solução
para o que a afligia.
Havia uma diferença enorme entre os dois ho-
mens de sua vida. Sara entendeu que se tratava da
mesma diferença entre a lucidez e o sonho.
Sentiu-se desorientada consigo mesma. O mo-
mento de decisão lhe parecia o ponto exato que a
separaria para sempre daquela adolescente sonha-
dora que fora.
Sua maturidade estava justamente em vencer a
imposição arrebatadora de seus sonhos e encarar a
vida com lucidez. O sonho era Fred; Adam era a lu-
93
cidez, a decisão.
Adam endireitou o corpo junto dela. Seus lábios
beijaram suavemente os ombros e os seios da garo-
ta, enquanto suas mãos iam e vinham sobre os con-
tornos da cintura afunilada.
Sara suspirou, percebendo que aqueles beijos a
tocavam como sempre, fazendo-a reagir. Ela abra-
çou o rapaz, acariciando-lhe as costas.
Os lábios mornos e entreabertos de Adam subi-
ram pelo pescoço da jovem e tocaram o canto de
sua boca.
Ela se sentia lentamente embalar num redemoi-
nho delicioso que perturbava seus sentidos. Era um
desejo calmo e gostoso de provar pouco a pouco o
corpo do amante.
Diferente daquela impetuosidade que a forçava
a Fred, muito diferente. Sara fechou os olhos e se
entregou a Adam com a mesma paz de sempre.

94
95
8

Aninhada agora nos braços de Adam, sentindo


as mãos dele deslizarem suavemente por seu corpo,
Sara se sentia tranquila e segura.
A imagem de Fred era algo distante, como uma
sombra nascida num sonho e que havia ficado va-
gamente na lembrança. A sonolência que a invadia
era acalentada pelo calor do corpo de Adam.
Sara não quis pensar em nada mais. Esquecer-se
daquela sombra em sua vida era importante, como
o romper brusco e dolorido de uma cortina de fan-
tasia.
A sensação de que deixava alguma coisa impor-
tante para trás a incomodava. Bastaria nunca mais
rever Fred ou ouvir novamente sua voz e até pode-
ria esquecê-lo. Adam lhe daria todo o apoio de que
precisava.
Ele a amava e era sincero. Punha amor acima de
tudo, estava disposto a provar isso, se preciso fosse.
— Segunda-feira vai ser decisivo para nós,
Sara. Se eu conseguir manter aquela oficina funcio-
nando corretamente por um dia estarei contratado.
— Foi esse o teste que o sr. Karson impôs?
— Sim. Ele acha que precisa mais que um óti-
mo mecânico apenas. Precisa de alguém que saiba
dirigir o pessoal. Dou razão a ele e vou fazer todo o
possível.
— Tenho certeza de que o conseguirá, Adam —
96
assegurou ela, debruçando sua cabeça sobre o peito
dele.
Adam acariciou-lhe ternamente os cabelos. Sara
levantou a cabeça para beijá-lo no queixo e no lá-
bio inferior.
— Se tudo der certo, posso pedir um adianta-
mento — continuou ele.
— Adiantamento?
— Sim, para as nossas despesas com o casa-
mento.
Sara voltou a depositar sua cabeça contra o pei-
to de Adam, apertando-se contra ele. Podia ouvir as
batidas calmas de seu coração.
Um arrepio percorrera o corpo da garota, dei-
xando-a indecisa. Precisava de todas as suas forças
para encarar a proposta. Sabia que poderia ser feliz
com Adam, apesar de saber que Fred seria sua
constante preocupação. Reconhecia-se ainda inca-
paz de romper totalmente com aquela imagem.
Era mais forte que tudo, estava dentro dela. A
todo momento estaria assustada, temendo reencon-
trá-lo e se sentir submissa e arrebatada, magoando
Adam, profundamente.
Nada fazia sentido para ela. Seu apego a Adam
e sua submissão a Fred, sua disposição em tentar
fugir, ficando.
— Vamos ter que esperar pela lua-de-mel —
sorriu ele.— Não haverá tempo para isso, pelo me-
nos agora, no início.
97
— Não me importo, Adam, desde que você se
saia bem.
— Admiro-a, Sara. Você é uma garota maravi-
lhosa, disposta a tudo.
— Não, Adam, sou uma tola insegura — discor-
dou ela, encarando-o.
Adam segurou-a pelo rosto. Seus polegares
massagearam as têmporas da garota.
— Você é uma garota maravilhosa, Sara, nunca
se esqueça disso. É tudo que sempre procurei — fa-
lou ele, com sinceridade.
Sara sentiu um tremor estranho passar pelo seu
corpo. Já ouvira aquela frase antes. Parecia que to-
das as coisas fariam com que se lembrasse de Fred.
Não podia ser daquela forma. Deveria haver um
meio de esquecer-se dele definitivamente. Se não
fosse assim, talvez a felicidade que esperava dar a
Adam fosse incompleta.
Mas como desistir de algo que inconsciente-
mente se deseja conservar? Como abrir mão da rea-
lização de um sonho íntimo e maravilhoso?
— Saiba você que estou apavorado — falou
Adam. — Meu trabalho, na segunda-feira, significa
muito. Não sou um super-homem, posso estragar
tudo com meu nervosismo.
— Não estragará, Adam — disse ela, com vee-
mência, encarando-o.
— Você confia em mim, Sara?
— Totalmente, Adam.
98
—Farei tudo para não desapontá-la.
— Sei que nunca me desapontará — falou a ga-
rota, abraçando-o e beijando-o com desespero.
Sara se levantou cedo naquele domingo. Adam
ainda dormia, por isso ela deixou silenciosamente o
quarto e foi para a cozinha.
Preparou seu desjejum. Parecia mais fácil racio-
cinar naquela manhã, após ter sido amada por toda
a noite. Adam lhe dava momentos inesquecíveis.
Pensou em Fred enquanto comia em silêncio.
Talvez a única forma de afastar aquele pesadelo de
sua vida fosse encará-lo definitivamente.
Fugir a ele apenas aumentaria sua atração. Sara
precisava pesar os prós e os contras e tomar uma
decisão da qual não se arrependesse.
Tentou entender o que Fred significara e signifi-
cava em sua vida. Era difícil chegar a uma conclu-
são. Tudo fora tão repentino e tão arrebatador.
Procurou traçar um perfil daquele homem. Era
lindo, adorável e fascinante, mas um grande menti-
roso. Mentia descaradamente. Ela precisava saber,
no entanto, se ele fazia aquilo por hábito ou por
sinceridade.
Tudo se tornava difícil, então, a partir daí.
Como acreditar num homem que mentira? Como
saber se a mentira não era uma forma desesperada
de tentar não perder aquilo que realmente desejava?
O telefone tocou, sobressaltando-a. Pensou ime-
diatamente em Fred. Apenas ele poderia ligar, só
99
podia ser ele. Seu corpo se tomou trêmulo, Sara se
viu indecisa e sem forças.
A campainha insistiu. Ela temeu que aquilo
acordasse Adam. Correu a retirar o fone do gancho.
Não precisou levá-lo ao ouvido para saber de quem
se tratava.
— Sara! E você? Sara!
Aquela voz a transtornou. Havia um apelo irre-
sistível, que suplantava sua vontade própria. Era ser
infantil e imatura reagir daquela forma, mas Sara
não podia evitar.
— Sara! Por favor! Sei que está aí! — insistiu
Fred.
Lentamente ela colou o fone ao ouvido.
— Fred! — exclamou ela, mais numa súplica
que numa resposta.
— Sara, amor, preciso vê-la.
— O que você quer, Fred?
— Estou no Clube de Golfe, às margens do
Harlem. Se tomar um táxi, estará aqui em trinta mi-
nutos...
— Fred, é inútil — disse ela, após um esforço
terrível.
— Sara, você não pode fugir a isso. Eu a quero
desesperadamente. Você tem que acreditar em mim.
Posso fazê-la feliz, imensamente feliz.
— Eu gostaria de poder acreditar em você...
— Venha até aqui, então. Poderá falar com meu
advogado, ele está aqui, vai lhe comprovar sobre o
100
meu divórcio.
Sara apertou os olhos desejando poder ter forças
para reagir àquela força inexplicável que a condu-
zia a ele. Talvez devesse dar uma última chance a
Fred.
Era o máximo que podia fazer a si mesma.
— Ainda tem dúvidas a meu respeito? — inda-
gou ele, num tom de voz que parecia sincero.
— Fred, eu gostaria de...
— Nada a impede, Sara. Prometo que não se ar-
rependerá.
— Está bem — disse ela, num sopro de voz,
sentindo-se a mais miserável das mulheres.
Simplesmente não podia resistir, não havia ar-
gumentos que a pudessem fazer agir de outra for-
ma. Fred era o homem de sua vida e nada poderia
mudar isso.
Desligou o telefone, mas não teve o ânimo que
esperava para se levantar dali, mudar de roupa rapi-
damente e correr ao encontro de Fred.
Queria fazê-lo, queria a mesma força que a mo-
vera ao concordar com o encontro, mas, ao invés
disso, um desânimo enorme tomou conta de seu
corpo.
Temia o que poderia acontecer a seguir. Se vol-
tasse a ver Fred, mesmo que novas mentiras se su-
cedessem, já não teria vontade própria para voltar
atrás.
Pensou no que Adam lhe oferecia. Não era mui-
101
to. Um começo de vida cheio de lutas, um futuro
que construiriam com o esforço comum, valoriza-
do, portanto.
Fred lhe oferecia facilidades, emoções, mas pro-
metia mentiras. A maneira como ele se comportara
no motel provava sua vida amorosa agitada.
Seria ela o amor que o prenderia para sempre?
Seus olhos pousaram sobre a lista telefônica da ci-
dade, na mesa ao lado.
Foi um lance casual, mas seus olhos se detive-
ram ali. Ela sentiu que deveria dar aquela chance a
Fred, mas poderia se certificar de tudo ali mesmo.
A idéia já lhe ocorrera antes, mas agora não ha-
via como fugir à tentação.
Ela apanhou a lista e procurou pelo sobrenome
Bernard. Estava lá, Fred Bernard, Elm Street. Sara
conhecia aquela parte da cidade. Apenas aparta-
mentos de luxo, prédios imponentes, famílias abas-
tadas.
Ali, num daqueles apartamentos, estava a solu-
ção. Ela gravou o número, olhando-o durante um
longo tempo. Sentiu-se covarde e mesquinha, mas
não podia fugir àquela chance.
Tomou o telefone e discou aquele número. Pen-
sou rapidamente no que poderia dizer. Estava trê-
mula e assustada.
— É a Sra. Bernard? — indagou ela, quando
atenderam.
— Sim, o que deseja? — respondeu uma voz
102
calma do outro lado.
— Desculpe-me ligar a esta hora e, principal-
mente, hoje, mas surgiu um problema. Aqui é do
escritório do advogado de seu marido.
— Advogado? Que advogado? — indagou a
mulher, surpresa.
— Advogado do... — Sara hesitou.
A surpresa da Sra. Bernard era toda a resposta
de que precisava. Não tinha o direito de ir mais lon-
ge e preocupá-la.
— Desculpe, mas estou falando com a esposa
do Sr. John Bernard? — indagou Sara, pensando
rapidamente.
— Acho que houve um engano, aqui é da resi-
dência do Sr. Fred Bernard...
— Oh, sim, estou certa de que foi um engano.
Desculpe-me — pediu Sara, um nó travando sua
garganta e soluções lutando para brotar através de
seus lábios.
Ela desligou o telefone lentamente, reclinando-
se na poltrona e desejando nunca mais sonhar.
Felizmente as finais do campeonato estadual de
beisebol foram transmitidas naquela tarde. Adam se
sentou diante do televisor e a deixou em paz com
seus pensamentos e a sua tristeza.
Sara se trancou no quarto, chorando tudo que
alguém poderia chorar num momento como aque-
les. Vira ruir definitivamente todos os seus castelos.
Ao anoitecer, alguém ligou para o apartamento.
103
Adam atendeu. Desligaram do outro lado imediata-
mente. Mais tarde aquilo se repetiu. Adam julgou
que se tratava de algum maluco idiota e não ligou a
mínima.
— Que tal jantarmos fora esta noite? — inda-
gou ele, logo após Sara deixar o quarto.
Tinha os olhos vermelhos e profundas olheiras.
Adam a repreendeu por dormir demais.
— E depois ver alguma coisa divertida e alegre,
promete? — pediu ela.
— Tudo que você quiser amor — concordou
ele, abraçando-a e beijando-a no alto da cabeça.
Foi uma noite agradável, apesar de tudo. Adam
sabia como alegrá-la e diverti-la. Houve momentos
em que Sara conseguiu se esquecer totalmente de
Fred.
Quando ele a levou de volta para o apartamento,
deixou-a à porta. Kitty já havia voltado e estava se
despedindo do namorado também.
— Vai torcer por mim amanhã? — quis saber
Adam.
— Com toda força.
— Ligarei para você à tarde. Creio que até lá já
terei algo definitivo para nós.
— Esperarei ansiosamente — disse ela, ati-
rando-se nos braços dele para um beijo.
Quando ele a soltou, Sara entrou rapidamente.
— Alguém esteve ligando para cá a noite toda
— informou Kitty.
104
— Disse quem era? — quis saber Sara, apesar
de conhecer a verdade.
— Não, não disse, mas prometeu ligar nova-
mente.
— Sendo assim — falou Sara, indo até o telefo-
ne e retirando-o do gancho. — Não quero falar com
ninguém mais esta noite.
Sua vontade era apenas dedicar-se toda a Adam
e torcer para que tudo desse certo com ele.
O dia seguinte foi terrível. Estava nervosa e an-
gustiada. Torcia por Adam e para que Fred não li-
gasse para ela no trabalho nem a procurasse.
Preferiu pedir a alguém que lhe trouxesse um
lanche da rua, apenas para evitar o encontro com
Fred. Ela sabia que ele estaria ali, em alguma parte,
esperando por ela.
A tarde, Adam ligou. Estava vibrando de con-
tentamento.
— Sara, acha que sua amiga concordaria em
passar a noite no apartamento do namorado?
— Por que isso?
— Por que vamos comemorar. Eu consegui,
Sara. Nós conseguimos — gritou ele do outro lado.
— Adam, que bom! Vou falar com Kitty, acho
que ela será compreensiva.
— Não posso falar mais, há muita coisa a ser
feita, tenho de agir. À noite conversaremos. Estarei
em sua casa às oito.
No fim do expediente, aceitou a carona de uma
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amiga. Desceram diretamente para a garagem e dei-
xaram o prédio logo em seguida.
Sara procurou fugir, ainda não sabia qual seria
sua reação se encontrasse Fred lá fora, esperando
por ela. Em seu apartamento, procurou se entreter,
preparando alguma coisa especial para aquela noi-
te.
Passava um pouco das sete, quando a campai-
nha soou. Ela julgou que fosse Adam. Ao abrir a
porta, seu corpo todo estremeceu ao encarar Fred.
Havia uma súplica desesperada nos olhos dele.
Sara se viu dominada pelas mais contraditórias sen-
sações. Percebeu que poderia ser, naquele minuto,
ou a meninazinha adolescente e sonhadora, imatura
e submissa, ou Sara, a mulher que soube decidir so-
bre si mesma.
As mãos dele pousaram sobre os ombros de
Sara. Ela vacilou. Podia se libertar ou se perder
para sempre naquele fascínio.
Lentamente ele a puxou para si. Os olhos de
Sara se fixaram naqueles lábios entreabertos e ten-
tadores que lhe prometiam um inferno de dúvidas e
delícias.
O hálito quente de Fred a fez com que se arrepi-
asse. As mãos dele avançaram para as costas de ga-
rota, puxando-a com mais decisão, até que seus
corpos se tocassem.
Fred fechou os olhos lentamente, senhor de si.
Seus lábios buscaram os de Sara. No último instan-
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te, Sara conseguiu virar o rosto.
Ele a soltou vagarosamente. Olhou-a nos olhos.
Compreendeu que a perdera definitivamente.
Quando Adam chegou, pouco mais tarde, com
um enorme buquê de rosas numa das mãos e uma
garrafa de champanha na outra, Sara estava sentada
no sofá. Levantou a cabeça, quando ele parou dian-
te dela, abrindo os braços.
Ela se levantou lentamente, olhando-o com ter-
nura.
— Abrace-me e me dê amor, como nunca me
abraçou ou amou antes, Adam — pediu ela.
— Para sempre, Sara — respondeu ele, enla-
çando-a em seus braços e beijando-a com amor.
A jovem cerrou os olhos, disposta a esquecer o
que acontecera no clube das sensuais emoções,
quando conhecera Fred. Tudo não passara de um
sonho erótico. Adam era o homem da sua vida.

FIM

*
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ÐØØM SCANS
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