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Políticas públicas para disciplinar a criação de cães de raças específicas e a

promoção da segurança pública em Minas Gerais

Dimitry Popoff Braga


Erica Alves Pereira
Izabel de Freitas Gomes
Maria Adalgisa de Oliveira

RESUMO

Políticas públicas são estratégias criadas para atender a demanda da sociedade,


inclusive para ampliar serviços como educação, saúde, assistência social, habitação
e bem-estar. Assim como as políticas públicas buscam regulamentar e promover o
bem-estar da sociedade, a criação de cães de raças específicas também exige
regulamentação para garantir a saúde e o bem-estar dos animais. Ambas as áreas
enfrentam desafios semelhantes e podem se beneficiar da implementação de
diretrizes, fiscalização adequada e participação da sociedade para alcançar seus
objetivos. A criação de cães de raças específicas exige regulamentação para
garantir a segurança da população e o bem-estar animal. Em Minas Gerais, a Lei
Ordinária nº 16.301/2006, regulamentada pelo Decreto nº 44.417/2006, estabelece
diretrizes para a criação de cães das raças pit bull, dobermann, rottweiler e outros de
porte físico e força semelhantes, bem como seus mestiços. Esta lei, em consonância
com o Decreto nº 5.517/2005 e a Lei nº 9.605/1998, busca promover a
responsabilidade dos proprietários e estabelecer medidas de segurança adequadas
a estes animais e à população em geral. Neste artigo, abordaremos os principais
aspectos dessas legislações e seu impacto na criação de cães em Minas Gerais.

Palavras-chave: políticas sociais, cães e segurança pública;

INTRODUÇÃO

Conforme estabelecido no artigo 2º da Lei nº 16.301/2006, o proprietário de


cães das raças pit bull, dobermann, rottweiler, nos termos do artigo 1º, é obrigado a
registrar o animal com mais de cento e vinte dias de idade. Esse registro requer a
apresentação de documentação, incluindo comprovante de vacinação, qualificação
do vendedor e do proprietário, além de uma declaração da finalidade da criação do
animal. O objetivo dessa medida é criar um controle mais efetivo sobre a criação
dessas raças e garantir a proteção da saúde pública.

Cidadania e direitos sociais


A cidadania social constitui a ideia fundamental de um welfare state. Mas o
conceito precisa ser bem especificado. Antes de tudo,deve envolver a
garantia de direitos sociais. Quando os direitos sociais adquirem o status
legal e prático de direito de propriedade, quando são invioláveis, e quando
são assegurados com base na cidadania em vez de terem base no
desempenho, implicam uma “desmercadorização “ do status dos indivíduos.
(MARSHALL,1950).

Marshall destaca a importância da cidadania social e dos direitos sociais no contexto


do estado de bem-estar social. Ela ressalta a necessidade de garantir direitos
sociais como forma de promover a igualdade e a justiça social, ao mesmo tempo em
que reconhece a complexidade das relações entre estado, mercado e família na
provisão de serviços sociais.
O Estado de Bem-Estar Social traz a garantia da intervenção do estado na
regulação das políticas públicas nas áreas econômicas e sociais. O welfare state
não pode ser compreendido apenas em termos de direitos e garantias.
Assim como na criação de cães, a saúde e o bem-estar social requerem uma
abordagem consciente e criteriosa. Ao criar cães de raças específicas e ferozes, é
necessário considerar a genética, o ambiente e o manejo adequado para garantir a
saúde e a segurança dos animais e das pessoas ao seu redor.

O modelo da regulamentação proposta espelha, em grande medida, a


disciplina legal relativa aos próprios seres humanos: regras sobre a circulação
em locais públicos, normas higiênicas e sanitárias, regulamentos referentes
ao trabalho, formas obrigatórias de identificação civil. A obediência que se
espera dos cães, aliás, é mediada pela obediência do dono humano, a quem
cabe assegurar a conformidade do seu animal à legislação. A própria
categorização jurídica dos animais como coisas requer que seja assim. Se no
universo do direito as coisas existem sob a forma de bens integrados a um
patrimônio, não é possível, por definição, a existência de coisas
desvinculadas de pessoa. (BEVILAQUA, 2011)

A obediência esperada dos cães está diretamente ligada à obediência do


proprietário humano, pois cabe a ele garantir que seu animal esteja em
conformidade com a legislação. Isso se deve em parte à própria categorização
jurídica dos animais como "coisas", que requer que estejam vinculados a uma
pessoa. No universo jurídico, os animais são considerados bens integrados ao
patrimônio de uma pessoa, e não podem existir como entidades desvinculadas das
pessoas.

Consequências do descumprimento
O artigo 3º da referida lei estabelece as consequências do descumprimento das
obrigações de registro. O não cumprimento dessas exigências pode levar à
apreensão do animal, bem como ao pagamento de multa. A multa inicial é fixada em
500 Ufemgs (Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais), sendo dobrada em caso
de reincidência. Além disso, o proprietário tem um prazo de quinze dias para se
adequar às disposições da lei, e o não cumprimento resulta na destinação do animal
a uma entidade de ensino e pesquisa.

O caso do pit bull

Em seu artigo 4º, a Lei nº 16.301, de 7 de agosto de 2006, proíbe a adoção, a


procriação e a entrada de cães da raça pit bull no Estado de Minas Gerais. O
Decreto 44.417, de 6 de dezembro de 2006 (que regulamentou a referida lei), em
seu artigo 5º, além de reproduzir o texto da proibição, acrescenta as consequências
de seu descumprimento, sujeitar os estabelecimentos infratores à cassação de seu
alvará de funcionamento, conforme a legislação. O parágrafo único estabelece a
obrigação da SEDS (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e das
entidades a ela conveniadas, informarem imediatamente às autoridades
competentes acerca de estabelecimentos que violem ou contribuam para a violação
do disposto no caput.

Medidas de segurança

Para garantir a segurança da comunidade, o artigo 5º da lei estabelece medidas de


segurança que os proprietários desses cães devem adotar. Essas medidas incluem
a colocação de coleira com número de registro, manter o animal em área delimitada
e segura, afixar placa de advertência visível informando a raça e o número de
registro do animal, além de impedir o acesso do cão a caixas de correio e
equipamentos semelhantes. Essas precauções visam prevenir acidentes e garantir
um convívio seguro entre os cães e a comunidade.

Agressões e lesões

A lei também aborda situações em que os cães das raças mencionadas causam
agressões ou lesões. O artigo 7º prevê que, quando ocorrer uma agressão, o cão
será recolhido e examinado por um médico veterinário, que emitirá um parecer sobre
sua possibilidade de permanência no convívio social. Se for concluído que o animal
representa risco, o médico veterinário poderá decidir pela sua eliminação após
sedação. Além disso, o proprietário do cão é sujeito a multas significativas em caso
de lesões causadas pelo animal.

Serviço de denúncia

Com o objetivo de facilitar a fiscalização e o cumprimento das disposições da lei, foi


criado o Disque-Cão, um serviço telefônico gratuito para recebimento de denúncias
de infrações relacionadas à legislação. Essa iniciativa permite que a população
contribua para a manutenção da segurança e bem-estar da comunidade.

Conclusão

A Lei Ordinária estadual nº 16.301/2006, em conjunto com o Decreto nº 5.517/2005


e a Lei nº 9.605/1998, estabelecem medidas essenciais para a criação responsável
de cães das raças especificadas em Minas Gerais. Essas legislações visam garantir
a segurança pública, o controle adequado dos animais e o bem-estar da
comunidade. Ao exigir o registro, documentação e a adoção de medidas de
segurança, busca-se evitar acidentes e promover um convívio harmonioso entre os
cães e as pessoas. Além disso, as consequências do descumprimento dessas
obrigações reforçam a importância da responsabilidade dos proprietários. O Disque-
Cão oferece uma ferramenta adicional para denúncias e contribui para a fiscalização
e cumprimento da legislação. Através do presente estudo concluiu-se que a criação
de animais pode contribuir significativamente para o bem-estar social, promovendo
interação social, melhorando a saúde mental e emocional, proporcionando
oportunidades educacionais e fortalecendo os laços comunitários. No entanto, é
fundamental lembrar que essa criação deve ser realizada com responsabilidade e
respeito pelos animais e pelas pessoas, visando o benefício mútuo e o bem-estar de
todas as partes envolvidas.
Referências

Marshall, T.H. (1950). Cidadania e Classe Social. Cambridge: Cambridge


University Press
Brasil. Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968. Dispõe sobre o exercício da
medicina veterinária. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 out. 1968.
Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5517compilada.htm>. Acesso em:
28 de junho de 2023
Bevilaqua, Ciméa Barbato. "Normas jurídicas e agências não-humanas: o caso
dos cães 'perigosos'." Avá, no. 19 (dezembro de 2011)
Minas Gerais. Lei Ordinária nº 16.301, de 7 de agosto de 2006. Disciplina a
criação de cães das raças que especifica e dá outras providências. Diário Oficial
do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 7 ago. 2006. Disponível em:
<https://leisestaduais.com.br/mg/lei-ordinaria-n-16301-2006-minas-gerais-
disciplina-a-criacao-de-caes-das-racas-que-especifica-e-da-outras-
providencias>. Acesso em: 26 de junho de 2023
Minas Gerais. Decreto nº 44.417, de 6 de dezembro de 2006. Regulamenta a Lei
nº 16.301, de 7 de agosto de 2006, que disciplina a criação de cães das raças que
especifica. Diário do Executivo, Belo Horizonte, MG, 7 dez. 2006. Disponível
em: <http://siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=6595>. Acesso em : 03
de julho de 2023
Brasil. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fev. 1998.
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>. Acesso
em: 22 de junho de 2023

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