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DANIELE NOGUEIRA
BELÉM
2023
FACULDADE DE VENDA NOVA DO IMIGRANTE
DANIELE NOGUEIRA
BELÉM
2023
EDUCAÇÃO MUSEAL E AS POSSIBILIDADES DE MEDIAÇÃO DO RETRATO DE D.
ROMUALDO DE SEIXAS NO MUSEU DE ARTE SACRA DO PARÁ
Declaro que sou autora¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).
1 artistadanielenogueira@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
3 A PINTURA:
3 Solidéu: Nome dado a tela ovalada que simboliza submissão a Deus. Nesta pintura o solidéu é
completamente preto, o que indica a posição um religioso privilegiado (DIRETO DA SACRISTIA, 2013);
Anel episcopal: Insígnia episcopal que representa a fidelidade do portador à Igreja Católica, assim como
sua eminente autoridade. Este anel deve ser beijado sempre que se cumprimenta o portador, em sinal de
respeito e obediência, pois é um símbolo da aliança espiritual que une o Bispo a sua igreja, levando-o no
dedo anelar da mão direita a fim de abençoar suas ovelhas (ARAUTOS, 2013); Cruz patriarcal: É um tipo
de cruz eclesiástica frequentemente utilizada pelos superiores, à altura do peito, como símbolo de que o
portador guarda a cruz no coração, assim como seu amor à fé cristã (ARAUTOS, 2013). Seu formato
parecer comum, no entanto, analisaremos a obra, com o método iconográfico de
Panofsky, que “é um ramo da história da arte que trata do tema ou mensagem das
obras de arte, em contraposição à sua forma. Enquanto a iconologia é o estudo da
formação, transmissão e conteúdo das imagens e representações figurativas.”
(HERNANDEZ e LINS, 2016, p. 12),
Figura 1 – Pintura de Franco Velasco em exposição no MAS/Pa
Este método é feito a partir de três etapas: da descrição pré iconográfica - uma
descrição da obra, no sentido estrito, detalhar os elementos na pintura; da análise do
contexto em que a obra foi produzida, para chegar finalmente a análise da obra em si.
Neste sentido, podemos iniciar descrevendo a tela como a representação
possivelmente uma sacada com cortinas em cor marrom, amarradas com cordas
grossas a colunas, que de forma sutil revelam ao fundo, um céu azulado e com nuvens,
em um local parece estar próximo ao que parece ser o topo de uma igreja com sino.
diferenciado lembra, através do braço superior, a inscrição a mando de pilatos na cruz de Jesus. Em
geral, é utilizada para distinção hierárquica, adotada por arcebispos e cardeais (ARQUIDIOCESE DE
BUENOS AIRES, 2019); Roquete: É a veste de cor branca, que tem seu cumprimento até os joelhos,
com mangas mais estreitas geralmente enfeitadas com rendas da mesma cor. Podendo ter os punhos
e/ou barra forrados. Seu significado relaciona o uso à autoridade do prelado (DOTRO & HELDER, 2002.
p. 143)
Neste espaço, um homem usando vestes de um bispo, está elegantemente sentado em
uma cadeira ricamente ornada e estofada.
4 “De tal retraímento foi êste Rafael baiano, que, em 1826, ocupa-do nos trabalhos de decoração
da citada capela de S. Joaquim dos Orfãos, quando esta prov. visitara o fundador do Império, Snr. D.
Pedro 1º, e que desejou tão pessoalmente conhecê-lo, apreciando-lhe as pinturas, substraiu-se a ser-lhe
apresentado o insigne artista” (OTT, 1947, p. 206)
como D. Frei Caetano Brandão5. No entanto, como confirmado através da dissertação
de mestrado do pesquisador e artista plástico Robson Luiz Barbosa, a localização da
obra que Franco Velasco fez para D. Romualdo de Seixas foi indicado pelo historiador
paraense Querino Campofiorito como estando no Pará6, e pela historiadora baiana
Marieta Alves, localizando a obra no Museu de Arte Sacra do Pará7.
E já que o personagem desta obra é determinado como D. Romualdo de Seixas,
devemos conhecer este homem que foi um grande nome para a religião e para a
política paraense: Nascido em Cametá, no Pará, desde cedo foi orientado para a vida
religiosa por seu tio, D. Romualdo Coelho. Estudou no Seminário do Pará, em Belém, e
aos 18 anos viajou para Portugal para finalizar sua educação formal. Voltando em 1805
para o Pará, coincidentemente quando acontecia a inauguração das aulas do Colégio,
fazendo assim, sua primeira aparição pública, grandemente elogiada pelos presentes,
inclusive pelo então governador do Pará, o 8º Conde dos Arcos.
Mas eles não foram os únicos conquistados por sua postura e eloquência, em
1809 após a chegada da família real, Romualdo de Seixas foi escolhido juntamente
com outro rapaz para representar os religiosos paraenses, e ao fazer a visita no Rio de
Janeiro, foi agraciado por D. João com o Hábito de Cristo e honras de cônego da Sé de
Belém. Somente após seu retorno, ele celebrou sua primeira missa em Cametá, mas
pouco tempo depois foi designado para substituir seu tio na capital, após seu
falecimento.
5 “Frei Caetano Brandão foi um franciscano português que atuou como bispo do Pará durante os
anos de 1783 a 1789. Conhecido como um dos mais eficientes bispos da época colonial (LIMA, 1919,
p.86), foi considerado excêntrico por seus contemporâneos “ao ponto de usar fivelas de cobre e meias
grossas tintas de vermelho; só no interesse de ter como suavizar a miséria dos pobres” (O SANTO
OFFICIO, 1873, p.IV). Como fruto de seu trabalho social e educativo no Pará, foi nomeado bispo de
Braga, voltando para Portugal e deixando a memória de seus feitos” (NOGUEIRA, 2022, p.8)
6 “Querino ainda afirma que Franco Velasco produzira pinturas para fora de Salvador, [...] E ainda
pintou o retrato de D. Romualdo, arcebispo da Bahia, com destino ao Pará. (QUERINO, 1909, p. 64, 66 e
67, apud SANTANA, 2005, p. 67)
7 “Sabe-se também que, no Pará encontra-se um retrato de D. Romualdo Antonio de Seixas,
trabalho excelente de Velasco (ALVES, FIFB, 1942, cad.5, p.5 apud SANTANA, 2005, p. 71) pertencente
ao Museu de Arte Sacra do Pará.
Neste período acontecia grande movimentação em Belém devido a aclamação
de Independência do Brasil e a negação do Pará em aceitá-la, D. Romualdo exerceu
grande influência sobre os paraenses por sua posição de Vigário Capitular. Atuando
ativamente nas eleições da Junta Provisória do Pará, marcando assim, o início de sua
vida política, sendo eleito em 1826 o representante paraense na Câmara dos
Deputados e nomeado no mesmo ano como Arcebispo da Bahia. Passando assim a
viver em Salvador, na Bahia, sendo caracterizado como um representante político
fortemente influenciado por sua religiosidade, e que podia ser facilmente situado no
grupo da câmara que se definia a favor do Imperador D. Pedro I. Trabalhou neste cargo
por 4 mandatos e durante 33 anos como arcebispo da Bahia, até seu falecimento em
1860.
8 Words, of course, were a crucial element in most signatures, and as the examples of Carpaccio
and Bellini have demonstrated, the wording began to change noticeably around 1500. As painters
asserted their presence in their paintings more aggressively, it was surely not coincidental that the area of
greatest change in their signatures involved the verbs - the words that described the act of creating. As we
have seen, the Iatin verb pingere (to paint) had been the most popular since the late Middle Ages,
generally in the perfect tense (pinxit) if written out. Matthew, L. C. (1998). The Painter’s Presence:
Signatures in Venetian Renaissance Pictures. The Art Bulletin, 80(4), p. 636.
https://doi.org/10.2307/3051316
9 “Só o simples lume da razão havia ensinado aos povos mais rudes e incultos, que sendo os
soberanos e chefes das nações destinados pela Providência para fazerem a felicidade de seus súditos, a
sua conservação e a sua vida podia deixar de considerar se na frase do eloqüente Bossuet como um
bem público, digno de votos, do amor e do interesse de toda a nação. Daqui vem o espontâneo e antigo
grito “viva o rei ou o imperador”, comum a todos os povos governados por um monarca. Daqui a fórmula
do juramento usada até entre os primeiros cristãos que pela saúde do príncipe, como se fosse uma coisa
sagrada e digna de religiosa veneração.” (SEIXAS, 1709, apud SANTOS, 2014, p. 99)
mesmo encontrar semelhanças entre os dois, que estavam intimamente ligados à corte
monárquica de seus lugares de origem, além de exercerem forte influência política.
Bossuet, é claro, muito mais que Romualdo, mas ainda assim, interligados por uma fé e
ideologia.
Ainda é possível entender que na pintura, Velasco utilizou de seus
conhecimentos para fazer em sua obra, o auge do estilo de pintura renascentista de
grandes líderes, comunicou inteligentemente o retratado e seu modo de vida e ideais
nas entrelinhas de seu relato imagético.
4 CONCLUSÃO
Burke, Peter. Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica / Peter
Burke; tradução Vera Maria Xavier dos Santos. – 1.ed. – São Paulo: Editora Unesp
Digital, 2017.