Você está na página 1de 8

Espírito e cultura: o Brasil ante o sentido da vida

Olavo de Carvalho
31 de dezembro de 1999

Primeira Meditação de Ano Novo


Por vezes, do fundo obscuro da alma humana, soterrada de paixões e
terrores, nasce um impulso de libertar-se da densa confusão dos tempos e
erguer-se até um ponto onde seja possível enxergar, por cima do caos e das
tormentas, dos prazeres e das dores, um pouco da harmonia cósmica ou
mesmo, para além dela, um fragmento de luz da secreta ordem trancendente
que — talvez — governa todas as coisas.
É o impulso mais alto e mais nobre da alma humana. É dele que nascem
todas as descobertas da sabedoria e das ciências, a possibilidade mesma da
vida organizada em sociedade, a ordem, as leis, a religião, a moralidade, e
mesmo, por refração, as criações da arte e da técnica que tornam a existência
terrestre menos sofrida.
Nenhum outro desejo humano, por mais legítimo, pode disputar-lhe a
primazia, pois é dele que todos adquirem a quota de nobreza que possam ter,
residindo mesmo aí o critério último da diferença entre o humano e o sub-
humano (ou anti-humano) e, por conseguinte, para além de toda controvérsia
vã, a chave da distinção entre o bem e o mal. É bom o que nos eleva à
consciência da ordem e do sentido supremos, é mau o que dela nos afasta.
Não tem outro significado o Primeiro Mandamento: Ama a Deus sobre todas
as coisas.
Acontece que a esse impulso fundamental corresponde um outro, derivado
mas não menos forte: aquele que leva o homem que entreviu a ordem e o
sentido a desejar repartir com os outros homens um pouco daquilo que viu.
Não há certamente maior benefício que se possa fazer a um semelhante:
mostrar-lhe o caminho do espírito e da liberdade, pelo qual ele pode se elevar
a uma condição que, dizia o salmista, é apenas um pouco inferior à dos anjos.
Tal é, substancialmente, a forma concreta do amor ao próximo: dar ao outro o
melhor e o mais alto do que um homem obteve para si mesmo. Amamos o
nosso próximo na medida em que o elevamos à altura dos anjos. Fazemos-
lhe o mal quando o rebaixamos à condição de bichinho, seja com maus tratos,
seja com
afagos.
Nessas duas exigências está contida, dizia Cristo, toda a lei e os profetas.
Para grande escândalo do relativismo pedante que desejaria nos convencer
da geral discórdia entre os valores culturalmente admitidos nas várias
sociedades, a universalidade desse duplo mandamento é um dos dados mais
evidentes da história mundial. Não há com efeito civilização, por mais remota
ou “bárbara”, que não tenha valorizado, acima de todas as outras virtudes e
motivações humanas, o impulso para o conhecimento e o ensino da “única
coisa necessária”. O prestígio universal do sacerdócio — no sentido amplo
que Julien Benda dava à palavra clerc, que inclui a presente classe dos
“intelectuais” — é o mais patente sinal de que, por trás de toda a confusão
aparente das línguas, a humanidade unânime tem plena consciência de uma
hierarquia de valores que, se fosse questionada, suprimiria no ato a
possibilidade mesma do questionamento, já que não se pode questionar um
saber exceto em vista de um saber mais alto.
***
A observações gerais, suficientemente óbvias para só terem de ser lembradas
explicitamente em situações de desorientação e confusão incomuns, eu
desejaria aqui dar alguns desenvolvimentos mais particularizados e mais
ligados à existência histórica, concernente, de um lado, à cultura e à
civilização — consideradas ainda em escala geral —, de outro à presente e
catastrófica situação da cultura brasileira.

Com relação ao primeiro ponto:


1. Embora o impulso ascensional a que me referi seja sempre e
universalmente o mesmo, o movimento de doação e repartição que se lhe
segue tem de tomar, por força, a forma dos canais de comunicação existentes
numa sociedade historicamente dada: língua, símbolos, valores, etc. Daí que
se possa sempre observar, no estudo das manifestações superiores da
espiritualidade, esse duplo direcionamento, que de um lado atesta a
convergência dos Caminhos percorridos pelos homens espirituais de todo o
mundo (“tudo o que sobe converge”, dizia Teilhard de Chardin), de outro a
pluralidade inesgotável das formas assumidas pelos testemunhos
incorporados ao legado cultural: textos, obras de arte, leis, etc. (1)
2. Todo fenômeno de ascensão interior, sem exceção, começa sempre com
um indivíduo isolado — e que, no curso da sua caminhada, é levado a isolar-
se ainda mais da comunidade em busca da necessária condição de
concentração espiritual —, e se completa com a irradiação de parte dos
conhecimentos obtidos, de início numa discreta roda de companheiros ou
discípulos investidos
da mesma disposição para o isolamento e a concentração, em seguida em
círculos cada vez maiores, até abranger comunidades, sociedades e
civilizações inteiras. (2)
3. No processo de irradiação, intervêm a memória e o registro. De início
transmitidos oralmente e sustentados pela presença e pelo exemplo do
mestre, os ensinamentos não tardam a registrar-se, não raro sob a forma
compacta de sentenças lacônicas ou de narrativas alusivas e simbólicas — ou
grafismos, ou melodias — que constituirão o núcleo irradiante em torno do
qual se formará, com o tempo, a cultura. Esta pode abranger desde simples
repetições imitativas das formas originárias até uma infinidade de
desenvolvimentos intelectualmente relevantes. Qualquer que seja o caso, é
uma fatalidade da constituição humana que a reprodução das condições
internas e psicológicas do aprendizado, que depende exclusivamente da livre
iniciativa dos futuros aprendizes e só pode ser estimulada mas não
determinada pela cultura, não acompanhe jamais a velocidade da proliferação
das criações culturais que refletem o núcleo inspirador inicial de maneiras
cada vez mais distantes, apagadas, indiretas e finalmente invertidas. O que
começou como uma intuição direta da ordem suprema termina como debate
entre ignorantes e cegos esmagados sob toneladas de registros materiais
tornados incompreensíveis.
4. Esses três momentos refletem, no microcosmo da história humana, os três
gunas ou “movimentos básicos do cosmos” de que fala a doutrina hindu:
sattwa ou movimento ascensional, rajas ou movimento expansivo, e tamas,
ou movimento descendente, degradante e “entrópico”. Rajas nasce de
sattwaassim como o Segundo Mandamento decorre do Primeiro. O terceiro
momento nasce do segundo, quando se torna autônomo e perde sua raiz no
primeiro: quando o amor do ser humano ao ser humano já não visa a elevá-lo
acima de si mesmo, mas se limita a desejá-lo e agradá-lo, o amor se degrada
em lisonja, a lisonja em manipulação e a manipulação em ódio. No fim já não
é possível distinguir uma coisa da outra e o ponto mais fundo do engano se
atinge quando o grosseiro e o brutal, a revolta e o fanatismo passam a ser
aceitos socialmente como manifestações do “autêntico”, quando são apenas o
resultado de uma longa sedimentação de erros e um condensado de todas as
idolatrias passadas. Na esfera intelectual, a mesma coisa: quando o ensino e
a cultura já não transmitem a inspiração originária mas põem em seu lugar o
culto idolátrico das formas acumuladas historicamente (o que pode tomar a
forma do dogmatismo seco, ou do estetismo, ou do formalismo social, etc.),
ainda resta a possibilidade de uma reconquista do sentido interior, mas a
proliferação mesma das criações culturais, ilusoriamente tomada como
riqueza, torna isso cada vez mais difícil, e por fim a acumulação de pontos
cegos se condensa num aglomerado de erros fundamentais — uma
“revelação satânica” — que, justamente por seu caráter compacto, obscuro,
brutal e impressionante, é tomado ilusoriamente como uma descoberta
libertadora. Que um “filósofo” tenha chegado a explicar a história pela
organização econômica, como se a organização econômica surgisse do nada,
como se ela pudesse brotar diretamente do substrato animal do homem,
como se ela não fosse reflexo e subproduto da elevação do homem em
direção à percepção da ordem cósmica — eis um curioso e trágico exemplo
dessa inversão onde a densidade mesma das trevas é tomada como uma
espécie de fulgor. (3)
5. Um dos traços marcantes do período entrópico é que a própria
administração de uma vasta e crescente coleção de registros culturais requer
a formação de uma classe de letrados para a qual esse legado, considerado
em si mesmo e independentemente de qualquer referência às suas fontes
inspiracionais, se torna objeto de estudo e devoção. Técnicas especiais são
criadas para esse fim — a bibliografia e a bibliologia, a filologia, a crítica
histórica dos documentos, a análise estrutural — e essas técnicas por sua vez
se acumulam até o ponto de constituir um universo cultural de direito próprio.
Algumas delas podem visar à simples conservação ou reconstituição dos
documentos, outras à sua “interpretação” em função das épocas e ideologias,
outras a elucidar sua estrutura interna, etc. Todas são alheias ao problema
central: assegurar que o
examinador tenha a condição interior de elevar-se à experiência originária da
qual o documento é registro. Essa condição é dada por pressuposta ou
deixada à casualidade do maior ou menor talento pessoal. Ela está
completamente fora do processo investigativo e educativo, que assim tem o
seu foco inteiramente voltado, seja para os registros em si, seja para suas
circunstâncias, para o que lhes está em torno. Mostrar habilidade no domínio
dessas torna-se o critério essencial de seleção e avaliação na vida intelectual,
e o decorrente desvio das discussões para uma infinidade de aspectos
menores e irrelevantes produz a criação de novas e novas técnicas, tornando
a vida intelectual uma insensata demonstração de força e, no fim, produzindo
por inevitável reação o surgimento de técnicas para destruir as técnicas e
para provar a absoluta inocuidade dos
documentos.
***
Com relação ao segundo ponto, isto é, à situação atual da cultura brasileira, o
que é preciso enfatizar é o seguinte:
1. Em quinhentos anos de existência, a cultura deste país não deu ao mundo
um único registro de experiência cognitiva originária. Nossa contribuição ao
conhecimento do sentido espiritual é, rigorosamente, nula. Não há nas
correntes culturais do mundo um único símbolo, conceito, idéia ou palavra
essencial à conhecimento, que tenha sido descoberta de um brasileiro. Toda
a nossa “produção cultural” consiste apenas de prolongamentos e ecos de
registros absorvidos de culturas estrangeiras. (4) Nesse sentido, nossa cultura
é rigorosamente “periférica” em relação à história espiritual do mundo.
Periférica, portanto, num sentido bem diverso ao que essa palavra tem no
jargão do academismo esquerdista (Celso Furtado, Fernando Henrique
Cardoso, etc.), onde centro e periferia são economicamente determinados e
daí decorre uma teoriagrotesca que identifica o centro espiritual do mundo ao
centro do poder econômico — teoria ela mesma periférica, no sentido que dou
ao termo.
2. Como entramos no curso da história num momento em que as culturas que
nos serviam de fontes já se encontravam elas próprias num estado avançado
de decomposição entrópica, perdendo cada vez mais de vista as intuições
originárias e enrijecendo-se num formalismo do qual agora tentam
desesperadamente sair mediante a decomposição geral das formas (como
um homem que, cansado de tentar em vão compreender um livro passa a
rasgá-lo na esperança de da sua decomposição física obter a sua
quintessência), toda a história da nossa cultura é a do eco de um eco, da
sombra de uma sombra. Todos sabemos disso e temos vergonha disso.
Procuramos inutilmente aliviar essa má-consciência lançando as culpas no
econômico (o que já é reflexo de uma ilusão, portanto duplamente periférico),
ou então apegando-nos à quantidade e declarando que o volume de uma
produção irrelevante e repetitiva é prova de nossa “criatividade”.
3. Considerando-se os nossos cinco séculos de história, a extensão física e o
volume populacional deste país, a nulidade da nossa contribuição espiritual
chega a ser um fenômeno espantoso, sem paralelo na história do mundo. O
desinteresse, a letargia espiritual da cultura brasileira, a prisão da inteligência
nacional na esfera do econômico imediato, são sinais de uma pequenez de
alma que jamais se observou em tão impressionante escala coletiva. Se
existissem verdadeiros estudiosos acadêmicos entre nós esse tema seria
motivo de preocupação e debates. Mas toda a nossa vida acadêmica é ela
própria reflexo desse fenômeno, que escapa portanto ao seu horizonte de
visão: nossas classes letradas não têm força sequer para tomar consciência
da sua própria miséria espiritual.
4. Nem mesmo no domínio religioso, que é aquele onde a busca espiritual
tem o seu suporte mais fácil e natural, registramos uma única experiência que
atestasse algo como um contato direto, mesmo breve e fugaz, entre um
brasileiro e o sentido da vida cósmica. Toda a nossa “religiosidade” é
periférica e imitativa, resíduo da decomposição de cultos extintos ou cópia de
pseudo-religiões inventadas na Europa ou nos Estados Unidos.
5. É exatamente por isso que toda ideologia nacionalista, entre nós, tem sido
simplesmente reativa e oportunista, já que não pode se fundar em valores
espirituais inexistentes. A pressa com que nosso povo copia hábitos e modos
de falar estrangeiros, dando mesmo a seus filhos nomes ingleses ou
franceses, mostra a profunda indiferença popular por uma cultura que nada
tem a lhe dizer sobre o sentido da vida e que, no máximo, lhe fornece, na
música popular, no
futebol e no Carnaval, os meios e a ocasião de se anestesiar, por meio de
ruídos sem sentido, contra o sem-sentido da vida. Nosso nacionalismo, por
isto, não pode se compor de verdadeiro amor à pátria, exceto em estreitos
círculos — por exemplo nas Forças Armadas ou em antigas famílias de altos
servidores públicos — que têm sua história comunitária ligada às lutas pela
formação política do Brasil e por isto amam sua criação. Pode também haver
um certo amor à pátria na constatação direta de certas virtudes espontâneas
da sociedade brasileira, mas esta constatação, em vez de ser reforçada no
nível da cultura letrada é aí desmentida à força de sofismas de um
artificialismo impressionante (produzidos, é verdade, a soldo das fundações
Ford e Rockefeller, mas por pessoas que, por outro lado, sendo esquerdistas,
se acreditam piamente nacionalistas e antiamericanas, o que já basta para
atestar a leviana superficialidade de suas inteligências). Fora disso, o
nacionalismo no Brasil se constitui apenas de ressentimento antiamericano —
motivado antes pelas culpas recalcadas da classe letrada do que por queixas
objetivas, embora estas existam — e não tem nenhum fundamento cultural
autêntico.
6. Toda aspiração nacional de tornar-se “grande potência” com uma base
cultural tão nula está condenada, de antemão, seja ao fracasso, seja a um
sucesso que se tornará, caso alcançado, um flagelo para a humanidade,
obrigada a curvar-se ante a força bruta de novos bárbaros que nem sequer
têm um senso próprio de orientação na História onde interferem cegamente.
7. Todo patriotismo, aqui, é investimento num país imaginário e meramente
possível, apenas toscamente prenunciado pelas virtudes populares
espontâneas que mencionei, as quais aliás se dissolvem velozmente sob o
impacto do discurso destrutivo que hoje é o Ersatz de moralidade entre as
nossas classes letradas. Quem deseje contribuir para que esse país se torne
realidade só tem um caminho a seguir: lutar para que a cultura brasileira se
ligue às fontes centrais e permanentes do conhecimento espiritual, para que a
experiência da visão espiritual ingresse no nosso horizonte de aspirações
humanas e, uma vez obtida, faça explodir, com a força das intuições
originárias, todo um mundo de formas imitativas e periféricas, gerando uma
nova vida.
O resto é pura agitação sem finalidade.
NOTAS
1. Sempre houve por isso uma tensão criadora entre a abordagem “interna”
ou espiritual desses estudos e a sua abordagem “externa”: cultural, histórica,
sociológica, etc. Um exemplo do primeiro ponto de vista — um corte “estático”
no panorama das espiritualidades mundiais, mostrando a substancial unidade
das experiências interiores em todas as épocas e civilizações — é dado na
monumental antologia de textos sagrados, espirituais e místicos organizada
por Whitall N. Perry sob o título A Treasury of Traditional Wisdom (Pates
Manor, Bedfont, Middlexex: Perennial Books, 1971, 2nd. Ed. 1981). A
abordagem “externa” é também necessária, mas é realizada em geral por
diletantes a quem o sentido “interno” escapa por completo — Mauss,
Benedict, Mead, Lévy-Strauss, Sapir, para não falar nada da vulgata marxista
—, e seu resultado é praticamente nulo. Mircea Eliade, no seu clássico
Tratado de História das Religiões, parte de uma efetiva apreensão interior da
unidade, mas, diante da
variedade dos fenômenos que a manifestam, não consegue passar da
primeira etapa do esforço de racionalização científica, que é a classificação.
Bem mais longe vai Eric Voegelin em Order and History, 5 vols., Baton
Rouge: Louisiana
University Press, 1956-1981, gigantesco e bem sucedido esforço de articular,
segundo um corpo organizado de conceitos e métodos, a unidade latente da
percepção da ordem e a sucessão histórica de suas várias manifestações.
2. Um breve exame da regularidade invariável com que esse fenômeno se
repete ao longo das eras, bem como da constância com que em torno deles
se articulam as grandes mutações históricas, basta para notar que o Primeiro
eo
Segundo Mandamentos não são apenas as banais receitas normativas e
devocionais em que os converteu a estúpida pseudo-religiosidade
contemporânea (vaticana inclusa), mas a clave reguladora do devir, os
princípios fundamentais da ontologia do ser histórico.
3. Imaginar que essa macabra inversão da realidade pudesse levar a outro
resultado que não à criação do Estado mais homicida que já existiu é coisa de
hipnotizados. O marxismo é a causa intelectual direta de tudo o que se
passou no mundo comunista e todo marxista é cúmplice consciente ou
inconsciente do
genocídio soviético-chinês. — Aliás, já passei do tempo em que, tendo-me
despedido do meu marxismo juvenil, ainda podia falar de Karl Marx com
respeito. Quanto mais o conheço, mais o desprezo. Ele nunca foi filósofo, foi
apenas um satanista deslumbrado, um mentiroso contumaz e um charlatão
capaz das piores falsificações científicas, além de um racista capaz de se
referir a negros e orientais como “lixo étnico”, um burguês hipócrita capaz de
proibir à mesa da família a presença do filho bastardo que tivera com a
empregada, e, o que é pior de tudo, um espião a serviço do governo
austríaco, delatando por baixo do pano os mesmos companheiros nos quais
insuflava o ardor revolucionário com discursos impregnados de ódio. Se
querem tirar a dúvida, leiam, além dos capítulos indispensáveis que lhe
dedicaram Paul Johnson em Intelectuais e Edmund Wilson em Rumo à
Estação Finlândia, o assombroso Marx and Satan, de Richard Wurmbrand. O
pastor Wurmbrand, uma das figuras
exponenciais da espiritualidade do século XX, judeu convertido ao
protestantismo, foi preso e torturado pelos comunistas durante quatorze anos
(as cicatrizes das torturas repetidas foram comprovadas por uma comissão da
ONU) pelo crime de levar o conforto religioso aos prisioneiros.
4. Creio que a obra de Mário Ferreira dos Santos contém mais de um registro
de descoberta espiritual originária e que, por isto mesmo, quando a palavra
“Brasil” tiver se apagado da memória do mundo, essa obra ainda viverá. Mas,
por enquanto, não há lugar para ela numa cultura nacional que ainda não se
elevou à altura de compreendê-la, e por isto seria injusto chamá-la de
contribuição “brasileira”. Um país não tem nenhum direito de se apropriar de
méritos que não soube sequer reconhecer. Tratase portanto de descoberta de
um indivíduo, que por estar fora da sua cultura nacional nada deve a ela e, a
rigor, vale mais do que ela inteira.

Você também pode gostar