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Clóvis Ecco
José Reinaldo F. Martins Filho
(Organizadores)
Prefácio
José Ternes
Introdução
associados, tirando algumas conclusões. O trabalho todo, porém, sentimos como nosso,
cousa que temos debatido e conversado ao longo dos anos por e-mail, telefone e, mais
recentemente, também na mútua presença.
31 Δοκεῖ δ’ αὐτοῖς ἀρχὰς εἶναι τῶν ὅλων δύο, τὸ ποιοῦν καὶ τὸ πάσχον. τὸ μὲν οὖν
πάσχον εἶναι τὴν ἄποιον οὐσίαν τὴν ὕλην, τὸ δὲ ποιοῦν τὸν ἐν αὐτῇ λόγον τὸν θέον.
D.L., VII, 134. Nossa tradução.
A eucharistia em Epicteto
(1) O ser humano que põe seu bem em coisas fora de seu
encargo (aprohairéticas) acusará a Deus quando essas coisas
lhe forem retiradas; não será, portanto, grato a Deus.
(2) Será grato a Deus o ser humano que põe seu bem em coisas
sob seu encargo, coisas que não podem de forma alguma ser
suprimidas e sobre as quais temos plena responsabilidade.
Pois aquele que põe seu bem nas coisas sob seu encargo
reconhece que apenas elas têm para si valor por si mesmas e que,
portanto, seu próprio valor como ser humano depende unica-
mente de si, i.e. do cultivo de sua capacidade de escolha e, con-
sequentemente, de suas próprias escolhas, pelo que será grato a
40 ἐκεῖ γὰρ καὶ θεοῖς εὐχαριςτοῦμεν, ὅπου τὸ ἀγαθὸν τιθέμεθα. Cf. Ench. 31.4
(“Pois aí onde está o interesse, aí também está a piedade”); Mateus, 6.21 (“Pois onde
está teu tesouro, aí também está teu coração”). Nosso negrito.
45 To proairetikon.
46 Portanto, os três tópicos – escolha (prohairesis), desejo ou repulsa (orexis ou ekklisis) e
impulso (horme)— são cobertos, demonstrando-se que funcionam de modo desimpedido.
52 Cf. Epict. Diss. 1.16.7. E certamente, por Zeus e pelos Deuses, uma só das coisas
produzidas pela Natureza leva o homem digno e grato a perceber a Providência (Pronoia).
53 Pronoia.
54 Parerga: “ações subordinadas, acessórias”.
55 Eph’hemon. Dobbin traduz a expressão por “in our case”; Georg Long, por “in us”. Talvez
Epicteto chame essas ações da natureza como “dependentes de nós” porque podemos alterá-las em
alguma medida, embora não sejam eph’hemin em sentido estrito.
56 Nous.
57 Cf. MAA, 5.33.
Conclusões
61 Quanto à piedade em relação aos Deuses, sabe que o mais importante é o seguinte:
que possuas juízos corretos sobre eles que eles existem e governam todas as coisas de
modo belo e justo – e que te disponhas a obedecê-los, a aceitar todos os acontecimen-
tos e segui-los espontaneamente como realizados pela mais elevada das inteligências.
(Epict. Ench. 31.42).
62 Epict. Diss. 2.16.28-29.
63 Epict. Diss. 4.19 e 21.
68 Nous.
69 Epict. Diss. 1.16.15-18.
Referências
73 Este texto foi modificado parcialmente em sua forma e em seu conteúdo para
integrar este livro. Sua versão original foi publicada na Revista Ipseitas, sob o título:
Política e religião: uma relação possível? Meus mais sinceros agradecimentos a toda a
equipe da revista.
74 WRAIGHT, Rousseau’s The Social Contract, 2008, p. 114.
Referências
Introdução
107 Cf. Ph. G: 480: “Alsdann hat der Geist den Begriff seiner selbst erfaßt, wie wir
nur erst ihn erfaßt haben, und seine Gestalt oder das Element seines Daseins, indem
sie der Begriff ist, ist er selbst”. FE: 465.
Metafísica ontológica
110 Ph.G: 556: “ist das absolute Wissen; es ist der sich in Geistsgestalt wissende
Geist oder das begreifende Wissen”. FE: 537.
111 Ph.G: 65: “Diese Konsequenz ergibt sich daraus, daß das Absolute allein wahr
oder das Wahre allein absolut ist”. FE: 72.
112 Cf. Ph.G: 65-66. FE: 73.
113 Ph.G: 548-49: “Dies ist die Bewegung des Bewußtseins, und dieses ist darin die
Totalität seiner Momente”. FE: 530
114 Ph.G: 476: “Die Religion setzt den ganzen Ablauf derselben voraus und ist die
einfache Totalität oder das absolute Selbst derselben”. FE: 461.
115 Ph.G: 556: “Was also in der Religion Inhalt oder Form des Vorstellens eines Ande-
ren war, dasselbe ist hier eigenes Tun des Selbsts; der Begriff verbindet es, daß der Inhalt
eigenes Tun des Selbsts ist; denn dieser Begriff ist, wie wir sehen, das Wissen des Tuns
des Selbsts in sich als aller Wesenheit und alles Daseins, das Wissen von diesem Subjekte
als der Substanz und von der Substanz als diesem Wissen seines Tuns”. FE: 536.
116 Ver o artigo de OLIVEIRA, Manfredo, de Araújo. “Hegel, síntese entre raciona-
lidade antiga e moderna”. In: Comemoração aos 200 anos da “Fenomenologia do Espírito”
de Hegel. Fortaleza: UFC, 2007.
117 Id. Ibid: p. 56.
Conclusão
Clóvis Ecco
José Reinaldo F. Martins Filho
Introdução
140 Há quem aponte os limites dessa avaliação: “nas suas afirmações sobre o cristia-
nismo, Feuerbach ignora totalmente as afirmações sobre a alteridade de Deus que, por
isso, não se sujeita simplesmente ao esquema da projeção do desejo. Ignora também
que a teologia sempre acentuou que, em seu discurso analógico sobre Deus, há mais
diferenças que semelhanças. Mas nem por isso deve-se menosprezar a crítica que ele
faz da religião e do cristianismo. Apesar das unilateralidades, propõe problemas ainda
não resolvidos” (ZILLES, Filosofia da religião, 1991, p. 117).
141 FEUERBACH, Preleções sobre a essência da religião, 1989, p. 23.
Referências
161 O papel central da questão do último Deus é explorado, por exemplo, por G.
Figal, Gottesvergessenheit. Über das Zentrum von Heideggers „Beiträgen zur Philosophie“,
in Zu Heidegger. Antworten und Fragen, Frankfurt a. M., 2009, 145-62. O autor conclui
que, a partir do pensamento heideggeriano nos Beiträge zur Philosophie, que o pensar
filosófico necessita de uma própria e original “experiência religiosa”, para colocar de
modo mais fundamental a questão do ser. Para além de um misticismo racional, isto
quer dizer que a teologia do último Deus é uma radicalização da questão de Heide-
gger e de temas fundamentais do seu pensamento, por exemplo, a compreensão do
ser (Seinsvertändnis). Veja também, C. Esposito, L’essere (di) Dio nei «Contributi alla
filosofia», in Heidegger. Storia e fenomenologia del possibile, Bari, 2003, 315-32.
162 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie (Vom Ereignis), Frankfurt a. M.:
Vitorrio Klostermann, 2003, p. 405; tr. esp. Aportes a la filosofía. Acerca del Evento,
Buenos Aires: Biblos, 2006, p. 325.
163 M. Heidegger, Martin Heidegger entrevistado pelo Der Spiegel, in Escritos Po-
líticos, Lisboa: Piaget, 1997, p. 233. Sobre o sentido desta polêmica declaração, cfr. F.
Dastur, Heidegger et la pensée à venir, Paris: Vrin, 2001, p. 94-95.
166 Cfr. M. Heidegger, Bauen Wohnen Denken, in Vorträge und Aufsätze, Sttu-
tgart: Klett-Cotta, 2004, p. 144-46; tr. por., Construir, habitar, pensar , in Ensaios e
conferências, Petrópolis: Vozes, p. 130-31.
167 Cfr. M. Heidegger, «...dichterisch wohnet der Mensch...», in Vorträge und Au-
fsätze, Sttutgart: Klett-Cotta, 2004, p. 194-95; tr. por., “... poeticamente o homem
habita..”, in Ensaios e conferências, Petrópolis: Vozes, p. 176-77.
168 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 204; tr. esp., p. 171; “Wie wenn
am Feiertag...”, p. 74; tr. it., p. 90.
169 Cfr. M. Heidegger, »Wie wenn am Feiertag...«, p. 77; tr. it., p. 93.
171 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 115; tr. esp., 105.
172 Cfr. M. Heidegger, Besinnung, Frankfurt a. M.: Vittorio Klostermann, 1997, p.
240-41; tr. por., Meditação, Petrópolis: Vozes, 2010, p. 200.
173 Cfr. M. Heidegger, Besinnung, p. 239-40; tr. por., p. 199-200
180 M. Heidegger, Brief über den »Humanismus«, p. 325, 330; tr. por., p. 338, 342.
181 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, 319-20; tr. esp., 259.
182 M. Heidegger, Brief über den »Humanismus«, p. 330-31; tr. por., p. 343.
186 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 405; tr. esp., p. 325. Tradução minha.
187 Cfr. M. Heidegger, Besinnung, p. 254-55 ; tr. por., p. 212-13.
188 M. Heidegger, Besinnung, p. 242 ; tr. por., p. 202. Inclui a próxima citação.
189 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 236; tr. esp., p. 195. Tradução minha.
190 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 279; tr. esp., p. 400.
191 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 18; tr. esp., p. 33: Tradução minha,
grifos de Heidegger.
192 M. Heidegger, Besinnung, p. 242; tr. esp., p. 202.
196 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 405; tr. esp., p. 325. Tradução
minha. Inclui a próxima citação.
197 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 409; tr. esp., p. 328. Tradução minha.
198 Consequentemente, admitir, como diz C. Esposito (L’essere (di) Dio nei «Con-
tributi alla filosofia», p. 330), a “insuperabile ‘autosufficienza’ del rifiuto” como o ser (de)
Deus nos Beiträge.
199 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 411; tr. esp., p. 330. Tradução mi-
nha, grifo de Heidegger. Faz-se notar que a expressão zögernde Sichversagen, até agora
traduzida por hesitante recusar-se, foi alterada em vista de evitar repetição do termo
“recusa”. A distinção será feita, justapondo à tradução o termo alemão. No contexto
da sexta seção da obra em análise, tenha-se em mente que Verweigerung conecta-se à
recusa do divino, enquanto Versagen aponta para a recusa do ser como tal.
523-24, que nota como Heidegger toma em empréstimo figuras bíblicas. Aliás, em
concordância com esse autor, a razão apresentada logo a seguir para a introdução de
uma figura divina no pensamento da história do ser, nos Beiträge, não é a única. De-
monstrar a necessidade dessa introdução a partir da questão do niilismo, evidenciando
a decisão de pensamento que essa questão comporta para a crítica situação presente,
isto é o mérito desse estudo.
202 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 407-8; tr. esp., p. 327-28. O
dinamismo dessa estrutura, compreendido a partir do acontecimento da fuga e do
advento dos deuses, é resumido no seguinte modo: „Kehre ist Wieder-kehre“, “a viragem
é contraviragem”. O apelo do Deus (através do ser) ao homem requer que esse se volte
àquele, consumando a contraviragem ao guardar silenciosamente, no tempo-espaço de
sua existência, o aceno do divino.
203 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 408; tr. esp., p. 327. Tradução minha.
204 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 409; tr. esp., p. 328.
205 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 413; tr. esp., p. 331.
206 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 412-13; tr. esp., p. 330-31. Tradução
minha, grifo de Heidegger.
207 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 405; tr. esp., p. 325.
208 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 371; tr. esp., p. 297.
209 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 410; tr. esp., p. 329. Tradução
minha, grifos de Heidegger. Inclui a próxima citação.
210 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 414; tr. esp., p. 332. Tradução minha.
211 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 412; tr. esp., p. 330. Tradução minha.
212 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 262; tr. esp., p. 216.
213 M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 408; tr. esp., p. 327. Tradução minha.
4. Deus ou deuses?
215 Cfr. M. Heidegger, Einführung in die Metaphysik, p. 34-8; tr. por., p. 71-5. A
situação fático-histórica descrita nessas páginas como desvigoramento epocal do espí-
rito, não como crise de fim de século, é analisada por J. Derrida, Dello Spirito. Heide-
gger e la questione, Milano: SE, 2010, p. 66-79.
216 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 437; tr. esp., 348-49.
217 Cfr. M. Heidegger, Beiträge zur Philosophie, p. 411; tr. esp.,329-30. Tradução
minha. Inclui a próxima citação.
227 Para Dany-Robert Dufour, a salvação continua a todo vapor através das receitas
alienantes dadas pelo deus Mercado, um deus que supervaloriza o egoísmo, o laisser-
-faire, a esquizofrenia e o acúmulo das ‘admiráveis’ mercadorias. Nesse Mercado divino,
repleto de bravatas hedonistas, Dufour questiona o sujeito liberal ou ultraliberal que se
diz ateu: “O que há de mais triste do que essas fanfarronadas atéias que não sabem que
obedecem aos desejos de um novo deus?” (DUFOUR, O mercado divino, 2008, p. 89).
228 NIETZSCHE apud ALMEIDA, Para além da morte dos deuses, 2009, p. 228.
229 ALMEIDA, Para além da morte dos deuses, 2009, p. 228, aspas da autora.
Da semente às folhagens
probabilidade da existência de Deus, mesmo sem prova empírica, a vida será mais pro-
veitosa que se formos ateus. Apostando que Deus existe, “se ganhardes, ganhareis tudo;
se perderdes, não perdereis nada” (PASCAL, Pensamentos, 1979, p. 95, seção 233).
238 VATTIMO, Depois da cristandade, 2004, p. 31.
239 VATTIMO, Depois da cristandade, 2004, p. 33.
Considerações finais
Referências
Introdução
265 MARIANO, Mudanças no campo religioso brasileiro no censo de 2010, 2013, p. 120.
266 ARAÚJO DE OLIVEIRA, Bases antropológicas da espiritualidade humana, 2016.
275 MINOIS, História do ateísmo: os descrentes no mundo ocidental, das origens aos
nossos dias, 2014, p. 31.
279 MINOIS, História do ateísmo: os descrentes no mundo ocidental, das origens aos
nossos dias, 2014, p. 4.
280 MINOIS, História do ateísmo: os descrentes no mundo ocidental, das origens aos
nossos dias, 2014, p. 4.
281 MINOIS, História do ateísmo: os descrentes no mundo ocidental, das origens aos
nossos dias, 2014, p. 57.
286 ONFRAY apud PAULA, Márcio Gimenes de. Resenha do livro tratado de ateo-
logia, 2007, p, 282.
287 COMTE-SPONVILLE, O espírito do ateísmo: introdução a uma espiritualidade
sem Deus, 2007, p. 127.
288 GEERTZ, A interpretação das culturas, 1989, p. 66.
289 CERTEAU, A invenção do cotidiano: artes de fazer, 2014, p. 252.
Considerações finais
Introdução
Estrutura econômica
305 Ver MARX, Para a crítica da economia política, 1987; A ideologia alemã, 2002;
Manuscritos econômicos e filosóficos, 2004a; A questão judaica, 2004b; Contribuição à crítica
da filosofia do direito de Hegel, 2004c – vide referências.
Sociologias atuais
Considerações finais
Referências
328 Sobre Ato responsável, nos estudos bakhtinianos, Amorim ressalta que “A ação é
um comportamento qualquer que pode ser até mecânico e impensado. O ato é respon-
sável e assinado: o sujeito que pensa um pensamento assume que assim pensa face ao
outro, o que quer dizer que ele responde por isso. Uma ação pode ser uma impostura:
não me responsabilizo por ela e não a assino. Ao contrário, escondo-me nela. O ato
é um gesto ético no qual o sujeito se revela e se arrisca inteiro. Pode-se mesmo dizer
que ele é constitutivo de integridade. O sujeito se responsabiliza inteiramente pelo
pensamento”. (AMORIM, 2009, p. 22-23)
336 Ressalto que não se trata de uma pesquisa aprofundada do assunto, mas uma
alusão a essas manifestações religiosas, pelas características que me permitem refletir
alguns pensamentos de Bakhtin. Para uma compreensão, mesmo que superficial de
tais eventos, recorro a pesquisadores e pesquisadoras que dedicaram um estudo mais
profundo ao assunto, as/os quais cito ao longo deste artigo.
337 Imagem capturada por João Alvarez/Folhapres, em janeiro de 2014, e que está
disponível, junto a outras imagens do evento, no site https://noticias.uol.com.br/al-
bum/2014/01/16/baianas-realizam-lavagem-do-bonfim-em-salvador.htm#fotoNav=4
338 Informações recolhidas de e disponíveis nos portais: http://www.palmares.gov.
br/?p=40402 e http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/85
339 O fato da “Lavagem do Bonfim” é atribuído à promessa de um devoto, um solda-
do culto a Oxalá. Essa era uma cerimônia realizada às escondidas e fora da cidade,
devido às perseguições por parte das autoridades. Com o retorno dos Voluntários da
Pátria3 este ritual teria sido juntado ao da lavagem, por gratidão, por estes negros e
mestiços, dando notoriedade, no espaço urbano, ao culto a Oxalá. Para Ordep Serra
(1995), a tradição da lavagem teria assumido tais características devido à promessa
de um soldado que lutou na Guerra do Paraguai. Este tipo de promessa religiosa era
comum na cultura luso-brasileira. A partir do século XIX, principalmente de meados
do século, a festa assumiu características diferentes, tendo uma maior participação de
negros que implantaram seus costumes. Para participarem da tão popular festa do
Bonfim, os negros pediam permissão para fazerem parte da festa utilizando seus ins-
trumentos e cantando em suas línguas maternas (Verger, 1987). (MENDES, Érika do
Nascimento Pinheiro, s/d, p.2-3). Os nagôs, que no século XIX, formavam a maioria
dos escravos baianos, celebravam em suas terras o culto ao Orixá criador, a quem atri-
buíam à condição de filho do Deus supremo e o status de Pai Soberano entre as outras
divindades. Prestavam-lhe um culto especial em colinas fazendo procissão com potes
de águas para lavagem do lugar sagrado. O Senhor do Bonfim, orago da sagrada colina,
de um templo onde se celebrava com escorrer de água um rito periódico, é Jesus Cristo,
o filho de Deus, invocado como Pai Soberano de todos os Santos. (Serra, 1995). Desta
forma, a cerimônia da lavagem do Bonfim trouxe à memória desses escravos nagôs
da Bahia os ritos lustrais, praticados por seus antepassados, característicos do culto a
Oxalá. Mas essa memória não é vista aqui como um resgate de um determinado tipo
de culto praticado em África. Ela tem uma função social. Ela ocorre no presente e é
englobante e hierarquizante, segundo Gilberto Velho (1988), pois nestas festas popu-
lares religiosas as comunidades estreitam seus laços e mantêm sua identidade de grupo,
celebrando também sua vida cotidiana. (MENDES, Érika do Nascimento Pinheiro, A
lavagem das escadarias do nosso senhor do Bonfim da Bahia: Identidade e memória no final
dos oitocentos.UERJ, s/d, p. 3). Texto disponível em: http://www.educadores.diaadia.
pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/ENSINORELIGIOSO/artigos/3lava-
gem_escadarias.pdf
344 MENDES, Érika do Nascimento Pinheiro, s/d, p. 1.
ALDO DINUCCI
CLÓVIS ECCO
JOSÉ TERNES
NANCI MOREIRA