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ARRET - O Diário Da Viagem
ARRET - O Diário Da Viagem
DAL COL
Título Original: ARRET - O DIÁRIO DA VIAGEM
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional sob nº 224.272
ISBN nº 85-901892-1-X
Código de barras nº 9788590189213
OBSERVAÇÕES:
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AO MESTRE, COM CARINHO
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J. A. Dal Col
ARRET
O AMANHÃ DA TERRA
O DIÁRIO DA VIAGEM
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
RESUMO DO LIVRO
INTRODUÇÃO
Considerações iniciais
A crença em Deus
A crença no renascimento
A crença em outras civilizações
O resumo do processo evolutivo
A CHEGADA À NAVE
As informações iniciais
O encontro com os tripulantes
OS LEVANTAMENTOS BÁSICOS
Os três primeiros dias de levantamentos
Visitas a cidades em construção
Visitas a áreas agrícolas
As reuniões ministeriais da segunda semana
Visitas a centros avançados de estudos e pesquisas
Visitas a áreas industriais
Visita à CIA – Central de Informações de Arret
O casamento arretiano e seu significado
Visitas a terminais de transportes
Visitas a centrais de distribuição de bens
Passeio em uma colônia marítima de cúpula simples
As reuniões ministeriais da terceira semana
Visita ao Centro Hospitalar de Agartha
Visitas a escritórios de planejamento urbano
Passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros
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Visita a uma cidade em fase final de construção
Visita ao Ministério das Relações Exteriores
Passeio em um parque de preservação ambiental
A escolha e o passeio do fim-de-semana
As reuniões ministeriais da quarta semana
A segunda reunião com Arcthuro
O planejamento dos novos levantamentos
OS LEVANTAMENTOS COMPLEMENTARES
Passeio no Balneário da Ilha dos Colibris
Visita a uma escola de primeiro grau
Passeio no Parque das Águas
Visita a uma escola de segundo grau
Passeio no Balneário das Ilhas Emendadas
Visita a uma escola de terceiro grau
Passeio em uma colônia de cúpulas múltiplas
O parto arretiano
Visita ao Centro de Reabilitação de Campos Verdes
Passeio no Retiro da Serra Dourada
Novas visitas a áreas agrícolas
Passeio em uma estação orbital
Passeio no Balneário dos Corais
Visita a uma indústria de utensílios domésticos
Passeio na Colônia Marítima da Ilha dos Golfinhos
Nova visita a uma indústria de alimentos
Passeio no Parque da Floresta Tropical
Nova visita à CIA – Central de Informações de Arret
A terceira reunião com Arcthuro
Novo passeio no Balneário da Baía dos Coqueiros
As últimas horas em Arret
O RETORNO À TERRA
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por tudo que me tem concedido e ao Mestre Jesus pelo apoio em
todos os momentos, principalmente por aqueles em que me carregou no colo, deixando apenas
as suas pegadas na areia.
Agradeço também à minha mãe, esposa, filhos e filhas, por terem sido os primeiros
que acreditaram na idéia do livro e me incentivaram a concluí-lo.
Registro um agradecimento especial à minha esposa Solange, pelas centenas de
horas que dela me afastei para ficar diante do computador, indo para Arret, como eu sempre
dizia.
J. A. Dal Col
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PREFÁCIO
A primeira vez que Dal Col me falou sobre Arret, confesso que fiquei um pouco
assustado. Ainda sem conhecer o texto, pensei comigo: "olha aí o Dal Col se metendo a
escritor". Morando em Alto Paraíso de Goiás, a cerca de 1.300 quilômetros de São Paulo, ele me
ligou num domingo pela manhã, dizendo que me mandaria o texto para que eu lesse. Alguns
dias depois, aparece um portador em casa com dois disquetes e um bilhete. Os dois disquetes
continham o mesmo arquivo, cuidado típico do capricorniano Dal Col para o caso de um deles
ser danificado. O bilhete dizia simplesmente: "Zé da Ninha, leia e critique". Zé sou eu e Ninha é
minha mulher.
Li as primeiras páginas ainda no computador, acreditando que desistiria logo em
seguida. Para minha surpresa, não foi o que aconteceu e me envolvi profundamente. Entretanto,
em virtude do meu dia-a-dia extremamente ocupado, passei a ler Arret – O Diário da Viagem só
nos finais de semana. O tema, a estrutura inovadora e a cronologia me encheram de
entusiasmo. Quando eu comentava com amigos mais próximos sobre o livro, logo vinha a
inevitável brincadeira: "que viagem, hein!!!". Jamais me impressionei com os comentários, pois
tinha certeza que eram fruto do desconhecimento. A minha convicção de que Dal Col realmente
fez a viagem, e que viveu quarenta e poucos dias em Arret, vem da coerência do texto, dos
detalhes das informações, da profundidade dos diálogos e da rapidez com que foi escrito.
Acreditar se ele viajou ou não passa a ser uma questão de puro ponto-de-vista. O
próprio Dal Col deixa essa questão em aberto no livro. Penso o seguinte: como alguém,
desprovido da prática literária, pode escrever, nas horas vagas, um texto tão interessante em
pouco mais de três meses? Até onde sei, o Dal Col jamais teve qualquer manifestação como
autor de qualquer obra. Relatórios, descrições e manuais técnicos dos inúmeros sistemas que
desenvolveu e implantou, foram as únicas coisas que havia escrito. De formação técnica e
profundos conhecimentos de informática, mais especificamente da análise de sistemas, Dal Col
ocupou posições importantes em grandes empresas nacionais e multinacionais, até que, em
1992, seguindo suas convicções, mudou-se com a família para Alto Paraíso de Goiás.
Conheci Dal Col, um pouco antes, nos idos de 1978. Desde nosso primeiro contato,
percebi que se tratava de uma pessoa especial, diferente. Dotado de grande inteligência,
entregou-se a um importante projeto espiritual e social. A busca de um mundo melhor e da
qualidade de vida, a crença no amor e no respeito entre as pessoas e o desprendimento dos
bens materiais sempre estiveram em sua mente e em seu coração. E é justamente disso que
trata Arret, um planeta longínquo onde as pessoas são iguais, se amam e se respeitam, no mais
profundo significado das palavras. Ler Arret – O Diário da Viagem é, sem dúvida, um grande
alento às pessoas que acreditam numa vida melhor e, também, um aprendizado aos que
começam a trilhar o caminho da esperança.
Boa viagem e boa leitura!
José Carlos de Oliveira
Jornalista
RESUMO DO LIVRO
Uma amiga, depois de ler a versão inicial em arquivo eletrônico, comentou que Arret
tinha tudo a ver com a letra de “Imagine”, de John Lennon. Apesar de tê-la ouvido muitas vezes,
nunca a relacionei com o modo de vida do povo arretiano.
Pedi para uma outra amiga fazer sua tradução e concluí que ela deveria fazer parte
do livro, como um resumo da sua mensagem básica.
“Imagine” nasceu de um sonho de John Lennon. O Diário da Viagem nasceu da
mesma forma e começou a ser escrito no capítulo intitulado “O Sonho e o Início da Viagem”. Na
página seguinte, a tradução realizada por Mariana Negrini.
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Imagine que não existe paraíso
É muito fácil se você tentar
Sem inferno abaixo de nós e
Sobre nós apenas o céu
INTRODUÇÃO
Considerações iniciais
Ao terminar a revisão do texto que escrevi entre 31 de janeiro a 9 de maio de 1999,
verifiquei que ele não caberia em um livro com menos de 600 páginas. Ciente das dificuldades
que teria para publicá-lo, comecei a separar os textos que fariam parte deste livro e aqueles que
formariam outros dois. Um com uma visão histórica e evolutiva do modo de vida arretiano e
outro sobre a realidade atual, detalhando os sistemas que formam o macrosistema planetário,
com suas relações e dependências.
Quando concluí o trabalho, remeti disquetes com o texto do Diário da Viagem a
vários amigos, a fim de obter uma opinião sobre a viabilidade do livro. Enquanto aguardava,
escrevi seus capítulos iniciais e defini os subtítulos dos assuntos descritos nos demais volumes.
As pessoas que receberam os disquetes, além de me incentivarem a publicar o livro, faziam
inúmeras perguntas a respeito de como ele foi escrito. Queriam saber se eu realmente tinha
viajado até Arret, se era algum tipo de psicografia, canalização, inspiração, vivência anterior ou
uma abdução. Minhas respostas sempre foram baseadas nas considerações abaixo.
O texto inicial foi escrito em dezenas de etapas, com inúmeras interrupções e nos
mais diversos horários do dia e da noite. Muitas vezes escrevi durante poucos minutos livres do
horário de almoço. Exceto nos dois fins-de-semana que não precisava trabalhar a cada mês, as
etapas variavam de quinze minutos a três horas diárias, com interrupções para atender
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telefonemas, minha esposa, filhos, netos ou visitas. Também foram freqüentes as paralisações
por falta de energia elétrica, para salvar arquivos, ir ao banheiro, tomar água, café ou para dar
atenção ao nosso cachorro que insistia em ficar ao meu lado.
Após cada interrupção, a redação era retomada sem dificuldades e poucas vezes
precisei ler a última página para dar continuidade a um tema. Quanto à viagem, é difícil afirmar
se ela aconteceu ou não e, para mim, essa questão não é fundamental. O importante é a
essência da mensagem contida no livro: a esperança em um mundo melhor, mais justo, fraterno
e feliz, que pode ser materializado na Terra em um futuro não muito distante.
Acredito que o texto é o registro de um longo e detalhado “sonho” que, por um
processo de difícil compreensão e explicação, conhecido como “projeção de consciência”, foi
gravado na memória inconsciente e lá permaneceu por um curto ou longo período de tempo. Por
outro processo, também difícil de explicar, as gravações foram transferidas para a memória
consciente durante o período de 31 de janeiro a 9 de maio de 1999. Essas características
diferenciam essa experiência daquelas que são comuns às pessoas que sonham e que também
desconhecem o mecanismo que as levam a sonhar e a se lembrar de fragmentos ou de sonhos
detalhados.
Existem outras possibilidades a serem consideradas. O texto pode ser atribuído à
psicografia ou à sua irmã gêmea, a canalização. Porém, pelo que conheço dessas duas formas
de contato com o mundo espiritual, elas não foram utilizadas. Além de não possuir esses dons,
as duas necessitam de um ambiente apropriado, preparação prévia, horários convenientes e
muita concentração. Além da possibilidade de ser fruto da imaginação, restam duas outras
hipóteses. A redação pode ser atribuída a um tipo de inspiração ou à lembrança de uma vivência
anterior. Apesar de possíveis, elas são igualmente difíceis de serem explicadas e aceitas pelo
raciocínio lógico convencional.
Com todas essas dificuldades para definir a origem das informações, é conveniente
não dar importância a esse aspecto e sim à sua mensagem básica. Se os leitores e leitoras
aceitarem esse critério, analisando e comparando o modo de vida arretiano com o terrestre,
poderão tirar muito proveito da leitura. Se isso acontecer, e esse é o objetivo do livro, poderão se
juntar a uma grande legião de pessoas que pensam e sonham com um mundo melhor, mais
justo, fraterno e feliz.
Apenas pensando e sonhando, contribuirão para acelerar o processo cósmico que
transformará o sonho em realidade. Vale lembrar que esse também foi e é o sonho de Jesus, um
ser do nono nível da hierarquia divina, que ofereceu sua majestosa vida para que um novo céu e
uma nova Terra pudessem um dia se materializar em nosso planeta. Já se passaram quase dois
mil anos da sua morte na cruz e ela, com certeza, não foi em vão. Ele não desceria aos lodaçais
terrestres, de quinto nível, para ensinar a mensagem libertadora da paternidade divina e da
irmandade de todos os seres humanos se não tivesse essa certeza.
Este livro foi escrito em forma de diário para facilitar a ambientação e levar os
leitores e leitoras viajar e vivenciar o modo de vida arretiano. Ele descreve as principais
observações feitas durante os três dias de preparação em uma nave e nos 41 dias de
levantamentos realizados no planeta. O Texto obedece a uma ordem cronológica que independe
dos temas levantados e pode dificultar a visão sistêmica das atividades planetárias, pois, em um
mesmo dia, podem estar registrados assuntos pertinentes a vários sistemas.
Por essa razão e por aquilo que está relatado no início desta introdução, um
terceiro volume apresentará uma visão sistêmica do planeta, sem personagens e com inúmeros
detalhes não registrados neste livro. Pelas razões a seguir descritas, O Diário da Viagem
apresenta poucas informações sobre o passado do povo arretiano, especialmente, sobre a
grande transição lá ocorrida, cujos detalhes constituirão um segundo volume. Essas informações
não foram omitidas com a finalidade de direcionar os leitores e leitoras para o novo livro.
Elas o foram porque o Diário da Viagem enfoca a atualidade do planeta e não o seu
passado. Além disso, para que essas informações sejam corretamente compreendidas, é
necessário inseri-las em um contexto histórico apropriado, com os devidos antecedentes e,
principalmente, com todos os acontecimentos posteriores. Se apresentadas de outra maneira,
poderão gerar medos infundados e invalidar a compreensão da mensagem principal. Por isso,
as pesquisas históricas estão superficialmente citadas, apenas para permitir a continuidade dos
assuntos e para justificar o tempo gasto em seus levantamentos.
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O Diário da Viagem não foi escrito para ser apenas uma obra de ficção. Ele
descreve uma civilização que vive em um mundo que representa o amanhã da Terra e seu
objetivo é transmitir esperança às pessoas que sonham, sofrem e esperam por uma grande
transformação em nosso globo, onde haverá um só rebanho e só pastor, conforme as palavras
proféticas de Jesus. Arret representa um possível cenário do novo céu e da nova Terra, pois é
um mundo onde todos se consideram irmãos e filhos do mesmo Pai Celestial. Lá, todos são
tratados com igualdade, vivem em completa harmonia e liberdade, em uma comunidade
planetária justa, fraterna e feliz.
A crença em Deus
Para tirar maior proveito das informações contidas neste livro, é importante
acreditar na existência de uma energia criadora, mantenedora e transformadora do universo.
Essa energia pode ser traduzida como sendo Deus, Pai Celestial, Grande Arquiteto do Universo
ou outras denominações particulares de cada religião ou corrente filosófica. A crença em Deus
está na base de todas as religiões e é o último alento aos céticos nos momentos de dificuldades
ou de sofrimentos, quando os recursos do mundo material não são mais suficientes para explicar
ou resolver os problemas que os afligem.
Deus pode ser representado por três aspectos conhecidos por diferentes nomes.
Nas religiões cristãs, especialmente no catolicismo, eles formam a Santíssima Trindade,
constituída pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Desse conceito tradicional, infere-se que o
poder criador está associado ao Pai, o mantenedor ao Filho e o transformador ao Espírito Santo.
O poder criador é o responsável pelo aparecimento dessa imensidão de galáxias
que formam o universo conhecido, onde cada uma é constituída por vários milhões de estrelas
de todos os tamanhos e, como o nosso Sol, devem ter seus planetas. Apesar da ciência
defender a hipótese de criação do universo por um "Big-Bang", é pouco provável que uma
grande explosão tenha causado o seu aparecimento e toda a harmonia e leis que regem as
órbitas planetárias ou o nascimento de um pé de feijão. Vale lembrar que a Terra é habitada por
seis bilhões de seres humanos e por uma infinidade de representantes dos reinos animal,
vegetal e mineral, com múltiplas variedades e ciclos de nascimento, de vida e de morte
perfeitamente definidos.
Dentro dessa visão, a hipótese do "Big-Bang" é pouco provável, pois parte do
princípio que o caos gerou a harmonia e as maravilhas que conhecemos. Estamos nos referindo
somente à Terra, deixando de lado a nossa galáxia, as demais e o próprio universo. Também é
válido perguntar para os seus defensores, quem foi que criou, juntou o material e acendeu o
fósforo?
Ainda dentro do aspecto criador da divindade, quem cria alguma coisa é
considerado o pai ou o responsável pela sua criação. Dessa premissa, inferimos que Deus é o
pai de sua criação e que nós somos Seus filhos, como Jesus se esforçou para transmitir aos
seus contemporâneos e eles a nós. Jesus sempre centrou suas palavras e ações no ideal da
Paternidade de Deus e na irmandade dos seres humanos.
Assumindo que Deus tudo criou, devemos considerar que o poder mantenedor é o
Seu segundo aspecto, à medida que tudo que é criado deve ser mantido, pois Deus não
cometeria o erro de criar e não manter a Sua criação. Esse aspecto é aquele que sustenta a
forma criada e a mantém viva ou coesa, atuando desde o reino mineral até o humano e outros
superiores. No reino humano, esse poder controla e mantém alguns sistemas do nosso corpo
físico, como o hepático, cardíaco, digestivo e respiratório, de maneira independente da nossa
vontade que não é capaz de interferir em uma única função desses sistemas.
Nos demais reinos, se tomarmos como exemplo as espécies que formam as
florestas milenares, a existência desse poder é facilmente constatável. Basta analisar a
harmonia e a beleza de uma floresta como a Amazônica e procurar entender quem ou o que a
mantém por tantos milênios com toda a sua pujança e diversidade de espécies que nasceram e
cresceram sem qualquer tipo de interferência humana.
Se Deus cria e mantém todas as coisas, Ele não as mantém indefinidamente como
as criou. Tudo está em constante mutação, ou em evolução. A ciência cética e racional foi a
primeira a revelar o terceiro aspecto da divindade e, mesmo sem associá-lo a uma de suas
descobertas, ela o definiu como a teoria da evolução das espécies, formulada por Charles
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Darwin. O terceiro aspecto também é conhecido como o destruidor da forma cristalizada e é
aquele que a transforma em algo mais evoluído e melhor adaptado ao seu meio ou às suas
necessidades.
Essas ponderações sobre a trindade divina são essenciais para a correta
compreensão da mensagem contida no Diário da Viagem a Arret. Também é importante salientar
que os atributos divinos não estão limitados a esses três aspectos. Deus também é o amor, a
sabedoria e o poder, assim como é a poesia dos poetas, a musicalidade dos músicos, a fortaleza
dos fortes, a humildade dos humildes, a arte dos artistas, a sabedoria dos sábios, dentre outros
atributos. Nada existe ou se manifesta sem representar, pelo menos, um dos atributos de Deus.
A crença no renascimento
O conceito do renascimento está associado ao terceiro aspecto da trindade e é
essencial para o entendimento dos demais atributos divinos. Para compreender a verdadeira
essência do amor, da justiça, da bondade e da paternidade de Deus, é necessária uma crença
racional desse conceito. Se assim não for, torna-se difícil entender os atributos divinos quando
analisados sob a ótica dos contrastes existentes entre as variadas condições de vida dos seres
humanos. Além disso, se considerarmos que uma parte da nossa humanidade entende que se
nasce, vive e morre apenas uma vez, os atributos divinos são ainda mais incompreensíveis e
discutíveis. Vamos analisar alguns exemplos que envolvem as duas situações.
Em todos os lugares da Terra encontramos pessoas que nascem, vivem e morrem
ricas ou pobres; fisicamente perfeitas ou aleijadas; bonitas ou feias; inteligentes ou não; com
fartura ou sem o mínimo necessário à sobrevivência, dentre vários outros contrastes. Os ricos
que vivem com fartura e são fisicamente saudáveis constituem a minoria, enquanto seus
opostos são a maioria. Quando se acredita que após a morte o espírito é julgado e pode ser
salvo ou condenado pela eternidade, os contrastes humanos sobressaem e representam
condições e recursos desiguais atribuídos sem critérios de amor, de justiça e de bondade
claramente definidos.
Apesar de não ser assim, não seria ilógico supor que Deus atribui determinadas
condições a Seus filhos e filhas, conforme seu humor, preferências pessoais e outros fatores
comuns aos seres humanos detentores de algum tipo de poder. É difícil acreditar que um bom
pai terrestre trate seus filhos de maneira tão desigual, dando muito para alguns e quase nada
para outros. O Pai Celestial deve ser, e é, infinitamente superior a qualquer pai que
conhecemos, por mais justo e generoso que seja.
Por outro lado, é difícil compreender os motivos de Deus ao criar um espírito para
morrer nos primeiros dias, meses ou anos de vida. Sob a ótica da unidade de nascimento, de
vida e de morte, podemos concluir que a morte de uma criança representa uma grande
vantagem. Seu espírito enfrentará “o julgamento final” sem ter cometido um único “pecado”, bem
ao contrário daqueles que, por viverem várias décadas, poderão ser condenados a “passar a
eternidade no fogo do inferno”.
Além de outras, essas análises formam um emaranhado na mente de qualquer
pessoa que procure estudar e compreender as leis divinas sem preconceitos ou dogmas. Muitas,
ao invés de utilizar o raciocínio lógico e a intuição, os dois atributos que o Criador nos deu para
compreendê-Lo, acham mais fácil acreditar nas explicações das “autoridades” que dirigem ou
representam suas religiões ou correntes filosóficas. Isso não seria censurável, se essas
“autoridades”, a nível local e planetário, seguissem o mesmo “livro sagrado” e tivessem a mesma
opinião a respeito de um determinado tema.
Quando se compreende o conceito do renascimento e seu embasamento na Lei da
Evolução e na Justiça Divina, deixa-se de imaginar que Deus estaria zangado ou com algum tipo
de problema quando criou a maioria dos espíritos que vivem sobre a Terra. Passa-se a
compreender e a ver, nos corpos imperfeitos e nas situações de vida adversas, espíritos
endividados que estão resgatando o mau uso que fizeram das oportunidades e faculdades
igualmente colocadas à disposição de todos, conforme suas necessidades de evolução. No caso
das crianças falecidas prematuramente, compreende-se que estavam cumprindo um pequeno
período de aprendizado ou procurando ensinar uma grande ou pequena lição aos seus pais.
Deus, o Pai Celestial, não castiga seus filhos e filhas. Ele sempre os coloca na
situação mais favorável para acelerar seu processo evolutivo, da maneira mais justa e amorosa
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possível, em cada tipo de situação individual ou coletiva. O mesmo acontece com os espíritos
colocados em uma condição de vida favorável. Em nosso mundo, a riqueza e o poder associam-
se a condições favoráveis. No mundo espiritual é diferente e, como regra geral, constituem
provas com alto nível de dificuldades. Por outro lado, podem acelerar a evolução daqueles que
não se deixaram envolver pela ilusão da riqueza ou do poder e cumpriram a missão a que se
propuseram, ou que lhes foi destinada.
Analisando essas situações, é impossível acreditar, sentir e compreender a
divindade e seus múltiplos atributos sem entender a Lei do Renascimento. Se fizermos um
estudo sincero e sem preconceitos, utilizando apenas a intuição e o raciocínio lógico, não é difícil
chegar ao entendimento dessa Lei e de outras questões fundamentais para a evolução do
espírito humano.
A questão chave refere-se à paternidade divina e à irmandade dos seres humanos.
Tente imaginar Deus como o Pai justo e amoroso que é e compare-o com os pais e mães que
você conhece. Em geral, todos são capazes de grandes sacrifícios para proporcionar alegria,
bem-estar, estudo e várias outras coisas aos seus filhos. Muitos o fazem de maneira exagerada,
privando-se de seus gostos ou necessidades pessoais.
Sem a menor dúvida, Deus é um Pai muito mais justo, amoroso, perfeito, generoso
e sábio, além de não ter as limitações impostas aos que vivem na matéria. Assumindo essas
premissas como verdadeiras, procure explicar os motivos que levam Deus a proporcionar
condições de vida tão desiguais a Seus filhos e filhas dos mais diferentes lugares da Terra. Leve
em consideração que existem reis e milionários de nascença, assim como, pobres que moram
nas favelas das grandes cidades e em locais isolados ou esquecidos. Avalie também aqueles
que nasceram com graves problemas físicos e os que nasceram perfeitos, além de vários outros
contrastes possíveis.
Caso ainda não seja possível compreender a Lei do Renascimento, continue
avaliando as razões e tentando explicar racionalmente, sem utilizar um dogma ou uma questão
de fé, as diferenças de habilidades, de caráter, de inteligência e outras qualidades ou defeitos
facilmente identificáveis entre os seres humanos nascidos em idênticas condições e, muitas
vezes, em uma mesma família. Tente explicar por que Mozart dominava o piano aos quatro anos
e por que tantas pessoas que estudaram e se dedicaram ao mesmo instrumento durante uma
vida inteira, nunca atingiram a habilidade que ele demonstrava em tão tenra idade. Nem é
preciso considerar que a maioria nunca chegou a compor uma única peça musical de qualquer
nível de qualidade.
Se assim não for possível chegar à compreensão da Lei do Renascimento, é
provável que Deus ainda não julgou apropriado transmitir essa crença à sua mente racional, pois
ela não salva e também não causa a evolução automática do espírito humano. Ela é apenas um
facilitador, cujo ponto central é o amor em suas variadas formas de expressão. O amor
impessoal é a maior conquista do espírito e somente ele o salva de todos os abismos,
independente do tipo de crença ou de religiosidade.
Em meados de Janeiro de 1999, em meio à grande crise que atingiu o Plano Real e
a esperança dos brasileiros, comecei a meditar sobre a situação do nosso país. As notícias não
eram animadoras e causavam novas preocupações ao nosso povo. Naquele período, minha
esposa Solange e eu fomos descansar um fim-de-semana no Vale Dourado, o nosso santuário
ecológico em Alto Paraíso de Goiás. Conversamos bastante sobre aquele momento crítico e
também sobre um texto conhecido como “A Profecia do Homem do Cavalo Branco”, contendo
previsões sobre os homens que ocupariam a presidência do Brasil após a morte de Getúlio
Vargas.
“O Homem do Cavalo Branco”, o mais importante deles, chegaria à presidência em
meio a uma crise e parecia que o momento estava se aproximando. Durante os dois dias que lá
passamos, não consegui desviar meus pensamentos daquele personagem e sentia sua energia
a todo o momento, como se ele estivesse presente em todos os lugares por onde andei ou
fiquei.
Foi naquele fim-de-semana, em estreito contato com a exuberante natureza do
planalto central, que decidi escrever um livro sobre aquela profecia, sem saber ao certo por onde
ou como iniciar. Durante a semana tive muitos afazeres e, apesar de algumas tentativas, não
consegui escrever nada que me agradasse, Tampouco consegui definir um roteiro ou uma
maneira de escrever sobre o assunto.
No sábado seguinte, 30/01/1999, a segunda noite de lua cheia do mês, apaguei
tudo que havia escrito e resolvi recomeçar, registrando as idéias que viessem em minha mente.
Escrevi pouco, apaguei muito, reescrevi, tentei fazer um índice e, como as idéias não estavam
fluindo, resolvi parar e adiar o projeto do livro, colocando a culpa na semana e no dia atarefado
que tive.
Deitei por volta da meia noite, adormeci rapidamente e entrei no mundo dos sonhos
para viver a maior das aventuras que meu espírito experimentou até aquele dia. Ao contrário do
que normalmente acontecia, acordei muito bem disposto, sem a costumeira sensação de
sonolência, sem perceber nada de diferente e sem lembranças de nenhum sonho, como sempre
aconteceu na maioria dos dias da minha vida adulta.
Minha esposa já havia saído para abrir nosso mercado naquele Domingo e,
enquanto tomava o costumeiro banho para “acordar”, senti uma grande vontade de voltar a
escrever o livro, com a nítida sensação que as idéias iriam fluir. Logo que fechei o mercado e
terminei o almoço com a família, liguei o microcomputador e comecei a escrever sobre um tema
que estava martelando minha mente naquela manhã, com um título básico e uma imagem fixa e
invertida do globo terrestre.
Logo que escrevi ARRET, o nome do nosso planeta ao contrário, as primeiras
imagens do longo sonho começaram a se movimentar. Pareciam estar gravadas em minha
mente como em uma fita de videocassete e podiam avançar em velocidade normal, retroceder
rapidamente ou serem paralisadas, conforme minhas disponibilidades de tempo.
Tudo começou na sala da minha casa em Alto Paraíso, como se eu estivesse
acordado e sentado em um dos sofás, observando alguém olhando para mim com um amigável
sorriso. Logo aquele personagem, que me parecia familiar, perguntou se eu não me lembrava
dele. Senti uma forte sugestão mental dizer que ele era Oatas, um ser espiritual que conheci e
tive diversos contatos em 1978, na capital paulista. Ele confirmou meus pensamentos e disse
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que seria meu guia durante a viagem a um planeta de outro sistema estelar, onde eu conheceria
o modo de vida do seu povo e obteria outras informações para registrá-las no livro que estava
pretendendo escrever.
Ao perguntar como sabia dessa minha intenção, ele disse que meu Guardião o
informou e que esperava por aquele momento há algum tempo. Enquanto procura entender sua
resposta, ele disse que eu deveria manter a mente aberta e tranqüila, pois iria presenciar
situações, fatos e coisas ainda distantes da nossa compreensão atual, porém, reais e realizáveis
no futuro do nosso planeta, em um período não muito distante.
Oatas perguntou se eu não me lembrava de haver falado com outras pessoas a
respeito do espanto que uma simples lanterna de pilhas iria causar no homem da idade média,
ou de 100 a 200 anos atrás. Retruquei dizendo que ele estava bem informado sobre as coisas
que eu fazia ou falava e, mesmo já sabendo quem ele era, fiz algumas perguntas para confirmar
se aquele era o mesmo ser que contatei nos idos de 1978.
Indaguei se ele era o meu "Anjo da Guarda", se era um ser espiritual, um morador
de outro planeta e também, se tinha outro aspecto "físico". Ele sorriu e disse que, como me
informou naquele ano, tinha vivido na Terra há muito tempo, que não era o meu “Anjo da
Guarda” e sim um amigo de longa data. Reiterou que era um ser espiritual da hierarquia
marciana e voltou a dizer que iria me levar a um planeta muito parecido com a Terra e que lá
conheceria pessoas muito interessantes, com as quais me sentiria entre amigos, por uma série
de razões que iria compreender mais adiante.
Assim que terminou, falei que deixou de responder uma parte da pergunta.
Novamente ele sorriu e disse que assim procedeu para testar se eu estava à vontade em sua
presença. Frisou que eu precisaria estar muito tranqüilo para poder conhecer o planeta, caso
contrário, não poderia ser levado até lá. Em seguida, completou a parte pendente da pergunta.
Disse que, quando vivia na matéria, seu aspecto físico era aquele que eu estava
vendo e que seu espírito poderia se revestir de diversas formas, conforme fosse necessário ou
conveniente. Depois perguntou se eu estava pronto para a viagem, justificando que o tempo
corria muito rápido e tínhamos ainda vários assuntos para conversar. Ao olhar para o relógio,
observei que ele marcava meia noite e cinco, a mesma hora que julgava ter adormecido.
Olhei para Oatas e, antes de perguntar por que estávamos conversando há mais de
meia hora e o relógio não marcava esse tempo, ele falou que eu precisava me acostumar com
as novidades que iria presenciar. Disse que o tempo era uma convenção humana e que o
passado, o presente e o futuro existiam apenas na mente dos povos que habitavam os mundos
físicos. No plano onde estávamos, nossa conversa de 40 minutos terrestres, aconteceu em
apenas 5 ou 6 segundos.
Percebendo que fiquei confuso, me pediu para aguardar o momento apropriado
para ter as respostas sobre um grande conjunto de novidades que iria conhecer ao longo dos 30
ou mais dias que passaria fora da Terra, durante o período de sono do meu corpo físico. Quando
ele terminou, pensei em como uma noite de sono poderia ser transformada em mais de trinta
dias e noites. Fiz alguns cálculos e concluí que cada segundo de sono equivaleria a uns 400
segundos no mundo dos sonhos.
Quando ia dizer que estava pronto e como viajaríamos até o planeta, Oatas falou
que meus cálculos estavam bem próximos da realidade e que haveria tempo suficiente para
vários dias extras. Em seguida, respondendo à pergunta que não cheguei a fazer, disse que iria
fornecer algumas informações para não me deixar com dúvidas ou inseguro quanto à viagem.
Se isso acontecesse, o processo seria interrompido e, como resultado, meu corpo despertaria
com uma sensação estranha e perderia a memória daquilo que meu espírito presenciou.
Pediu-me para meditar sobre tudo que iria ouvir e decidir se estava disposto ou não
a segui-lo. Em resumo, disse o seguinte, repetindo algumas informações anteriores.
Iríamos para um planeta parecido com a Terra, incluindo o aspecto físico do povo que lá
vivia. Ele ficava localizado na constelação de Órion, na estrela central das Três Marias. Eu o
batizei como Arret e ao seu povo, como arretianos.
Para facilitar a interação com os habitantes do planeta, iria receber um novo corpo físico,
uma réplica ou um "clone" do atual, com pequenas diferenças e aspecto equivalente aos
meus 20 anos. Oatas disse que ele teria uma estrutura atômica mais leve e contaria com um
tradutor de linguagem, como se eu estivesse falando, lendo e ouvindo em português.
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A viagem seria feita em uma nave, depois de um período de adaptação de três dias, durante
os quais receberia muitas informações sobre diversos aspectos do planeta e do modo de
vida de seus habitantes, facilitando o aprendizado posterior.
Durante a permanência na nave e no planeta, minha alimentação seria à base de sucos
naturais, frutas e cápsulas de complementos vitamínicos.
Finalmente, se aceitasse ir em frente, deveria prometer que respeitaria o modo de vida
arretiano, cujo povo vivia feliz em uma grande e fraterna comunidade planetária.
Ao terminar, salientou que era muito importante eu entender todas as suas
colocações e condições antes de decidir aceitar ou recusar o convite. Se aceitasse, iria conhecer
um povo com o qual sonhei muitas vezes, como também o fizeram e fazem milhares de pessoas
na Terra. Oatas complementou, de maneira solene, que esse também foi o sonho do maior dos
seres que já viveu neste planeta: Jesus.
Quando ele assim falou, notei uma linda e luminosa silhueta que começou a se
formar no centro da sala, clareando o ambiente com raios de luz dourada e branca. Em minha
mente, ouvi uma voz que dizia: "medita sobre tudo que ouvistes e toma tua decisão.
Independente do que decidires, eu estarei sempre contigo como sempre estive e estou com
todos aqueles que sonham e procuram o bem, a justiça, a verdade e a fraternidade universal.
Não tenhas medo e, se decidires seguir adiante, poderás ajudar mais efetivamente na realização
do sonho de muitos justos que vivem e sofrem nesta terra".
Enquanto ouvia essas palavras, a silhueta foi se concentrando e formou uma bela
figura de Jesus. Alto, tinha olhos grandes da cor de avelã, cabelos ruivos até os ombros, barba
curta e bigode, vestindo um camisolão comprido e branco. A imagem foi desaparecendo
lentamente com um brilho grandioso nos olhos e um belo sorriso. Fiquei em silêncio alguns
segundos meditando sobre as palavras e a figura de Jesus, o Mestre, a quem denomino
carinhosamente de "Chefe".
Quando voltei a atenção para Oatas, ele estava curvado, em atitude de reverência e
respeito. Depois falou sobre Jesus como um ser grandioso, muito amado e respeitado por povos
de inúmeros planetas, não só pelo seu grande trabalho na Terra, como em outros mundos mais
adiantados. Finalizou dizendo que eu iria ver como ele era querido e muito popular em Arret.
Em seguida disse que, em respeito ao meu livre arbítrio, precisava saber qual era a
minha decisão. Respondi que estava ansioso para iniciar a viagem e que não a perderia por
nada. Garanti que não iria desapontá-lo e muito menos aos habitantes do planeta, pois não
pretendia levar um puxão de orelhas do "Chefe" que estaria nos acompanhando durante a
viagem.
Oatas disse que Jesus estaria conosco e tinha certeza que eu iria agir da maneira
apropriada, não por medo do puxão de orelhas, mas pelo desejo de respeitar a comunidade
arretiana, cuja energia positiva e vibração amorosa eu nunca senti na Terra. Quando terminou,
apontou para o alto e me pediu para observar, sem receios, a nave que estava estacionada
sobre a casa, a uns quinhentos metros de distância. Nesse momento, o telhado ficou
transparente e pude vê-la nitidamente.
Era grande, linda e majestosa, refletindo a luz da lua cheia em tons dourados,
chegando ao cobre. Parecia um cilindro achatado e tinha uns 150 metros de comprimento e 40
de diâmetro. Percebendo minha curiosidade quanto ao meio de chegarmos até ela, perguntou se
eu já estava pronto. Respondi afirmativamente e ele garantiu que a locomoção seria muito fácil.
Disse que bastaria me concentrar e desejar estar em seu interior que logo estaria acordando
bem disposto e com muita vitalidade. Falou que estaria ao meu lado, em um corpo igual ao seu
aspecto atual. Em seguida, pediu para fechar os olhos, me concentrar e só abrir quando ele
pedisse. Foi exatamente o que fiz.
A CHEGADA À NAVE
As informações iniciais
Tudo aconteceu conforme Oatas previu. Não fosse por estar em uma cama e em
um lugar diferente, não perceberia nada de estranho, pois a sensação no novo corpo era muito
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boa. Além de não passar pelo processo de despertamento gradativo, como sempre acontecia,
eu tinha lembranças de tudo que ocorreu, o que foi confirmado pela presença de Oatas.
Ao levantar, realizei vários movimentos, flexões, dei pulos, belisquei o braço,
apalpei o novo corpo e tudo pareceu normal. Oatas riu muito durante o teste e disse que as
diferenças que eu notaria seriam para melhor, com algumas mudanças no aspecto sexual, o
qual foi igualado ao padrão arretiano, por razões que eu iria entender mais tarde. Fez questão
de frisar que, quando retomasse meu corpo original, tudo voltaria a ser como antes e até melhor.
Em seguida nos dirigimos a uma sala próxima.
Era retangular com teto branco e ligeiramente curvo. Tinha paredes em azul claro e
era mobiliada com sofás e uma mesa de centro. Uma das paredes havia um grande quadro
cinza escuro, semelhante a uma tela de cristal líquido. Não havia janelas e sim uns quadros
menores, semelhantes ao maior. Oatas aguardou minhas observações e, informando que já
estávamos em órbita, me pediu para sentar em frente à tela maior.
Logo surgiu uma imagem da Terra em posição invertida e sem nuvens, idêntica
àquela que estava em minha mente na manhã do dia 31/01/1999. Sua nitidez permitia distinguir
os contornos das Américas e, gradativamente, voltou à posição normal. Depois, um efeito
"zoom" começou a mostrar detalhes do Brasil, do estado de Goiás e de Alto Paraíso. Logo
distingui minha casa e, com espanto, pois o telhado ficou transparente, pude ver meu corpo
dormindo ao lado de minha esposa.
Oatas disse que sentia as dúvidas que estavam em minha mente e me pediu para
ser paciente e aguardar o momento oportuno para obter as respostas. Informou que aquelas que
não revelassem segredos ainda velados à humanidade terrestre seriam fornecidas ao longo da
viagem e que esses segredos se referiam a aspectos tecnológicos de difícil compreensão, até
para o mais brilhante dos cientistas da Terra.
Em seguida, disse que iria mostrar algumas imagens e falar sobre uma série de
novidades. Reiterou seu pedido para que eu aguardasse o momento apropriado para esclarecer
as dúvidas, pois tudo seria mostrado com detalhes durante os três dias de treinamento e,
posteriormente, seria visto, vivenciado e sentido em Arret, ao longo de trinta ou mais dias.
Fiquei observando as imagens e ouvindo as explicações de Oatas durante quase
uma hora. Muitas coisas que pareceram estranhas no primeiro momento, se tornaram mais
claras à medida que outras imagens e explicações se sucediam. Entendi que não precisava
fazer perguntas, pois a maioria das dúvidas eram esclarecidas em seguida, dentro dos limites
por ele definidos. Apesar de resumido, foi grande o conjunto de informações sobre a nave, seus
tripulantes e sobre Arret.
Ela era batizada como SOL-4, por transitar muito pelo sistema solar. Tinha o
formato de um cilindro achatado, ou uma elipse, e media 144 metros de comprimento, 48 de
largura e 36 de altura. A parte traseira era ligeiramente cônica e a frente era afunilada, abrigando
a cabine de comando. Parecia um dirigível sem aletas e sua cor externa era uma mistura de
dourado com cobre. Seu interior era constituído por inúmeros compartimentos, salas,
dormitórios, um restaurante e outras áreas que seriam apresentadas pela tripulação. A
iluminação vinha do teto e das paredes, cujas cores podiam ser trocadas à vontade. Oatas
realizou diversas mudanças apertando alguns botões, sem alterar o padrão de luminosidade.
No final surgiu a imagem dos três casais de tripulantes, apresentados como sendo
os comandantes Antak e Tali, os navegadores Otento e Sathya e os engenheiros de bordo
Salino e Tentra. Quando Oatas pronunciava o nome de cada um e fazia um rápido resumo
pessoal, eles se levantavam e acenavam simpaticamente, como se estivessem nos vendo e
ouvindo.
Pareciam uma mistura de europeu com chinês, pois eram altos, esbeltos e tinham
olhos grandes, amendoados e ligeiramente puxados à moda oriental. Os olhos eram o ponto
forte, pois chamavam a atenção e eram quase hipnóticos. Tinham o nosso aspecto físico e todos
eram muito bonitos, simpáticos e me pareceram amigos, como se já os conhecesse. Oatas
sentiu minha pressa em estar com eles e comentou que aquele desejo era muito bom. Disse que
preferiu apresentá-los indiretamente, para que eu me acostumasse com a nave, com eles e não
sentisse nenhum tipo de receio.
Em seguida, disse que iria mostrar meu quarto, onde poderia tomar banho e mudar
de roupa, antes de encontrar a tripulação e com ela tomar a refeição da manhã. Saímos em um
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corredor e logo entramos em um elevador onde havia uma tela com informações resumidas de
cada andar. Mesmo sabendo que contava com um tradutor de linguagem, fiquei surpreso ao ler
tudo que estava escrito. Saímos em outro corredor e entramos em uma sala com dois conjuntos
de sofás nas laterais e mesinhas de canto. Na parede do fundo havia duas pequenas telas que,
presumi, seriam utilizadas para abrir as portas de dois aposentos, o que foi logo confirmado por
Oatas.
Como não falei nada, fiz uma pergunta mental procurando saber se ele estava
utilizando a telepatia. Ele confirmou mentalmente e falei que o entendi perfeitamente. Perguntei
como esse processo se desenvolveu tão rápido e ele disse que foi em razão de estarmos em um
ambiente muito mais sutil que o terrestre e que o meu novo corpo tinha "mecanismos" que
facilitavam a telepatia, um atributo normal nos arretianos. Sentindo que fiquei preocupado, ele
disse que eu não deveria procurar esconder ou ter vergonha dos meus pensamentos, mesmo
que os considerasse impróprios, pois não incomodariam ou ofenderiam os tripulantes que
conheciam muito bem o modo de pensar e os costumes dos habitantes da Terra.
Oatas aproveitou para dizer que, nos próximos dias, eu teria uma grande
oportunidade para treinar e aprimorar a difícil arte de controlar e aquietar a mente. Em seguida
falou que iria mostrar o meu quarto, exatamente igual ao dele e localizado ao lado do meu.
Captei seu pensamento pedindo para colocar a palma da mão na telinha da esquerda e logo a
porta abriu e vi a imagem da Terra em uma tela igual à anterior. Fiquei alguns minutos
observando os detalhes daquele ambiente e ouvindo as explicações de Oatas às diversas
perguntas que fiz.
O quarto era amplo, simples e confortável. No centro havia uma cama suspensa
com uma cúpula transparente e a parede do fundo era quase toda tomada pela tela que fazia
parte do equipamento de áudio e vídeo. Nas laterais havia portas de armários embutidos e uma
que dava acesso ao banheiro. Os armários destinavam-se à guarda de roupas, pertences
pessoais e cristais de áudio e vídeo. Um deles era uma lavanderia automática e acima das
portas havia caixas acústicas muito finas, pois pareciam quadros. O assoalho era revestido com
um carpete sem pêlos e a cama chamava especialmente a atenção.
Ela era sustentada pelo mesmo princípio utilizado na nave e a cúpula servia para
manter estável a temperatura, dispensando o uso de cobertores e permitindo o enriquecimento
do ar com maior teor de oxigênio. Tinha controles da aparelhagem de som e imagem e as
regulagens de uma cama hospitalar. Podia ser posicionada em qualquer lugar ou altura e era
uma maravilha tecnológica dedicada ao descanso do corpo.
Sob a grande tela havia teclas e orifícios para inserção de cristais de som e
imagem. Com uns quatro centímetros de diâmetro e quinze de comprimento, podiam gravar e
reproduzir de duas a três mil músicas e imagens a elas associadas. Oatas fez demonstrações
com músicas terrestres da minha predileção e peças arretianas. Além de ouvir, observei imagens
tridimensionais dos intérpretes e aquilo que ele denominou como “alma ou forma pensamento"
da música.
O banheiro tinha uma pia com armário espelhado e um vaso sanitário com ducha
higiênica externa. A pia e o vaso eram de um material semelhante a um acrílico leitoso, a água
saía da torneira com a aproximação das mãos e o sanitário dava descarga automática assim
que utilizado. O box tinha uma ducha circular e um chuveiro com diversas regulagens de
pressão e temperatura. A parede em frente ao vaso sanitário tinha uma extensão da
aparelhagem de som e imagem.
Depois voltamos ao armário de roupas e Oatas explicou a finalidade de cada um
dos três tipos de trajes e acessórios que os acompanhavam. Um deles era igual ao que eu
estava usando e era o traje de dormir. Os outros eram o de passeio e o de trabalho, ambos
confeccionados com um tecido semelhante ao algodão com lycra, e ficavam colados ao corpo. O
tecido do traje de dormir era o mais fino, o de passeio, um pouco mais espesso e o de trabalho,
o mais encorpado. Todos eram constituídos por duas peças, uma vestida por cima e a outra por
baixo, dispensando o uso de cuecas.
Os trajes de dormir não cobriam os pés e os braços, enquanto os demais
dispensavam o uso de meias e tinham mangas compridas que podiam ser complementadas por
luvas. As roupas de trabalho e de passeio eram ornadas com um cinto apresentado em três
versões. Cada um continha menor ou maior número de compartimentos para armazenar objetos
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diversos. O traje de dormir era acompanhado por uma sandália de dedos e um mocassim de
tecido e solado sintético. O traje de passeio era complementado por um tênis e o de trabalho era
vestido com uma bota de cano longo, ambos de tecido e solado sintético.
Quando Oatas terminou suas explicações, escolhi um traje de trabalho e fui para o
banheiro, enquanto ele permaneceu no quarto para me socorrer em qualquer dificuldade. O
espelho mostrou que eu estava com a metade da idade terrestre e com os cabelos um pouco
mais compridos. Ao escovar os dentes percebi que algumas obturações e falhas em minha
arcada estavam corrigidas, assim como algumas cicatrizes nas pernas e na mão. Meu rosto não
apresentava vestígios de barba e não havia pêlos visíveis no peito, axilas, barriga, braços e
pernas. Tomei banho e me vesti sem dificuldades. A ducha circular era uma maravilha.
Quando me viu, Oatas disse que eu estava muito bem e que fui muito rápido no
primeiro banho em órbita. Providenciamos a lavagem da roupa usada e fomos para o seu
quarto. Enquanto ele tomava banho fiquei observando a "alma ou forma pensamento" da música
arretiana. Era algo indescritível formado por cores entrelaçadas, pulsantes e “explosivas” que
acompanhavam o ritmo da música. Logo depois fomos para a cabine de comando, onde os
tripulantes nos aguardavam.
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flutuava suavemente. Ele colocou um cálice para cada um e serviu o vinho. Em seguida, disse
que aguardaria o momento para servir a refeição e se retirou.
Antak pronunciou uma breve oração e nos convidou para o brinde. Após um
animado bate-papo, o robô trouxe um carrinho com frutas, castanhas, cápsulas e garrafas de
sucos. As frutas eram semelhantes a algumas espécies terrestres e os sucos eram deliciosos,
consistentes e naturais. Apesar de comer pouco, ingeriam cápsulas contendo vitaminas,
proteínas, sais minerais, fibras, antioxidantes e me incentivaram a experimentar várias frutas e
castanhas, alegando que meu aparelho digestivo exigia um volume maior de comida. Quando
saímos o robô apareceu e Tali falou alguma coisa com ele, juntando-se a nós em seguida, pois
iríamos a uma sala especial onde meu treinamento seria iniciado.
Quando lá chegamos, Antak disse que iriam aproveitar os três dias para me instruir
sobre a atualidade arretiana, seu povo, modo de vida, fauna, flora e outros assuntos, para que
eu lá chegasse com um resumo geral que facilitasse os levantamentos posteriores. Falou que
Oatas estaria o tempo todo comigo e que eles se revezariam para apresentar e comentar cada
tema. Iriam realizar as apresentações do geral para o particular, à moda cartesiana terrestre, e
começariam com a estrutura do sistema estelar arretiano, a ser apresentado por Sathya. Os
demais se despediram e prometeram retornar no horário do almoço.
Após uma breve descrição do sistema estelar arretiano, cuja imagem estava fixa na
tela, Sathya informou que partiríamos para lá na noite do terceiro dia e que, dali a poucas horas,
a nave se deslocaria para o espaço entre a Terra e Marte, onde ficaríamos estacionados até o
momento da partida. Em seguida a imagem adquiriu movimento e, durante umas três horas,
assistimos a um vídeo tridimensional, muitas vezes interrompido para explicações de Sathya ou
para responder perguntas que fiz.
Arret era o quarto planeta da estrela central das Três Marias, na Constelação de
Órion. Essa estrela, batizada pela astronomia terrestre com o nome de Alnilam, era algumas
vezes maior que o Sol e, girando em torno dela, havia doze planetas, alguns com até sete “luas”.
Um deles era habitado por um povo mais evoluído que o arretiano, outros dois tinham grau
semelhante e três, um grau inferior. Os demais não eram habitados por seres humanos.
O planeta era muito parecido com a Terra, com o dobro do seu tamanho, uma
população ligeiramente superior a 12 bilhões de habitantes e possuía três "luas", sendo uma
semelhante à nossa e outra com mais que o dobro do tamanho. A terceira era cinco vezes maior
e também a mais distante. Ela possuía atmosfera com condições de vida e era habitada por
peixes, répteis, animais e pássaros. A cor da atmosfera era de um azul mais forte que a terrestre
e o ar mais rico, possuindo 25 por cento de oxigênio. O planeta era constituído por metade de
mares e metade de terra firme, dividida em sete continentes, sendo cinco na zona equatorial e
um em cada pólo.
No horário combinado os demais tripulantes entraram na sala e Antak perguntou se
eu não gostaria de tomar um banho de cachoeira. Fiquei surpreso com o convite e, antes da
resposta, ele disse que existia uma cachoeira com piscina, lembrando um pouco daquelas
existentes no Vale Dourado. Fiquei imaginando como seria o lugar e que roupa iria usar, pois
não tinha visto nenhum traje de banho no armário do meu quarto. Eles captaram meu
pensamento e começaram a rir. Tentra disse que tomavam banho ao natural e, como eu não
tinha esse costume, que não me preocupasse, pois no vestiário havia trajes de banho e que
todos iriam usá-los para que eu me sentisse mais à vontade.
Chegamos a um vestiário masculino com alguns bancos, armários e
compartimentos individuais. Escolhi um calção azul e comecei a mudar de roupa imaginando
que tipo de cachoeira com piscina tinham construído na nave. Enquanto isso, meus amigos já
estavam prontos e me esperavam. Notei que tinham corpos perfeitos, de musculatura discreta e
sem pêlos visíveis no peito, braços, axilas e pernas. Comecei a imaginar como seria o corpo das
mulheres e, novamente começaram a rir.
Pedi desculpas e Salino, com seu jeito brincalhão, falou que eu não deveria tentar
inibir pensamentos extremamente comuns e arraigados na mente dos povos da Terra, cujos
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costumes eles conheciam e entendiam muito bem. Disse que, logo que chegasse a Arret, iria me
acostumar com o modo de vida do seu povo e iria pensar e agir naturalmente, sem precisar me
esforçar como fazia naquele momento. Todos disseram algo parecido, com o objetivo de me
deixar à vontade e sem preocupações com qualquer tipo de pensamento que surgisse em minha
mente. Apesar de continuar envergonhado, comecei a admirar aquelas pessoas pela sua
pureza, maneira de agir e de compreender tão bem aqueles que não pensavam e não agiam
como eles.
Salino passou o braço pelo meu ombro e foi caminhando comigo até a porta que
dava acesso à cachoeira. Pediu para fechar os olhos e só abrir quando ele falasse. Ao abrir,
minha surpresa foi enorme. No lugar de um ambiente de aspecto artificial, existia um enorme
espaço com pequenas árvores, pedras, plantas, flores, arbustos, grama, poltronas, mesas e uma
belíssima cachoeira que caía em uma grande piscina.
A água era realimentada por bombas especiais, depois de passar por um processo
de filtragem e normalização do pH, tornando-a tão pura como as nossas melhores águas
minerais. A piscina tinha formato retangular, com uns 15 metros de largura e o dobro de
comprimento. As bordas eram irregulares e seguiam contornos de pedras que avançavam ou
recuavam. O fundo era formado por areia e pedras, com profundidade máxima de três metros. O
teto abobadado era transparente e o ambiente estava iluminado por uma luz “solar” que
destacava as cores das pedras.
Notei Tali e Sathya nadando na superfície e Tentra submersa. Depois de uns dois
minutos conversando com Salino sobre aquele local, comecei a ficar alarmado com o tempo que
ela estava sob a água. Ele me tranqüilizou dizendo que os arretianos podiam mergulhar durante
cinco a sete minutos e que alguns o podiam por um tempo maior. Falou que apreciavam os
esportes aquáticos e eram bons nadadores, como eu estava observando. Enquanto isso, Tentra
saiu da piscina e me abraçou pelas costas. Não me assustei porque seu corpo não estava
gelado. Sorridente como sempre, disse que a água era igual à terrestre, que estava na
temperatura do corpo e me convidou para experimentá-la.
Dizendo que eu não gostava de pular, ela me levou a um local com uma
profundidade próxima de um metro, onde havia algumas pedras que chegavam à superfície.
Curioso, perguntei como sabia desse meu costume e ela respondeu que acompanhava minha
vida há muito tempo, pois os verdadeiros amigos nunca se esqueciam daqueles que amavam.
Ensaiei algumas braçadas sem me distanciar das pedras e, quando novamente
fiquei em pé, todos estavam na piscina. Alguns nadavam na superfície ou submersos e outros
estavam na cachoeira tomando uma ducha sobre uma plataforma de pedra. Tentra me convidou
para nadar até lá e garantiu que estaria por perto para me ajudar em qualquer dificuldade.
Comecei a nadar do meu jeito desajeitado, ainda mais se comparado com a
elegância e o estilo de campeões dos meus amigos. Cheguei à plataforma sem dificuldades,
pois meu preparo físico tinha melhorado escandalosamente. Após uma deliciosa ducha sob a
cachoeira, Tentra me mostrou o espaço que existia atrás da água. Lá havia um ambiente com a
largura de um metro e um banco esculpido na rocha, onde era possível sentar confortavelmente
e massagear os pés. Depois de uma nova ducha, sentei na beira da plataforma pensando em
como tinham construído aquele local maravilhoso e tão natural.
Antak e Tentra se aproximaram e sentaram-se ao meu lado. Falaram sobre aquele
ambiente denominado como Sala das Águas e o que ela significava para eles durante as longas
viagens. Disseram que ela e a Sala do Horto eram os lugares onde relaxavam, meditavam e
batiam longos papos durante as viagens. Antak disse que após o almoço iríamos conhecer o
outro local e, em seguida, mergulhou durante alguns minutos.
Tentra explicou que o fôlego deles para mergulho dependia mais do controle
mental, que do condicionamento físico. Também falou que os olhos arretianos tinham uma
constituição que permitia ver com nitidez sob a água e que os meus tinham a mesma estrutura,
pois meu corpo estava totalmente adaptado às condições de vida em seu planeta. Garantiu que
eu poderia ficar submerso mais de um minuto na primeira tentativa e que esse tempo
aumentaria gradativamente.
Seguindo suas recomendações, mergulhei acompanhado por ela e Salino, um de
cada lado. Quando emergi, ela me parabenizou e disse que ficamos submersos por quase dois
minutos. Fiquei espantado com meu novo fôlego e me animei a continuar o treinamento. Durante
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uma meia hora, revezei o tempo entre mergulhos e conversas com meus amigos até sairmos da
piscina, quando Tentra informou que fiquei mais de dois minutos submerso e estava progredindo
rapidamente. Voltamos ao vestiário, mudamos de roupas e fomos ao restaurante.
As frutas, os sucos e as cápsulas eram de espécies diferentes, um pouco mais
leves, pois o organismo requeria menos calorias na parte da tarde. Novamente notei que
comiam pouco. Como algumas frutas pareciam ter sido colhidas naquela manhã, perguntei se
eram produzidas na Sala do Horto. Tentra explicou que elas estavam armazenadas há uns 25
dias em um equipamento que não utilizava o frio como meio de conservação e mantinha os
alimentos em condições naturais por diversos meses. Quando terminamos, saímos para
conhecer outro local muito interessante.
A Sala do Horto tinha dimensões semelhantes ao da Sala das Águas, era um pouco
mais comprida e possuía o mesmo tipo de teto. Era uma pequena floresta com muitas árvores,
trilhas e locais gramados, circundados por flores de várias espécies. Neles havia poltronas
suspensas que reclinavam e ofereciam um grande conforto, substituindo as nossas redes com
muitas vantagens. Caminhamos um pouco para conhecer o local e depois Tentra ensinou como
ajustar as poltronas ao meu gosto.
Conversamos sobre a situação atual da Terra e sobre os acontecimentos previstos
para o final do seu ciclo evolutivo. As informações não aumentaram em nada os meus
conhecimentos, especialmente, quanto a datas. Mais tarde, Antak disse que o horário de almoço
tinha terminado e que estava na hora da aula sobre a geografia, a flora e a fauna, a ser
monitorada por Salino. Era uma continuação da anterior e ocuparia o restante da tarde.
Chegando à sala, Salino alertou que aquela sessão sobre a geografia, a fauna e a
flora, apesar de longa, seria uma das mais resumidas de todas, dada a abrangência e a
variedade dos temas envolvidos. Disse que eu teria acesso a muitos outros detalhes durante as
viagens, passeios e visitas que faríamos em Arret durante mais de trinta dias. Mesmo assim, os
vídeos e as explicações de Salino transmitiram um vasto conjunto de informações sobre o
planeta.
Seus mares eram menos salgados e os rios eram de água doce como os nossos,
ambos com muitas espécies de peixes e de vegetação aquática. Além de grandes ilhas fluviais,
havia ilhas marítimas com área superior a 500 quilômetros quadrados. O relevo era bem menos
acidentado que o terrestre, predominando as planícies. As montanhas raramente ultrapassavam
a altura de mil metros em relação às planícies em que se situavam, as quais, em geral, estavam
a quinhentos metros acima do nível do mar. Em Arret não existiam desertos ou geleiras.
As chuvas eram leves, bem distribuídas, sem ventanias, raios ou trovões e ocorriam
quase sempre à noite, sob comando dos arretianos. A temperatura dos continentes polares
girava em torno de 15 graus centígrados e nos demais, variava de 18 graus, nos extremos
polares, a 25 graus na zona equatorial. O clima geral era uma mistura de outono e primavera
dos nossos países tropicais. A vegetação era semelhante à nossa, predominando o verde
azulado nas matas e um tom mais claro nas planícies. As flores apresentavam múltiplas cores,
mais vivas e brilhantes.
A maioria dos pássaros eram canoros e de pequeno porte. Assim como os animais,
não receavam os arretianos e atendiam prontamente aos seus chamados. Os animais e os
pássaros não eram carnívoros e apresentavam, como as espécies vegetais, uma quantidade e
variedade bem menor que a terrestre. Os arretianos respeitavam e os consideravam como
irmãos de um reino anterior e os tratavam com muito amor, para que evoluíssem e atingissem
mais rapidamente à individualização no reino humano. Lá não havia mosquitos, baratas, ratos,
cobras e outros seres que aqui consideramos como nocivos.
Tentra chegou no final da aula e nos acompanhou até a Sala das Águas sem nada
dizer a respeito do novo personagem que lá encontramos. Era Othíbio, o Ministro das Relações
Exteriores de Arret. Ele estava retornando de uma missão diplomática em Marte e aproveitou
para fazer a visita. Parecido e como mesmo tipo físico de Salino, logo demonstrou que também
era muito bem humorado e brincalhão.
Assim que fui apresentado, ele disse que sabia da minha presença na nave e que
Antak e os demais tinham feito um relatório a respeito dos meus progressos, citando alguns
momentos hilariantes, como o teste que realizei em meu novo corpo. Falou que estava feliz com
o nosso encontro e que após o jantar iríamos conversar sobre “trabalho", pois aquele era um
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momento de relaxamento. Em seguida entrou na piscina e nós o imitamos. Tomamos ducha,
nadamos, mergulhamos e "jogamos conversa fora" durante quase uma hora, ficando
evidenciado que Othíbio era uma pessoa simples e acessível como os demais. Apesar de ser o
responsável pelo relacionamento interplanetário do governo central, ele não demonstrava essa
sua posição.
Em uma conversa posterior, Tentra informou que em Arret não existem classes
sociais e todos são tratados igualmente, com os mesmos direitos e deveres. Tampouco existe o
nosso conceito de hierarquia ou de chefia. Os seres de maior adiantamento espiritual, ou de
maior responsabilidade social, são os que mais se esforçam para melhor servir, compreender e
ajudar aqueles que ainda não atingiram o nível deles. Ela lembrou o caso de Jesus, servindo e
se sacrificando na cruz para dar o exemplo e possibilitar a elevação espiritual da humanidade
terrestre.
Após o banho fomos para o restaurante, onde se repetiu a cena anterior, desta vez,
com frutas mais aquosas, sucos naturais e as indispensáveis cápsulas. Tentra explicou que à
noite a alimentação era mais leve, pois o nível energético requerido era menor e citou um ditado
também conhecido na Terra: “de manhã devemos comer como um rei, à tarde, como um príncipe
e à noite como um mendigo”.
No caminho para o nosso local de descanso, fui conversando com Othíbio e
perguntei como chegou à SOL-4. Ele respondeu que foi teletransportado de sua nave e que ela
poderia ser vista da Sala do Horto. Batizada como Amizade, tinha o mesmo formato da nossa e
dimensões bem maiores. Assim que começamos a observá-la, um conjunto de luzes de várias
cores começou a piscar em um ritmo musical e Othíbio disse que a tripulação estava nos
cumprimentando e desejando sucesso ao nosso trabalho. Logo elas diminuíram a intensidade,
até restar somente as luzes iniciais.
Sentamos no círculo central e Antak iniciou a conversa falando sobre Othíbio, seu
trabalho em Arret e em outros planetas da nossa zona galáctica. Depois de dizer que ele tinha
um convite a me fazer, passou-lhe a palavra. Othíbio fez alguns comentários sobre a fala de
Antak e disse que Arcthuro, o presidente do governo central, pediu que me convidasse para uma
reunião às três horas da tarde do dia do nosso desembarque, mantendo a outra que aconteceria
no meio da minha estada no planeta.
Em seguida perguntou se poderia levar minha resposta favorável a Arcthuro. Fiquei
observando Othíbio sem nada dizer, pois estava espantado com o convite e com a pergunta. Ele
a repetiu e eu, ainda confuso, falei que ficaria aguardando a reunião com grande expectativa.
Ele esclareceu que fez a pergunta em respeito ao meu livre arbítrio e enfatizou que jamais
fariam qualquer coisa sem o meu consentimento. Disse também que Arcthuro era o primeiro e
maior cumpridor dessa Lei.
Pedi para ele falar um pouco sobre Arcthuro e ouvi atentamente o que ele disse
com relação à simplicidade, respeito, justiça, abnegação, bondade e amor que vinha
manifestando aos arretianos nos últimos 80 anos do seu governo. Seu modo de ser era
igualmente reconhecido e retribuído pelo povo, que o amava profundamente e o respeitava
como um pai que se sacrificava pelos filhos. Ele era o sacerdote que cumpria e ensinava a Lei
Divina e o rei que governava com justiça e sabedoria.
Othíbio me pediu para aguardar com tranqüilidade o momento da reunião e para ver
Arcthuro como uma pessoa igual aos meus demais amigos e não como o "supremo mandatário"
de seu planeta. Em seguida, falou que precisava retornar à Amizade e partir para Arret. Dizendo
que logo nos encontraríamos, se despediu e saiu com Antak e Salino, com destino à cabine de
comando, onde seria teletransportado.
Os dois retornaram uns dez minutos depois e me pediram para observar a
despedida da Amizade. As luzes coloridas voltaram a piscar enquanto ela se afastava
lentamente. Após uns dois minutos elas se apagaram e seu escudo protetor ficou visível e
começou a brilhar até não se distinguir mais a nave. Tudo desapareceu após um clarão
semelhante a uma explosão e Antak comentou que a Amizade já havia saído dos limites do
Sistema Solar e estava a caminho de Arret. Continuamos conversando sobre Othíbio, Arcthuro, o
governo central e o trabalho deles na SOL-4. Fiquei sabendo que Othíbio era tio de uma vizinha
de Tentra que eu iria conhecer, a qual trabalhava junto e era muito amiga de sua filha Vércia. Já
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passava das nove horas quando Antak disse que tinham que tomar algumas providências e que
depois iriam dormir.
Oatas e eu os acompanhamos até a entrada da cabine de comando e depois fomos
para a ante-sala dos nossos quartos. Lá tomamos suco de frutas e conversamos por quase uma
hora. Falei a maior parte do tempo, enquanto Oatas ouvia, fazia algumas colocações ou
respondia às minhas perguntas. Além de ter falado sobre várias coisas que aconteceram
naquele dia, eu estava preocupado em controlar meus pensamentos, pois eram facilmente
captados por ele e pelos tripulantes.
Além daquilo que Salino, Antak e Otento falaram no vestiário da Sala das Águas, a
conversa me deixou mais aliviado. Antes de ir para o seu quarto Oatas forneceu outras
informações sobre os controles da cama e do equipamento de áudio e vídeo. Depois de tomar
banho e mudar de roupa, deitei ouvindo a Canção da América e comecei a relembrar as cenas e
acontecimentos daquele dia. Quando ouvi os acordes da Ave Maria, uma sensação de paz me
invadiu e logo adormeci.
Após o banho fui com Oatas para o restaurante, onde nossos amigos nos
aguardavam para a refeição matinal. Quando terminamos, Antak disse que teríamos uma hora
de descanso e depois eu iria assistir a duas sessões de vídeo naquela manhã e a outras duas à
tarde. O primeiro seria apresentado por ele e versaria sobre a forma de governo e o “sistema
financeiro”. O segundo, monitorado por Tentra, seria sobre a família e o relacionamento
amoroso. À tarde, Tali apresentaria uma visão geral dos sistemas de educação, saúde e lazer.
Otento fecharia o dia com os sistemas agrícola e industrial.
Fomos para a Sala do Horto e conversamos sobre os temas do treinamento do dia
e sobre Vércia, a filha de Tentra e Salino. Depois, Antak, Oatas e eu fomos para a sala de aulas
e os demais foram se ocupar com seus afazeres na nave. A rotina daquele dia seguiu o padrão
do anterior, com períodos de lazer na Sala das Águas e descanso na Sala do Horto. Os temas
apresentados me permitiram começar a entender o modo de vida e os motivos da felicidade dos
meus amigos e do povo arretiano.
A aula sobre a forma de governo e o “sistema financeiro” revelou aspectos
interessantes daquela sociedade planetária. Em Arret falavam uma única língua e lá não havia
países, estados, municípios e proprietários de terras. O governo central era um organismo
planetário que atuava como uma “corporação empresarial” simples, ágil e objetiva. Seus
componentes não concorriam entre si e todos trabalhavam para atingir os objetivos da
"corporação", sem visar poder, salários, carreiras ou promoções. Trabalhavam por prazer,
naquilo que gostavam e que sabiam fazer melhor, pois independente do que faziam, tinham os
mesmos direitos e obrigações sociais.
Lá não circulava nenhum tipo de moeda e ninguém recebia qualquer remuneração
pelo trabalho no horário padrão. Também não pagavam por nada que fosse necessário, como
alimentação, habitação, vestuário, saúde, educação e lazer. Para ter acesso a bens não
essenciais, como veículos ou aparelhos de som e imagem, utilizavam as “horas extras” e, tanto
o presidente como um jardineiro, necessitam da mesma quantidade dessas horas para adquirir o
mesmo bem.
O horário de trabalho padrão era de seis horas diárias, em dois períodos de três
horas, das oito às onze e das quatorze às dezessete. O expediente semanal era de cinco dias,
durante seis meses por ano. Se trabalhassem mais, produziriam bens em quantidade superior
às necessidades da população do planeta. Trabalhavam um mês e tiravam férias no outro,
quando eram substituídos pelos que descansaram no mês anterior.
As férias eram utilizadas para atividades turísticas, culturais, educativas e,
principalmente, para contatos com os habitantes de outras regiões do planeta. O presidente do
governo central, seus doze ministros e outros administradores do “alto escalão” tinham um
regime de trabalho diferente e raramente tiravam mais que dois meses de férias por ano. Nos
hospitais, centros de lazer e outras atividades essenciais, o trabalho era ininterrupto, com
revezamentos a cada seis horas.
A palestra de Tentra sobre a família e o relacionamento amoroso foi a mais difícil de
ser compreendida ou aceita pela mente terrestre. Em Arret, os casais se uniam por laços de
afinidade pura, a ponto de exercerem a mesma profissão e trabalharem juntos durante toda a
vida, como era o caso dos tripulantes. Assumiam esse compromisso antes do nascimento e, aos
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sete anos, já sabiam se iam se casar e com quem. O namoro começava nessa idade e tinha a
conotação de uma grande amizade. O casamento ocorria em uma cerimônia simples celebrada
pelos seus pais.
Na volta das férias nupciais, a lua-de-mel arretiana, o casal recebia uma casa
mobiliada e equipada, no local que escolheram para viver e trabalhar. Os filhos, além do respeito
e dos fortes laços que os uniam aos seus pais, também eram considerados filhos de todos os
arretianos e, quando começavam a freqüentar escolas, podiam até morar por longos períodos
em uma outra casa. O relacionamento amoroso era um conceito que apresentava sérias
dificuldades para ser compreendido pela mente terrestre, centrada no sexo e no orgasmo físico,
independente da afinidade entre os parceiros.
Lá, essa parte do relacionamento entre casais era muito diferente. A mulher não
tinha menstruação e a ovulação, seguida de uma relação sexual física, só acontecia quando o
período era propício para o nascimento de um filho ou filha. Porém, mesmo com duzentos anos
de idade, os casais podiam realizar aquilo que chamavam de entrelaçamento energético, o qual
levava a um "orgasmo espiritual" muito superior ao físico. Podiam realizá-lo sempre que o
desejassem, mesmo que separados por milhares de quilômetros. O processo não tinha
nenhuma limitação, pois ocorria em um outro plano, enquanto os corpos físicos dormiam. Os
casais arretianos realmente faziam e sentiam amor, semelhante à sensação de abraçar e beijar
a filha ou filho querido, potencializada dezenas de vezes.
A aula sobre os sistemas de educação, saúde e lazer, apesar de resumida,
transmitiu informações muito interessantes. Entre os três e os sete anos, as crianças adquiriam,
gradativamente, a memória de suas experiências passadas e daquilo que vieram fazer no
planeta. Aos sete anos estavam intelectualmente aptas para realizar trabalhos que
desenvolveram em vidas passadas, especialmente na anterior. Por essa razão, lá não havia
cursos de alfabetização. Nessa idade e por sua livre escolha, quase todos freqüentavam cursos
de informação sem currículo mínimo, presença obrigatória ou certificados de conclusão.
Também podiam não freqüentar esses cursos até os 14 anos, quando começava a
fase de formação profissional para o trabalho que vieram executar. Nessa idade, os jovens
tinham acesso a cursos de capacitação, como medicina ou engenharia, dentre outros. Escolhiam
livremente a escola, o curso e as cadeiras que julgavam necessárias à sua formação. O acesso
não dependia de vestibulares, bastando o registro de sua decisão no período letivo anterior. As
avaliações eram realizadas pelos próprios alunos e, na conclusão do curso, não recebiam
certificados.
Em Arret, valorizavam as qualidades reais ou espirituais de cada pessoa. Bastava
ela dizer que estava capacitada para o trabalho, que ninguém perguntava onde e quando
aprendeu, ou como se preparou, pois ninguém trabalhava em algo que não gostava e que não
pretendia executar com perfeição. Quando julgavam necessário outros conhecimentos para
melhor desempenhar seu trabalho ou missão, ingressavam em escolas de especialização e
alguns ainda freqüentavam cursos avançados em planetas mais evoluídos.
O sistema de saúde era totalmente preventivo e estava apoiado na manutenção de
um corpo saudável através da alimentação correta e da prática de esportes, os quais
objetivavam apenas exercitar o corpo e a mente. Nos centros médicos existentes em cada
cidade, as poucas cirurgias eram realizadas com a ajuda de sofisticados aparelhos e quase
sempre no corpo vital da pessoa, sem cortes ou contatos físicos.
O arretiano não ficava doente e vivia saudavelmente até os duzentos anos com
uma energia juvenil. Morria por vontade própria, alguns dias ou meses após o termino do
trabalho que vieram realizar no planeta. Quando chegava esse momento, despediam-se dos
amigos e familiares, dormiam e não acordavam mais. Os hospitais eram mais maternidades do
que outro tipo de clínica.
O parto era natural, sem dores e realizado dentro de uma piscina especial. A
operação cesariana era muito rara e utilizada somente quando existia risco de vida para a mãe
ou para o bebê. Os arretianos faziam “check-up” diário e, a maioria deles, mais de uma vez por
dia, sempre que utilizavam a cabine de teletransporte. Ela realizava esse procedimento
automaticamente e, quando constatava alguma anormalidade, o sistema de saúde convocava o
usuário e resolvia o problema na fase inicial, de uma maneira rápida, segura e indolor.
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O lazer era a atividade mais importante no planeta e incluía a música, o cinema, o
teatro, a dança, os jogos de salão e outras práticas, predominando os esportes aquáticos, como
a natação e o mergulho. Lá, tudo era praticado sem competição e, portanto, não existiam
campeonatos ou torcidas organizadas. Também não praticavam esportes como o futebol,
basquete e vôlei, dentre outros de natureza competitiva. O objetivo do esporte era apenas
exercitar e manter o corpo e a mente sadios.
O sistema agrícola, além de fornecer a base de sustentação da vida, colocava os
arretianos em estreito contato com a natureza, a qual muito admiram e respeitam. A maioria das
cidades eram agrícolas e ficavam localizadas no centro das áreas de cultivo, como se fossem
agrovilas. Raramente comportavam mais de 18 mil habitantes e produziam uma grande
variedade de frutas, alguns legumes e verduras e poucos cereais. Parte da produção era
destinada à alimentação em estado natural e a outra, ao processamento industrial. Como o clima
do planeta não apresentava variações sensíveis, quase todas as regiões produziam de tudo.
As cidades industriais eram maiores e algumas chegavam a 50 mil habitantes.
Umas só produziam equipamentos básicos ou matérias-primas e outras as transformavam em
utilidades para a vida planetária, desde pequenos objetos, até grandes naves intergalácticas. O
complexo agrícola e industrial era bem distribuído em todo o planeta, sem privilégios para
nenhuma região. Os trabalhos pesados ou repetitivos eram executados por máquinas e robôs de
diversos tipos e habilidades.
Durante o descanso matinal na Sala do Horto, Antak fez uma rápida exposição dos
temas das quatro aulas do dia. Sathya apresentaria os tipos de naves de transporte e o sistema
de distribuição. Tentra se encarregaria do urbanismo e Tali complementaria seu tema anterior,
falando das artes e espetáculos. Ele iria concluir o treinamento falando sobre o sistema religioso.
Depois iniciamos a programação daquele dia maravilhoso e cheio de novidades como os dois
anteriores, tanto com relação aos temas tratados, como pela agradável surpresa que tivemos na
última aula. Elas continuaram até o final da noite.
Em Arret havia sete classes de naves de transporte e todas apresentavam a forma
de um charuto achatado, ou uma elipse, cujo comprimento era sempre o triplo da largura, ou o
quádruplo da sua altura. Além dos tipos básicos abaixo, fabricavam outras com vários formatos,
voltadas para a execução de serviços especiais, ou para transporte em locais específicos, como
parques, canteiros de obras e centrais de abastecimento.
As grandes naves do tipo 1, com 1.368 metros de comprimento, 456 de largura e 342 de
altura, eram utilizadas para viagens na Via Láctea ou a outras galáxias. Elas raramente
desciam nos planetas visitados e, normalmente, estacionavam em órbitas elevadas. O
contato com o solo era realizado por naves do tipo 4 ou menores, abrigadas em seu interior.
As naves do tipo 2, como a Amizade, tinham 456 metros de comprimento, 152 de largura e
114 de altura. Eram utilizadas para transporte de cargas e para lazer turístico na Via Láctea
ou regiões dela.
As naves do tipo 3, como a SOL-4, com 144 metros de comprimento, 48 de largura e 36 de
altura, eram utilizadas para viagens em regiões da Via Láctea, com a mesma autonomia e
recursos de navegação das naves do tipo 2. Elas também eram utilizadas para transporte de
cargas dentro e fora da atmosfera arretiana.
Para o transporte de cargas a qualquer região do planeta ou do sistema estelar arretiano,
havia as naves do tipo 4. Elas tinham uma largura de 24 metros, altura de 18 e um
comprimento de 72. Podiam dar uma volta em Arret em menos de dez minutos e, fora da
atmosfera, sua velocidade era espantosa.
As naves do tipo 5 eram utilizadas para o transporte de cargas e de passageiros em viagens
turísticas a qualquer lugar de Arret ou de seu sistema estelar. Tinham 12 metros de largura, 9
de altura e 36 de comprimento. Dentro da atmosfera e fora dela, seguiam o mesmo padrão
de velocidade das naves do tipo 4.
Como tipo 6, existia uma nave medindo 8 metros de largura, 6 de altura e 24 de
comprimento. Era o ônibus arretiano, por ser largamente utilizada no transporte de
passageiros para qualquer região do planeta, incluindo colônias marítimas, estações orbitais
e satélites naturais.
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A última nave media 2 metros de largura, 1,5 de altura, 6 de comprimento e era conhecida
como veículo do tipo 7, ou de transporte familiar e individual. Era o único lá existente para
essa finalidade e seu modelo básico era diferenciado apenas pelas cores do seu interior e
pela sua pintura externa, algumas, uma verdadeira obra de arte.
A distribuição de bens para a população era realizada em estabelecimentos
semelhantes aos nossos supermercados. Os arretianos tinham acesso a eles através de duas
formas distintas. O primeiro caso, em que os direitos eram iguais para todos, envolvia uma
infinidade de produtos necessários à sobrevivência, bem-estar, conforto e qualidade de vida,
como alimentos, vestuário, equipamentos e utensílios domésticos, roupas e guarnições, dentre
outros. Para obtê-los, bastava ir a um supermercado, registrar a saída dos produtos nos
inúmeros terminais de leitura lá existentes e levá-los para casa sem necessidade de pagamento.
O segundo caso envolvia os bens não essenciais, como equipamentos de som e
imagem, cabines de teletransporte e veículos do tipo 7. Para obtê-los, o interessado dirigia-se a
outro tipo de estabelecimento, onde se identificava e retirava o bem que estaria à sua disposição
em até duas semanas após a escolha do tipo, cor ou modelo, desde que tivesse o crédito
necessário em horas extras. Também podia recebê-lo como presente de casamento de seus
pais ou padrinhos que tivessem o respectivo crédito.
As cidades arretianas eram cuidadosamente planejadas para facilitar o
relacionamento, a convivência comunitária e o aproveitamento das horas de lazer. As avenidas
eram muito largas e possuíam um canteiro central arborizado e florido. Nelas, a cada cem
metros, havia ambientes circulares destinados a atividades culturais e recreativas. As ruas
secundárias não tinham canteiro central, mas eram largas, arborizadas e floridas. Ambas eram
destinadas exclusivamente a pedestres e eram revestidas com pedras planas e um tipo de
grama japonesa.
As residências apresentavam sete tipos de plantas e uma área construída que
variava em função da quantidade de quartos. Podia ter de dois a cinco dormitórios e de 100 a
210 metros quadrados. Quase todas eram térreas e apresentavam amplas varandas em sua
volta. O material básico empregado nessas construções era a madeira, combinada com resinas
plásticas e fibras minerais, como a de vidro.
Os terrenos residenciais tinham 50 metros de lado e eram impecavelmente
gramados e arborizados. As habitações eram posicionadas do centro para frente e, na junção
dos quatro terrenos que formavam cada quadra, existia uma piscina com cachoeira,
escorregador e outros equipamentos de lazer comunitário. Um conjunto variável de quadras
formava um bairro e cada um deles era constituído por residências de mesmo formato e mesma
quantidade de quartos. As cores externas eram variadas, predominando os tons claros. A visão
das quadras e dos bairros, além de muito bonita, era um espetáculo de cores, árvores e flores.
Os prédios públicos, como teatros, cinemas e supermercados, eram identificados
pelo seu formato e cores peculiares. Eles obedeciam a outro padrão de construção e raramente
tinham mais que dois andares. O prédio mais alto de Arret era o Palácio da Harmonia, com 28
andares, onde ficava instalado todo o primeiro escalão do governo central do planeta. Ele era
muito bonito, tinha a forma piramidal e sua base era formada por uma estrela de oito pontas.
Externamente, era uma impressionante estrutura de cristal dourado com topo azulado, onde se
localizava o gabinete de Arcthuro. Apesar do baixo índice de incremento populacional, o
Ministério da Habitação sempre construía novas cidades, mais para manter um padrão de idade
média das edificações em torno de duzentos anos, equivalente à expectativa de vida da
população.
As artes e espetáculos foi o tema que apresentou menos novidades, pois a música,
o teatro e a dança, em diferentes graus de manifestação, existiam em planetas de todos os
graus evolutivos. Porém, em Arret, a música era tão popular que era impossível encontrar uma
pessoa que não dominasse, pelo menos, um instrumento musical, os quais eram muito
parecidos com os nossos. A dança clássica era muito popular e também a de salão, no estilo
praticado em nosso planeta na época das grandes orquestras.
O teatro utilizava avançados recursos de cenografia e o cinema, em três
dimensões, era apresentado em grandes telas côncavas, semelhantes às da SOL-4, as quais
reproduziam a realidade de uma forma assustadora, pois até os odores, o frio e o calor eram
sentidos pela platéia. Apesar de terem recursos parecidos em suas casas, os arretianos
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preferiam assistir a filmes em locais públicos, tanto pela oportunidade de contato e convivência
com outras pessoas, como pelas palestras que sempre ocorriam antes de cada espetáculo.
Também assistiam a filmes e documentários realizados em outros planetas, inclusive na Terra.
A aula sobre o sistema religioso contou com a presença dos demais tripulantes e,
antes de iniciar, Antak fez uma breve oração, após a qual observamos uma luz dourada que se
transformou na imagem de Jesus. Antes que se desfizesse, foi possível ouvi-lo dizer que estava
satisfeito com o trabalho em andamento e que sempre estaria conosco. Todos se emocionaram
e Antak fez alguns comentários sobre a admiração do povo arretiano por aquele ser
maravilhoso. Dentre outras coisas, disse que Jesus, em várias ocasiões, foi o guia de Ahelohim,
o messias de Arret, como Jesus o era da Terra.
Depois, Antak falou sobre a religiosidade do seu povo, a qual atendia plenamente
aos princípios básicos que Jesus veio demonstrar e ensinar em nosso planeta. Ao mesmo tempo
em que ninguém era ligado a uma corrente religiosa, todos amavam o próximo como a si
mesmos e a Deus sobre todas as coisas. Lá não havia templos ou igrejas e nem pessoas como
padres, pastores ou rabinos. Porém, antes de qualquer espetáculo cultural, sempre ocorriam
palestras de cunho filosófico, proferidas por membros do governo central ou por cidadãos
comuns. Os Arretianos adoravam essas palestras, onde sempre ocorriam fenômenos como
aquele que acabávamos de presenciar.
Ao término da aula, Antak pediu para Tentra falar sobre a viagem a Arret e divaguei
por alguns momentos da sua exposição, pensando nas razões de todo o trabalho que estavam
tendo comigo. Além daquilo que ela estava fazendo, cujo objetivo era me tranqüilizar, os demais
estavam há três dias à minha disposição, pois não havia percebido nenhuma outra atividade
especial na SOL-4. Tentra captou essas divagações e pediu para me concentrar na sua fala,
pois não queria que eu ficasse inseguro ou preocupado com alguma coisa que acontecesse fora
do padrão e eu a interpretasse de maneira errada. Depois de dizer que mais tarde conversaria
comigo, continuou sua exposição.
Ela falou que às três horas da manhã a nave entraria em uma espécie de túnel do
tempo, portal ou “xendra”, como alguns conheciam na Terra. O processo seria comandado pelo
SINE e a viagem, de centenas de anos-luz, ocorreria em um tempo muito curto, pois às cinco
horas a SOL-4 já estaria estabilizada e em órbita alta em relação à superfície arretiana. Durante
essas duas horas eu deveria permanecer em minha cama com a cúpula fechada, para não
acordar com dor de cabeça ou enjoado. Pediu para não ingerir líquidos após a refeição e para
urinar antes de deitar, pois, entre três e cinco horas, a cúpula não abriria ao meu comando e
estaria bloqueada pelo SINE, para minha total segurança.
Após a exposição, Antak falou que ele, Tali, Otento e Salino iriam tomar as
providências para a viagem e combinaram nos encontrar no restaurante, na hora do jantar. Ao
sair, brincou dizendo que iriam trabalhar enquanto a gente se divertia na Sala das Águas. No
caminho, enquanto Oatas e Sathya conversavam mais à frente, pedi desculpas a Tentra pelas
minhas divagações e ela disse que o povo arretiano não sabia o que era pedir desculpas, pois lá
ninguém se ofendia. Salientou que fez a observação somente para que eu não perdesse
nenhum detalhe importante, como o travamento da cúpula da cama.
Reiterou que iríamos conversar sobre o assunto das minhas divagações após
alguns mergulhos e perguntou se eu concordava em tomar o banho ao natural, pois queria saber
se eu já estava preparado para encarar essa situação corriqueira para o seu povo, apesar de
incomum e cheia de preconceitos e malícias na Terra. Respondi que ainda me sentia inibido e
sem saber como me comportar, mas que gostaria de tentar e iria me esforçar para não
decepcioná-la. Ela me incentivou e disse que eu iria me sair bem nessa última etapa do
treinamento, no qual tinha recebido boas notas até então.
Não entendi exatamente o que ela quis dizer, mas não tive tempo para fazer
perguntas, pois estávamos chegando à Sala das Águas. Tentra contou a novidade para Oatas e
Sathya, deixando-os contentes com a notícia e eles me incentivaram a agir naturalmente, como
era comum ente as crianças terrestres. No vestiário, pedi para Oatas me vigiar e "puxar minha
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orelha" se fosse necessário. Ele deu uma gargalhada e disse que não precisaria me vigiar, mas
estava ansioso para me ver no ambiente da piscina. Assim que nos despimos, me pediu para
ignorar o fato e disse que tudo iria dar certo.
Quando entramos, Sathya nadava submersa e Tentra estava em pé sob a
cachoeira. Não pude ignorá-la, pois assim que me viu, pediu para esperá-la na borda da piscina
e mergulhou. Entrei imediatamente na água e os poucos segundos que ela demorou pareceram
minutos, pois nesse tempo houve uma luta entre a parte dos meus pensamentos que teimavam
em observá-la e a outra que recriminava o procedimento.
Ao chegar, ficou em pé e perguntou como estava me sentindo. Disse que estava
envergonhado, pois não tinha conseguido deixar de observá-la. Ela deu uma gargalhada e pediu
para me despreocupar e, se sentisse vontade de olhar, que não lutasse contra esse
pensamento, como estava fazendo naquele momento. Falou que não se sentiria desrespeitada
por ser observada e garantiu que logo eu me acostumaria, pois a curiosidade inicial se
transformaria em um fato corriqueiro. Tentra afastou-se um pouco e me pediu para observá-la à
vontade, até concluir que ela era igual a todas as mulheres, sem nada de especial ou digno de
ser notado.
Depois, voltou a perguntar como estava me sentindo. Respondi que, naquelas
circunstâncias, não havia razão para me sentir mal, pois ela era uma pessoa muito querida que,
como uma amorosa e paciente professora, estava ali para me ensinar uma difícil lição, da
maneira mais fácil de ser assimilada. Falei que sentia a necessidade de aprendê-la para
continuar o maravilhoso curso que estavam me oferecendo, com um empenho e dedicação que
eu nunca presenciei na Terra.
Quando terminei de falar, notei lágrimas em seus olhos e pensei ter feito ou falado
alguma coisa errada. Imediatamente ela disse que suas lágrimas eram de emoção e de
felicidade pelo que eu acabara de sentir e dizer. Falou que os arretianos eram muito emotivos e
choravam facilmente em situações como aquela. Depois me convidou para um mergulho e só
então percebi Oatas e Sathya ao nosso lado, sorrindo e fazendo sinais de aprovação. Nos
divertimos bastante e durante esse tempo minhas sensações iniciais desapareceram. Mais
tarde, Tentra me chamou para uma conversa fora da piscina.
Assim que sentamos, ela disse que aquilo que estavam fazendo representava uma
grande satisfação para eles e que qualquer arretiano faria coisas semelhantes, mesmo que não
houvesse um motivo claro ou especial. Disse que o livro ou livros, juntamente com outros
já publicados e a serem publicados nos próximos anos, ajudarão muitas pessoas a pensar e a
sonhar com um mundo melhor, mais fraterno e feliz, baseado no serviço impessoal e
desinteressado de recompensas materiais.
Afirmou que o conjunto desses pensamentos e desses sonhos acelerará o processo
cósmico e ajudará a transformar o modo de vida terrestre em algo parecido com aquilo que vi e
iria confirmar durante os levantamentos em Arret. Tentra estava muito compenetrada, parecendo
observar alguma coisa que eu não via e afirmou que, antes de estarem fazendo algo pela nossa
humanidade, estavam fazendo por eles mesmos.
Enfatizou que era somente o serviço desinteressado que impulsionava o ser para
estágios mais avançados na senda da evolução e afirmou que, se eu escrevesse o livro, deveria
fazê-lo sem esperar reconhecimentos e recompensas materiais. Também deveria me preparar
para receber mais críticas que elogios, pois boa parte da humanidade terrestre não entenderia a
mensagem central e não tinha interesse em mudar seu modo de vida atual.
Em seguida, perguntou se eu tinha pensado sob esse prisma. Respondi que sim e
afirmei que nunca imaginei escrever o livro para ganhar dinheiro e que as críticas também não
seriam novidades, pois eu seria apenas mais um dos milhares que já passaram por situações
semelhantes. Ela disse que estava satisfeita com o meu modo de pensar e que ela e os demais
iriam me ajudar em tudo que fosse possível, para que eu colhesse mais rosas que espinhos.
Oatas e Sathya saíram da água e sentaram-se junto a nós. Apesar de não terem
ouvido a conversa, reforçaram tudo que Tentra falou. Ao final, ele informou que passei nos testes
e que, dali para frente, as coisas seriam mais fáceis para mim. Em seguida, disse que estava na
hora de irmos ao restaurante e, por essa razão, resolvi não fazer perguntas sobre os testes.
Fomos recebidos com palmas, abraços, cumprimentos e os mesmos incentivos que
acabara de ouvir. Disse a eles que estava achando que me submeteram a um teste real e, se
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não fosse aprovado, adeus viagem a Arret. Antak confirmou minhas suspeitas e informou que os
três dias de treinamento tinham esse objetivo. Falou que não me informou a respeito para não
prejudicar meu aprendizado sobre seu povo e o processo de assimilação das novas regras de
comportamento social.
Aliviado com a notícia, agradeci a todos pelo carinho e paciência que tiveram
comigo. Depois, Tali nos convidou para um brinde, após o qual ingerimos uma refeição leve.
Enquanto nos dirigíamos à Sala do Horto, perguntei a Antak se ele sabia algo a respeito do meu
corpo original. Ele informou que meu corpo dormia um sono tranqüilo e que suas funções vitais
estavam sendo controladas por uma cápsula sobre o meu quarto, a qual enviava informações
para uma das naves do comando da frota de apoio à Terra e esta as retransmitia ao computador
da SOL-4.
Depois de dizer aos demais que logo os encontraríamos, entramos em uma sala de
treinamento. Antak pressionou uma tecla, deu alguns comandos de voz e logo a tela se iluminou
com uma imagem distante da Terra. Seu tamanho foi aumentando até que vi minha casa, o meu
corpo e o de minha esposa, ambos dormindo. Notei que o relógio marcava meia noite e quinze.
Fiquei impressionado com o fato de estar na nave há quase três dias e o relógio ter
avançado apenas 10 minutos. Imediatamente lembrei da primeira conversa com Oatas e dos
cálculos que fiz. Antak captou meu pensamento e comentou que dentro de umas duas horas
terrestres eu estaria de volta àquele corpo e me pediu para ficar tranqüilo, pois ele estava sendo
muito bem cuidado. Informou que durante a estada em Arret não haveria condições para vê-lo
em tempo real e perguntou se eu estava satisfeito. Ante a resposta afirmativa, a tela foi apagada
e saímos ao encontro dos nossos amigos.
A conversa foi muito animada e versou sobre a chegada ao planeta e o início dos
levantamentos. O desembarque ocorreria em Agartha, a sua capital, em um dia equivalente a
uma segunda-feira, após a refeição da manhã. No início da tarde iríamos à sede do governo
central, onde ocorreria a reunião com Arcthuro. No dia seguinte seriam iniciados os
levantamentos básicos, previstos para as três primeiras semanas. Depois haveria outra reunião
com Arcthuro, na qual seriam definidas as etapas seguintes e o dia do meu retorno à Terra.
Mais tarde, uma informação de Antak me deixou surpreso. Disse que o trabalho de
Oatas estava concluído com grandes méritos e que ele iria voltar a fazer parte da espiritualidade
marciana. Falou que Tentra e Salino seriam meus guias em Arret, juntamente com outras
pessoas que lá eu iria conhecer.
Perguntei por que ele iria nos deixar, se tinha dito que seria o meu guia durante a
viagem. O próprio Oatas respondeu dizendo que assim procedeu porque eu não estava
preparado para compreender e aceitar outra alternativa. Se dissesse que seriam Tentra e Salino,
que eu ainda não conhecia, poderia me deixar inseguro e prejudicar o plano que estabeleceram.
Afirmou que não me enganou e que estaria sempre comigo, pois seu pensamento jamais me
abandonaria. Falou que aquela foi a melhor maneira que encontraram para fazer o contato
comigo e perguntou se eu agiria de outra maneira naquele tipo de situação.
Concordei plenamente com suas justificativas e relembrei que ele já havia feito
muito por mim desde o nosso primeiro contato em 1978. Falei que ele sempre ocuparia um lugar
especial no meu coração, pois nunca o esqueci. Oatas brincou dizendo que, naquela ocasião,
quase revelou o sistema de sustentação e de propulsão das naves marcianas, tamanha a minha
insistência e de um amigo, o Luiz Duarte. Aproveitando o clima, Tentra perguntou se eu aceitava
que ela e Salino fossem meus novos guias. Na mesma linha, falei que a pergunta não merecia
resposta e agradeci a todos, relembrando algumas das coisas que fizeram por mim.
Depois, Tentra relembrou alguns detalhes da viagem e disse que, se eu estivesse
com algum receio, por não contar mais com o Oatas, providenciariam uma cama extra e eu
poderia dormir no quarto deles. Agradeci a oferta e assegurei que não seria necessário. Garanti
que o travamento da cúpula não representaria nenhum problema, pois não tinha o costume de
acordar à noite, a não ser para urinar e, caso isso acontecesse, me desapertaria na própria
cama, a menos que provocasse algum curto-circuito. Eles riram e Salino afirmou que era a
melhor coisa a fazer, pois não havia esse perigo.
Como já estava se aproximando a hora que devíamos nos recolher, acompanhamos
Oatas até a sala onde recebemos nossos corpos ao chegar à nave. Ficamos abraçados um bom
31
tempo durante as despedidas e ele aproveitou para fazer algumas recomendações e para prever
várias coisas que poderiam acontecer nos dias, meses e anos seguintes.
Quando ele deitou e fechou a cúpula da cama e seus olhos, entendi como
funcionava a morte nos mundos mais adiantados, onde era tratada como um fato natural e não
guardava a menor semelhança com aquilo que ocorria na Terra. Tentra e Salino me
acompanharam até o meu quarto e ela repetiu sua proposta anterior. Voltei a dizer que estava
tranqüilo e que não queria alterar o plano que tinham estabelecido. Assim que saíram fiz a
higiene noturna, deitei e fiquei alguns minutos pensando em Oatas, nos dias que passamos
juntos e em tudo que ele previu para acontecer.
32
Quando concluí as observações, cada casal se dirigiu aos seus veículos e Tentra
me levou até o deles, cujo nome era Canarinho. Tinha três confortáveis assentos na frente,
outros três atrás e um grande compartimento de bagagens. Salino me pediu para sentar na
lateral dianteira, para melhor apreciar a vista de Agartha. A pequena nave não tinha volante,
câmbio, acelerador, breque e outros dispositivos próprios dos veículos terrestres, somente
pequenas telas e teclados em frente a cada assento. Parei de observar outros detalhes, pois os
veículos dos nossos amigos começaram a decolar. Pararam a uns 30 metros de altura,
acenaram e saíram a uns duzentos quilômetros por hora.
Em seguida, Tentra apertou uma tecla, deu um comando de voz e logo o Canarinho
se posicionou acima da SOL-4. Obedecendo a outro comando de voz, começou a se deslocar a
uns cem quilômetros por hora. Durante o trajeto notei que o veículo obedecia a ordens verbais
de Tentra ou de Salino para parar, elevar, baixar, virar, diminuir ou aumentar a velocidade. Além
dessas instruções, eles não prestavam a menor atenção no tráfego e não tocavam em nada.
Preocupavam-se apenas em chamar minha atenção para observar detalhes da cidade, como
praças, mercados, escolas e casas de diversos formatos.
Logo avistamos e circundamos o Palácio da Harmonia, onde teríamos a reunião
com Arcthuro na parte da tarde. Como vi na SOL-4, era um prédio muito bonito e emanava uma
energia maravilhosa que pudemos sentir. Apesar de não ser tão grande ou alto, como muitos
prédios terrestres, sua estrutura impressionava e chamava a atenção de maneira hipnótica.
Alguns minutos depois avistamos um conjunto de residências octogonais e Tentra
mostrou a quadra e a casa onde moravam. O Canarinho parou sobre o local a uns 50 metros de
altura e baixou rapidamente, sem transmitir nenhuma sensação de queda. Fiz uma pergunta a
esse respeito e Salino informou que, quando fossemos visitar uma fábrica daqueles veículos, eu
iria conhecer detalhes do seu mecanismo de compensação gravitacional, o qual inibia as
sensações de queda, de elevação, de acelerações ou desacelerações rápidas.
Assim que descemos, disseram que aquele era o "meu novo lar" e me pediram para
entrar primeiro. Ao me aproximar da porta ela se abriu, dando acesso a uma ampla sala com
dois ambientes que logo se iluminaram com uma luz que vinha do teto e das paredes, como na
SOL-4. Tentra apertou uma tecla e as janelas ficaram translúcidas, alterando imediatamente a
intensidade da iluminação interna. Antes que fizesse qualquer pergunta, ela me pegou pelo
braço e disse que, enquanto Salino preparava um suco, iria me mostrar a casa e o meu quarto.
Ela era simples e funcional. Tinha três suítes, sala de estar com dois ambientes,
sala de música e vídeo, cozinha, sala de refeições e despensa conjugada com lavanderia. O
quarto deles tinha uma cama de casal e o de Vércia, sua filha, tinha uma de solteiro. O meu era
o de hóspedes, tinha duas camas de solteiro e as mesmas comodidades daquele que ocupei na
SOL-4. O lado externo da casa era uma grande varanda com mesinhas, cadeiras, poltronas,
vasos de flores e outros objetos.
Como as demais, a casa ficava posicionada quase no centro de um terreno com um
gramado impecável, cercada por muitas árvores ornamentais e frutíferas. Quando entramos,
Salino nos aguardava na sala de música com uma jarra de suco de frutas e minhas músicas
preferidas. Conversamos sobre a "nossa casa" e, dentre suas várias características, a que mais
chamou minha atenção foi a inexistência de rede elétrica externa.
Mais tarde me levaram até um compartimento na varanda e me mostraram as duas
baterias responsáveis pelo suprimento elétrico. Uma alimentava a rede elétrica e a outra só
entrava em operação em casos de consumo excessivo ou falha da principal. Elas eram
carregadas por painéis fotovoltaicos com o mesmo formato das placas que formavam o telhado
da casa. Eles não eram facilmente identificáveis, assim como, os coletores solares que
aqueciam a água até o ponto de fervura.
As baterias tinham alta capacidade de armazenamento e grande durabilidade. A
cada cinco anos, a reserva passava para o lugar da principal e era substituída por uma nova.
Aquele sistema, com baterias de menor ou maior capacidade era utilizado em todas as
edificações do planeta, dispensando as centrais de geração de energia, as linhas de
transmissão e as fiações urbanas. Quando retornamos à sala de música, conversamos a
respeito de Vércia e Tentra falou dela com muito orgulho.
Informou que, pelo fato de viajarem muito, Vércia era filha única, tinha 25 anos, era
solteira, trabalhava no Ministério dos Transportes e Distribuição, estava em viagem de férias e
33
iria retornar a qualquer momento. Segundo Salino, ela era parecida com Tentra e também era
alegre, carinhosa, comunicativa e brincalhona. Mais tarde ele disse que faltavam algumas coisas
na despensa e sugeriu que fôssemos ao supermercado, pois iria colocar alguns assuntos em dia
e esperar por Vércia.
Tentra pegou um “carrinho” com duas cestas, apertou uma tecla, chamou-o pelo
nome e ele nos seguiu flutuando até o Canarinho. Tentra abriu a porta traseira, ele se acomodou
no "porta-malas". Durante o trajeto, ela explicou que os arretianos colocavam nomes nas coisas
que os cercavam e os serviam, independente de pertencerem aos reinos mineral, vegetal ou
animal. Falou que as tratavam com carinho, pois também eram constituídas por energias em
evolução. Os nomes eram sempre associados a características ou semelhanças com seres dos
reinos superiores e exemplificou o caso do seu veículo que, além de voar, as cores de sua
carenagem imitavam aquelas de um tipo de Canário lá existente.
O supermercado era um grande prédio de dois andares em forma piramidal, com o
topo cortado na metade da altura, onde centenas de pessoas faziam "compras", seguidas por
seus carrinhos flutuantes. Durante mais de uma hora que lá ficamos, a maior parte do tempo foi
gasto por Tentra para me apresentar a seus amigos. Eram homens, mulheres, jovens e algumas
crianças que me impressionaram pela forma educada e adulta com que se portavam. Além
disso, eram muito inteligentes, bem informadas e conheciam várias coisas da Terra.
Tive oportunidade de ver pessoas que representavam o conjunto que conheci
durante o treinamento, desde mulatas até loiras, todas com um bronzeado impecável. Dentre
esses tipos, predominavam as de pele morena e Tentra me apresentou uma delas, uma moça
muito comunicativa, simpática e bonita. Tinha grandes olhos azuis que muito me impressionaram
e ela me pareceu bastante familiar, apesar de Tentra não ter falado nada além do padrão que
utilizou nos demais casos.
Na volta, por ter percebido minha reação ou porque sabia de alguma coisa ainda
não revelada, quis saber o que achei daquela sua amiga. Discorri sobre as impressões que tive
e perguntei se ela estava me escondendo algo. Ela sorriu e disse que, como falou em diversas
ocasiões, eu teria muitas boas surpresas em Arret, cada uma no seu devido tempo. Ela concluiu
o assunto no momento que estávamos sobrevoando um bonito parque e me pediu para observá-
lo, pois fazia parte do nosso programa de visitas e levantamentos.
Quando Tentra avistou sua casa, falou que sua filha tinha chegado e, assim que
estacionou o Canarinho ao lado do veículo multicolorido de Vércia, ela veio correndo ao nosso
encontro. Mal desci, ela me deu um abraço e diversos beijos, além de dizer que estava com
muitas saudades. Fiquei surpreso e sem saber o que dizer. Apenas senti que ela era uma
pessoa muito querida, pois nossa afinidade foi instantânea. Fomos abraçados para a sala de
estar e, quando Tentra entrou, Vércia disse que havia se esquecido dela, deu-lhe vários beijos e
sentou em seu colo. Ela era parecida com Tentra, com os mesmos olhos grandes e verdes,
sardas no rosto e cabelos ruivos, um pouco mais escuros.
Salino juntou-se a nós e o assunto foi a nossa amizade de muito tempo atrás.
Lembraram várias coisas não relatadas na SOL-4 e riram muito de algumas situações que me
envolveram com os três ou com parte deles. Enquanto falavam, algumas imagens vinham à
minha mente e eu não sabia se eram criadas por mim, por eles, ou eram lembranças reais.
Como já passava das onze e meia, Salino perguntou se eu não gostaria de tomar um banho de
piscina antes do almoço.
Fiquei indeciso e receoso de tomá-lo na presença dos vizinhos que ainda não
conhecia. Vércia captou meu embaraço e brincou dizendo que eu não poderia ter uma "recaída",
pois sabia dos meus progressos na SOL-4 e não aceitaria uma resposta negativa. Apesar de
não me sentir à vontade, aceitei o convite torcendo para que os vizinhos não aparecessem. Foi
exatamente o que aconteceu, pois chegamos à piscina e não havia ninguém, inclusive, no
vestiário, o que me pareceu bastante estranho. Acabei gostando da ausência e, enquanto eu
"enrolava" para me despir, os três já estavam prontos, pois o vestiário era unissex.
Chegando à piscina mergulhei imediatamente sem observar os detalhes daquele
ambiente. Fiquei uns três minutos submerso, enquanto Salino, Tentra e Vércia nadavam ao meu
lado. Durante esse tempo notei que a piscina tinha o fundo e contornos semelhantes à da SOL-
4. Emergi no lado oposto da cachoeira e só então pude observar o local.
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A cachoeira tinha uns três metros de altura, uma largura de quatro e um
escorregador semicircular com água corrente em cada lado. A piscina tinha uns 20 metros de
largura e o dobro de comprimento. Sua profundidade variava de menos de um a três metros. O
ambiente era semelhante ao da Sala das Águas e era igualmente bonito. Tentra e Vércia se
aproximaram e me convidaram para experimentar o escorregador. Minha primeira experiência foi
um desastre e, na terceira tentativa eu estava adorando. Repeti a operação várias vezes e
continuei achando muito curioso o fato de nenhum vizinho ter aparecido até aquele momento.
Depois de uma ducha, sentamos na plataforma da cachoeira e vi a moça que
conheci no supermercado caminhando em direção ao vestiário. Vércia gritou seu nome e foi ao
encontro dela. Salino e Tentra sentaram-se ao meu lado e começaram a conversar, fazendo de
conta que não viram e não perceberam nada, pois falaram somente sobre a importância daquele
ambiente para eles e seus vizinhos. Logo as duas desceram pelo escorregador e nadaram até
onde estávamos. Vércia me apresentou Syndi como sendo sua grande amiga e colega de
trabalho. Salino e Tentra mergulharam e as duas sentaram-se ao meu lado.
Vércia iniciou a conversa e depois permaneceu como ouvinte. Logo sua amiga
mostrou-se uma pessoa simpática, brincalhona e comunicativa, perguntando uma porção de
coisas sobre o Brasil, que ela conhecia muito bem. Imaginei que estava procurando facilitar
nosso diálogo e, da minha parte, aumentava a convicção que ela também era uma conhecida de
outros tempos, apesar dela nada mencionar a respeito. Apenas mostrou-se muito atenciosa e
me tratou como um amigo de infância.
Logo depois os vizinhos começaram a entrar na piscina ou a ocupar cadeiras para
tomar sol. Syndi nos convidou para um mergulho e assim permanecemos por alguns minutos.
Emergimos próximo do local onde Tentra e Salino conversavam com algumas pessoas e ela me
pediu para sair da piscina. Fui apresentado a elas e acabei virando o centro das atenções. Todas
conheciam os objetivos da minha estada em Arret e me incentivaram bastante. Também
esclareceram o mistério da ausência geral. Disseram que assim procederam para que eu ficasse
à vontade e me acostumasse com o novo ambiente. Novamente fiquei impressionado com o
nível de preocupação dos arretianos com o bem-estar alheio.
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Ela estava com 25 anos, era solteira e trabalhava no Ministério dos Transportes e
Distribuição, juntamente com Vércia. Era a filha mais nova e seus dois irmãos eram casados e
cada um tinha um casal de filhos. Perguntei com que idade os arretianos se casavam e ela disse
que era entre os 18 e 35 anos, mas iria permanecer solteira, como acontecia com uns vinte por
cento da população. Sua afirmativa estava baseada no fato de não ter assumido compromissos
com casamento ou filhos para aquela vida e que Vércia estava na mesma situação. Apesar
disso, poderiam ter filhos mesmo sendo solteiras, pois esse fato não era incomum em Arret.
Paramos nesse ponto, pois Vércia lembrou que já era tarde e que Syndi iria até sua casa antes
de jantar conosco.
Voltei com Vércia para a nossa casa e logo Salino e Tentra utilizaram a cabine de
teletransporte e saíram. Imaginei que a visita seria em Agartha e me espantei quando Vércia
disse que seus avós residiam no outro lado do planeta. Logo me reposicionei e compreendi as
comodidades que as cabines representavam e porque os arretianos não davam tanta
importância aos seus veículos particulares. Enquanto aguardávamos a chegada de Syndi, pedi
para Vércia falar sobre o Ministério dos Transportes e Distribuição. Syndi retornou logo depois e
as duas prometeram continuar o assunto após o jantar, quando me transmitiram uma visão geral
do sistema de distribuição de bens, aclarando vários pontos ainda obscuros. Depois, por
lembrança de Vércia, voltamos ao assunto da conversa com Syndi na piscina. As duas se
revezaram e me forneceram informações muito interessantes.
Disseram que os compromissos com casamento e filhos são feitos durante a
permanência no plano espiritual e não são esquecidos quando do retorno ao físico. Elas não
assumiram esses compromissos e disseram que seus companheiros da vida anterior, que
poderiam ser seus parceiros naquela vida, estavam em missão em outros planetas. O de Syndi
estava vivendo na Terra e o de Vércia estava em outro sistema estelar. Mesmo assim, poderiam
se casar com alguém em situação semelhante ou, o que era mais comum, assim como,
poderiam continuar solteiras e terem filhos, se quisessem e houvesse necessidade.
Informaram que esse tipo de maternidade somente ocorreria se algum espírito, com
o qual tinham grande afinidade, retornasse de uma missão em outro planeta durante o período
em que elas estavam vivendo na matéria. Se esse espírito, por alguma razão relevante,
necessitasse retornar imediatamente ao plano físico, precisaria da ajuda de pessoas
descompromissadas, como elas duas.
Quando Tentra e Salino chegaram, falaram sobre a visita realizada e sobre o dia
seguinte, quando conheceríamos algumas escolas básicas. Vércia disse que nos acompanharia
e convidou Syndi, que aceitou o convite. Ao dizer que iria dormir em sua casa e retornaria na
manhã seguinte, Tentra interveio e a convidou para ficar. Justificou que seus pais estavam
viajando e que havia duas camas no quarto de hóspedes. Em seguida, perguntou se eu
concordava em dividir o quarto com ela.
Surpreso com a inusitada situação, respondi brincando com eles. Falei que
concordava, desde que Syndi não se aproveitasse da minha inexperiência arretiana. Todos riram
e ela disse que isso não iria acontecer, apesar de conhecer minha experiência terráquea, o que
motivou novas risadas. Salino também brincou dizendo que eu ainda não tinha completado 24
horas em Arret e ele não gostaria de me ver “traumatizado” por uma “solteirona” como ela. Syndi
simulou agredi-lo e, enquanto ele corria para o seu quarto, fomos para o nosso.
Ela disse que sempre dormia naquele quarto quando seus pais viajavam e por isso,
tinha roupas e outros apetrechos em um dos armários. Depois, pegou um traje de dormir e foi
para o banheiro. Durante o tempo que lá permaneceu, fiquei analisando aquela situação e
relembrei a conversa com Tentra na volta do supermercado. Resolvi não estranhar mais nada
que acontecesse, pois, desde o contato com Oatas, tudo foi uma sucessão de surpresas e
novidades.
Quando retornei do banho, Syndi estava em sua cama ouvindo uma bela música
arretiana. Logo abriu os olhos e perguntou se eu não me incomodava com aquele tipo de
música. Respondi que não, pois era muito agradável, e ela disse que tinha o costume ouvi-la
enquanto relembrava os fatos do dia e fazia uma autocrítica sobre tudo que aconteceu.
Perguntei se ela havia se "autocriticado" muito naquele dia e sua resposta foi negativa. Falou
que o dia foi ótimo, que estava muito feliz com o nosso reencontro e com a possibilidade de me
ajudar a conhecer o povo arretiano, seus costumes e modo de vida.
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Ao ouvir a palavra reencontro, esperei ela concluir e falei a respeito da impressão
que tive no supermercado e sobre a sensação que ela era uma conhecida de outrora. Depois de
me observar atentamente, falou que, como Tentra, Salino e Vércia, também me conheceu em
um outro planeta e, sem fornecer maiores detalhes, disse que as experiências do passado
somente deveriam ser relembradas se tivessem um propósito útil e pudessem contribuir para o
aperfeiçoamento pessoal ou para evitar repetições de erros.
Depois de dizer que o dia seguinte seria muito movimentado e que já era hora de
repousar, perguntou se eu gostaria que ela aproveitasse o restante de suas férias para nos
acompanhar nos passeios e visitas. Respondi afirmativamente e, brincando, disse que ficaria
endividado com mais uma pessoa e não saberia como pagar a todos. Ela sorriu e falou que os
resultados do trabalho seriam suficientes para saldar as dívidas e ainda me sobraria bastante.
OS LEVANTAMENTOS BÁSICOS
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Naquela noite senti como os arretianos eram um povo leve e feliz, parecendo as
nossas crianças que morrem de rir com as brincadeiras e trapalhadas dos palhaços circenses.
Voltamos para casa e logo fomos dormir, pois segundo Tentra, o dia seguinte seria bastante
movimentado. Iríamos conhecer uma cidade em início de obras e outra que já estava quase
pronta para ser habitada.
Assim que deitei, comecei a pensar em tudo que aconteceu desde o encontro com
Oatas e cheguei até a imagem que Antak me mostrou na SOL-4, quando visualizei meu corpo
original e o de minha esposa dormindo. A imagem me levou a pensar e a sentir saudades da
minha família e, como não havia possibilidade de contato, uma sensação estranha que
misturava solidão, medo e separação começou a tomar conta de mim. Eu me via sozinho
naquele quarto, em um outro planeta, a centenas de anos luz da Terra e parecia que tinha
morrido e não iria mais retornar ao meu corpo original e aos meus familiares.
Nos meus vinte e seis anos de casado, dormi poucas noites fora de casa e nunca
fiquei sem contato telefônico com minha família, ou sem saber como contatá-la ou vê-la
novamente. Pensei nas várias situações que acometem os espíritos após a morte e me
enquadrei em algumas delas. Depois, passei a avaliar friamente a situação em que me
encontrava, concluindo que estava vivo e que meus familiares continuavam dormindo na mesma
noite em que tudo começou. Entendi também os motivos de Tentra ao colocar Syndi naquele
quarto e que tudo fazia parte do plano que estabeleceram para evitar situações como aquela e
facilitar minha estada no planeta. Logo depois adormeci.
43
planeta. No final da tarde, voltamos ao escritório de Matik e Odina para tomar suco de frutas e
conversar com aquele simpático casal.
Matik revelou que viveu na Terra em um dos países da Atlântida, no tempo de
Antúlio, de quem foi contemporâneo e colaborador. Ele admirava o trabalho de Jesus e o
respeitava como a Ahelohim, o messias arretiano. Odina esteve na Terra na última passagem de
Jesus e conviveu bastante com Ele. Contou fatos de sua vida que eu conhecia e várias coisas
inéditas. Jantamos com eles e prosseguimos a conversa até por volta das nove e meia, quando
retornamos para casa.
Conforme Tentra previu, o dia foi bastante movimentado, mas muito agradável,
especialmente pela conversa com Matik e Odina. O dia seguinte também prometia, pois iríamos
realizar visitas a algumas áreas agrícolas e cumprir a programação da semana. Enquanto me
transmitiam alguns detalhes sobre as visitas, Syndi foi para o quarto, pois parecia muito
cansada. Logo nos recolhemos e fiquei aguardando a liberação do banheiro. Ao terminar o seu
longo banho, disse que estava revigorada.
Quando me acomodei na cama, ela interrompeu sua autocrítica e perguntou por
que eu senti solidão e medo na noite anterior. Enquanto ela me observava atentamente, relatei
as sensações que tive e as conclusões que cheguei. No final, ela disse que não se ausentaria
mais até o dia da minha partida, pois não queria que eu voltasse a ter aquele tipo de experiência
que prejudicava o ajuste do meu espírito ao corpo mais sutil que estava utilizando. Disse que
utilizou muita energia para neutralizar o efeito negativo daquela experiência e por isso ficou
cansada.
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alguém mais feliz. Após a refeição, conversamos sobre as reuniões no Palácio da Harmonia e
sobre a nova visita ao CET, na parte da tarde.
Pouco antes da oito horas estávamos na recepção do Ministério da Educação,
juntamente com os demais amigos da SOL-4. Talita veio nos receber e nos levou até sua sala.
Dizendo que estava informada sobre nossas visitas, realizou uma apresentação geral de sua
pasta, enfocando o lado filosófico. Suas palavras e as imagens projetadas reforçaram tudo que
conheci durante os levantamentos. O terço final da reunião foi reservado para responder várias
perguntas que fiz.
Em seguida, fomos para o gabinete de Vhega, a Ministra do Lazer, uma simpática
senhora de 91 anos, onde tivemos uma reunião semelhante à anterior. Além de administrar
parques, balneários e prestar diversos serviços à população nas áreas de esporte, música,
teatro e dança, seu ministério prestava outros em conjunto com o das comunicações. Mantinham
uma completa videoteca, com filmes, documentários, espetáculos musicais e teatrais, inclusive,
anteriores à época da grande transição. Havia muitos originários de outros planetas, incluindo a
Terra.
Depois, fomos ao gabinete de Solânia, a Ministra da Habitação, uma senhora de
123 anos. Como suas colegas, enfatizou a filosofia habitacional e sua gratuidade à população,
não entrando no mérito das técnicas de construção, as quais conheci durante as visitas aos
canteiros de obra.
Enquanto Syndi falava com Delphis, tivemos a reunião com Mayer, o Ministro da
Agricultura. Fiquei encantado com aquele senhor de quase 180 anos, com uns dois metros de
altura e cabelos brancos sobre os ombros, cheio de vigor e entusiasmo ao falar da sua alegria
em contribuir para a produção de uma boa alimentação para o povo arretiano. Orgulhava-se ao
dizer que, durante os 80 anos do governo de Arcthuro, havia conseguido, com o apoio do povo,
manter a tradição de mais de quatro séculos sem faltar um único tipo de alimento nos
supermercados do planeta. De volta ao andar térreo, encontramos Syndi que nos informou sobre
o sucesso de sua solicitação. Em seguida nos despedimos e cada grupo retornou para suas
casas.
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só encontrados em museus de informática, o mesmo acontecendo com seus sistemas
operacionais.
A velocidade de processamento e a capacidade de memória do nosso cérebro
equivalem à de um computador com processador 386 e 4 megas de memória. O arretiano
equivale a um Pentium 300 com 128 megas. Além disso, o espírito, ou o “software”, que opera
no cérebro arretiano‚ por ser mais evoluído, utiliza o ambiente Windows, enquanto o nosso opera
em DOS puro. Na realidade, os dois cérebros eram equivalentes e a maior diferença estava no
espírito que explorava melhor os recursos ainda latentes no nosso.
Aplicando o exemplo ao meu caso, parecia que meu espírito, equivalente a um
sistema operacional DOS, estivesse utilizando um Pentium 200 de 64 megas. Eu aprendia
rápido, tinha maior capacidade de entendimento, de memorização, de análise e de classificação.
Porém, não utilizava todos os recursos daquele cérebro. Se isso fosse possível, demoraria
meses ou anos para meu espírito se adaptar e explorar todo o potencial que tinha à disposição,
especialmente, as capacidades telepáticas, lembranças de vidas passadas e outras coisas sutis.
Também mataram minha curiosidade quanto à produção dos corpos como aquele
que estava utilizando. Mostraram alguns deles e explicaram sua finalidade. Eram clonados a
partir do DNA do usuário, em cilindros de diversos tamanhos, conforme o porte que deveriam
atingir. A maioria era destinada a jovens e, em alguns meses, podiam obter um corpo com o
mesmo potencial daqueles gerados no ventre materno.
Os clones não eram produzidos para serem andróides. Eram destinados a pessoas
que sofreram acidentes graves e precisavam permanecer na matéria para concluir a missão
planejada para suas vidas. Como tinham o mesmo limite de vida do original, permitiam a
conclusão do trabalho, livrando o usuário de sofrimentos, dificuldades ou impedimentos
provocados por paralisias ou órgãos danificados.
Na volta, Salino disse que após o jantar iriam visitar seus pais com Tentra e Vércia,
como faziam habitualmente. Voltando às suas brincadeiras, falou que, a menos que
quiséssemos acompanhá-los, poderíamos ficar livres deles por umas três horas. Syndi retrucou
dizendo que, já que ele queria se livrar de nós, iria me levar a algum lugar do planeta que eu
desejasse conhecer.
Chegando em casa fomos para a piscina e, como sempre, nos divertimos e
conversamos bastante com os vizinhos. Vários eram os convites para visitas em suas casas e
Tentra sempre me desculpava, alegando a extensa programação a ser cumprida. O interessante
era que eles a associavam com um trabalho "estressante, duro e cansativo”. Após o jantar, meus
amigos utilizaram a cabine de teletransporte e nós saímos no Canarinho sem destino certo.
Syndi perguntou onde eu gostaria de ir e falei que queria acompanhar o “pôr-do-sol”
na região do equador. Ela gostou da idéia e logo estávamos no local. A velocidade foi regulada
para compensar a rotação do planeta e pudemos contemplar um magnífico espetáculo sobre
dois oceanos, diversas ilhas e um continente. Aproveitamos para conversar sobre as visitas do
dia, especialmente, ao CEGEHU e ela se esforçou para esclarecer várias dúvidas. Retornamos
a Agartha em baixa velocidade, para observar a paisagem noturna de balneários, cidades,
florestas e outros atrativos. Já em casa, conversamos um pouco com nossos amigos e logo
fomos dormir.
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linhas de produção, além de um rígido controle de qualidade realizado por equipamentos
altamente sofisticados.
Ainda de manhã, fomos conhecer uma industria de alimentos sintéticos que
produzia algumas das cápsulas ingeridas durante as refeições, cujo processo produtivo era
totalmente automatizado. As frutas eram selecionadas e lavadas antes de serem separadas em
seus componentes básicos, como cascas, polpas ou sementes. Depois, passavam por um
processo para extração dos respectivos sucos e, em seguida, por outro processo que extraia
seus princípios ativos, como essências, vitaminas e proteínas, os quais eram transformados em
pós ou grânulos.
Finalmente, eles eram acondicionados em cápsulas de diversas cores, segundo
fórmulas específicas. Simplificando o processo, podemos dizer que, entrava a laranja e saía a
vitamina C. As sobras, representadas por bagaços secos, eram embaladas em fardos e
remetidas para as indústrias de rações ou de compostos orgânicos. Nada era perdido. O
processo de secagem era realizado em equipamentos movidos por energia solar e por
geradores especiais, sem poluição. Sobre essa questão ambiental, eu ainda não havia
observado nenhuma fumaça nos locais visitados ou naqueles que existiam ao longo dos trajetos
que realizamos. Almoçamos no local, conversamos com “operários” e fomos conhecer outra
unidade industrial.
Era uma das visitas mais aguardadas, pois estava muito interessado em conhecer o
processo de montagem, o modo de funcionamento e outros detalhes dos maravilhosos veículos
do tipo 7, como o Canarinho. Além disso, os responsáveis pela montadora, Drash e sua esposa
Ling, eram amigos de Salino e Tentra. Espirituosos e brincalhões como eles, transformaram
nossa visita em um passeio muito interessante e descontraído.
Esses veículos eram projetados para operar dentro da atmosfera e seu princípio de
sustentação era baseado na inversão da polaridade gravitacional. Como um helicóptero que
pode ficar parado, subir ou descer, mediante mudanças no ângulo da sua hélice de sustentação,
o controlador de polaridade podia anular, repelir ou atrair a gravidade. O princípio de
deslocamento baseava-se na polaridade magnética do planeta.
Acompanhamos o processo de montagem e recebi uma aula completa sobre sua
dirigibilidade que, como já havia observado, requeria pouca intervenção humana. Eram imunes a
acidentes e tinham um campo de forças que funcionava como uma espécie de "air-bag" externo
e invisível, podendo ser contraído ou expandido até três vezes o seu diâmetro. Além de impedir
qualquer choque, funcionava como amortecedor nas subidas, descidas, acelerações ou
desacelerações bruscas.
Esses veículos não tinham partes móveis, a não ser nas portas, bancos e em
alguns outros detalhes. Seus dois "motores", ou geradores de energia, funcionavam
alternadamente e eliminavam qualquer possibilidade de pane. Utilizavam como combustível,
além da energia solar, qualquer tipo de matéria. Consegui entender seu princípio de
funcionamento, graças à definição de que "matéria é energia condensada". Como seus
“motores”, todos os controles eletrônicos e outros equipamentos básicos eram duplicados, o que
eliminava qualquer risco de acidente ou de parada por defeito.
Foi outra tarde repleta de novidades, as quais me frustraram por não ter os
conhecimentos necessários para as entender corretamente. Salino sempre me confortava
dizendo que a tecnologia que utilizavam era de difícil entendimento para qualquer cientista da
Terra, da mesma forma como seria para Galileu Galilei entender o funcionamento de uma
simples lanterna de pilhas. Antes de voltar para Agartha, fomos para a casa de Drash e Ling,
onde tomamos banho de piscina, jantamos e conversamos até perto das nove da noite, quando
voltamos para casa, conversamos mais um pouco e fomos dormir.
Syndi posicionou sua cama em frente à minha e falou que queria conversar sobre
minhas freqüentes auto-recriminações a respeito do meu fraco conhecimento científico. Assim
que colocou a questão, eu disse que estava chateado por não conseguir entender o princípio de
funcionamento da maioria das coisas vistas naquele dia e nos anteriores. Falei que estava
preocupado com as dificuldades que teria para relatá-las, pois, se era difícil entender em Arret,
como conseguiria escrever na Terra?
Ela ponderou que eu estava dando muita importância às questões tecnológicas,
deixando de privilegiar os relacionamentos humanos envolvidos em cada lugar que visitamos ou
50
que iríamos visitar. Disse que eu deveria apenas avaliar e entender os motivos da harmonia e da
felicidade do seu povo. Enfatizou que os aspectos tecnológicos estavam sendo mostrados como
pano de fundo para realçar o aspecto principal da questão e que, por mais que me esforçasse
para transmitir uma idéia tecnológica sobre Arret, eu não só não conseguiria, como me desviaria
do assunto principal e cometeria um erro que me levaria a ficar mais exposto e sujeito a críticas
do que aquelas que teria de suportar.
Depois de analisar suas palavras, concordei com tudo e agradeci por ela estar ali e
me lembrar de coisas tão importantes, além de aliviar o trabalho de Tentra, Salino e Vércia, os
quais estavam cansados de ouvir e responder tantas perguntas que eu não parava de fazer.
Syndi falou que, para ela, era um grande prazer poder me ajudar e tinha certeza que os demais
pensavam da mesma maneira.
Ocupamos o período da manhã para visitar uma indústria de camas residenciais,
onde conheci as linhas de montagem dos modelos de solteiro e de casal. Aproveitei para
conversar bastante com os “operários” e para avaliar o grau de satisfação deles com o trabalho
e com os demais aspectos da vida planetária. Os conselhos de Syndi me despertaram um maior
interesse pelos relacionamentos pessoais, relegando os aspectos tecnológicos para um segundo
plano. Também pelo fato de conhecer bastante aquele produto, a visita facilitou minha reentrada
nos trilhos e o redirecionamento para o objetivo principal da minha estada em Arret. Como
sempre acontecia nas visitas da manhã, almoçamos com o pessoal da fábrica e continuamos
conversando com os anfitriões e “operários” durante o período de descanso.
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Pontualmente às seis horas, o pai de Vivatra, com ela entre ele e sua esposa, se
dirigiu aos presentes falando das qualidades dos noivos, de seus objetivos e missões de vida.
Após uns cinco minutos de discurso, seus pais a abraçaram, beijaram e a levaram até o meio do
espaço que os separava do noivo e seus pais. Lá, disse que ele e sua esposa a entregavam aos
cuidados de Pólux para que, sob a proteção do Pai Celestial, cumprissem a missão que tinham
definido para aquela vida.
Em seguida a mãe do noivo, que também tinha seu filho entre ela e seu esposo, fez
um discurso semelhante e repetiu os mesmos procedimentos. Quando ficaram juntos, os noivos
se abraçaram, se beijaram e, com as mãos dadas, se ajoelharam, um de frente ao outro e de
costas para seus pais. Em seguida, cada casal colocou uma grinalda de flores brancas na
cabeça do filho ou filha e eles permaneceram ajoelhados e em silêncio durante um minuto ou
mais. Até esse momento, os convidados também guardavam total silêncio.
Quando os noivos se levantaram e novamente se abraçaram e se beijaram, foram
aplaudidos por todos, pois já estavam casados. A cerimônia durou uns quinze minutos e, para
não dizer que não houve festa, todos brindaram com um cálice de vinho e ficaram conversando
até por volta das sete horas, quando os convidados se retiraram. Acompanhamos o novo casal
até a casa dos pais de Vivatra, onde se despediram e partiram em férias nupciais.
Voltamos para casa e, após o jantar, Syndi, Vércia e eu fomos ao mirante de
Agartha, onde conversamos sobre o novo enfoque dos levantamentos, privilegiando os
relacionamentos humanos. Depois, comentei sobre a simplicidade do casamento arretiano, se
comparado com as pompas religiosas e as festas dos casamentos terrestres. Elas disseram que
todos eram realizados daquela maneira e me forneceram informações sobre o significado de
cada uma das suas fases.
Disseram que o importante no casamento era a afinidade e a harmonia necessária
para cumprir os objetivos que levaram à união dos dois seres, os quais iriam repartir o que
possuíam de mais sagrado, representado pelas suas naturezas espiritual e física. O grande
objetivo era a ajuda mútua para concluir o trabalho que se propuseram realizar durante suas
vidas e obter os méritos espirituais dele decorrentes. Na maioria dos casos, como Tentra e
Salino, os objetivos eram idênticos e o casal teria a mesma profissão e os mesmos interesses.
A cerimônia tinha um simbolismo simples e profundo. Os pais eram as pessoas
mais apropriadas para representar o Pai Celestial e, em nome Dele, oficiar a cerimônia. Os
convidados, constituídos por parentes e amigos de grande afinidade espiritual, além de serem
testemunhas e padrinhos, eram aqueles que iriam ajudar o casal a cumprir seus objetivos de
vida. A liberação para iniciar o trabalho que vieram realizar, estava representada pelo discurso
dos pais, pela colocação dos noivos no ponto central, ou inicial, e pela entrega de um para o
outro.
A aceitação da união e a transformação de duas pessoas em um casal foram
simbolizadas nas duas vezes que os noivos se abraçaram e se beijaram. A pureza de intenções
e de ações foi representada pelas flores brancas colocadas em suas cabeças. A aceitação
conjunta da missão e da vontade divina, com humildade, estava simbolizada no momento em
que os dois se ajoelharam e ficaram em silêncio para ouvir o Pai Celestial. Finalmente, quando
se levantaram e foram aplaudidos, significava que estavam recebendo os incentivos e o apoio
necessário para realizar o trabalho a que se propuseram.
Disseram que não havia casamento civil, contratos matrimoniais ou a mudança do
nome da noiva. Para oficializar o casamento, informavam alguns dados e o local onde
pretendiam residir e trabalhar ao governo central, através do equipamento de áudio e vídeo de
suas casas. Alguns dias antes da cerimônia, como se fosse o presente de casamento, recebiam
a confirmação daquilo que solicitaram e raramente tinham que escolher algum outro local de
residência ou de trabalho.
Entre a data da confirmação e o final das férias nupciais, o Ministério da Habitação
providenciava uma casa mobiliada e com todas as comodidades oferecidas a qualquer cidadão,
incluindo os bens adquiridos, como cabine de teletransporte, aparelho de áudio e vídeo, ou
outros que ganhassem de seus pais e padrinhos, ou que tivessem direito e solicitassem. As
férias nupciais representavam um período de adaptação do casal ao novo estilo de vida. Quando
retornamos, Salino e Tentra já estavam dormindo e nós fizemos o mesmo.
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Visitas a terminais de transportes
Naquela manhã vi, pela primeira vez, uma chuva leve que se prolongou até perto
das sete e meia. Depois, fomos visitar o terminal de transportes externos de Agartha, o nome
oficial do aeroporto onde desembarquei em Arret, pois era voltado para o transporte de
passageiros e de cargas entre planetas e seus satélites. Durante o sobrevôo, observei várias
naves dos tipos 2, 3 e 4 estacionadas e uma nave do tipo 1, daquelas que raramente são
encontradas no solo. Quando aterrissamos, tivemos a surpresa de ver com o casal responsável
pelo terminal, os demais amigos da SOL-4. Tali disse que sentiram saudades, resolveram fazer a
surpresa e aproveitar para rever Molino e Svindra.
Fomos conhecer o terminal de passageiros, no local onde estava acontecendo um
embarque em uma nave do tipo 2. Tive uma nova e agradável surpresa ao ver Othíbio. Ele
estava saindo com destino a três planetas de sistemas diferentes e disse que estaria de volta no
fim-de-semana, pois não faltaria à nossa reunião na segunda-feira. Depois de cumprimentar
meus amigos, abraçou Syndi com um carinho especial. Ela me reapresentou Othíbio como
sendo seu tio, irmão de seu pai.
Apesar de já ter recebido essa informação na SOL-4, não tinha feito essa ligação
até aquele momento, o que não deixou de ser uma nova surpresa. Depois, comecei observar a
grande nave que estava estacionada a uns trezentos metros dali e para a qual se dirigiam
muitas pessoas. Era bela, majestosa e assustadora, mas, se comparada à nave do tipo 1,
estacionada um pouco mais à frente, era até pequena. Othíbio disse que era a Amizade e, como
ela iria partir em uma hora, aproveitamos para conhecer o terminal, cujo funcionamento era
semelhante ao dos nossos grandes aeroportos. As pessoas traziam pouca bagagem e, quando
se apresentavam no balcão, colocavam a mão em uma tela e eram imediatamente liberadas
para embarque.
Pouco antes da partida, acompanhamos Othíbio até o local onde um veículo o
esperava. Ficamos aguardando a decolagem e novamente se repetiu a cena que observei da
SOL-4, com uma diferença. Além das luzes, a Amizade estava se despedindo com uma suave
melodia, enquanto subia lentamente. Ao atingir uns mil metros, as luzes se apagaram e ela
sumiu das nossas vistas em poucos segundos.
Em seguida, embarcamos em um dos veículos de uso local e fomos ao terminal de
cargas, no lado oposto. Molino circundou a nave do tipo 1 e fiquei impressionado com o seu
tamanho. Disse que ela estava ali para revisão e introdução de aperfeiçoamentos no seu
mecanismo de navegação. Era uma nave antiga e muito segura que logo se deslocaria para o
sistema solar, onde se juntaria a outras que estavam de prontidão na região da Terra.
No terminal de cargas havia duas naves do tipo 2 sendo abastecidas para socorrer
um planeta que, há poucas semanas, tinha passado por violenta tribulação, pior que a deles há
722 anos atrás. Uma estava sendo carregada com alimentos e a outra com equipamentos
diversos doados pelo governo central para ajuda aos povos daquele planeta. Muitos veículos
especiais, parecidos com plataformas flutuantes, carregavam contêineres que entravam e saiam
por diversas aberturas laterais das duas naves.
Visitamos os depósitos e as pessoas continuavam o trabalho, apesar de já passar
das onze horas. Molino explicou que, em situações como aquela ninguém interrompia o trabalho
enquanto as naves não estivessem carregadas. Almoçamos com aquele simpático casal e
depois fomos, com os amigos da SOL-4, até o local onde deixamos nossos veículos. Eles não
nos acompanhariam, pois iriam para uma colônia marítima, onde nos esperariam no sábado à
tarde. Syndi e Vércia convenceram Salino e Tentra a seguir com eles e, assim que saíram,
entramos no Canarinho e fomos visitar o terminal de transportes internos, localizado em uma
área contígua ao terminal onde estávamos.
Nele havia diversas naves dos tipos 4 a 6 e suas instalações eram semelhantes à
do anterior, com dimensões menores, pois era voltado para o transporte de passageiros e de
cargas dentro da atmosfera arretiana, incluindo suas doze estações orbitais. O esquema de
funcionamento era igual ao do anterior, com maior movimentação de cargas e de passageiros,
os quais tinham outras opções de deslocamento, como o teletransporte e veículos individuais,
mas preferiam viajar em veículos coletivos e aproveitar para incrementar os relacionamentos e
fazer novas amizades.
53
Conversamos com vários deles e, como em outros locais, alguns disseram que já
viveram em nosso planeta em diversas épocas. Conheci dois personagens famosos que, como
os demais, pediram para deixá-los no anonimato, pois não se davam à importância que tinham
na Terra. A ala de cargas recebia todos os tipos de bens produzidos no planeta, onde eram
armazenados e encaminhados às centrais de distribuição que deles necessitassem para atender
aos supermercados e lojas de bens adquiridos existentes em sua região. A movimentação era
muito grande, especialmente a de alimentos.
Na volta, Vércia nos convidou para jantar na casa de uma amiga e resolvemos ficar
em casa para ver alguns documentários que eu queira assistir desde a visita à CIA. Assim que
chegamos, Vércia se arrumou e saiu. Após o lanche, Syndi localizou vários títulos, desde o
período anterior à grande transição até algumas décadas depois. O aparelho mostrou os três
níveis de cada um deles, os tempos individuais e totais de cada nível.
Selecionamos uma seqüência de primeiro nível com duração de quase duas horas.
Os mais antigos mostravam as cidades antes do início do governo de Olintho e havia poucas
diferenças entre elas e muitas da atualidade terrestre. Depois começou o período sobre o seu
governo, como chegou ao poder, o saneamento que realizou em seu país e suas realizações
nos três anos anteriores à grande transição.
A seguir, começaram as imagens daquele acontecimento, como iniciou, se
desenvolveu e atingiu o seu ápice, em poucas horas de alto poder destrutivo, ou revitalizador do
planeta. A parte final mostrou os trabalhos de apoio aos sobreviventes e o suporte fornecido
pelos espaciais durante várias décadas. A maioria dos documentários referia-se ao país de
Olintho, cujo exemplo acabou sendo seguido por quase todos os demais.
Já passava das dez horas quando a sessão terminou e Syndi estava calada há
algum tempo, parecendo cansada e que tinha sofrido mais do que eu com as imagens que
avivaram em sua mente sensível, todas as dificuldades que passou naquele período em que foi
uma das sobreviventes. Sem esperar por Vércia, fomos para o quarto, pois ela disse que estava
precisando tomar um banho para relaxar um pouco.
Quando terminei o meu e me acomodei, ela ainda permaneceu fazendo sua
autocrítica e ouvindo as músicas que selecionou. Depois, falou do marido e dos filhos que
perdeu durante os cataclismos e relatou como foram difíceis, e ao mesmo tempo maravilhosos,
os primeiros dias e meses daquele período. Lembrou da mudança radical de comportamento
dos sobreviventes e do modo como os antigos ricos e pobres passaram a encarar a nova vida e
a conviver harmoniosamente.
Em seguida, falou que as sensações que sentiu não se referiam às suas
lembranças daquele acontecimento, mas sim, ao impacto que as imagens causaram em mim,
pela possibilidade de sua ocorrência na Terra. Por essa razão, precisou utilizar muita energia
para neutralizar o efeito negativo que poderia prejudicar o ajuste do meu espírito ao corpo que
estava utilizando. Assegurou que já estava tudo bem e que era melhor descansar, pois iríamos
cumprir a programação semanal no dia seguinte.
54
Fomos conhecer uma central de distribuição de bens adquiridos, cujo
funcionamento era semelhante ao da anterior, com dimensões ainda menores. Os itens que
faziam parte do seu estoque não eram distribuídos gratuitamente e sua aquisição dependia de
trabalhos em regime de horas extras. Por isso, sua quantidade, variedade e movimentação de
naves dos tipos 5 e 6 era bem menor, além de serem destinados a lojas específicas das cidades
localizadas nos pontos estratégicos de cada região.
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não sair naquela noite, pois Vércia voltaria ao trabalho no dia seguinte. Depois do jantar,
conversamos até por volta das dez horas, quando fomos dormir.
61
fértil de três dias, a menos que o óvulo não fosse fecundado na primeira tentativa, o que era
muito raro.
Os entrelaçamentos continuavam durante a gravidez de nove meses e eram muito
especiais, como também acontece entre casais terrestres. A partir do terceiro mês e de maneira
gradativa, contavam com a participação do novo ser, formando uma chama espiralada com três
cores predominantes: rosa, amarelo e azul. Nesses casos, as sensações eram amplificadas e
essa era uma das razões da grande união entre pais e filhos arretianos. Ela finalizou dizendo
que os casais arretianos não realizavam relações sexuais e sim um profundo relacionamento
amoroso. Depois falou que eu já estava em condições de escrever a respeito do tema e que
qualquer dúvida seria esclarecida durante o período de descanso dos nossos corpos.
63
muitos moradores e eles pareciam formar uma única e grande família. Lá pela dez horas,
começaram a retornar às suas casas e nós fizemos o mesmo.
Salino e Tentra foram dormir e eu fiquei na varanda com Syndi apreciando os ruídos
da floresta, observando as estrelas e conversando sobre os levantamentos realizados naquele
dia. Na manhã seguinte reiniciamos a programação que previa incursões pelos arredores e
visitas a alguns dos 80 núcleos espalhados pelo parque, quando tive a oportunidade de
conhecer novas espécies de pássaros e de pequenos animais. Almoçamos com o responsável
por um dos núcleos e depois retornamos para Agartha.
66
Sobre eles, fez uma série de considerações e sugestões, sempre submetendo suas
análises à apreciação dos presentes. A seguir, um resumo daquilo que ele falou.
Precisaria me aprofundar na história arretiana, desde os anos anteriores à grande transição
até a criação e consolidação do governo central. Depois, deveria avançar mais rapidamente
até a época atual, procurando conhecer apenas os fatos principais.
Com relação à atualidade, deveria obter mais informações sobre a estrutura organizacional
do governo central e sobre a religiosidade do povo arretiano.
Também deveria conhecer novos locais de lazer e fazer outras visitas a escolas, hospitais e a
áreas agrícolas e industriais.
Durante os levantamentos, deveria conversar bastante com as pessoas, procurando avaliar o
seu grau de harmonia, de felicidade e de satisfação com a vida planetária.
Quando concluiu, Arcthuro falou que o grau de afinidade, de amizade, de carinho e
de amor que eu sentisse pelas pessoas, coisas e lugares que conheci e que ainda iria conhecer,
seria a única chave que eu teria para abrir as portas do meu inconsciente e captar,
intuitivamente, a realidade arretiana quando voltasse à Terra. Enfatizou que a memória
consciente seria bloqueada quando reassumisse o corpo original, para garantir segurança e
normalidade à minha vida terrestre.
Informou que o retorno à Terra estava marcado para dali a 19 dias, em um sábado
correspondente ao 41º dia da minha estada no planeta, totalizando 44 com os dias à bordo da
SOL-4. Garantiu que ainda iríamos nos encontrar para uma conversa “informal”, com a presença
de todos os ministros. Já passava das seis da tarde quando nos despedimos de Arcthuro. Assim
que chegamos no andar térreo, Salino disse a Antak e Otento que não precisavam se preocupar
com o planejamento da segunda fase dos levantamentos e cada grupo voltou para sua casa.
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Antes de Vércia ir trabalhar, definimos as datas e horários para cumprir a
programação em quinze dias. Gravamos os índices e os níveis dos documentários em um cristal
que, ao ser acionado por qualquer equipamento de áudio e vídeo, selecionaria automaticamente
o primeiro documentário ainda não assistido e mostraria as imagens transmitidas pelos satélites
da CIA. Enquanto fui com Syndi à sua casa buscar algumas coisas que ela queria levar, Tentra
providenciou as reservas nos locais de lazer e Salino marcou as visitas programadas.
OS LEVANTAMENTOS COMPLEMENTARES
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No final da manhã fomos conhecer outro parque de preservação ambiental. Era um
santuário ecológico com lagos, rios e cachoeiras, onde viviam muitas espécies de pássaros e
pequenos animais. O local era batizado como Parque das Águas, tinha uma área aproximada de
60 mil quilômetros quadrados, uma cidade central e uns 100 núcleos menores, todos protegidos
por campos de forças. Diferente daquele visitado anteriormente, sua flora estava completamente
reconstituída e ele já integrava o sistema de lazer arretiano.
Nosso destino era um dos núcleos situados às margens de um grande lago e nosso
chalé estava localizado entre duas cachoeiras com lindas piscinas. Depois que nos
acomodamos, fomos tomar banho na maior delas, onde conversamos com muitas pessoas.
Depois do almoço iniciamos o programa que incluía uma caminhada pela floresta, atividades de
lazer no lago e conversas com freqüentadores.
No final da tarde, Syndi e eu retornamos ao chalé para assistir à primeira parte de
uma longa sessão de documentários sobre o período de apoio aos sobreviventes, que ainda iria
consumir mais alguns dias. Fomos dormir após as dez horas e interrompemos apenas para
jantar com Tentra e Salino. Os documentários enfocavam os seis primeiros meses que
modificaram o modo de vida dos sobreviventes e marcaram definitivamente a trajetória de
Olintho como líder planetário.
Seu país foi o primeiro a se reestruturar e seu exemplo foi seguido por quase todos
os demais. Porém, o maior destaque coube aos seres espaciais, desde os trabalhos solitários
que realizaram para limpar os escombros e recolher uma infinidade de materiais e sucatas, até o
apoio irrestrito que prestaram aos sobreviventes em todas as frentes de trabalho voltadas para a
construção de moradias e auto-suficiência alimentar. Olintho era um tipo de embaixador deles
junto a alguns povos que ainda se mostravam arredios aos “amigos das estrelas”, o nome
carinhoso que a maioria dos arretianos davam aos espaciais.
O parto arretiano
Fui acordado por Salino, Tentra e Syndi cantando uma música do tipo “parabéns a
você”, pelos meus 30 dias de estada no planeta. Após a refeição, rememoramos alguns dos
principais acontecimentos desde a chegada à SOL-4 e fomos visitar o hospital de uma cidade
industrial do ramo alimentício. Eu estava bastante curioso, pois, apesar de ter uma boa idéia de
como acontecia, ainda não tinha acompanhado um parto de dentro da piscina. Dois convidados
poderiam assisti-lo e Tentra pediu para Syndi me acompanhar.
As salas de parto tinham duas piscinas interligadas por um corredor e a água era
aquecida à temperatura do corpo. Uma delas era destinada a partos normais e a outra, com uma
mesa anatômica no centro, era utilizada para partos com indução, ou para a mãe descansar
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após o parto normal, como era comum. O ambiente era visível de uma ante-sala, de onde os
parentes e amigos acompanhavam aquele momento especial para os arretianos, semelhante à
espera pelo desembarque de um ente querido que estava ausente por vários anos.
Logo que chegamos, um dos médicos nos levou a uma dessas ante-salas e,
enquanto explicava o processo e como deveríamos nos comportar, um outro médico entrou com
uma futura mamãe, seu esposo, alguns familiares e amigos. Assim que o jovem casal foi
informado sobre o motivo da nossa visita, nos reconheceram e nos convidaram para assistir ao
parto. Essas situações eram comuns em todos os lugares, em função dos noticiários
transmitidos pela CIA.
Savona, a futura mamãe, tinha 25 anos e aquela era a sua primeira maternidade.
Ela disse que nasceria uma menina com cabelos castanhos como os dela e olhos verdes, como
os do pai, além de uma série de outros detalhes sobre a estatura adulta e feições da filha, pois a
avançada medicina arretiana tinha recursos que embasavam todas as suas afirmações. A
conversa foi interrompida pelo médico que nos pediu para acompanhá-lo até uma sala contígua,
onde tomaríamos o banho anti-séptico e depois entraríamos na piscina.
Tomamos o banho por último e, quando entramos na sala, o casal estava
mergulhado sob os olhares atentos do médico. Fora da piscina, um outro médico monitorava
Savona em uma mesa de controle, enquanto duas enfermeiras aguardavam. Logo entramos na
piscina com uma delas, pois o parto iria ocorrer em minutos e sem necessidade de indução,
como era mais comum. Assim que reiniciamos a conversa, Savona começou a sentir contrações
sem dor. Recebemos um escafandro especial, mergulhamos e ficamos observando os cuidados
e carinhos que ela recebia do esposo, do médico e da enfermeira.
Quando ela sentiu uma contração mais forte, pois arregalou os olhos, observamos a
cabeça do bebê. Depois que o médico rompeu o cordão umbilical, a criança começou a nadar
com o pai. Savona se juntou a eles e, em seguida, passaram para a outra piscina, onde mãe e
filha se acomodaram na mesa anatômica. Permaneceram ali por uns dez minutos, enquanto o
médico e a enfermeira prestavam alguns cuidados às duas.
Durante esse tempo conversamos com o casal e Savona afirmou que não sentiu
dores ou qualquer dificuldade durante o parto. Depois, colocaram mãe e filha em uma cama
flutuante e as levaram até a parede de vidro, para que os parentes e amigos pudessem observar
a criança e conversar com os pais através de um sistema de comunicações. Alguns minutos
depois, as duas foram levadas para um local onde receberiam os cuidados finais e seriam
instaladas em um amplo apartamento, com todas as comodidades para o bebê, para o casal e
para as visitas.
Em seguida, as piscinas foram esvaziadas, desinfetadas e novamente cheias,
ficando prontas para um novo parto. No restante da manhã visitamos apartamentos e
conversamos com pais, parentes e amigos. O que ficou evidenciado foi o carinho que dedicavam
às mães, aos bebês, aos pais e aos visitantes, gerando uma energia positiva que contagiava
todos.
Voltamos à colônia e, depois do almoço, pegamos os veículos aquáticos e saímos
para um passeio sobre bancos de corais. Retornamos no final da tarde para uma nova etapa de
documentários que abrangiam um período de sete anos, do 43 ao 49. No final do ano 48, os
sete governos continentais e a quase totalidade da população era favorável à criação do
governo central. Nos meses seguintes, os governantes e suas equipes começaram a se reunir
para resolver os últimos detalhes e definir os critérios para estruturação do novo organismo e
escolha da primeira equipe de dirigentes.
Chegaram rapidamente a um consenso e, na metade do ano 49, houve uma grande
reunião na ilha de Agartha. Como ainda não havia televisão, os espaciais forneceram o suporte
tecnológico, instalaram telões em praças públicas e o acontecimento foi transmitido para todo o
planeta. Depois de emocionados discursos dos governantes continentais, realizaram uma rápida
votação e, quando o comandante da frota de apoio divulgou os resultados, todos aplaudiram, se
abraçaram e se emocionaram. Essa mesma reação ocorreu nos demais recantos do planeta e a
onda de harmonia, de entendimento e de amor que tomou conta de todos ocasionou um grande
fenômeno.
Ahelohim, o Messias arretiano, se materializou no grande centro de convenções e
transmitiu muitas informações sobre as dádivas que o Pai Celestial iria distribuir aos seus filhos
73
a partir daquele dia. Também informou que os futuros governantes seriam por Ele indicados para
cumprir a mesma difícil missão que esperava os recém eleitos. A aparição e as palavras de
Ahelohim provocaram tamanho entusiasmo e confiança na população, que tudo foi facilitado.
Muitos problemas potenciais foram facilmente superados e outros nem ocorreram. O primeiro
governante foi Thauro, o mesmo que substituiu Nunzain.
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objetivos e metas, detalhá-los e transformá-los em programas de ação grupal ou individual.
Eram conselheiros e facilitadores, não controladores.
O RETORNO À TERRA
Obrigado por ler este livro. Se gostou, esperamos que leia sua continuação em
ARRET - O Passado do Planeta e que se junte aos sonhadores e sonhadoras que propagam um
ideal de vida semelhante ao arretiano.
Com isso ajudaremos a materializar o sonho representado pela vida, pela obra,
pelas palavras e pelo exemplo de Jesus. Para solicitar ARRET - O Passado do Planeta leia o
último parágrafo da biografia do autor.
Apesar dos direitos autorais deste livro estar devidamente protegido e registrado na
Fundação Biblioteca Nacional, conforme dados na página dois deste livro, você pode ceder
cópias a seus amigos e amigas, pois nosso maior desejo é divulgar a mensagem nele contida.
BIOGRAFIA DO AUTOR
J. A. Dal Col, batizado como José Aparecido Dal Col, nasceu em 23 de Dezembro
de 1948, às 15:13 hs em uma fazenda na cidade de Guarantã – SP. Começou a trabalhar ainda
jovem em várias atividades e empresas e, em 1967, já morando na cidade de São Paulo,
ingressou na antiga Companhia Telefônica Brasileira, onde atuou como escriturário,
encarregado, chefe de seção e analista de sistemas. Casou-se em 1973 com Solange, com
quem teve três filhos e adotou outros dois.
Em 1978, graduou-se em administração com especialização em análise de
sistemas. De 1974 até 1988, desempenhou diversas funções de direção nas áreas de sistemas
da Manah, Votorantim, Prodam e bancos estrangeiros, como o First Chicago e BNL. Em fins de
1988 montou sua empresa de consultoria na área de sistemas e, em setembro de 1992 mudou-
se para Alto Paraíso de Goiás, onde montou um supermercado e adquiriu uma propriedade rural,
o Santuário Vale Dourado, uma área de 658 hectares, com muitas cachoeiras, rios e outras
belezas naturais.
Em 1999, depois de registrar a grande aventura arretiana, mudou-se com sua
esposa Solange para o Santuário Vale Dourado onde passaram a viver em estreito contato com
a natureza, obtendo a sustentabilidade através do Ecoturismo. Em 2008, tendo como inspiração
o modo de vida do povo arretiano, descrito neste livro e, especialmente, em ARRET – O
Passado do Planeta, definiram um projeto de Ecovila e começaram a compartilhar o local com
outras pessoas interessadas em praticar um novo modo de vida em harmonia com a natureza e
um novo estilo de convívio social baseado na cooperação e no respeito à individualidade.
Novas pessoas estão se interessando, ajudando, ou se integrando ao projeto da
Ecovila como Sócio(a) Cotista e ela está se desenvolvendo conforme o planejado.
Para outras informações acesse o site www.ecovilavaledourado.com que detalha o
projeto de ecoturismo e apresenta outras informações sobre a Ecovila, incluindo o download de
um folder eletrônico com detalhes da filosofia, do projeto geral da Ecovila e como dela participar
como Sócio(a) Cotista.
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No site acima, você também poderá fazer o download gratuito de ARRET – O
Passado do Planeta e de duas propostas referentes à Reforma Política e Reforma Agrária. Se
quiser, também pode entrar em contato conosco pelo e-mail ecovilavaledourado@gmail.com.
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