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Rio de Janeiro
2021
JORDANA ALMEIDA DE OLIVEIRA E SOUZA
Rio de Janeiro
2021
JORDANA ALMEIDA DE OLIVEIRA E SOUZA
This work presents the reflexion about the intensification of militarization at city life
based on urban devices of city production. Taking by start point the regressive
reading of our present – movement that allow us to associate the public security
debate to the militarization debate – the present research emphasizes the
militarization experiences in Rio de Janeiro, by the perspective of a new military
urbanism, trying to understand how the thesis guided by the global north optics
express itself in a city located at the global South. At last, we try to articulate the
academic reflexion about the current reality, exposing the influences of military theory
on the concrete debate about the armament of the city guard.
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................9
2 AS METAMORFOSES DA VIOLÊNCIA URBANA: DA MILITARIZAÇÃO À
PACIFICAÇÃO................................................................................................16
2.1 A metáfora da guerra: para quem vive na guerra, a paz nunca existiu....17
2.2 A estigmatização dos territórios de favela: cada lugar, um lugar; cada
lugar, uma lei..................................................................................................26
2.3 O processo de pacificação e sua derrocada...............................................32
3 TERRITÓRIOS SITIADOS: AS BASES DO URBANISMO MILITAR NO RIO
DE JANEIRO...................................................................................................40
3.1 Favela como palco da guerra urbana: militarização em territórios
populares........................................................................................................44
3.2 Guerra para muitos, autossegregação para poucos: o ‘bumerangue de
Foucault’ nos Trópicos................................................................................. 53
3.3 A segurança e a economia de mãos dadas.................................................60
3.4 A infraestrutura urbana criando mundos de morte....................................64
3.5 Cidadãos armados: a emergência da intolerância.....................................69
4 A MILICIALIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS......................................................75
4.1 A urbanização miliciana................................................................................75
4.2 A militarização da política e o crescimento da extrema-direita.................83
4.3 Parem de nos matar! O urbicídio e a necropolítica são as opções do
urbanismo militarizado..................................................................................88
4.4 O armamento da Guarda Municipal do Rio de Janeiro...............................96
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................103
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 106
11
1 INTRODUÇÃO
Isso quer dizer que, na medida em que os processos espaciais urbanos são
também reflexos das relações globais, a experimentação do atravessamento
militarizante é igualmente imposta por determinantes históricos, como, por exemplo,
12
produção da cidade do Rio de Janeiro, por meio dos dispositivos políticos, legais,
regulatórios, coercitivos e econômicos.
partir do fim da década de 1980, gerando frutos no apogeu do projeto neoliberal para
a cidade.
A primeira tese apresentada pelo autor traz elementos que se referem a vida
e paisagem urbana. Para desenvolve-la, recorro ao conceito de guerra e “guerra
urbana” ou guerra assimétrica, conflito de baixa intensidade, guerra de longa
duração; buscando assimilar como a guerra às drogas se revela como a intensa
guerra aos moradores de favelas. Com o avanço tecnológico, os mecanismos de
contenção e repressão são aperfeiçoados, fazendo com que o binarismo de bem
versus mal justifique que dispositivos militares permeiem a vida urbana no seu mais
simplório aspecto, produzindo a sensação de segurança para uma pequena parcela
da população, em detrimento do terror oferecido nas áreas de periferia. A
urbanização da segurança é o aspecto do novo militarismo urbano, que antecipa o
inimigo e potencializa a sua repressão.
15
Nesse sentido, objetiva-se apresentar como essa tese se esboça dentro das
especificidades brasileiras, trazendo elementos que nos caracterizam como um país
explorado nessa relação decidida pelo Norte global, porém abordando, também, as
singularidades dentro da classificação Norte imperialista x Sul explorado.
Por fim, a quinta tese do autor diz respeito à relação entre as tecnologias de
guerra e cidadãos urbanos “comuns”. Graham (2016) aponta aspectos bastante
intrínsecos ao processo de urbanização dos EUA, mas que nos possibilitam
estabelecer correlações com a realidade brasileira, em especial a realidade
fluminense, principalmente na constatação do fato de que a adoção de teorias
militares como caminho na resolução de conflitos urbanos resulta na emergência de
discursos revanchistas de intolerância.
2.1 A metáfora da guerra: para quem vive na guerra, a paz nunca existiu
Seguindo uma tendência internacional, foi a partir dos anos 1980 que a
discussão sobre criminalidade e violência urbana ganhou maior destaque no Rio de
Janeiro. É apenas a partir do fim da década de 1980 que se inicia a construção com
maior nitidez dos contornos da violência urbana no Rio de Janeiro e, apesar da
contenção militarizada não ser uma novidade, houve uma mudança significativa na
organização desta e nos atores nela envolvidos.
1
O procedimento administrativo surge de dois dispositivos infralegais: a Ordem de Serviço nº 803, de
2 de outubro de 1969, pela Superintendência da Polícia do então Estado da Guanabara; e a Portaria
do Secretário de Segurança, de 6 de dezembro de 1974. Disponível em: <https://bit.ly/2S1M79b>.
Acesso em: fev. 2021.
23
É importante que essa tríade de fatores históricos internacionais seja lida sob
a perspectiva fluminense, a fim de ampliar a reflexão sobre as bases da construção
da metáfora da guerra no Rio de Janeiro. De forma didática, uma matéria jornalística
da Folha de São Paulo explana o contexto dessa relação de fatores na cidade do
Rio de Janeiro.
O consumo de droga não se inicia na década de 80, mas no que tange a
facilitação da venda de drogas, em especial a cocaína, é um importante
marco temporal internacional sobre a mudança de paradigma na venda e
2
Aprovado em 1970, o Código Penal Militar dá margem para que civis sejam investigados por cortes
militares e punidos. É o caso do economista Roberto de Oliveira Monte, que, ao criticar as
humilhações sofridas por militares e defender a sindicalização dos “praças”, se tornou réu da Justiça
Militar.
24
3
Cocaína fortaleceu o crime organizado. Folha de São Paulo, 13 ago. 2000. Disponível em:
<https://bit.ly/2PGx1EZ>. Acesso em: 21 dez. 2020.
4
“[...] A política de proibição às arbitrariamente selecionadas drogas tornadas ilícitas, globalmente
iniciada no início do século XX, intensificou a repressão a seus produtores, comerciantes e
consumidores, com a introdução da ‘guerra às drogas’, que, formalmente declarada pelo ex-
presidente americano Richard Nixon, em 1971, logo se espalhou pelo mundo.” Cf: KARAM, M. L.
Violência, militarização e ‘guerra às drogas’. In: KUCINSKI, B. et al. Bala perdida: a violência policial
no Brasil e os desafios para sua superação, p. 33-38, 2015.
25
6
Militar 'tranquilo-durão' comandará ação. Folha de São Paulo, 02 nov. 1994. Disponível em:
<https://bit.ly/3dqFlkj>. Acesso em: 25 dez. 2020.
27
de que o controle deve ser feito sobre territórios violentos. Sob a égide do discurso
de combate à criminalidade, diante de um crescente cenário de violência urbana, os
territórios de favela, historicamente estigmatizados, foram alvos perfeitos de
responsabilização pela produção do violento. Desde sempre perseguidos, é no fim
do século XX que as forças militares do Estado – e, por vezes, também da União –,
voltam toda a sua atenção para esse território, em busca do grande inimigo
internacional: o traficante de drogas.
Mike Davis (2006, p. 33) também faz apontamentos importantes sobre como
se pensavam os territórios de favelas, pelo mundo, antes da possibilidade de criação
da narrativa da violência urbana. Nas palavras do autor:
É claro que, para os liberais do século XIX, a dimensão moral era decisiva e
a favela era vista, acima de tudo, como um lugar onde um resíduo social
incorrigível e feroz apodrecia em um esplendor imoral e quase sempre
turbulento; na verdade, uma vasta literatura excitava a classe média
vitoriana com histórias chocantes do lado negro da cidade [...].
Pode-se dizer, então, que uma das origens da estigmatização, que acompanha
historicamente os territórios de favela dentro da formação do território brasileiro, é a
ideia de manutenção da ordem. Assim, sem grandes invenções, a ideia de “ordem”
apenas se atualiza no final do século XX. Para Estado, sociedade civil, mídia e
forças de segurança, dentre as medidas necessárias para conter a violência urbana,
a mais importante era impor a "ordem" aos territórios de favela, quase como uma
ideia civilizatória – método bastante conhecido da nossa história colonial.
A Ordem, como valor branco, ocidental e cristão, foi o que sempre norteou a
estigmatização das “classes perigosas” e, consequentemente, o que orientou como
as políticas de Segurança Pública deveriam se relacionar com o território e seus
indivíduos. Como maneira de impor o ordenamento às favelas do Rio de Janeiro, o
Poder Público ora propõe soluções abertamente militarizadas, ora pacificadoras,
sem que, todavia, haja o rompimento com a caracterização da metáfora da guerra,
capaz de criar o inimigo a ser combatido.
Nesse período, foi concedida autonomia pelo governo militar aos governos
estaduais para a nomeação de Secretários de Segurança, comandantes das
Polícias Militares e chefes das Polícias Civis. Essa nova estrutura possibilitou que
um governo progressista fomentasse o debate necessário sobre a relação das
forças de segurança com os territórios de favela; relação essa que, até então, se
desenhava como uma necessária guerra com a finalidade de abater os inimigos.
9
Plano Diretor da PMERJ (1984-87). Publicado pela Imprensa da PMERJ, edição de abril de 1986.
Arquivo do Instituto Carioca de Criminologia (ICC).
32
Rompe-se com a organização política econômica escravista sem que se rompa com
a ideologia que a fundamenta. Assim, os mecanismos de controle e repressão, em
nome da manutenção da ordem, são atualizados para a nova fase capitalista, e o
poder de acesso ao consumo determina quais serão as novas classes perigosas a
serem temidas.
33
10
Policiais ganharam gratificação 'faroeste'. Folha de São Paulo, 09 abr. 1997. Disponível em:
<https://bit.ly/3cJPSIl>. Acesso em: 20. dez. 2020.
35
11
Morar carioca: programa de urbanização de favelas, criado por Eduardo Paes, em 2010, visava
integrar todas as favelas à cidade formal até 2020, com obras de infraestrutura e saneamento básico,
a partir da escuta dos moradores locais. Programa de aceleração do crescimento para as favelas:
criado em 2007, o programa PAC do Governo Federal financiou recursos para o PAC-favelas, já em
2008. Houve a priorização de obras pouco necessárias, em detrimento de infraestrutura básica como
pediam os moradores; entre outros.
36
O segundo Plano Estratégico, apresentado em 2004 por César Maia, marca seu
rompimento com Luiz Paulo Conde e difere do primeiro em alguns pontos. Talvez, o
mais importante para o trabalho seja a definição dada à região da Barra da Tijuca,
que passa a figurar como área de extrema importância para o investimento do setor
privado e de grande relevância para a compreensão posterior do “marketing urbano”.
Para parte da população carioca, esse projeto foi tão vitorioso que Eduardo
Paes sucedeu a Cesar Maia e, em seu primeiro Plano Estratégico, ressaltou as
várias marcas dentro da marca Rio de Janeiro – Maracanã, Copacabana, Corcovado
– (PECRJ, 2009), se utilizando amplamente do marketing do discurso para promover
a Cidade Olímpica. Assim, Eduardo Paes inaugurou a estratégia discursiva do “Rio
capital” – da indústria, do meio ambiente, do turismo, do audiovisual –, com
possibilidades concretas de receber a final da Copa de 2014 e os jogos olímpicos de
2016, imerso na concretização do projeto de neoliberalização da cidade do Rio de
Janeiro.
15
Localização estratégica, próxima à Barra da Tijuca, onde foi construído o complexo olímpico.
16
Área de bastante interesse do capital imobiliário, a região portuária foi um dos símbolos urbanos de
expulsão e gentrificação promovidos pela gestão de Eduardo Paes.
17
Processo de expulsão dos moradores da região, devido ao aumento dos preços de aluguéis e
serviços.
18
Saneamento, coleta de lixo, educação e saúde, entre outros serviços públicos.
40
Essa característica fez com que a política dividisse opiniões, como bem relata
Machado (2015):
Desde a implantação da primeira unidade, na favela Santa Marta, em
dezembro de 2008, as UPPs foram alçadas ao centro das atenções no
debate sobre a manutenção da ordem pública no Rio de Janeiro. De um
lado, militantes (favelados ou não), e uma parte dos pesquisadores têm
defendido que as UPPS são apenas um novo nome fantasia para as
mesmas práticas policiais de sempre: arbitrárias, corruptas e violentas.De
outro, uma minoria de oficiais superiores da Polícia Militar (PM), à qual as
UPPs estão subordinadas, os demais pesquisadores, grande parte da
opinião pública, incluídos segmentos da população favelada, e quase toda a
grande mídia, consideraram as UPPs um sucesso tão grande que elas se
tornaram uma verdadeira panaceia. (MACHADO, 2015, p. 12)
19
Cf. MESENTIER, A. A estratégia do capital no Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://bit.ly/3xqoZBn>. Acesso em: fev. 2021.
41
Graham (2016, p. 27) afirma que são cinco as principais teses do novo
urbanismo militar, sendo elas: a) A urbanização da segurança; b) O ‘bumerangue de
Foucault’; c) A economia vigilante; d) A infraestrutura urbana, guerra urbana; e) Os
soldados cidadãos.
46
Nas primeiras décadas do século XX, foi feito um breve ensaio de avanço na
democracia da vida política da América Latina. Todavia, sem o efetivo rompimento
com valores oligárquicos constitutivos das Repúblicas latinas, a mudança superficial
alcançou apenas o debate institucional mais raso, não sendo capaz de alicerçar
esses países durante a crise de 1930.
31
“Caveirão voador” é usado como plataforma de tiro, dizem moradores. Agência Pública,
18 abr. 2019. Disponível em: <https://bit.ly/2PTmOVW>. Acesso em: dez. 2020.
52
Além disso, se vende como um dispositivo seguro para o agente que o pilota
à distância. Chamayou (2015) afirma que o drone possui uma capacidade de
projetar poder sem projetar a vulnerabilidade, impedindo a reciprocidade e a própria
ideia de combate. Isso quer dizer que, ao afastar o combatente, seja ele um policial
militar do Rio de Janeiro ou um militar do Exército de Israel, pragmaticamente,
35
Afastado por suspeita de participação em esquemas de corrupção.
54
36
Barack Obama teme que futuro presidente entre em guerra de drones perpétua e secreta. The
Intercept Brasil, 4 out. 2016. Disponível em: <https://bit.ly/3uo9xUl>. Acesso em: 23 jan. 2021.
55
produtos da nossa história. Por mais que se tente cercar de todos os lados,
sempre teremos defasagens e vieses nesse tipo de tecnologia.37
Nesse sentido, a IBM, uma das maiores empresas de inteligência artificial escreveu
uma carta aberta repudiando a criação de perfis raciais. A carta, dirigida aos
senadores democratas e disponível do site da empresa, diz que:
A IBM se opõe firmemente e não tolerará o uso de qualquer tecnologia,
incluindo tecnologia de reconhecimento facial oferecida por outros
fornecedores, para vigilância em massa, perfil racial, violações de direitos
humanos e liberdades básicas.38
Por fim, é importante reconhecer que os atores estatais não são os únicos
responsáveis por incutir elementos militares na vida urbana. Tanto o fenômeno do
tráfico de drogas, fortalecido nos anos 1980 e 1990, quanto o crescimento das
milícias no Rio de Janeiro, a partir dos anos 2000, repercutem diretamente na
produção da cidade. No próximo capítulo, será abordado como as milícias, pelo seu
grau alcance e intervenção, impõem domínio militar na urbanidade, instituindo
territórios de controle nos quais aspectos da sociabilidade são questionados. Em
suma, é bastante evidente a introdução desses dispositivos militares nas práticas de
segurança urbana, operados pelo Estado e também por forças paralelas,
incorporando no seu funcionamento o estigma aos territórios populares e aos seus
moradores.
37
O algoritmo e racismo nosso de cada dia. Revista Piauí, 02 jan. 2021. Disponível em:
<https://bit.ly/3fCFCna>. Acesso em: jan. 2021.
38
IBM CEO’s Letter to Congress on Racial Justice Reform. Carta publicada originalmente em inglês,
em 8 jun. 2020. Tradução livre. Disponível em: <https://ibm.co/3cNuhPo>. Acesso em: jan. 2021.
56
A estratégia, segundo Caldeira (1996), coopera para uma segregação que vai
além das habitações, interferindo igualmente nos espaços de lazer, trabalho e
consumo. Para a autora, a construção desses enclaves responde pela fragmentação
da cidade e pelo abandono da vida púbica nas cidades. Sobre os enclaves
fortificados, Caldeira (1996, p. 159) diz:
Graham (2016, p. 28) expõe que esses dispositivos de controle militar na vida
urbana baseiam-se na criação de perfis associados à violência e desconsideram,
dessa maneira, os direitos legais e as normas jurídicas. É nesse sentido que
Caldeira (1996, p. 163), ao falar sobre os comerciais dos grandes condomínios de
luxo, relata:
O programa mostrou ainda uma cena filmada de um helicóptero:
seguranças privados de um condomínio interceptam um "carro suspeito"
(uma kombi) fora dos muros do condomínio e revistam os ocupantes, que
são forçados a ficar de costas e com as mãos para cima, apoiados no carro.
Embora esta ação seja ilegal, pois efetuada por um serviço de segurança
privado numa rua pública, cumpre uma função clara: juntamente com as
cenas de visitantes submetendo seus documentos de identidade nos
portões de entrada, reafirma aos moradores ricos (e espectadores) que
pessoas "suspeitas" (pobres) permanecerão do lado de fora.
proteger alguns e vigiar “os outros”, com fronteiras menos nítidas entre nacionais e
estrangeiros.
39
Haiti serviu como laboratório para a política de UPPs. Carta Capital, 7 ago. 2014. Disponível em:
<https://bit.ly/2PWVdDm>. Acesso em: jan. 2021.
40
Experiência militar e destaque internacional estão entre legados que missão de paz no Haiti deixa
ao Brasil. G1, 01 set. 2017. Disponível em: <https://glo.bo/3rMnhGL>. Acesso em: jan. 2021.
41
Lula no Haiti. Secretaria da Educação, 05 jun. 2008. Disponível em: <https://bit.ly/3tUEcsr>. Acesso
em: mar. 2021.
63
tecnologias que pudessem ajudar na contenção interna não foi o tom da ocupação
do Haiti, mas, sim, a criação de um laboratório geográfico que possibilitou que as
Forças Armadas, cujas ações não são de natureza urbana, pudessem intervir na
garantia da segurança interna e na atuação junto à Polícia Militar na guerra às
drogas dentro das favelas cariocas.
43
http://www.sibat.mod.gov.il/Sibat/Pages/Overview.aspx - Acesso em: jan. 2021.
44
https://revistaoeste.com/mundo/israel-fechou-2019-como-um-dos-10-maiores-exportadores-
militares - Acesso em: jan. 2021.
45
A Política de Segurança Pública do Rio de Janeiro é ineficiente e financeiramente insustentável.
Rede de Observatórios da Segurança. Disponível em: <https://bit.ly/2PQy6KD>. Acesso em: jan.
2021.
66
A militarização urbana é cada vez mais lucrativa para os grupos que agem em
desamparo com a lei, milícias urbanas são responsáveis por grilagens de terras e
até mesmo pelo controle de unidades habitacionais entregues pelo programa social
Minha casa, minha vida. O relatório49 aponta, ainda, que a expansão da fronteira
urbano-imobiliária da Zona Oeste do Rio de Janeiro em muito provém do poder da
46
Maior empresa de segurança do mundo avança no Brasil. Estadão, 26 ago. 2010. Disponível em:
<https://bit.ly/3ua6Nd0>. Acesso em: jan. 2021.
47
Paramilitares americanos treinam policiais brasileiros para a Copa. Folha de São Paulo, 21 abr.
2014. Disponível em: <https://bit.ly/3nmMhDC>. Acesso em: mar. 2021.
48
Cf. A expansão das milícias no Rio de Janeiro: uso da força estatal, mercado imobiliário e grupos
armados. Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF) e Observatório das Metrópoles
(IPPUR/UFRJ). Disponível em: <https://bit.ly/3dtHtb7>.
49
Ibidem.
67
Graham (2016, p. 39), ao explicar a tese, fala da violência por meio da cidade,
que significa que, nas guerras de 4ª geração, as redes que constituem as cidades
modernas são destruídas como forma de atacar os cidadãos considerados de
segunda classe, ou bárbaros, por grupos estatais ou não estatais, já que, no
contexto do novo urbanismo militar, é mais conveniente e menos oneroso para os
Estados Nacionais destruírem milhares de vidas civis através de negativas a direitos
básicos do que promoverem uma destruição nuclear.
aponta o Rio de Janeiro como a cidade com o maior número de pessoas vivendo em
assentamentos informais.
A declaração expõe as raízes das sínteses urbanas feitas pelas elites cariocas, que
concluem que o espaço favelado é o território a ser sufocado, caso contrário,
significaria o incentivo do desenvolvimento de uma população bárbara, que escolhe
não aderir ao progresso. Quando analisados os investimentos feitos nas favelas, fica
nítido que a ausência de infraestrutura é parte do projeto político. Para exemplificar
tal afirmação, vale relembrar que na ocupação militar da favela da Maré foram
gastos 461 milhões de reais e que o projeto de tratamento de esgoto, que começaria
em 2013, com orçamento de 35 milhões51, sequer foi concluído.
Para além do projeto de sufocar os territórios de favela com políticas que não
priorizem a criação ou a manutenção da rede se serviços públicos, há uma sanha
destrutiva que não parte apenas do Estado de forma organizada. Outra popular
tática de destruição da infraestrutura das favelas são os incêndios criminosos que
destroem as habitações populares, como forma de pressionar a retirada dessa
população do local. Prática bastante comum nas favelas de São Paulo, os incêndios
criminosos muitas vezes atendem a interesses do mercado especulativo 52. A tática já
foi utilizada em larga escala também no Rio de Janeiro, a exemplo da favela da
Catacumba, na Lagoa, em 1967, ou da Favela do Pinto, em 1969.
53
Boletim Direito à Segurança Pública na Maré. Redes da Maré. Disponível em:
<https://bit.ly/2QRJ96z>.
54
Violência e falta de verba travam o teleférico do Alemão, parado há três anos. O Globo, 30 set.
2019. Disponível em: <https://glo.bo/31K9ohI>.
72
55
Para Graham, (2016, p. 84), a guerra da informação pode envolver tudo, desde espalhar folhetos e
bombardear redes de TV que mostram a morte de civis até reforços de coerção política e social que
façam parar, repentina e completamente, infraestruturas inteiras de nações urbanas.
56
Graham (2016, p. 133) afirma que a invasão do Iraque, em 2003, foi a primeira guerra a surgir no
espaço de informação eletrônico como um espetáculo de mídia totalmente coordenado, com
repórteres infiltrados, sites interativos, modelos em 3d e mapas, tudo ao alcance da mão.
73
57
Maior sucesso do cinema nacional de 2007, foi dirigido por José Padilha e teve cerca de 14 milhões
de espectadores.
74
58
Policial militar morre durante curso de formação do Bope, no RJ. G1, 28 nov. 2018. Disponível em:
<https://glo.bo/31IfZJo>.
59
Referência ao grito de guerra do batalhão: “Homens de preto qual é sua missão? / Entrar na favela
e deixar corpo no chão / Homens de preto o que é que você faz? / Eu faço coisas que assustam até a
satanás”.
60
Bope chega aos 35 anos reforçando atuação na internet. O Globo, 27 jan. 2013. Disponível em:
<https://glo.bo/3rV3sgx>.
75
que a doutrina militar permeia toda a vida cotidiana. A admiração pelo uso ostensivo
de dispositivos militares e o aplauso às forças militares que causam destruição,
tornam cidadãos verdadeiros soldados chamados a atuarem ativamente na guerra
urbana fluminense.
Uma variação desse quinto elemento apresentado pelo autor (2016, p. 41)
são os “cidadãos-soldados virtuais” (GRAHAM, 2016, p. 299):
[...] presos em uma cultura em rede e sem limites, de guerra permanente,
em que tudo se transforma de maneira grotesca nos campos de batalha. A
experiência da infância de brincadeiras militarizadas se transforma, cada
vez mais, em atos adultos de guerra, conforme brinquedos e armas se
fundem. O processo de militarização se aprofunda, marcado pela
recodificação do campo social com valores e ideais militares. [...] Se os
soldados-cidadãos se habituam à participação pessoal em uma cultura de
guerra permanente contra um outro orientalizado e virtualizado, questões
sobre a necessidade dessa violência vão se afastar cada vez mais da
paisagem cultural. (GRAHAM, 2016, p. 300)
61
Termo utilizado pelo autor Luiz Felipe Miguel em O ÓDIO COMO POLITICA- “A reemergência da
direita brasileira” Pgs 17-26, 2018, Boitempo, Org. Esther Solano Galego.
76
62
Bolsonaro diz que aumento de 90% em venda de armas em 2020 foi 'pouco ainda'. O Globo, 11
jan. 2021. Disponível em: <https://glo.bo/3rHAEYJ>.
77
O estudo das milícias como produto melhor acabado do urbanismo militar requer
atenção para dois elementos, para além dos expostos ao longo deste trabalho: a
motivação para o exercício do controle territorial e a sua inovadora estruturação.
Cabe dizer que o terceiro ator nessa relação conflitiva – os agentes do Estado
– também exerce controle militarizado sobre os cidadãos favelados, por vezes
esporadicamente em incursões, por vezes respaldados por um planejamento a longo
prazo, como foram as experiências de implementação das UPPs. São recorrentes os
episódios de coerção, tortura e assassinato nas operações policiais dentro das
favelas cariocas; a principal diferença é que ações que resultam do seu domínio
territorial ganham legitimidade sob a justificativa da permanente guerra às drogas e
do reestabelecimento da paz.
80
As milícias possuem suas raízes ainda nas décadas de 1980 e 1990, quando
grupos de extermínio formados por policiais militares se expandiram por todo o
estado do Rio de Janeiro, em especial na Baixada Fluminense. Alves (2003)
apresenta que a convergência de interesses desses grupos com alguns pequenos
empresários locais deu origem às polícias mineiras63, embriões do que,
posteriormente, se convencionou denominar como milícias.
A milícia do Rio das Pedras, devido ao seu caráter “comunitário”, conseguiu exportar
seu modelo organizativo para várias favelas da região.
Vamos reerguer o centro social que tem o nome do meu irmão e do nosso
pai, que era Jerônimo. Vamos lutar até o fim pela população da Zona Oeste,
Santa Cruz, Campo Grande e Bangu.64
65
Cf. Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Discursos e Votações - Legislaturas Ant. Discurso de
Flávio Bolsonaro, 07 fev. 2007. Disponível em: <https://bit.ly/3nodVQM>. Acesso em: abr. 2021.
82
Desde o fim da CPI que investigou as milícias, há quinze anos, surgiram diferentes
grupos milicianos dominando militarmente inúmeros territórios no estado do Rio de
Janeiro, a partir de um profundo processo de aperfeiçoamento das práticas de crime
e contravenção. Uma das mudanças mais significativas do perfil de atuação dessas
organizações é o fato de que, atualmente, a venda de entorpecentes é uma de suas
principais atividades, que se desdobra em práticas de acordos com facções
criminosas, terceirização dos pontos de venda de drogas e cobrança de taxas em
cima dos lucros obtidos.
66
CPI das Milícias: o que ocorreu com os políticos citados no relatório? Revista Piauí, 12 mai. 2018.
Disponível em: <https://bit.ly/3uifToa>.
67
Relatório Final da CPI das Milícias. Disponível em: <https://bit.ly/3mhdbMD>.
68
Ibidem.
69
Ibidem.
83
70
A expansão das milícias no Rio de Janeiro: uso da força estatal, mercado imobiliário e grupos
armados. Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF) e Observatório das Metrópoles
(IPPUR/UFRJ). Disponível em: <https://bit.ly/3dtHtb7>.
84
Sobre o tema, vale retornarmos à contribuição trazida por Safatle (2017), que
afirma que o rompimento com o regime autoritário, que perdurou até 1985, foi uma
tentativa de conciliação, sem que houvesse qualquer punição a crimes como tortura,
assassinatos e ocultação de cadáveres, diferentemente de todos os outros países
latino-americanos, opção que expõe suas consequências no modus operandi das
polícias militares. Safatle (2017, p. 64) diz que a Nova República, constituída após o
fim da Ditadura Militar, se baseou na tese do esquecimento dos excessos. Sobre
isso, o autor afirma:
O resultado é inapelável. Nenhum outro país protegeu tanto seus
torturadores, permitiu tanto que as Forças Armadas conservassem seu
discurso de salvação através do porrete, integrou tanto o núcleo civil da
ditadura aos novos tempos de redemocratização quanto o Brasil. [...]
Nenhum outro país latino-americano precisa conviver com um setor
protofascista da classe média a chamar às ruas por “intervenção militar”.
(SAFATLE, 2017, p. 64)
Graham (2016, p. 72) afirma que operações da esfera urbana doméstica são,
cada vez mais, tratadas como problemas de Segurança Nacional. Notadamente no
Rio de Janeiro, a exemplificação mais concreta é a guerra às drogas, que dialoga
com a escala urbana e internacional; entretanto, poderíamos citar outros atores que
são considerados inimigos nacionais, em especial, para a parcela extremista de
direita, os lutadores do campo, os ocupantes de imóveis vazios e todos aqueles que
levantam vozes que destoam da ordem.
A presença onipresente do inimigo, seja ele qual for, é o que garante especial
posição para setores políticos da extrema-direita e traduz na disputa urbana as
ideologias de disputas nacionais. Exemplo mais nítido são as reiteradas justificativas
do atual Presidente da República para flexibilizar a posse e o porte de armas para a
população; em nome da defesa individual, a agência federal pode intervir e acelerar
o processo de urbanização miliciana ocorrida na cidade do Rio de Janeiro.
74
Decreto 9.845/2019
75
Decreto 9.846/2019
90
O termo urbicídio foi usado em dois momentos para refletir sobre diferentes
processos de destruição das cidades: a primeira foi nos anos 1990, por Marshall
Berman, na reflexão sobre o processo de destruição dos bairros do Bronx,
associando esse processo a políticas antiurbana; e o segundo foi em 1993, para se
referir às destruições das cidades no processo de desintegração da República
Iugoslava (MORENO; BÁEZ GIL, 2021).
76
Decreto 10.030/2019
91
Partindo mais uma vez do binarismo expresso entre agentes da ordem versus
agentes da desordem e do caos, Graham (2016, p. 308) revela o sadismo israelense
e norte-americano na guerra contra o terror, que resultou na invasão ao Iraque em
busca de armas de destruição em massa. O autor descreve como a campanha de
desinformação realizou uma proposital confusão entre Estado Nacional, população e
grupos terroristas, além de rotulação de elementos religiosos, em uma espécie de
cruzadas contra o islamismo radical do século XXI. Graham (2016) afirma que:
Desumanizar palestinos foi a forma encontrada por Israel e Estados Unidos para
amortecer qualquer sentimento de compaixão aos ataques sofridos na invasão
preventiva contra o terror, foi a tentativa de mitigar a revolta causada pela subtração
da vida de milhares de civis atingidos diretamente por essa guerra, em busca de
exponenciação de lucros, exportação de tecnologias de guerra em massa, controle
geopolítico da região e exploração neocolonial.
No Rio de Janeiro, o conflito não se dá pela guerra formal entre exércitos distintos, já
que a distinção entre legalidade e ilegalidade das operações militarizadas é muito
mais complexa do que o binarismo maniqueísta vendido pelas forças do Estado.
77
Voz das Comunidades faz monitoramento independente do coronavírus em favelas do Rio. G1, 22
abr. 2020. Disponível em: <https://glo.bo/3nqGyNq>. Acesso em: abr. 2021.
78
A favela é um campo de extermínio do povo negro. Portal Geledés, 26 mai. 2019. Disponível em:
<https://bit.ly/3dTSXpV>.
79
A favela é um campo de extermínio do povo negro. Portal Geledés, 26 mai. 2019. Disponível em:
<https://bit.ly/3dTSXpV>.
80
Instituto de Segurança Pública divulga dados de maio. Governo do Estado do Rio de Janeiro, 22
jun. 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3nmRxHm>.
95
Dessa forma, Shaw (2004, p. 141) aponta que o urbicídio deve ser lido em conjunto
com outras estratégias de aniquilação.
Quando nos referimos ao Sul global, o urbicídio como forma de “fazer morrer”
as cidades tem relação intrínseca com o “fazer morrer” enquanto uma decisão de
poder, ao que Mbembe (2018) denomina como necropolítica, como o poder de
determinar quem deve morrer e quem pode viver. Os conceitos se relacionam
porque ambos servem como condições de desenvolvimento do capitalismo e, na
periferia global, produzem zonas de morte e exclusão. A necropolítica é a
manifestação do poder daqueles que decidem quem é aliado e, portanto, merece
permanecer vivo e quem é inimigo e pode ter sua vida retirada. Esses inimigos
ocupam um determinado espaço e são, em sua grande maioria, pretos e pardos.
em conjunto com a política de Estado, que determina quais são os corpos matáveis.
Como citado ao longo do trabalho, a urbanização militarizada expõe a necessidade
da criação de binarismos, seja entre a ordem versus a desordem ou entre os
cidadãos de bem identificados a partir do pacto da branquitude versus bandidos
racializados.
81
Cf. CARNEIRO, S. Biopoder. Correio Braziliense, 30 out. 2007. Disponível em:
<https://bit.ly/3nn0RLs>.
82
Ibidem.
83
Cabral defende aborto contra violência no Rio de Janeiro. G1, 24 out. 2007. Disponível em:
<https://glo.bo/2S5ftDM>.
97
serviços e instalações, ou seja, a Carta Magna não previa em sua formulação que
esses agentes compusessem o corpo da Segurança Pública, assim, o debate em
torno do armamento só vai ganhar fôlego a partir das possibilidades abertas com
aprovação do estatuto do desarmamento, em 200386.
86
Lei 10.826/2003.
101
A aposta por ampliar a militarização das GCM faz com que seja possível que
suas atuações se assemelhem, em vários momentos, às atuações da Polícia Militar
e, com isso, perde-se a chance de formação de um policiamento civil de
aproximação. Em São Paulo, a ação de remoção da Cracolândia, duramente
repreendida por parte da opinião pública pela sua truculência, foi realizada pelas
Guardas Municipais.
88
Crescimento das vagas informais no RJ foi três vezes maior do que a média nacional, indica
Fecomércio. G1, 10 fev. 2020. Disponível em: <https://glo.bo/3xpaD4l>.
89
Cf. Dossiê dos Camelôs do Rio de Janeiro. Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de
Janeiro. Disponível em: <https://bit.ly/2QsjbHc>.
90
Ibidem.
103
94
Cf. FREIXO, M. CPI das Armas, 2011. Disponível em: <https://bit.ly/3sSrCbF>. Acesso em: mar.
2021.
95
Cf. Relatório Final: CPI das armas, 2011. Disponível em: <https://bit.ly/3aFkngY>. Acesso em: mar.
2021.
96
Ibidem.
105
106
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciei o trabalho expondo os aspectos históricos da violência urbana no Rio
de Janeiro e as implicações sociais desse contexto, desenvolvendo elemento como
a produção do medo, a estigmatização da favela e a aposta no discurso pacificador
como solução. Avançando um pouco mais, procurei refletir sobre os
desdobramentos da adoção da metáfora da guerra sob a ótica território do Rio de
Janeiro, trazendo importantes exemplos da nossa experimentação do Novo
urbanismo militar (Graham 2016), por fim, a urbanização miliciana foi apresentada
como consequência do fenômeno da militarização do espaço. Busquei abordar na
minha reflexão três aspectos: Segurança Púbica, economia e Política.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
LEAL, A. B.; PEREIRA, I. S.; MUNTEAL FILHO, O. Sonho de uma polícia cidadã:
Coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira. Rio de Janeiro: NIBRAHC, 2010.
LEITE, M. Violência, crime e polícia: o que os favelados dizem quando falam desses
temas? In: MACHADO DA SILVA, L. A. (org.). Vida sob cerco: violência e rotina nas
favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 47-76, 2008.
SHARP, D. Urbicide and the arrangement of violence in Syria. In: SHARP, D.;
PANETTA, C. (ed.). Beyond the square: Urbanism and the Arab Uprisings. Nova
York: Urban Research, p. 118-140, 2016.
SHAW, M. New wars of the city: relationships of ‘urbicide’ and ‘genocide’. In:
GRAHAM, S. (ed.). Cities, war, and terrorism: towards an urban geopolitics.
Oxford, UK: Blackwell, 2004.