Resumo: No artigo científico "Racismo e sexismo na cultura brasileira", Lélia Gonzalez
examina o discurso do mito da democracia racial, tendo como ponto de partida, a
mulher negra e como ela é localizada e apontada no discurso sob a articulação violenta dos fenômenos de racismo e sexismo que repercute nas noções de mulata, doméstica e mãe preta. Gonzalez afirma que o lugar do indivíduo determinará a sua interpretação sobre os fenômenos e, partindo do seu lugar como mulher negra, Lélia apresenta o racismo como uma sintomática que caracteriza a neurose cultural brasileira, com suporte epistemológico fornecido por Freud e Lacan, a partir da qual ela compreende que a língua significa para além da lógica. Lélia Gonzalez, através da psicanálise, questiona por que a lógica da dominação busca domesticar o negro. A autora também ressalta o fato de os negros não terem voz e sempre serem infantilizados e falados na terceira pessoa, e, é então, que Lélia fala e ecoa essa voz. Gonzalez também evidencia as noções de consciência e memória para utilizá-las como suporte analítico: a consciência é a zona do saber dado pelo desconhecimento, já a memória é a zona do não-saber que conhece. Por fim, Lélia Gonzalez tenta compreender essa dialética que é caracterizada por esse diálogo entre a consciência e a memória e que para as pessoas negras coincide com a consciência procurando esquecer a memória/história negra na mesma medida em que essa memória volta e fala. Na segunda parte do texto, Gonzalez afirma que o rito carnavalesco atualiza e reencena o mito da democracia racial, ocultando a culpabilidade branca por meio do endeusamento da mulata, ao mesmo tempo em que acontece, no cotidiano, a transfiguração da mulher negra na doméstica; a nomeação como mulata ou doméstica vai depender da situação em que a mulher negra é vista. A autora constata a neutralização do sentido de mucama no Dicionário Aurélio em que o verbete não deixa constar o verdadeiro significado da palavra (amásia escrava), colocando-a entre parênteses. Gonzalez afirma que a formação da mulata e da doméstica se fazem pela figura da mucama. Lélia Gonzalez destaca a evidente divisão racial existente nos espaços e demostra como a empregada doméstica cutuca a culpabilidade branca, pois continua sendo mucama desempenhando funções que não lidam com o público e não tem a ver com aparência. A socióloga cita Caio prado Júnior que diz que o amor de senzala não realizou o milagre do amor humano e crítica-o dizendo que o amor de senzala só realizou o milagre da neurose cultural brasileira. Gonzalez destaca a figura da mãe preta como a que dá uma rasteira na raça dominante e a partir da função materna, os valores que lhe dizem respeito são passados e intenalizados para as crianças brasileiras. Na terceira e última parte do texto, Lélia Gonzalez afirma que a cultura brasileira é africanizada e tem um pai, significante negro (s1). Gonzalez exemplifica usando Macunaíma para explicar a ideologia do branqueamento que visa a internalização e a reprodução de valores ocidentais. Por fim, A socióloga relata que o discurso dominante, quer fazer todos acreditarem que são descendentes europeus e nesse discurso consciência se manifesta.