Português – Ensino Profissional

Ficha de avaliação escrita

Ensino Profissional

5 Módulo 4 – Padre António Vieira | Almeida Garrett

10
Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.
Não é permitida a consulta de dicionário.
Não é permitido o uso de corretor. Risca aquilo que pretendes que não seja
classificado.
15 Para cada resposta, identifica o grupo e o item.
Apresenta as tuas respostas de forma legível.
Ao responder, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.
Apresenta apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.
20

25

30

35

Página 1 | 8
 Português – Ensino Profissional

Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

40

PARTE A

45 Lê atentamente o excerto apresentado da obra Sermão de Santo António, de

Padre António Vieira. Se necessário, consulta as notas.

Antes porém que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi
50 também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja
de emenda. A primeira coisa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis
uns aos outros. Grande escândalo é este; mas a circunstância o faz ainda maior.
Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se
fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara
55 um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não
bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo
Agostinho: Homines pravis, præversisque cupiditatibus facti sunt veluti pisces
invicem se devorantes: “Os homens com suas más e perversas cobiças vêm a ser
como os peixes, que se comem uns aos outros.” Tão alheia coisa é, não só da
60 razão, mas da natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos
cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer. Santo
Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo,
mostrou-lho nos peixes; e eu que prego aos peixes, para que vejais quão feio e
abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra.
65 Não, não; não é isso que vos digo. Vós virais os olhos para os matos, e para o
Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar. Cuidas que só os
Tapuias se comem uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito mais se
comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes
aquele concorrer às praças, e cruzar as ruas; vedes aquele subir, e descer as
70 calçadas, vedes aquele entrar, e sair sem quietação, nem sossego? Pois tudo aquilo
é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer.
Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo, e
comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os
legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos, e os dos
75 defuntos e ausentes; come-o o Médico, que o curou, ou o ajudou a morrer, come-o o
sangrador, que lhe tirou o sangue, come-o a mesma mulher, que de má vontade lhe
dá para a mortalha o lençol mais velho da casa, come-o o que lhe abre a cova, o
que lhe tange os sinos, e os que cantando o levam a enterrar: enfim, ainda ao pobre
defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.
80
VIEIRA, Padre António, 2014. “Sermão de Santo António”. In Obra Completa (Direção de José Eduardo
Franco e Pedro Calafate). Tomo II. Volume X (Sermões Hagiográficos I). Lisboa: Círculo de Leitores

Página 2 | 8
 Português – Ensino Profissional

85 GLOSSÁRIO:
desedifica – escandaliza; encarecer – aumentar; Tapuias – tribo indígena do interior do Brasil que
comia os seus mortos em rituais funerários; bulir – mexer, trabalhar (na linguagem coloquial); legatários
– aqueles a quem são deixados os bens em testamento; acredores – credores; oficiais dos órfãos -
magistrados nomeados em cada vila para zelar pelos interesses dos menores de 25 anos que perdiam
90 os pais; [oficiais] dos defuntos e ausentes - os provedores de defuntos e ausentes tutelavam os
interesses daqueles que morriam nas aventuras ultramarinas ou estavam em cativeiro; sangrador -
especialista que retirava ao paciente uma grande quantidade de sangue, considerando-se, na época,
que essa prática terapêutica diminuía a infeção

95
1. O excerto apresentado inicia-se com uma alegoria, que compara o
comportamento apresentado pelos peixes – comerem-se uns aos outros – ao
dos homens.

100 1.1. Interpreta o sentido do segmento: “Cuidais que só os Tapuias se comem

uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os
homens.”

2. “Olha como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, præversisque

105 cupiditatibus facti sunt veluti pisces invicem se devorantes.”

Explica a referência a Santo Agostinho, no contexto em que esta ocorre.

3. No segundo parágrafo do excerto, o verbo “comer” aparece com

110 frequência, apresentando um valor polissémico.

3.1 Aponta os seus possíveis significados, dada a argumentação

apresentada.

115 3.2 A repetição da forma verbal “comem-no” constitui-se como um recurso

expressivo. Identifica-o e comenta o seu valor.

120

125

Página 3 | 8
 Português – Ensino Profissional

PARTE B

130 Lê o texto apresentado. Se necessário, consulta as notas.

MADALENA

135 (repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler).

Naquele engano d’alma ledo e cego,

que a fortuna não deixa durar muito...

140 – Com paz e alegria d’alma... um engano, um engano de poucos instantes

que seja... deve de ser a felicidade suprema neste mundo. E que importa que
o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu!...
(Pausa). Oh! Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em
que eu vivo... este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não
145 deixaram gozar um só momento de toda a felicidade que me dava o seu
amor. Oh! que amor, que felicidade... que desgraça a minha! (Torna a
descair em profunda meditação; silêncio breve).

GARRETT, Almeida, 2014. Frei Luís de Sousa. Porto: Porto Editora (pp. 4-7) (1.ª ed.:1844)
150
GLOSSÁRIO:
fortuna - sorte, destino.

1. Identifica a importância do uso do conector na expressão “Mas eu!...”, para

155 a compreensão da situação que D. Madalena vive.

2. Explicita de que forma os versos retirados de Os Lusíadas podem ser

entendidos como um indício trágico.

160 3. Com base no estudo que fizeste da obra Frei Luís de Sousa, explica em
que consistem os medos e os “contínuos terrores” de D. Madalena.

165 PARTE C

1. Lê o excerto seguinte, retirado de uma fala de D. Madalena em Frei Luís

de Sousa (Ato I, Cena VIII).
170
“Madalena – Pois sairemos, sim; eu nunca me opus ao teu querer, nunca
soube que coisa era ter outra vontade diferente da tua; estou pronta a
obedecer-te sempre, cegamente, em tudo.”

175 Escreve uma pequena exposição, na qual comproves que o retrato de D.

Madalena apresentado na obra está em concordância com o modelo da
época.

Página 4 | 8
 Português – Ensino Profissional

Grupo II
180
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
185

Lê o seguinte artigo.

O que se espera de uma mãe em Portugal é “bastante

penalizador” para as mulheres
190

Uma mulher que decide ser mãe torna- 235

se naturalmente abnegada, disponível, Mãe de dois filhos, propôs-se, na sua
capaz, omnipresente. Certo? Errado: investigação de doutoramento,
195 muitas mulheres sentem-se “desconstruir” alguns dos mitos com
desenquadradas, exaustas e sozinhas que se confrontou enquanto mãe. Para
com o que a maternidade lhes tira. Um 240 isso, ao longo de 2015, acompanhou e
estudo feito a partir dos desabafos de analisou 184 páginas de Facebook
mulheres portuguesas na Internet criadas e geridas por mães portuguesas
200 desoculta este “lado b” da maternidade. – algumas abertas e outras fechadas.
Os resultados parciais desta
As mulheres portuguesas trabalham 245 investigação foram publicados este ano
fora de casa. E fazem-no até em na revista portuguesa Análise
percentagens mais elevadas do que na Psicológica mas também na Frontiers in
205 generalidade dos países europeus. Psychology, uma das maiores
Mas, ainda assim, o que se espera publicações de trabalhos académicos
delas enquanto mães é que sejam 250 na área de psicologia.
perfeitas, disponibilíssimas, capazes de
gerir uma birra sem se exasperarem, Neste último, intitulado “Sofrer no
210 omnipresentes, imprescindíveis. E este Paraíso”, a investigadora abre as portas
modelo de maternidade “intensivo” aos grupos fechados onde vão cair os
revela-se de tal forma opressor que 255 estilhaços gerados por uma sociedade
muitas se escondem em grupos que, como a portuguesa, promove o
fechados na Internet para desabafar a referido modelo de maternidade
215 sua desconformidade com esse papel. intensivo, no qual a mãe é naturalmente
“Encontrei sites secretos, onde para abnegada, imbuída de amor maternal,
entrar é quase preciso preencher um 260 incentivada a assumir diretamente os
requerimento, em que mulheres cuidados com a criança, dedicando-lhe
portuguesas verbalizam coisas como todo o seu tempo, energia e afeto. Ali
220 “ninguém me avisou que o meu corpo ia se conjugam substantivos como
ficar tão diferente, que não ia ficar solidão, tristeza, angústia, sofrimento e,
apaixonada quando olhasse para o meu 265 sim, ressentimento, face a dificuldades
filho...”, desvenda a investigadora Filipa como a febre, a recusa de comer, em
César. dormir, o primeiro dia de escola. [...]
225
“Apesar daquela frase que diz ‘It takes Para Filipa César, muita da
a village to raise a child’ [É preciso uma 270 sintomatologia atribuída à depressão
aldeia para criar uma criança], o que a pós-parto decorre da pressão social que
nossa sociedade faz é responsabilizar recai sobre estas mulheres, sobretudo
230 as mães pelo bem-estar da criança. O porque (descontando o crescente corpo
que pode ser muito cruel”, acrescenta a de profissionais dedicados à infância,
doutoranda da Faculdade de Psicologia 275 de pediatras e educadores e
e Ciências da Educação da psicólogos) aquelas continuam a ser
Universidade do Porto. tidas como as principais responsáveis

5 Página 5 | 8
 Português – Ensino Profissional

pela criança. “Mesmo na psicologia, as 295 penalizador da esfera profissional e da

teorias da vinculação estão sempre
280 muito ligadas à mãe e o pai tem um
papel bastante secundário. Só agora, e
mais no Norte da Europa, é que os pais
surgem com outro tipo de
envolvimento”, especifica.
285
Resulta deste modelo “intensivo” de
maternidade, associado a uma visão
tradicional do papel da mulher, que “as
mulheres acabam por se esvanecer por
290 detrás do seu papel de mãe e os
restantes papéis que ela desempenha
perdem legitimidade até para elas
próprias”, acrescenta Filipa César”, para
quem este modelo é bastante
315
sua identidade enquanto mulheres”.
A investigadora [...] defende a transição
na sociedade portuguesa para um
300 modelo de maternidade “extensivo”, isto
é, que admita que as mulheres, além de
mães, devem e podem ser chamadas a
exercer outros papéis que não lhes
negam realização profissional e social.
305 É um modelo “mais igualitário já que
considera que a mãe não tem que ser a
única cuidadora da criança” e o que se
apresenta “como mais conciliável com a
vida profissional das mães
310 portuguesas”, conclui o estudo.
FARIA, Natália, 2018. “O que se espera de uma mãe
em Portugal é “bastante penalizador” para as
mulheres”. Público, 18 de novembro de 2018

320 1. O texto apresentado é

(A) um artigo de divulgação científica.
(B) um texto de opinião.
(C) uma apreciação crítica.
(D) uma exposição sobre um tema.
325
2. De acordo com o segundo parágrafo do texto, o “modelo de maternidade
‘intensivo’” pressupõe que
(A) as mães conjuguem de forma igualitária os papéis pessoais e
profissionais.
330 (B) as mães assumam sozinhas o papel de criar os filhos de forma perfeita.
(C) as mães abdiquem de aspetos profissionais na sua vida em prol dos
filhos.
(D) as mães não se apaixonem pelos filhos logo à nascença.

335 3. Na expressão, e título de um trabalho académico na área da psicologia,

“Sofrer no Paraíso” (l. 55), a palavra sublinhada refere-se
(A) ao emprego.
(B) à vida doméstica.
(C) à maternidade.
340 (D) à depressão pós-parto.

4. No segmento “Ali se conjugam substantivos como solidão, tristeza,

angústia, sofrimento e, sim, ressentimento [...]”, a expressão sublinhada
concretiza
345 (A) um deítico temporal.
(B) um deítico espacial.
(C) um deítico espacial e pessoal.
(D) um deítico pessoal.

350 5. A oração subordinada iniciada por “para” (ll. 23) classifica-se como

Página 6 | 8
 Português – Ensino Profissional

(A) substantiva relativa.

(B) adjetiva relativa explicativa.
(C) substantiva completiva.
(D) adverbial final.
355
6. Refere a função sintática desempenhada pela expressão “naturalmente
abnegada, disponível, capaz, omnipresente.” (ll. 2-3)

7. Identifica o processo de formação da palavra “omnipresentes” (l.17).

360

GRUPO III

365
O papel da mulher foi mudando ao longo dos tempos. Se no passado esta
estava circunscrita às quatro paredes de uma casa e como única função tinha
a de cuidar do marido e dos filhos, atualmente o seu papel alarga-se a outras
esferas da vida profissional e pessoal.
370

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas palavras

e um máximo de trezentas e cinquenta, explicita a tua perspetiva sobre esta
problemática.
375
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única
380 palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2019/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –,
há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
385

390

Cotações
Grupo Item
Cotação (em pontos)
1. 2. 3.1. 3.2. 4. 5. 6.
I 16 16 8 16 16 16 16 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 8 8 8 8 8 8 8 56

Página 7 | 8
Português – Ensino Profissional

III Item único 40

TOTAL 200

Página 8 | 8