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O que tem por trás desta prática tão usada no mundo hoje?
O mundo árabe tem utilizado cada vez mais desta modalidade para limpar sua
imagem perante o mundo e, principalmente, as superpotências endinheiradas. Mas será
que ele é o único por trás dessa prática?
Este feito, de grande valor esportivo para o clube, ocorre 19 meses depois do dia em
que foi anunciada a venda da equipe para um grupo liderado pelo Fundo de Investimento
Público (PIF) da Árabia Saudita, que corresponde ao governo saudita. Os valores da
negociação não foram divulgados, mas segundo a imprensa britânica, a operação girou em
torno de R$2,2 bilhões e colocou o Newcastle na prateleira dos clubes mais ricos do mundo.
Após o anúncio oficial, centenas de torcedores se reuniram em frente ao St. James’ Park
para comemorar a nova fase do clube.
Esta prática de mascarar as coisas está sendo muito vista em países do mundo
árabe, em que seus mandatários investem em clubes de futebol ou megaeventos como a
Copa do Mundo e Fórmula 1 construindo uma imagem positiva ao país e até mesmo
tentando criar uma espécie de ligação e empatia com o resto do mundo.
Um dos principais países a fazer isso atualmente é a Arábia Saudita que com a
riqueza acumulada com a comercialização do petróleo, gás natural e posição geográfica
comprou um clube de futebol na Inglaterra e trouxe o maior esporte automobilístico para seu
território, assim, atraindo o olhar do mundo ocidental com sua forma luxuosa de divulgar o
projeto de poder deles, utilizando seu grande poder aquisitivo para chamar a atenção do
público dos esportes.
Por outro ponto os Estados do ocidente como a Inglaterra criticam países como a
Arábia por conta dessa maquiagem feita em cima de todos os problemas envolvendo
direitos humanos, assassinatos e corrupção. O grande problema disso é que os ingleses
possuem a intenção somente de mostrar a outros países que eles têm um posicionamento
sobre esse tema a população mundial, mas por debaixo dos panos recebem uma grande
quantia de dinheiro da Arábia Saudita com o grande investimento feito nos clubes ingleses,
principalmente o Newcastle adquirido há pouco tempo pelos sauditas.
O Governo saudita possui a ideia do Saudi Vision 2030, uma estratégia usada para
o país depender cada vez menos do comércio de petróleo, se desenvolver e diversificar sua
economia, aprimorando os serviços públicos como saúde, educação, infraestrutura,
recreação e turismo. Consiste também no aumento dos gastos nas forças armadas e
fabricação de armas e munições para outros países, além de ser um grande hub para ligar
os 3 continentes (Ásia, África e Europa) por estarem bem no meio do mundo árabe e terem
essa vantagem territorial.
Mas para que esse plano ocorra com sucesso, é preciso que o mundo enxergue o
país árabe como um exemplo e apoie positivamente os investimentos e as compras feitas
no local, o que nem sempre ocorre.
Dinheiro de sangue
Andrew lamenta ter visto o Newcastle, seu time do coração, ser comprado por
Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita e líder de uma ditadura
sanguinária que oprime opositores e minorias. Com a criação do projeto, ele e seus
associados fazem forte campanha contra os novos donos do clube e afirma nunca ter
estado dividido em relação à venda, além de ter ficado desiludido ao perceber que o
sentimento na cidade era de alegria enquanto ele se sentia triste, principalmente por ouvir
falarem que era a única saída do clube inglês.
Mas apesar do esforço, a tentativa de combater esse governo nunca foi fácil e se
dificultou ainda mais após a criação dos chamados “Trolls Eletronicos”. Os torcedores
participantes do projeto contra o Sportswashing passaram a receber ameaças online de
bots ligados ao governo saudita Especialistas em mídia digital dizem que o abuso é típico
de contas de mídia social ligadas a um exército de trolls profissionais empregados pelo
Estado no Etidal Global Center to Combat Extremist Ideology, em Riad.
Ainda em 2016, o governo saudita anunciou o plano “Visão 2030”, que tem o
objetivo de mudar a imagem de um país fechado e religioso, para de um país mais aberto e
globalista. Por conta disso, o país passou a investir na produção de grandes eventos
esportivos e de entretenimento, mas para Taha Alhajji se trata apenas da utilização dos
esportes como um soft power, na busca de uma maior projeção internacional “O governo
tem usado figuras públicas, jogadores de futebol e eventos esportivos, como o golfe e a
Fórmula 1 para encobrir essas infrações”.
379M
142M
165M
111M
48M
Outras situações semelhantes a esta podem ser observadas pela visita de Lionel
Messi, jogador de futebol argentino, à Arábia Saudita em maio deste ano, como embaixador
de turismo, e também na compra, já comentada, do Newcastle United por um fundo de
investimentos do país com o príncipe Mohammed bin Salman como um dos donos.
Uma matéria publicada pelo The Athletics em abril deste ano, apresenta registros de
conversas privadas entre Boris Johnson, ex-Primeiro Ministro do Reino Unido, e
Mohammed bin Salman, que o alertou sobre as graves consequências econômicas para a
Grã-Bretanha se a Premier League resistisse à aquisição. Então, apesar do
presidente-executivo da Premier League, Richard Masters, ter afirmado para a BBC que
“não houve pressão aplicada” pelo governo durante o processo de venda do clube e
pensando na ideia de que a maior parte do petróleo do Reino Unido vem da Arábia Saudita,
o quanto essa conversa pode ter influenciado a decisão final?
“Na verdade, não há qualquer elemento ético. Basicamente, o que o governo diz que
está bem, nós dizemos que está bem e, na minha opinião, não existe nenhuma dimensão
ética na política externa do Reino Unido. E se olharmos para a forma como este acordo foi
concluído.” Essa frase, dita por Andrew Page, traz uma reflexão interessante. Afinal, fala-se
muito da problemática da Arábia Saudita comprar esses clubes e entrar cada vez mais forte
no ramo do esporte. Mas afinal, qual o papel da Inglaterra no meio disso tudo?
E essa ideia de soft power é exatamente o que a Arábia Saudita idealiza para os
próximos anos, assim como comenta Chadwick. “No futuro, as pessoas poderão falar
primeiro da Saudi Pro League e da grandeza do futebol na Arábia Saudita. Falarão de
futebol, de corridas de automóveis da Fórmula 1, e não das execuções e das prisões da
Arábia Saudita.”
Por fim, o professor diz que não se pode considerar um país bom ou mal, ao ser um
país com um sistema político diferente e haver um conjunto diferente de valores. Não é um
mundo imaginário, então, não existe um vilão e um mocinho na história e por isso diz, “O
real é muito mais perigoso”, já que não há um lado que esteja com a ficha limpa. Mas,
apesar disso, afirma que esse aumento de poder nos países do Oriente Médio traz um
grande desafio, por ser uma grande ameaça aos sistemas de governação já estabelecidos.