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GUILHERME BARROCA CRUZ

CLUBE-EMPRESA: ANÁLISE COMPARATIVA DO PROJETO DE LEI Nº


5.082/16.

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Faculdade de Direito do
Centro Universitário Ritter dos Reis, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientador: Ms. Juliano Souto Moreira


Madalena.

PORTO ALEGRE

2020
GUILHERME BARROCA CRUZ

CLUBE-EMPRESA: ANÁLISE COMPARATIVA DO PROJETO DE LEI Nº 5.082/16

Trabalho de conclusão defendido e aprovado como requisito parcial a obtenção do


título de Bacharel em Direito pela Banca examinadora constituída por

__________________________________________

Nome do Professor

__________________________________________

Nome do Professor

PORTO ALEGRE

2020
Dedico este trabalho XXXXX
“Deixei de jogar futebol porque já tinha feito tudo
aquilo que podia. Precisava de algo que me
entusiasmasse tanto como o futebol havia feito”.

(Éric Cantona)
RESUMO

Com a chegada do futebol no país, os clubes, devido ao caráter lúdico inicial, se


organizaram como associações sem fins lucrativos. O que anteriormente era somente
utilizado para divertimento das pessoas, e inclusive era pago pelas mesmas, pois só
praticavam o esporte as pessoas que eram associadas ao clube, passou a se tornar
cada vez mais competitivo, chegando a superar o simples entretenimento dos
praticantes para se tornar algo muito maior. Desde a formação do atleta até a
constante pressão por títulos, o profissionalismo da atividade do jogador de futebol
passa a ser necessária, com a entrada de dinheiro a relação se torna ainda mais
complicada. Todavia, o profissionalismo aplicado na relação com atleta não pode ser
visto quando se fala em clube. Com o avanço dos anos, o problema começou a ficar
mais latente, as gestões, não contando com profissionais capacitados, mas sim com
pessoas provenientes da politica clubística, passaram a lidar com a complexidade
administrativa. Entrada de cifras extremamente altas, relacionadas as transmissões
ao vivo, patrocínios e marketing esportivo, que se incorporaram ao futebol, dando
cada vez mais características de negócio ao jogo. Sem saber administrar os grandes
vultos aportados, as administrações amadoras colocaram os clubes brasileiros em
dívidas, criando uma disparidade sem precedentes em relação ao futebol europeu.
Diante disso, foram tentadas alterações legislativas visando a incorporação de uma
lógica empresarial dentro do esporte, como na Lei Zico e Lei Pelé, todavia frustradas
em virtude da pressão exercida pelos próprios agentes políticos dos clubes de futebol.
Com uma mudança gradual, sem implementar impositivamente um novo modelo para
os clubes, o Profut surgiu como meio para a quitação das dívidas dos clubes, através
de um refinanciamento, impondo certas atualizações nas estruturas administrativas
das entidades para a aderência do mesmo. A partir do Projeto de Lei 5.082/16, se
prospecta a criação de um modelo societário nas equipes, visando a adoção de
procedimentos para a modernização do futebol, com o objetivo de profissionalizar e
facilitar a entrada de capital nos clubes.

Palavras-Chave: Clube Empresa, Direito Desportivo, Direito Empresarial,


Associações.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 06
2 A REGULAMENTAÇÃO DOS CLUBES DE FUTEBOL NO BRASIL........... 07
2.1 NATUREZA JURÍDICA DOS CLUBES ASSOCIATIVOS............................ 08
2.2 CASO BOSSMAN E O FIM DO PASSE...................................................... 12
2.3 ANÁLISE ECONÔMICA DOS CLUBES BRASILEIROS............................. 16
3 MODELOS INTERNACIONAIS ..................................................................... 21
3.1 COLÔMBIA.................................................................................................. 21
3.2 INGLATERRA.............................................................................................. 24
3.3 PORTUGAL................................................................................................. 27
4 MODELO PROPOSTO PELA PROJETO DE LEI 5.082/16.......................... 31
4.1 NATUREZA JURÍDICA DA EMPRESA....................................................... 28
4.2 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS PREVISTAS NO MODELO...................... 29
4.3 CLUBE EMPRESA ..................................................................................... 29
5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 30
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 31
9

1 INTRODUÇÃO

O futebol chegou ao Brasil no ano de 1894, quando Charles Miller, brasileiro


que foi à Inglaterra para estudos, voltou com uma bola e um livro de regra nas mãos.
Partindo de associações ligadas somente da prática recreativa do esporte, no século
XIX, até a atualidade, bem como a sociedade, o futebol passou por diversas
transformações. Em tal período, o modelo associativo surgiu como melhor opção para
as necessidades momentâneas, não trazendo o lucro e dinheiro como elementos
fundamentais. Diante do profissionalismo dos jogadores, o clube passou a pagar
salários, mas na diretoria as relações permaneciam meramente amadoras, com
diretores voluntários sem dedicação completa a associação.
Atraindo cada vez mais holofotes, o dinheiro começa a entrar com mais força
no mundo do futebol. Com a exposição crescente naquele período, foi percebida uma
lacuna relacionada com a exposição de marcas juntos aos clubes. Assim, por volta
dos anos de 1970 e 1980, os clubes passam a estampar em suas camisas a marca
de patrocinadores, passando a ser assim, a maior fonte de receita das equipes.
Passado mais de cem anos, percebe-se que poucas coisas mudaram no
sistema de organização dos clubes de futebol brasileiros. Baseados no modelo
associativo, com poucas exceções, as equipes profissionalizaram todos os aspectos
ao seu redor, como jogadores, preparadores, técnicos e médicos, salvo a sua própria
gestão. Assim, grande parte dos cargos são preenchidos por indicações políticas.
Atualmente, é perceptível a diferença entre os brasileiros e europeus,
principalmente, diante do escalonamento de dívidas dos primeiros. Houve a tentativa
de acabar com tal problema, com iniciativas como o PROFUT, se preocupando com
o parcelamento de dívidas, e também colocando algumas imposições administrativas
a serem seguidas para a aderência do mesmo.
Com a globalização, passou a se perceber que na Europa, os clubes passaram
por modificações, deixando de lado o modelo associativo para dar lugar ao modelo de
capital aberto, ampliando a possibilidade de geração e ampliação de receitas.
Todavia, pouca atenção foi dada para tais inovações no território nacional. Apesar da
tentativa de implantação da forma societária, na Lei Zico, a resistência dos dirigentes
fez com que as inovações fossem ignoradas e barradas na posterior Lei Pelé.
10

Se tratando de futebol, considerada popularmente a paixão nacional, percebe-


se a atual situação financeira de grande parte dos clubes brasileiros. Dessa maneira,
o presente trabalho busca, através da metodologia hipotética dedutiva, levantar os
pontos que trouxeram até o atual momento e posteriormente realizar uma análise
comparativa entre os modelos existentes em países como Colômbia, Inglaterra e
Portugal, em relação ao apresentado pelo Projeto de Lei nº 5.082/16, como a proposta
de transição do clube associativo para o clube empresa.
11

2. A REGULAMENTAÇÃO DOS CLUBES DE FUTEBOL

O futebol chegou ao Brasil no ano de 1894, quando Charles Miller, brasileiro


que foi à Inglaterra para estudos, voltou com uma bola e um livro de regra nas mãos
(Mills, 2005, p. 438)1. Sendo profissionalizado somente por volta da década de XXX,
o futebol era já era extremamente difundido dentro do cenário nacional, com diversas
equipes amadoras e campeonatos espalhados por todo o país. Assim, passou a
figurar como importante meio de socialização e lazer por parte do povo, conforme
destaca Helal:

“O esporte é um fenômeno social que permeia a vida diária do homem


moderno. Dentre os esportes, o futebol é o mais popular do mundo […]. O
futebol no Brasil pode ser visto como um poderoso instrumento de integração
social. Através do futebol, a sociedade brasileira experimenta um sentido
singular de totalidade e unidade, revestindo-se de uma universalidade capaz
de mobilizar e gerar paixões em milhões de pessoas. É nesse universo que
observamos, com freqüência, indivíduos cuja diversidade está estabelecida
pelas normas econômicas e sociais da sociedade se transformarem em
“iguais” através de um sistema de comunicação que os leva a abraços e
conversas informais nos estádios, ruas, praias e escritórios” (HELAL, 1997,
p. 25)2.

Ao passar dos anos, com a difusão do esporte pelo país, o futebol naturalmente
passou a se profissionalizar. Com isso, o Estado passou a perceber a necessidade de
atenção, consequente do Poder Judiciário, principalmente o ramo trabalhista, dado
fato de pessoas passaram a tratar laborar pelo esporte3. Além da necessidade de
normatização, o futebol foi notado pelos governantes como grande arma de
entretenimento e propaganda para os seus regimes políticos. O primeiro a perceber
isso foi Getúlio Vargas, primeiro governante a normatizar, não só o futebol, mas
também o esporte.

Em face do exposto, se faz necessária a apresentação da evolução da


legislação Brasileira em relação ao futebol.

1 BRASIL. Decreto-lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941. Disponível em:


<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-3199-14-abril-1941-413238-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 26/03/2020.
2 HELAL, Ronaldo. Passes e impasses: futebol e cultura de massa no Brasil. Petrópolis-RJ: Vozes,

1997.
3 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo:

LTr, 1998.
12

2.1 NATUREZA JURÍDICA DOS CLUBES ASSOCIATIVOS

Passado mais de cem anos desde a sua chegada ao Brasil, poucas coisas
mudaram no sistema de organização dos clubes de futebol brasileiros. Baseados no
modelo associativo, com poucas exceções, as equipes profissionalizaram todos os
aspectos ao seu redor, como jogadores, preparadores, técnicos e médicos, salvo a
sua própria gestão. Assim, grande parte dos cargos são preenchidos por indicações
políticas.
As associações são instituições caracterizadas pelo Código Civil em seu artigo
53: “Constituem-se as associações pela União de pessoas que se organizem para fins
não econômicos”4. Assim, constituíram-se os clubes no seu amadorismo, unindo um
grupo de pessoas com o fim de subsidiar as necessidades advindas de materiais
esportivos, deslocamento, sua própria participação nas partidas e até mesmo a
construção de uma sede social, como local para sediar os eventos.
Assim define Carlos Roberto Gonçalves, a relação entre os membros da
associação:

Não há, entre os membros da associação, direitos e obrigações recíprocos,


nem intenção de dividir resultados, sendo os objetivos altruísticos, científicos,
artísticos, beneficentes, religiosos, educativos, culturais, políticos, esportivos
ou recreativos (Gonçalves, 2018, p. 242) 5.

Não se tem um marco normativo, ou equivalente, que tenha tornado o futebol


algo profissional no Brasil, mas relatos afirmam que, já no início do século XX,
jogadores dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro já recebiam incentivos
financeiros6. A partir do fomento e necessidade de organização, o futebol passou a
ser regulado pela Federação Brasileira de Sports (FBS), em 8 de julho de 1914,
posteriormente, em 05 de dezembro de 1916, se tornou Confederação Brasileira de
Desportos (CBD), e, por último, em 24 de setembro de 1979, Confederação Brasileira
de Futebol (CBF), como permanece até hoje7.

4 BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20/11/2019.
5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: 1 - Parte Geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva

Educação, 2018.
6 CALDAS, W. O pontapé inicial: memória do futebol brasileiro. São Paulo: Editora Ibrasa, 1989.

Ebook..
7 SARMENTO, Carlos Eduardo. A regra do jogo: uma história institucional da CBF/Coordenação

Adelina Maria Novaes Cruz, Carlos Eduardo Sarmento e Juliana Lage Rodrigues; Texto Carlos
13

A regulamentação Estatal quanto ao esporte se deu primeiramente pelo


Decreto-lei nº 3.199, de 1941. A mencionada lei, em seu artigo primeiro institui a
criação do “Conselho Nacional de Desportos”, entre outros aspectos estudar e
promover medidas que tenham por objetivo assegurar uma conveniente e constante
disciplina à organização e à administração das associações e demais entidades
desportivas do país, bem como tornar os desportos, cada vez mais, um eficiente
processo de educação física e espiritual da juventude e uma alta expressão da cultura
e da energia nacionais8.
Apesar de trazer certa inovação para época, como em seu artigo 54 tutelar
quanto a prática esportiva feminina, sob o pensamento da época, o Decreto foi
utilizado como ferramenta estatal para institucionalizar o controle do deporto no país,
conforme mostra Melo Filho:

A propósito, é irrecusável que este Decreto-Lei n.º 3199/41 nasceu


objetivando o controle, pelo Estado, das atividades desportivas, menos talvez
com o intuito de promovê-las e dar-lhes condições de progresso, que pela
necessidade política de vigiar as associações desportivas de molde a impedir
e inibir as atividades contrárias à segurança, tanto do ponto de vista interno,
como externo. [...] Também cuidou dos mais variados aspectos, traçando o
plano de sua estruturação, regulamentando as competições desportivas,
adotando medidas de proteção, consagrando o princípio de que as
associações desportivas exerciam atividades de caráter cívico, dispondo
sobre a adoção das regras internacionais, proibindo o emprego de capitais
no objetivo de auferimento de lucros, impondo a obrigatoriedade da atenção
dos desportos amadores às associações que mantivessem o
profissionalismo, de modo a evitar o efeito desportivo predatório. (Melo Filho,
2001, p. 158-159) 9

A primeira legislação especifica acerca da prática do futebol se deu pelo


Decreto-Lei nº 51.008, de 20 de julho de 1961, que normatizou a profissão de atleta
de futebol e sua participação em competições10. Visou a proteção do atleta como
trabalhador, instituindo a Lei do passe e direitos básicos, como férias, intervalo de
sessenta horas entre partidas, seguro e contrato de trabalho, mas principalmente o
direito a receber o valor de 15% da sua transferência para outro clube e o direito de

Eduardo Sarmento. Rio de Janeiro: CPDOC, 2006. F. 176. Disponível em: <
http://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/1669.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2020.
8 BRASIL. Decreto-lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941. Disponível em:

<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-3199-14-abril-1941-413238-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 26/03/2020.
9 MELO FILHO, Álvaro. Novo Regime Jurídico do Deporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações.

Brasília: Brasília Jurídica, 2001.


10 Decreto-Lei nº 51.008, de 20 de julho de 1961.
14

ser previamente consultado pelo clube que está vinculado antes de qualquer
transação11.
Após constituinte de 1967, com sua alteração mediante a Emenda
Constitucional nº 01 de 17 de outubro de 1969, em seu art. 8, inciso XVII, alínea q, foi
determinada que a União era competente para legislar de normas gerais acerca do
desporto, não se utilizando mais de Decretos-Leis para normatizar o tema, mas sim
de Lei. Posteriormente, criada em meio ao regime militar, mais especificamente no
governo sob a presidência de Ernesto Geisel, visando a adequação das relações
trabalhistas entre clubes e atletas, como prazo de contrato, mas principalmente a
legislação acerca de transferências de jogadores tanto entre clubes brasileiros como
para as que envolvessem clubes do exterior12.
Brunoro enfatiza a importância da legislação principalmente na área trabalhista,
visando cada vez mais o bem estar do profissional do futebol:

O romantismo do futebol começou a ser substituído por uma consciência


profissional mais séria em 1.976, quando a profissão de atleta profissional de
futebol foi regulamentada pela Lei n.º 6.354. Pela primeira vez na história do
futebol brasileiro, todos os jogadores profissionais passariam a ter carteira de
trabalho e os benefícios da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como
férias e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Essa lei ainda deu
aos jogadores o direito de possuir seu próprio passe depois dos 32 anos de
idade13.

Após o fim do governo militar, houve a necessidade da criação de uma nova


constituinte, findando na promulgação da Constituição da República Federativa do
Brasil, em 5 de outubro de 1988. A Carta Magna não deixou o desporto de lado, de
modo que trouxe a competência concorrente de União, Estados e Distrito Federal para
legislar sobre o tema, de acordo com o art. 24, inciso IX, do diploma legal:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
[...]
IX - educação, cultura, ensino e desporto;
[...]
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-
se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

11 Decreto-Lei nº 53.820, de 24 de março de 1964.


12 AIDAR, Carlos Miguel. Curso de Direito Desportivo. São Paulo: Ícone, 2003. p.19.
13 BRUNORO, José Carlos. Futebol 100% profissional. São Paulo: Gente, 1997. P.18.
15

§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a


eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário14.

Ademais, outra inovação abarcada pela nova Constituição de 1988, foi a


criação de uma seção específica para tratar acerca do Desporto:

Seção III
DO DESPORTO
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-
formais, como direito de cada um, observados:
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a
sua organização e funcionamento;
II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-
profissional;
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação
nacional.
§ 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei.
§ 2º - A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da
instauração do processo, para proferir decisão final.
§ 3º - O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social15.

Com o novo modelo jurídico nacional, trazido pela constituição em 1988, foi
necessária a criação de legislações infraconstitucionais que se adequassem a tal.
Dessa maneira, partindo de Arthur Antunes Coimbra, popularmente conhecido com
Zico, Secretário de Esportes na época, foi responsável pela reformulação da
legislação desportiva nacional. Bebendo das inovações realizadas no futebol inglês,
com a abertura do capital dos clubes na bolsa de valores16, a legislação foi elaborada
de forma que fosse realizada a transição do modelo associativo para entrada de outro
modelo jurídico dentro do esporte, as sociedades com fins lucrativos17.
Dessa maneira, a chegada da Lei Zico, foi a primeira vez em que a proposição
da transformação dos clubes associativos em empresa apareceu no cenário
nacional18. Buscando uma maior profissionalização do esporte em terras brasileira,
trouxe, em seu art.11, a faculdade para os clubes se transformarem em empresa:

14BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 28/03/2020.

15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 28/03/2020.
16 PRONI, Marcelo; LIBIANO, Joao. O futebol brasileiro na bolsa de valores? Texto para discussão,

Campinas, 2016. IE, 2016, Campinas.


17 BRASIL. Lei 8.672, de 6 de julho de 1993. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8672.htm>. Acesso em: 20/11/2019.


18 BRASIL. Lei 8.672, de 6 de julho de 1993. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8672.htm>. Acesso em: 20/11/2019.


16

Art. 11 – É facultado às entidades de pratica e as entidades federais de


administração e de modalidade profissional, manter a gestão de suas
atividades sob a responsabilidade de sociedade com fins lucrativos, desde
que adotada uma das seguintes formas:
I – Transformar-se em sociedade comercial com finalidade Desportiva;
II – constituir sociedade comercial com a finalidade desportiva, controlando a
maioria de seu capital com direito a voto.
III – contratar sociedade comercial para gerir suas atividades desportivas.
Parágrafo único. As entidades a que se refere este artigo não poderão utilizar
seus bens patrimoniais, desportivos ou sociais para integralizar sua parcela
de capital ou oferece-los como garantia salvo com a concordância da maioria
absoluta na assembleia geral dos associados e na conformidade dos
respectivos estatutos19.

Acerca da proposição estatal, elucida Oliveira:

A redação deste comando legal revelava, ainda que timidamente, o


incansável e indisfarçável objetivo estatal de forçar as entidades esportivas a
se transformarem em sociedades comerciais e, ficarem sob estreito controle
do Executivo Federal como se fosse esse o caminho para todos os males que
assolavam o desporto20.

Sob o pretexto de compreender demais inovações em relação as proposições


da sua lei predecessora, foi elaborada uma nova lei sobre o tema, desta vez com o
nome de outro famoso jogador de futebol brasileiro, a Lei Pelé, em homenagem ao
atleta que deu nome a ela e também ocupava a pasta da Secretaria de Esportes no
ano de mil novecentos e noventa e oito. Seguindo no mesmo caminho de sua
antecessora, a Lei Pelé impôs que dois anos após a promulgação da legislação, os
clubes de futebol deveriam fazer a transição do modelo associativo para se tornarem
sociedade civis de fins econômicos ou sociedades comerciais21.
A obrigatoriedade da transição passou a gerar muita discussão, conforme
apresenta Oliveira:

Trouxe a obrigatoriedade de os clubes de futebol tornarem-se empresas em


posição questionável constitucionalidade. Estabelece em seu artigo 27 que
as atividades relacionadas a competições de atletas profissionais são
privativas de sociedade civis de fins econômicos e de sociedades
comerciais22.

19 BRASIL. Lei 8.672, de 6 de julho de 1993. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8672.htm>. Acesso em: 20/11/2019.
20 OLIVEIRA JÚNIOR, Piraci Ubiratan de. Autonomia das associações desportivas e o clube

empresa. São Paulo: Iglu, 2012.


21 BRASIL. Lei 9.615, de 24 de março de 1998. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019.


22 OLIVEIRA JÚNIOR, Piraci Ubiratan de. Autonomia das associações desportivas e o clube

empresa. São Paulo: Iglu, 2012.


17

Além do mais, a imposição somada ao prazo estabelecido para a adaptação


estabelecido, dois anos, gerou um choque acerca do possível desrespeito ao art. 217
da Constituição Federal23. Acerca do embate de normas, elucida Melo Filho:
Compelir um clube profissional a adotar arquétipos societários, ou seja, com
fins lucrativos, é, sem dúvida, interferir em sua organização e funcionamento,
derruindo e vulnerando o postulado constitucional da autonomia desportiva,
a par de constranger Conselhos deliberativos ou Assembleias Gerais de
entes privados desportivos a adotar modelos legais que podem trazer
prejuízos incalculáveis as suas tradições24.

Todavia, por pressão dos cartolas, sob o argumento da inconstitucionalidade


de artigo supracitado, a lei foi modificada através da Lei 9.981 de 14 de julho de
200025, constando como faculdade e não mais obrigatoriedade a transformação das
instituições conforme apresenta Oliveira Junior:

A nova lei conferiu redação ao artigo 27 que passava a facultar Á entidade de


pratica desportiva a transformação em sociedade civil de fins econômicos ou
sociedade comercial. Determinava ainda que a associação que optasse em
criar nova empresa para gerir a atividade desportiva não poderia integralizar
sua parcela de capital com seus ativos, salvo a concordância da maioria
absoluta da assembleia geral e na conformidade do respectivo estatuto26.

Não só de regressos viveu a Lei Pelé, que trouxe a inovação do fim do passe,
alteração gerada pelo caso Bossman, evento paradigmático que foi fato gerador de
grande revolução no futebol. Dado o fato de sua grande importância, irá ser esmiuçado
no próximo subtópico.

2.2 CASO BOSSMAN E O FIM DO PASSE

O caso Bossman foi julgado pelo Tribunal de Justiça da Comunidade Europeia,


e é considerado até hoje por alguns autores como o mais importante para o direito
desportivo27. Jean-Marc Bosman, jogador belga que dá nome ao caso, vinculado ao
Royal Club Liègeois AC, clube do mesmo país de origem do jogador e hoje conhecido

23 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 28/03/2020.
24 MELO FILHO, Álvaro. Nova Lei Pelé: Avanços e Impactos. Rio de Janeiro: Ed. Maquinária, 2011.
25 BRASIL. 9.981, DE 14 DE JULHO DE 2000. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9981.htm#art1>. Acesso em: 01 jun. 2020.


26 OLIVEIRA JÚNIOR, Piraci Ubiratan de. Autonomia das associações desportivas e o clube

empresa. São Paulo: Iglu, 2012.


27 SÁ FILHO, Fábio Menezes de. Contrato de trabalho desportivo: revolução conceitual de atleta

profissional de futebol. São Paulo: LTr, 2010, p. 34-35.


18

como Royal Standard de Liège, estava em vias de findar o seu contrato com o clube
ao fim do mês de junho de mil novecentos e noventa.
Após tentativa de renovação frustrada devido à redução salarial significativa
proposta pelo clube, e conforme era previsto nos moldes da época, mesmo sem
renovar seu contrato, o passe do jogador ainda era vinculado ao clube. Procurado
pelo Dunkerque FC, da França, o jogador acertou seu salário e demais valores junto
à segunda equipe, mas acabou por ter sua saída impedida devido a federação Belga
de futebol afirmar que os valores referentes a transferência não poderiam ser arcados
pelo Dunkerque. Cabe ressaltar que no momento Bosman não possuía mais contrato
vigente junto ao Liègeois28.
De mãos atadas, o atleta, sem poder exercer sua atividade laboral, enfrentou o
padrão estabelecido por todo o sistema futebolístico imposto na época. Em entrevista
ao The Guardian, vinculada pelo portal IG, Bosman expressou o seu sentimento na
época:

“Eu estava no fim do meu contrato com Liège. Eles me ofereceram um novo
contrato com valor quatro vezes menor do que eu recebia no anterior e para
me vender para Dunkerque eles estavam exigindo quatro vezes o preço que
haviam pago por mim anteriormente. Em outras palavras, eles pensaram que
eu havia me tornado quatro vezes melhor se eu quisesse sair e quatro vezes
pior se eu quisesse ficar e assinar novamente com eles29.”

Na ação ajuizada por Bosman, em primeiro grau da jurisdição esportiva Belga,


constavam no polo passivo o clube dono de seu passe, Liègeois, e UEFA, federação
que rege os clubes em âmbito europeu. Importante observar os pedidos e
argumentações trazidas na inicial. Em síntese, o pedido consistia na declaração de
incompatibilidade do regramento de transferências UEFA-FIFA, tendo em vista que as
mesmas estavam em desacordo com o que fora acordado no Tratado de Roma, do
dia 25 de março de 1957, instrumento norteador para a relação entre países
integrantes da União Europeia30.
Em se tratando de infração de norma relativa ao bloco, a ação foi remetida ao
Tribunal de Justiça Europeu, tendo o órgão jurisdicional europeu dado razão ao pedido

28 Kampff, Andrei. CASO BOSMAN MUDOU RELAÇÃO DE JOGADORES NO MUNDO TODO. Lei
em campo, 07 de janeiro de 2019. Disponível em: < https://leiemcampo.com.br/caso-bosman-mudou-
relacao-de-jogadores-no-mundo-todo/> Acesso em: 01/04/2020.
29 BOSMAN, Jean-Marc. Entrevista concedida ao Jornal The Guardian, vinculada pelo portal IG.

Disponível em: < https://esporte.ig.com.br/futebol/2015-12-15/lei-bosman-20-anos-da-medida-que-


mudou-relacao-entre-clube-e-jogador-na-europa.html > Acesso em: 01/04/2020.
30 SPINELLI, Rodrigo. A cláusula penal nos contratos dos atletas profissionais de futebol. São

Paulo: LTr, 2011, p. 28.


19

realizado por Bosman, sob a justificativa de infração já que não foi permitido a
circulação do jogador de forma livre pelos países da União Europeia, pois seu contrato
já não estava mais em vigência31. Prevê dessa maneiro o artigo 48 do Tratado de
Roma:

Artigo 48:
1. A livre circulação dos trabalhadores deve ficar assegurada, na
comunidade, o mais tardar no termo do período de transição.
2. A livre circulação dos trabalhadores implica a abolição de toda e qualquer
discriminação em razão da nacionalidade, entre os trabalhadores dos
Estados-membros, no diz respeito ao emprego, à remuneração e demais
condições de trabalho.
3. A livre circulação dos trabalhadores compreende, sem prejuízo das
limitações justificadas por razões de ordem pública, segurança pública e
saúde pública, o direito de:
a) Responder a ofertas de emprego efetivamente feitas;
b) Deslocar-se livremente, para o efeito, no território dos Estados-membros;
c) Residir num dos Estados-membros a fim de nele exercer uma atividade
laboral, em conformidade com as disposições legislativas regulamentares e
administrativas que regem o emprego dos trabalhadores nacionais;
d) Permanecer no território de um Estado-membro depois de nele ter exercido
uma atividade laboral, nas condições que serão objetivo de regulamentos de
execução a estabelecer pela Comissão32.

Após todo o embate enfrentado em tribunal, somente cinco anos após a


decisão foi criada jurisprudência pelo Tribunal de Justiça Europeu em favor ao caso,
todavia ainda existiam diverso empecilhos para a aplicação do novo regramento
dentro do futebol europeu, conforme observa Spinelli:

Após esse episódio, foi criado um impasse, pois havia clubes europeus que
não pertenciam à União Europeia. Porém, todos os grandes clubes europeus
eram de países- -membros, deste modo, teriam que resolver tal questão, do
contrário poderiam ser prejudicados em uma decisão futura33.

O meio encontrado para resolução de todas as divergências existentes, foi


padronizar as transferências de modo condizente com a inovação trazida pelo caso.
Diante disso, foi criado o Regulamento de Transferências de Jogadores, pela FIFA,
visando dirimir qualquer possibilidade contradição existente entre federações. Acerca
da nova regulamentação, afirma Martorelli:

31 SPINELLI, Rodrigo. A cláusula penal nos contratos dos atletas profissionais de futebol. São
Paulo: LTr, 2011, p. 28.
32 UNIÃO EUROPEIA. Tratado de Roma (CEE), de 24 de março de 1957. Disponível em: <

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/IT/TXT/PDF/?uri=CELEX:11957E/TXT&from=PT>. Acesso em:


01/04/2020.
33 SPINELLI, Rodrigo. A cláusula penal nos contratos dos atletas profissionais de futebol. São

Paulo: LTr, 2011, p. 28.


20

O avanço é de vital importância para os futebolistas de todo o mundo, pois o


Regulamento de Transferências cria a possibilidade de os conflitos laborais,
seja em questões de inadimplemento salarial, seja em questões das
transferências específicas, sejam analisados e resolvidos por uma comissão,
também estabelecida com o surgimento do novo Regulamento, pois, para
própria finalidade. Foi criada, então, a Câmara de Resolução de Disputas –
CRD, órgão esse de representação paritária (10 membros nomeados por
representação dos clubes e 10 membros nomeados por representação dos
atletas). Os representantes dos jogadores são indicados pela Federação
Internacional de Futebolistas Profissionais – FIFPro, órgão sindical mundial
com participação de 44 países-membros e dos clubes são indicados pelas
federações continentais34.

Grande importância recai sobre o Caso Bosman até os dias de hoje.


Primeiramente, foi a partir da discussão gerada que a UEFA passou a não limitar mais
as cláusulas de nacionalidade, obrigação de que o clube tivesse determinado números
de jogadores nascidos no país em que está situado. Fazendo com que demais
federações por toda a Europa adotassem o mesmo regulamento. 35 Dessa maneira,
passaram a surgir seleções do mundo em grandes clubes. Os números do CIES
Football Observatory, acerca da porcentagem de minutos de minutos jogados por
atletas que não foram formados no Inglaterra nas competições disputadas dentro do
país por equipes da Premier League, apontam as seguintes informações36:

TABELA 1 - PORCENTAGEM DE MINUTOS


JOGADOS POR ATLETAS NÃO
DOMÉSTICOS
87,70%
81,60%

72,60%
72,20%
71,80%

68,10%
82%

62,80%
61,10%
60,40%

59,40%
58,80%

54,50%
54,00%

53,90%
48,40%
46,40%
41,90%

30,80%
22,20%

FONTE: DEMOGRAPHIC ATLAS DEVELOPED BY THE CIES FOOTBALL OBSERVATORY


NOTA: DADOS TRABALHADOS PELO AUTOR

34 MARTORELLI, Rinaldo José. Transferência de atletas: conflitos, regulamento de agentes.


Curso de Direito Desportivo sistêmico. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 321.
35 CARVALHO, Jorge. Case Note 7/99 Comentário de Jurisprudência: Processo C-415/93, Union

royale belge des sociétés de football association ASBL contra Jean-Marc Bosman e outros e Union
des Associations de Football Européennes (UEFA) contra Jean-Marc Bosman, acórdão de 15 de
Dezembro de 1995, Colectânea de Jurisprudência de 1995, página L-4921. Disponível em:
<https://www.fd.unl.pt/Anexos/Downloads/197.pdf> Acesso em: 01/04/2020.
36 Demographic Atlas developed by the CIES Football Observatory. Disponível em: <https://football-

observatory.com/IMG/sites/atlasdemo/> Acesso em: 01/04/2020.


21

Por fim, apesar de julgar que recebe pouco crédito pelo paradigma que criou, o
próprio Bosman acabou por concluir que os clubes também foram muito beneficiados
pelas mudanças por ele gerada37.

Diante do exposto, não havendo mais limite de jogadores estrangeiros dentro


dos clubes europeus, os brasileiros passaram a permanecer cada vez menos tempo
em território nacional, por vezes sequer estrando como a camisa de seu clube
formador. As equipes do Brasil, que no século XX viveram um dos seus maiores
ápices, principalmente com a transferência de Romário do Barcelona para o
Flamengo, em 1995, ano que foi eleito melhor do mundo38. A modo de se comandar
um clube foi modificada, mas o Brasil não mudou e os reflexos foram percebidos na
economia das equipes.

2.3 ANÁLISE ECONÔMICA

Para realização da breve análise econômica, os dados utilizados serão os


trazidos pela “Análise Econômico-financeira do Itaú BBA”, números relativos ao ano
de 2018, mas publicado em 2019, de 27 clubes que disputaram as Séries A e B do
Campeonato Brasileiro, entre 2012 e 2018. Segundo os autores:

O Futebol Brasileiro de clubes, enquanto indústria, continuará grande, mas


estará cada vez mais concentrado nas mãos dos que se organizarem. Mesmo
os casos de clubes que ultrapassaram a barreira do razoável não se
sustentam no longo prazo, porque uma hora o dinheiro acaba39.

Conforme apontado na análise, embora evidenciado um crescimento de 2,9%


nas receitas totais dos clubes, a queda também foi percebida na receita recorrente,
no valor de 1,2%. Demonstrada dessa maneira que a renda administrada pelos

37 STEIN, Leandro. Bosman: “Fiz algo bom, dei direito às pessoas. Mas nunca recebi nada que me
prometeram”. Trivela, 14 de dezembro de 2015. Disponível em: <https://trivela.com.br/bosman-fiz-
algo-bom-dei-direito-as-pessoas-mas-nunca-recebi-nada-que-me-prometeram/> Acesso em:
01/04/2020.
38 SALGADO, Diego. No auge, Romário foi do Barça ao Fla há 25 anos com custo menor que

Gabigol. Uol, 10 de janeiro de 2020. Disponível em: < https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-


noticias/2020/01/10/no-auge-romario-foi-do-barca-ao-fla-ha-25-anos-com-custo-menor-que-
gabigol.htm> Acesso em: 01/04/2020.
39 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. Disponível

em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-


bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>. Acesso em: 06/04/2020
22

clubes, como venda de atletas, direitos de TV, bilheteria e patrocínio, sofreu redução,
ficando abaixo dos três anos anteriores.
A maior parte da receita dos clubes se dá pelos direitos de transmissão de TV,
comum em todos os países do mundo, valor que demonstra crescimento entre 2013
até 2015, com posterior estabilidade. O que mais surpreende é o
crescimento/necessidade dos valores referentes a transação de atletas, por parte dos
clubes. Somadas com os direitos de TV, as vendas de atletas somam 48% da receita
das equipes, tendo um aumento representativo em 23% em relação ao ano de 2017,
enquanto receitas relativas a patrocínio e propaganda caíram em 23%40.
Relativo ao tema, a análise aponta:

De maneira geral, é uma distribuição de receitas desequilibrada quando


lembramos que esta é uma visão consolidada. Mas não pela relevância da
TV e sim porque os clubes estão cada vez mais dependentes de receitas não
recorrentes. O perfil ideal seria observarmos crescimento de publicidade e
patrocínio e das receitas com bilheteria e sócios torcedores. Processo que
precisa ser melhor trabalhado pelos clubes41.

Em se tratando de débitos, estes são divididos em quatro blocos: 1) Pessoal


(gastos relativos a salários de todos os empregados do clube, incluído atletas); 2)
Jogos (gastos provenientes de realização de partidas, como manutenção do estádio
e transporte); 3) Base+ Futebol Feminino (Custos relativos as manutenção das
categorias); 4) Outros gastos (valores que não estão encaixados em nenhum dos
outros blocos). Analisando os números apresentados, se pode perceber o aumento
dos gastos quanto aos custos com pessoal, no valor de 5,8%, superior a renda total,
enquanto os demais gastos demonstram-se estáveis42.
Evidente o descompromisso das equipes com relação as suas dívidas, já que
mesmo com o aumento de receita, seguem aumentando os gastos exponencialmente,
como bem aponta o estudo apresentado pelo Banco Itaú:

40 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 15.


Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-
content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
41 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 16.

Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-


content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
42 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 35.

Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-


content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
23

Na realidade corporativa diz-se que “custo é igual unha: tem que cortar
sempre”. Não parece uma realidade dos clubes, talvez porque eles não vivam
uma realidade corporativa, de busca incessante pela eficiência. Mas como
nenhuma generalização é justa, analisaremos os clubes de maneira individual
a seguir43.

Somado a isso, conforme notícia vinculada pelo portal do jornal Estadão, dez
clubes da série A do campeonato brasileiro estão inscritos na Dívida Ativa da União e
do Fundo de Garantia por Tempo de serviço44. Conforme visualizado pelo próprio
estudo, a renegociação de dívidas por parte dos clubes com a União é de suma
importância, aumentando o período para pagamento dos débitos, diminuindo o
impacto anual das despesas nos cofres45. De qualquer maneira, esse proveito dos
clubes foi dado graças ao PROFUT, Lei imposta pelo Estado para renegociação, e
que será abordada no subcapitulo seguinte.
O Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do
Futebol Brasileiro, o PROFUT, Lei 13.155/15, visou a readequação da forma de
gestão dos clubes, de maneira impositiva, como era trazido anteriormente nas Leis
Zico e Pelé, e em contrapartida o Estado aceitaria o parcelamento das dívidas fiscais
dos clubes junto à União.
Sendo de aderência facultativa, os clubes possuem exigências, previstas no
artigo 4º da lei, para seguir fazendo parte do benefício como:

I - regularidade das obrigações trabalhistas e tributárias federais correntes,


vencidas a partir da data de publicação desta Lei, inclusive as retenções
legais, na condição de responsável tributário, na forma da lei;
II - fixação do período do mandato de seu presidente ou dirigente máximo e
demais cargos eletivos em até quatro anos, permitida uma única recondução;
III - comprovação da existência e autonomia do seu conselho fiscal
IV - proibição de antecipação ou comprometimento de receitas referentes a
períodos posteriores ao término da gestão ou do mandato, salvo:
a) o percentual de até 30% (trinta por cento) das receitas referentes ao 1º
(primeiro) ano do mandato subsequente; e
b) em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível
de endividamento;
V - redução do défice , nos seguintes prazos:

43 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 35.


Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-
content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
44 CAMPOS, Ciro; PRATA, João; JUNIOR, Gonçalo; AMARO, Dez Clubes da Séria A estão inscritos

na Dívida Ativa da União e do FGTS. Estadão, 22 de setembro de 2019. Disponível em:


<https://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,dez-clubes-da-serie-a-estao-inscritos-na-divida-
ativa-da-uniao-e-do-fgts,70003019477> Acesso em: 06/04/2020.
45 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 72.

Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-


content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
24

a) a partir de 1º de janeiro de 2017, para até 10% (dez por cento) de sua
receita bruta apurada no ano anterior; e
b) a partir de 1º de janeiro de 2019, para até 5% (cinco por cento) de sua
receita bruta apurada no ano anterior;
VI - publicação das demonstrações contábeis padronizadas, separadamente,
por atividade econômica e por modalidade esportiva, de modo distinto das
atividades recreativas e sociais, após terem sido submetidas a auditoria
independente;
VII - cumprimento dos contratos e regular pagamento dos encargos relativos
a todos os profissionais contratados, referentes a verbas atinentes a salários,
de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, de contribuições
previdenciárias, de pagamento das obrigações contratuais e outras havidas
com os atletas e demais funcionários, inclusive direito de imagem, ainda que
não guardem relação direta com o salário
VIII - previsão, em seu estatuto ou contrato social, do afastamento imediato e
inelegibilidade, pelo período de, no mínimo, cinco anos, de dirigente ou
administrador que praticar ato de gestão irregular ou temerária.
IX - demonstração de que os custos com folha de pagamento e direitos de
imagem de atletas profissionais de futebol não superam 80% (oitenta por
cento) da receita bruta anual das atividades do futebol profissional; e
X - manutenção de investimento mínimo na formação de atletas e no futebol
feminino e oferta de ingressos a preços populares, mediante a utilização dos
recursos provenientes46.

Ademais, a lei, em seu artigo 7º prevê o parcelamento das dívidas tributárias


em até duzentas e quarenta vezes, e em seu artigo 12º, das dívidas de FGTS
parceladas em até cento e oitenta vezes, incluindo redução de juros, multas e
encargos legais, possibilitando aos clubes um largo prazo e melhores condições para
sanar seus débito47.
Ademais, fica evidente a tentativa de colocar o futebol nos eixos, como as
tentativas das leis anteriores, quando o artigo 40º modifica a lei nº 10.671/03, Estatuto
do Torcedor:

Art. 40. A Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003 , passa a vigorar com as


seguintes alterações:
“Art. 10. ...
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, considera-se critério técnico a
habilitação de entidade de prática desportiva em razão de:
I - colocação obtida em competição anterior; e
II - cumprimento dos seguintes requisitos:
a) regularidade fiscal, atestada por meio de apresentação de Certidão
Negativa de Débitos relativos a Créditos Tributários Federais e à Dívida Ativa
da União - CND;
b) apresentação de certificado de regularidade do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço - FGTS; e
c) comprovação de pagamento dos vencimentos acertados em contratos de
trabalho e dos contratos de imagem dos atletas.
...

46 BRASIL. Lei 13.155, de 04 de agosto de 2015. Art. 4º. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13155.htm>. Acesso em: 06/04/2019.
47 BRASIL. Lei 13.155, de 04 de agosto de 2015. Art. 7º e 12º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13155.htm>. Acesso em: 06/04/2019.


25

§ 3º Em campeonatos ou torneios regulares com mais de uma divisão, serão


observados o princípio do acesso e do descenso e as seguintes
determinações, sem prejuízo da perda de pontos, na forma do regulamento:
I - a entidade de prática desportiva que não cumprir todos os requisitos
estabelecidos no inciso II do § 1º deste artigo participará da divisão
imediatamente inferior à que se encontra classificada;
II - a vaga desocupada pela entidade de prática desportiva rebaixada nos
termos do inciso I deste parágrafo será ocupada por entidade de prática
desportiva participante da divisão que receberá a entidade rebaixada nos
termos do inciso I deste parágrafo, obedecida a ordem de classificação do
campeonato do ano anterior e desde que cumpridos os requisitos exigidos no
inciso II do § 1º deste artigo48.

Todavia, no dia 25 de março de 2019, O possível rebaixamento por dívidas,


bem como a necessidade de se comprovar a regularidade fiscal e trabalhista foi
declarado inconstitucional, após julgamento da ADI nº 5.450. Após vigorar mediante
liminar, a decisão do relator Min. Alexandre de Moraes, foi referendada pelo Tribunal,
convertendo o julgamento da medida cautelar, que arguiu que a exigência da
regularidade fiscal fere a autonomia das entidades desportivas e constitui forma
indireta de coerção estatal ao pagamento de tributos, em julgamento definitivo de
mérito49.
Apesar de pontos positivos trazidos pelo PROFUT, a legislação brasileira segue
sem realizar uma readequação do modelo de futebol brasileiro à realidade mundial,
como se observa desde a tentativa de discussão das Leis Zico e Pelé em legislar
sobre a matéria da criação de um modelo societário dentro dos clubes.
Como observa Alves, o problema é muito maior do que somente legislar acerca
do tema:

É de se concluir que de nada irá adiantar uma nova legislação se as


estruturas internas dos clubes não se alterarem, se a gestão não for tratada
de maneira profissional, visando não só o desempenho esportivo, mas
também o financeiro. Ou, talvez, falte exemplo se a partir da atual mudança
os clubes sofrerem severas punições, quem sabe os agentes que comandam
o futebol nacional se sensibilizem, e a modalidade passe a tomar um novo
rumo 50.

48 BRASIL. Lei 13.155, de 04 de agosto de 2015. Art. 40. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13155.htm>. Acesso em: 06/04/2019.
49 STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade: ADI. nº 50.450. Relator: Ministro Alexandre de Moraes.

DJ: 20/09/2017. JusBrasil. 2017. Disponível em:


<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/501067019/medida-cautelar-na-acao-direta-de
inconstitucionalidade-mc-adi-5450-df-distrito-federal-0000570-3820161000000?ref=serp>. Acesso
em: 06/04/2020
50 ALVES, Yuri. O Programa de modernização da gestão e de responsabilidade fiscal do futebol

brasileiro/Profut: Discutindo Desafios. Orientador: Hamilton de Moura Ferreira Junior. 2017. 68 f.


Monografia (Graduação ciências econômicas) - Graduação, Salvador, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/24373. Acesso em: 16 jan. 2019.
26

Atualmente, vasta são as referências para a criação de uma base legislativa


acerca do clube-empresa a ser aplicado no Brasil. Dessa maneira, passa-se a análise
de modelos já aplicados em diversos países pelo mundo.
27

3. MODELOS INTERNACIONAIS

Em face, da cada vez mais próxima, chegada do modelo clube-empresa na


legislação brasileira. Se faz necessário o exame de legislações que já versam sobre
o tema, demonstrando seus pontos que alcançaram êxito, bem como aqueles os quais
não chegaram no objetivo proposto.
Sem necessidade de se buscar boas iniciativas somente do continente
Europeu, alguns países da América do Sul já demonstram a aplicabilidade de modelos
diferentes da associação tradicional. Em destaque, se pode citar os recentes feitos
das equipes colombianas demonstram o sucesso do sistema adotado. Apostando em
jovens da base e contratações que posteriormente são valorizadas, as boas
campanhas de Atlético Nacional, campeão da Copa Libertadores de 2016 e vice-
campeão da Copa Sulamericana de 2014 e 2016, refletem a opção de gestão do clube
dentro de campo.
Já na Europa, pode ser encontrada uma dicotomia entre o modelo inglês e o
modelo português. Em Portugal, existe uma conceituação de clube e sociedade
esportiva, não se colocando em questão a participação do clube na sociedade51. Em
contrapartida, a Inglaterra apresenta um modelo completamente aberto, no qual,
desde o princípio os clubes são empresas, pois são classificados como sociedades
comerciais52.
Os próximos subcapítulos serão dedicados a esmiuçar os três modelos
supracitados.

3.1. COLOMBIA

Com grande destaque no final dos anos oitenta, início dos anos noventa, o
futebol colombiano viveu seu apogeu com nomes de peso como Valderrama, Asprila
e Higuita, que disputaram as Copas do Mundo de 1990, 1994 e 1998. Somado a isso,

51 DE LIMA, João António Pais. A criação da figura da sociedade anónima desportiva. Que
inovações trouxe ao desporto profissional e que benefícios colheram os seus intervenientes.
2016. 98 f. Tese (Mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais) Universidade de Lisboa, Lisboa,
2016. Disponível em: <https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37500/1/ulfd137159_tese.pdf>. Acesso
em: 23 mai. 2020.
52 ROCCO JUNIOR., Ary José. Clubes esportivos. GV-executivo, [s. l.], v. 6, n. 3, p. 53–58, 2007.

Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=bth&AN=37586756&lang=pt-


br&site=eds-live. Acesso em: 17 abr. 2020.
28

disputavam de igual para igual a Copa Libertadores com os demais adversários do


Brasil e Argentina, tendo o América de Cali chego as finais de 1985,1986,1987 e 1996,
enquanto seu rival Atlético Nacional venceu em 1989 e foi derrotado em 199553.
O auge do futebol colombiano coincide com o período de maior influência dos
carteis de drogas locais. Nesse meio, o futebol, como um esporte extremamente
popular no mundo, foi utilizado para lavagem de dinheiro por parte dos grandes
narcotraficantes colombianos54. A área de influência dos grandes clubes colombianos
era correspondente ao domínio de cada cartel. O Atlético Nacional de Medelín era
associado ao maior traficante do país, Pablo Escobar, o Milionários de Bogotá a
Gonzalo Rodríguez Gacha, para muitos, tão importante quanto Escobar, e o América
de Cali ligado aos irmãos Orejuella55. Acerca do tema, observa Pereira56:

Ainda no final dos anos 1980, a liga finalmente permitiu patrocínio de


empresas privadas e limitou o número de estrangeiros em quatro por time.
Assim, através de empresas de fachada, Pablo Escobar injetou muito dinheiro
no Nacional; em contrapartida, tinha direito a renda das partidas da equipe
(uma verdadeira máquina de lavar dinheiro).

Após a guerra do governo colombiano contra o narcotráfico, a grande fonte de


dinheiro dos clubes se esvaiu. Diante disso, as equipes passaram a amargar uma
crise financeira, passando por um período apagado no cenário internacional. Os,
outrora, campeões passaram a ser meros coadjuvantes, o América de Cali seria
rebaixado para a segunda divisão, em 2011. Em Bogotá, o seu rival Millonarios
enfrentaria um período de 24 anos sem títulos. Entre 1988 e 2012, o Atlético Nacional
também não faria sequer uma grande campanha em nível internacional.
Visando o reestabelecimento do futebol, o parlamento colombiano, em 2011,
aprovou a chamada: “Ley 1445”. A legislação incentivava a transição dos clubes
associativos sem fins lucrativos, a realizarem a transição para se tornarem sociedades

53 Quais foram todas as finais da história da CONMEBOL Libertadores? Disponível em: <
https://www.copalibertadores.com/pt-br/noticias/quais-foram-as-finais-da-historia-da-conmebol-
libertadores/1ck9k0er6cb2e17ituldu439qp> Acesso em: 22/04/2020.
54 Atlético Nacional, o grande campeão de 2016. Disponível em: <

https://veja.abril.com.br/esporte/atletico-nacional-o-grande-campeao-de-2016/> Acesso em:


22/04/2020.
55 PEREIRA, Ivan. História do futebol colombiano: a era dos narcos. [S. l.]: Doentes por

futebol, 2016. Disponível em: <https://doentesporfutebol.com.br/2015/09/historia-do


futebolcolombiano-a-era-dos-narcos2/>. Acesso em: 22/04/2020.
56 PEREIRA, Ivan. História do futebol colombiano: a era dos narcos. [S. l.]: Doentes por

futebol, 2016. Disponível em: <https://doentesporfutebol.com.br/2015/09/historia-do-


futebolcolombiano-a-era-dos-narcos2/>. Acesso em: 22/04/2020.
29

anônimas desportivas (SAD). Em seu artigo quarto, a lei traz como será realizada a
transição57:

Artigo 4°. À conversão de clubes profissionais. Em nenhum caso, a conversão


resultará na dissolução ou liquidação de clubes com atletas profissionais, de
modo que a pessoa jurídica continuará a ser proprietária de todos os seus
direitos e, ao mesmo tempo, responsável pelas obrigações que vinham
afetando seus bens.

Da mesma forma, a conversão não afetará os contratos, prêmios esportivos


ou direitos esportivos que constituem os ativos dos clubes com atletas
profissionais.

Para realizar a conversão, o órgão competente será a assembléia do órgão


esportivo que aprovará o método de troca de contribuições por ações, que
deve ser realizada proporcionalmente ao capital. Este método respeitará os
direitos dos sócios minoritários.

As contribuições feitas pelos sócios do clube serão devolvidas a eles a pedido


de seus contribuintes no prazo de 2 (dois) meses a partir da conversão.

Além disso, esse órgão aprovará imediatamente a colocação de ações da


sociedade anônima entre o público em geral; portanto, não haverá direito de
preferência ou teto para aquisição por associados, contribuintes ou novos
investidores.

O valor da colocação não pode ser inferior ao dobro do capital resultante do


método de troca de contribuições por ações. A subscrição e pagamento das
ações dessa capitalização será feita nas condições, proporções e prazos
previstos para empresas públicas limitadas no Código Comercial. Para efeitos
dessa capitalização, o valor nominal de cada ação não pode exceder uma
Unidade de Valor Tributário (UVT). “tradução nossa”.

Diante dos antecedentes da relação do futebol com lavagem de dinheiro, o


legislador buscou meios para coibir a entrada de dinheiro ilícito nos clubes. Assim, a
origem do dinheiro destinado a aquisição das ações dos clubes, bem como qualquer
aporte financeiro, deve ser justificado junto ao clube e ao “Instituto Colombiano del
Deporte”, órgão governamental responsável pela fiscalização58.
Ademais, a legislação prevê imposições e fiscalização para o funcionamento
das Sociedades Anônimas Desportivas. Somada a transição estrutural do clube, é
necessário o registro mercantil, inscrevendo a SAD na comissão de valores
mobiliários59, bem como a Superintendência de Sociedades fica responsável por
observar o correto funcionamento, exercendo vigilância e controle sobre as suas

57 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 04. Disponível em: <http://www.suin-
juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.
58 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 03. Disponível em: <http://www.suin-

juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.


59 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 01º, § 3º. Disponível em: <http://www.suin-

juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.


30

operações, usando o Código Comercial colombiano como norma subsidiária à Lei da


SAD60.
Quanto a exigência de porcentagem de ações, a Lei 1445 não limita a
quantidade que pode ser disposta pela empresa. Todavia, o artigo segundo, parágrafo
primeiro, especifica que, especificamente, os clubes de futebol devem ter no mínimo
quinhentos sócios aportantes61. Além disso, a lei prevê um programa de recuperação
econômica e administrativa para o clube empresa62, assim como prevê as sanções
aos clubes que não cumprirem suas obrigações trabalhistas e de seguridade social,
podendo ter seu reconhecimento esportivo suspenso63.

3.2 INGLATERRA

Antes de falar especificamente sobre o modelo e grandes montantes


envolvidos no futebol mais rico do mundo, é necessário contextualizar as mudanças
que levaram a chegar ao ponto que se encontra nos dias de hoje. Em meados dos
anos sessenta, a Inglaterra vivia uma onda de “hooliganismo”, caracterizada por
violência dentro e fora dos estádios64. Importante destacar que essa cultura surgiu em
meio a classe operária, e diversos fatores contribuíram para a proliferação de maneira
tão forte por todo o país65. Para Marivoet, mudanças estruturais do futebol em conjunto
com o colapso do mercado de trabalho e a expansão do tempo livre para os jovens
possibilitou na Inglaterra a origem do movimento66.
Uma fatalidade acabou sendo necessária para a mudança de perspectiva do
futebol inglês. No dia quinze de abril de mil novecentos e oitenta e nove, Liverpool e

60 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 03. Disponível em: <http://www.suin-
juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.
61 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 02, §1º. Disponível em: <http://www.suin-

juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.


62 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 09. Disponível em: <http://www.suin-

juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.


63 Colômbia. Ley 1445, de 12 de maio de 2011. Art. 13 a 15. Disponível em: <http://www.suin-

juriscol.gov.co/viewDocument.asp?id=1680648>. Acesso em: 23/04/2019.


64 CORRESPONDENTES PREMIER 26: a história dos hooligans ingleses. Loucação de: João

Castelo-Branco, Natalie Gedra, Ulisses Neto e Renato Senise. Londres. 24 de outubro de 2017.
Podcast. Disponível em: https://soundcloud.com/correspondentespremier/26-a-historia-dos-hooligans-
ingleses. Acesso em: 18/04/2020.
65 BRAYAN, Rafael. A origem dos hooligans no futebol inglês. Premier League Brasil, 26 de

dezembro de 2018. Disponível em: < https://premierleaguebrasil.com.br/hooligans-futebol-ingles/ >


Acesso em: 18/04/2020.
66 MARIVOET, Salomé. Uma perspectiva teórica do hooliganismo no futebol. Horizonte, Lisboa:

Livros horizonte,V.8, 1992.p.213.


31

Nottingham Forest se enfrentariam por um jogo de semifinal de copa. Os torcedores


do Liverpool, apesar de estarem em maior número, foram encaminhados para um
setor que não suportava nem a metade dos espectadores que estavam no local. Com
a arquibancada superlotada, os torcedores foram prensados contra as grades que
separavam do gramado, causando a morte de noventa e seis pessoas e deixando
centenas de feridos67. Em função do ocorrido, foi elaborado pelo governo inglês, pela
influência da primeira-ministra Margaret Thatcher, o chamado “Taylor Report”, que
estabeleceu novas medidas de segurança a serem tomadas pelos clubes de futebol,
obrigando os clubes a investirem na melhoria das condições dos serviços prestados
aos torcedores, ou seja, das condições dos seus estádios de futebol68. Diante disso,
os clubes, já na época deficitários, necessitavam de um grande montante de dinheiro
para a adequação aos moldes apresentados pelo relatório.
Assim é explicada a situação financeira dos clubes inglese por Leoncini e da
Silva:

Primeiro porque, desde a primeira metade do século XX, a FA (Football


Association) sempre limitou os dividendos que um clube membro poderia
pagar aos acionistas e, na prática, desde a década de 50 a maioria dos clubes
deixou de pagar dividendos. Segundo porque os diretores de clubes sempre
foram os principais acionistas e isto diminuía o conflito de interesses entre os
acionistas (interessados supostamente no retorno financeiro) e os diretores
(responsáveis pela realização do lucro). Além disso, uma grande proporção
de ações de clubes de futebol ingleses estavam nas mãos de pequenos
blocos de torcedores que, na sua maioria, sempre estiveram mais
interessados em obter descontos nos preços de ingressos para a temporada
do que em obter ganhos financeiros substanciais69.

Os fatos acabaram por levar os clubes para uma elitização do futebol inglês,
rompendo os lastros com a federação de futebol nacional e acabando por criar uma
liga apartada, hoje conhecida como “Premier League”. Os clubes que desde o seu
princípio já possuíam uma forma empresarial societária, passaram a negociar seus
direitos de televisão e grande parte delas iniciaram suas atividades nas bolsas de

67 CORRESPONDENTES PREMIER 96: Especial Hilsborough: Jamais serão esquecidos. Loucação


de: João Castelo-Branco, Natalie Gedra, Ulisses Neto e Renato Senise. Londres. 19 de abril de 2019.
Podcast. Disponível em: <https://soundcloud.com/correspondentespremier/especial-hillsborough-
jamais-serao-esquecidos>. Acesso em: 18/04/2020.
68 CORRESPONDENTES PREMIER 96: Especial Hilsborough: Jamais serão esquecidos. Loucação

de: João Castelo-Branco, Natalie Gedra, Ulisses Neto e Renato Senise. Londres. 19 de abril de 2019.
Podcast. Disponível em: <https://soundcloud.com/correspondentespremier/especial-hillsborough-
jamais-serao-esquecidos>. Acesso em: 18/04/2020.
69 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 35.

Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-


content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
32

valores. Dessa forma, os clubes deixaram de lado o amadorismo dos seus dirigentes
para serem tratados de vez como empresas70.
Acerca do modelo seguido pelo futebol inglês, pontua Melo Filho:

Em grandes clubes da Europa onde atualmente, 43% tem a forma jurídica de


associação e 58 de clubes empresa. Na Inglaterra, onde os clubes
historicamente foram constituídos como empresas privadas tendo como
sócios pequenos empresários locais e algumas centenas e torcedores, onde
dos vinte grandes clubes tem proprietários estrangeiros71.

De Lima atenta para a evolução ocorrida:

Desde o final do século XIX que os clubes Ingleses se constituíam como


sociedades comerciais por acções ou por quotas (limited companies), embora
o seu escopo inicial não fosse a obtenção de lucro. Com o passar dos anos
e o evoluir da modalidade, e o seu crescimento exponencial com a abertura
a outros mercados (norte-americano e asiático na linha da frente), os clubes
criaram departamentos específicos para maximizar as receitas dos clubes.
Assim, em 1992, os principais clubes revêm o modelo competitivo e ajustam
a sua liga aos novos tempos. Surge então a liga de futebol mais lucrativa e
mais vista do mundo, a Premier League.72.

Hoje em dia na terra da rainha, os clubes já não são somente clubes, pois se
tratam de multinacionais que giram milhões de dólares por ano. Antes do seu
falecimento em 2014, Malcom Glazer, empresário estadunidense, era dono de mais
de setenta e cinco por cento das ações do Manchester United. A sua última aquisição,
quando ainda não possuía tamanha fração do clube, o milionário gastou
aproximadamente um bilhão e quatrocentos milhões de dólares para comprar uma
fatia equivalente a quinze por cento do clube73.
Rocco Junior explica as cifras milionárias ligadas ao futebol inglês:

O alto investimento de Glazer tem explicação: o Manchester é a maior


multinacional do futebol, um clube com ações em Bolsa, planejamento
estratégico e uma coleção de títulos, admirado nos quatro cantos do mundo
– a ponto de ter fã-clube em Portugal, no Japão, na Austrália e no Chile. O
Manchester United virou na última década uma máquina de ganhar dinheiro.
Em 1995, estava cotado em US$ 56 milhões na Bolsa de Valores londrina.
Hoje, o valor de mercado chega a US$ 1,6 bilhão. Sua receita anual

70 PRONI, Marcelo; LIBIANO, Joao. O futebol brasileiro na bolsa de valores? Texto para discussão,
Campinas, 2016. IE, 2016, Campinas.
71 MELO FILHO, Álvaro. Nova Lei Pelé: Avanços e Impactos. Rio de Janeiro: Ed. Maquinária, 2011.
72 GRAFIETTI, Cesar. Análise Econômico-financeira do Itaú BBA, 16 de julho de 2019. p. 35.

Disponível em: < https://especiais.gazetadopovo.com.br/wp-


content/uploads/sites/19/2019/07/17091056/itau-bba-financas-clubes-brasileiros-2018-menor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2020
73 ROCCO JUNIOR., Ary José. Clubes esportivos. GV-executivo, [s. l.], v. 6, n. 3, p. 53–58, 2007.

Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=bth&AN=37586756&lang=pt-


br&site=eds-live. Acesso em: 17 abr. 2020.
33

ultrapassa os 250 milhões de euros, proveniente da renda de jogos, turnês


mundiais, venda de produtos nas Red Stores – as lojas do time – ou do
movimento nos Red Cafes, sua cadeia de restaurantes. O clube tem ainda
uma rede de tevê e uma rádio74.

Enquanto na Inglaterra, os clubes já foram constituídos como empresa, sendo


os mesmos organizados de uma única maneira, em Portugal existe a conceituação de
clube e sociedades desportivas, onde foi criada uma legislação impositiva para que
fosse adotado o modelo pelos clubes lusófonos.

3.3 PORTUGAL

Muito semelhante ao Brasil, a primeira tentativa de o Estado legislar sob o


esporte se deu através da Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD) 75. No seu art.
20 nº 1 a lei estabelece a constituição de clubes desportivos como associações sem
fins lucrativos76. Ademais, nos seguintes, define as condições em que os clubes
desportivos promovem a realização de sociedades com fins desportivos, regula as
atividades comerciais dessas associações e a destinação dos proveitos alcançados
pela instituição, conforme segue:

Artigo 20.º
Clubes desportivos e sociedades com fins desportivos
(...)
2 - Legislação especial definirá as condições em que os clubes desportivos,
sem quebra da sua natureza e estatuto jurídico, titulam e promovem a
constituição de sociedades com fins desportivos, para o efeito de proverem a
necessidades específicas da organização e do funcionamento de sectores da
respectiva actividade desportiva.
3 - A participação de clubes desportivos em actividades de natureza
predominantemente comercial sem incidência directamente desportiva é
condicionada, em especial, quanto aos que titulem ou hajam titulado o
estatuto de pessoas colectivas de utilidade pública, à observância de regras
que salvaguardem os direitos dos associados, o interesse público e o
património desportivo edificado, em termos definidos em regulamentação
própria.
4 - Nos casos previstos nos n.os 2 e 3, é imperativo legal que o produto das
sociedades ou das participações societárias reverta para benefício da
actividade desportiva geral do clube e que o património desportivo edificado
não possa ser oferecido livremente como garantia imobiliária ou concurso de
capital.

74 ROCCO JUNIOR., Ary José. Clubes esportivos. GV-executivo, [s. l.], v. 6, n. 3, p. 53–58, 2007.
Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=bth&AN=37586756&lang=pt-
br&site=eds-live. Acesso em: 17 abr. 2020.
75 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Disponível em: < https://dre.pt/pesquisa/-

/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


76 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Art. 20, Disponível em: < https://dre.pt/pesquisa/-

/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


34

(...)77.

Após avanços acerca do tema em Portugal, em 2013, houve a imposição do


modelo societário para o desporto profissional, através Decreto Lei nº 10/2013. Em
seu art. 2º n. 1, a legislação trás a definição do objeto das sociedades comerciais,
quais sejam: “participação, numa ou mais modalidades, em competições desportivas”;
“promoção e organização de espetáculos desportivos”; e “fomento ou
desenvolvimento de atividades relacionadas com a prática desportiva da modalidade
ou modalidades” 78. A lei ainda prevê a constituição de dois tipos de sociedades
comerciais, a Sociedade Anônima do Futebol, sendo regida pelas normas já
existentes relativas a sociedades anônimas no ordenamento já existente, e a
Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ)79, sendo possível através da
constituição da sociedade ou sua personificação jurídica, estipulando uma quota única
indivisível de propriedade do clube80.
A lei também disciplina acerca do capital social para a constituição da
sociedade desportiva, variando em função do tipo societário, do caráter profissional
da competição, modalidade e divisão em que está ocorrendo a disputa, conforme se
percebe pelo disposto no art. 7º:

Artigo 7.º
Capital social mínimo nas competições profissionais
1 - No momento da respetiva constituição, o valor mínimo do capital social
das sociedades que participem nas competições profissionais de futebol não
pode ser inferior a:
a) (euro) 1 000 000 ou (euro) 250 000, para as sociedades desportivas que
participem na 1.ª Liga, consoante adotem o tipo de sociedade anónima ou de
sociedade unipessoal por quotas;
b) (euro) 200 000 ou (euro) 50 000, para as sociedades desportivas que
participem na 2.ª Liga, consoante adotem o tipo de sociedade anónima ou de
sociedade unipessoal por quotas.
2 - As sociedades desportivas que ascendam da 2.ª Liga para a 1.ª Liga não
podem ingressar nesta se não dispuserem de capital social igual, pelo menos,
ao montante referido na alínea a) do número anterior.
3 - O capital social mínimo das sociedades que se constituam para participar
noutras competições profissionais é de (euro) 250 000 ou (euro) 50 000,
consoante adotem a forma de sociedade anónima desportiva ou de
sociedade unipessoal por quotas desportiva.

77 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Art. 20, Disponível em: < https://dre.pt/pesquisa/-
/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.
78 Portugal. Lei nº 10/13, de 25 de janeiro de 2013. Art. 2 n.º 1, Disponível em: <

https://dre.pt/pesquisa/-/search/256983/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


79 Portugal. Lei nº 10/13, de 25 de janeiro de 2013. Art. 2 n.º 1, Disponível em: <

https://dre.pt/pesquisa/-/search/256983/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


80 Portugal. Lei nº 10/13, de 25 de janeiro de 2013. Art. 11 n.º 1, Disponível em: <

https://dre.pt/pesquisa/-/search/256983/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


35

4 - Caso a sociedade tenha por objeto a prática de diversas modalidades, o


seu capital mínimo tem de ser igual ao mínimo exigível para a modalidade
praticada que requerer capital social mais elevado81.

Importante destacar a chamada “participação do clube fundador”. Em seu art.


23º, dispõe acerca do mínimo da participação direta do clube fundador na SAD82.
Dessa maneira, protege o clube com no mínimo dez por cento do capital social,
deixando com o clube fundador o direito de veto em determinados aspectos, e a
designação de membros da administração83.
De Lima demonstra a importância do referido artigo para a história do clube não
se perder diante da sua capitalização:

Entende-se que a finalidade desta norma é conferir ao clube fundador um


lugar especial na participação da SAD. Afinal, foi a partir do clube que nasceu
todo o historial e interesse que motiva as pessoas e as empresas a investirem
na SAD84.

Todavia, em contrapartida ao limite mínimo de participação do clube fundador,


está a possibilidade de constituição da SDUQ. Diferentemente da SAD, esse tipo de
sociedade, como falado anteriormente, conta com uma cota única e indivisível
pertencente única e exclusivamente ao clube fundador, sendo a mesma
intransmissível85.
Em relação aos lucros distribuídos, pode-se classificar como lucro objetivo,
“traduz-se na atividade económica orientada com vista à obtenção de proventos
económicos, ou seja, a simples produção de lucros” 86, e lucro subjetivo, “corresponde
á diferença entre o custo da atividade social e os resultados por ela gerados, com o

81 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Art. 7, Disponível em: < https://dre.pt/pesquisa/-
/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.
82 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Art. 23, Disponível em: < https://dre.pt/pesquisa/-

/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


83 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Art. 23, Disponível em: < https://dre.pt/pesquisa/-

/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


84 DE LIMA, João António Pais. A criação da figura da sociedade anónima desportiva. Que

inovações trouxe ao desporto profissional e que benefícios colheram os seus intervenientes.


2016. 98 f. Tese (Mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais) Universidade de Lisboa, Lisboa,
2016. Disponível em: <https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37500/1/ulfd137159_tese.pdf>. Acesso
em: 23 mai. 2020.
85 Portugal. Lei nº 01/90, de 13 de janeiro de 1990. Art. 11 n.º 1, e art. 14 n.º 1, Disponível em: <

https://dre.pt/pesquisa/-/search/333524/details/maximized>. Acesso em: 24 mai. 2020.


86 RODRIGUES, Diego Monteiro. O Regime Jurídico das Sociedades

Desportivas. 2018. 35 f. Artigo (Pós Graduação), Lisboa, 2018. Disponível em:


<http://formacao.comiteolimpicoportugal.pt/Publicacoes/COP_PFO_EDGD/Pos-
Graduacao_Reg%20jur%C3%ADdico%20das%20Soc%20Desportivas_Diogo%20M%20Rodrigues_2
019.pdf>. Acesso em: 24 mai. 2020.
36

intento de reverter para todos os sócios, mas só depois de satisfeitas todas as


obrigações legais” 87, conforme observa De Lima:

Em Portugal, é aceite que o lucro objectivo existe nas sociedades


desportivas, ou seja, há a intenção de produzir lucros com a actividade
prosseguida pela sociedade. O lucro subjectivo, consubstanciado na quota
de liquidação, não existe na sociedade desportiva. Portanto, podemos
concluir que “não assiste aos sócios um direito aos lucros, mas apenas se
permite que os mesmos possam ser distribuídos como lucros de
exercício”137, ou seja, o lucro objectivo coexiste com a ausência do lucro
subjectivo. Pretendem-se alcançar lucros, mas não se visa a repartição dos
mesmos pelos accionistas.88.

Apresentados os pontos de comparação de modelos de clube-empresa em


alguns países, se faz necessária a apresentação do modelo que se busca introduzir
no Brasil.

87 RODRIGUES, Diego Monteiro. O Regime Jurídico das Sociedades


Desportivas. 2018. 35 f. Artigo (Pós Graduação), Lisboa, 2018. Disponível em:
<http://formacao.comiteolimpicoportugal.pt/Publicacoes/COP_PFO_EDGD/Pos-
Graduacao_Reg%20jur%C3%ADdico%20das%20Soc%20Desportivas_Diogo%20M%20Rodrigues_2
019.pdf>. Acesso em: 24 mai. 2020.
88 DE LIMA, João António Pais. A criação da figura da sociedade anónima desportiva. Que

inovações trouxe ao desporto profissional e que benefícios colheram os seus intervenientes.


2016. 98 f. Tese (Mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais) Universidade de Lisboa, Lisboa,
2016. Disponível em: <https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37500/1/ulfd137159_tese.pdf>. Acesso
em: 23 mai. 2020.
37

4. MODELO PROPOSTO PELA PROJETO DE LEI 5.082/16

Mesmo com as modificações realizadas nas Leis Zico e Pelé, não surtindo os
efeitos com que foram planejadas, a ideia começou a ser posta em prática certos
clubes, que não deixaram o modelo associativo, mas entraram em sociedade com
grandes empresas, para a administração do futebol, como Palmeiras e Parmalat.
No atual momento, o Projeto de Lei 5.082/16 propõe a criação da SAF, tendo
esse seu capital aberto, de modo a poder negociar livremente as suas ações, podendo
vender a porcentagem que for desejada. Além disso, traz as proposições já realizadas
na Lei 6.404/76, como na responsabilidade dos acionistas ser limitada ao preço de
suas ações e a transformação da associação sem fins lucrativos em S.A89. Dessa
maneira, o modelo adotado não dissolve a associação, mas sim, passa a constituir
uma SAF e transfere a gestão do futebol.
Assim, parte dos clubes a capitalização por parte da formação da SAF, através
dos mecanismos oferecidos pela Bolsa de Valores. Trazendo a venda de ações na
Bolsa de Valores como uma possível fonte de recursos ainda inexplorada pelos clubes
de futebol, já que são constituídos como associações sem fins lucrativos.
Marvio Leoncini explica a transformação do modelo de gestão, juntamente com
sua inserção na bolsa de valores:

O lançamento de ações na Bolsa de Valores é apenas uma dentre as várias


maneiras que uma empresa tem para levantar dinheiro, e pode envolver a
emissão de novas ações e/ou a venda de ações existentes. No primeiro caso,
o resultado (dinheiro) das vendas vai para o clube como propostas de
investimento, e os acionistas existentes ainda não recebem nada. No
segundo, se ações existentes são vendidas, então os resultados da venda
irão diretamente para esses acionistas que estão vendendo as ações e
nenhum dinheiro irá para o clube90.

Ainda assim, necessária a conceituação do modelo jurídico utilizado pelo


Projeto de Lei 5.082/2016, esclarecendo seus elementos e funcionamento, constante
na legislação pátria.

89 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019
90 LEONCINI, Marvio Pereira. Entendendo o negócio futebol: um estudo sobre a transformação do

modelo de gestão estratégica nos clubes de futebol. 2001. 177 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Engenharia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde08122003-165621/publico/TESE.pdf. Acesso
em: 21/11/2019.
38

4.1 NATUREZA JURÍDICA DA EMPRESA

Após a caracterização das associações nos capítulos anteriores, se mostra


necessária a demonstração quando a natureza jurídica das empresas. Diferentemente
das associações que não visam lucro em nenhum momento, inclusive utilizando do
capital somente para a sua subsistência, as empresas surgem de um viés econômico,
com ideias relacionadas intrinsicamente a geração de capital e trabalho, para a
obtenção do objetivo final que é o lucro91.
Ulhoa Coelho esclarece acerca da definição e sua finalidade de empresa:

Conceitua-se empresa como sendo atividade, cuja marca essencial é a


obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens e serviços,
gerados estes mediante a organização dos fatores de produção (força de
trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia).
(...)
Atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou
serviços. Destacam-se da definição e profissionalismo, atividade econômica
organizada e produção ou circulação de bens ou serviços92.

Nesse contexto, o empresário e a sociedade empresária possuem


conceituações diferentes no plano jurídico. Quanto ao empresário, o Código Civil
conceitua:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços93.

A sociedade empresária se trata de uma união de esforços de duas ou mais


pessoas físicas, visando a junção de pressupostos para o exercício de uma atividade
comercial94.
Em relação as sociedades empresárias, está disposto no art. 981 do Código
Civil:

Art. 981. Celebram contratos de sociedade as pessoas que, reciprocamente,


se obrigam a contribuir com bens e serviços para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, de resultados95.

91 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2017.
92 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
93 BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 31 mai. 2020.


94 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017.


95 BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 31 mai. 2020.


39

Diante do exposto no diploma legal, evidente a diferenciação existente entre as


associações e as sociedades empresárias, enquanto uma em nenhum momento visa
a obtenção de lucro, na outra existe a obrigação da partilha de resultados entre seus
investidores.
Tomazette explica sobre as sociedades empresárias:

Nas sociedades, exerce-se uma atividade econômica, que gera resultados.


Nada mais lógico do que dividir esses resultados entre os sócios, entre todos
eles. Não é essencial que todo o resultado seja dividido entre os sócios, mas
é essencial que todos os sócios participem dos resultados96.

Além da característica econômica, outros dois atributos são de extrema


importância, como pressupostos fáticos para a existência da sociedade empresarial,
o affectio societatis e a pluralidade de sócios97. O affectio societatis nada mais é do
que o a vontade de união e cooperação entre os indivíduos, de maneira que estejam
com o mesmo pensamento levando a um objetivo comum, sem essa coalizão de ideais
não existe a possibilidade de existência98. A pluralidade de sócios é o que o próprio
nome diz, a existência de mais de um sócio dentro da empresa. Cabe salientar que o
pressuposto é consequência de legislação acerca da sociedade unipessoal no direito
pátrio99.
Dentro do estudo do direito empresarial, de acordo com Ulhoa, as sociedades
podem ser classificadas de acordo com a responsabilidade dos sócios pelas
obrigações sociais; quanto ao regime de constituição e dissolução; e a classificação
quanto às condições para alienação da participação societária100.
Relativa à classificação em virtude da responsabilidade dos sócios, essa pode
ser subdividida em sociedades ilimitadas, limitadas e mistas101. Sociedades ilimitadas
são aquelas em que não há limites na obrigação dos sócios quanto a empresa, se
pode encontrar esse modelo na sociedade em nome coletivo102; Sociedades limitadas

96 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2017.
97 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
98 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017.


99 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
100 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 141


101 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017..


102 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.
40

apresentam obrigações contidas ao valor de contribuição aportado pelo sócio, sendo


as suas representantes as sociedades anônimas e as sociedades limitadas e,
eventualmente, as cooperativas103; Já as sociedades mistas são uma convergência
das duas anteriores, na qual determinados sócios possuem responsabilidade ilimitada
e outros limitada, sociedades abrangidas por essa categoria são as comanditas,
simples e por ações104.
Acerca da responsabilidade dos sócios esclarece Ulhoa Coelho:
Ao ingressar numa sociedade empresária, qualquer que seja ela, o sócio
deve contribuir para o capital social. Se a sociedade está em constituição ou
se houve aumento do capital social com novas participações, o ingressante
subscreve uma parte. Ou seja, ele se compromete a pagar uma quantia
determinada para a sociedade, contribuindo, assim, com o capital social e
legitimando a sua pretensão à percepção de parcela dos lucros gerados pelos
negócios sociais. Poderá fazê-lo à vista ou a prazo. Na medida em que for
pagando o que ele se comprometeu a pagar, na subscrição, à sociedade, diz-
se que ele está integralizando a sua participação societária. Quando todos os
sócios já cumpriram com as respectivas obrigações de contribuir para a
formação da sociedade, o capital social estará totalmente integralizado105.

Em relação a forma de constituição e dissolução, distinção controvertida dentro


da doutrina106, de acordo com Ulhoa, ocorre a fragmentação em sociedades
contratuais e sociedades institucionais107. Sendo as sociedades contratuais aquelas
que possuem sua constituição através do contrato social e dissolução não podendo
ocorre somente através da vontade da maioria, podendo os sócios minoritários
seguirem com a sociedade. Enquanto as sociedades institucionais são as constituídas
por meio de um estatuto social e podem ser dissolvidas mediante a vontade da maioria
dos sócios108.
Como dito anteriormente, essa classificação não é majoritária na doutrina,
conforme afirma Tomazette:

Tal classificação é extremamente controvertida na doutrina, na medida em


que alguns autores não reconhecem em nenhuma sociedade o ato
institucional, afirmando a natureza contratual para todas as sociedades.

103 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2017..
104 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.
105 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011.
106 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. P. 371


107 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 146.


108 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 147.


41

Todavia, acreditamos que a razão está com aqueles que distinguem e


reconhecem, nas sociedades anônimas em as sociedades em comandita por
ações, um ato constitutivo não contratual, um ato institucional109.

Quanto as condições de alienação da participação societária, cabe salientar


que a participação em sociedades contratuais se dá por meio de cotas e de
sociedades institucionais, sendo tanto uma quanto a outra propriedades do sócio que
pode dispor da mesma do modo que melhor entender110. Assim, nas sociedades de
pessoas, as quais possuem ligação intrínseca com a indivíduo sócio, os demais
titulares possuem direito de oposição ante a entrada de “estranhos” 111. Enquanto as
sociedades de capital possuem a possibilidade de transações livres112.
A respeito do tema elucida Ulhoa Coelho:

É claro que não existe sociedade composta exclusivamente por “pessoas” ou


exclusivamente por “capital”. Toda sociedade surge da conjugação desses
dois elementos, ambos imprescindíveis. O que faz uma sociedade ser “de
pessoas” ou “de capital” é, na verdade, o direito de o sócio impedir o ingresso
de terceiro não sócio no quadro associativo existente nas de perfil
personalístico e ausente nas de perfil capitalístico113.

Em relação a sua personalidade jurídica, as empresas devem realizar o seu


registro perante a Junta Comercial, sob pena de serem consideradas “sociedades
irregulares”. Em se tratando dessa irregularidade, além de ilegitimidade ativa para o
pedido de falência e de recuperação judicial e ineficácia probatória dos livros
comerciais os sócios acabam por responder ilimitadamente perante as obrigações
sociais114.
Para o melhor entendimento acerca do Clube Empresa, se mostra de extrema
importância a apresentação de um estudo mais aprofundado acerca das sociedades
prevista no Projeto de Lei nº 5.082/16, que serão analisadas no tópico a seguir.

109 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2017.
110 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 148


111 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 148


112 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 148


113 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 149


114 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 151-152


42

4.2 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS PREVISTAS NO MODELO

Em seu artigo 2º, inciso I, o Projeto de Lei nº 5.082/16, prevê os quatro tipos
societários abrangidos pela lei, quais sejam: Sociedade em Nome Coletivo, Sociedade
em Comandita Simples, Sociedade Limitada e Sociedade Anônima.
A sociedade em nome coletivo está prevista nos artigos 1.039 a 1.044115. Esta
sociedade possui origem na idade média, normalmente se tratavam de negócios
familiares onde os filhos seguiam a atividade do pai116. Conforme afirma Tomazette,
sua principal característica é: “Vale ressaltar que sempre se mantém, como traço
característico, o elemento da confiança mútua, do companheirismo entre seus
membros, vale dizer, tratasse de uma sociedade de pessoas.”117. Em relação a
responsabilidade de seus sócios, todos respondem de forma ilimitada perante suas
obrigações, bem como qualquer um dos sócios pode exercer função de administrador
e ter seu nome aproveitado na nomeação da empresa118. Dado o fato de que é uma
sociedade personalista119, no momento em que ocorre o falecimento do sócio, caso
não haja previsão contratual, a quota do falecido deve ser liquidada para que o
sucessor tenha direito de ingressar na sociedade.
Em se tratando da sociedade em comandita simples, a mesma esta prevista
nos artigos 1.045 a 1.051 do Código Civil120. Esse tipo de sociedade é extremamente
característica, pois conta com dois sócios, o sócio comanditário e o sócio
comanditado121. Sua origem esta ligada ao comércio marítimo realizado no
Mediterrâneo, nos séculos X-XI. Assim como a sociedade em nome coletivo, esta
também possui uma característica personalista, já que é uma sociedade de pessoas,
pois os sócios comanditados possuem responsabilidade ilimitada e a gestão da

115 BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 08 jun. 2020.
116 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. p.431.


117 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. p.432.


118 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 175.


119 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. p.432.


120 BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 08 jun. 2020.


121 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 176.


43

empresa está interligada estritamente com os integrantes122. Quanto aos sócios, o


sócio comanditário, pode ser tanto pessoa jurídica como pessoa física, está sujeito a
restrições como: “Não poderão praticar atos de gestão da sociedade, para se evitar a
possibilidade de, agindo em nome dela, serem tomados por administradores e sócio
de responsabilidade ilimitada.” 123. Enquanto o sócio comanditado é aquele que exerce
a atividade e gestão da sociedade, de maneira que assume uma responsabilidade
subsidiária, solidária e ilimitada pelas obrigações sociais124.

As sociedades limitadas estão disciplinadas no Código Civil nos artigos 1.052


até 1.087125. Esse tipo societário é amplamente difundido no Brasil já que possui duas
características básicas que acabam atraindo maiores aderentes, quais sejam: A
responsabilidade dos sócios, intrínseca ao capital total da empresa; e contratualidade,
possibilitando o pacto dos sócios em como se dará a relação dos mesmos126. De
acordo com a sua classificação, as sociedades limitadas podem ser apresentadas
como hibridas, pois contem traços de sociedades personalistas e sociedades
capitalistas, pois os sócios podem optar pela utilização supletiva das regras dadas as
sociedades simples ou pelas normas das sociedades anônima; além disso os sócios
possuem liberdade para deliberar acerca da cessão de cotas, bem como prever a
exclusão de sócio em caos de quebra do affectio societatis e a extinção da sociedade
em virtude de falecimento de sócio, ou continuação através dos herdeiros127.
Conforme dito anteriormente, as sociedades limitadas possuem a limitação da
obrigação dos seus sócios, que em caso da empresa possuir capital totalmente
integralizado, os bens do sócios não é afetado.
A respeito disso esclarece Ulhoa:

Em suma, se o contrato social estabelece que o capital está totalmente


integralizado, os sócios não têm nenhuma responsabilidade pelas obrigações

122 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2017. p.439..
123 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 176.


124 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. p.437.


125 BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 08 jun. 2020.


126 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 180.


127 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. p.447..


44

sociais. Falindo a sociedade, e sendo insuficiente o patrimônio social para


liquidação do passivo, a perda será suportada pelos credores128.

Todavia, existem casos os quais comportam exceções quanto a


responsabilidade dos sócios: Em casos em que sócios deliberarem acerca de
dispositivos contrários aos dispostos no contrato social e em lei, responderam de
forma ilimitada em face das obrigações relacionadas a tal; em casos de sociedade
marital; julgamento de reclamatórias na Justiça do Trabalho; ou se ocorrer fraude aos
credores129.
Em se tratando da administração da sociedade limitada, esta pode ser feito por
um sócio ou membro estranho ao quadro social, devendo ser nomeado no contrato
social ou em ato em separado130. Dessa maneira, havendo um administrador
profissional, ele exerce as funções necessárias para o alcance do objeto social, bem
como possuem poder de representar a sociedade131. Em caso de dano causado a
empresa, o administrador responde pessoalmente, em caso que agir com culpa ou
em desacordo com deveres de diligência e lealdade132.
As sociedades anônimas estão classificadas no direito empresarial como
sociedades de capital, possuindo como título de participação societária chamado de
ações133, as quais serão o limite de suas obrigações junto a sociedade134. Dessa
maneira, se classifica esta como uma sociedade de capitais, pois, conforme acima
referido, possuem ações que são de libre comércio, sendo fixado o número de ações
em estatuto, não dando importância para a pessoa do sócio135. Nesse caso, a grande

128 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. P. 184.
129 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 186.


130 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 190.


131 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. P. 464.


132 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. P. 464.


133 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 211


134 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial. 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense;

São Paulo: MÉTODO, 2017. P. 378.


135 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial. 7. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense;

São Paulo: MÉTODO, 2017. P. 377.


45

participação do sócio consiste na contribuição em dinheiro, não importando quais são


as habilidades trazidas pela mesma136.
Acerca do modelo acionário adotado pelas sociedades anônimas, elucida
Ulhoa Coelho:

O capital social deste tipo societário é fracionado em unidades representadas


por ações. Os seus sócios, por isso, são chamados de acionistas, e eles
respondem pelas obrigações sociais até o limite do que falta para a
integralização das ações de que sejam titulares. Ou dizendo o mesmo com
as expressões usadas pelo legislador: o acionista responde pelo preço de
emissão das ações que subscrever ou adquirir (LSA, art. 1º). Preço de
emissão, registre-se, não se confunde com o valor nominal ou de
negociação137.

As sociedades anônimas são divididas em abertas e fechadas, sendo as


sociedades abertas aquelas que possuem autorização para negociar seus valores
mobiliários em mercado de capitais, enquanto as fechadas são as que não possuem
esta autorização138.
Os chamados valores mobiliários se tratam de uma fração do capital social ,
podendo ser emitidos os títulos de ações, debêntures, bônus de subscrição, cupons,
direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento de correntes de tais
títulos, os certificados de depósito de valores mobiliários, cédulas de debêntures,
cotas de fundos de investimento, os “comercial papers”, os contratos de investimento
coletivo e os contratos derivativos139.
No caso específico das ações, estas proporcionam ao seu titular direitos e
deveres em relação a mesma, que estão intrínsecos a sua espécie, classe e forma140.
Em relação a sua espécie, as ações podem ser classificadas como ordinária, títulos
obrigatórios que decorrem do simples direito do sócio da sociedade, não necessitando
de previsão estatutária; preferenciais, concedendo direitos diferenciados aos titulares,
como a prioridade na distribuição de dividendos ou no reembolso do capital; e de

136 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2017.
137 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 212


138 BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 4º Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 04 jul. 2020.


139 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. P.523


140 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 212


46

fruição, são ações que foram totalmente amortizadas, estando o titular sujeito as
restrições e direitos das ações anteriores141.
Necessitando de investimento, as sociedades anônimas possuem a chance de
comercializarem os títulos supramencionados. O investimento pode ocorrer através
do mercado financeira, onde ocorre um empréstimo junto aos bancos, e no mercado
de valores mobiliários, em que as transações são realizadas com o chamado “público
investidor” 142.
A sociedade anônima e constituída por seus órgãos sociais, podem ser
designados outros no estatuto, mas os principais são: a assembleia geral, o conselho
de administração, a diretoria e o conselho fiscal.
O órgão mais importante é a assembleia geral, pois a mesma é composta por
todos os acionistas da sociedade, com ou sem direito a voto143. Sendo estabelecido
por lei, a obrigatoriedade de nos quatro primeiros meses do ano a ocorrência de uma
assembleia-geral ordinária para: tomar as contas dos administradores, examinar,
discutir e votar as demonstrações financeiras; deliberar sobre a destinação do lucro
líquido do exercício e a distribuição de dividendos; eleger os administradores e os
membros do conselho fiscal, quando for o caso; aprovar a correção da expressão
monetária do capital social144. Ademais, suas competências privativas elencadas pelo
art.142 da Lei 6.404, quais sejam: fixar a orientação geral dos negócios da companhia;
eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observado o
que a respeito dispuser o estatuto; fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a
qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre
contratos celebrados ou em via de celebração, e quaisquer outros atos; convocar a
assembléia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do artigo 132; manifestar-se
sobre o relatório da administração e as contas da diretoria; manifestar-se previamente
sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir; deliberar, quando
autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição;
autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo não

141 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. P. 225-226
142 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. P.524


143 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 225-226


144 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 132. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019


47

circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de


terceiros; escolher e destituir os auditores independentes, se houver145.
O conselho de administração consiste em órgão facultativo, segundo a própria
lei, exceto em sociedades anônimas de capital aberto, nas de capital autorizado e nas
de economia mista146. O presente órgão consiste em um colegiado de caráter
deliberativo, atuando como representante da assembleia-geral, de modo realizar as
tomadas de decisão147.
Diferentemente do conselho administrativo, o conselho fiscal é obrigatório,
deixando a definição do estatuto questões relacionadas ao funcionamento, de modo
continuo ou somente nos exercícios sociais em que for instaurado mediante pedido
de acionistas. Em caso de funcionamento não contínuo, o órgão será instaurado
mediante pedido a assembleia-geral de, pelo menos, 10% dos acionistas com direito
a voto ou 5% das ações que não possuem direito a voto148. Ademais a lei estabelece
como competência privativa do conselho fiscal as seguintes incumbências:

Art. 163. Compete ao conselho fiscal:


I - fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e
verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;
II - opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu
parecer as informações complementares que julgar necessárias ou úteis à
deliberação da assembléia-geral;
III - opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a serem
submetidas à assembléia-geral, relativas a modificação do capital social,
emissão de debêntures ou bônus de subscrição, planos de investimento ou
orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação,
incorporação, fusão ou cisão;
IV - denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de administração
e, se estes não tomarem as providências necessárias para a proteção dos
interesses da companhia, à assembléia-geral, os erros, fraudes ou crimes
que descobrirem, e sugerir providências úteis à companhia;
V - convocar a assembléia-geral ordinária, se os órgãos da administração
retardarem por mais de 1 (um) mês essa convocação, e a extraordinária,
sempre que ocorrerem motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das
assembléias as matérias que considerarem necessárias;
VI - analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações
financeiras elaboradas periodicamente pela companhia;
VII - examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre elas
opinar;

145 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 142. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019
146 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 138. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019.


147 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 233.


148 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 138. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019.


48

VIII - exercer essas atribuições, durante a liquidação, tendo em vista as


disposições especiais que a regulam149.

Fica a cargo da diretoria a execução as definições exauridas pela assembleia


geral e pelo conselho administrativo, atuando também como representante legal da
empresa150. De acordo com a legislação, o estatuto ainda deve prever os seguintes
em relação a diretoria: número de membros, nunca inferior a dois, ou o mínimo e
máximo permitidos; duração do mandato, não superior a 3 anos; modo de substituição
dos diretores; atribuições e poderes de cada diretor151.
Após apresentação acerca da Sociedade Anônima, indispensável a
apresentação a cerca das peculiaridades trazidas pela Sociedade Anônima do
Futebol, tema foco do presente trabalho.

4.3 CLUBE EMPRESA

A discussão acerca do clube empresa se inicia por iniciativa do Deputado


Otávio Leite, quando da apresentação do projeto inicial perante o Congresso Nacional
no ano de 2016. Todavia, passados quatro anos sem movimentação, o relator
Deputado Pedro Paulo apresentou um texto substitutivo ao primeiro projeto de lei que
foi aprovado e encaminhado para o Senado Federal152.
No seu texto inicial, o projeto de lei apresentava a criação de uma sociedade
anônima do futebol (SAD). Sendo essa sociedade regida pelas normas constantes na
mesma lei, mas, em maneira complementar, se aplicando o disposto na Lei da S.A,
Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976153. Conforme dito anteriormente, visando uma
aceleração do processo de tramitação da lei, o texto substitutivo apresentado prevê a
possibilidade de instituição do clube empresa em quatro modelos: Sociedade em
Nome Coletivo, Sociedade em Comandita Simples, Sociedade Limitada e Sociedade

149 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 163. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019.
150 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P. 234.


151 BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 161. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 20/11/2019.


152Câmara dos deputados. Câmara aprova permissão para clube de futebol se transformar em

empresa, 2019. Disponível em: < https://www.camara.leg.br/noticias/619112-camara-aprova-


permissao-para-clube-de-futebol-se-transformar-em-empresa/>. Acesso em: 11 jun. 2020.
153BRASIL. Projeto de Lei 5.082, de 24 de abril de 2019. Art. 1º ao 6º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1452633&filename=PL+50
82/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
49

Anônima154. Dessa maneira, aponta como faculdade a transição do clube associativo


para clube empresa, que em caso de transição terá que cumprir as seguintes medidas.

Art. 2º É facultado às entidades de prática


desportivas profissionais de futebol:
I - constituírem-se regularmente em sociedade empresária, segundo um dos
tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil);
II – quando adotarem a forma de associação, serem:
a) transformadas em sociedades empresárias, segundo um dos tipos
referidos no inciso I do caput deste artigo;
b) cindidas, vertido total ou parcialmente seu patrimônio para sociedades
empresárias, segundo um dos tipos referidos no inciso I do caput deste artigo;
c) incorporadas por sociedades empresárias, segundo um dos tipos referidos
no inciso I do caput deste artigo; ou
d) fundidas com sociedades empresárias, de modo que, ao final da fusão,
remanesça sociedade empresária que adote um dos tipos referidos no inciso
I do caput deste artigo155.

Apesar de não realizar um uso amplo da Lei nº 6.404/76, em seu artigo 3º, o
projeto de lei exige a adequação dos regimes de informação previstos na lei
mencionada anteriormente e na Lei 9.615/98, bem como deve divulgar as seguintes
informações: informações relevantes sobre as atividades desenvolvidas, as estruturas
de controle, os fatores de risco, os dados econômico-financeiros, os comentários dos
administradores sobre o desempenho e as políticas e práticas de governança
interna156. Como forma de trazer mais transparência para o exercício das atividades,
impõe a divulgação, independente do modelo de sociedade, a divulgação por meio
eletrônico de forma pública informações como: a composição do capital,
especificadamente; informação acerca de alterações no quadro social,
especificadamente; e informação quando houver uma pessoa ou grupo que
represente o mesmo interesse ultrapassar, para mais ou para menos, porcentagens
acima de 5% de mesmas ações157. Ademais, como outra maneira de dar mais

154BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 1º. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
155BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 2º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
156BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 3º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
157BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 3º, §1º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
50

credibilidade para a instituição, ordena a criação de um canal utilizado para que seja
efetuada qualquer tipo de denúncia acerca de possíveis ilegalidades158.
Ainda se amparando em artifícios criados pela Lei nº 6.404/76, novamente
independentemente da espécie de sociedade, casos de responsabilidade de prejuízos
ao patrimônio do clube será regido pela lei supracitada. Acerca da responsabilidade
do administrador na Lei da S.A, esclarece Tomazette:

Dentro da responsabilidade civil dos administradores das sociedades


anônimas, pode-se afirmar que vige no Brasil a business judgmentrule (Lei nº
6.404/76-art. 159, §6º), isto é, “as decisões ou julgamentos dos negócios
honestos e tomados de boa-fé e com base em investigações razoáveis não
serão questionáveis judicialmente, ainda que a decisão seja enganada, infeliz
ou até mesmo desastrosa”. Em outras palavras, não caberá ao Poder
Judiciário analisar a correção ou não das decisões tomadas pelos
administradores, mas apenas se eles tiverem o cuidado necessário na
tomada da decisão, agindo dentro de seus poderes e com fundamentos
razoáveis para sua decisão. O administrador estará isento de
responsabilidade se agir corretamente na condução dos negócios, ainda que
o resultado seja desastroso para a companhia. A nosso ver, o ônus da prova
dessa correção será do administrador159.

Uma das inovações trazidas pela lei seria a criação de uma tributação única
para os clubes aderentes ao modelo, o Simples-Fut160. Nesse caso, os clubes
efetuariam o pagamento de mensal do valor equivalente a 5% da sua receita mensal,
sendo esse imposto único correspondente a: pagamento mensal unificado do Imposto
sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins)
e da Contribuição para o Programa de Integração Social e o Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público (Contribuição para o PIS/Pasep) 161. Ademais, no
parágrafo quinto do artigo 7º, a lei prevê a dedução no imposto de gastos referentes
determinados projetos:

§ 5º A sociedade empresária optante pelo Simples-Fut poderá deduzir do


pagamento unificado de que trata o caput deste artigo os gastos com:

158BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 3º, §2º. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
159TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2017. P.701


160BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 5º e 6º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
161BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 7º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
51

I - custeio de projetos desportivos em prol do desenvolvimento da educação


por meio do esporte, e do esporte por meio da educação, destinados a
promover a inclusão social, preferencialmente em comunidades vulneráveis,
até o limite de 10% (dez por cento) do pagamento unificado, que atendam,
especialmente, aos seguintes objetivos:
a) incentivo à assiduidade de crianças e jovens matriculados em escolas
públicas;
b) incentivo ao envolvimento e interesse dos alunos nas atividades
educacionais promovidas pela escola; e
c) formação de jovens atletas do futebol; e
II - manutenção de investimento na formação de atletas de futebol feminino,
até o limite de 10% (dez por cento) do pagamento unificado162.

Outro benefício trazido pela lei é o regime especial para a quitação dos débitos
das entidades desportivas de dívidas referentes à tributos ou não, no qual há quatro
modalidades de pagamento. A primeira opção se trata de um pagamento em parcela
única com a redução de noventa e cinco por cento em relação a multas, sessenta e
cinco dos juros de mora e cem por cento de encargos legais; a segunda em três
parcelas mensais com a redução de noventa e quatro por cento em relação a multas,
sessenta e quatro por cento dos juros de mora e cem por cento de encargos legais; a
terceira em seis parcelas mensais com a redução de noventa e dois inteiros e
cinquenta centésimos por cento em relação a multas, sessenta e dois inteiros e
cinquenta centésimos por cento dos juros de mora e cem por cento de encargos
legais; e em doze parcelas mensais com a redução de noventa por cento em relação
a multas, sessenta por cento dos juros de mora e cem por cento de encargos legais163.
Ademais, existe a previsão acerca das dívidas relacionadas especificamente com a
União:

Art. 20. A dívida objeto do parcelamento será consolidada, no âmbito de cada


órgão responsável pela cobrança, na data do pedido e deverá ser paga em
até 60 (sessenta) parcelas mensais, com redução de 70% (setenta por cento)
das multas, de 40% (quarenta por cento) dos juros e de 100% (cem por cento)
dos encargos legais, inclusive honorários advocatícios164.

162BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 7º, §5º. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
163BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 12. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
164BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 20. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
52

Para regulamentação da recuperação judicial, extrajudicial ou falência, o


Projeto de Lei se utiliza dos artifícios criados pela Lei nº 11.101/05. Acerca da referida
Lei, esclarece Tomazette:

Esta Lei veio para substituir a antiga legislação brasileira sobre as empresas
em crise, alterando a orientação predominante para a busca da recuperação
das empresas ao invés da buscada a sua liquidação. Nesta legislação, há
disposições gerais aplicáveis aos três institutos, disposições comuns à
falência e à recuperação judicial e disposições específicas para cada um
deles. Dentro dessa organização, vale apena destacar, inicialmente, as
disposições gerais da Lei nº 11.101/2005165.

Todavia, existem peculiaridades em que os clubes empresa acabam se


beneficiando. Dentre elas, a dispensa de comprovação de exercício a mais de dois
anos166. Ademais, outro ponto característico trazido pelo Projeto de Lei é a
inaplicabilidade do art. 69 da Lei nº 11.101/05167. Tendo em vista se tratar de um artigo
que busca a publicidade da situação passada pela empresa168, este acaba sendo
suprimido.

165TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Falência e recuperação de empresa, v. 3. 5.


ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 46.
166BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 27, §1º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
167BRASIL. Projeto de Lei 5.082-A, de 24 de abril de 2019. Art. 27, §3º. Disponível em: <

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1840430&filename=REDA
CAO+FINAL+-+PL+5082/2016>. Acesso em: 13 jun. 2020.
168VACÇÃO DA SILVA CARVALHO, Luiz Eduardo Comentários à Lei 11.101/05: recuperação

empresarial e falência, Curitiba: OABPR, 2017. p. 155.


53

5 CONCLUSÃO

Evidente o avanço do futebol desde sua chegada no país até o momento atual,
principalmente nos últimos vinte anos. Em face disso, foi necessária a criação de
mecanismos que pudesse controlar as movimentações milionárias efetuadas pelos
clubes de futebol, de forma a trazer credibilidade, visando o aumento das dívidas
acumuladas, para um mercado extremamente delicado como é o esporte. Através
disso, trazendo uma facilitação de controle e fiscalização por parte do governo, de
modo a gerar repercussões das ações realizadas por gerentes e gestões mal
executadas.
Foram diversas as tentativas realizadas pelos legisladores visando a
implantação de um modelo facilitador. Todavia, sempre houveram excessos nas
tentativas. Legislações são diferentes de país para país e simplesmente implementar,
como tentou a Lei Pelé, a transformação dos clubes em empresas, como os clubes
são geridos desde sempre na Inglaterra, não era solução. Fica latente a tentativa de
somente pegar um modelo sem adaptar as necessidades, pois a própria lei atentava
a autonomia desportiva disposta na Constituição pátria.
Após anos sem legislação acerca do tema, somada a dívidas acumuladas pelos
clubes, sem nenhuma perspectiva de pagamento, e inabilidade de manter elencos
expressivos, se mostrou necessária uma nova tentativa de modernizar o futebol
nacional. Diante disso, foi apresentado um modelo que se adaptasse as necessidades
do futebol nacional. O primeiro texto do Projeto de Lei demonstrou seguir no mesmo
caminho das legislações anteriores, pois trazia um modelo extremamente parecido
com a SAD portuguesa, trazendo certas especificidades acerca de regime tributário,
direitos de preferência, veto e etc.
A evolução normativa, ou a não evolução, em outros países se mostra
extremamente típica. Dos sistemas analisados o único que não apresenta evolução é
o da Inglaterra. Esse que é o grande empurrão para os outros países, sempre existiu
do modo que é até hoje. A evolução no modo de tratar o futebol em inglês foi a
glamorização, com a consequente entrada de capital estrangeiro que foi o real motor
para se tornar o que é atualmente.
A situação brasileira acaba sendo uma soma de outros dois modelos
apresentados, o da Colômbia e de Portugal. O Brasil, atualmente, vive uma crise de
credibilidade, onde não é possível afirmar que com investimentos grandes serão

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