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O capítulo em questão, inserido no livro ``Condição Pós-moderna´´, foi escrito por David
Harvey, um acadêmico de geografia ainda vivo, e com sua primeira publicação em 1989. Com
um viés marxista, o autor se dedicou a trabalhar as transformações espaciais causadas pelo
capitalismo no espaço em geral, mas, que no livro em questão focaliza em tentar estudar essa
turbulenta fase do pós-modernismo, sendo o capítulo em questão uma análise quanto as
implicações históricas-sociais no conceito tempo-espaço
Quanto à época escrita, pode-se apontar diversos fatores para esclarecer esse refluxo ante os
acontecimentos no momento. Desde a retirada soviética do Afeganistão, passando por
movimentos sociais, como a primavera de praga, chegando até a queda do muro de Berlim,
1989 culminava o acúmulo de tensões criadas até aqui principalmente em decorrência da
guerra fria, que colocava o capitalismo também em foco.
David Harvey atua como um maestro ao, de certo modo, organizar seus conhecimentos de
forma a analisar como a pós-modernidade, ou contemporaneidade, passaria a interferir, com
seu modo capitalista, agora hegemônico, na construção, ou percepção, espacial. Assim sendo,
o geografo, que, no início da sua carreira adotava uma vertente mais quantitativa e passa para
algo mais crítico, é um dos maiores teóricos quando discutido a Ideia de espaço-tempo,
principalmente no cenário atual, com o avanço das tecnologias e a cristalização da
globalização, dinamizando cada vez mais as relações no cenário global.
Dessa maneira, aborda como a evolução social história, e consigo, as linhas de pensamento,
implicaram na construção da forma de ver e perceber o mundo. Pontuando mudanças enorme
nessa concepção espaço-temporais desde o imaginário feudal até o capitalismo predatório
pós-moderno, passando também por cenários renascentistas e modernistas, mas dando
ênfase na pavimentação da visão iluminista e no impacto causado por ela.
Quando ao texto, a priori, o autor pincela conceitos que serão consolidados com o seu
decorrer, como o modo no qual a percepção do espaço e do tempo interfere, de maneira
direta, nas vivencias pessoas. Ainda nisso, aponta a interferência que o capitalismo teve na
transformação dessa análise, principalmente por, pelo seu modo de produção, ditar um ritmo
cada vez mais veloz àquele previamente experimentado.
Não obstante, como a forma que sentimos o espaço e o tempo ao nosso redor interferem no
consolidado da sociedade em geral, a cristalização do fenômeno da globalização também
reverbera nas dinâmicas sociais, visto a redução de distancias e a sensação volátil do tempo.
Dito isso, o autor explica que sua argumentação terá uma base histórica, que tentara pontuar
o modo iluminista de enxergar esse conceito espaço-tempo.
Consequentemente, cria-se a noção técnica tanto do espaço que deveria ser finito, quanto de
cronometrar o tempo, dois invólucros que tangenciam e, por serem limitados, contribuíram
para a consolidação da questão religiosa como conceito infinito divino. No entanto, destaca-se
o contraste entre as concepções finitas do espaço e do tempo, sendo esse último renegado
pela igreja quando discutido cientificamente, colaborando para o rompimento entre esses
conceitos na época renascentistas.
Assim sendo, o autor toma a construção de mapas para demonstrar esses contornos técnicos
que foram adotados, e que, no período analisado, foram de importância ímpar na sociedade,
tanto na questão da viagem marítima quanto da consolidação da propriedade privada. Além
disso, destaca-se o mapa ptolemaico, que aglutinava todo o saber geográfico em um após
adotar um sistema de referência para mostras as ligações espaciais, transfonado o globo em
uma totalidade apreensível e favorecendo a racionalização ao utilizar da matemática para sua
confecção.
Por tal, assume-se, uma vez que o espaço pode ser reproduzido fielmente, ele também pode
ser conquistado e recortado, mudando toda a forma social para trejeitos técnicos de
apoderamento. Por conseguinte, David indica a ponte entre tais reverberações nas relações
sociais daquela época turbulenta, como na arquitetura e urbanismo, ou mais profundo, em
questão estatais, como a promoção da democracia parlamentar inglesa ou a centralização
francesa.
Ao adentrar no período iluminista, o autor pontua os reflexos renascentista nessa nova visão,
um preludio da construção moderna mais a frente. Nessa concepção, o espaço era visto como
algo passível de conquista e, a partir de sua transformação racional, seria a chave para a
emancipação do indivíduo, rompendo com a temática renascentista da conquista da natureza
com um viés divino. A partir desse domínio, o desenvolvimento do racionalismo em conjunto
com a modernização do capitalismo convergia para uma melhora na qualidade de vida social,
baseando-se no conceito espaço-tempo para tentar regular suas vidas, transformando mapas
e cronômetros em objetos indispensáveis.
A construção cartográfica se tornava cada vez mais técnica e fiel, utilizando de conceitos
matemáticos e racionais para se aprimorar, como foi feito na grade de Ptolomeu, que pôde
apresentar a representação de todos os lugares em um mesmo sistema, contribuindo para a
crença do uso da matemática como saída para a organização social. Contudo, percebendo-se
dentre diversos outros povos, acabou criando uma relação etnocentrista nessa relação, e,
como pontuado pelo autor, generalizante ante os demais, homogeneizando-os ante a
caracterização de ´´outro ´´.
David Harvey apresenta a entrada ao modernismo desses conceitos como uma ruptura
àquelas absoltas no iluminismo, mas discursa, pontuando, sobre as diferenças graduais entre
ambas as visões. Ele inicia apresentando a crítica quanto visão homogeneizadora que as
representações gráficas dos espaços acabavam tendo perante sua rigorosidade técnica de
produção, contrastando, por exemplo, mapa medieval e suas representações sensíveis. Ainda
nisso, o autor apresenta a também critica a esse sistema totalizador iluminista, que impelia o
livre fluxo racional com conceitos absolutos, fazendo uma breve relação a tese de Foucault
quanto a repressão imposta por esses modos racionais.
A abordagem social feita pelo autor quanto sendo reflexo da disposição espacial é discorrida
no fim de sua argumentação, quase como um preludio da conclusão. Portanto, o autor aponta
a dominação espacial somente sendo possível se o tornar subjetivo, algo realizado pelo
perspectivismo ao abstrair o espaço em prol de seu recorte. Então, usa-se da linguagem
matemática como intercambio entre os mundos real e representativo, ou vice e versa, como
feito por construtores ao realizar uma obra. Logo, utiliza-se desse caminho racional para
coordenar o espaço, como o capitalismo dobra o espaço a fim de produzir lucro, ou o Estado
na procura de consolidar um território. Contudo, foi somente na ascensão da prática de
propriedades privadas que o espaço realmente se tornou algo homogêneo e abrangente.
Sendo o primeiro já referente à forma que essa pulverização ocorreria, já que, como
sustentado por Foucault, a disposição espacial tem reflexos diretos na organização social, o
que exige ao menos regras para essas divisões antes os diversos propósitos a parti delas, coo
exemplificado pelo autor ao citar o mapeamento da França, embora um tenha sentido de
promover uma descentralização do poder enquanto o outro o contrário. O segundo dilema é a
ligação entre o espaço e questões econômicas, quanto a lucratividade abstraída, e políticas,
referente a democratização social. A próxima questão sustenta a inviabilidade de uma política
social desacoplada de um viés também social, que sustente seu objetivo e não o deixe cair em
uma relação social capitalizada. A quarta problemática é o atrito entre a homogeneização do
espaço, sistematizando-o, e a inviabilidade de abstrair um reconhecimento pessoal nele,
torná-lo um lugar a si. E, por fim, a última questão liga-se a necessidade de se produzir um
espaço para, somente assim, conquistá-lo, deixando, portanto, à mercê das ferozes
intervenções do capitalismo na paisagem.