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Guerra Civil Americana

A Guerra Civil Americana, travada entre as regiões Sul e Norte do país, foi a mais mortífera da
história dos EUA.

O que foi a Guerra Civil Americana?

A Guerra Civil Americana, ou Guerra de Secessão, foi um conflito armado travado


entre os estados do Sul e do Norte dos Estados Unidos. O conflito começou em
12 de abril de 1861 e só teve fim em 22 de junho de 1865. A guerra aconteceu
após o clima de tensão gerado pelas eleições de 1860, que elegeram o presidente
Abraham Lincoln – representante do Norte. Mas por que havia essa tensão entre
as duas regiões do país?

Polarização: Norte vs. Sul


Com a Independência das Treze Colônias, em 1776, as colônias converteram-se em estados independentes, mas unidos em
uma Federação, com representação política republicana e presidencialista. Os estados na região Norte concentraram-se no
desenvolvimento da indústria e, para tanto, necessitavam de mão de obra livre e assalariada que operasse o trabalho dentro
das fábricas. A formação do operariado e da burguesia industrial no Norte produziu também uma forma específica de se
encarar a atividade política e os direitos civis.

Os estados do Sul, ao contrário, tiveram um desenvolvimento agrário baseado na grande propriedade e no modelo da
plantation, isto é, grandes propriedades rurais que praticavam a monocultura (cultivo de uma ou poucas espécies de planta
para o mercado) do algodão. O modelo da plantation valia-se da mão de obra escrava negra, já que, além de não ter o custo
do trabalho assalariado, o tráfico transatlântico de escravos também gerava bastante lucro.

Apesar de os dois modelos seguirem caminhos opostos, eles se complementavam ao menos em um ponto: as indústrias
têxteis (que fabricavam tecido) do Norte necessitavam do algodão do Sul, que, por sua vez, voltava para o Sul na forma de
produto, como roupas. Apesar de tal complementaridade econômica, incomodava às lideranças do Norte (que possuíam
uma perspectiva política voltada para as liberdades individuais, para o direito à pequena propriedade etc.) a existência do
regime escravista nos estados do Sul. Não era compreensível que um país, uma República Federativa, fosse unido
politicamente por duas perspectivas completamente antagônicas.

Os estados do Sul, por sua vez, também não viam com bons olhos o modelo nortista, que a cada ano se impunha como o
mais eficaz (a população do Norte era bem superior e mais desenvolvida que a do Sul). Os sulistas, ainda no ano das
eleições (1860), já falavam em secessão, isto é, em separação entre as duas regiões e na criação de outro país, os Estados
Confederados da América, em oposição ao Norte.

Em dezembro de 1860, os sulistas conceberam uma nova Constituição e oficializaram os Estados Confederados, elegendo
como presidente Jefferson Davis, do Mississippi, e como capital a cidade de Montgomery, no Alabama.

Desenvolvimento do conflito
Com a secessão e a formação dos Estados Confederados, o conflito tornou-se inevitável. Lincoln, como presidente da
União, isto é, dos Estados Unidos como um todo, não reconheceu a independência dos estados sulistas e optou pela
reincorporação deles. O exército da União era mais numeroso e organizado, mas o Sul contava com militares experientes
que saíram da União e tornaram-se fiéis aos Confederados. Foi o caso do general Robert E. Lee, veterano na guerra contra o
México.
O general Lee foi o principal comandante dos sulistas na Guerra Civil. Ele possuía um conhecimento estratégico que poucos
tinham àquela altura e que dava vantagem ao Sul. Entretanto, Lincoln tinha a seu favor a tecnologia. Duas armas
tecnológicas foram decisivas para o Norte: o telégrafo e a locomotiva a vapor.

Por meio do telégrafo, Lincoln e seus generais podiam integrar, em questão de minutos, as informações dispersas sobre a
movimentação das tropas sulistas. Se isso fosse feito por mensageiros a cavalo, o tempo seria de sete dias. As locomotivas
a vapor, em vez de transportarem mercadorias, serviram para transportar soldados, armas e munição do Norte para o Sul.
Em questão de horas, os exércitos da União eram abastecidos no Norte, fato que demoraria semanas se fosse feito a pé.

O confronto em campo aberto era terrível. A Guerra Civil Americana, ao lado da Guerra do Paraguai, foi uma das mais
sangrentas guerras já travadas no continente americano. Tantos os soldados do Sul quanto os do Norte usavam em seus
rifles as balas minié, um tipo de bala capaz de estraçalhar facilmente braços e pernas e esmigalhar os ossos do corpo
humano. O rifle, por sua vez, tinha que ser recarregado após cada disparo. O recarregamento era feito manualmente,
colocando-se pólvora no cano e depois a bala, que era pilada com uma vareta. Em uma única batalha morriam de 10 a 30
mil homens, como diz o historiador Leandro Karnal:

As batalhas tornaram-se verdadeiros palcos de horror. Numa delas, os nortistas, com cerca de 30 mil
homens a mais que os sulistas, obrigaram o general Lee a se refugir na Virgínia e cerca de 12 mil
homens morreram em cada um dos lados dos conflitos. Em outra, os confederados lançaram-se
com mais de 150 mil homens contra as trincheiras da União próximas a Gettysbury, na Pensilvânia.
Os confederados acabaram dizimados pelas tropas federais e cerca de mil soldados sulistas
morreram nesse conflito. [1]

Uma das estratégias mais importantes elaboradas por Lincoln para vencer a guerra foi a aprovação da chamada Lei de
Terras, em 1862, também conhecida como Homestead Act. Essa lei autorizava novos colonos a ocuparem as terras do
Oeste americano, ainda pouco povoado, e a adotarem o modelo da pequena propriedade – contrário ao do latifúndio sulista.
O objetivo de Lincoln era manter o território ainda não ocupado fiel à União. Os sulistas, que já haviam começado a expandir
suas plantations para o Oeste, tiveram que frear o processo.

Fim do conflito
Em 1864, as forças do Sul já não conseguiam mais se manter coesas. A situação era desfavorável para os sulistas, e o seu
presidente, Jefferson Davis, foi preso pelos soldados da União quando tentava fugir. O general Lee, por sua vez, rendeu-se
em 19 de abril de 1865 ao general Ulysses Grant, pondo fim à guerra. Os efeitos da guerra civil até hoje são os mais
devastadores da história dos Estados Unidos, mais do que a Segunda Guerra Mundial e do que a Guerra do Vietnã, como
diz, novamente, Karnal:

Para uma comparação breve: morreram mais de 600 mil norte-americanos na Guerra Civil; já na
famosa Guerra do Vietnã, o número de baixas oficiais foi de 58 mil mortos. O conflito também serviu
criar o mito de Lincoln como grande estadista defensor da liberdade, forjar certo sentimento de
identidade nacional baseada na superioridade do ''mundo'' do Norte, abrir caminho para o surgimento
de determinadas leis comuns e definir a trilha histórica de um país unificado a partir das armas. [2]

NOTAS

[1] KARNAL, Leandro [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.

[2] Idem.

Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto:

Fonte: História do Mundo - https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/guerra-civil-americana.htm

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