Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
28
viviam para além de suas apenas uma visão entre
“fronteiras” –, motivo pelo outras visões possíveis.
qual muitos historiadores
o classificaram como um No carnaval de 1935,
“território negro”. As prin- os integrantes do Bloco
cipais ruas associadas ao Filhos do Mar ensaiaram
carnaval daquele espaço suas apresentações sob a
urbano eram a Baronesa direção do maestro Claudi-
do Gravataí e a Miguel Tei- no Oliveira, que se “impu-
xeira. nha” nos ensaios para que
as canções do grupo fos-
As valorações negativas sem entoadas com técnica
associadas ao Areal da Ba- e qualidade. A preocupa-
Marcus Vinicius de Freitas Rosa | Acervo: DEDS
29
mão, como vice-presiden- públicos e visitas dos blo-
te; Nelson Soares e Dorival cos aos simpatizantes, fre-
Leivas, como secretários; quentemente para arreca-
Vitor Severo e Carlos Perei- dar quantias financeiras).
ra, como tesoureiros. A hie- O conjunto, composto por
rarquia e a organização in- moradores do Areal da Ba-
terna de grupos como este ronesa, foi descrito por um Parece mentira
contrastavam com a anti- jornalista como sendo um Parece
ga e persistente imagem “rancho batucado”. Sua Que eu deixei de
acerca dos habitantes do estudantina era ensaiada amar
Areal como “desordeiros”. pelo pandeirista Darcy Oli-
veira. Mais uma vez, estava Você
Na Rua Miguel Teixeira, presente a intensa preocu- Mas a culpa toda
no carnaval de 1950, a pação com o desempenho É sua
comissão organizadora so- musical, revelando a preo-
licitou, por intermédio do cupação dos festeiros com De me deixar
jornal Correio do Povo, o dormindo
sua imagem pública. Além
comparecimento de todos disso, os integrantes do Na Rua
os grupos de foliões da- Não Sei enviaram uma de Foste iludida
quela via a uma reunião. A suas composições à im-
própria existência de gru- Pelo luxo e a riqueza
prensa (A Federação, 10
pos de pessoas desempe- jan. 1933, p. 02), obtendo Hoje andas de
nhando diferentes funções a tão almejada publicação. chinelo
(presidência, diretoria, se- Era um samba-canção, in- No Arraial da
cretaria e tesouraria) dá titulado “Parece mentira”: Baronesa
uma ideia da importância
que atuar no carnaval ti- Você comigo
nha para muitos morado- Não andava
Moradores da comunidade do Areal da Baronesa | Acervo: Foto disponibilizada pela
30
censão social ou retorno
Moradores da comunidade do Areal da Baronesa | Acervo: Foto disponibilizada pela página Areal
financeiro. Ainda assim,
Dorvalino não abandonava
o carnaval.
O X do Problema costu-
mava ensaiar nos fundos
de uma churrascaria da
Rua Baronesa do Gravataí,
cujo quintal foi transforma-
do em um terreiro de sam-
ba. Em certo momento, o
31
Local que contava com ele não ganhavam valor.
má fama desde o século Fogaça era apenas mais
XIX, o Areal da Baronesa um folião em busca de vi-
era, conforme a opinião sibilidade durante o carna-
das autoridades públicas val.
e letrados locais, um antro
de marginais, desordeiros, Ao contrário da Ilhota,
criminosos e mulheres de região pobre que acabou
vida fácil. Todavia, dificil- removida violentamente
mente esses pontos de pela urbanização, as duas
vista seriam compartilha- principais ruas do Areal –
dos com os festeiros que Miguel Teixeira e Baronesa
lá moravam ou que por lá do Gravataí – continuam
circulavam. Muitos foliões existindo com os mesmos
daquela região formavam nomes. O Areal, hoje reco-
grupos com hierarquias in- nhecido como quilombo,
ternas e faziam reuniões está situado entre os atu-
para tratar de assuntos ais bairros Cidade Baixa,
que – do ponto de vista Menino Deus e Praia de
dos próprios moradores – Belas. Não muito distante
eram importantíssimos: os do centro de Porto Alegre,
ensaios das canções e as o Areal da Baronesa con-
confecções das fantasias tinua sendo, em pleno sé-
que seriam apresentadas, culo XXI, um dos espaços
a organização dos blocos referenciais para os carna-
ou a própria administração vais de Porto Alegre.
dos folguedos. Isso certa-
mente destoava da pecha
de desordeiros e indicava ROSA, Marcus V. de F.
REFERÊNCIAS
32