Ensaio Lafetá

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O Íitmo rápidodessas primeirasIinhasprossegue.

O leitor,
apanhadopor suarapidez,nâo f'rccisaesperarmuito tempopa-
ra saberas razõesdo fracasso.JoãoNogueirae padreSilvestre
nãoservem: O primeiro,porqueqüeriao livroem,,línguadeCa-
mões";o segundo, porqueandavaemmaréagudadepatriotis-
mo revolucionário, de caratorcidaparao narrador.Este,em
anbosos casos,denotando altivasuperioridade, afasta-oscoú
comentários secosediretos.E concentra suasesperanças no úÌti-
mo quelhe resta, Azevedo Gondim, agora caracterizado como
o MUNDOA REVELIA "periodistade boa indolee queescreve o quelhe mandam,,.
O projetoinicial,deconstruiro livÍo peladivisâodo traba-
lho, começa a serexecutâdo. Enxergamos umafazenda: Azeve-
JoÃo Luz LÁFL-rÁ
do Condimpedalapela estradade rodagem que Casimirc Lopes
estáconsertando, do aÌpendre da casa (depois do conhaque tra-
zido por Maria dasDorese enquantosefuma)vêem-se novilhas
é o mundoà a)elia...'- ísso pastando, a mata,o telhadovermelhoda serÍaria.O narÍador
"-
fechodo quezé Bebeto
Íoi o"..8, Íotou " se entusiasmade novo, esqueceas duasgoradasteniativasÍLi-
(GUIMARÃES RosA,GrdldeSerlão:yeredas) ciaiscomJoãoNogueirae padreSilvestre. Ajeitandoo enredo.
asidéias fervilhando,chega a consideraro Condim..umaeooé.
ciede lolhadepapel",dcsrinado a receber- Darsiramenrc. io-
l. Dob cap[tulosperdidos mo folhade pâpel- o quc lhe pa.sapelacábeça.
Masdenovo,e bruscocomoantes,semtransiçâo e semên-
O primeirocapltulode3AoB?rrdldo - trêsconcentradas pá_ fase(comoantes),declara:,,O resultado foi um desastre,,,Os
ginas- alcança ao Ìeitorboaquantidade deinformação. Logo doiscapítulos queo Condimlhetrouxeraestãocheiosdebeste!
o propósitodo narradorde escre-
naslinhasiniciais,decÌarado ra. Pamatacálossualingragemgânhaumabrutalidadeextraor-
veÍumlivro"peladivisãodotÍabalho",somos lançados emmeio dinária:"-Váparaoinferno, condim,Vocêacanalhou o troço.
a um toÌvelinhode nomes,ocupações, prefeÍênciase aptidões: Estápernóstico, estásafado,estáidiota.Há Iá quemfaledessa
padreSilvestre,JoâoNogueira,AÌqúmedes,LúcioGomesde foÌmal"
AzevedoGondim,o próprionarrador,todosesses personagens Condimrcplica,amuado,"ÍecoÌhendo os cacosda suape-
surgemem apenasurÌl parágÍafo,sumariâmente caracterìzados, quenina \aidade". quenàoseescrere comoseÍala.Seupaulo
alravésda lunçàoquecadâum dele\cumprjÍianae\ecução co- (sabemos apenasagoraqueo narradorsechamaassim)Dârece
letivadoprojeto.Eufórico,o narradordeclaraa seguirque este_ conlormar-se. afasta-se, vè um tourocondu/idoDoÍMarciano.
ve "uma semanabastanteanimado",vendojá os "volumes vê velha
a MaÌgarjda, o paredão do açude. Ouve uma cigarrae
expostos,um milheirovendido",todasâsdificuldades aplaina_ um pio decoruja,Estremece, pensaemMadalena, Depoisvolta
dâspelamanobraque,facilmente, "mediânteÌambujem",exe_ ao assunto, encerando-o; " * E o diabo,Condim.O mingau
cutaria. E logo, sem transição,brusco, sem ênfase,sem virouágua.Trêstentâtivas faÌhadas nummês.Bebaconhaoue.
lastimação,anunciao fracasso do plano:"Mas o otimismole- Gondim."
vou águana fervura,compÍeendiquenão nosentenderíamos." NestapaÌáfrasetalvezum poucolongat€com cerrezamuÌ-
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ro làscinada peÌovivoandamentoesdlisticodeGÍacilianoRamos) nemlhesaibamos o nome- o "eu" quenarraseimprimeem
goíariadeassinalaruns pontosimportanteseelemenlaresdetéc- nossamemória,Agindosemparar,emitindoopiniõessobreos
nicanârÍatìva.O queÍessalta pÍimeiro,natuíalmente, é a ma, outros,concebendoe buscando realizarum plano,estenarradoÍ
neiÍadiietâ de traÌaro assünto.Há algoparaserdito e sevai avultae Ìomaforma.Á imagemdeseuesÌilo,é diretoe semro-
aÌélásemrodeios, háumpÍojeloasercumpridoe setenÌacumpri- deios,concentrado sobresi mesmoe sobreseutrabalho,decidi-
Io deimediato.As diliculdades aparecem e, numapenada,são do, brusco.E, no segundo capítulo,quandosedecidea iniciar
explicadas e postas delado: JoãoNogueira, padreSilvestreeAze- deseusprópriosrecursos,
o livro valendo-se nóso vemosdeno-
vedoGondim,os parceiros da empreitafÍacassada, sâoalasta- vo obstinado, Ìutândoagoracom as dificuldades de tarefaque
doscom segurança pelonarrador,quedemonstra sabero que nuncaanlesacometerâ. Ficamos sabendo enlãoqueé a suahis,
dese.iae terenergiasuficientepara executálo.Energia- é o que tória quedesejaconlar.E ficamossabendo que tem cinqüenta
ressuma destasarêsprìmeiras páginas.O leitoÍdançaentreno- anos,queé fazeÍdeiro,"versadoem estatíslica, pecuária, agÍi-
mes,proli:rôesecaracrerÍsticardos personagensque vàosurgin cullura,escrituraçãomercantil,conhecimenaos inúteis"paraes-
do nâosesabedeonde.QUeêo Cruzeiro, aCazeu,S.Bernardo? se novo gênero que pretendeenfrenÌar: a narraÌiva. E
Quepaisagem é essaquesurgeaospedaços, aqui umaestÌada, impacienta-se: "Dois capitulosperdidos."
ali um paslo,adianteumaserraria? E, por fim, queméestenar- O casoé qüenâoo foram.Suafiguradominadora e ativa
radorquenosfala e parece disporassimdaspessoas queo cer- estácÍiada.Fomosjá inlroduzidos emseumundo- um mundo
cam?Quc livro é esse,quedesejatantoescrever? que,emúltimaanálise, sereduzàsuavozáspeÍa,aoseucoman-
O leito. foi - dechofre- empurrado paradentrode um do, à suamaneüadeenfrentarosobstácúose vencêìos.Um mun-
mundoquedesconhece. Nãohá,naentrada deSa_oBemardo,íeÍn do quesecu a à suavontade.
umapala!raquesirtaparalocalizálo,nenhumpaineldescridvo Em termosde lécnicanarrâÌivanàopode.iahaversoluçao
quelhepermitaconhecer deantemãoo mundoquevâiâgoravi- maiscoesa:ÌotaÌmeÍleimbricados surgem,à nossafrente,per
silar.Foi lançadodireÌamente naaçào,no meiodosfatos.Ape- sonagem e ação.PauloHonórionasce decadaato,mascadaato
nasumavoznaÍrativa,falandoemprimeiÍapessoa, o dirige.E nâscepor suavezde PauloHonório,Nóso vemosatravésdas
dirigeo restotambém- os ouÌrospersonagens e o pÍojetoem açôes;mas,por outrolado,é eìequemdeflagratodasasações.
execuçâo. Suaforçacobretudo,e aquiloquede mâisforte nos Estecaráter compacto e dinâmico,estaligaçãoIntimaentreoho-
lìcadaspáginas iniciaisé a impressão dasuafigura.Semnosdi meme o ato (espeÌhada pelalinguagem direla,brutal,econômi
zernadaexplicitamentesobre si mesmo,fornece-nos noentanto ca, peloritmo Íápidodosdoiscapítulos), estaintemção entreo
a suaimagem:umhomemempreendedor, dinâmico, dominadoÍ, seÍe o lazervãocompora construçâo do romance, queparece
obsÌinado, queconcebe umaempresa, tÍaÌadeexecutáìa, utiliza correrfluentemente dianlede nós, em direçâoa um objeÌivo
os oÌrtrospaÍaissoe nào sedesanima com os fÍacassos, marcaoo.
PauloHonóriosuÌgequase inteironoprimeirocapítulo. Mais
ÌardeiremoscompreendeÍ a graÍatiquicedoadvogado JoãoNo-
gueira,o patriotismodo padreSilvestre, alireradceservildoAze- 2. A possede S. Bemordo
vedocondim. Maistardesaberemos quemé o CasimiroLopes
queconserta a eslrada,quemé o Marcianoqueconduzo touro, E semmaisdelongas começaa históriade PauloHonório.
queme a velhaMargaÍida. DepoisconherecemosMadalena, sa Um capítulo(o terceiÍo)recuano lempo,cinqüentaanosatrás.
beremos por queo pio dacoÍujaseassocia à sualembrança. Por AlÍavésde um modode narrarconciso,quedescaÍta os episó-
enquanlosãoapenasnomesquenão retemos, persoiagens que diosmenosimpoíantese contapor alto osmaisdecisivos, fica-
surgemconfusaúenle diantedenós.Masdesdeiá - e embora mossabendo suaidânciamiserável, o crimequeo deixou"três
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Iicâ, portanto,dosepBódiosnarrados,é menosa sualembraúca
anos,novemeses e quinzedias,,na cadeia,os primeiÍosíegó- do quea lembrança do peronagemtrarrador.Cuârdamos
cios e violências no sertão. Algumas páginas me-
cobiem toda sua-vi- noso acontecidodo queasatitudesdePauloHonório. De novo,
da,da meninice à idade de homem feito.O andamento vìvodos
dojsprimeiros comonoscâpítuìosiniciais,a açãoreflete-se parailuminaÍo agen-
capítulos semantóm aqui, inclusive um Doucomais te. Semnenhumaanáisepsicológica,masgraçasà modulação
acelerado. O seuprimeiío ato..digno derelerència.. {óeslaouea- do romnarrativo,ficamosconhecendo
menÌo deJoàofagundeg, porcausa o caráterviolentoe maci-
dd Cermanâ) é naírado aDe_ ço do herói.Ao mesmotempoos latos sedesenvolvem, a narra-
n:ìsnoes\encìal. semdetalhes eçpecilicos. semjuslificarivas, sèm
rcflexões: tiva progride e avança, Já estamos em Viçosa,Alagoas,e o fito
"Depoisbotouosquartosdebandae enxedu_se com de Paulo HonóÍio, apoderar-se dastenas de S. Bemardo,está
o JoàoFâgundes. um quemudouo nomepaíalunarcavalos. prestesa realizar-se.
O resuIadofoi euaÍrumarunscocorotes naCermana e esfaouear A apropriaçãoda fazendaé contadacomâ mesmaobietivi-
JoàoFagundes." dadequecaraclerialodoo romance.
A distinção teóricaentre,.sumário É.ssaobjetividade, rãfleìo
narrativo"e,.cena',,os do penonagem,deixa'sesurpreender
doismodosbásìcos da narraçâo, pode demodofácil num recurso
ser aqui de alguma uiili_ de estilocurioso:a narraçãoobsessiva
dade,paraentendermos melhor processo do temÌtoque, cÌonome-
o compositivo oue está tado comprecisãopelonarrador,delimitaasaçôesdeformaclam
sendou\ado.O "sumárionarrativo', explica-noì t{orman f;ed-
man,"é a exposição genemlizada e - no caso- pÍoduz um efeito de crueldade.
deumasériedeeventos, abran- PauloHonório inicia suamanobraperuandopadilhano jo-
gendo um certo pedodo de tempo e uma vâriedade de íocais";
a cena,por slravez,implicaa apresentação Eo,pot meiahora, temposuficienteparaseconvencerdeque,,o
dedetalhes concÍetos rapazeraum pexote". Em
e específicos, dentrodeumaestruturabemdeterminada do,Jme,r?semprcstalhe dinheiro,que
aletem- elequeimadeple$4,e umdra(véspera deSàoJoâo),convidaão
po lugar.
e A diferença fundamental entÍe os dois modos resiale,
poìs,ÌÌaoposìção para a festana fazenda,esticalhemaisquinhentosmil-Íéis.
entreo geral(sümário narrativo) e o particulâÍ Duante a festadoismomentossãoasúalados:A ÍoiÍe paulo
(cena), Ou ainda,colocando emoutÌostermos: quândooquein- HonóÌio âconselhaPadilhaa cultivarS. BeÌnaÌdoide nadrupa-
teressa é o acontecimento em si. temos a cena, eìparecem entào da, bébado.o rapaljá \e mosrraìnlluenciado. E por fim, já ao
os detalhesi mas,seo querflevanáoé o aconleiimento, e sim dia seguinte,decide-se a seguiro conselho,decisãoque vai levá-
aatitudedonartador,seo dominante nãoé o evenro.maso tom lo a endiridar-se.a hipolecara fazenda e a perdêla.
emqueé narrado, entáotemoso sÌrmário narrarivo.' Essamarcação temporalé feitaÍnuito naturalmente
Ora,nesteterceirocapítulootempoé vasroe oseventos DeloÍÌat-
sâo rador.muitode passagem. MâssuaimporÌà!ìcia é er,idinre,em
muitos.O faro que é Paülo Honório não se detém neles,narra_ váriosnÍveis.Primeiro, poÍqueconfereexatidãoe veracidadeà
osporclma-e depressa. Sobreosviolentos negócios no sertãodiz
apenasquebrÌgaracomgenteque histórianarÍada,objetivando-a emum tempoprecisoe conheci-
fala aos benos e efetuaÍa tran- do. Depoìs,porqueo jogo dePaulo Honório depende,paraseu
sações comerciais dearmasengatilhadas. A título deexemDlo con-
ta o ca5odo ú, Sampajo.Nemai. entretanto, êxito, do enredamento dePadilhaemum tipo especialdetempo
seoodeïalar de - o dìa em que as promissóriasvencem,o prazo.Assim, todo
cena:apesar dosdetalhes quesurgem, o queimporiaé o tomdo
narradoÍ, a atitude paulo o capituloquartoé permeadopor estasmarcações e estasmano-
dominadorae dura que Honório assu_
mediantedasdificuldâdes, bms,quevãocuhninarna cenade negociaçôes, depoisda qual
arrostanalo-as e vencendo-as. O cue PauÌo Hon rdo setoÍna dono de S, Bernaroo
A c€na lue é um dospontosmií,<imorLUromance.comeca
P a _ âer E drn inr ro k r \ oÌ men Fnedman .. to :n r como temDoclaramente assinalado:,,4 úlúimaÌetrasevenceu
o f r ie q i n | tr ri Ò n , i, phi_
.
Ìip85aicr. (ed.)rÍ? /à.o^ oJ íà" Nule/. Nora yo, t. Ì heFjtr pE-. t%? numdÉ oeúvemo. (. .) De maúâ cedinhomandeiCasimiroLo-
Oae,.
196 197

I
pes $elaro cavalo,(..,) Duaslqguase meiaem quatro horas.(...)" caroçador, introduzir nessas brenhasa pomiculturae a avicuhu-
Paulo Honório ençontraPadilha dormindo, cobraJhe a dí- ra, adquirir um rebanho bovino regular."
vida, discutem.Padilha pedemais prazo, "uns dias". E Paulo Oscapítulos de três a oito compõemsuaunidadeconvergin-
Honório: "Não esperonem uma hora." A negociação que sç se- do paraa realização detudoisso.primeiropauloHonóriovence
gue é um jogo de negaceios,avançose recuos,propcstase con- os obstáculos iniciaisde suamiséria(capítulotrês),depoiscon-
trapropostas."Debatemosa transaçãoaté o lusco-fusco.,'Afinal, quistaS.Bernardo(capítuloquatro),a seguireliminao Mendonça
mais forte nesta disputa com o tempo, Paulo Honório vence: e enfrentaasdificuldadesdos primeirostempos defazendeiro (câ-
"Arengamos ainda meia hora e findamos o ajuste. / Para evitar pítuloscincoe seis),Finalmente,no capítulooito, que resume
arrependimento,levei Padilha paraa cidade, vigiei-o durante a os problemasanteriorçse mostraasobrasjá çoncluídas, recebe
noite. No outro dia, cedo,ele meteuo rabo na ratoeira e assinou a visita do governadore seapresenta comovitorioso.
a escritura.(...) Não tive remorsos." Mas o queimpressiona é a maneira direta de contar todos
O rolo compressorem que Paulo Honório se transformou estesfatos,comoseseguissem emlinharetae emvelocidade enor-
encontranesteassinalamento precisodo tempo suaexpressãosim- me. O narradordiz o contrário:..Ninguémimaginaráque,to-
bólica. Na verdade,a rapidezrítmica da sucessão de fatos - aqui pando os obsÍáçulosmencionados,eu haja procedido
explicitamenteligada ao fator ''propriedade" - reforça a carac- invariavelmente comsegurança e percorrido,semmedeter,ca-
terizaçãode Paulo Honório como um elementodinâmico por na- minhoscertos.Nãosenhor,nãoprocedinempercorri.',Apesar
ttrÍeza,cujo impulso arrastao mundo atrás de si. Padilha, mole, daadvertência, é essaa impressão quenosfïça.Da leituradestes
preguiçoso,sem iniciativa, é por ele dominado com facilidade. oito primeiros capítulos (e o fato de o narrador sentirnecessida-
Também com facilidade aparentecedemos obstáculosque sur- de dedizero contrário vemsó corroborar a existência do efeito)
girão depois:em dois capítulos(o quinto e o sexto)a dificuldade aparece Ìrmpersonagemesmagador, guerumadireitoe firmepara
maior é literalmenteeliminada:o velhoMendonçamorrecom uma seusfins,um PauloHonórioquegovernao mundoe imprime-
bala no peito. A falta de crédito, a safra ruim de mamonae algo- lhe seuritmo.
dÉ[o,os preçosbaixos, as ameaças,todos estesempecilhosvão A históriade sçuRibeiro,contadano capítulosete,inter-
sendoenfrentadose superadosgraçasà vontadee çnergiado herói. polada àsações vitoriosas do herói, funçiona visivelmente como
V. Propp demonstrouque os contospopularesseconstituem contraponto. Seu Ribeiro é um homem derrotado. Já mandou
sempreem torno de um núcleosimples:o herói sofre um dano no seumundo,já governou povo. seu Mas agora, afastadopelo
ou tem uma carência,e as tentativasde recuperaçãodo dano ou progresso, pelaurbanização e crescimento do lugarejoondevi-
de superaçãoda carênçia constituem o corpo da narrativa.z vera,estáreduzidoà misériae fraqueza.paulo Honórioco-
à
Atentando para a estrutura da parte iniçial de SãoBernardo çons- menta,aoouvirsuahistória:..Tenhoa impressão dequeo senhor
tatamosali existência
a desteesquema amplo. Os dois primeiros deixouaspernasdebaixodeumautomóvel,seuRibeiro.por que
capítulosformam, nestesentido,um núcleo: há a necessidade de nãoandoumaisdepressa? É o diabo."
se compor o livro, há as dificuldadesque surgeme há sua supe- Defato,é o diabo.Compreendemos entãoo quepauloHo-
ração pela força do herói. A seguir tudo se organiza em torno nóriorepresentacomoreendemos
e a velocidade danarrativa.Seu
de um segundoobjetivo (ou "carência", na terminologiade Ribeiro,queseprendçra ritmoao lento da vida patriarcal,é afas-
Propp), expressonestaspalavrasdo narrador: "O meu fito na tadodogovernodo mundo.O elemento novo, que chega trazen-
vida foi apossar-me dasterrasde S. Bernardo,construirestaca- do estradas, máquinas, eletricidade, apuradas técnicasdèpecuária
sa, plantar algodão,plantar mamona, levantara serrariae o des- e agricultura, impõe-se e domina.PauloHonóriotraza ïorçade
temposnovosquesurgem,vencendo a inérciaequebrando osobs_
2V. Propp, MorÍologia del cuento. Madri, Editorial Fundamentos.1971.
táculos. Pernas contraautomóveis. Daío torvelinho emque,desde
198 r99
o começo,fomoôapanhados. Daí â coesãoda narrativa,queune
indissoluvelmente penonageme açâo.Pois Paulo Honório, ÌÈ panhadopor JoâoNogueirae AzevedoGondim.EncontÍa-os,
presentante da modemidadeque entra no sertãobrasileiro,é O de volta do campo,palestrandono alpendre,,.elogiandoumas
emblemacomplexoe conhaditódodo capitalismonascente,eÌÍ- pernase unspeitos".Elevamo tomdaconversa. pauloHonório
preendedor. cÍuel.quenào vaciladiantedosÍneiose seapossa afasta-see úata de negócioscom o advogado.Retornamao al-
do quetem pelafrente,dinâmicoe tÍansformador."A constru- pendre,ondePadilhae Condim reencetaram os elogiosàs per-
çãodeum buÌguês:eir o conteúdoda primeirapartedeSAoBer- nas,"De quemsãoaspernas?,,, pergunta pauloHonório.Fica
n4ldo'J, obse ou com acertoCarlosNelsonCouúnho.l sabendoque sãode Madalena,uma professora,bonita, loua,
AçãotÍansformadora,velocidade enérgicâ,possetotal: aí e3- que está entre os vinte e os trinta anos.
tão trêscaracteÍísticas
e trêsideaisda burguesia.O heróideSdo Depoisa conversa tomaoutros rumos: falamda escoÌa; dâ
-Rendldoospossuiemalto graue osiúprime a fuìdo natessitu- velhaMargaridaquefora localizada; da escoladenovo;deMa
ra da narrativa,A objetiúdadedo romancenasceda posturado dalena,da escolae do Padilha;de políticae do padreSilvestre;
naÍador faceao mundo:elenadaproblematiza,de nadaduü- do Pereirae denegócios.ApesardePauloHonórìoestarsemDré
da, emponto algumvacila.Tüdo queimportaé possuire dirigir na iniciaÌiva,coÍnandando os processos. decidindovingar-seìo
o mundo.ParatanÍo, eleconheceos meios.E não pensasobr€ Pereira,contÍatandoo Padilha,o tom destaspáginasé maisle-
eles:aplica-os. ve, maìsdescontraido.Osváriosmotivosqueascompõempare-
cemligal-seapenascasualmente, comoassuntos quebrotamcom
Darìrralidade do lúlo cotidiano doshomens e dàscoisas.Num
3. Madalena íeriado Paulo Honório zanza à toa pelafazend4 ouvepedaços
aleconve$as, escreve uma carta, visita a velha Margarida.
Depoisda possede S. Bernardovem a possede Madalena, Masa casualidade é apenasaparente.De dentrodo zigueza-
ÌItrapassadaa unidadequesefonnara emtoÍno da relaçãoen- guede motivosvai surgindo,aospoucos,o dominante.,,Ama-
tre Paülo Honório e a propriedade,um outÍo núcÌeocomeçââ rúeci um dia pensandoem casat.',
seesboçar.O capífúo nono enferccealgunsmotivosnovos- Paulo HonóÍio, semse pÍeocuprr com aÍnores,querendo
e o leitor percebeque o Íomaúcevai gaúar rumo diferente.O apenzìs prepamr um herdeirc para as teÍras de s. BeÍnaÌdo, fan_
estilosedistendeum pouco,a tensãoâüefece.A prefeÍênciado tasiaeútãosua futura mulher: morena, alta, sadia. com tínta
narador volta-seagoÍaparaa teüica da cenaje suÍgemos deta- anos.Mas sedetém aí, poisa imaginação não ajuda e a pregação
lhesconoetos,as câÌacteriza@smaisalongadasdos peÌsona- subversiva do Padilhaveminterrompêlo. Depois deresolveres-
geDs,os dirálogosmiúdos sobreassuntosdo dia-a-dia.O tom te probÌemavolta ao motivo do casamento, e passaagoraemre-
compactoseesgarçadelevee a naüativa saltade um t€mapaÌa vista as mulhercsque conhece,fixando-seem d. Marcela,filhâ
ouÌro. do dr. Magalhães,juiz de direito. Nova interrupção:a cartade
O motivoquedeflagraa intrigadestateÌcei@paÌteé a cons- CostaBrito, comchantagens e ameaças. O parágÌalofinal do ca-
truçãodaescoÌana fazenda.PâuloHonóÍio deciderealizálaco- pítulo onze mostra (melhor que qualquer análise)a técnica demis-
mo um bom negócio- um negócioqueagÌadaráaogovernador tuÉ dosmotivos:r'Recalqueiasidéiasviolentase esforcei-me Íror
e lhe Íenderá,portanto, certasvantagens.ManalachamarPadi- LÌazerde novoao espíÍiroas lintase os ssde d, Marceh.Ìie-
lha a fim deconhatálo comopÍofessore el€vemà fazetrdaacom- ram. Mas afastavam-se de quandoemquando- e nosinterva-
los aparcciamMarciano,a Rosacom os meninos.Luís pâdiÌha
icüls NelsonCoüriího,
"Cmctli^ao Pt|.m", in Litelatume HunanntìÌo.RiLo
e CostaBrilo."
de JaneÍo, Pu e Tdra, l9ó7 Gú9. 153). Êstáquasetudo paÌalisadonesteponto quandopaulo Ho-
úono, misturandocasamento e negócios,decideúsitar o dr, Ma-
200
mr
salhães e examjnaros Dredlcados ded. Marcela.E emàoquesurgs samente o contrárioda muìherqueandavaimaginando - mas
úadaleÍÌa €a históriã avança,ganhlrndonovo impulso. Mâs o agmúlava-me, comosdìabos.Miudinha,fÍaquiDha.D Marcelaera
tom não mudasemtransições:a presençade Maalalenainsinua_ bichâo.Umapeitaria,um pé-derabo,um toitiço:,
seDoÌ entreos letalhosda conve$abanale interesseÌra na casa A diferençade Ìjnguag€m quandose retìre a Madalenae
doìuiz, e sua figura vai aospoucostomandocontado espírito quandosereferea d. Marcçlaé sìgrÌificativa_ O maisimportan-
dePauloHonódo. Esseprocesso aparentemente únples é naver- te,entretanÌo, ó queMadalenapassa a ocupar,a partirdesteins-
dademalistraÌ, poisúodifica toda a sintaxenarrativadestapaÌ_ tante,o lugâÍcenÌraldosacontecimentos. '.Comoo silênçiose
te do romance,estabelecendo uma hierarquiadiferenteentÌeos prolongâsse, replìquej ao NÕg\teiía, quase me dìigì do à louri-
fâtos. Vejamoscomo se dá isso,atravésde uma rápida adlise ,?ra(...)." E depois: "Percorri a cidâde, bestando, impressiona-
do caDítulodoze. do comosolhosdamocinhalouÍae esperando umacasoqueme
l.io DrincípioPauloHonótiovai â casado juiz paralentaÌ fizesse sabero nomedela."
resolver:'o casodo Pereira", queestavadependendo apenâsde Faleiatrásemmodificaçàodasintsxen$rativa. Expüco-me.
por câusa Do capitulonoveatéo ponioqueestÉunos
"uma penacla nosautos". E vai também,natuÌâlmeúte,
justapostos,
examjnando osmoti
de d. Marcela. vosseencadeiâm, como num per{odocomposto só
Lá encontraMadaÌenae suatia. A primeiranotaçãoé preci_ deoraçôes independentes, coordenades erìtresi. A panir do ca-
sae seclLcomode hábito: "(...) umaseúhoradepreto, alta, ve- pituÌo doze, com o surgimento deste outÍo motivo - MadaÌena
lha, magn, outra seúoú moça, louÌa e bonita." O s€lutrdo - tudo sesubordina a ele,Todosos motivostemáticos - mâ-
olhar, maisdetido,já é avaliador:"D. Marcelasorri4agorapa- ÌÌobras,negócios, brigas - convergem e enconÍram sua unidade
ra a senhoÌânovae loura, quesoÍia tambémmostrandoos den_ no novofito dePauloHonório, posse a da mulheÍ. Neste senti-
tiÍhos bran@s.Crmpareiasduas,e a importâlciadaúiÍha visita do, é importsnteassirÌaìqrque o capítulo trgze, ra[ando a via-
Ìere umarcduçâode cinqüenLa por cenlo." gemà capital,aschicotadas emCostaBrito,a conversa comd,
A comparaçào enlred. Marcelae Madalena Ìiqüda' para Glória,é todâviaumasimples preparaçâo parao encoúo com
PauloHonório, o valor da primeira, Por issoafasta-ado espfti_ MadaÌena, o que,aliás,éenunciado nàsuaprimeiÍafrâs€:,.Tor-
to e trata de aÌrancardo juiz o despachode que precisa.Mas, neia eÍÌcontrar a mocinhaÌoura." Por isso,tambémúo proce-
sed. Marcelafoi afastada,é a vezdeMaalaÌena penetralnassuâs dea dúvidate.nicado üaÌrador,enunciada ao firÌal: ,,E nãoteúo
preocupaçôes; o terceirooìhaÌ (a terceiranotação)mostÌaúo o intuitodeescÍever emconformidade comasrcgras.Tantoque
àpeúasa obseÍvaçãofÍia do primeiro ou a aprovaçeotácita do vou cometer um eÍro. PÊsumo que é um erro. Vou dividirum
s€gundo,masum ceío grau de eúvolvimentoe de fasciíação: capítuìoem dois.ReaÌmente,que o se segue podiaencaixâr-se
"A loüa tinha a câbecinhainclinadae as mãoziÍhasceradas, no queprocureiexporantesdestadigressão. Masnãotemdúvi,
lindas mãos.linda cabe{a." O diminutivo (mãoziúhas,cabêci- da, fâçoum capiruloespecial por causade Madalena.',
nha)nàodescreve apenas. imprimeà descÌiçào umceío gÍaude Na verdade, estádeacordocomasregtas:Madalena mere-
afetividadequea Ìepetiçãodo adjetivooidas, linda) vemrcfor- cedestaque especial, poissetrarNformou no objetivodç Paulo
cÍr. Honório. Assiú comoprocedeuparaapropriar-sede S. Bemar,
Nesteponto o dr. Magalhãesfala PauloHoúrio Ìesponde' do, camiúhando em Ìinha reta, alsim ele proçederá agora. Até
empenhado denovonaquestiiodo Percira.AÍinal, estaeraa queg a marcaçãorigorosa do tempo, o jogo da velocidade e os recuos
tão importantedaíoite, por esteÍÌotivo estaraali. Mas,nào Ma_ temporáriosvoÌtaú a encolttrar sua expresseo prcaisa.um dìa,
dalmairrompedenovo,destavezdefidtivamentq "Observeique insinuaa d. Glóda a idéiadecasamento; desaparece duraite drat
a mociúâ louÌa voltavâparanós,atenta,osgrandesolhosazuis .temffia.r,ocupadocoE a colheitado algodão;ÍeapaÌecedenovo
/ De.epetrteconheciqueestavaquer€ndobemà pequem.Preci- e laz diretamenteo pedidoa Madalena,quepedetempoparaÌe,
202 203
fletir. Mas,à scm.lhançado quefizeracom Padilha,clc é como mcatepodeÍamosdbtinguiÌ mtÍc pôulo Honório e scusatostas-
sempÍemuito Íúpido: "Uma s€manadcpois,à taÍdinha,cu, quc 8imcomodificiLnent€localizaÍêÍhosnâ ÍlarÌativademmtosque
âli estÂvaabolctadodesdemeiGdia,tomavacsfé c convarsava, nÀo$tajam ligadosa ambosde foÌma coesôc indissolúvel.Niç
bastantcsatisfaito." EntÍa Azevedocondim c. indiscrato,revê tc sentido,já vimostaÍnbémcomoa marcação muitonitidado
la quetodosconheccmo pÍoretode casamcntodc PauloHo!ô tcmpoimpriÍne ao livÍo caÌacterhticâs de preaisáo edinamismo,
rio. EÍe nãopcÍdctcmpo,insisecomMadalcnae aclba obtcodo quc rellelemâ volt&dc e a força enérgicas do herói. Tambéín o
ssr conlantima o. PaÌaDcÍçabcrmos o q|E a'(iíc dc dccitivol!!. astilo,dir€lo€brutal,feilo de movihenros bruscos (como vimos
tr naripulaÉo do tetr|Dobáslâcitlr: no cxamedos dois primeiros câpluÌos), g€rve ao Ìipo de enredo
quesa.des€Dvolve e à caÌaclerizaçâo prrsonagens:
dos ..(...)eÌ-
"- (...1vst 06mtÍ.âÍ o db. tÌarooosaconlecjmenlos aÌgumas paÌccÌas; o restoé bagaço..,
- NãoM Dítss&TalÌ,lzdsqulr un rm,.. Eü prtcilo 8llrmae certaalturaPauloHonório-
ÍrlFenú-Ínc. Em outro nlvel já obs€rvamos tamMm como estaobjíiü_
- - implacávellem sampra
- Um sío? llc!ódo comDrrzodarno nlo pÍrat!. Qlr drd. mdercçoceno - a apÍopriaçãode
é quafalra?Umvasddobrstrcofsz{c arovitrlcGquüÍo hois. arSunacoisa,s€jada fazandâS. BemaÌdo,s€jada Dulher (Dm
OuündoD€lsos m coÍÍÉdoÍboixda voq: qucmpÍetendcc:tsar.Dc fato, o scn(imenÍodepropriedadecons.
- PodcÍtroc avisaÍsuatia, nIo? titui ulndos elementos lefiáticosque unificam o livro. paulo
Madalena soÌÌiu,iÍÍ.solulâ. ,.é HG
tróno,afiÍma AÍrônio Cándido, modalidade de uma foÍçâ que
- Ellá bco. o Iranscende e emfuíçãodaqual vivc: o s€nlimentodc proprìe
(...) .lúe . (.,,1-5,ão
BeìnoÌdoé cenrralizado pelainupçãoaunà pèrso
- D. Cl6rìa,cmunico'lhcqu. cu c suasobriíhadmtm naloaoeloícr eesla,6s€utumo, p€laliÍaniad€umsenlimento
dauÍ|a scÍ|.na€srrloc cmbiÍad6.Parausarlitrtuagêmnais dominânrc. Comorrmheróide Balzac.pauloHonóriocoÍpori.
corÍí& vaúc câssr.(,..)" llc! uDa.paixào,dc que ludo mais,até o ciúme,nâo passade
vâÌiantê".t
É dc noro 8 8çãodccidida,o SFdoopoíulro, s tapid.z c
o conh€cimcnto do iíírnte propÍcioquc torD.ú PauloHonóÍio SeâÌhharmostodasa! caÌacterislicãs examinadas _ açâo,
útorioso. Aqú elepârEcetriuúfar nov&rcotc, c patrceapoçsat- ctaÌtia, objelividade, dinamismo, câpacidade lransformadora c
scde Madaleoa.As dificuldadescedernsobsuafoÍça e o dluldo $ntimantodeprcpriedadc - toma-s€ imviúvelo suÍginentode
securva à sua vootade. üma ana.logja cnlre o hcróic a burguesia mmo classe]Já vimos,
rlmDÊm- d! passagem, que psulo Honório parece sero emblema
@ntraúlótio do c€pilalismo nascente emDosso pais.O conlras-
4. IYnamo qtptúa tc qu€elcmesmoestabelecc entreo ritmo velozàesuaapÍopÌia-
ção.eo passolentodo patriarcalismodc s€uRibeiroé demasiado
Até estcpontopracuÌeimoctÍarcomor Gtruautado roúralcÊ cvroentepiúa que o deüemospassardespeÍcebido.
sefoÍDa pelasuboÍdinadodes€|rselemçntos a doisdeles:r ação, . S€mentrarmos aquinascomplexidades implicadas peloes-
ou o cnírdo "oenado", pdrs uúlizalmosI cláslic! distinçãodc luoo daimplanlâçàodo capilalismo no Brasil (eüstência de rela-
Foser,' e o Denonagem.De tsl Eodo isto é feilo quc dificil- çõetpÍé-capitaliÍas, relações dccompadÍio, persistència ou nào
oe restoscloÍnododeproduçàofcudal)o qucpodemos afirmaÌ.
'8. M. Fo6rcÍ,á.prir otaâ€rtotd. Ì{ov. YoÍl, turco|ln, htc. rld Wüt4 rAÌlôíio CiÌdido, fiqro
lDc. (! . Cortt$rr. Rio, JoséOtynp|o. t9j6 (pdgs.:J . 3O).
't.).
2U 205
num objeto. Marcianoe Rosa,seuRibeiro,d. Clória, Casimiro
semsombrade dúúda, é quêPaulo Honório simboliza,no inte_ Lopes- todos sãocoisasque servema seusdesígnios.Meshe
rior do romance,a forçâ modemizadoraqua atualizade folma
devastanteo udversodeS, BemaÌdo.A roçadeseuFjbeiro foi Caetano,entrevadono leito, dei\a demerccersuaconsideração:
câlmae s€mproblemas,no tempo do Imperador;Luís Pâdilha "Necessitava,é claÌo, masseeu lossesustentaros necessitados.
tem uma vidâ estalnadae preguiçosa;Paulo HonóÌio é, âli, o aÌra8ava-me. " Osdespossuldos. oscabrasquelrabalhamno ei-
to desuafazenda,sãoconsiderados aÍ,enasdo ponto de vistada
dinârnoquegeraeneÍgjaearrebalatudo,pÍovocando umâco!o'
quânddadede trabalhoque podemoferecer.Repareo leitor co_
pletae incrssa[temodificaçãonasrelâçõesglobaisdaqueleduu_
mo, nestanotaçãodura, a objetividadedo estilodesvelao muD-
do. Açâo, transformação,se[timeDto de propriedade - â do reìficado:"(...) Essagentequasetruncaúorre diÍeito.í...)
aÍalosia é foÍe.
úas o díúamonãopodeodsliÌ indefiddamente.Maisdo que / Na pedreiÍaperdi um. A alavancâsoltou-seda pedÍa. bateu-
ulnaesperança, süadestruição concÌetae pÍô
é ümapoasibilidade he no peito e foi a conta. Deixouviúra e óriáos miúdos.
xima. S€umecanismosujeita-sêao desgastee ao esgotalDentol Sumiram-squm dos medinoscaiu no fogo, asÌombrigascome-
degerartÌaosformaçãotêm um liúitc. As pe mm o segundo,o último teveangitrac a mulherenforcou-s€./
suaspossibilidades
PâIa diminuir a úoÍalidade e aumeDtaÌa produçâo,proibi a
ça5queo compõemnão sãotolalmeÍte haÌmônicas,no s€ucor- aSuaÌdente.
po achâm-seiúslaladascontradiçô€sque podem a quâlquer "
A reificaçãoé um fenômenoprimeiramenteeconômico:os
instanteeDperráloe tirarlhe o governodo mundo. trensdeixamde ser erc€radoscomo valorcs-de-uso
UmadasmÂisséÍiascoos€qüências da produçâoparao Í|ea' e Dassama
câdo(caÌaoeÌisticâdo capiialismo)é o afas@mento e a abstra_ s€Í vislos como valoÍes-de-lrocâe portanlo como nercadorias.
Massabemos quea consciência
humanaseformaÍlo co zÈ(,@ú
ção de toda qualidadesensíveldascoisas,que é substitüídana a realidade,na arividadetraDsformadorado mundo,que é pÍG
Ínentehutr|âIlapelanoçãodeqüantidade.O valor{e usoquetoda
rDercadoria possuié dbtanciâdoe tomado iÍDplÍcitopels produ_ duçãode bels. Assim, as característicâsdo modo de godução
dasiSna_ itúiltram-sena consciêocia que homem
o tem do muDdo, condi-
ção de valores{e-troca.EsleÍenômeno,classicameDte cionatrdoseumododevere compondo-lhe,
do p€lodoúe de "líichisrno da DeÍcâdoÍú", dá origeÍúa uma Íroíanto, a persoÍa-
reificaçãoglobaldasrelaçõeseítÍe os homôús.Mediadasempre lidade.A reificaçãoabrargeetrtâoloda a existência, deixadeser
pelo mercado,a coNciênciahuúana tendeprogr$sivamentea 8p€nasulÌracompoúentedasforçaseconômicâs e Írenetmna v!
fechaÌ-seà coÍDpreeDsâo dos €lementosqualiEtivos e sensÍveis da pívada dos indivíduos...Creio que rem semprefú egoísta
da reâlidade,Todo valor setÌansformô- ilusoriameúte- em e brutal", afrÍmaPauloHonório. ..A pÌofissãoé queúe deuqu.4,
valorde-tÍoca.E toda ÍelaçãohuDanasetraúsfolma- destrui lidadestão ruins. / E a desconliançaterrívelqueúe apoDÌaini-
doramente- qumarelaçãogltÌe coisas,entrepossuidoe pos_ úigo6 eíl todaa parte./ A desconfúnçaé tambémcons€qüência
súdoÌ.ó da Fofisgão. ,/ Foi estcúodo devida quemeinutilizou. Souum
Tâl é a ÍelaçãoestabelecidaentÌe Paulo Honório e o mun- aleiiado,Devoler üÌn coraçãoúiúdo, lacunasoo céÍebro,ner-
do, S€udeseúvolvidos€ntimentode propriedadeleva_oa consi_ vosdiferentesdosoutroshoEetrs.E u.( trarizenorme,utnaboca
derartodosqueo cercamcomocoisasquesemanipulaà vontade enoIme,dedosenormes.',
e sepossú.Luis Padilha(vimosatrás)tÍansforma_sê emsuasmeos O homemreificadoé estealeijeoque cle nosdescrevee ve-
mospor toda paÍe: o coÌaçãomiúdoe umabocaenorme.dedos
enormes.O sentimentode propÍiedade,que unifica todo o ro-
úPtuao @neito dereilimçâovú LucienGoldnm. "A Rcificâçâo",It tirv/rl4 malc€do qual o ciríflÌeé apenasumamodâlidade,distorceo ho-
cirili.ação gÌosileho, 16. Rio, Civ, Bras.nov./dez. 1967 Parao caÌudodo memdestaoaneira radical.A vida ageste, que o fez agÌeste,é
orcblenaem 3ãoRenatdo ^9 \er L. CoÍa Lina. "A Reificaçãode Prulo Hotró
Í1o", in Por quê lüeratura,Pcüópolis,Ed, vozes, 196ó. a cuÌpadapoÌ Paúo Honório úo sercapazdç çÍÌxergarMadale-
2M
na. A vida agrestesãoas lutaspelapropriedade,pelo rebanho, oo com as Ìegrasde seujogo. Sua irritação vai num crescendo
pelasplantaçõesde algodãoe mamona,pelo podere pelo capi- coníanre: ..AIém de rudo vesridode sedÀpara
a Rosa, 5apâros
tâI. O homemagresteé aqueleserno qual setransformouPaulo € lençoEpaÌa ÌvíaÍgarida. Semme consuhar. Já viram de,cara_
Honório: egoistae brutal, não consegue compreender â mulher, menlo assÌm?Um abuso.um Ìoubo, positivamenre
poisé incapazde senti-laem suaintegridade um Íoubo,..
huúanae em sua ,.raçaooo íomancesetransformaneste in,ranre
liberdade,e a consideraapenâscomo maisumâ coisaa ser num /igue_
zaguenervoso, compondoumaestruturade idâse vindasaté
possuída. ponto semelhanteà quctxaminamos ciito
arrás, nos câp utos ante_
ComoMadaÌenaserecusaa alienar-s€,entmndono jogo da Ílor€s ao_conheclmento de Madalena.Novamenreâqui os mori_
teifÌcação,oschoquessâoinevitáveis.A âçâoda narrativasecon- vo_s,tematrcos se misÌuram,aparenlemenÌe ju\taposto\ ma5,na
çêntraÌá,agora,em torno dessenovo obstáculoque Paulo Ho- tearoade.convergindoparao moliro cenrral:
nódo teÍá de enfÍentaÍ. Um novo núcleose abre. e 06 novos o ciúme,ou o sen-
t|menlo de possecom Íelaçãoà mulheÌ.
motivosquesurgems€oÍganizamemtoÍno destemotivoctntral:
a tentativadePauloHonório dereduzirMadalenaa objetopos- . Vuanloa estepontoo capítulovintee lrêsé exemplar: ..Era
do:1in8ode rarde,e eu tokava do descaroçaoor
e dâ serrarla,
suido.Na medida€mquea mulherescapâa s€ucontrole,üì me- onoetrnhaesradoaarcnSarcomomaquinista.
urD lolcnleem_
didaemqueelaé capazdeapiedar-se dostÌabalhadores újsêÌáveis rEnaooÈ!m otnâmoquc emperrâva.O homemprometerâ
quevivemna fazenda, namedidaemqueMadalena endi-
seafastade reltaÍ-tudo.cm dois dias. Contrarempo, tr.Íonies ae
seuuniverso deproprietário e escapa,poÍtanto,à lua compreen- madelia,
algodãoenchendo os paióis.'.Ëncoleriiado por causa de,re pro-
são,PauloHonóriosenteciúmes. Dlemapallo Honório Iai I isitar Margaridae irr;ra_e
Já o primeirochoque,"oilo diasdepoisdo casamento",se muisj sà-
Denoodâsroupasque MadaÌenadá á velha.Encontru
dá emtornodequestões financeiras.Madalena achapequeno o Vrr.ünì
tanSendoo Sadoeexaminao últlmo bezclro
ordenado deseuRibeiro,PauloHonórioseabespinhae yc, Irds ruü lrDraçaotaz nascido.Não eía_
retira-se com queachequeesLalamagro,Al a
da mesa.A s€gundadesinteligência, o espancamento deMarcia- m"lsluÍã.de m_orivos é clara: ..A culpada
no, tem tambémo dinheirocomoorigem:úo os s€ismntos de eia Madalcna.iue rintra
olererido à Rosâ um veíido de seda.,,
réisgastosem material de ensino,por insistênciâde Madalena, o capúutoproslegue desramaneira,com paulo Honório
queirritamPauloHonório,levam-no a exagerâr o descuido do r^-Ì rorras
u4!su sempreem torno do mesmo problena, remoendo
êmpregado e a maltÍatá,Io.O terceiroincidente estáligado ainda semlre-oresrentimento por Madalena. Sua;nterior Iinhd rela de
ao moúvodo dinheiro:D. Clória,com suatagârelice, atÌasao açao€staaqui enov.lada.Criricando d. Clória. que vivia de eÀ_
serviço deseuRibeiroeporhsoé humilhada por PauloHonório. pçur( rcs,sempre culdandodc p€quenos
Cadaumadessas quenão úabalhos, di)'elapou_
brulalidades horrorizaMadalena, co anles,não concordarcom ral esbanjamento
podeâceitálas.Por seuturno, PauloHonório espanta-s€ deenergia,..A gen.
deque re-d_eve habiruar-sea Íazer uma coi5asó!,,
elanâo compreendâseucomportamento.Afinal, coÌÌstruituma No.nrã'nro, ffi e
elc_-Q-mvagueiae dá voltas. Volanteemp€nado
pÌopÍiedade comoS. BeÍnÍìrdoimplicacertosatosnecessários. e dinamo em_
r,çrrcuo-.os oorsslgnos5alramaosolhosdo leilor,O dinamir.
Por eÀemplo,espancarMarciaflo,que "não é pÍopriamenteum Íno de P"ulo Honório encontra_se conjlrangjcto.tmpedidode
homem", E, s€d. Clória não troca MadalenapoÌ S. Bernardo, oesen^volver plenamentc.pois MadÂlenanã-ose submete. se
isto sãopurasvaidades: "ProfessoÍinhas de primeirasÌetÍasa es- sotuçao oo con rto. desfecho
,, .A da narraliva,é a morrede
colanormalfabricava àsdúzias.Umapropriedade comoS. Ber- Madatena..viróriâ da reiticaçào que deÍroi o numano,c,errora
naÌdo cÍa diferente." OePiulo Honório. A lécnica urilizada para c,.rnrar esra pâfle da
Madalenas€recusaà reificaçãoe PauloHonório s€espan- nÉrofla ê em tudo semtÌhanre à anterior. Em píimeiro lugar, os
ta. Já nãocompreende a mulher,sentequeeÌanâojogadeacoÍ- moatvosse reúnemsolidamenÌe,em torno do
motivo cen,raldo
208
209
ciúmee a elesubordtlados.TÌanscrcvoaÌgunslrechosdo capi- Os capitulos seguinles sâo lerriveis.
tulo viútee quatro,pÍocurando o procedimentoi
assinalar ,, Agora em linha Íeta o
ornamoeÍìlouquecidodegrada-se e degrada Madalena area di".
rrulçaode ambo\. A cenâdecisivaque antccede
''De Íepentcinvadiu-meumaespíie dedesconfiança.
Já ha a mofle de Ma-
oarena-acenâna igreja.eslá curio5amente peÍm€ada pela
!iâ experimenÌado umsenlim€nto
assimdesagrêdável.Quando? mesma
d"..rempoque assinalumos na cena em que
::::Ì,,Ìilifiçã"
rautoÌronono toma a lãz€ndade padilha
NumInomênloesclâÍeceu-s€ tudo(...). e naquelâ em queçón_
QuâDdo? venceMadalena a casar-s€com ele. Também
Sim senhorlCooluiadacom o PadiÌhae rmúrdo alaÍaÌ começacom o cla-
osempregado! !ériosdo bomcaminho.Simsenhor, comunislâl 1:.ï:ild"ullgtÌto.
aqueh l:tporal l"decidido a acabar/epr€$c com
Inteltc'dade"),
Eu consrruindo e elêdesmanchando. tambemjOga(om o tempo(.,NO!ehoras
no rctoStoda sacn5Ìia.'l ..Nem quanto
( . ..) sei rempoe5Ìi!eali, em
pe ,. mas deslavel cedendo{..4 medida.porem, que
da famitia,reimavapadr€
- E a lorupçào. â dissolução se passavam,senda,mecaÍdo num estado de perpÌexidade a5 horas
Silvestre. e co_
vaÌclia.").lutando durante rrèshoras t,.O rclôgroda |arri!lialo_
QualseÍiaa opiniãode Madalena'Ì acab.ando por fim der rorado.perdrdaa noção
:(]l Tla-l:lc.
qorempo{ .)j i
- AI padreSihestret€mrazão,concordou condim.A.e U retógo tinha @mdo. mâs julgo quedormrhoras,.r.
ligiàoé um fÌeio. rdfado, ( om a mesmanotaçào constata, injlanrerüepois,a moíe
( . .. ) de Madalenai..Aprojümei_me. tomei lhe as màos.durase trias,
Quâls€riaa religiãod€Mâdalena? Talveznenhuma. Nun- toquei-lheo coração,parado. parado.,,
ca mehavialratadodisso. O desfecho, s€elimina fisicamenie MadaleÍa, destrói por
- MonÍruosida.lc. compleloa vida de PauloHonório. Agjr. mandar. cuttivarS. Ber.
() naroo. nada drsso tera mais senLidopara
elc. O mundo
MareÍiâlisrâ.Lembrei-me dê rerouvidoCosraBÍho falarem oesgovernou-!€, so lhe restalentaÌ e bubcar,sumponooa narra_
mâterialismo hìstórico.Quesignificâva nâterialismo histórico? o sisliricado de rudo que theescapa.A compo-
( . .. ) ::::^oerÌuâ
sìçâo"oo -Ìl11. (chegamosao ptescnÌe
romance da escrirura)tai_se
Comunhta,nateÍialisÌa. Bonitocasamenro! Amizadccom mootÌlcar agora sensivclmente.
o Padilha,aqueleimb€cil!'Palenrasamenas e vaÍiadas.'Que d. qur:ara eslapar.eÍinat,sosÉÍiadc figurar
hav€rianaspalesÌÍas? Reformas sociais,ou coisapior. S€ilí: ^_..,{ï, 111..
aqur, no esquema abai,(o, qua
o me parece constituil a estrÌr-
Mulhers€mr€liSiao é capazde tudo. Íura oa narratjta.lal
( . .. ) como a vimo! alé estc ponto: partindo
cla Íelaçào indissolúveÌentre açâo e perconag€m
Conlio eú Dú. Ma5exâ$rei os olhostloni.osdo Noauei' enaonlratlos
argumas.caraíerisricasldinaÍrusmo. objerividade.
ra, a Íoupabem-feiÌa, a roz insinuante.(...) - e comecei a s€n- elc.) que, su_
Do-rqmadas.ao temaunificador{s€ntimento de propriedadel,
tir ciúmes." cons_
troemo univelsoreificadodo româncee levam a deíruiçáo final,
u elquemap€rmite fácil ìisualizaçàoe rerumeo analisado
A cilaçâo longa dispensamaiores comentários: comunismo. até
corrupçào, dissoluçAoda faÍnília, ausênciade religiao, tnonstruo- agoÍa:
sidade,materialismo- lodos sãotemasqueestamosacostuma'
dos a ver (aqui e agora e sempre)ügados arotema domlnaÍte da
propriedade. E nesla piágna p€rfeita vâo desaguarnas palavras
finaisi "e comeceia serlir ciúmes".
2t0
2ll
da revoluçãotraz-lheproblemascoma propriedade.Reacendem-
sa antrgiú qu$tões de limites, scucÍediro é coíado, os preços
dos pÍoduloscaem. S. Bemardo lransfoÍma-sc numa fazenda
abandonada. Os amìgos, queo frcqüentavam reguìaÌmente, são
obrigados a afastar-se, celeficasozinho,comseusintermináveis
ação- p€rsonagem
Passelos.
Ë, cnfim, o mundoà revelia,foÍa deseucontrole. '.E 06 Íneu!
pâssos mc levavamparâos quâíos, comose procurassem al-
guém."Nestaúltimafrasedo capiÌulorÍintae cincoo estilore-
velaa impolência do herói.A sinédoque se€ngasra na esrrurura
ação/persona8em. moírandoquco comandodosarosfoi Ír€r-
didopor PâuloHonórioinãoé elequem andauequanoemquáÌ_
dinamismo
desrruiçâo to, massãosuaspernas queo levam.O desnoneamento é Daralelo
objctividadc
d. propric- rêiticâção+ de si c do à perdado mando.
cn.r8ra EntÍamosagoÍanuma paulo
dadc - outÍo outm etapa, a vida âtualde Ho_
nório. Em contrastecom a narÍativa pÍrssado,
do o tempo qúc
foÍça s€InslalaaSoratrazproblemas difercnles e, cÍnconseqüência, pro_
vocamodificaçô€s no conteúdoe nô composiçâo do livro. Èm_
borao Íomance mantenha do comcçoao fim uma extraordinária
unidade €slillsticâ(muitovisivel.mváriosplanos,daescolha do
léxicoà constÍuqào sintálicadâs fraees), suacomposição geralse
alterarcycmcnteo bastaDte, enlÌctanto,paraimpÌimir â &io ge.-
,oadoumâdimensão nova.
3, No aíivo e bus(v . A duplicidadercmporal- exisremÍcpresentados o teÍhpo
do enunciado (oseventos que ocorreram na vidade paub HL
Após a morte de Madalcna,Paulo HonóÍio tcnta Íelomai nóÍio)e o tempo da enunciação (o mo|nentoemqueseescreve
o ritmoantcdordesuavida,lançando'se aotrabalho,maslogo o livro)- esláligadaao problema do pontode viita narrativo.
esfriao enlusiasmo. a lembrança da mulhermortaimpõe_se ao O rom_ance é narradocm primeirapessoa, um ..euprotago-
por
seuespiÌilo.Entediado,vagueiapelacasadeformainconseqüente' rusta quc, distanciado no l€mÍ'o,abranSe com o olhar toda
sêmsabeÍdireitoo qucfâzer,perdidocÍn "intermiúveis pars€ios' lua vida c pÍocuraÌecâpitulála, conrando-apara si e paÍa nós,
deum ladopaÍÊoutÍo". Um a um osÍnoradorçs maischegâdos leitores.É estcdis|anciamenro quelhe dá uma pseudo-onisciência.
veoabândonando-o: d. Glória,depoisseuRibeiro,e enfimo Pa- concomitante à exisrência do olhar abrangenie, capaz de detçr-
dilha- o LuísPadilhaquecraa imagcmcompleta da submis múaÌ os momcntos imponantes desuaevolução. Esteprocedi_
são e da subs€Ìviência e qua desaparacepara iunlaÍ_s€âos Íe hento é rcsponsiável por boa paíe da objerividadequè, como
volucionáÍios. vrmos,ressuma poÍ todaa narrativa.Náoé eotretanto o único
Coma Íevoluçãoo mundode PauÌoHonóriodescaÍÌünha responsável, poisaobjetividade nasce - comotambém já vimos
dc formâdefinitiva:"O mundoquamc ceÍcavaia-seloÌnando - daalitudequecaracterizá o narÍadorfacea tudoquelheacon-
um hoÍível astÌupicio.E o outro, grande,cra umabalbúÍdia'
umaconfusilodosdemônios, muitomâioÍ." AvitóÍia
eslrupicio 'UrilizoâquiI rcminolosiadc Nomrn Fd.dman,no Ênraio|!rás cÍado.
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rece. Na lerdade, existeuma conju8açÀollncional dos dois !91ót1o.'bSndona-a açãoe volta-se sobÌcsi úesmo,
píocedimenÌos:o conh€cimentoâmplo dado pelo distancìamen- ouscanoo
-..--l-11ona.memóÌia de süa vida o ponlo em quesedesnoneou,
''numa€rÍada--. Nêss€
lo temporal lunde-ie a ciuâcÌeÍllaçáodo personâgemnalradoì debruçaÌ_se o estilo s€ riDge de lirisúo e
e os dois juntos criam a posturaobjetiva que dá o tom do ro- a--objetividadeépica lìcâ abalada. e p..ci"o qu. o
rgmancee.sraÍnarradonâ primeim pessoa "iinafa,não é gra_
l:Lo-oj
Íu 9 rnconseqúenle.
ornem
Nestemomenlo,toclavra,entramosno presenleoa €úuncla rnasdeixa suas maÌcas na composi_
çãoe o dislanciamentodesaparece. Por outío lado' o caráterali_ çao oa narratlva.O eíaluto do '.nârÍador oniscienre,. (i;lru.
vo de Paulo Honório estáempeÍrado,paraÌisadopela derrota so ou não)diferesensivelnenle dessaposiqào aquiadorada,tra
definirivaque lbi a morÌe de Madalena.E forçosoque os proce qual um "eu protagonisla",apÌoteilando_le da disÌeÍcia,no\
dimenlostécnjcossemodilìqueme a narralivâSanhcuma tctru conrasua[úlória. Nào ques€jainrpossível falaÌ de si me5mo
râ diferente.A linSuagems€cado tempodoenuociadoccdelugar com objctividade (na medidacrn que Í,o6sâexistir realrnmtc
à lamenlaçãoeleglacado tempoda enunciaçào,e o ritmo rápido oojeüvro,adc) - coisâque paulo Honório demoDstÍa,alirí6,de
da naÍrativaé substituldopeloscompassotmais lênlosde uma no.decorrer
lgjTi oú
tempo iM enuncjaçào do tivÌo. Mas.no in.rant. e. qu.ì
reflexãoprobleínatizada, dificile tonuosa: "AquisenÌado ã me_ começa a ,€Ì representado, notamos ime_
sa da salade iânlar, fumandocÀchimboe bebendocatë' suspen olaErnente a intilÌraçàodossignosda subjeriridade, a irrupçào
do às vezeso trabalho moroso.olho a íolhagemdas laranieiras oo monótogoinrerior.o abalo do ponto de vista pseudo_
que a noite eneStece, dlgo o mim mesmoque estapenae um ob' onüioent€.
.jctop€sado.Náo e3iouacostumadoa penÍìr' levanto_me' cheSo Ess€pÌoctssos€instâlaum pou@anlcs. DodccoÍrcrdres_
à janela que dei|a para a bona." mo do tempodo-enunciado. quaDdoo ciúúe reliÍâ
A verdadeira busca começa onde ternrinê a vida de Paìio qo narÍadorc o fa, duvidaÌdo quevê: .,Será? a s€guntnça
nãoSeÍã?..du
HonóÍio. A bus{a veÍdadeira,enlenda-se, a procurados veroa- maisadtanle.nocápÍuÌo\intce novc:..Osmcusolhosmeenga_
deüose autênticosvaloresque deveriamr€geras relaçõesenlre nav-am.ìrasseos olhosmeenganavam, emquemehaviade flir
os hoÍnens,A vida teÍminou.o rom&ncecomeçaOromancc, se entâo?"
quep€rmanecem
gundoLukács,éa hisróriada buscade valo.êsautênticospor uÍÌì . È carto no romance, muito bem delimita
peÍsonagem problemático, denlro d€um unìversoYszioe degra OOò, OSdOtS nivejsde Íepresenlaçilo. e O leitoÍ percetrc demaDei
dado, no qual desapareceu a imanênciado sentidoà vida."ora' ra-craraoquee real€oqueédeformaçào provocada pelociúme.
só ne5teinstanleo herói selornâ problemático.o uni\erso\u18< tao Úenarctoin réÍÍt*mpre umaobjelividadequêo tornadife_
como vazio e degÍadado,o sentidoda vÌda ctesapaÍece, Anles. renleoe,cenosromances conÌemporâreo\, nos quais os plano\
Paulo Honório fora um persona-qem coesoe Ìorte' movenoo-se oam€moÌta, Oaimagmaçào ada realidade \€confundem e !e em_
em um mundo de objetivosclarose (aindaque ilusóíio) replelo Dararnam.- Nempor i!so. entÍetanro, a objetividade deixa de ser
d€ significado: a pÍopriedade. O suicídio dê Madalena desmas- quesíoíaoaoerâriasmaneiras,Umadelas é a marcação
po, que do lem_
caraa falsìdâdedo sentidoe problematúatudo Agir paÍa quê? vioos atrás ser feita de forÍna obs€ssiva e pÍecisa,e que
- pergunta-se ele." Ne$e mo! lmenloe ne\serumoÍ ha!eriamui agoÌapaÌececìscapar ao dominio do narradoÌ: ..Uma pancida
to choro e muita praga." no reìógio da sala dejanlar. eue horas seriam? Meia? uma? uma
e0|era., uu metaale dequalqueÍoulrahora?(...) Segunda panca-
qa no relogìo.UÍnahora?umae úeia? \endo.
Só i...) Ah, sim.
rc. Lútâcs, A Teorio do Rond,,.! (t€d. pon. de afrcdo M!ryândo). Lúoa.
Ed. Prcsenç! G. <1.), Para un análi$ postutad2 ebc Lutó.:. na difercnt. da
nosa, veÍ o ei5âio citado d. Cd.lo! Nel$n Cootirho ïs o cÍ6alodr {nrôtuoCândido..n!do. pass J] . 4ô
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veÍ ashoras.Empurravaa poía' atravessava o coÌÌeoor' entra- mo tempoa própÍiaimporência, a irepoténciado mundoÍei.
và na saladejanìar.SenpreeÍa algulrÌacoisasaberas horas'" lrcadoque volta a apresentaí-se no neio do monólogo."'ro
Sea capacidaàe decontrolaÍo tempoestava ligadaatftisà cana' recursoâomonólogointerior,poÍlanlo,aiudaacompora bus-
cidadeãe açàoe dominio,nestemomentoa incertezâ simboliza ca de PâuloHonóÍio.E é atravésdelâquesurgeo mundode
a impotènciã a queesláredulidoo narÍador'Sim'
e inseSr.rrança S, BeÍnardo,SiioBenardoÍonâncc,tentativade encontrâro
boli;a.emúltimaaìálise, suaoscilâção diantedo mundoquejá senlido_perdido
e erìconü
o final e trágico
consigo mesmo e com
naooodereduzirà objetividade da medidaexaÌa,quejá nàopo- "È,lou
a sollOaO: ltcaràscscuras, alé nâoseique hOra,
atéque,
de còntrolar. moÍto defadiga,encostea cabeçaà Íhesae descanse unsminu-
Mâsa subjetividade penetramesmo,de formaavassalado_
Ía- é ouandocomeçaa ser represenlado o tempooa enunc|a' ComestaJ paÌavÌaso romancese fecha,mostrandoa yitóÌia
ção,o instanl€ em quePauloHonóíioescreveO belissimo ca' da rcificaçâoea derrotalotal do que
herói, é incapazde mexeF
pituio dezeno"e,colocadono centrodo Íomance'embaralha sc,modificar,se,Pensoemoulro personagem, deoulro Ìoman-
àe fato consciència e realidade'memóriae presente' obietivi' cc: "'Ah, o queeu nãoentendo,issoé qÌje é capazde me mâ-
dadee subjetividade. ComoafirmaLukâcs,a maishumilhan_ tar...'- melembreidessas palâvÍas.MaspaÌavrasque, emoürra
le impotência da subjetividademanifesta-se menosno comba_ ocasião,quemtinhafaladoeraZé Bebelo,mesmo.,"t
t" sociaisvaziasdo que"no fato de elaestar
aante do cursoineÍtee conlÍnuoda duração"'
io.iut"atautra"a
i". "ontru
PauloHonórioescreve seulivro e buscao sentidode suavida'
A(ravésda escriluÍafaz €mergiíum mundoreificadoe cÍuel'
Íepletode corujasqu€piamagouÍenlas, de rioscheios,atolei
rose "uma fieurade lobisomem".O que surgeé aíìnaìo s€x
iit.ato, o.nerãndo d.n!Ìo de si mesmoaÍÌanca um mundo de
oesad.totretti"eis,de signosda deformação e da monstruosi
àade.Um mundoobjetivamente realacabarevelando'se' alra-
'Mas
vèsàa subjetinidade é, por outro lado,um mundoalheio
a PauloHànório,um universoqueandaindiferente à suavon_
iaãi. õ tempotriitórlcocontinuaa decorrer,à suarevelia:"o rrT.w.^domo,..!. posicìón delnâÍador.Í lanorelaconremporánea,,, ,t Nô.
ouenàooerieboé o tique-laqu€ do relógio.Quehoíassão?Não @sd.lire.druÌo,Batetonà,Ld. ArÉt ít. d., (pá8. A posç;odo naradol
eÍnroo Àl.nr.dopd(e,mesn Íerirdotirro umadimenúonora.
óosso o mostrador assimà5escurasQuandomeseoleiaqui' rft enr.doromãnc.reâtúa cuia 6rruru,a
'I). qurotornadi
"ei Lukáci d.srft êu.m 3úáj
áu"i"tn-t" pan""aasao pêndulo'ouviam'semuito beÍn s€- rrarac, srcndhât..Mann. Â subielividâd€ do ponro d. riÍa prov@
anátii..
ens
&
". dar corda ao relógio, mas não cotlslgomexer_ me
Íia conveÍrente oÍ@çG€snREú nâslrutu'., dd quairo monotoSo inrerioréap<nas uma.
A .-n"rarN.,proÒÍeháú€" pâ'e(ee\boçar$aqui, norinstânr.sefr qu. pauto
me." Honono arude, ruàdirìcutdaded<conrâr
A objetividade da Íepresentaçào é atingidapeÌasubjetivi sms inrromer.n.A ürilização
I hisróa. ..temenr o. Aemiratingua.
com_ decarcsonâ! difereíreeda, deLurácspodìria
iladedo nãrrarlor,masambasacabam inteÍpene[rando-se' |anúr uha ourÌatursob,eoÌ'vro pen\o,espcüatmer re,nor.,modo,dati((ào
Dondoumaunidadedialética."O sujeitopoélico'queseeman_ rÌâgrca.Iro-postos
n\,
por \o híopf rte IAnaroaE.lo Crttr'.,.sdo paulo,iul_
cioailasconvenções da representaçãoobjetiva,confessa aomes_ ,D.4).tao é.mofto(t^t rltre/ n5passâ8cn €nlrf 05mÕdo,q ucFrrecha-
mâd. 'a
rhnarNobai\o"e,iironko". ì odáqa.tançoaidéiãapend;comohipó-
Ìef, rDE rso dânamarériaD
lÌJ.GuimaãcrRos. c.ard" Sanòo:ycìedas
t4'ed I.Rio, loséOtrmpio,1965
blükáas, ob. c|l., Pót. l2t. ítiâe. Ugl-
2t6 217

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