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Cláudia Fonseca

O anonimato e o texto antropológico:

Teoria e Cultura
Dilemas éticos e políticos da etnografia ‘em casa’
Claudia Fonseca*

I nstigada a refletir sobre minha trajetória


do ponto de vista da tradição etnográfi-
ca, não pude deixar de pensar o quanto essa
era financiada pelo Departamento de Defesa
dos USA (em plena Guerra de Vietnã) – fato
que, se num primeiro momento, me parecia (à
tradição se transforma em cada nova época, altura dos meus 20 anos) apenas vagamente re-
em cada nova circunstância. Investirei, portan- levante, viria com tempo a provocar cada vez
to, a maior parte de minhas energias aqui num mais inquietações. A aventura do encontro
dilema que tem aparecido ultimamente com etnográfico com uma variedade infindável de
freqüência entre meus alunos e colegas da uni- novos personagens começou a ser temperada
versidade brasileira – o dilema envolvendo o pelas implicações “maiores” (políticas e milita-
uso (ou não) do anonimato no texto etnográfi- res) dessa pesquisa.
co. Para chegar nesse momento, no entanto, e Os eventos mundiais que seguiram essa
justamente para mostrar quão importante tem época – protestos contra a Guerra de Vietnã,
sido a experiência etnográfica para a presente maio 1968, o avanço de ditaduras sangrentas
análise, cabe recuar rapidamente para uma bre- na América Latina – me instigavam na procu-
ve retomada de meu percurso na disciplina. ra por uma postura profissional politicamente
Comecei a carreira de etnógrafa em 1967, mais conseqüente. E, assim, passei por suces-
ainda estudante de graduação em uma universi- sivas tentativas de me re-situar no campo: de
dade estadual dos Estados Unidos. Fui contra- uma tese de mestrado sobre a formação do
tada para ser assistente de pesquisa, indo passar estado-nação (com oito meses de campo em
o verão sozinha numa choupana (sem eletri- Taiwan) para a participação em um projeto
cidade, sem água encanada) de Ngerchelong, “multilateral” (via UNESCO) de desenvolvi-
uma ilhota a cinco horas (em barco a óleo die- mento no Alto Volta (com direito a mais nove
sel) de Palau – ilha principal desse arquipélago meses en brousse). Infelizmente, em vez de sa-
da Micronésia – para onde, numa curta pista de nar dúvidas, cada nova experiência só atiçava
chão, chegava duas vezes por semana um avião minhas preocupações políticas e éticas quan-
de algum lugar levemente mais alto na escala to ao fazer antropológico. E, no entanto, era
de civilização. No meio desse isolamento, já tarde. Já estava definitivamente tomada pela
me deparava com camadas quase arqueológi- paixão do campo, e a convicção de que essa ex-
cas de “culturas” diferentes, carregando tra- periência – o encontro com pessoas longe das
ços de uma globalização precoce, trazida por cúpulas de poder, o registro sistemático de suas
alemães, espanhóis, japoneses e americanos. atitudes, de suas práticas e de seus conhecimen-
Fornecia material ideal para o tema analítico tos, traziam um questionamento profundo dos
do momento: “Aculturação e mudança rápida lugares-comuns da modernidade. Parecia-me
nos países do Terceiro Mundo”. A pesquisa que, muito mais do que registrar detalhes par-

*
Profa. e pesquisadora da da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - Participação na Mesa Redonda organi- Juiz de Fora
zada por Leopoldo J. Bartolomé e Maria Rosa Catullo: Trayectorias y diversidad: las estrategias em investigación etnográfica: V.2/N.1 e 2
Jan/Dez
um análisis comparativo, VI RAM, Montevideo, 2005. 2008

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O anonimato e o texto antropológico: Dilemas éticos e políticos da etnografia ‘em casa’

ticulares de uma história universal (como eu e afastando jovens pesquisadores da prática de


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aspirara fazer na Micronésia), ou levar as be- campo, em vez de estimulá-los numa reflexão
nesses da civilização para os sub-desenvolvidos sobre maneiras possíveis de proceder. Aqui,
(como imaginava fazer no Alto Volta), a tarefa justamente para adentrar essa discussão sobre
urgente do antropólogo era por em valor dis- o lugar do método etnográfico no mundo con-
cursos que pudessem chacoalhar as narrativas temporâneo, proponho examinar a interface
hegemônicas, e criar espaço para diálogo. Sen- das discussões autocríticas de antropologia
do a análise antropológica parte integrante do com um determinado aspecto da prática etno-
projeto moderno, o antropólogo deve inevita- gráfica – o uso ou a recusa, no texto final, dos
velmente incorporar a tensão entre sua forma- nomes “verdadeiros” de nossos interlocutores.
ção intelectual e sua exposição a visões disso- Sugiro nesse paper que, longe de ser de inte-
nantes do mundo. Nessas circunstâncias, não resse secundário, nossa maneira de nomear os
é surpreendente constatar que as inquietações nativos define, entre suas múltiplas variantes,
éticas e políticas do exercício etnográfico, em qual etnografia estamos propondo.
vez de serem solucionadas com a maturidade
do pesquisador, tendem a crescer. Além do consentimento informado:
Antropólogos vêm se preocupando com o
considerações éticas
lado ético e político de suas pesquisas há déca-
das. Não pretendo dar conta da vasta discus-
Apesar de despontar mais cedo ou mais
são que, inclusive no Brasil (ver, por exemplo,
tarde em praticamente todas nossas pesqui-
Silva 2000, Tornquist 2003), tem envolvido
sas, a questão do “sim ou não” do anonima-
tantos pesquisadores num auto-exame de sua
to, até pouco tempo atrás, parecia um mero
prática profissional. Faço minha contribuição
detalhe técnico. Nas monografias de Mali-
esboçando algumas reflexões sobre um ele- nowski, nos deliciamos justamente com a
mento pontual dessa problemática – o uso do hiper-realidade de personagens devidamente
anonimato no texto etnográfico. Para tanto, fotografados, nomeados e descritos (o chefe
ao longo de meu argumento, estarei fazendo To’uluwa, o vidente Tomways Lakwabulo,
indagações sobre o que constitui a etnografia. etc.). Já cinqüenta anos mais tarde, em manu-
A partir de exemplos tirados de pesquisas di- ais destinados a jovens ocidentais preparan-
ferentes, chamo atenção para a maneira em do pesquisas mais perto de casa, encontra-
que a noção de etnografia, associada ao em- mos recomendações sumárias para resolver
blemático trabalho de Malinowski nas Ilhas dilemas éticos – advogando ora o direito a
Trobriandesas, deve ser constantemente res- anonimato dos sujeitos pesquisados, ora seu
significada para se ajustar a novos contextos. “consentimento informado” selado em pseu-
Ainda na época colonial, quando o modelo das do-contratos escritos. O Código de Ética da
ciências naturais dominava o campo, poucos Associação Brasileira de Antropologia esti-
etnógrafos questionavam as múltiplas dimen- pula como direito das populações que são
sões do jogo de poder envolvido na relação do objeto de pesquisa: o de “preservação de sua
pesquisador branco com “nativos” – espécimes intimidade, de acordo com seus padrões cul-
humanos do outro lado do mundo. Nos dias turais” (Victora et al. 2004: 173) – enunciado
de hoje, nossos nativos – que morem perto ou que mereceria, mas parece que não suscita,
longe – são vistos como contemporâneos, in- muita discussão. Ao todo, o anonimato pa-
terlocutores de diálogo. Trata-se de uma dis- rece ser uma questão de pouca importância,
cussão já bem desenvolvida na antropologia. estranhamente ausente nos debates acirrados
Esses debates, no entanto, muitas vezes tive- em torno dos problemas éticos e políticos da
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ram tom de denúncia contra o próprio estilo prática antropológica, merecendo no máxi-
Jan/Dez etnográfico, provocando um tipo de paralisia mo um rápido rodapé nos textos.
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Sabemos que, hoje em dia, além do anoni- usamos nomes fictícios, ora – porque um inci-

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mato, outro instrumento usado para garantir a dente é do domínio público e citamos fontes
ética da pesquisa é o “consentimento informa- em que aparecem nomes verdadeiros – usamos
do”. Particularmente popular nas ciências mé- nomes reais. Essa “solução” não é, porém,
dicas, este tipo de documento, visto como um ideal. Especialmente na época atual em que a
artifício legal que protege mais o pesquisador “revelação” parece ser um valor auto-evidente
do que o pesquisado, sofreu rejeição quase glo- (Strathern 1999) – devemos reconhecer que o
bal pela comunidade de antropólogos (ver Vic- anonimato não é necessariamente visto como
tora et al. 2004). A presidente atual da ABA, sinal de respeito. Pelo contrário, mascarar no-
Miriam Grossi, sublinha o caráter específico mes de pessoas ou de determinada comunidade
da ética antropológica quando lembra que: pode trazer a mesma impressão que trazem os
rostos borrados ou as tarjas pretas cobrindo os
“A ABA não reconhece os comitês de olhos que vemos em filmes e fotos de jovens in-
ética vinculados à Comissão Nacional fratores. Parece designar justamente as pessoas
de Ética em Pesquisa (CONEP) pois que têm algo para esconder. Por esse motivo,
considera que esta é uma questão es-
truturante da própria disciplina. Além seria questionável uma orientação profissional
de termos nosso código de ética, não que traçasse uma distinção sistemática entre as
reconhecemos que pessoas da área mé- situações etnográficas em que mantêm-se os
dica possam julgar as implicações éti- nomes reais dos informantes (subentendido,
cas de nosso trabalho – que é julgado, dos cidadãos honestos) e as outras em que mas-
e com grande rigor, por nossos pares.”
(Grossi et al. 2003: 104). caram-se as identidades (dos, subentendidos,
bandidos). Tal política discriminatória serviria
apenas a reforçar os estereótipos que procura-
Luis Roberto C. de Oliveira reforça essa
mos questionar.
visão, explicando que:
Confesso que eu tinha “naturalizado” o ano-
nimato, o acionando automaticamente (com
“Na Antropologia, que tem no traba-
lho de campo o principal símbolo de raras exceções) em todos meus textos etnográ-
suas atividades de pesquisa, o próprio ficos. Até nas minhas pesquisas sobre prosti-
objeto da pesquisa é negociado: tanto tutas, eu criava novos nomes para substituir
no plano da interação como os atores, seus já inventados “nomes de batalha”. Minhas
como no plano da construção ou da primeiras dúvidas sérias surgiram só recente-
definição do problema pesquisado
pelo antropólogo [...] Deste modo, mente e num contexto particular – quando,
não é possível nem seria desejável que pela primeira vez, encontrei resistência ao ten-
o antropólogo pudesse definir ou pre- tar convencer uma orientanda a usar nomes
ver com precisão todos os seus inte- fictícios na sua descrição de uma comunidade
resses (presentes e futuros) de pesqui- pleiteando direitos de quilombolas. Senti que
sa, no momento recomendado pela
resolução 196 (da Comissão de Etica a inquietação dessa aluna ia muito além de
em Pesquisa – CONEP – do Ministé- questões acadêmicas de forma, ela externava
rio da Saúde) para a obtenção do con- um compromisso ético com seus informantes
sentimento informado.” (Cardoso de e com a própria pesquisa antropológica. Foi
Oliveira, 2003: 34). assim que fui arrancada do conforto de minha
própria subárea – relações de gênero, família e
Como proteger, então, nossos interlocu- parentesco em grupos populares – para o cam-
tores de fall-out imprevisto ou indesejável po de movimentos sociais e relações inter-étni-
de nossos textos? De uma forma ou outra, a cas. De fato, muitos dos estudantes desta área
maioria de nós acabamos acionando os dois te- já participaram de laudos jurídicos onde os Juiz de Fora
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clados em qualquer trabalho etnográfico – ora pesquisadores, além de atender aos princípios Jan/Dez
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do campo acadêmico, devem navegar entre as políticas “conseqüentes” (políticas públicas, le-
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demandas do campo de direito (com sua ênfa- gislação, etc.), eu lido impreterivelmente com
se em direitos individuais e sua ânsia por uma as práticas cotidianas das pessoas – num espaço
“verdade real” – ver Chagas 2001, Leite 1998) e de intimidade que escapa a discursos oficiais e
as expectativas das pessoas pesquisadas. Nessa documentos públicos. A partir desse lugar que
situação, é compreensível que o antropólogo, ocupo no campo, definido tanto por meu tema
tal como o historiador, forneça os subsídios como por meu método, vou tentar tencionar
para identificar pessoas específicas, devidamen- a discussão, argüindo que o anonimato das
te fotografadas, nomeadas e descritas. E, afinal, personagens no texto etnográfico não implica
qual a diferença entre um laudo – que, graças necessariamente numa atitude politicamente
à pressão política de pesquisadores dessa área, omissa do pesquisador. Muito pelo contrário.
torna-se cada vez mais sutil, cada vez menos Antes de chegar nesse ponto, no entanto,
sujeito à lógica positivista do campo jurídico quero refletir sobre outra escola de pesquisa-
– e uma tese ou dissertação acadêmica? dores, que não são ativistas no sentido conven-
Deixo essa pergunta retórica em suspenso cional do termo, mas que – por outros motives
para passar a outro episódio – que seguiu-se – não escondem os nomes de lugares e pessoas
pouco tempo depois do primeiro – quando, estudados. Refiro-me aqui à cada vez crescente
numa defesa de dissertação, um colega da área categoria de antropólogos que trabalham com
de estudos indígenas contestou um estudante documentos históricos e que, daí, cunham uma
que tinha mudado os nomes de seus informan- definição particular de etnografia.
tes de um assentamento do MST. O membro
da banca, com longos anos de experiência jun- História e veracidade:
tando excelência acadêmica com ativismo indí-
o registro de nomes
gena, parecia considerar esse mascaramento de
identidades inconsistente com as simpatias polí-
Citando a famosa frase de Lévi-Strauss, de
ticas do pesquisador a favor dos integrantes do
que no trabalho de campo, o principal instru-
grupo. Como ele ia “devolver” a pesquisa para
mento de registro é a consciência do próprio
a comunidade com nomes trocados? Por que o pesquisador, John e Jean Comaroff apontam
pesquisador queria se distanciar dos informan- para o calcanhar de Aquiles da antropologia: a
tes desse jeito? Quais coisas “repreensíveis” esta- relação entre o registro subjetivo do diário de
va contando sobre eles que sentia-se dessa forma campo e os fatos “duros” da realidade. Aliás,
incumbido a esconder suas identidades? conforme os autores, esse dilema da “inescapá-
Essas não são perguntas facilmente descar- vel dialética de fato e valor” (Comaroff e Co-
táveis. A antropologia se desenvolve dentre de maroff 1992: 9) seria típico das epistemologias
um contexto político e social que informa sua modernistas em geral. Sabemos todos que, dian-
própria razão de ser. Meu confronto com cole- te de a maioria de nossos colegas das ciências
gas trabalhando em outras subáreas – com lon- exatas, a evidência para a veracidade de nossos
ga tradição de engajamento político em favor relatos – isto é, a experiência pessoal do pesqui-
dos povos que estudam – trouxe a tona certos sador – parece sumamente frágil. É irônico que,
elementos da nova conjuntura. Mexeu com não obstante sua crítica a essas ânsias pseudo-
dúvidas, me obrigando a reabrir capítulos das positivistas por uma realidade “concreta”, os
minhas persistentes inquietações profissionais. Comaroff trabalham com material histórico
Quero, no entanto, insistir na especificidade que, entre leis, dados da administração colo-
de minha(s) própria(s) “subárea(s)” que poderia nial, cartas de missionários, etc., constitui uma
caracterizar como uma amalgama de gênero, base aparentemente muito mais sólida do que
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cotidiano, família, parentesco, infância. Ape- a “experiência pessoal” do pesquisador. Ainda
Jan/Dez sar de também trazer esse material para arenas mais, não escondem identidades e – que falem
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de missionários britânicos ou de chefes tswana, contingente e o contextual” (1992: 32 – tradu-

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dos lugarejos interioranos da África ou das in- ção não literal do inglês por CF).
dústrias têxteis na metrópole – usam os nomes Com essa definição do olhar etnográfi-
verdadeiros. O fato de estarem escrevendo so- co, incluiríamos muitas situações, longe não
bre incidentes que ocorreram mais de cem anos somente no espaço, mas também no tempo,
atrás sem dúvida abre o caminho para esse re- onde a revelação de nomes não parece ser um
curso que tanto realça o realismo do texto. grande problema. Não é por acaso que a única
Não obstante a impossibilidade de conhe- vez em que me senti a vontade mantendo os
cer pessoalmente seus pesquisados, os Coma- nomes dos meus “nativos”, tratava-se de uma
roff insistem no caráter etnográfico de seu pesquisa em arquivos históricos. Vasculhando
próprio trabalho. Para eles, aquele encontro processos abertos entre 1900 e 1925, a procura
malinowskiano com pessoas “em carne e osso” de elementos do cotidiano familiar de então
não é nem suficiente nem necessário para de- (Fonseca 1997), centrei meu texto em um ca-
finir a etnografia. Numa crítica não tão vela- sal “emblemático” – Joaquim e Eutherpe (ele,
da aos pós-modernos, ressaltam a ingenuidade acusado de ser mendigo, ela de ser prostituta)
da abordagem “dialógica” que glorifica o en- – que disputavam a guarda dos filhos. Apesar
contro interpessoal e, em certos casos, inspira de nunca ter encontrado meus informantes
menosprezo pelo estilo analítico (considerado pessoalmente, não eram para mim meros nú-
autoritário), substituído agora pela transcrição meros em um arquivo. Ao adentrar as atas do
literal (vista como mais “democrática”) da con- processo e os diferentes depoimentos, passei a
versa entre pesquisador e pesquisado. Na opi- “conhecer” ambos membros do casal, e a ad-
nião dos Comaroff, essa forma de diálogo, com mirar suas trajetórias – tão singulares e ao mes-
sua celebração do sujeito burguês, não passaria mo tempo tão exemplares. Nesse quadro, seus
de um tipo de “entrevista global etnocêntri- nomes, que evocavam a história regional de
ca” (1992: 4; ver também a crítica de Geertz populações imigrantes abrasileiradas, me pare-
(1988) aos “filhos de Malinowski”). No lugar ciam elemento indispensável da análise. Trata-
do “dialógico”, propõem “a dialética” como se de uma sensação que, sem dúvida, muitos de
norte da abordagem etnográfica, conforme a nós vivemos de forma mais aguçada ainda no
qual as conversas intersubjetivas só teriam va- caso de contatos feitos com interlocutores “em
lor quando analisadas à luz de “um sistema de carne e osso” ao longo do trabalho de campo.
signos e relações de poder e significados que as Entretanto, se Joaquim e Eutherpe tivessem
animam” (1992:11). vivido nos dias de hoje, certamente teria me
Afinal, na visão desses autores, o que de- sentido eticamente obrigada a mascarar suas
fine a antropologia não seria tanto seu lócus identidades. A revelação dos dados íntimos de
quanto seu foco. Isso implica, além da rejeição sua vida familiar assim como a publicização
de dualismos fáceis (e.g., tradição X moder- de acusações difamantes são elementos que te-
nidade, global X local), a procura sistemática riam exigido essa precaução. No caso, porém,
pela conexão entre os fragmentos da realidade a distância no tempo me dava uma relativa se-
local (registrados na observação etnográfica) gurança. O uso de nomes verdadeiros no meu
e as forças extra-locais que compõem o con- texto não devia trazer repercussões negativas
texto. Que estejamos estudando “caçadores de nem para os protagonistas do texto (já mortos
cabeças na Amazônia ou analistas de cabeças há muito tempo), nem para seus descendentes.
(psicólogos) nos Estados Unidos, exorcismos Ainda mais, confesso que senti certa satisfação
esotéricos no Caribe ou economia esotérica no em sublinhar, dessa maneira, a materialidade
Planalto, devemos chegar ao assunto pela mes- dos meus dados. Afinal, os nomes verificáveis
ma via, procurando práticas significantes, pro- e os números específicos de arquivos deviam Juiz de Fora
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duzidas no jogo entre sujeito e objeto, entre o prevenir a pergunta implícita no olhar céptico Jan/Dez
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de colegas de outras áreas: “como sabemos que mais miseráveis, ele pretendia restituir a voz
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essa análise não é tudo invenção do autor?” e agency a sujeitos subalternos que, até esse
Colocar o verdadeiro nome produz um momento, quando não eram completamente
acréscimo nada desprezível à verossimilhan- ignorados nos textos acadêmicos, tinham sido
ça de nossos dados etnográficos. Ainda abre a descritos como vítimas passivas. Já aproveitan-
possibilidade de outros pesquisadores incorpo- do as primeiras críticas ao viés colonialista da
rarem estes dados em estudos subseqüentes do antropologia clássica, Scott nomeia inúmeros
mesmo local, usando a monografia precedente acadêmicos malaios na sua lista de agradeci-
como tijolo no edifício duradouro de uma his- mentos, ao mesmo tempo que tem o cuidado
tória universal. Insisto, no entanto, que mes- de criar nomes fictícios para todos os elementos
mo nesse estudo histórico, não consigo usar de seu campo etnográfico – tanto para as pes-
nomes sem certo arrepio (talvez 75 anos não soas quanto para a própria comunidade. Como
seja distância suficiente). Quero agora enten- ele diz na introdução, foi por “motivos óbvios”
der melhor de onde vem esse arrepio. que mudou estes nomes. É subentendido que
se as verdadeiras identidades fossem reveladas,
Uma etnografia da prática as táticas trapaceiras dos “fracos” (aldeões vis a
vis dos funcionários do Estado, sem-terra vis a
Em torno dos anos 70, sabemos que os ven- vis dos proprietários...) perderiam sua eficácia
tos na antropologia mudaram. Antropólogos, ou, pior, chamariam represálias. Dessa forma,
cansados com a visão jurídica da vida social que Scott tira seus personagens do âmbito das ciên-
privilegiava normas, regras, leis e estruturas, cias naturais e os inscreve dentro do complexo
estavam forjando uma abordagem mais dinâ- quadro político da contemporaneidade. Não é
mica da vida social. A nova proposta era pro- o nome literal das coisas (aldeia, pessoas), mas
curar, no fluxo contínuo da vida cotidiana de antes a descrição pormenorizada da vida so-
seus nativos, pistas para falar de uma lógica da cial que realça a veracidade de seu relato. E é
prática (Bourdieu 1972, Ortner 1994 [1984], De o reconhecimento de hierarquias econômicas e
Certeau1996). Se, durante anos, antropólogos políticas ligando os aldeões a cenários nacionais
na sua maioria tinham se satisfeito com longas e internacionais que torna-os contemporâneos
horas passadas com os lideres de uma comuni- do pesquisador, colocando em relevo aspectos
dade (sábios ou chefes), mapeando genealogias, éticos da prática etnográfica.
registrando mitos e, eventualmente, observan- Que o pesquisador esteja lidando com gru-
do ritos, a nova guinada trazia ênfase na antiga pos subalternos ou não, a antropologia da prá-
observação participante com membros menos tica, com sua tendência de explorar exatamente
ilustres de grupo, e em cantos menos visíveis da aqueles domínios que não são “para inglês ver”
vida social. Como todos nós sabemos, a nova trouxe renovados desafios éticos para o estudo
perspectiva, para não repetir os erros da época etnográfico – desafios que o contrato de “con-
colonialista, pretendia incorporar questões de sentimento informado” não resolve. Depois de
poder e história em análises que, no início do tudo, se o objetivo do antropólogo é justamen-
século, teriam nutrido a ilusão de harmonia so- te chegar na lógica implícita dos atos, falar dos
cial e isolamento geográfico. “não-ditos” do local, adentrar de certa forma
Na sua pesquisa sobre as “armas dos fracos” no “inconsciente” das práticas culturais, como
numa aldeia camponesa da Malásia, James Scott podemos imaginar que os informantes prevê-
(1985) foi um dos primeiros da nova geração a em todas conseqüências de seu consentimento
colocar esse estilo etnográfico a serviço de uma informado? Quando uma amiga do “campo”
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análise política, centrada na desigualdade. Ao me diz, “Quero que tu coloque meu nome bem
V.2/N.1 e 2 explicitar os “roteiros ocultos” (hidden trans- direitinho naquele teu texto” e vai soletrando
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2008 cripts) nos atos e falas cotidianos dos aldeões silaba por silaba seu nome, será que está real-
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mente reivindicando autoria das fofocas sobre Ela tinha ficado encantada com as descrições

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seus irmãos cornudos? (Fonseca 2000). Aliás, a detalhadas dessa realidade familiar a ela e não
dificuldade que “leigos” têm de prever o teor da queria cortar uma palavra. Nós, evidentemen-
análise antropológica não se restringe aos gru- te, ficamos abismados. Sem falar da deselegân-
pos populares. Juizes, assistentes sociais, profes- cia da escrita (em geral, o diário de campo, feito
sores e outros profissionais das camadas médias às pressas, é qualquer coisa menos “literário”)
– mesmo reconhecendo que “estão sendo pes- havia problemas éticos: cada terceira linha con-
quisados” – raramente imaginam que o estilo tinha informação que teríamos cortado, ou de
de suas roupas, sua entonação de voz e atitudes outra forma mascarado, justamente para “res-
corporais, suas brincadeiras informais ou brigas guardar a privacidade” dos sujeitos pesquisados.
institucionais podem ser considerados dados re- Bastou a psicóloga sentar com a autora do diá-
levantes para a análise antropológica. rio citado, uma bacharel em antropologia, para
Pior – todos nós reconhecemos que o uso efetivar as mudanças necessárias. Porém, o epi-
de nomes fictícios não garante o anonimato sódio serviu de lição – e nos tornou conscien-
aos informantes. Justamente porque a descri- tes de quanto trabalho o etnógrafo investe na
ção densa depende da riqueza dos detalhes con- edição dos diários, na seleção de determinadas
textuais – tanto do local, quanto do indivíduo passagens, justamente para descrever o máximo
– não é difícil para qualquer pessoa próxima possível sem criar situações constrangedoras
aos nossos sites etnográficos reconhecer cada para seus informantes.
personagem, que seja nomeado ou não. (Pos- Apesar de tudo, numa antropologia da
so mudar o nome oficial do bairro, mas não prática, colocamos em nossos textos acadê-
vou deixar fora o apelido que é tão pertinente micos muitas falas e interpretações que os
ao meu texto e à própria visão do mundo dos nossos “nativos” não colocariam, e cuja au-
moradores: a “Vila do Cachorro Sentado”, toria eles não gostariam de assumir2. A de-
por exemplo, ou o “Morro das Guampas”.). O sigualdade política – entre quem descreve e
pesquisador anda numa corda bamba, procu- quem é descrito – é parte integrante do texto.
rando garantir a riqueza de detalhes que man- Vinte anos atrás, a turma de Writing Culture
tém fidelidade ao texto etnográfico, ao mesmo (Clifford e Marcus 1986) iniciou uma impor-
tempo que exerce uma vigilância constante aos tante crítica quanto à autoria/autoridade no
limites éticos de sua ousadia. texto antropológico. Com isso, levaram par-
A procura desse equilíbrio faz parte da for- te da nova geração a fundir sua “voz” com a
mação de todo antropólogo, mas muitas vezes do nativo (numa edição ingênua de identity
é naturalizada a tal ponto que não nos damos politics – Turner 1994). Levaram outra parte
conta. Foi só recentemente, por causa de um a renunciar inteiramente a campos que en-
pequeno contraponto, que passei a reconhecer volvessem o confronto com pessoas “em car-
o tamanho cuidado ético, investido automati- ne e osso”. (Daí o apelo de estudos literários:
camente no “corte e costura” etnográfico. Uma a análise de textos de cinema, jornais e obras
doutorando da psicologia vinha colaborando literárias não implica tantas complicações
com nossa equipe de pesquisa (no NACI1), éticas.). Porém, permanece a pergunta, para
tinha tido acesso a diários de campo, e pediu o resto da turma: como que aqueles entre
permissão para citar trechos (devidamente re- nós que acreditamos no (ou simplesmente
ferenciados) na sua tese. Já que nossas conclu- gostamos do) trabalho etnográfico de campo
sões sobre a realidade em questão eram muito devemos proceder para lidar com as mazelas
semelhantes, nós da equipe não víamos grande éticas inescapáveis desse estudo do lado me-
problema. Qual não foi nossa surpresa ao en- nos oficial, e muitas vezes (visto como) mais
contrar, na versão quase final de seu trabalho, transgressor, da vida de nossos contemporâ- Juiz de Fora
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três páginas ininterruptas de diário etnográfico. neos perto de casa? Jan/Dez
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Existem soluções “simples” para esses di- a visão antropológica sobre a identidade de qui-
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lemas éticos da etnografia, as que minimizam lombolas e os limites de reservas indígenas, so-
o risco de reações negativas. Assim, podemos licitações vêm também das mais variadas orga-
usar apenas documentos históricos, com re- nizações governamentais e não-governamentais
percussões éticas já atenuadas pelo tempo; lidando com arte popular, saúde, adolescentes
podemos passar a fazer etnografia apenas com infratores, lideranças populares, etc.etc. Profe-
“textos” já fixos e públicos que se prestam tran- rir consultoria sobre “problemas sociais” é cada
qüilamente a diferentes interpretações; pode- vez mais comum, e fornece prova quanto ao
mos estudar apenas aquelas partes da popula- sucesso da antropologia (e do método etnográ-
ção que são consideradas “acima de suspeita”, fico) na sociedade contemporânea. Esse engaja-
ou ainda ressaltar apenas aqueles aspectos da mento do antropólogo em projetos aplicados
vida de nossos informantes que eles mesmos é bem-vindo. Além de proporcionar emprego
aprovam. Dependendo das circunstâncias, to- para estudantes e jovens profissionais, o encon-
das essas abordagens são, em graus variáveis, tro bem problematizado com esses “proble-
válidas – mas nenhuma delas pode se tornar re- mas sociais” nos ajuda a aprofundar o trabalho
gra. Preocupante seria o desejo de evitar qual- propriamente acadêmico. Porém, o encontro
quer questionamento ético, de prevenir toda e só funciona – no sentido que estou propondo
qualquer crítica. Pois agindo assim, estaríamos – quando mantemos bem clara a distinção entre
abdicando da força do método etnográfico, os diferentes estilos de trabalho.
aceitando rótulos hegemônicos de antemão Na maioria dessas consultorias, espera-se
para definir o que é aceitável ou não. Ainda do antropólogo relatos redigidos nos termos
mais, devemos reconhecer que “resguardar a da agência que o contratou – relatos que devem
privacidade de nossos informantes” é apenas parecer científicos (conforme os critérios do
uma faceta da questão ética. Em outro nível, contratante) e ser direcionados a fins imedia-
confrontamos a questão das implicações polí- tamente aplicáveis. Para que estes documentos
ticas gerais das pesquisas que realizamos. alcancem seu objetivo, comunicando-se efetiva-
mente com determinada platéia, ao consultor
O “trabalho político” próprio ao não resta outra opção senão usar uma lingua-
texto etnográfico: reflexividade gem conhecida – trabalhar dentro da lógica do
campo jurídico, por exemplo, ou o dos planeja-
Hoje em dia, é absolutamente normal que dores de políticas sociais. O texto etnográfico,
procuremos definir a “relevância política” dos por outro lado, não é, nem tem pretensão de
nossos textos etnográficos (ou quaisquer outros). ter o mesmo caráter de um relatório técnico ou
Seria difícil achar uma senhora alma na academia de um laudo judicial. O “trabalho político” do
contemporânea que não admita o caráter insepa- texto etnográfico opera em outro nível.
rável do conhecimento e do poder. Já conside- O lado forte da etnografia não é pleitear a
ramos imperdoável o silêncio sobre o contexto causa nativa dentro das estruturas vigentes de
colonial nos textos de nossos pais fundadores. A poder (esse pleito é uma causa importante, mas
pretensão de uma ciência “neutra”, acima de con- a etnografia, tal como a conheço, não é a arma
tendas políticas, seria ainda mais questionável no mais adequada de luta). É, antes, provocar uma
cenário atual onde atuamos simultaneamente reconfiguração das próprias narrativas hegemô-
como pesquisadores e concitoyens de nossos in- nicas que tanto contribuem para a perpetuação
formantes (ver Peirano 1992). dessas estruturas. Com a produção de cenas e
De fato, esse duplo papel leva a um enga- subjetividades “outras”, isto é, que escapam às
Juiz de Fora
jamento de acadêmicos, pelo menos no Brasil, lógicas previstas da modernidade hegemônica,
V.2/N.1 e 2 em diversas frentes. Não somente somos con- obriga o leitor a repensar seu próprio sistema
Jan/Dez
2008 vocados cada vez mais pelo judiciário para dar de classificação. Nesse sentido, a “reflexividade”
46
Cláudia Fonseca

– o que os franceses chamariam le voyage par le fora de lugar num fórum antropológico.

Teoria e Cultura
détour – aquela análise que descreve os (assim A idéia da “visão do nativo” é válida na me-
construídos) “outros” justamente para jogar dida em que “interfere” com a visão (da “cul-
luz sobre a vida e idéias dos (assim construídos) tura”) do pesquisador. Ao incorporar esse câ-
semelhantes – não é mais um mero enfeite ou none da antropologia contemporânea, certos
álibi politicamente correto do texto. Torna-se estudantes cedem à tentação de polarizar o de-
o sine qua non de um texto etnográfico que faz bate. Imaginam que está na hora de rejeitar as
sentido na atual conjuntura. noções mestre da antropologia -- cultura, dife-
A importância da reflexividade torna-se vi- rença, alteridade. -- e, quiçá, pronunciar cadu-
tal justamente nas situações mais próximas de co o empreendimento fundante da disciplina
casa. Cansei de ver jovens neófitos chegar em – a pesquisa etnográfica de campo. Entretan-
bairros pobres da cidade só para voltar com des- to, os comentaristas mais sofisticados adotam
crições pretensamente etnográficas que pouco um tom de auto-crítica antes do que oposição,
fazem além de reforçar estereótipos do senso orientando seus argumentos para uma atuali-
comum – sobre mulheres submissas, crianças zação dos elementos clássicos.
abusadas e adolescentes agressivos. Esse é o S. Ortner (1999), defensora desde os pri-
caso, por exemplo, de um jovem pesquisador meiros ataques, da contribuição distintiva de
que formulou um texto inteiro sobre as amea- antropologia (a capacidade de ver “alteridade”
ças de agressão física que recebia ao tentar en- até entre nossos vizinhos próximos...1994:
trar numa vila periférica de certa metrópole. 388), insiste na necessidade de reconfigurar
Apesar de sua ironia bem-humorada, o pes- o conceito de cultura, sem negar o legado
quisador parecia estar dizendo, antes de tudo, de determinada tradição. Depois de discor-
que esse bairro é de fato sumamente perigoso e rer criticamente sobre “o destino da cultura”
qualquer cidadão são de espírito pensaria cem – frisando a importância da reflexividade, a
vezes antes de entrar nele. Ora, existem pistas necessidade de situar a análise dentro de pro-
interessantes para a análise desse tipo de ma- cessos sociais e políticos amplos e a ênfase
terial. O pesquisador poderia, por exemplo, conceitual na produção de sentidos antes do
comparar seu próprio juízo com a maneira em que no sistema simbólico -- termina por insis-
que a mídia e outras instituições contribuem tir que o novo “uso” que está recomendando
para uma “cultura do medo”, rotulando de- para este conceito continua, apesar de tudo, a
terminados locais e determinadas populações representar “uma visão fundamentalmente ge-
como perigosos (ver, por exemplo, Caldeira ertziana da vida social humana: carregada de
2000) – certamente encontrando chaves para significados, fabricando significados, intensa e
explicar suas pré-noções e mal-estar. Poderia real” (1999: 11)3.
examinar suas próprias motivações, enquanto Abu-Lughod (1991), não obstante o título
jovem da classe média, nascida na década de oi- contundente de seu artigo “Writing against
tenta, em estudar justamente o banditismo em culture” (resposta aos autores de Writing Cul-
bairros populares – e daí poderia esmiuçar sua ture tanto quanto comentário ao conceito de
própria sensação de perigo. Ou, ainda, poderia cultura) e os enunciados iniciais de seu argu-
explorar a possibilidade de que nesses bairros mento contra certa concepção que separa o
há moradores capazes de brincar com os este- mundo em um “nós” (civilizados, universais)
reótipos negativos para – na interação com pes- versus “eles” (exóticos, particulares), também
soas de fora – exercer certo poder. Entretanto, acaba por oferecer sugestões que soam estra-
sem esse tipo de curiosidade sobre suas pró- nhamente familiares à tradição antropológica.
prias representações (uma “reflexividade” dis- Para dar conta da complexidade e incertezas
tinta da visão egóica que sustenta certos textos na vida cotidiana dos beduínos egípcios com Juiz de Fora
V.2/N.1 e 2
pós-modernos), o texto parecia estranhamente quem passou tanto tempo, sugere “seguir a Jan/Dez
2008

47
O anonimato e o texto antropológico: Dilemas éticos e políticos da etnografia ‘em casa’

tradição de uma escrita calcada na experiência “São as assimetrias (…) entre o que nós
Teoria e Cultura

de campo” (1991: 153), mas procurando novas acreditamos ou sentimos e o que os


outros crêem e sentem, que torna pos-
estratégias textuais que apresentam “os outros sível localizar aonde nós estamos ago-
como menos outros” (idem: 149). Com ên- ra no mundo, qual é a sensação de aí
fase nos discursos e nas práticas dos sujeitos, estar, e onde podemos querer ou não
sua “etnografia do particular”, firmemente en- querer ir. Obscurecer essas diferen-
ças e essas assimetrias relegando-as ao
raizada nos processos históricos, acabaria por
campo das diferenças reprimíveis ou
subverter as conotações mais problemáticas do ignoráveis, mera dessemelhança, que
conceito de cultura: homogeneidade, coerên- é o que o etnocentrismo faz e é pro-
cia, e sincronia. Entretanto, apesar de ressaltar gramado para fazer (…), significa nos
zonas de cumplicidade entre sujeito e objeto isolar de tal conhecimento e tal pos-
sibilidade: a possibilidade de mudar,
de pesquisa, essa abordagem não eliminaria a no mais amplo e literal dos sentidos,
possibilidade de descobrir, no cotidiano dos nossa mentalidade.” (1999: 24)
atores, diferenças fundamentais “como por
exemplo aquelas da experiência cotidiana em
um mundo orientado para a produção do efei-
to de estruturas, instituições e outras abstra- Antropologia no plural:
ções [sub-entendido, o mundo do pesquisador um lugar para a ficção
ocidental...] e outros mundos que não têm tal
orientação” (1991: 157). Afinal, tal como pro- Defendo, portanto, que a vocação sin-
põe Said no seu combate contra o “orientalis- gular da etnografia não é simplesmente en-
mo”, Abu-Lughod advoga não a negação total tender a complexa imbricação do local no
da diferença (como querem os propagandistas global (como querem os Comaroff), não é
da globalização), mas sim o reconhecimento apenas documentar os lugares esquecidos
de cada vez mais diferenças e o estudo justa- do cotidiano (como querem os historiado-
mente das maneiras complexas em que essas res sociais), nem fazer denúncias contra a
violência da sociedade dominante, nem ins-
diferenças se entrecruzam (1991: 146).
trumentalizar as autoridades públicas (ou a
Uma leitura apressada destes textos pode-
sociedade civil) nas suas tentativas de inter-
ria levar a uma polarização do debate (como
venção (que sejam interpretadas como polí-
se estivessem propondo para a antropologia a
ticas de disciplinamento ou justiça social).
extirpação dos conceitos de cultura e diferen-
Todos esses objetivos são de alguma forma
ça), ou a uma crítica simplista às implicações
louváveis e certamente motivam boa parte
políticas do trabalho antropológico. Nossa de meu próprio trabalho. Ainda mais, nesse
interpretação, ao contrário, é que essas auto- registro de realismo moderno, temos cole-
ras, tais como muitos outros (auto-) críticos gas – historiadores, sociólogos e cientistas
contemporâneos, estão teimando em resgatar políticos, psicólogos e assistentes sociais
elementos básicos de certo projeto etnográfico – colaborando num mesmo esforço, inteli-
justamente porque acreditam na importância gível a todos. No entanto, sempre pleitean-
– inclusive política – desse tipo de trabalho. do a causa de uma “antropologia no plural”
Geertz (1999), numa discussão em que a pro- (Peirano 1992), gostaria de sugerir que tais
blematização da diferença é claramente ligada empreendimentos não realçam o que tem
à reflexividade, traz o mesmo tipo de urgên- de particular ao exercício antropológico.
cia a seus pronunciamentos. Lembrando que Qual seria, então, essa particularidade?
“o sentimento de ser estrangeiro não começa Para responder essa última pergunta, pro-
Juiz de Fora
V.2/N.1 e 2 à beira d´água mas à flor da pele”(1999: 22), ponho voltar ao texto clássico de Geertz,
Jan/Dez
2008 afirma que: “Descrição Densa” – à parte onde frisa que

48
Cláudia Fonseca

o texto etnográfico não é tão diferente de Assimetrias e concepções de ciência

Teoria e Cultura
um romance de Flaubert: [Escritos antro-
pológicos] são ficções: Ficções no sentido É evidente que há usos e usos do anonima-
que são “fabricadas”, “forjadas” – o senti- to. Sem dúvida existem pesquisadores que, ao
do original de ficio – não que sejam falsas, nomear seus sujeitos “Sra. A” ou “Sr. Silva” e
sem base fatual ou meras experiências ce- ao re-batizar suas aldeias de “Middletown” (ou
rebrais”(1973: 15). Certamente, na etnogra- “Modjokuto”, a tradução em javanês de “cidade
fia, é a realidade das vidas sendo descritas do meio”4), acreditam estar universalizando seus
que dá sentido ao exercício acadêmico. No dados, criando tipos ideais ou sublinhando a re-
entanto, vis a vis dessa realidade, a tarefa presentatividade estatística de seu material. Tal
da antropologia não é tanto documentar intenção não poderia estar mais longe de nosso
quanto evocar a experiência alheia. A boa desenho, onde a etnografia adquire força justa-
etnografia, nessa visão, depende, antes de mente ao mostrar a complexa circunstancialida-
tudo, do “poder da imaginação científica de de casos singulares. Na nossa proposta, o ano-
de nos colocar em contato com as vidas de nimato seria a maneira do antropólogo assumir
estranhos” (Geertz 1973: 16) – “estranhos”,
sua responsabilidade autoral vis a vis das pessoas
não simplesmente no sentido de etnia, clas-
que colaboram na pesquisa, além de avançar uma
se, sexo ou idade, mas também em termos
determinada concepção de antropologia.
de experiência. Não somente com mulheres
Quanto à responsabilidade autoral, cabe
veladas no Islã, mas também com anões, va-
trazer a baila um caso recente publicado no
sectomizados, ou vendedores de picolé que
Handbook on Ethical Issues in Anthropology5,
passam na esquina de nossa casa.
sobre os dilemas enfrentados por uma pesqui-
O uso de pseudônimos em nossos textos
é uma maneira de lembrar a nossos leitores sadora trabalhando numa pequena aldeia da
e a nós mesmos que não temos a preten- Melanésia. Pouco tempo depois de “devolver
são de restituir a “realidade bruta” (e nem a pesquisa” (na forma de seu primeiro livro)
por isso consideramos a antropologia uma para determinados membros da comunidade,
ciência “menor”). O nosso objetivo, sendo essa antropóloga recebeu uma convocação dos
aquele mais coerente com o método etno- anciães do local: reclamavam que ela tinha “se
gráfico, é fazer/desfazer a oposição entre enganado” do nome do lugar e não entendiam
eu e o outro, construir/desconstruir a di- por que ela tinha criado nomes fictícios para os
cotomia exótico-familiar, e, para alcançar diferentes personagens. Reagiram assim, apesar
essa meta, a mediação do antropólogo é de ela ter descrito em grande detalhe casos de
fundamental. Tal postura significa mais do corrupção, roubo, casamentos desfeitos, brigas
que simplesmente por em relevo a força in- de família, etc. De fato, a pesquisadora já tinha
telectual do pesquisador; significa defender tido dúvidas quanto ao uso de pseudônimos,
uma postura em que “estender os limites da argüindo em vão para seus colegas antropólo-
imaginação científica” passa a ser a própria gos que, com nomes verdadeiros, a pesquisa se
razão de ser da etnografia. tornaria mais útil para futuros pesquisadores na
Será que tal ambição é suficiente para satis- região e aumentaria a credibilidade dos relatos.
fazer meus colegas e suas críticas ao anonimato Assim, antes da publicação do segundo livro,
– suscitados no início de meu texto? Para que enviou um rascunho da obra para um “amigo
“serve” esse contato com vidas alheias, pode- de confiança” da aldeia, perguntando se – com
riam perguntar, senão para municiar planeja- aquele conteúdo – as pessoas ainda gostariam de
dores nas suas intervenções na realidade? Em ver seus nomes impressos. Sua pergunta ficou
resposta, volto a insistir que a “aplicabilidade” sem resposta e, reconhecendo que ela (enquan-
Juiz de Fora
e o “sentido político” de uma prática acadêmi- to pesquisadora/autora) seria obrigada a “fazer V.2/N.1 e 2
ca são duas coisas diferentes. as decisões finais quanto ao que serviria aos Jan/Dez
2008

49
O anonimato e o texto antropológico: Dilemas éticos e políticos da etnografia ‘em casa’

melhores interesses da comunidade e do livro”, logia, sendo criação de determinado contexto,


Teoria e Cultura

resolveu usar os mesmos nomes (fictícios) que nós antropólogos -- fruto daquele contexto -
tinha usado no primeiro livro. - temos uma idéia muito mais precisa do que
Creio que o dilema dessa pesquisadora tem nossos informantes do caráter, usos e conseqü-
algo a ver com o que C. Geertz chama a “ironia ências de nossos artefatos disciplinares (livros
antropológica”, inerente no encontro etnográ- e artigos). Assim, que decida pelo anonimato
fico. Por um lado, existe o envolvimento pes- ou não (e há argumentos para ambos lados),
soal entre pesquisador e informante (fruto de a responsabilidade última está com o autor da
muita convivência, e não só de uma entrevista) pesquisa.
– aquela sensação de que os dois participam, O distanciamento inerente na ética voca-
pelo menos momentaneamente, de uma mes- cional do antropólogo vem justamente dessa
ma comunidade moral. Por outro lado, tem a combinação do engajamento pessoal e o olhar
suspeita persistente da assimetria. Afinal, essa analítico:
comunhão de espíritos envolve uma crença
– da parte de muitos informantes – de que a “O compromisso profissional de en-
desigualdade política e econômica que marca a carar os assuntos humanos de forma
relação é passageira. Com um pouco de esfor- analítica não se opõe ao compro-
misso pessoal de encará-los sob uma
ço, poderá ser superada – senão por eles, pelo perspective moral específica. A ética
menos por seus filhos. O antropólogo, por ou- profissional repousa na ética pessoal
tro lado, tendo se formado para ver a realidade e dela extrai sua força; obrigamo-nos
de outro ângulo (fitando as chamadas forças a enxergar por uma convicção de que
estruturais do contexto mais amplo) não terá a a cegueira – ou a ilusão – prejudica a
virtude como prejudica as pessoas. O
mesma fé na iminente ascensão socioeconômi- distanciamento provém não do desin-
ca de seus informantes (pelo menos não todos teresse, mas de um tipo de interesse
eles), e muito menos no seu próprio poder de flexível bastante para suportar uma
ajudá-los a realizar suas aspirações. enorme tensão. Entre a reação moral
É evidente que, no contexto de antropo- e a observação científica, uma tensão
que só faz aumentar à medida que a
logias nacionais, pode haver situações em que percepção moral se aprofunda e a
o antropólogo, como concidadão de seus in- compreensão científica avança. A fuga
formantes, tem um envolvimento mais do que para o cientificismo, ou, por outro
passageiro na vida destes. Não precisa ser tão lado, para o subjetivismo não passa
fatalista quanto Geertz no tocante à irrelevân- de um sinal de que a tensão não pode
mais ser suportada, de que os nervos
cia do antropólogo para o destino de seus inter- não agüentam, e de que se fez a opção
locutores. Temos fartos exemplos na América de suprimir a própria humanidade ou
Latina de profissionais que passaram boa parte a própria racionalidade. Essas são as
de suas vidas em movimento sociais, ONGs ou patologias da ciência, não a sua nor-
no Congresso Nacional, obrando pela melho- ma”. (Geertz 2001: 46)
ria social, econômica e política dos povos que
estudaram. [Temos ainda “antropólogos nati- Essa postura faz parte de uma determinada
vos”, os “halfies” (Abu-Lughod 1999) e ainda visão de ciências – a que convive com tensões
os pesquisadores que estudam “para cima” que em vez de tentar saná-las, procurando assim
talvez questionassem a assimetria “radical” na manter aberto o debate. “Dilemas” são, por
relação pesquisador/pesquisado.] No entanto, definição, sem solução e a discussão deles serve
que a desigualdade socioeconômica seja superá- antes de tudo para ajudar a enfrentá-los hones-
vel ou não, ainda existe no encontro etnográ- tamente. Por um lado, rejeita-se atitudes cien-
Juiz de Fora
V.2/N.1 e 2
fico uma inevitável assimetria política – entre tificistas – daqueles pesquisadores preocupados
Jan/Dez quem descreve e quem é descrito. A antropo- com o caráter pouco rigoroso da antropologia
2008

50
Cláudia Fonseca

que, se alcançassem seu alvo, transformariam tar compreender, e, dessa maneira, se tomás-

Teoria e Cultura
a disciplina em um tipo de física social, reple- semos como objetivo da etnografia entender
ta de leis, formalismos e provas contundentes. algo dos “saberes locais” que tantas vezes fo-
Por outro lado, questiona-se aqueles que, tendo gem das previsões da racionalidade moderna,
reconhecido a fragilidade das “bases sólidas da será que os nomes literais realmente ajudam?
ciência,” se entregam ao subjetivismo existen- Frisei ao longo desse artigo que não deve
cial, ou que, tendo descoberto complicações haver postura única frente à questão do ano-
éticas, renunciam inteiramente ao empreendi- nimato nos nossos textos. Hoje, os antropó-
mento etnográfico. logos estão se engajando cada vez mais em es-
Conviver com tensões não significa, no paços extra-acadêmicos onde lhes cabe estilos
entanto, assumir uma postura neutra ou se diversos de pesquisa e de texto escrito. A “an-
eximir do conflito. Achando que o peso no tropologia no plural” não deixará de ser rei-
debate – em determinado momento – tende vindicação da disciplina. No entanto, na ten-
mais para um lado, e ciente (ou crente) quan- são do debate, acho importante lembrar que
to às conseqüências políticas de tal pendor, o existe determinado estilo etnográfico em que
pesquisador se posiciona. Assim, podemos ter- há bons motivos para manter o anonimato. E
minar por citar o intelectual francês, P. Bour- que esse estilo – “clássico” sem ser necessaria-
dieu, que, malgrado um estilo de engajamento mente colonialista -- não é moralmente mais
político marcadamente diferente do de Geertz, suspeito nem politicamente menos conseqüen-
parece concordar com este quanto à impor- te do que seus congêneres.
tância de combater atitudes cientificistas nas
áreas humanas. Segundo Bourdieu, o scholastic
bias, com sua pretensa autoridade intelectual, Notas
pouco faz senão reforçar a doxa neoliberal.
Nesse quadro, a função política do intelectual 1
Núcleo de Antropologia e Cidadania, PPG em Antropologia
seria “produzir e disseminar instrumentos de Social, UFRGS.
defesa contra a dominação simbólica armada 2
Tem inúmeros relatos sobre as tensões e ambivalências que
atualmente, o mais das vezes, pela autoridade
circundam o “retorno” da etnografia para a população estuda-
da ciência” (2001: 39). Reconhecemos, nessa
da. Veja, por exemplo, Abu-Lughod 1999 e Behar 1995.
proposta um tanto irônica (de opor “uma crí-
tica propriamente científica à autoridade com 3
“[…] a fundamentally Geertzian view of human social life:
pretensões científicas” idem), que Bourdieu meaning-laden, meaning-making, intense and real”.
está pensando em outras guerras acadêmicas
(sociólogos X economistas). Mas arriscamos 4
Vide a auto-crítica de Geertz 2000:14.
seqüestrar sua intenção para colocar em rele-
vo o potencial político de determinado tipo 5http://www.aaanet.org/committees/ethics/case5.htm, con-
sultada 2/17/2006.
de antropologia – a da etnografia de espírito
iconoclasta.
A pergunta é evidente: Na ânsia de tornar
nossos dados mais “sólidos” (com nomes reais
e lugares verificáveis), será que não estaríamos
deslizando para o campo dos engenheiros so- Bibliografia
ciais – à procura de fatos, proposições e leis
voltadas para a previsão de comportamentos Abu-Lughod, Lila. 1999. Veiled sentiments:
Honor and poetry in a Bedouin society
e, assim, a gestão racional da vida social? Se,
(updated edition with new preface). Juiz de Fora
ao invés, aceitássemos que a verdadeira ofensa V.2/N.1 e 2
Berkeley: University of California Press. Jan/Dez
contra a moralidade é julgar sem primeiro ten- 2008

51
O anonimato e o texto antropológico: Dilemas éticos e políticos da etnografia ‘em casa’

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