Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 39

História Económica e Social do Mundo Moderno – Susana

Munch Miranda (smm@fcsh.unl.pt)

Aula 1

Estudar História Económica: porquê?


Processos muito extensos; pouco uniformes (no tempo e no
espaço); envolvem esforços de pessoas anónimas.

Estudo das economias do passado:


Observar as múltiplas formas pelas quais as sociedades e
indivíduos responderam a condicionalismos ou oportunidades
para produzir bens e serviços.
Compreender que os sistemas económicos têm uma natureza
histórica contingente.

Objeto de estudo: processos de mutação económica


“Economic history issues into and includes present day
facts” (Joseph Schumpeter, 1954)

Porque são alguns países ricos e outros pobres?


A dimensão global desta pergunta.
Comparar não só os países europeus, mas também a China,
outros países asiáticos, americanos e africanos.

Por que razão arrancou o moderno crescimento económico na


Europa? E quando?
1500: o início de uma economia global integrada.
Viagens de Cristovão Colombo à América e de Vasco da Gama à
Índia.

1500-1800: Forja da liderança dos atuais países ricos.


“A Grande Divergência”: como o mundo ocidental ultrapassa o
resto do mundo em PIB per capita.
Termo conotado por Samuel Huntington (1996)

PIB – Produto interno bruto: indicador utilizado na


macroeconomia
No início do século XVI não há uma grande diferença do PIB
chinês com o dos países europeus.
Problemas de desindustrialização na Índia pelos ingleses.
Algodão do Sul dos Estados Unidos no século XVIII.
Indústria do algodão vem de um contexto extraeuropeu.
Clara redução dos rendimentos da China.

1
Duplicação dos rendimentos dos Países Baixos entre 1500 e
1600.

Fontes: Recenseamentos, enrolamentos militares, salários…

Alguns temas aglutinadores:


O ritmo de crescimento das sociedades pré-industriais.
O avanço rápido do Noroeste da Europa (em detrimento do
Mediterrâneo) e as origens da “Pequena Divergência” -»
Processo de divergência económica entre os países da Europa
do Norte com os do Sul europeu.
As origens da globalização e a formação de uma economia (em
termos económicos) global; consequências económicas e
sociais da globalização. Bem-estar e demografia.
Os fundamentos da industrialização e do moderno sistema
capitalista.
As raízes da formação das sociedades contemporâneas.

Enfoques e perspetivas
- As análises estruturais;
- As dinâmicas;
- Análises temáticas e estruturais;
- A interação de fenómenos económicos e não económicos em
processos de mudança económica;

- Economia política – estratégias que os estados definem


quanto à economia.

Os debates e controvérsias
Os conceitos próprios da disciplina:
- Produtividade (outputs e inputs). Diferentes inputs dão
diferentes outputs;
- Fatores de produção: terra, trabalho e capital (capital
circulante e capital fixo);
- Capitalismo (sistema historicamente determinado;
resultado de muitas opções dos intervenientes económicos;
assimetrias de detração dos meios de produção);
- Crescimento económico (a diferença entre crescimento
extensivo e crescimento intensivo)
Tem os seus problemas quando aplicado ao Antigo Regime.

Algumas regiões da Europa onde o milho assenta bem.

Avaliação

2
6 aulas práticas (com controlo da assiduidade: 27/09;
04/10; 16/10; 30/10; 13/11; 29/11.
Regime de avaliação contínua.
2 testes sem consulta.
1º teste: 25 de outubro;
2º teste: 4 de dezembro.

22 de novembro não há aula.


Aula suplementar: 13 de outubro, sexta (10-12h)

Horário de atendimento: 2ª e 4ª: 14:30h – 15:30h (marcação


prévia)

Moodle: FCSH_HESMM_2023

Aula 2

1. As economias europeias na véspera da primeira


globalização
Características das economias pré-industriais europeias:
- Elementos de continuidade desde o período medieval com
elementos inovadores.
- Lenta emergência de uma economia capitalista e
globalizada.
- Avaliar o legado medieval na economia europeia…
Para compreender:
a) Obstáculos ao desenvolvimento económico
b) Fenómenos de mudanças -» lento despontar de uma
economia de mercado

O que são instituições em economia?


Conceito emerge no contexto da Nova Economia Institucional.
Procura trazer fenómenos não “económicos”, como culturais e
políticos para a economia.
“[Institutions are] the formal and informal rules that
organize social, political and economic relations” (North,
Douglas, 1990)

Instituições são:
- Concebidas pelos seres humanos (“the humanly devised
rules of the game”);
- Impõem constrangimentos ou fornecem incentivos à
atividade económica (exemplo das corporações, dos
contratos).

3
A distinção entre instituições formais (leis, regulamentos,
contratos) e informais (normas não escritas, tradições -»
incorporadas na cultura).
As instituições são essenciais para o crescimento e
desenvolvimento dos países. (North, Douglas, s.d.)

Qual o propósito das instituições?


- Garantir o uso eficiente de recursos e reduzir a
incerteza das transações económicas;
- Regular e controlar a distribuição de recursos.
Ex.: Servidão da gleba, escravatura, guildas.
“Institutions are the rules of the game. Some are upheald
by law, others by mutual and spontaneous consent and a few
by the (brute) force of privileged elites.” (Persson, K.
G., 2010)

1. Agricultura
Mais pesada herança da medievalidade;
Atividade económica predominante;
85-90% da população europeia (início da Idade Moderna);
Baixa produtividade agrícola; -» não é possível libertar
mão de obra porque não há melhorias técnicas;
Ligação à precuária;
Suporte de algumas indústrias têxteis.

A herança medieval e as barreiras ao crescimento de uma


economia de mercado:
1. Senhorialismo (manorialism / manorial system)
2. A vila comunitária

1.1 Senhorialismo
Modelo de organização agrária e social dominante na Europa.
Características:
1) A posse da terra e o exercício de poderes jurídico-
políticos pelo proprietário e “senhor” (cobração de
direitos; rendas extra-económicas; direitos banais;
direitos do senhor por deter os bens de produção (moinho,
forno); direitos de portagem);
2) Dissociação propriedade / exploração
- contratos de exploração e repartição do produto agrário.

Há regiões onde podemos dizer que este regime permanece


ativo até aos inícios do século XIX.
Servidão reafirma-se na Europa de Leste como forma de
recuperação da crise do século XIV.
4
Peso da elite terratenente na Polónia (junkers), que forçam
o vínculo.

Os limites ao desenvolvimento agrário:


- Assimetrias na repartição do produto bruto agrícola;
- Direitos de exploração pouco seguros -» para quê aumentar
a produtividade? (do ponto de vista dos camponeses);
- Restrições aos usos de terra (camponeses proibidos pelo
senhor de introduzir novas culturas);
- Cobrança de portagens e limites à circulação interna de
bens (ex.: perto de 1 centena de portagens ao longo do rio
Loire).
Efeito: baixos níveis de produtividade agrícola.

Taxa de rendimento cerealífero (yeald ratio) -» (proporção


entre a média da sementeira e a média da colheita).
Séc. XIII-XIV: 1:4 ou 1:5
Séc. XVI: 1:6
(taxas atuais: 1:40 – 1:50)

Altamente perene. Sujeita a alterações climáticas -» crises


de fome.
- Uma incipiente economia de mercado.
Populações têm baixos rendimentos -» implicam baixa
procura. Não estimula o consumo.

1.2. A vila comunitária


Prática agrária do noroeste e norte da Europa.
- Rotação trienal de culturas
A fronteira geográfica Norte/Sul: rio Loire.

O papel do clima e dos solos:


- Chuva no Inverno, Primavera e Verão;
- Solos mais férteis.

Cultura trienal a norte do Loire e bienal a sul.

Modelo de rotação trienal de culturas


Ano Folha A Folha B Folha C
1 Cultivo de Cultivo de Pousio
Outono Primavera
(trigo, centeio) (aveia, cevada,
Ceifa: Verão ervilhas,
feijão)

5
Ceifa: final do
Verão
2 Cultivo de Pousio Cultivo de
Primavera Outono
3 Pousio Cultivo de Cultivo de
Outono Primavera

Cultura de Outono mais desgastante em termos de nutrientes.

Pecuária: condição essencial da cerealicultura;


Os animais de tiro e a preparação dos terrenos de cultivo;
A adubagem dos solos.

Campos quadrados no Mediterrâneo:


- Instituições comunitárias menos fortes no Mediterrâneo;
- Rotação bienal de culturas;
- A prevalência de cereais de Outono: trigo;
- Cultivo familiar.

“Campos abertos” do Noroeste da Europa (open field system).


Práticas comunitárias no cultivo da terra.
Espaço organizado em lotes de terra contínuos, apropriados
individualmente, mas explorados em regime comunitário.
Campos alargados sem vedação.

Características do open field system:


- Obrigações comunitárias no cultivo da terra;
- Compáscuo (animais, detidos individualmente, obrigados a
pastar);
- Ausência de vedações entre lotes de terra.

Mais velhos no órgão de gestão da vila.

Regras compulsórias (cultivo e compáscuo)


- Limites à iniciativa individual;
- Restrições aos usos da terra.

Restrições ao mercado livre de terras.

A discussão historiográfica
Vila comunitária: uma instituição eficiente?
- Uma estratégia de prevenção de riscos;
- Melhor gestão do trabalho;
- Vantagens do esforço de cooperação na lavra das terras.

6
Todavia: escondem assimetrias na distribuição de
rendimentos: a favor das elites (camponeses abastados).

Críticas dos limites à livre iniciativa.


Visto como uma barreira ao estímulo do crescimento
económico.

(Conclusão)
Prevalência do senhorialismo e da vila comunitária e os
limites ao desenvolvimento agrário.
Agricultura de baixos rendimentos;
Fracos estímulos para a inovação e elevação da
produtividade;
Mas: lenta emergência da agricultura comercializada
(Flandres e Países Baixos do Norte =» zonas mais
urbanizadas).

2. Indústria
A cooperação e os limites impostos por esta instituição
económica.

O legado medieval:
a) tecnologia e fontes de energia =» energia mecânica:
força manual e força muscular humana; «80-85% da energia
das sociedades pré-industriais provém de tração animal e da
energia muscular humana» (Carlo Cippola);
b) gama de bens produzidos
- A primazia da produção têxtil no conjunto da produção
industrial;
- A progressiva difusão do ferro: cutelarias e industrias
de armamento (aliado à afirmação do Estado Moderno);
necessita de água e madeira (por isso é que se localizavam
perto de florestas; podia ser importado); contudo: procura
e produção limitadas; ferro «parente pobre das economias
pré-industriais» (Fernand Braudel).
c) organização do trabalho
- A oficina =» disciplina corporativa;
- A indústria doméstica ou rural.

7
As corporações (guildas) e os seus objetivos:
- Uniformizar o processo produtivo;
- Manter equilíbrio social e evitar a concorrência entre os
associados (a concorrência é o problema para os liberais).
Instituições obrigatórias.

As guildas e as barreiras ao desenvolvimento económico:


- Monopólio de produção;
- Limites à produção (quotas);
- Rigidez de preços e salários;
- Proporcionam rendas de monopólio aos seus membros.
Preços e rendimentos condicionados por este sistema e não
pelo mercado.
Limita a capacidade de resposta destas manufaturas à
procura no século XVII e XVIII.

A indústria doméstica ou rural:


- Tradição de produção artesanal nas zonas rurais;
- A proliferação de rocas de fiar e teares;
- Familiarização da mão-de-obra com processo produtivo;
- Abundância de matérias-primas, recursos (água) e
trabalho;
- Atividade desempenha-se ao lado da agricultura;
- Trabalho predominantemente feminino;
- Produção familiar nos tempos mortos (invernos).

(Conclusão)
Desequilíbrio entre agricultura / indústria.

8
Evolução dependente das estruturas agrárias e dos seus
efeitos:
- Mercado de procura reduzido: baixos rendimentos e
prevalência do auto-consumo.
Os limites técnicos ao alargamento da produção
manufatureira.

Aula 3

3. O comércio
3.1 O comércio local
Assegura a maior parte das trocas comerciais entre o campo
e a cidade.
Mercados locais auto-suficientes, polivalentes e fracamente
integrados. =» pequenas ilhas de troca mercantil.
Procuram satisfazer as necessidades locais.

Os obstáculos à integração de mercados:


a) Fatores jurídico-políticos (portagens e direitos
senhoriais) =» 120 zonas de portagens diferentes ao longo
do rio Loire no século XVI;
b) Dificuldades de comunicação
- Condicionalismos geográficos;
- Mas: há comunicações mais intensas em certas regiões
(Mediterrâneo, Mar do Norte, Países Baixos).
Dificuldades de integração económica na Alemanha à exceção
dos rios, como o Elba, no Norte, que liga Hamburgo ao Mar
do Norte, e o Reno (até ao caminho de ferro, basicamente).

Dispersão de mercados e circulação limitada de bens de 1ª


necessidade.
Trocas inter-regionais limitadas.
Excedentes insuficientes e irregulares.

9
Cereais lançados no comércio marítimo: 3% do consumo total
(séc. XVII) =» “trigo do mar” era o trigo que vinha do mar.
Chega trazido por holandeses, vindo do Báltico. Mais fácil
e rápido transportar trigo pelo mar do que pelo interior
terrestre. Ex.: grande crise cerealífera em Itália no final
do século XVI.
3.2 Comércio de longa distância
Modelo herdado do período medieval nas rotas de longa
distância:
- Mercadorias de baixo volume / alto valor unitário (sedas,
têxteis, especiarias, pedras preciosas…);
- Eixo mercantil Itália /Levante.

Eventualmente: Transferência do centro gravitacional do


Mediterrâneo para o Atlântico.
Carreira da Índia (desde 1498). No início dava margens de
lucros elevadíssimas =» maior competitividade com ingleses
e holandeses. Perda de madeira. Problemas políticos
europeus. Aumento dos preços da construção naval. Índia
deixa de ter tanta produtividade no final do século XVI.
Mudança da tipologia de carga que vem da índia. Abertura a
negociantes privados. Menos pimentas, mais têxteis. (Estudo
de James Boyayian)
Nos finais do séc. XVI são os europeus do Norte a entrar
pelo Mediterrâneo. (COMPLEMENTAR COM DINÂMICA DO
CAPITALISMO DE BRAUDEL)

A abertura dos primeiros eixos de trocas modernas (séc.


XV):
- Mar do Báltico / Mar do Norte;
- Europa central / Europa ocidental.
Circulação de bens de 1ª necessidade: cereais e gado.

Comércio internacional de cereais:


- Polónia (Gdansk) / Nordeste da Europa;

10
- Cereais vinham da Polónia, pelo rio Vístula, para o mar
Báltico.

Comércio internacional de gado: rotas terrestres:


Contexto (desde 1470): elevação dos salários reais e
aumento do consumo de carne.
Regiões criadoras: Polónia, Boémia, Hungria e Dinamarca.

Dois eixos mercantis:


- Hungria / Alemanha do Sul, Áustria e cidades do Norte de
Itália;
- Dinamarca / Alemanha do Norte e Países Baixos.

Volume de exportações (nº de cabeças de gado):


- Dinamarca: 2 000 (1423) =» 45 000 (1560)
- Polónia: 80 000 (1574)
Abastecimento de carne à Europa é aumentado.
Manadas não conseguiam transpor mais de 450km por ano;
havia paragens; ainda assim, valia a pena.
Todavia:
- Prevalência dos entraves à circulação massiva de bens de
consumo;
- Arcaísmo dos meios de transporte;
- Lentidão na circulação de pessoas e mercadorias.
- Comércio supra-regional: dominado por produtos de alto
valor unitário e baixo volume.

(Conclusão)
As economias europeias na viragem para o período moderno:
- características diversas;
- permanência de constrangimentos;

11
- emergência de novas oportunidades (agricultura
comercializada e mais variada no norte de Itália para
abastecer o mercado urbano).
Sinais inequívocos da possibilidade de mudanças.

Demografia
Porque é que a história económica depende do estudo da
mudança demográfica?
a) Procura =» dimensão e composição do mercado (ter em
conta sempre os rendimentos da população);
b) Oferta =» mão de obra.

A população europeia na Idade Moderna


a) Dimensão;
b) Distribuição (a urbanização);
c) Ritmos de crescimento e características específicas do
regime demográfico.

Thomas Robert Malthus (1766-1834), demógrafo e economista.


Teoria pessimista da forma como evolve a população e a
produção.
O crescimento da população é sempre superior ao ritmo do
crescimento da produção.
O crescimento demográfico faz-se em progressão geométrica,
mas os recursos crescem segundo uma progressão aritmética.
Crescimento descontrolado da população conduziria a uma
catástrofe (armadilha malthusiana).
Existem neo-malthusianos.

Os dois mecanismos de interrupção na evolução demográfica:


1º: Positive checks – fomes, guerras, epidemias;

12
2º: Preventive checks – auto-controlo da população –
elevação da idade de casamento; aumento do celibato
definitivo.

a) Dimensão
As estimativas possíveis
As tendências seculares:
- Crescimento (séc. XVI);
- Desaceleração (séc. XVII);
- Crescimento acelerado (séc. XVIII).

Estagnação demográfica do século XVII e as suas variações


de cronologia:
- 1600-1650: Europa do Mediterrâneo (crises agrárias na
Itália) e Alemanha (guerra dos 30 anos);
- Depois de 1650: Inglaterra e Países Baixos do Norte.

Variações de amplitude:
- Inversão do ritmo de evolução: Espanha, Itália e
Alemanha;
- Estagnação – diminuição do ritmo de crescimento em
França, Inglaterra e Países Baixos.

Aula 4

Demografia
a) Dimensão
França, Inglaterra e Países Baixos (1600-1700)
- Estagnação ou crescimento populacional fraco
1600-1650: travagem do crescimento demográfico europeu.

13
Ao contrário do que aconteceu com a crise do século XIV,
que afetou a Europa na generalidade, no século XVII já não
é assim.
b) Distribuição da população pelo território
Europa ocidental mais urbanizada. Aumento da população
urbana é mais pronunciado na Europa do Norte.
População urbanizada nos Países Baixos e Bélgica recua no
século XVIII derivado a fenómenos económicos (fim da “Idade
de Ouro” destes territórios).
Crescimento em Portugal de 3% a 11,5% entre 1500-1550.
Decrescimento em Portugal no século XVIII.
França, Países Baixos e Itália mais urbanizados em 1600.
Tendência geral de maior urbanização nas áreas costeiras.

b) Distribuição
Quase duplicação da população urbana entre 1500 e 1800.
1800 (Europa ocidental):
- Taxa de urbanização média: 14,9%;
- Taxas de urbanização mais elevadas no Noroeste da Europa:
Províncias Unidas – 29%
Inglaterra – 20%
Aumenta o número de cidades com mais de 100 mil habitantes
- Crescimento explosivo nas grandes metrópoles;
- Finais do século XVII: Londres e Paris – 500 mil
habitantes.

Movimentos migratórios constantes provenientes do meio


rural
- sedes da administração central (Madrid e Paris)
- cidades portuárias (Hamburgo, Cádiz)

c) Ritmo de crescimento demográfico

14
As variáveis que intervêm na evolução demográfica:
- Natalidade;
- Mortalidade;
- Movimentos migratórios.

O regime demográfico:
Altas taxas de natalidade e altas taxas de mortalidade
(entre 25‰ – 40‰)
(Portugal 2021: TBN: 7,6‰ / TBM: 12,0‰)

Mortalidade endémica ou normal (25‰ – 35‰)


- Mortalidade infantil: 200‰ – 350‰ (até 1 ano de idade)
- Mortalidade infanto-juvenil: 100‰ – 200‰ (até 5 anos de
idade)
Cerca de metade dos nascidos não chegava à idade adulta.

Mortalidade endémica
- Crescimento lento da população na longa duração – 2-3‰
por ano;
- População dobraria no espaço de dois a três séculos.

As variações de curto prazo -» crises de mortalidade


- Taxa de mortalidade: cerca de 400‰ (situações externas);
- Saldo negativo entre nascimento e mortes.
Regresso à tendência de crescimento de longo prazo depois
de cada crise.

A extrema irregularidade do ritmo de evolução demográfica


no Antigo Regime
- Curta duração: populações sujeitas a flutuações mais ou
menos drásticas; saldo fisiológico temporariamente negativo
-» as crises demográficas.

15
A teoria das crises de subsistência (Jean Meuvret e Pierre
Goubert)
- A coincidência entre alta dos preços dos cereais e
aumento do número de mortos;
- Crise alimentar -» desastre demográfico;
- Os cereais, base da alimentação europeia -» 80% da ração
calórica;
- Tónica dominante nesta interpretação: a fome.

Contestação:
- O revisionismo das crises de mortalidade;
- Crises de mortalidade sem elevação dos preços do trigo;
- Subida de preços de cereais sem elevação do número de
mortos (ceticismo relativamente ao papel da fome enquanto
causa primordial da mortalidade a larga escala).

A importância das epidemias nas crises de mortalidade


- Exposição e resistência a micro-organismos infeciosos
Uma dinâmica independente das doenças infecto-contagiosas ?
- A «mortalidade autónoma»;
- Inter-relação constante homens / animais / micro-
organismos patogénicos ;
- 1940-2004: 335 novas infeções;
- 2019: SARS-CoV-2.

A virulência das doenças infeciosas na Idade Moderna:


peste, tifo, varíola
A inversão dos termos explicativos:
- As epidemias como causa principal do aumento da
mortalidade

16
- Século XVII: 66-75% das mortes causadas por uma doença
infeciosa (investigação realizada com base em registos
paroquiais ingleses).
A tónica já não está na fome, no entanto esta não está
ausente.

Qual o papel da escassez e da fome nas crises demográficas?


- Fome -» situações de rutura económica e social -»
disseminação de doenças;
- As respostas das sociedades pré-industriais à escassez e
a propagação das epidemias.
Movimentos migratórios;
Importação de cereais do exterior.

A idade média do casamento e as consequências na natalidade


Duas premissas:
1) Na Europa da Idade Moderna a esmagadora maioria das
crianças nasce no seio do casamento;
2) uma fecundidade dita natural (não há tentativa de
controlar a natalidade).

A idade de casamento da mulher e o possível número de


filhos:
- 25 anos de fer3lidade: 8-10 filhos;
- 20 anos de fertilidade: 6-7 filhos;
- 15 anos de fertilidade: 4-5 filhos.
No século XVII: progressivo retardamento da idade média de
casamento em várias regiões da Europa.

O retardar da idade média de casamento e o seu significado


num contexto marcado por:
- Elevadas taxas de mortalidade infantil e infanto-juvenil
-» cerca de metade dos nascidos não chega à idade adulta;

17
- Período de vida matrimonial limitado -» Taxa de
reprodução insuficiente para aumentar substancialmente a
população.

O padrão de casamento europeu – John Hajnal


Linha de Hajnal: S. Petersburgo – Trieste
A ocidente: sistema de nupcialidade fraca
a) idade média elevada do 1.º casamento;
b) taxa elevada de celibato feminino e masculino definitivo
(15%-30%).
A leste da linha: sistema de casamento precoce e quase
universal; celibato definitivo inferior a 5%.
Azul: zonas de nupcialidade relativamente alta.

Justificação de Hajnal:
a) este padrão de casamento é indissociável da família
nuclear europeia ocidental;
b) descendentes não se casam até terem condições para se
autonomizar;
c) contração dos salários reais das populações europeias do
scéulo XVII.

Aula 5

Aula prática: Análise dos textos nº 1; 2; 3 e 4.

18
Grande surto de peste desde 1569, desde 1348.
Peste agudiza as clivagens existentes na sociedade!!!

A Peste Negra:
- Bactéria: Yersinia pestis;
- Pulga / ratos negros (hospedeiros): picada da pulga;
- Zoonose;
- 3 variantes de pestes: Bubónica: taxa de mortalidade 60 a
80%, transmitida por contacto
Pneumónica: taxa de
mortalidade 99% (3 dias); mutação da peste bubónica;
transmitida por via aérea
Septicémica: mais
rara; a transmissão fazia por intermédio do sangue
infetado; muitíssima virulenta.
A peste permaneceu endémica na Europa; último grande surto:
1720; não se conhecem surtos depois do séc. XIX.
Austrália, Índia e EUA: surtos no séc. XX.

Surto de peste de 1569: Julho de 1569 até à Primavera de


1570.
Número de mortos (Pêro Rodrigues Soares): 40 000.
População de Lisboa (cidade, sem o termo)
1551: c. 112 830
1590: 120 000

Análise do excerto de Jan de Vries


Influência de Malthus na interpretação das crises de
mortalidade da curta duração
Crises de subsistence -» referência à teoria de Jean
Meuvret e Pierre Goubert e à sua sequência de fenómenos
(influenciada por Malthus)

19
- Perturbação climática -» quebra das colheitas -» subida
dos preços -» redução do aporte calórico -» aumento da
mortalidade (por via da subnutrição)

O revisionismo
- A mortalidade e as curvas dos preços dos cereais: uma
relação imprevisível;
- As outas determinantes do comportamento da mortalidade:
epidemias, guerra e organização social.

Os limites ao Positive check de Malthus causado pela fome


-» fatores epidemiológicos (naturais e biológicos) mais
importantes do que os meios de subsistência.
A mesma interpretação é válida para variações de longo
prazo da mortalidade.
- a dinâmica própria das doenças infectocontagiosas.

Qual a estrutura dos trends da mortalidade?


Uma das chaves: a persistência de uma elevada mortalidade
infantil
Variações regionais -» mais relacionadas com hábitos
culturais, do que com fatores económicos e sociais

Fertilidade
Variável mais previsível
Mas: fertilidade natural não é idêntica em toda a Europa.
A importância dos intervalos intergenésicos –
determinados pelas práticas de amamentação e sua duração.

Aula 6
(faltei mas é o final do powerpoint da demografia)

Aula 8

20
O «longo século XVI» agrícola. Os Países Baixos do Norte

Agricultura intensiva, diversificada e comercializada.


Na vanguarda do crescimento agrícola europeu.
Algumas evoluções nos Países Baixos do Sul
Porquê?
a) Condições de terreno (províncias marítimas).
Abundância de água; Recuo da produção cerealífera –
pastoreio; plantas tintureiras (Garança).
b) Elevada concentração urbana (havia mercado escoar os
produtos; concentração urbana associada à
possibilidade de abdicar de mão-de-obra agrícola para
se fixar no espaço urbano –» indício de
produtividade) -» 15,8 – 24,3% (1500-1600)
c) As estruturas sócio-agrarias
- Fraco controlo senhorial (os próprios senhorios,
laicos e eclesiásticas, procuravam obter
rendimentos);
- Ativo mercado de terras (consequência do processo
de conquista de terra ao mar;
- Arrendamentos fundiários em moldes capitalistas
(renda fundiária e não senhorial, sem direitos
banais);
- Direitos de exploração consolidados pelo costume
(ainda que não haja direitos hereditários na
exploração da terra, é quase garantido que o contrato
seja renovado geracionalmente, estimulando o
investimento, a longo prazo, na terra;
- Direitos de propriedade: c. 40% detidos por
agricultores (percentagem muitíssimo elevada);
- Pequenas e médias explorações.
-» estímulos para a especialização produtiva.
Tentam apostar em culturas altamente rentáveis para
fazer face ao valor das rendas.
A família é a grande célula produtiva.

No que é que se traduz?


Tem que ser acompanhado com economias abertas com
capacidade de exportação.

21
Tem que haver a certeza de que o que se precisa pode
ser buscado ao mercado.

A especialização produtiva:
- Gado e seus derivados (manteiga e queijo),
horticultura, fruticultura;
- Plantas de aplicação de novas técnicas agrícolas.

O desenvolvimento de novas técnicas agrícolas


- Técnicas de cultivo intensivo;
-» Rotação contínua de culturas;
-» Sistema de acoplamento ou alternância (ver aula
prática).

As dinâmicas de investimento no mundo rural


1565-c. 1589: as perturbações da revolta dos Países Baixos;
c. 1590: retoma dos investimentos e da conquista de terras
ao mar
O contexto: subida dos preços de bens agrícolas
- Os protagonistas: agricultores (recorrendo ao crédito) e
elites mercantis urbanas (que financiam e têm, eles
próprios, iniciativa)
-» Elevados níveis de produtividade e elevação.
Agricultura muito virada para o mercado.

Fim da expansão agrícola e a crise do século XVII


Dois ciclos
1º) 1590-1650 – Espanha: quebra produção cerealífera, 30-
50%; Itália: c.1630; França: quebras 20%-40% (regiões norte
e leste), 1630-1660; Alemanha: quebas de produção
associadas à Guerra dos Trinta Anos.
2º) depois de 1660 – Países Baixos do Norte, França
meridional e ocidental; - Contexto: preços declinantes.

Como interpretar estes ciclos de contração da produção


cerealífera?
O modelo neo-malthusiano (décadas de 50 – 80)

22
Thomas Robert Malthus e as suas premissas: utilizadas por
uma série de historiadores para explicar as crises do
século XVII.
a) A terra é um bem fixo;
b) Não há ganhos de eficiência nos usos da terra
-» a matriz tecnológica não sofre alterações
c)

A única opção é alargar a área cultivada e alocar mais


gente para a exploração da terra. (segundo Malthus)

Os ciclos de crise agrária do século XVII resultam dos


seguintes fenómenos:
- Expansão da produção a terras marginais e à custa de
terras de pasto – rompimento do equilíbrio entre a
pecuária;
- Declínio da produtividade (dificuldades de fertilização
do solo)
-» Recuo da superfície agricultada e abandono das terras
marginais.

De acordo com a historiografia tradicional (neo-


malthusiana), o que aconteceu foi a incapacidade da
agricultura de produzir para acompanhar o crescimento da
população -» retração da superfície cultivada.

O revisionismo (-década de 90)


Jan de Vries, Michel Morineau, R. C. Nash.
Quebra da produção cerealífera: desequilíbrio
produção/população?
Não há declínio a longo prazo da produtividade da terra nas
décadas que antecedem a contração da produção agrícola.
-» taxas de rendimento cerealífero estáveis.

23
Espanha (1550-1590): as taxas não mostram sinais de
declínio.
A produtividade agrícola entra em quebra, sem que se
registe um recuo prévio da produtividade.
Paris:
CONTINUAR SLIDE

Contração dos índices de produção: inseparável das


dificuldades demográficas
-» As epidemias e a redução da mão-de-obra.
Família deixa de ter braços para trabalhar a terra.
Elevação do custo de mão-de-obra -» desencorajador para as
comunidades que recorrem a mão-de-obra assalariada.
-» As crises de subsistência (perturbações climáticas)
empobrecem o campesinato
- Reduzem stocks de capital e de gado;
- Comprometem a capacidade de investimento.

Não é o aumento da população, mas sim as suas quebras.

Uma outra variável: o aumento da carga fiscal por parte das


monarquias.
- Coincidência: momentos em que o Estado aumenta a
tributação e as crises agrárias
- Castela (1570-1600): aumento das despesas relacionadas
com o envio de tropas para os Países Baixos;
- França: guerra contra os Habsburgo (Guerra dos 30 anos)
(c.1630);
- Alemanha: Guerra dos 30 anos (1618-1648)

Contração dos índices de produção: inseparável das


dificuldades demográficas
-» As epidemias e a redução da mão-de-obra;

24
-» As crises de subsistência (perturbações climáticas)
empobrecem o campesinato
- Reduzem stocks de capital e de gado;
- Comprometem a capacidade de investimento (famílias
podem deixar de explorar a terra, ou tornar-se assalariadas
(vender a força do seu trabalho), ou deslocam-se para a
cidade).

2º ciclo de crises agrárias (impacto nos Países Baixos e no


Sul de França)
Países Baixos: o contexto das dificuldades agrárias
- Depressão generalidade dos preços agrícolas (depois de
1650) -» agricultura deixa de ser viável;
- Recessão das manufaturas urbanas (não vão ser capazes de
responder à procura colonial, questão das guildas, perda de
competitividade, não foram capazes de baixar os custos de
produção por causa dos enquadramentos das guildas –
ingleses optam pelas indústrias rurais, a custos de
produção mais baixos – maior competitividade);
- Aumento da carga fiscal: Guerra da Holanda (1672-1678)
-» recuo dos investimentos urbanos na agricultura.

Sul de França
Predomínio de cultivos diversificados, tipicamente
mediterrânicos (vinha, oliveira, milho)
- Aumento da pressão fiscal exercida pela nobreza
terratenente;
- Crise na produção vinícola;
- Espiral de declínio da produtividade agrícola.

A quebra da produtividade agrícola em finais do século XVII


reflete a desestabilização da agricultura camponesa
- Crises demográficas (epidemias e crises de fome);
- Aumento da carga fiscal;

25
- Degradação das condições de vida e trabalho no mundo
rural;
- Fenómenos de expropriação -» transferência de direitos
de exploração (para o mundo urbano também)
- Expropriações numerosas em França e Castela (1580-
1720)
- Aprofundamento da diferenciação sócio-económica no
mundo rural.
Empobrecimento e endividamento.

As condições desfavoráveis do século XVII (com exceção dos


Países Baixos e Inglaterra)
1) Integração imperfeita da economia rural no mercado
regional;
2) As instituições económicas
- Prevalência do senhorialismo e a repartição desigual
do produto bruto agrícola;
- A exploração comunitária.
-» Resistência a novos usos da terra.

Os Países que enveredaram numa agricultura focada para o


mercado eram os mesmos que tinham infraestruturas de
comunicação mais desenvolvidas.
Instituições comunitárias fracas na Flandres e Países
Baixos.

Aula 9

Aula extra
13-10 – 10h – 12h
Sala 309

O revisionismo
As condições desfavoráveis do século XVII (com excepção dos
Países Baixos e Inglaterra)

26
1) Integração imperfeita da economia rural no mercado
regional;
2) As instituições económicas
- Prevalência do senhorialismo e a repartição desigual
do produto bruto agrícola;
- A exploração comunitária.
-» Resistência a novos usos da terra.

Os sinais positivos: diversificação de cultivos


- O milho maís
Rendimento elevado (1/70-80 grãos)
Da Andaluzia ao País Basco e ao Sudoeste da França
(Languedoc)
Contudo: influência limitada a nível regional (necessita
de água)
“O milho é uma planta miraculosa” (Braudel)

- O arroz
Cultivado no Norte de Itália; mercado limitado devido aos
hábitos alimentares europeus.

Os sinais positivos: especialização produtiva


Explorações agrícolas situadas em torno de cidades (Paris,
Lyon, Londres, Milão)
-» Hoticultura, fruticultura e gado
1650: a deflação secular e o seu efeito estimulante para a
especialização agrícola.
Inglaterra e Países Baixos: recuo dos cereais reflete a
viragem para a pecuária (adaptação às novas condições do
mercado);
Adaptação à produção de novas culturas.

Em síntese

27
A quebra dos índices da produção cerealífera e a sua
interpretação
- Europa Mediterrânica;
- Mortalidade catastrófica e a desestabilização da
agricultura camponesa (ligada às unidades de produção
familiares;
- Pode sinalizar diversificação de cultivos e recurso a
alimentos alternativos.

- Europa no Norte (Inglaterra e Países Baixos)


- Progressiva aposta na pecuária em detrimento do cultivo
de cereais;
- Diversificação de culturas.

Em síntese: uma crise malthusiana?


Os problemas da teoria de Malthus
a) Ignora o progresso tecnológico
Mas: houve pequenos ganhos de produtividade (sobretudo
no Noroeste europeu, aliado às novas técnicas de
produção)

b) Parte da premissa que a economia é fechada


Mas: sinais de integração regional e supra-regional da
produção agrícola por meio do comércio.

Aposta em novos tipos de culturas, indo buscar cereais


a outros espaços que o possa compensar.

A Inglaterra
- Progressos no século XVII;
- Aplicação de técnicas de cultivo intensivo dos
Países Baixos;
- As diferenças:
- Países Baixos: explorações de pequena dimensão
- Inglaterra:
- Explorações de pequena e média dimensão (até
1730);
- Explorações de grande dimensão (de forma
intensificada depois de 1750).

28
- Na Inglaterra o cultivo cerealífero será
articulado com a nova técnica de cultivo (como os
neerlandeses não terão conseguido) -» Vantagem inglesa
(irão conseguir ter tanto os outros produtos como os
cereias)

A Inglaterra: a estrutura sócio-agrária


Início do século XIX:
Mundo rural, caracterizado por:
- Grandes concentrações fundiárias, divididas em
grandes quintas;
- Ausência (quase completa) de camponeses.

Sociedade rural – estrutura tripartida:


- Proprietários da terra, grandes rendeiros
(capacidade para investir e explorar) e assalariados.

Os enclosures (campos vedados)


- Movimento de vedação dos campos (expropriação de
milhares de camponeses);
- Modelo de exploração individual da terra;
- Protagonizado pela nobreza terratenente, mas também
por yeomen
Yeomen: grupo heterogéneo; pequenos proprietários
livres e rendeiros abastados.
Métodos: Feito pela não renovação de contratos;
apropriação de terrenos comuns (bens dos commons).

Século XVI: primeiras “enclosures”


Um fenómeno circunscrito e localizado: Midlands

Enclosures: prolongam-se nos séculos seguintes, até ao


início do século XIX.
Resultados:
- Concentração dos direitos de exploração;
- Profunda alteração da sociedade rural
-» erosão do campesinato -» transformação em
assalariado rural ou urbano.
- Aprofundar a diferenciação económica no mundo rural.
Atentados aos direitos comunitários.

Gentry: vivem de rendimentos agrários.

A agricultura inglesa em transformação


29
1640-1660: décadas cruciais
Fatores/estímulos ao desenvolvimento agrícola:
1) A deflação secular e a estagnação demográfica;
2) O crescimento da cidade de Londres;
3) A configuração do mercado de trabalho.

1) A deflação secular:
1630/40-1660:
Níveis demográficos estagnados
Baixos preços agrícolas (comum a toda a Europa)

Contexto favorável ao desenvolvimento agrícola (no


sentido de aumentar a produtividade e as margens de
lucro)

2) O crescimento de Londres
1500: 50 000 habitantes
1700: 500 000 habitantes

As razões do crescimento de Londres


- Centro catalisador de produção industrial
Imprensa, produção têxtil (ligado a indústrias
rurais)
- Centro articulador do comércio intra-europeu;
- Centro articulador do comércio intercontinental.
(Complementar esta ideia com Braudel sobre Londres
na dinâmica do capitalismo)

O crescimento de Londres e o seu duplo efeito na


agricultura
A) Estímulo sobre o hinterland agrícola
Fenómenos de diversificação e especialização
produtiva
B) Impacte sobre a rede de comercialização dos
produtos alimentares em Inglaterra
-» Multiplicação de intermediários;
-» Alterações no sistema de transportes.

3) A configuração do mercado de trabalho


Movimentos migratórios para Londres
-» Subida dos salários

30
O contexto, 1630-1730: deflação/ procura de mão-de-
obra/ salários elevados (custos de produção
elevados).

Desenvolvimento de canais que ligam a Inglaterra.

Aula 11

Aula prática

Frequência:
3 questões com excertos introdutórios para escolher 2.
Tentar entrar na sala 5 minutos antes.

Desvalorização da moeda -» inflação


Inflação e hiperinflação leva à contração da procura – Um
dos fatores próximos da crise manufatureira de 1619-1622 -»
quebra da produção industrial.

Comércio e indústria, 1600-1650


A crise internacional de 1619-22 e a viragem no
desenvolvimento da economia europeia.
França, Alemanha, Mediterrâneo.
Inglaterra e Países Baixos sofrem menor impacte – facilita
a divergência.
Crise desencadeada por manipulações monetárias no contexto
da Guerra dos Trinta Anos.
-» Inflação e hiper-inflação -» colapso do comércio
internacional e indústria.
Outros fatores: quebra da população; crises agrícolas;
aumento da carga fiscal; redução das remessas de prata
americana.

31
No campo produzia-se tecidos de menor qualidade mas com
menores custos de mão de obra, livres das imposições das
corporações urbanas.

Fenómeno de proto-industrialização bastante alargado.


Declínio irreversível das indústrias urbanas

Constatação: a multiplicação das indústrias rurais nos séc.


XVII-XVIII.
Postulado:
1) O desenvolvimento das indústrias rurais corresponde a
um estádio de proto-industrialização (a primeira fase
que precedeu a moderna indústria).
2) Em circunstâncias adequadas a proto-industria iria
conduzir ao “factory system” -» pressupõe uma fase de
transição.
Segundo Mendels, as indústrias rurais contêm as sementes
de desenvolvimento das futuras indústrias fabris.
Teoria fecunda mas muito criticada.

Indicadores que acomodam as premissas da proto-


industrialização
a) Inovação de produtos – a aposta nas new draperies em
resposta a alterações no gosto dos consumidores.
Indústrias urbanas tiveram dificuldades de adaptação;
obstáculos colocados por negociantes e elites políticas
(o caso das cidades italianas).
Cidades italianas viram-se para os produtos de luxo para
consumo interno, no entanto, estreitando os seus
mercados.
No Noroeste europeu a aposta nas new draperies faz-se em
contexto rural e também urbano (o que não acomoda a
teoria da proto-industrialização)
Os exemplos: Leiden, Flandres, Anglia de Leste.

32
Aumenta a importância das indústrias rurais
- Capacidade de produção da Inglaterra cresce
- Itália, França e Alemanha – constituem-se redes de
trabalho industrial no campo

O modelo proto-industrial e a questão da competitividade
(capacidade de fazer baixar custos …

Camponeses expropriados tentavam enveredar nestas
produções.

Com a contração da produção urbana nos Países Baixos


-» expansão da indústria rural; mas como não há subemprego
no campo, só nas províncias rurais mais atrasadas se
constituíram bolsas de indústrias rurais.
Por conseguinte: a evidência empírica acomoda o argumento
baixos custos de trabalho da teoria da proto-
industrialização.

O efeito de políticas mercantilistas no quadro da crise da


economia internacional
c. 1650: tornam-se mais comuns medidas mercantilistas
Promoção do setor industrial – aumento das taxas aduaneiras
O protecionismo do comércio e navegação
Inglaterra e os Navigation Acts (1650-1663)
Benefícios do protecionismo?
Beneficia mais países com maiores poderios coloniais.

Aula x

33
O 1º ciclo (1500-1620/1640): A organização do comércio e da
exploração marítima
O império português
A definição precoce de um exclusivo da navegação e do
comércio. 1433: A concessão do exclusivo da navegação ao
infante D. Henrique.
Pós-1498: exclusivo sobre a rota do Cabo -» direitos
reclamados e adquiridos por bulas papais e pela definição
de áreas de influência (Tratado de Tordesilhas).
1591 e 1605: legislação sobre o exclusivo de navegação e
comércio nos senhorios ultramarinos (excluir todos os
estrangeiros na navegação e no comércio).
Dois regimes de exploração do exclusivo imperial (A coroa
despoje-se do poder de exploração direto)
1. Atlântico Sul: navegação e comércio cedidos pela
monarquia aos vassalos -» um espaço reservado,
exclusão de estrangeiros; livre competição entre
agentes.
2. Rota do Cabo: explorada em regime de monopólio de
transporte pela monarquia
-» Casa da Índia: armazém de mercadorias; alfândega
(obrigatório todos os produtos passarem pela Casa da
Índia) corredor obrigatório da compra de venda de
mercadorias asiáticas (depois de 1506).

Os direitos de monopólio da coroa sobre a distribuição de


certos bens:
No Atlântico Sul:
-» malagueta africana, ouro da Mina, pau-brasil; escravos
(até 1669)
Exploração trespassada por meio de contratos a particulares

No comércio da Ásia:
-» pimenta e outras especiarias (canela);
Exploração direta pela Casa da Índia até ao final do século
XVI;

34
Depois: armação das naus trazida e reexportação da
pimenta, arrecadação dos direitos fiscais são objeto de
contratação com particulares;
1642: o comércio da pimenta é liberalizado;
A Casa da Índia não é extinta – mas perde o estatuto de
corretor obrigatório.
(Estratégia de privatização é típico na governação dos
Habusburgos espanhóis).

No entanto:
- A coroa nunca deteve o controlo exclusivo do comércio
asiático de Portugal
- A participação dos privados (têxteis de algodão, de
seda, diamantes): c. 3x o valor da carga de pimenta.

O império espanhol e os dois pilares do comércio com as


Américas:
Funda-se no reclamar da jurisdição do mar pela monarquia.
Os reis de Castela fazem uma coisa diferente. No início o
comércio estava aberto a todos os vassalos. Em 1543 a
monarquia entrega os direitos do comércio à Guilda de
Sevilha. Posteriormente entrega os direitos a outras
guildas do México). Entregar o privilégio ao corpo
mercantil institucionalizado. É a opção dos Países Baixos
com a VOC. Ainda que só quem pertencesse à Guilda pudesse
comercializar com a América, os seus integrantes podiam
competir entre si. (NÃO TEM PARALELO NO CASO PORTUGUÊS).
1. A Casa de la Contratación (1503) Casa da Coroa que
organiza o comércio e navegação; e alfândega
A organização de duas frotas mercantis anuais (Novo
México e Perú)


- Apesar do exclusivo atribuído às guildas: a participação
legal e ilegal de outros comerciantes, incluindo
estrangeiros.

35
Monarquia não exige saber quem está por detrás das
sociedades.
Estrangeiros usavam as guildas como seus testas de ferro.
Grande permeabilidade do exclusivo do comércio das
Américas.

- Os direitos de monopólio reclamados pela monarquia:


- A introdução de africanos escravizados nos territórios
da América espanhola – direito trespassado a particulares
por meio de contratos monopolistas.

As capitais do novo mundo económico aberto pelos reinos


ibéricos:
Antuérpia e mais tarde Amsterdão.

Antuérpia e o império português:


Investimentos muito elevados para manter a carreira da
Índia a funcionar (de metais alemães – cobre, prata e
petrechos náuticos).
Os mercadores-banqueiros da Alemanha do Sul (Fugger, Welser
(Augsburgo e Nuremberga))(quem tem capacidade de financiar
este comércio).
-» Sediados em Antuérpia; extensões em Lisboa.
A distribuição europeia via feitoria portuguesa da
Flandres.
Letras de câmbio vão ter taxas de juro tão elevadas e deixa
de ser um comércio rentável – Feitoria de Antuérpia fecha.
Não há forma de amortização deste crédito.

Antuérpia e o império espanhol:


1545: descoberta das minas de prata de Potosí (atual
Bolívia)
Comércio de prata: força motriz da expansão da economia
global.

36
Quem domina a prata?
- Os banqueiros alemães e os empréstimos avançados a Carlos
V;
- O eixo Sevilha-Antuérpia e a drenagem da prata para
Antuérpia.
- Colmatar o défice comercial da Espanha.
- No entanto, Sevilha nunca se torna capital do comércio
europeu e transatlântico.
Sevilha começa a exportar muito com a prata (segunda metade
do século XVI)

A oferta de prata era bastante restrita na Europa até à


chegada da prata americana, daí a grande importância das
casas alemãs.
Fugger e Welser controlam mesmo toda a cadeia da produção.
Incluindo empréstimos à monarquia.

A erosão do 1º ciclo de dominação e a reviravolta do


equilíbrio tradicional das principais redes comerciais
- Declínio da Espanha e das cidades italianas (1ª metade
séc. XVIII);
- Final do século XVII: O centro de gravidade da economia
europeia definitivamente deslocado para o noroeste da
Europa.

O declínio das cidades italianas:


- Contração demográfica;
- Declínio da indústria têxtil (concorrência das new
draperies; perda do mercado alemão; constrangimentos de
mão-de-obra);
- Agricultura: o contexto depressivo (contração demográfica
e deflação);
- Comércio externo: a concorrência de italianos e
holandeses no transporte.

37
-» Cidades italianas perdem o papel central que tinham
exercido na economia europeia.

O declínio da Espanha:
- Contração demográfica (primeira metade do século XVII);
- Acentuada quebra da produção cerealífera (c. 30%);
- Declínio de alguns centros articuladores do comércio
internacional (Burgos e Medina del Campo);
- As pressões da guerra (Guerra dos Oitenta Anos, 1568-
1648; participação na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
- Manipulações monetárias e flutuações extremas de
preços;
- Aumento da carga fiscal.

A participação da Espanha no comércio internacional (1630):


Uma progressiva dependência económica relativamente ao
noroeste da Europa;
Perda de hegemonia sobre o comércio com a América
Espanhola – dominado por holandeses, ingleses e franceses;
Redução da participação espanhola nos tráfegos que ligavam
a Espanha à Europa do Norte – dependência da marinha
mercante de terceiros.

38
39

Você também pode gostar