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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA


CONSTITUIÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS – 2021.2

PROFª.: PALOMA MONTEIRO


[PERÍODO LETIVO REMOTO]

Arthur Queiroz Denozor

Resenha: ZAMBONI, Marcio. Travestis e Transexuais Privadas de Liberdade: a (des)


construção de um sujeito de direitos. Revista Euro Americana de Antropologia, v. 2, p. 15-23,
2016.

O objetivo do autor Marcio Zamboni neste artigo é fazer uma análise sobre a população LGBT
privada de liberdade, encarcerada. Segundo ele é necessário um entendimento mais aprofundado
sobre estes sujeitos historicamente marginalizados nas prisões a partir da lógica dos direitos
humanos.
Zamboni realizou um trabalho de campo em um centro de detenção provisória masculino na região
metropolitana de São Paulo, assim ele percebeu que nem em todos os casos pessoas que a princípio
eram vistas como da população LGBT , onde a separação de orientação sexual e identidade de
gênero não fazem sentido, maridos de travestis e “maricona” não se encaixam nesta população.
Identificações como “mona, bicha e viado” são usados de forma pejorativa pela massa carcerária,
onde sua maioria segue códigos machistas. Com isso o autor tem a hipótese de que:

Tenho trabalhado com a hipótese de que o caso da população LGBT privada de liberdade
constitui, em última instância, um complexo imbricamento de demandas por justiça social
no âmbito dos direitos humanos. Trata-se de uma espécie de encruzilhada entre os direitos
da população carcerária e os direitos da população LGBT. (ZAMBONI, 2016, p.16)

Analiso que a marginalização e o preconceito para com as populações LGBT privadas de liberdade
seja algo obvio, o Brasil de modo geral é um país racista e preconceituoso, violento e mortal para as
populações LGBT, vejo que o “diferente” causa medo e sua consequência é a violência. Para alguns
todos aqueles que estão encarcerados, sem nenhuma distinção, deveriam morrer como na famosa
frase, “bandido bom é bandido morto”. A violência sofrida pelos homossexuais, transexuais,
travestis etc, nas cadeias são apenas um pequeno reflexo do que é o Brasil de fato.
No texto o autor diz que:

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O objetivo desse segundo ofício era verificar se havia sujeitos passíveis de transferência para
unidades femininas ou para outros locais mais adequados – como alas especiais para a
população LGBT que, embora não existissem (e ainda não existam) no estado de São Paulo,
já estavam começando a ser implementadas em outros estados (RS, PB, MS e MG)
É importante lembrar que esses ofícios antecederam a Resolução SAP-11, de janeiro de
2014, que dispõe sobre a “atenção às travestis e transexuais no âmbito do sistema
penitenciário paulista” e prevê a transferência de “pessoas que passaram por procedimento
cirúrgico de transgenitalização” para “Unidades Prisionais do sexo correspondente” (Artigo
3º). (ZAMBONI, 2016, p.17)

Com o intuito de gerar um bem-estar, tanto para as pessoas LGBT e para os outros presos, a criação
de presídios específicos, é a opção mais viável com o intuito de preservar a integridade física e
psicológica dos detentos, entretanto analiso que seja uma utopia no Brasil atualmente, como dito
anteriormente falta políticas públicas de acolhimento as pessoas LGBT, ainda mais o sucateamento
do sistema prisional brasileiro onde se possui superlotação em cárceres, infraestrutura precária, falta
de carcereiros e tirando o fato de privilégio a alguns presos, verificando também que o sistema
judiciário nacional visa mais a punição do que a restituição de seus réus. Também como explicitado
pelo autor aqueles travestis e transexuais que fizeram a cirurgia de transgenitalização, tem o direito
unidades prisionais segundo o sexo correspondente, porém essa cirurgia é algo excludente a maioria
dos presos pelo seu auto custo, assim marginalizando a uma pequena parcelo dos presos e será que
as unidades prisionais específicas aceitaram os detentos?
A partir da atuação do Estado, Zamboni enaltece a problemática em que o uso de classificações em
categorias de orientação sexual e identidade de gênero, a partir de suas demandas no campo da
saúde e direitos. Onde:

1) travesti e transexual são identidades de gênero e 2) as principais d e m a n d a s d e s s a


p o p u l a ç ã o s ã o: acompanhamento médico e psicológico específico, cirurgias de
redesignação sexual, acesso a tratamento de hormonização, utilização do nome social,
alteração do registro civil e transferência para unidades femininas ou alas especiais para
a população LGBT. (ZAMBONI, 2016,p.19)

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Assim gerando uma conjectura aceita pelos campos dos direitos humanos, movimentos
LGBT e áreas de saúde. Em suma, tais conjecturas nem sempre são bem aceitas pelas
próprias travestis e transexuais, gerando mais um mau estar.
Por fim vale ressaltar, a separação de gênero por identidades de gênero e orientação sexual nos
cárceres brasileiros, apenas destoam e enfatizam a descriminalização e marginalização, na vida
prisional.
O mapeamento demográfico e o projeto de criação de espaços exclusivos para a população
LGBT privada de liberdade podem, em última instância, ajudar a manter o padrão binário e
heteronormativo sobre o qual se estrutura o sistema penitenciário. (ZAMBONI,2016,p.21)

As prisões são um reflexo do Brasil, são preconceituosas e marginalizam os movimentos e


populações LGBT, a separação e diferenciação de gênero são proibidas por diversas normas dentro
do sistema prisional. Apesar de estarem presos, não os fazem ser menos humanos do que qualquer
um, o mínimo seriam essas pessoas serem ouvidas e respeitadas tanto pelo Estado, quanto pelos
demais presos, como melhorar e reduzir o número de presos no Brasil, se eles pouco são ouvidos. O
artigo de Marcio Zamboni me faz pensar mais ainda a urgente necessidade de políticas públicas e
uma reformulação do sistema jurídico e prisional do brasileiro, devemos pensar em como serão
restituídos a sociedade os presos.
Referência bibliográfica:
ZAMBONI, Marcio. Travestis e Transexuais Privadas de Liberdade: a (des) construção de um
sujeito de direitos. Revista Euro Americana de Antropologia, v. 2, p. 15-23, 2016.

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