Plantas Nativas Bioma Pampa

JhonitanMatiello
Jhonitan Matiello
Jhonitan Matiello - Fabiane Granzotto
Jhonitan
Jhonitan
FabianeMatiello
Ana Matiello
Fabiane Granzotto
Granzotto
Fabiane Granzotto
Paula Moreira
Ana
Ana PaulaMoreira
Paula Moreira Rovedder
Rovedder
Ana Paula Moreira Rovedder
- Fabiane
Rovedder
Granzotto
PLANTAS NATIVAS ORNAMENTAIS DO BIOMA PAMPA
PLANTAS
PLANTAS NATIV
PLANTASNATIV
NATIVAS
AS
AS
ORNAMENTAIS
ORNAMENTAIS
ORNAMENTAIS
DO
DOBIOMA
DO BIOMAPAMPA
BIOMA PAMPA
PAMPA
potenciais
potenciaise epopularização
potenciais epopularização
popularização
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Jhonitan Matiello
Fabiane Granzotto
Plantas nativas
ornamentais do
bioma Pampa
potenciais e popularização
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação da Capa: Designers da Editora CRV
Imagem da capa: Jhonitan Matiello e Fabiane Granzotto
Elaboração da capa: Jhonitan Matiello
Revisão: Os Autores
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
P696
Plantas nativas ornamentais do bioma Pampa: potenciais e popularização / Jhonitan Matiello, Fabiane
Granzotto, Ana Paula Moreira Rovedder – Curitiba: CRV : 2022.

128 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-2459-9
ISBN Físico 978-65-251-2458-2
DOI 10.24824/978652512458.2
1. Paisagismo 2. Paisagismo naturalista contemporâneo 3. Valorização de plantas 4. Arte floral

5. Planta ornamental I. Matiello, Jhonitan II. Granzotto, Fabiane III. Rovedder, Ana Paula Moreira
IV. Título V. Série.
CDD 712 CDU 712.3

Índice para catálogo sistemático
1. Paisagismo - 712
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2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
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de La Havana – Cuba)
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Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
À biodiversidade brasileira, em especial ao bioma Pampa, por despertar

olhar de respeito e admiração por seus ecossistemas.
Agradecimentos
À Ana Maria Primavesi pelas suas lições de cuidado e respeito com a terra, ao paisagista
Roberto Burle Marx pelo exemplo e inspiração, e a Fritjof Capra por despertar para o pensa-
mento sistêmico.
Ao bioma Pampa, por suas paisagens inspiradoras e pelo gigantesco potencial ornamental
de suas espécies da flora.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela bolsa de pós-
-graduação e pelo apoio ao projeto de pesquisa que deu origem a esta obra.
À Universidade Federal de Santa Maria pela sua qualidade e pluralidade, por subsidiar a for-
mação profissional e pessoal.
Ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas, colegas de gra-
duação e pós-graduação, por abraçarem ideias como essa e desenvolver projetos pautados no
profundo respeito à teia da vida.
À equipe do projeto “Espécies nativas para usos paisagísticos: descobrindo e validando o
potencial da flora do bioma Pampa” pelo apoio incondicional na execução de experimentos, saídas
a campo, elaboração dos trabalhos escritos e por abraçar os objetivos propostos.
Ao Jardins de Cerrado, na pessoa de Mariana Siqueira, por ter colaborado na semeadura das
ideias do projeto de mestrado do primeiro autor. Por seu exemplo de trabalho, muito estímulo e
orientação técnica.
À Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)
pelo carinho e por estimular o paisagismo com espécies do bioma Pampa. Pelos seus olhares de
vislumbre ao descobrir o potencial da flora nativa, incentivando esta pesquisa.
Ao Departamento de Solos da UFSM, na pessoa do professor Ricardo Bergamo Schenato,
pelo suporte técnico, experimental e laboratorial que viabilizaram os experimentos e a observação
de populações naturais das espécies trabalhadas.
Ao projeto Jardim do Brasil que, visando a valorização dos biomas brasileiros, serve de estímulo
para a construção desta obra e apoio técnico por meio de cursos sobre temáticas como jardins
naturalistas e manejo ecológico de jardins.
Às pesquisadoras e pesquisadores que desenvolveram projetos anteriores ou contemporâneos
a esta obra, pautados no potencial ornamental da flora brasileira e em formas de contribuir com
a conservação dos ecossistemas naturais, colaborando no amadurecimento técnico e motivação
para este livro.
Vista parcial da área experimental do projeto que subsidiou parte desta obra.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO�� 13
CAPÍTULO 1
DESAFIOS PARA A MAIOR APROXIMAÇÃO DO PAISAGISMO À FLORA NATIVA BRASILEIRA�� 17
CAPÍTULO 2
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE AS ESPÉCIES NATIVAS ORNAMENTAIS��21
CAPÍTULO 3
APRESENTAÇÃO DAS ESPÉCIES NATIVAS ORNAMENTAIS ESTUDADAS��27
MARCELA – Achyrocline satureioides (Lam.) DC.��27
CAPIM-COLA-DE-SORRO-GRANDE – Andropogon bicornis L.��33
Experiência de semeadura direta de espécies ornamentais nativas�� 39
EUPATÓRIO-BRANCO – Austroeupatorium inulaefolium (Kunth) R.M.King & H.Rob�� 42
VASSOURA – Baccharis spicata (Lam.) Baill.�� 48

Os jardins também são espaços de presença e diversidade de fauna?�� 54
CAPIM-PLUMA-BRANCA – Bothriochloa laguroides (DC.) Herter ��55
ERVA-POM-POM – Campuloclinium macrocephalum (Less.) DC.�� 61
CROMOLAENA – Chromolaena pedunculosa (Hook. & Arn.) R.M.King & H.Rob.��67
CAPIM-COQUEIRINHO – Eustachys distichophylla (Lag.) Nees ��72
Principais acordos mundiais: promoção do conhecimento e usos sustentáveis da flora ornamental brasileira��78
ERVA-GROSSA – Orthopappus angustifolius (Sw.) Gleason �� 80
MACEGA-ESTALADEIRA – Saccharum angustifolium (Nees) Trin.�� 86
Algumas leis, decretos e ações que promovem e regulamentam o uso da flora ornamental brasileira�� 92
ARNICA-DO-CAMPO – Solidago chilensis Meyen �� 94
ALECRIM-DO-CAMPO – Vernonanthura nudiflora (Less.) H.Rob.��100
Tabela de interesse paisagístico das espécies�� 107
GLOSSÁRIO�� 111
REFERÊNCIAS��119
SOBRE OS AUTORES�� 127

Apresentação
O imenso território brasileiro abriga a maior biodiversidade do planeta, com aproxima-
damente 20% das espécies já descritas por cientistas”. O Brasil é composto por seis extraor-
dinários biomas terrestres (regiões semelhantes biogeograficamente) que são o Pampa, a
Mata Atlântica, o Cerrado,
a Amazônia, a Caatinga e o
Campo natural pastejado à frente e florestas ao fundo em relevo acidentado, evidenciando
a beleza e complexidade das paisagens do Pampa na Serra do Sudeste-RS. Pantanal, além de ecossiste-
mas marinhos de expressões
ímpares. Segundo o Ministé-
rio do Meio Ambiente, a for-
mação de diferentes zonas
climáticas promove ricas,
diversas e por vezes únicas
manifestações de fauna, flora

e paisagens nos seus biomas.
A riqueza da biodiversi-
dade nativa e suas interações
desempenham papéis fun-
damentais na vida humana,
a exemplo da polinização, a
produção direta de alimentos
e medicamentos, a manuten-
ção do equilíbrio ecológico
necessário na produção de culturas comerciais, a conservação e proteção dos recursos hídricos
e do solo, a regulação climática, o abastecimento hídrico e assim por diante. É imperativo que
valorizemos a diversidade da flora e fauna não só por subsidiarem nossa vida e o funciona-
mento saudável do planeta, mas também pela sua
existência, por importâncias que extrapolam o valor
monetário do seu uso direto, como por exemplo o
valor estético, artístico, ecológico, cultural, genético,
científico, educativo e inspirativo.
A ciência alerta para quão alterados e ameaçados
estão os ecossistemas naturais brasileiros por causa de
atividades humanas indevidas e sistemas produtivos
degradatórios. Quanto às mudanças climáticas, todos
os seis biomas são descritos como vulneráveis, espe-
cialmente aqueles com menor cobertura natural e com
escassez de áreas protegidas. A exemplo do Pampa,
contexto principal onde se insere esta obra, as severas
ameaças ambientais envolvem a conversão de áreas
remanescentes de campo natural em monocultivos
(e.g. soja, eucalipto, pinus e pastagens introduzidas),
mellifera L. coletando pólen em flores de Baccharis
a invasão biológica de flora exótica, desmatamento Apis cognata DC. O gênero Baccharis é marcante no bioma Pampa,
dos ecossistemas florestais, o manejo produtivo com expressivo potencial ornamental de suas espécies.
14
inadequado do campo nativo (sobrepastejo) e

as consequentes perda da diversidade e degra-
dação do solo.
Por outro lado, os usos múltiplos susten-
táveis da biodiversidade são grandes alia-
dos na redução das ameaças a nível global
e podem atuar na mitigação dos efeitos de
eventos já ocorrentes como a crise climática e
as invasões biológicas. Existem diversos usos
potenciais da flora já sinalizados pela pesquisa
brasileira e motivados pelo teor das diretrizes
mundiais e pela política ambiental. Dentre as
possibilidades de usos sustentáveis residem os
usos paisagísticos das plantas nativas, anco-
rados no elevado potencial ornamental de
inúmeras espécies e na estética das paisagens

naturais dos biomas brasileiros. Atualmente
estes usos consistem não somente em uma
tendência do mercado, mas inclusive contri-
buem para o paisagismo enquanto uma impor- Espécies típicas das famílias botânicas Asteraceae, Poaceae
e Apiaceae que compõem as paisagens campestres do bioma
tante ferramenta de conservação de espécies Pampa, evidenciando as cores do outono em Santa Maria-RS.
nativas, de reconhecimento, valorização e con-
servação da biodiversidade.
Todavia os usos sustentáveis das plantas
ornamentais nativas, principalmente ervas e arbustos, são pouco testados e difundidos no
paisagismo e arte floral brasileiros. Apesar de existirem algumas publicações que descrevem
seu potencial ornamental e
sugerem usos, há uma pro-
funda e urgente demanda
por experimentos práti-
cos de coleta, beneficia-
mento, cultivo, manejo e
divulgação de dados de
espécies potenciais, a fim
de embasar e reforçar a
viabilidade ambiental e
econômica dos usos paisa-
gísticos, principalmente no
Pampa brasileiro.
Neste sentido, este
livro pretende colaborar no
despertar de novos olhares
Estrutura reprodutiva de Monnina sp. com flores e botões em seu ápice para o potencial ornamental
e frutos coloridos formados em sua base, região de Santa Maria-RS.
da flora nativa; sensibilizar
para a degradação ambien-
tal e o papel do paisagismo
frente a isso; compartilhar
Plantas nativas ornamentais do bioma Pampa: potenciais e popularização 15
resultados experimentais e conhecimentos que estimulem e subsidiem usos múltiplos; provo-

car o pensamento crítico da leitora e do leitor e evocar o sentimento de respeito e admiração
à biodiversidade brasileira,
ressignificando adjetivos de
cunho negativo frequente-
mente associados à nossa
flora, a exemplo de “mato”,
“planta daninha”, “ruderal”
“inço” e outros.
A obra é composta de
três capítulos, o primeiro
traz breves notas teóricas
embasadas na literatura
sobre o cenário atual do pai-
sagismo e sua relação com a
biodiversidade brasileira. O
segundo capítulo trata dos

processos metodológicos,
criativos e orientações téc-
nicas a respeito do estudo
das espécies nativas que são
apresentadas no terceiro
capítulo, este que equivale
a um produto do projeto
intitulado “Espécies nati-
vas para usos paisagísticos: Arranjo floral combinando cinco espécies de capins nativos do
descobrindo e validando o bioma Pampa, comumente tratados como plantas daninhas.
potencial da flora do bioma
Pampa” que estuda espé-
cies das famílias botânicas Asteraceae e Poaceae, emblemáticas nas paisagens campestres deste
bioma. A pesquisa é conduzida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas
Degradadas (Neprade) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
O livro destina-se aos mais diversos profissionais envolvidos desde a produção de plantas
ornamentais até o seu uso final, no jardim ou na arte floral. Profissionais das áreas de conserva-
ção da biodiversidade, recuperação e restauração de áreas degradadas, estudantes, iniciantes no
tema, pesquisadoras(es), entusiastas e interessadas(os) nas temáticas de flora nativa e paisagem
natural estão convidados a aprender, aplicar e divulgar os conhecimentos que aqui obtiverem.
Ao longo da leitura você poderá se deparar com termos nos quais pode não estar familiariza-
da(o), principalmente nos itens de descrição morfológica das espécies. Pensando na acessibilidade
ao conhecimento, apresentamos ao final um robusto glossário aplicado ao contexto desta obra,
onde deverão ser sanadas dúvidas sobre termos e seus significados, não deixe de consultá-lo!
Lembramos que o sistema de numeração sobrescrita no texto representa citações indiretas aos
conteúdos à esquerda de cada número e se referem aos trabalhos que nos auxiliaram em cada
capítulo, contendo sua respectiva referência ao final do livro.
Bons estudos!
Capítulo 1
Desafios para a maior aproximação do
paisagismo à flora nativa brasileira
Para iniciarmos o primeiro capítulo te convidamos para junto conosco mergulhar numa refle-
xão sobre alguns fatores que contribuem para que o conhecimento e valorização da flora orna-
mental dos biomas brasileiros sejam ainda muito tímidos frente a sua imensa biodiversidade.
Este capítulo assume também um sucinto papel de elucidação, para que estimulemos o maior
protagonismo de uma arquitetura paisagística mais biodiversa e harmônica com os ecossiste-
mas naturais.
Ao longo das últimas décadas, o modelo bra-
sileiro de produção de plantas ornamentais condu-
ziu o setor da floricultura comercial para uma alta

concentração econômica e geográfica no estado
de São Paulo (48,9% em 2018)1. Como resultado
direto deste processo e, junto da globalização dos
costumes iniciada ao final do século 20, temos
enfrentado a preocupante homogeneização dos
hábitos de consumo. Na prática isso representa
a massiva repetição das espécies ornamentais
utilizadas, das tecnologias produtivas, insumos,
tendências estéticas e assim por diante, gerando
consequências negativas como o alto consumo de
Glandularia selloi (Spreng.) Tronc., espécie marcante com
recursos e energia para produção e distribuição
sua floração primaveril na região de Santa Maria-RS, dos produtos e significativa inércia frente a diver-
apresenta alto potencial para forração em jardins e floreiras.
sidade da flora brasileira com alto potencial para
o paisagismo e arte floral ainda inexplorado2, 3, 4.

Apesar da hegemonia de plantas exóticas no
paisagismo e na arte floral atualmente, quando elas
não se configuram como invasoras ou potencial-
mente invasoras, não representam ameaça à biodi-
versidade autóctone. Entretanto, diversas cadeias
produtivas de plantas ornamentais tornam o país
dependente da importação de insumos, tecnologias
e recursos genéticos1, ou seja, na contramão dos
princípios da sustentabilidade e soberania nacio-
nal. Este fato não deve nos colocar contra o uso
de espécies ornamentais exóticas de importâncias
indiscutíveis, mas sim servir de motivação para
valorizarmos mais as plantas ornamentais nativas
e sistemas de produção alternativos e sustentáveis.
Processos colonizatórios também exercem
fortes influências no contexto brasileiro, desde Potencial para arte floral de espécies herbáceas e arbustivas
da família botânica Asteraceae, nativas do Pampa.
18
o transporte de espécies ornamentais da Europa para o Brasil que era comum durante as imi-
grações como também na formação e/ou imposição de conceitos de “belo” e “ornamental”
associados a plantas e paisagens diferentes da realidade do país5, 6. O paisagismo no século 21
nos deixa um convite e uma oportunidade para buscarmos autonomia, valorizando estilos e
possibilidades de jardins mais consonantes com a ecologia e riqueza dos nossos biomas, isso
requer senso crítico para manter influências culturais dentro de limites saudáveis aos nossos
contextos ecológicos5, 7, 8, 9.
Outro desafio a ser vencido no cenário atual é a forte presença de modos de pensamento que
nos colocam sob uma posição ilusória de superiores e separados da natureza10, 11, 12. A influência
deste fator se traduz em jardins comuns do nosso cotidiano, com plantios de baixíssima diver-
sidade, em manejo intensivo e substituições periódicas de plantas, simplificados ao máximo e
focados limitadamente na estética e no domínio sobre seus componentes13, 14, 15. Na prática, existe
uma relação direta com o predomínio dos monocultivos e seu caráter excludente à biodiversidade,
pautado na necessidade de controle humano sobre o meio ambiente10, 11, 15.
Mesmo que a identidade do Brasil está profundamente ligada aos seus biomas formados por
ecossistemas florestais (Amazônia e Mata Atlântica)16, predominam os ecossistemas não flores-

tais em quatro dos seis biomas. Estes ecossistemas possuem biodiversidade comparável à das
florestas17, promovem serviços ecossistêmicos essenciais à vida humana e abrigam um elevado
número de espécies que só ocorrem nessas regiões, muitas delas ameaçadas de extinção16, 18.
Além disso, ecossistemas não florestais são a maior fonte de espécies de ervas e arbustos
com potencial ornamental. Todavia, para atribuirmos a eles o seu devido potencial e celebrarmos
essa riqueza nos jardins é
crucial ampliarmos a per-
cepção destas paisagens
naturais, historicamente
negligenciadas e incom-
preendidas16, 19. Em outras
palavras, requer uma
“dinâmica de apropriação
paisagística do território”
que diz respeito a aprimo-
rar ou desenvolver a habi-
lidade de enxergar o valor
potencial (e.g. estético
e cultural) das diversas
fitofisionomias brasilei-
ras22. De fato, a título de
exemplo prático, se hoje
procurarmos por espé-
Beleza estética da paisagem pampeana no Parque Estadual do Espinilho, cies nativas em viveiros,
Barra do Quaraí-RS (Foto: Jocimar Caiafa Milagre e Pedro Seeger, 2021). mesmo os situados em
biomas com predomínio
de ecossistemas não flo-
restais, majoritariamente encontraremos mudas de espécies arbóreas.
Precisamos cada vez mais treinar o olhar para notar a beleza e a importância das plantas
nativas ornamentais que estão na natureza, este é um processo extremamente necessário e tem
o poder de assumir caráter poético, no olhar do dia a dia para a diversidade de paletas de cores e
formas e que nos circundam. Devemos nos guiar em direção ao processo educativo de entender o
valor e a importância de todas as formas de vegetação, isto é, ampliar o modo de vê-las manifes-
tadas em silhuetas e tamanhos extremamente diversos e diferentes da altura de nossas vistas20, 21.
Listamos a seguir alguns dos conhecimentos e estratégias educativas que auxiliam na recep-
tividade à flora nativa no paisagismo e arte floral:
• Conhecer e divulgar amplamente o papel que o paisagismo pode assumir na redução de

ameaças à biodiversidade ao prover maior protagonismo para espécies nativas25;
• Tomar ciência sobre a iminente crise climática global e a mitigação desta através da melho-
ria do equilíbrio ecológico local, ao qual o paisagismo pautado em ecologia e alta diversi-
dade de espécies está diretamente relacionado26, 28;
• Conscientizar sobre a importância da conservação dos ecossistemas naturais e da flora
brasileira na continuidade das atividades humanas27, dispondo do paisagismo e arte floral
com plantas nativas como ferramenta prática de educação ambiental;
• Aprender sobre os múltiplos usos da flora regional (e. g. fitoterapêutico, alimentício, aro-
mático, artesanal etc.), seus valores potenciais e o resgate de usos populares e etnoconhe-
cimento associado às plantas da região27, 29, promovendo inclusive os jardins funcionais;
• Respeitar a função que toda e qualquer espécie nativa

possui no meio ambiente (e.g. alimento e abrigo à fauna
em perigo de extinção) e respeitar o valor da sua existên-
cia no meio ambiente16, 30.
• Tomar ciência e se aproximar do conhecimento cativante
e multidisciplinar que reside no projetar e manejar jardins
com espécies nativas16, 24 (e.g. solos, ecologia, zoologia,
botânica, artes etc.).
• Divulgar questões técnicas como a adaptação, resistência
e rusticidade das plantas nativas e a consequente econo-
mia de recursos, e insumos como a água e adubação23, 32;
• Difundir o conceito de espécies exóticas invasoras e quais
são elas, conforme cada contexto de atuação. Promover
a popularização de casos de sucesso no estudo e intro-
dução de espécies nativas do Brasil no paisagismo e arte
floral. Destacamos aqui o legado do paisagista Roberto
Hastes de marcela Achyrocline satureioides
Burle Marx16, 24, 31; (Lam.) DC., espécie medicinal aromatizando
• Promover as espécies ornamentais nativas enquanto o ambiente e servindo de elemento decorativo.
alternativas viáveis ecológica e economicamente para
substituir espécies exóticas invasoras que não devem ser utilizadas2, 6;
• Entender a função crucial na mitigação da fragmentação entre ambientes urbanos e
naturais que os jardins harmônicos com a biodiversidade regional exercem33, 34;
• Possibilitar o resgate de relações identitárias e afetivas das pessoas com a flora nativa35, 36;
• Entender o potencial das plantas nativas em cadeias produtivas regionais e seu papel no
desenvolvimento de economias locais1, 37 e enquanto ferramentas aliadas ao turismo rural38.
Junto da construção da aceitação das espécies nativas surge inclusive a necessidade de fontes
de metodologia para auxiliar a projetar jardins biodiversos e com maior presença destas plantas.
Atualmente dispomos do estilo de paisagismo naturalista contemporâneo16 que, resumidamente,
busca projetar jardins pautados em diversidade de espécies, expressão da sazonalidade e dinâmica
da vegetação, também procura compreender e trabalhar a ecologia do espaço, concebendo jardins
mais resilientes. São priorizadas espécies perenes, nativas e exóticas, sob uma visão mais voltada
20
Tons do Cerrado expressos em emblemático projeto de jardim naturalista contemporâneo,

celebrando a flora nativa do bioma, Sobradinho-DF. (Foto: Joana França, 2021).

para a comunidade de espécies do jardim do que para plantas enquanto indivíduos separados.
Ainda, se propõe a trabalhar em maior harmonia com as condições originais do local, prevendo
menor investimento de recursos, insumos e mão de obra. Este estilo não é focado no controle
rígido sobre o jardim enquanto uma obra estática, mas sim na edição e condução dos elementos
e suas interações enquanto seres vivos23, 31, 32.
No Cerrado brasileiro o paisagismo naturalista contemporâneo tem sido usado como base de
trabalho, uma vez que dialoga com a representação da sazonalidade, a ecologia e a estética natural
das paisagens que se pretende expressar nos jardins. Da mesma forma no bioma Pampa, onde
tende a contribuir muito positivamente enquanto fonte de métodos para a execução de projetos
de paisagismo com espécies nativas, inspirados nas suas emblemáticas paisagens15, 16. Iniciativas
de pesquisa recentes nesses dois biomas
Composição de espécies perenes em jardim naturalista que combina são inspiradoras e abrem um amplo leque
icônicas espécies ornamentais nativas do Cerrado e exóticas em uma área
urbana de Brasília-DF. (Foto: Mariana Siqueira, 2021). de conhecimentos para projetar jardins
com estilo naturalista contemporâneo.
Finalizamos esta breve discussão/
reflexão sobre os desafios nos motivando
com uma passagem trazida por Toni Bac-
kes em seu recente livro sobre Neuropai-
sagismo “O paisagismo é também um
ato político quando feito com consciên-
cia da realidade socioeconômica, cultu-
ral e ambiental em que se vive. Quando
entende a paisagem e cria espaços que
produzem vitalidade, alimentos e recur-
sos localmente”15.
Bons estudos!
Capítulo 2
Construção do conhecimento sobre
as espécies nativas ornamentais
Nos subtítulos a seguir são descritos os processos metodológicos e criativos de construção
do livro, são juntamente apresentados esclarecimentos conceituais e práticos que julgamos per-
tinentes pensando no amplo público-alvo desta obra. Seu intuito é facilitar o entendimento e a
aplicação dos conhecimentos construídos ao longo da leitura.
O capítulo três está subdividido por espécies botânicas e estruturado em grupos de informa-
ções. Sequencialmente são apresentadas informações básicas da espécie, descrição morfológica,
subsídios técnicos para usos paisagísticos, usos múltiplos e informações adicionais. Este capítulo
também está permeado por quatro textos sobre temáticas pertinentes ao escopo da obra que
facilitam o entendimento do contexto em que o livro se insere e provocam o pensamento da leitora

e do leitor. As imagens autorais distribuídas ao longo do conteúdo das 12 espécies servem para
visualização das informações descritas em texto e para validar o potencial ornamental da flora
nativa do bioma Pampa que foi estudada.
Ao final do capítulo 3 está a tabela de interesse paisagístico, construída no intuito de subsidiar
futuros desenhos de composições nos jardins de Pampa e servir de provocação para a leitora e o
leitor seguirem construindo-a a partir da observação da rica flora nativa à sua volta.
Informações básicas das espécies
A identificação das espécies vegetais contou com auxílio de especialistas e consulta a her-
bários físicos e virtuais. A nomenclatura científica, família botânica e a distribuição natural estão
de acordo com a plataforma Flora do Brasil 20201, Coleção da Flora digital do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina2, base de dados SpeciesLink3 e trabalhos técnico-científicos.
***
O hábito de vida é determinado com base no porte, na presença ou ausência de tecido lenhoso
na fase adulta e nas ramificações da planta. Conforme o Manual Técnico da Vegetação Brasileira4,
neste contexto classificou-se as espécies em erva, subarbusto ou arbusto. Para classificar quanto ao
hábito de vida as informações básicas foram geradas a partir de dados experimentais e observações
em populações naturais, somado à verificação e complementação por meio da literatura, quando
existente. Este processo foi seguido no intuito de representar corretamente o comportamento das
espécies no RS, principalmente no bioma Pampa.
***
A distribuição natural das espécies é apresentada de acordo com os biomas e conforme os
tipos de vegetação que ocorre, respectivamente. A informação foi construída a partir de traba-
lhos científicos de levantamento da vegetação, plataformas como Coleção da Flora digital do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, a Flora do Brasil 2020 e a base de dados SpeciesLink.
Ao projetar paisagens, a verificação da área de distribuição natural das espécies se torna
tarefa indispensável no contexto atual de degradação e ameaças aos remanescentes naturais
dos biomas brasileiros. Com a descrição detalhada da ocorrência natural das espécies buscamos
estimular identidades paisagísticas regionais, com o emprego de espécies nativas que represen-
tam a estética, fisionomia da paisagem natural, biodiversidade, interações ecológicas e a cultura
22
local. Além disso, espécies nativas de um grande contexto geográfico (e.g. de um determinado
país ou bioma) não necessariamente ocorrem em todo seu território, portanto também exigem
cautela e investigação do seu potencial de oportunismo. Na prática, é recomendada sempre a
averiguação de eventual potencial invasor de espécies exóticas pretendidas e um olhar especial
para espécies nativas ornamentais com distribuição natural para a escala de paisagem em que se
está trabalhando. Sugere-se fontes de consulta como trabalhos técnico-científicos regionais, a
Coleção da Flora digital do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a Flora do Brasil 2020, a base de
dados SpeciesLink, páginas sobre a flora regional e listas oficiais de espécies exóticas invasoras5.
Descrição morfológica
A descrição morfológica foi subdividida conforme os órgãos da planta: raízes, caules e ramos,
folhas, estruturas floríferas e frutos. Foram compiladas informações das principais partes que
compõem esses órgãos e são utilizadas na identificação e descrição das espécies. Para construção
destes conhecimentos, consultamos trabalhos científicos taxonômicos, além de plataformas de
dados como a Flora do Brasil 2020, Flora Argentina y del Cono Sur6, Sistema de Informação sobre a

Biodiversidade Brasileira (SiBBr)7 e a Coleção da Flora digital do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Optamos por descrever as espécies em linguagem técnica para estimular a divulgação científica
de descrição/identificação, caso você enfrente dificuldades, lembre-se de consultar o glossário!
Subsídios técnicos para usos paisagísticos
Algumas variáveis comportamentais das espécies apresentam dados heterogêneos na litera-

tura devido a fatores como as diferentes regiões de ocorrência, variabilidade genética e adaptações
fenotípicas às condições de crescimento. São exemplos disso a faixa de altura para a planta adulta
(em metros), o ciclo de vida (anual, bianual ou perene) e o período reprodutivo (que englobou desde
a formação das estruturas até a dispersão dos frutos). Para estes subitens, as informações foram
geradas a partir de dados experimentais, observações em populações naturais e verificação da
literatura específica com o intuito de representar corretamente o comportamento das espécies
no bioma Pampa.
***
A textura diz respeito à sensação do usuário ao visualizar uma superfície, mesmo sem o toque.
No contexto desta obra, foi definida, principalmente, através do tamanho e densidade de folhas e
do tamanho e densidade das inflorescências. As categorias de textura adotadas foram fina, média
e grossa, sendo que as texturas finas foram definidas para folhas estreitas, curtas e, ou longas,
porém densas e numerosas. Texturas grossas para folhas maiores, em menor número e ramos
robustos e, por fim, as texturas médias foram definidas para características intermediárias aos
dois extremos descritos. Esta variável colabora na definição de composições equilibradas, suas
combinações no jardim permitem provocar diferentes sensações nos usuários, como por exemplo
o descanso visual com texturas finas e delicadas ou a agitação e dinamicidade com diferentes
texturas combinadas.
***
Para descrever a arquitetura da planta foram observadas as informações de hábito de cres-
cimento, a forma da copa, a morfologia e posicionamento dos ramos e folhas, sua densidade e
o efeito de verticalidade ou horizontalidade. Conhecer a arquitetura da planta auxilia o entendi-
mento do seu comportamento no jardim, sua silhueta, expressão ornamental, seu espaçamento
adequado e, por consequência, a sua indispensável quantificação em projetos.
***
Seguindo nos demais itens dos subsídios técnicos, têm-se os caracteres ornamentais para
cada espécie. Caracteres são atributos ou características estéticas, ecológicas, técnico-econômi-
cas e culturais das espécies que as qualificam para os usos no paisagismo e na arte floral8. Foram
criados três grupos, “CA” foi a sigla adotada para as características ornamentais que a literatura
já apresenta e indiretamente expressam o que a ciência já investigou sobre potencial ornamen-
tal das espécies; “CG” é o grupo de caracteres que a literatura traz em descrições gerais ou para
diferentes usos, todavia representam aspectos que podem ser aplicados ao paisagismo e arte
floral, ou seja, realizamos sua aproximação a este contexto; O terceiro grupo, representado pela
sigla “CI”, representa os caracteres oriundos de avaliações em populações naturais e resultados
experimentais. Esta última categoria representa aspectos inéditos até a presente publicação, cola-
borando de forma metodológica para outros estudos e para o enriquecimento do conhecimento
do potencial ornamental das espécies apresentadas.
***
Uma questão que a(o) interessada(o) em utilizar espécies nativas no paisagismo comumente
se pergunta é “como eu utilizo, combino, distribuo a flora ornamental nativa que ainda não tem
uma ampla base de conhecimentos e exemplos que me orientem?”. Para auxiliar na ligação entre a
flora nativa e a construção-condução dos espaços ajardinados são válidas algumas ferramentas
alternativas, ainda incipientes nas grades curriculares de cursos que habilitam os profissionais de
paisagismo no Brasil. Estudiosos do paisagismo naturalista contemporâneo como Piet Oudolf,
Noel Kingsbury9 e Nigel Dunnett10 servem conhecimentos muito úteis nesse sentido.
Exemplos de ferramentas que facilitam a representação das paisagens naturais brasileiras
no paisagismo são as três classificações que tratam do tipo de arquitetura de inflorescência; do
papel que as plantas desempenham na composição; e da distribuição das plantas no espaço.
Elas sugerem formas de uso das plantas no intuito de orientar os projetos e valorizar a expres-
são das plantas11, 12.
A primeira classificação trata da arquitetura da inflorescência das plantas (sua porção repro-
dutiva), ela colabora na definição da mensagem que o projeto se propõe a passar conforme o
formato da estrutura reprodutiva das plantas. Além de colaborar indiretamente na disposição
das plantas no espaço. É dividida em:
Espigas e lanças – são lineares, evocam sensação de otimismo, dinamismo e inquietude. São
sugeridas para repetição ao longo da composição;
Plumas – com formato característico, geralmente são pouco densas e transparentes, quando
usadas conferem suavidade, movimento e dinamismo. São recomendadas para conferir leveza
ao conjunto;
Umbelas – são fáceis de identificar, possuem formato de leque com ápice reto ou curvo,
variam em mais densas e compactas ou abertas e espaçadas em suas estruturas. Geralmente,
consistem em um grande atrativo visual por conta de suas cores, podem evocar sensação de
alegria, abundância;
Bolinhas e botões – aparentam flutuar na composição, se misturam no conjunto e produzem
efeito de movimento. Conferem aspecto delicado, por vezes de inquietude, abundância e diversidade
quando são variadas;
Cortina – trata de inflorescências que são pouco densas e permitem visualização através de si,
quando combinadas com outras espécies criam algo semelhante a um véu. Conferem suavidade
e mistério ao espaço, além de contribuírem com leveza e movimento;
Margaridas – classe que engloba as espécies com formato característico de margarida, com
flores agrupadas próximas sobre um disco, e.g. girassol. Geralmente, agregam cores intensas,
evocam sensação de alegria e servem de grande atrativo visual ao conjunto;
24
Fogos de artifício – refere-se à inflorescência de ramos cespitosos e numerosos em seu ápice,

que estão ligados muito próximos ou no mesmo ponto da haste, formando uma esfera ou formas
pendentes. Conferem aspecto de movimento e evocam sensações de agitação, dinamismo.
A segunda classificação, quanto ao papel que as plantas desempenham na composição, sugere
a divisão em três grupos que podem ser denominados de maneiras diferentes, porém com termos
sinônimos. São eles: o grupo das plantas protagonistas, âncoras ou estruturantes; o grupo das
secundárias ou ocasionais; e o grupo das espécies de fundo, base ou matriz.
Protagonistas – são espécies que geralmente chamam atenção à primeira vista, seu interesse
ornamental é duradouro (não necessariamente trata-se da floração, mas também formas, arquite-
tura, cor das folhas etc.) são consideradas as estruturantes do jardim ao longo do ano, os “pilares”
da composição paisagística.
O enquadramento de espécies como protagonistas quando em climas subtropicais (como no
caso do bioma Pampa), pode ser dificultado se focarmos no quesito “expressão ornamental ao
longo de todo o ano”. Isso se dá devido aos invernos rigorosos, ocorrência de geadas e a senescência
completa de muitas espécies neste período, de forma que, impossibilite inclusive a expressão da
sazonalidade, tons e formas outonais. Aconselhamos atentar para os demais aspectos que confi-

guram uma planta como protagonista e sugerimos adotar a “expressão ornamental ao longo de
diversos meses”, aproximadamente sete ou mais.
Secundárias – refere-se ao tempo de permanência do interesse ornamental da planta (neste
grupo a floração tende a exercer maior peso na expressão ornamental). São bastante atrativas e
representam pontos de destaque, porém não se expressam ao longo do ano. São ocasionais no
tempo, conferem dinâmica através de sua sazonalidade e sensação de unidade na composição.
Geralmente são usadas de forma dispersa ou em pequenos grupos para conferir ritmo ao longo
do espaço e sumirem de maneira discreta ao fenecerem, não provocando a exposição do solo e
necessidade de reposições;
Fundo – possuem cores mais suaves e neutras (geralmente tons de verde), são discretas e
podem compor um perfil mais baixo, servem de plano de fundo para as demais espécies evidencia-
rem seu potencial, a base ou matriz para o jardim, unificam o espaço e mantém sua continuidade.
Devem ser usadas poucas espécies de fundo em um projeto, (distribuídas em grupos de forma
aleatória e variando de uma a, no máximo, 10 espécies). Este grupo de espécies é indispensável
para a cobertura do solo, preenchimento do espaço e descanso visual, não fenecem e mantém
suas características e funções ao longo do ano. É comum este grupo englobar os capins, família
Poaceae, abundantes nos ecossistemas não florestais, representando a camada contínua natural
das paisagens campestres do bioma Pampa.
A terceira classificação trata da distribuição das plantas no espaço, essa classificação tem
como inspiração a distribuição da espécie na paisagem natural e serve para otimizar a expressão
ornamental e o comportamento de cada espécie no espaço projetado, subsidiando inclusive a
definição de quantidades de plantas. É dividida em:
Grupos – quando a espécie melhor expressa seu potencial em um conjunto de poucos ou
numerosos indivíduos, estes grupos são distribuídos na paisagem, geralmente em formatos irre-
gulares e linhas orgânicas;
Faixas – quando o conjunto de indivíduos da mesma espécie assume linearidade na paisa-
gem. Ao aplicarmos essa distribuição no jardim podemos favorecer seu potencial paisagístico já
expresso na natureza, além de favorecer setorizações, conduzir o usuário e evocar sensação de
movimento na paisagem;
Plantas repetitivas – são recorrentes e solitárias, expressam os caracteres de interesse paisa-
gístico através de um único indivíduo da espécie distribuído de forma esparsa ao longo do espaço,
geralmente possuem algum atributo ornamental bastante notável. Relacionado a essa distribui-
ção é comum o mix de diversas espécies de exigências parecidas utilizadas juntas (assim como a
técnica de semeadura por muvuca), formando esse aspecto de plantas repetitivas na composição.
Na prática, as classificações são aplicadas em conjunto, conforme o embasamento técnico
que cada uma nos fornece. Com isso, temos subsídios para escolher espécies, combiná-las e dis-
pô-las nos jardins.
***
O item sobre usos paisagísticos é apresentado sob dois diferentes grupos. O grupo denomi-
nado pela sigla “UA” representa os usos já citados na e/ou descritos na literatura, representa o
estado da arte da aplicação (ou potencial aplicação) das espécies, seja nos espaços ajardinados
ou na arte floral. O segundo grupo, com a sigla “UI”, engloba os usos paisagísticos sugeridos com
base nos resultados experimentais que embasam o capítulo 3, estes usos não são mencionados
na literatura até o momento e são baseados na aplicação das classificações acima sugeridas.
***
As condições ambientais adequadas para cada espécie (solo, luminosidade e unidade) foram
indicadas a partir de observações em populações naturais no Pampa, do acompanhamento expe-
rimental, experiências dos autores e em consultas à escassa literatura existente.

***
Ao final dos subsídios técnicos para usos paisagísticos há um item relativo à poda que poderá
auxiliar na melhor condução das espécies nos projetos ao longo do tempo. São informações prá-
ticas e de caráter sugestivo que poderão variar conforme o contexto do projeto e a prática de
paisagismo e jardinagem dos profissionais.
Usos múltiplos
Nesta seção constam os usos que transcendem o jardim e a arte floral. De todo modo, estes
conhecimentos se inserem perfeitamente no contexto deste livro que é a popularização de conhe-
cimentos sobre a flora nativa, incluindo a divulgação das amplas possibilidades de usos descritos
por áreas da ciência como as agrárias, químicas, da saúde e biológicas, principalmente da etno-
biologia (onde se inserem a etnobotânica e a etnofarmacologia). Desta forma, os usos múltiplos
são apresentados em dois grupos: os usos que constam na literatura, já consolidados ou não (e.g.
medicinal; melífero; aromático) e, o grupo que apresenta sugestões de usos múltiplos potenciais,
verificados na experiência prática que deu origem a esta obra (e.g. recuperação de áreas degra-
dadas; cobertura de solo). Este segundo grupo tem o intuito de agregar novos conhecimentos e
motivar o aprofundamento de pesquisas nestes temas.
Informações adicionais
Como item final da descrição de cada espécie, são apresentados resultados experimentais,
curiosidades, informações sobre o status de conservação, esclarecimentos sobre possíveis difi-
culdades de identificação e breves colocações sobre o panorama de usos e pesquisas potenciais.
***
Para o capítulo três o sistema de numeração sobrescrita também representa citações indiretas
aos conteúdos à esquerda de cada número e contém sua respectiva referência ao final do livro.
Considerando a escassez de estudos e dados detalhados sobre caracteres e usos das espécies
utilizamos as mais diversas fontes de consulta, sob o critério de confiabilidade das informações
expressas por elas.
Amanhecer no Pampa, efeito do orvalho típico de
outono e inverno na região de Santa Maria-RS. Ao lado,
inflorescência de Eragrostis airoides Nees, abaixo à esquerda
teias de aranha em touceira de Eustachys distichophylla
( L a g . ) N e e s e a b a i x o à d i re i t a C h l o r i s e l a t a D e s v .
Entardecer no Pampa, efeito do pôr do sol na coloração das plantas na região de Santa Maria-RS. À esquerda dispersão de Saccharum angustifolium
(Nees) Trin., ao meio inflorescência de Eragrostis airoides Nees, e à direita capitulescência de Campuloclinium macrocephalum (Less.) DC.
Capítulo 3
Apresentação das espécies nativas
ornamentais estudadas
MARCELA – Achyrocline satureioides (Lam.) DC.
Família: Asteraceae.
Nomes populares: marcela; macela; macela-do-campo; losna-do-campo; macela-miúda; macelinha;
macela-amarela; alecrim-de-parede; camomila-nacional.
Hábito de vida: subarbusto.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa, Mata Atlântica e Cerrado. Em vegetação de área antró-
pica, campo de altitude, campo limpo, campo rupestre, restinga e afloramentos rochosos.
Raízes: fasciculadas, lenhosas nas partes mais grossas, densamente ramificadas e pouco profundas.
Caules e ramos: possui ramos lenhosos na base, cilíndricos, numerosos, densamente lanosos e de colo-
ração acinzentada, com odor agradável.
Folhas: as folhas são sésseis, densamente pilosas, com tricomas curtos e que conferem aspecto lanoso e
coloração acinzentada, alternas e lineares, as margens são inteiras e com nervura central aparente.
28

Estruturas floríferas: flores organizadas em capítulos numerosos, amarelos a ferrugíneos, brilhantes e
membranáceos. Estão agrupados em gloméru-
los e juntos formam a capitulescência que é um
corimbo contraído. As flores do raio (periféricas
no capítulo) são femininas e as flores do disco
(centrais no capítulo) são bissexuadas.
Frutos: cipselas diminutas, com papus sedoso, branco a rosado.

Altura: 0,2 a 0,8 m.

Ciclo de vida: bianual, por vez anual em condi-
ções atípicas.
Período reprodutivo: entre o verão e outono,
principalmente de janeiro a maio.
Textura: média das folhas e ramos e fina das
hastes reprodutivas.
Arquitetura da planta: geralmente, apresenta
parte aérea densa e de formato globoso. De
acordo com o sítio e a menor incidência de luz
pode estar ereta, cespitosa e pouco densa.
Arquitetura da inflorescência: umbela.
Caracteres ornamentais:
CA: cheiro agradável das folhas e flores; cor

cinza da planta devido sua densa pubescência e a combinação desta com o amarelo dos capítulos florais;
cor e abundância dos capítulos florais que conferem expressividade à planta durante a fase reprodutiva1;
possibilidades de destaque do cinza junto da cor de diversas outras plantas2-3; exuberância dos maciços2;
visão acolhedora e de paisagem campestre que remete3.
CI: a ocorrência de orvalho provoca a formação de numerosas gotículas de água junto das pilosidades
em toda planta, promovendo efeito de brilho intenso e dispersão da luz em diferentes cores; resistência
ao frio e geadas leves a moderadas; arquitetura em formato de leque da capitulescência; longo período
ornamental (expressão de caracteres que se estendem ao longo de todo ano, como a coloração cinza
da planta); expressão abundante e duradoura da floração após adequado estabelecimento da espécie;
sua floração é atrativa a diversas espécies de insetos; comprimento de hastes apropriado para arranjos
de altura baixa a média; longa durabilidade das hastes quando secas; capacidade de recobrimento do
solo; conhecimento popular dos seus usos medicinais, diretamente relacionado a aceitabilidade da
espécie em projetos.
30

Papel que desempenha na composição: protagonista.
Distribuição das plantas no espaço: repetitivas ou em pequenos grupos de três a cinco indivíduos.
Usos paisagísticos:
UA: em jardins de composição rochosa, vasos e bordaduras4; arranjos florais secos6.

UI: em floreiras médias a grandes e tetos verdes pelo porte e sistema radicular; como espécie de forração bianual
alta por conta da densidade da parte aérea e potencial de fechamento da superfície por meio do crescimento
lateral; como forma de trazer o cinza intenso para o jardim ao longo de todo ano por meio do seu protagonismo;
para combinações complementares com espécies de floração lilás ou tons de rosa e análogas com espécies
de cores quentes como vermelho e laranja; para contraste de forma com espécies de hábito ereto e de maior
altura; para contraste com plantas de texturas grossas; como espécie aromática em decoração de ambientes
internos ou jardins sensoriais; para atrair diversidade de entomofauna para o jardim durante o florescimento,
incluindo abelhas nativas; como espécie medicinal em jardins funcionais ou produtivos.
Condições ambientais:
Solo: baixas exigências quanto ao tipo de solo e

sua fertilidade, prospera em diferentes condições
de pH7, 37.
Luminosidade: o florescimento é mais intenso a
pleno sol, pode se desenvolver satisfatoriamente a
meia sombra.
Necessidade hídrica: prefere locais com boa drena-
gem, porém necessita disponibilidade hídrica mínima
para expressar seu potencial.
Poda:
Experiências práticas de cultivo e manejo demonstram
que a poda de remoção da porção apical reprodutiva,
quando recém-formada, tem efeito no aumento do
tempo de vida da planta e, portanto, na continuidade
da expressão de caracteres ornamentais vegetativos.
O ciclo de vida bianual da espécie pode exigir retirada

das plantas fenecentes, porém essa prática pode ser
dispensada se a espécie estiver distribuída de forma
repetitiva ou em pequenos grupos na composição.
Usos múltiplos
Usos que constam na literatura:

Medicinal – digestivo; efeito colagogo; no combate a infecções intestinais e redução de gases; anti-infla-
matório; favorece a menstruação e pode atuar como abortivo; antisséptico; contra resfriados e gripes;
analgésico; antidiarreico; como sedante; para controlar os níveis de colesterol7; eficaz contra náuseas; no
alívio de espasmos8; contra febre; no controle de diabetes; contra sinusite; tosse e tuberculose9.
Aromático – para extração dos óleos essenciais para perfumaria e aromaterapia7.
Cosmético – devido o conteúdo de flavonoides, antioxidantes e capacidade de clareamento capilar4.
Tintorial5 – registros de uso em tingimentos/clareamentos.
Herbicida5 – extração de compostos naturais com capacidade de inibir crescimento e germinação de
plantas competidoras.
Como ingrediente na indústria de comidas e bebidas – óleos
essenciais aromatizantes e saborizantes4.
Confecção de travesseiros – para uso no combate à
insônia10.
Como complemento no chimarrão11 – por suas propriedades
saborizante e medicinal.
Recuperação de áreas degradadas em regiões de sua ocor-
rência natural – pela cobertura de solo, refúgio para a fauna
(forma ambiente protegido e microclima favorável), atra-
tividade a visitantes florais, baixa exigência de solos e por
facilitar o estabelecimento de outras espécies, colaborando
para a estrutura da comunidade12.
32
Sugestões de usos múltiplos potenciais:
Cobertura de solo – como alternativa de ciclo bianual para as espécies exóticas de inverno. Apresenta
potencial substituição ao azevém (Lolium multiflorum Lam.) que é cobertura de inverno e representa pro-
blemas de agressividade e controle.
– É a planta medicinal símbolo do Rio Grande do Sul pela Lei Estadual nº 11.858, de 200213.
– A espécie tem sido ameaçada no RS pelo intenso extrativismo, comércio exploratório e uso de herbicidas
em suas áreas de ocorrência. Seu cultivo precisa ser amplamente conhecido para promover a conservação
genética e diminuição da pressão de coleta nas populações naturais.
– O beneficiamento das inflorescências secas sob fricção em peneiras e separação dos pequenos frutos
de impurezas maiores aumenta seu potencial de germinação e subsidia semeadura mais homogênea.
A temporalidade em marcela, hastes reprodutivas em

diferentes momentos de sua vida, em sentido anti-horário.
CAPIM-COLA-DE-SORRO-GRANDE – Andropogon bicornis L.

Família: Poaceae.
Nomes populares: capim-cola-de-sorro; capim-rabo-de-burro; cola-de-sorro.
Hábito de vida: erva.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Amazônia e
Caatinga. Em vegetação de área antrópica, afloramentos rochosos, campos arenosos e úmidos e
planícies em geral.
Raízes: raízes fasciculadas, densamente agrupadas

e ramificadas.
Caules e ramos: caule do tipo rizomas curtos subterrâneos
com colmos aéreos cilíndricos e numerosos, glabros, de
coloração verde a ocre conforme o estádio de desenvol-
vimento, as vezes ramificados na base.
Folhas: as folhas são simples, dispostas de forma alterna e
opostas, dobradas ao longo da nervura principal e encaixa-
das como as folhas de um livro. A lâmina é estreita e longa,
de ápice agudo, colar avermelhado e lígula das folhas mais
jovens densamente pilosa, com pelos longos. A bainha das
folhas envolve o colmo.
34
Estruturas floríferas: as inflorescências são densamente ramificadas e em formato de corimbo. Das espa-
téolas emergem as panículas, compostas por dois ramos floríferos densamente plumosos de coloração
branca a cinza. Estes ramos são compostos por ráquis e pares de espiguetas muito próximos (uma séssil
bissexuada e uma pedicelada neutra), sendo que a espigueta apical é maior, mais escura, pedicelada e
estaminada (marrom a bordô) que se sobressai as demais.
Frutos: cariopse. Sendo que a unidade de dispersão – ou também chamado diásporo – envolve uma espi-
gueta ou o par delas o entrenó da ráquis e as pilosidades.


Ciclo de vida: perene.
Período reprodutivo: pode ser durante
todo ano, no Pampa predomina de
janeiro a abril.
Textura: fina.
Arquitetura da planta: planta cespitosa,
robusta, ereta e com perfilhos densa-
mente agrupados.
CA: aspecto das hastes plumosas, densas e eretas; o brilho das panículas (efeito intensificado sob luz
solar direta); as duas cores dos colmos reprodutivos, verde com ápice prateado quando jovens e bordô
a marrom quando sob dispersão de frutos e secos; possibilidade de expressão do florescimento durante
todo ano14 (estendendo o período ornamental); excelente comprimento de hastes; resistência, volumetria
e originalidade da haste; durabilidade em água e espuma floral; aroma agradável da haste15.
CG: robustez da planta; possibilidade de propagação vegetativa ou por sementes16.
CI: o efeito de florescimento (exposição dos pequenos androceus de coloração amarela sob a luz do sol);
capacidade de produzir numerosas hastes por touceira; uniformidade de tamanho das hastes; aspecto geral
dos perfilhos devido a filotaxia alterna oposta, colar colorido e aspecto das folhas encaixadas; a ocorrência
de orvalho gera a formação de gotículas de água nas pilosidades das inflorescências, promovendo efeito
de brilho intenso e dispersão da luz em diferentes cores; resistência moderada a estresses ambientais.

Distribuição das plantas no espaço: pode ser de forma repetitiva, em grupos ou em faixas.
UA: para empregar aparência de paisagem campestre na composição; na arte floral, como haste de com-
plemento em arranjos, secas ou frescas14.
36
UI: como haste principal em arranjos secos ou frescos de poucas espécies ou unicamente ela (coletada
fresca antes da abertura das panículas, promovendo a abertura com a desidratação e aumento do aspecto
de leveza, originalidade e preenchimento do arranjo); para criação do efeito de faixas em grandes áreas;
para delimitações e bordaduras altas; para conferir verticalidade à composições campestres em razão
do hábito ereto das touceiras; para áreas com maiores níveis de umidade do solo no jardim; para con-
ferir sazonalidade ao jardim devido a mudança na aparência das inflorescências ao longo do ano; para

.
recobrimento e estabilização superficial do solo quando cultivada em grupos; para promover contraste de
forma entre espécies arredondadas e mais baixas ou de textura grossa; para combinação do prata brilhante
de suas inflorescências com outras espécies de floração colorida como diversas Asteraceaes.
Solo: prefere solos arenosos, tolera baixos teores

de nutrientes16.
Luminosidade: pleno sol.
Necessidade hídrica: em sítios úmidos expressa
todo seu potencial de crescimento e reprodução.
Poda:
Como a maioria dos capins, tolera a poda de lim-
peza por meio da roçada das touceiras para elimi-
nar o acúmulo de material fenecente. Esta prática
pode ser executada ao final do período de inverno
para estimular o seu desenvolvimento e promover
maior vigor de rebrota e florescimento na estação
primaveril. Cabe analisar aspectos como a situação
da expressão ornamental da planta, se as touceiras
estão desconfiguradas ou não, se há a presença de
material fenecente e com (ou sem) interesse esté-
tico e qual a sua visibilidade na composição.
Usos múltiplos

Medicinal – diurético; tratamento de afecções
de fígado e vias urinárias17.
Forrageiro – pouco adaptada à herbivoria, toda-
via é consumida pelo gado em época de rebrote
quando apresenta maior palatabilidade18.
Têxtil5 – confecção de cestaria, cordas e na
estrutura de cerâmicas por povos tradicionais.
Artesanato – com as hastes reprodutivas18.
Planta hospedeira – abriga artrópodes regula-
dores da população de insetos praga em mono-
cultivos, na sucessão soja-milho19.

Recuperação de áreas degradadas em regiões

de sua ocorrência natural – quando cultivada
em densidade moderada (imagem ao lado)
forma ambiente protegido, microclima favo-
rável para a fauna terrestre e excelente reco-
brimento do solo. Sua adaptação à umidade do sítio e solos pobres a torna uma opção de uso em áreas
úmidas que necessitem de estabilização da camada superficial, e.g. taludes.
– As hastes podem facilmente atingir comprimento de aproximadamente 1,6 m sem perder aspectos de
volumetria e rigidez, o que o torna ideal para arranjos de grande porte.
– A espécie é frequentemente identificada como Schizachyrium microstachyum (Desv. ex Ham.) Roseng.
e vice-versa. Porém há diferenças que são chave na diferenciação entre elas.
– Na fase vegetativa, mais
visível em folhas jovens,
a lígula de A. bicornis é
pilosa (em detalhe na
imagem da esquerda),
já a lígula de S. micros-
tachyum é menor e sem
pilosidades. Somado a
isso, A. bicornis é geral-
mente maior e mais
robusto do que S. micros-
tachyum (na segunda
imagem, posicionados à
esquerda e numerosos à
direita respectivamente).
38
– Na fase reprodutiva, S. micros-

tachyum (à direita) possui apenas
um ramo florífero por espatéola
e suas espiguetas são aristadas,
já A. bicornis (à esquerda) possui
dois ramos floríferos, sendo suas
espiguetas não aristadas, além
da espigueta do ápice ser maior
e de coloração mais escura que
as inferiores.
A temporalidade em capim-cola-de-sorro-grande, hastes

reprodutivas em diferentes momentos de sua vida, em sentido anti-horário.
Experiência de semeadura direta de

espécies ornamentais nativas
Experiências de prospecção, coleta e cultivo de espécies nativas com potencial ornamental
são tão promissoras quanto desafiadoras e necessárias. Pesquisas sobre a propagação destas
plantas são essenciais na busca de maior reconhecimento, valorização e conservação da diversa
flora brasileira, inciativas recentes de propagação por sementes já revelam resultados muito posi-
tivos no Cerrado brasileiro, tanto em restauração ecológica, experimentos com foco ornamental
e jardins pilotos20.
Para pesquisas iniciais com espécies nativas, a via de propagação sexuada é fortemente reco-
mendada, podendo ser desenvolvida por meio de diferentes metodologias de semeadura22. Se
forem obtidos resultados positivos, essa via representará maior facilidade de execução em rela-
ção a outros métodos de produção de mudas, menor investimento inicial, economia de recursos
produtivos e financeiros, potencial de aplicação em pequenos negócios, capacidade de produzir
elevado número de mudas, menor tempo para produzir as mudas e possibilidade de usos que
não comprometam a variabilidade genética da espécie em questão, o que é imprescindível em

iniciativas de conservação biológica22,23,24.
Dentre as diferentes
formas de semeadura existe
a semeadura direta, consiste
em distribuir a semente no
espaço de interesse final
da planta, por exemplo o
jardim. Este método não
faz parte do cotidiano de
implantação de projetos de
paisagismo no Brasil onde,
mesmo as plantas com alta
germinação e rápido cresci-
mento e estabelecimento,
são produzidas em outros
locais e posteriormente
transplantadas.
Exemplo de aplicação da semeadura direta de espécies nativas do
Todavia, o estilo natu-
Cerrado para restauração e paisagismo. (Foto: André Vilaron, 2016). ralista contemporâneo,
enquanto fonte de meto-
dologias para expressão das
paisagens brasileiras nos jar-
dins, usa da semeadura direta de espécies ornamentais, principalmente herbáceas e arbustivas,
para auxiliar em alguns dos seus objetivos fundamentais como a concepção de jardins como a alta
diversidade, dinamicidade e sazonalidade da composição, menor investimento de insumos, recur-
sos e cuidados por meio do controle sobre a densidade de semeadura (permitindo por exemplo
a maior proximidade entre plantas e rápida cobertura de solo, inibindo as plantas indesejadas),
além de possibilitar maior viabilidade econômica de projetos em grandes áreas e gerar excelen-
tes resultados ecológicos e estéticos (a exemplo dos mix em alta densidade de diferentes flores
delicadas e coloridas)25, 26, 27.
40
Como mencionamos na apresentação, a grande

maioria das espécies nativas potenciais para paisa-
gismo e arte floral no Brasil não possuem estudos
sobre coleta e beneficiamento de sementes, resposta
à semeadura, cultivo e expressão ornamental quando
cultivadas, sobretudo no bioma Pampa. Portanto,
experimentar as espécies por semeadura direta pode
subsidiar importantes itinerários técnicos para sua
utilização, inclusive viabilizando outras formas de uso
da flora como a recuperação de áreas degradadas,
ou ainda, indicar diferentes formas de propagação
a serem pesquisadas em caso de insucesso.
Foi com este intuito que o projeto “Espécies nati-
vas para usos paisagísticos: descobrindo e validando
o potencial da flora do bioma Pampa” se propôs a
Semeadura direta de experimento com
experimentar a coleta, beneficiamento e semeadura

ervas e arbustos do bioma Pampa, RS.
direta para as 12 espécies que compõem o escopo
deste livro. Avaliamos durante dois anos (2019 a 2021)
14 variáveis relacionadas à resposta a propagação,
estabelecimento, cultivo e expressão do potencial produtivo sob enfoque ornamental (paisagismo
e arte floral). As espécies foram estabelecidas em semeadura manual de alta densidade, em cinco
repetições de um metro quadrado, em solo frágil e degradado pelo uso antrópico21.
Os resultados obtidos foram muito positivos, apenas uma espécie não respondeu à semeadura
direta, as demais apresentaram elevado estabelecimento inicial, cobertura de solo, crescimento em
altura, resposta à extremos climáticos ocorrentes no período de avaliação (geadas, alta precipitação
e estiagens), cessamento do escoamento superficial presente na área, melhorias físicas no solo e do
microclima e abundância de abrigo e recursos para a fauna. Quanto ao potencial ornamental das
espécies baseado na avaliação das populações naturais e no cultivo experimental piloto para o Pampa
Resposta típica de emergência de espécies da família botânica Poaceae (à esquerda) e Asteraceae

(à direita) em experimento piloto de semeadura direta de ervas e arbustos do bioma Pampa, RS.
brasileiro, os resultados demons-

traram alto potencial para todas
as espécies. Dez das 11 que res-
ponderam ao cultivo atingiram a
máxima expressão ornamental
no primeiro ou no segundo ciclo
reprodutivo, com alta produtivi-
dade de hastes e comprimento
adequado para uso em arte flo-
ral, floração e frutificação abun-
dantes, período ornamental
duradouro e intervalo entre a
semeadura e a expressão orna-
mental relativamente rápido
(conforme a ecologia da espé- Experimento de semeadura direta de ervas e
arbustos do bioma Pampa aos seis meses.
cie). A experiência de avaliação
possibilita inclusive indicar o alto

potencial das espécies para usos
como a restauração ecológica de áreas degradadas na região do estudo21.
Os produtos da pesquisa sinalizaram excelente potencial de aproximação das 11 espécies da flora
nativa do Pampa ao paisagismo e arte floral através da semeadura direta. Corroboramos as vantagens
acima citadas e recomendamos o uso desta forma de propagação enquanto uma das ferramentas de
aplicação do estilo naturalista contemporâneo, motivando o uso das informações deste estudo em
jardins pilotos e a realização de novas pesquisas com outras espécies potenciais.
Experimento de semeadura direta de ervas e arbustos do bioma Pampa aos 18 meses.

42
EUPATÓRIO-BRANCO – Austroeupatorium
inulaefolium (Kunth) R.M.King & H.Rob
Nomes populares: eupatório-branco; alecrim-grande; alecrim-vassoura; cambará; vassoura; maripo-
sera; salvia-amarga.
Hábito de vida: arbusto.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Em vegetação de
campo rupestre, diferentes formações do Cerrado, floresta estacional decidual, floresta estacional semi-
decidual, floresta ombrófila e afloramentos rochosos.

Raízes: fasciculadas, lenhosas nas partes mais grossas, densamente ramificadas.

Caules e ramos: caule do tipo rizoma subterrâneo de onde saem ramos aéreos verticais cilíndricos, com
ramos secundários, opostos entre si e cruzados entre os pares. Os ramos são tomentosos, esverdeados
na base e vináceos no ápice.
Folhas: folhas simples, opostas cruzadas, pecioladas, membranáceas e ásperas. Geralmente em tonali-
dades de verde claro, lanceoladas com margem serreada e ápice acuminado, a face abaxial é irregular e
tomentosa, com as nervuras aparentes, destacam-se três nervuras principais.
Estruturas floríferas: as capitulescências são em forma de panícula corimbiforme densa, com numerosos
capítulos dispostos em forma de corimbo e com pedúnculos curtos. As flores são aromáticas, bissexuadas,
tubulosas e brancas e com invólucro campanulado. Possuem estiletes evidentes, bífidos e filiformes.
Frutos: cipselas pretas e ovoides, com papus branco e mais longo que o aquênio.
44

Período reprodutivo: de fevereiro a abril.
Textura: média.
Arquitetura da planta: a parte aérea da
planta assume forma corimbosa a pira-
midal, ereta.

CA: arquitetura da planta28; floração abundante e expressiva; cor branca e perfumada dos capítulos;
crescimento rápido29.
CG: atratividade do néctar para borboletas e abelhas que visitam intensamente a planta30, assim como
outras numerosas espécies da entomofauna.
CI: coloração lilás claro dos capítulos durante sua formação; volumetria e arquitetura das capitulescências;
coloração bordô dos ramos jovens o que confere combinação interessante com o verde claro das folhas
e o branco das flores.
Papel que desempenha na composição: secundária.
Distribuição das plantas no espaço: repetitivas ou em pequenos grupos.
UA: como atrativo para

a visitação de diversas
espécies da entomo-
fauna 28 , agregando
diversas formas de vida
no jardim, por vezes
inclusive visitando a
mesma capitulescência.
UI: como espécie que
traz aroma agradável
ao jardim (interessante
para espaços senso-
riais); para conferir
diferente tonalidade
de verde à composição
(verde claro); sugerida
para promoção de colo-
ração neutra no jardim,
permeando composi-
ções coloridas e colabo-
rando para o descanso
visual; para expressão
do efeito outonal por
meio da maturação
dos frutos e expressão
46
de tonalidades marrom-ocre; para melhoria das condições

físicas do solo pela robustez das estruturas subterrâneas e
sua expressão mesmo em solos compactados pelas ativi-
dades construtivas.
Solo: não é exigente quanto ao tipo de solo. Na natu-

reza é mais
frequente em solos arenosos e rochosos, tolera
solos antropizados31.
Luminosidade: atinge desenvolvimento ideal em condi-
ções de pleno
sol, por vezes a meia sombra31.
Necessidade hídrica: prefere locais úmidos, porém sem
acúmulo de água. Prospera também em terrenos secos,
com irrigação durante estiagens para poder expressar seus

caracteres ornamentais.
Poda: Após a dispersão de frutos pode ser realizada uma
poda de limpeza das estruturas fenecidas (ramos e/ou pedúnculos), porém há uma tendência à rápida
queda e decomposição dos tecidos.
Usos múltiplos

Medicinal – para problemas de estômago como aci-
dez, dores e cólicas32-33; para dores de garganta34;
depurativo do sangue; no controle de diabetes; trata-
mento de hemorroidas; regulação da menstruação35;
contra inflamações oculares; contraceptivo; abor-
tivo36; para acompanhamento junto da erva-mate
no chimarrão ou tereré e aproveitamento de suas
propriedades medicinais33.
Melífero – recomendada para este fim na região Sul
do Brasil37, por sua abundância de recursos durante
a floração.
Recuperação de áreas degradadas em regiões de
sua ocorrência natural38 – por ser pouco exigente em
condições de solo, prover refúgio para a fauna (se
cultivada em densidade moderada forma ambiente
protegido e microclima favorável para a fauna ter-
restre), boa cobertura do solo, numerosa e diversa
entomofauna associada ao seu florescimento intenso
e precoce e, poleiros para pequenas aves que utili-
zam a estrutura rígida e angular dos ramos em pai-
sagens abertas.
Repelente – possui óleos essenciais com proprie-
dades repelentes, sendo aplicado para insetos de
habitações como as pulgas e como inseticida natural
para bovinos36.
Controle de erosão em encostas39 – por conta de sua capacidade de estabelecimento e recobrimento, sis-
tema radicular fasciculado e baixo efeito de alavanca.
Biotecnológico – possui propriedades antifúngicas e antibacterianas39.
Tintorial 5 – registros de uso em tingimentos/clareamentos .
– Necessita de locais sem acúmulo de água para germinar e se estabelecer, portanto requer atenção com
a drenagem do recipiente ou do solo caso cultivada por semeadura direta.
– A. inulaefolium já é utilizado em projetos no Uruguai, em jardins de Pampa. No Pampa brasileiro ainda
não há experiências de cultivo, mesmo sendo fortemente recomendado para produção de mel.
A temporalidade em eupatório-branco, hastes reprodutivas em

diferentes momentos de sua vida em sentido anti-horário.
48
VASSOURA – Baccharis spicata (Lam.) Baill.

Nomes populares: vassoura; vassourinha.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa e Mata Atlântica. Em vegetação de campos de altitude,
floresta ombrófila mista, restinga, afloramentos rochosos, banhado a campo seco e áreas antrópicas.

Raízes: fasciculadas, densamente ramificadas e lignificadas.

Caules e ramos: o caule e os ramos são esverdeados a acinzentados e estriados longitudinalmente, os
ramos são opostos entre si e cruzados entre os pares.
Folhas: as folhas são sésseis, lineares a elíticas e agudas no ápice. As inferiores são opostas cruzadas e
nas porções apicais são sub-opostas a alternas. A margem da folha geralmente é dentada e a nervura
central é aparente na face abaxial. O limbo pode ser intensamente piloso, com tricomas cinzentos
(geralmente em fases mais jovens da planta). A planta naturalmente apresenta queda das folhas basais
ao longo de todo ano.
Estruturas floríferas: a capitulescência é terminal, em forma de panícula de capítulos. Os capítulos são
solitários ou em pequenos glomérulos, possuem flores tubulosas, somente femininas ou masculinas
de coloração amarelo a creme. As brácteas involucrais são campanuladas e se abrem na maturação e
dispersão de frutos. Pistilos e estames são aparentes e numerosos.
Frutos: cipselas diminutas e leves, de formato elipsoide e com papus branco.

Período reprodutivo: no verão
e outono, principalmente de
março a junho.
Textura: média.
Arquitetura da planta: a disposição
dos ramos e o aspecto estriado são
visíveis na porção basal da planta,
onde a densidade de folhas é menor.
Indivíduos espaçados geralmente
desenvolvem copa densa e arredon-
dada, ainda na fase juvenil.
50
Arquitetura da inflorescência: espigas.
CG: capacidade de se desenvolver em diferentes habitats; tolerância à amplitude climática ao longo das
estações40; a floração é intensamente visitada por abelhas Apis mellifera41.

CI: arquitetura de planta visualmente atrativa; cor e estrias dos ramos e caules; cor creme da floração e
sua abundância; brácteas involucrais de coloração bordô intenso, principalmente durante a formação de
frutos; coloração cinza intenso das brácteas involucrais persistentes pós dispersão de frutos, combinado
ao restante da haste verde acinzentado; produtividade e comprimento de hastes excelentes para a arte
floral; diversa entomofauna associada ao abundante florescimento (principalmente das ordens Diptera,
Hymenoptera e Coleoptera); aspecto delicado da haste sob a dispersão dos frutos por conta de sua abun-
dância e papus sedoso.
Distribuição das plantas no espaço: repetitivas.
UI: Para a arte floral, hastes frescas antes de iniciar o florescimento (ainda com capítulos fechados que não
manifestarão sua abertura, não promovendo a aparência dos estames oxidados no arranjo) ou então após
dispersão de frutos, (ressaltando os efeitos rústico e outonal, a combinação verde-cinza, e sem a queda de
resíduos); como arbustos repetitivos no jardim evidenciando sua arquitetura, coloração verde-acinzentada
e floração intensa e dinâmica; para estruturar composições rochosas e campestres; para atrair diversas
espécies de insetos durante a floração; para conferir verticalidade a composições por conta de sua altura
máxima; eventualmente pode servir de cerca viva (se cultivada em faixas); para promover eficiente pro-
teção do solo através da projeção da copa densa e pela camada de matéria orgânica residual que forma
na superfície e que pode beneficiar espécies mais exigentes da composição.
Solo: tolera diferentes tipos de solo níveis de fertilidade, geralmente

ocorre em solos arenosos, afloramentos rochosos e solos antropizados42.
Luminosidade: floresce de maneira abundante a pleno sol, tolera
meia sombra.
Necessidade hídrica: prefere sítios úmidos a pantanosos43, mas se desen-
volve também em solos drenados.
Poda:
Recomendamos a poda de remoção dos ápices dos ramos pós floresci-
mento somente quando se deseja a arquitetura de planta mais densa
e em menor altura. O crescimento livre também apresenta expressão
estética interessante.
Usos múltiplos

Medicinal – auxilia na redução da pressão arterial por ser vasorrelaxante; efeito cardioprotetor e protetor
contra danos ao DNA, sistema urinário e gastrointestinal; efeito citotóxico em células tumorais; antiviral40;
efeito antibacteriano; antioxidante e letal a tripanossomos44; efeito colerético e hepatoprotetor45.
Melífero37 – fornece recursos a uma grande diversidade de espécies de abelhas41.
52
Recuperação de áreas degradadas em regiões

de sua ocorrência natural – espécie potencial
para solos urbanos antropizados e com ele-
vada umidade40, florescimento intenso e pre-
coce, atratividade a entomofauna e ciclagem
de nutrientes em razão da queda e decompo-
sição das folhas basais.
Inseticida – pelas propriedades dos seus
óleos essenciais46.
Aromático – também pelas propriedades dos
seus óleos essenciais46.
Promover a ciclagem de nutrientes – possui

comportamento de senescência e queda das
folhas basais ao longo de todo ano, gerando

grande aporte de matéria orgânica e nutrien-
tes na superfície. Este uso é favorável, por
exemplo, em projetos de recuperação de áreas
degradadas e sistemas agroflorestais.
Como proteção viva – como se mantém sem-
pre verde e possui copa densa, pode servir de proteção ao desenvolvimento inicial de espécies de meia
sombra e proteção contra frio intenso e geadas, principalmente em projetos de recuperação e sistemas
agroflorestais no bioma Pampa.
– Variáveis quantitativas sobre o material de propagação das espécies nativas são fundamentais para os dife-
rentes contextos de cultivo. Contudo, são escassas as informações para espécies arbustivas e herbáceas nativas
do bioma Pampa. Seja nas formas
de coleta, secagem e processa-
mento de frutos até a durabilidade
de propágulos armazenados, há
um campo de estudos muito vasto
para estudos nesse sentido. Em
teste piloto, verificamos que B. spi-
cata possui sementes diminutas e
extremamente leves, sendo seu
manuseio e separação dos papus
e brácteas involucrais um desafio.
Em estimativa média, constatamos
que o peso médio aproximado de
mil cipselas foi de 0,1663 gramas.
A temporalidade em vassoura, hastes reprodutivas em

54
Os jardins também são espaços de presença e diversidade de fauna?

Este texto tem a função de lembrar – ou mostrar brevemente – que os animais agregam
vida e dinâmica ao jardim, eles completam a biodiversidade e tem o poder de conferir a beleza
plena ao espaço. A fauna colabora para deixar o jardim ecologicamente funcional, assumindo
um papel extremamente necessário frente a degradação ambiental atual. Os jardins enquanto
espaços de expressão de recursos como alimento e abrigo possuem a capacidade de estimular,
principalmente, a presença da entomofauna e avifauna, que realizam serviços ambientais como
a polinização, controle biológico entre diferentes espécies, atuam na ciclagem de nutrientes e
na consequente manutenção do equilíbrio ecológico do espaço. Pensando em contexto regio-
nal, os jardins biodiversos e em harmonia com o ecossistema são ferramenta fundamental na
manutenção da fauna local e migratória, principalmente em ambientes urbanos, onde tende à
escassez de recursos disponíveis.
Ainda que a entomofauna associada aos ambientes ajardinados é composta por algumas
espécies com ferrão, a exemplo de algumas vespas, abelhas e mamangavas, há uma tendência
de que, quando sob visitação nas plantas, não manifestem comportamento defensivo, ou que

esse seja restrito enquanto resposta a ações humanas diretas e incisivas. Isso se dá em razão do
seu foco na obtenção de recursos como néctar e pólen, diferentemente de quando animais são
perturbados, por exemplo, em seu local de nidificação, onde o seu instinto será defender-se. A
presença de diversas espécies animais com capacidade defensiva não deve ser tomada sob o pro-
tagonismo de sua ameaça em situações mais especificas, mas sim sob a ótica da importância do
seu papel ecológico e do seu próprio valor intrínseco, em outras palavras, o valor da sua existência
enquanto parte da natureza e do jardim, assim como nós.
A exemplo dos insetos, muitos grupos exercem funções bastante diversas, inclusive indispen-
sáveis para a vegetação do jardim prosperar. As joaninhas se alimentam de cochonilhas, ácaros,
afídios e moscas-das-frutas, estes que, quando têm suas populações em desequilíbrio, podem
causar danos importantes às plantas, crisopídeos incluem pulgões sugadores de folhas em sua
dieta, libélulas predam larvas de mosquitos que se proliferam no jardim e, os parasitoides, a exem-
plo de vespas, controlam larvas consumidoras de folhas. Borboletas e mariposas trazem beleza
estética, tornam o espaço alegre e lúdico, enquanto as abelhas nativas são fundamentais para a
polinização das espécies de plantas da região. Ainda, besouros, lesmas e aranhas entram na dieta
de aves e anfíbios que são indispensáveis reguladores de populações de insetos do ambiente e
trazem cores, dinamicidade e sons ao jardim. Ademais, as aranhas são também importantes
predadores de insetos que sem elas para regular suas populações poderiam se tornar pragas no
jardim... e assim, a teia da vida vai se completando no espaço.
O conceito de belo associado ao cunho estético não deve ser tomado como regra seletiva a
ser aplicada à fauna do jardim, inclusive este conceito é muito relativo ao observador e formado a
partir de diferentes percepções e bagagens. Há infinitas interações e seres essenciais para a vida
humana e para o funcionamento do jardim (enquanto sistema vivo que é) que não se encaixam no
senso comum do que é bonito. Todavia, são belos sob outras perspectivas como a da harmonia e
equilíbrio que ali causam, tornando o jardim um espaço diverso, inclusivo e cheio de vida.
CAPIM-PLUMA-BRANCA – Bothriochloa laguroides (DC.) Herter

Família: Poaceae.
Nomes populares: capim-pluma-branca; capim-pluminha-branca; capim-cola-de-lebre.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa e Mata Atlântica. Em vegetação de área antrópica, campo
limpo, floresta ombrófila mista, restinga e campos naturais com elevada drenagem.
Raízes: as raízes são fascicu-

ladas, geralmente superficiais,
ramificadas e numerosas.
Caules e ramos: caule do tipo
rizomas curtos subterrâneos. Os
colmos e seus nós são glabros,
por vezes ramificados na base,
de cor verde quando jovens e
paleáceo quando sob maturação
e fenescência, a coloração é sem-
pre mais escura nos nós.
56
Folhas: folhas simples e glabras, basilares a caulinares, estreitas, em tonalidades de verde claro, planas e
de ápice acuminado, convolutas no colmo, de 4 a 15 cm de comprimento e com nervura central aparente.
A lígula é membranosa ou membranosa-ciliada.
Estruturas floríferas: as inflorescências são compostas de panículas densas, oblongas a lanceoladas de
aproximadamente 6 a 10 cm, de coloração branco-prateadas e sedosas com ramificações a partir do eixo
principal persistente, precedidas por uma folha bandeira. As espiguetas sésseis são bissexuadas e geral-
mente aristadas, já as espiguetas pediceladas são neutras, ambas de cor verde a prata.
Frutos: cariopse elipsoide de coloração castanho na maturação. Os diásporos incluem uma espigueta
séssil, uma pedicelada e o entrenó da ráquis.


Período reprodutivo: de outu-
bro a maio.
Textura: fina.
Arquitetura da planta: cespitosa
com colmos numerosos e tou-
ceiras baixas, planta geralmente
prostrada quando sob pastejo
ou roçadas.
Arquitetura da inflorescên-
cia: plumas.
CA: cor branca intensa e formato plumoso das panículas quando maduras; panículas de cor prateada e con-
traídas quando jovens; aroma de limão das hastes sob fricção; longa durabilidade pós-colheita; efeito de
movimento das inflorescências no jardim14.
CG: boa capacidade de ressemeadura natural48.
CI: brilho das panículas (efeito intensificado sob luz solar direta); alta produtividade de hastes; hastes eretas
e de comprimento uniforme; comprimento de haste adequado para a arte floral; a ocorrência de orvalho
gera a numerosa formação de gotículas de água nas pilosidades, promovendo efeito de brilho intenso e
dispersão da luz em diferentes cores; elevada cobertura e proteção da superfície do solo do jardim; longa
duração do período reprodutivo e consequentemente dos caracteres ornamentais.
58
Distribuição das plantas no espaço: em grupos, em faixas ou repetitivas.
UA: em gramado nativo de baixo pisoteio quando aparada; na arte floral14 como hastes secas de tonalidade
branca opaca, ou frescas coletadas ainda contraídas para posterior abertura, conferindo maior volumetria,
leveza e brilho às pilosidades; para usos em locais restritivos em profundidade e umidade do substrato,
se adequando a projetos sob prin-
cípios sustentáveis49, a exemplo
de tetos verdes e projetos com
menor consumo de água.
UI: em grupos para ressaltar a colo-
ração branca de brilho intenso nas
plumas e conferir movimento para
a composição, além de excelente
recobrimento do solo e preenchi-
mento do espaço; para forração

perene; para conferir dinamismo
e leveza ao jardim durante sua
reprodução; em vasos e floreiras
baixos e a pleno sol para promo-
ver seu florescimento; como bor-
dadura para grupos de espécie
de maior porte (se cultivada em
faixas); permeando composições
de colorações mais chamativas na
forma repetitiva ou em grupos; para conferir aspecto de contraste de forma com espécies de inflorescências
do tipo umbelas coloridas.
Solo: ocorre naturalmente em solo arenoso, porém é pouco exigente, podendo ocupar áreas antropizadas3, 48.
Luminosidade: pleno sol, podendo apresentar adaptação a meia sombra.
Necessidade hídrica: prefere solos drenados, é tolerante a estiagens48.
Poda:
Recomendamos a poda por meio de roçada da parte aérea, ao final do período de inverno, com o objetivo
de promover a ciclagem de material fenecente, estimular o seu desenvolvimento parcialmente prostrado
e promover maior vigor de rebrota da espécie na estação primaveril.
Usos múltiplos

Recuperação de áreas campestres degradadas em
regiões que possua distribuição natural49 – prin-
cipalmente pelo recobrimento eficiente de solos
pobres e secos.
Herbicida – referente a riqueza de terpenos encon-

trados nos óleos essenciais, atuantes no efeito ale-
lopático da planta pela liberação destes50.
Forrageiro – tecido tenro e de alta palatabilidade
a herbívoros37.
Cobertura de solo – por sua alta germinação,

estabelecimento rápido, resistência, perenidade
e impedimento à germinação de plantas compe-
tidoras após seu estabelecimento.
– B. laguroides possui área de ocorrência original menor

do que 2.000 km². É classificada como vulnerável (VU) à
extinção segundo o Conselho Nacional de Conservação
da Flora – CNCFlora. As ameaças são o sobrepastejo
do campo nativo, alteração no uso e manejo do solo e
degradação do habitat51.
– Sob semeadura direta de aproximadamente 3,5 g
de diásporos/m², sem aporte de adubação e em solo
degradado produziu em média 1.360 hastes por metro
quadrado ainda no primeiro ciclo reprodutivo e com
comprimento médio superior a 40 centímetros, repre-
sentando excelente potencial produtivo e aptidão para
o uso das hastes florais.
60

A temporalidade em capim-pluma-branca, hastes reprodutivas
em diferentes momentos de sua vida, em sentido anti-horário.
ERVA-POM-POM – Campuloclinium macrocephalum (Less.) DC.

Nomes populares: erva-pom-pom; eupatório-roxo; eupatório.
Distribuição natural: ocorre majoritariamente nos biomas Pampa e Mata Atlântica. Em vegetação de
área antrópica, floresta estacional semidecidual, afloramentos rochosos, campos naturais e vegeta-
ção secundária.
Raízes: as raízes são tuberosas, alongadas, profundas, dispostas radialmente e espessadas a partir do
caule central da planta.
Caules e ramos: os caules são robustos, rígidos em sua base, pouco ramificados, com tricomas glandulares
e ásperos ao toque. Apresentam coloração verde a vinácea, em degradê da base para o ápice.
Folhas: folhas simples, ovaladas a oblongas e de ápice agudo, opostas cruzadas podendo ser alternas no
ápice. Pecíolos e limbo com tricomas multicelulares, glandulares e ásperos ao toque nas duas faces, mar-
gens crenadas e base arredondada ou atenuada e trinérveas. Diminuem o tamanho e a frequência da base
para o ápice da planta.
62

Estruturas floríferas: capítulos terminais nos ramos, dispostos em forma de cimas corimbiformes e com
pedúnculos púrpuros a vináceos, hirsutos e glanduloso-pontoados. Os capítulos possuem brácteas cam-
panuladas púrpuras a vináceas e numerosas flores, que ao abrirem, expõem os estiletes longos e vistosos
de cor lilás. As flores são bissexuadas, lilases e em forma de tubo.
Frutos: cipselas alongadas de coloração castanha a preta e papus com cerdas espessas de coloração
marrom claro a amarelado.

Ciclo de vida: perene, porém fenece
a parte aérea no inverno, rebrota e
floresce na primavera-verão.
Período reprodutivo: de dezem-
bro a maio.
Textura: média.
Arquitetura da planta: ao iniciar o
alongamento dos ramos e a forma-
ção dos capítulos a planta assume a
forma verticalizada sob vista lateral,
e verticilada quando vista de cima.
cia: umbela.
CA: cor vinho a lilás dos ramos e brácteas involucrais; flores com corola e estiletes longos e de coloração
lilás; durabilidade pós corte (em água); comprimento adequado das hastes para a arte floral; vistosidade
dos capítulos52; atratividade principalmente à borboletas11, mas também a diversas outras espécies de
insetos e aves53.
CI: efeito ereto das hastes; abundância da floração e alta produtividade de hastes; arquitetura da planta e
das capitulescência visualmente atrativas; aparência da folhagem (pilosidades e margem crenada); os capí-
tulos com frutos maduros apresentam formato de esfera delicada e coloração ocre, ocorrem simultâneos
64
ao florescimento e por isso combinam diferentes texturas e cores das hastes no jardim; tolera estiagens
moderadas; sob condições favoráveis apresenta longa duração do período reprodutivo e consequente-
mente dos caracteres ornamentais.

Distribuição das plantas no espaço: repetitivas ou em grupos de no máximo três indivíduos.
UA: para a arte floral11, hastes frescas

como elemento principal na compo-
sição; cultivada em grupos (peque-
nos) principalmente pelo efeito
evidente dos caracteres ornamentais
na primavera-verão54.
UI: para atrair borboletas e mariposas
nas áreas ajardinadas, além de diver-
sas espécies de insetos; pode ser usada
para conferir verticalidade em compo-
sições baixas; para atribuir textura, cor
e formas incomuns para a composição,
facilitando a formação de contrastes e
ressaltando seu protagonismo na com-
posição; para combinações comple-
mentares com espécies de tonalidades
amarelas ou creme comuns na vege-
tação campestre do Pampa; para evo-
car abundância e dinamismo ao jardim
através da intensa mudança de cor e
forma conforme o florescimento e dis-
persão dos numerosos capítulos; para
contrastes de forma com espécies menores e de parte aérea compacta; para melhoria das condições físicas
do solo em função da robustez das estruturas subterrâneas e sua expressão mesmo em solos compactados.
Solo: geralmente ocorre em solos arenosos, porém tem baixa exigência quanto ao tipo de solo e seu teor de
nutrientes, tolerando solos degradados11,28.
Necessidade hídrica: na natureza prefere sítios úmidos28, porém cresce e floresce também em locais dre-
nados ou secos.
Poda: Não apresenta exigências desta prática. Após o período reprodutivo ocorre a fenescência total da
parte aérea e sua rápida decomposição, sem notável acúmulo de material morto.
Usos múltiplos

Medicinal – anti-inflamatório; sedativo; em
tratamento de doenças cardíacas54.
Tintorial5 – registros de uso
em tingimentos/clareamentos.
Forrageira5 – para alimentação
da entomofauna.
Recuperação de áreas degradadas em
regiões de sua ocorrência natural38 – por sua
capacidade de estabelecimento, perenidade,
resistência e atratividade da entomofauna.
– Chega a produzir 43 capítulos florais ao

longo do ciclo de vida de uma haste, sob cul-
tivo em semeadura direta no solo degradado
66
e sem aporte nutricional, conferindo grande disponibilidade de recursos para a entomofauna e intensa
visitação ao longo de todo o dia.
– Não exige semeadura de grandes quantidades de sementes por área, após seu estabelecimento há
emissão de ramos laterais que promovem o preenchimento do espaço e a cobertura do solo. Apresentou
ótimos resultados em densidade de semeadura direta de 0,8 gramas de cipselas/m².
A temporalidade em erva-pom-pom, hastes reprodutivas em

CROMOLAENA – Chromolaena pedunculosa

(Hook. & Arn.) R.M.King & H.Rob.
Nomes populares: cromolaena; arnica; mata-pasto;
Hábito de vida: subarbusto.
limpo, bordas de matas e campos secos de forma menos frequente.
Raízes: raízes fasciculadas e densamente rami-

ficadas, não forma xilopódio.
Caules e ramos: caule ereto, cilíndrico, pubes-
cente, ramificado apenas na inflorescência.
Apresenta colocação verde intensa a vinácea
em seus ápices.
Folhas: as folhas são simples, ovaladas a lan-
ceoladas, opostas, pecioladas (pecíolos curtos
e pubescentes), trinervadas, tomentosas e em
relevo na face abaxial, geralmente pouco densas
ao longo do caule e distribuídas até o início da
capitulescência. O ápice é acuminado a obtuso,
e as margens crenadas a serreadas.
68

Estruturas floríferas: forma capitulescências amplas e pouco densas, paniculiformes, bracteadas, com
ramificações secundárias laterais opostas entre si e alternas com as seguintes, em seu ápice se inserem os
capítulos subsésseis a longamente pedunculados. As brácteas involucrais são de cor vinácea pelo menos
em seus ápices, estes que são arredondados a obtusos e formam um conjunto cilíndrico, o receptáculo
floral é convexo. As flores são bissexuadas, numerosas e lilases com estiletes longos, bífidos e evidentes.
Frutos: cipselas obcônicas escuras, glabras, e com papus esbranquiçado a ocre.

Ciclo de vida: perene. A parte
aérea fenece total ou parcial-
mente no outono-inverno, após o
período reprodutivo, rebrotando
na primavera-verão.
Período reprodutivo: fim do verão
a início do outono, principalmente
de março a maio.
Textura: fina.
Arquitetura da planta: verticali-
zada em razão do caule alongado,
com entrenós longos, permitindo a
visualização através da planta.
cia: cortina.
CG: o gênero Chromolaena sp. tem vasta riqueza de visitantes florais55.

CI: cor lilás a violeta das flores, hastes eretas e de comprimento adequado para a arte floral, formato
piramidal, arquitetura, simetria e rigidez das capitulescências; brácteas involucrais e ápice dos ramos de
coloração vinácea intensa; estiletes longos de coloração lilás a violeta; capítulos delicados e numerosos.
70

UI: potencial uso das hastes fres-

cas para complemento na arte
floral devido sua arquitetura, colo-
ração e abertura dos ramos; pode
ser usada para promover efeito
de verticalidade em composi-
ções de pequeno porte e ressaltar
ainda mais seu caráter de espécie
secundária; para atrair diversi-
dade de visitantes florais durante
o florescimento, principalmente
borboletas e abelhas; para produ-

zir efeito de cortina por conta da
permeabilidade visual das inflo-
rescências; pode ser usada para
conferir leveza e descanso visual
em composições de textura grossa
e/ou com elevada densidade de
plantas quando empregada de
maneira repetitiva; como opção
para conferir coloração atrativa
em ambientes de menor exposição
solar, condição que pode limitar as
possibilidades de espécies orna-
mentais (que majoritariamente
são de pleno sol).
Solo: se desenvolve em diferentes tipos de solo, tole-

rando inclusive solos antropizados56.
Luminosidade: prefere ambientes de meia sombra a
sombreados56, tolera sol pleno.
Necessidade hídrica: pouco exigente em umidade do
solo, geralmente prefere em terrenos secos31.
Poda:
Após a dispersão de frutos pode ser realizada uma
poda de limpeza das estruturas fenecidas, entretanto
não representa obrigatoriedade em função da discreta
expressão do material fenecente, o que às vezes pode
ser interessante para expressão da sazonalidade.
Usos múltiplos

Medicinal – para problemas no sistema nervoso central; ginecológicos; respiratórios; pele; olhos; nariz;
orelhas; orofaringe e vias urinárias57.
Recuperação de áreas degradadas em regiões de sua ocorrência natural – por fornecer abundantes recursos
para a entomofauna no primeiro ano e por se desenvolver em áreas de meia sombra a sombreadas, onde
poderá haver baixa diversidade de espécies disponíveis para plantio.
– A sua semelhança com outras

espécies de Chromolaena sp. e o
tamanho de sua inflorescência
ampla e laxa por vezes coletada

em parcialidade podem incor-
rer em erros de identificação.
Entretanto, algumas caracte-
rísticas são chave para definir
C. pedunculosa, a ausência de
xilopódio, folhas hirsutas na
face abaxial e brácteas involu-
crais internas com ápices arre-
dondados a obtusos.
A temporalidade em cromolaena, porção das hastes reprodutivas

72
CAPIM-COQUEIRINHO – Eustachys distichophylla (Lag.) Nees

Família: Poaceae.
Nomes populares: capim-coqueirinho; capim-coqueiro; capim-palmeirinha.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Em vegetação de
área antrópica, campo de altitude, campo limpo, diferentes formações do Cerrado, palmeiral, restinga e
campos secos.

Raízes: as raízes são fasciculadas e densamente ramificadas.

Caules e ramos: colmos numerosos e robustos, eretos a levemente
inclinados; achatados em sua base.
Folhas: folhas verdes, por vezes com tom de azul, opacas na face
abaxial e concentradas na base da planta. São alongadas, rígidas,
com nervura central evidente, glabras, com ápice obtuso e com
lígula membranosa. A filotaxia é alterna dística, sendo as folhas
dobradas ao longo da nervura principal e encaixadas pelas bainhas
como as folhas de um livro, conferindo o aspecto achatado à base
do colmo. O colar das folhas é de coloração avermelhada a púrpura.
Estruturas floríferas: as inflorescências são do tipo panícula verticilada de ramos unilaterais espiciformes
onde se inserem as numerosas espiguetas castanhas e com tricomas brancos. Cada espigueta possui uma
flor, o antécio basal é bissexuado e o apical é neutro. Os colmos reprodutivos são esverdeados a marrons
quando verdes e de tonalidade paleácea a ocre quando secos.
Frutos: cariopse com pilosidades, corresponde também à unidade de dispersão da espécie.

Período reprodutivo: novem-
bro a junho.
Textura: fina.
Arquitetura da planta: touceiras
baixas e eretas, cespitosas e assi-
métricas, as hastes reprodutivas
conferem efeito verticalizado ao
conjunto.
Arquitetura da inflorescência:
fogos de artifício.
CA: movimento das inflorescên-

cias e sua mudança de coloração
ao longo do ciclo; comprimento
excelente das hastes para a arte
floral; efeito vertical e pendente
na mesma haste devido às rami-
ficações das panículas inseridas
74

em colmos eretos6; hastes em formato de pequenos fogos de artifício; planta rústica; folhagem verde e
com tonalidades de azul58.
CG: resistente ao frio16.
CI: tonalidades de vermelho a bordô das folhas no outono e inverno pelo acúmulo de antocianinas; elevada
produtividade de hastes; rigidez e durabilidade das hastes no jardim e seu potencial para arranjos perma-
nentes; formas diversas que as hastes assumem em razão da desidratação pós dispersão das cariopses;
potencial para recobrir rapidamente a superfície do solo; alta capacidade produtiva de hastes; colar das
folhas visualmente atrativo por sua coloração rosa a vermelho; formato em leque dos perfilhos conferido
pelo encaixe entre as folhas; longa duração das características ornamentais.

Distribuição das plantas no espaço: repetitivas, em pequenos grupos de aproximadamente cinco indi-
víduos ou em faixas.
UA: para cultivo em grupos (pequenos) para efeito verticalizado e de movimento; na arte floral, com hastes
secas de formatos diversos, ou frescas de formato pendente14;
UI: para produzir efeito de cortina por conta da permeabilidade visual das inflorescências, podendo-se
trabalhar plantas e elementos coloridos atrás desta espécie quando cultivada em faixas de baixa densidade;
como forma de conferir textura e formas originais à composição que, junto do movimento das inflores-
cências, confere dinamismo ao espaço; como bordadura de rotas de circulação se cultivada em faixas;
recomendada para composições em que sejam requeridas espécies protagonistas porém por caracteres
que não envolvam a coloração intensa; para estruturar composições rochosas e campestres; para projetos
em áreas de acidez elevada e condições de solo inadequadas para espécies mais exigentes; para locais do
jardim onde se deseja rápido recobrimento e estabilização superficial do solo; para conferir estrutura para
composições em terrenos secos.
76
Solo: ocorre em diversos tipos de solo, tolera áreas antropizadas, solos pobres e ácidos.
Luminosidade: pleno sol, podendo apresentar adaptação a meia sombra14,16.
Necessidade hídrica: geralmente prefere locais secos, resiste a estiagens prolongadas se não estiver em
elevada densidade de plantas59. A umidade do solo na capacidade de campo promove a intensa expressão
de seu potencial paisagístico.
Poda:
Como a maioria dos capins, tolera a poda de limpeza por meio da roçada das touceiras para eliminar o
acúmulo de material fenecente. Esta prática pode ser executada ao final do período de inverno para esti-
mular o seu desenvolvimento e promover maior vigor de rebrota e florescimento na estação primaveril.
Usos múltiplos

Medicinal – propriedades diuréticas
das sementes60.

Recuperação de áreas degradadas em
regiões de sua ocorrência natural38 – por
sua resistência a estiagem, perenidade,
recobrimento do solo, rusticidade, esta-
belecimento e sobrevivência em locais
bastantes alterados, também pelo poten-
cial refúgio para fauna de pequeno porte
devido a formação de touceiras, forne-
cendo proteção e microclima favorável.
Sugerimos também para estabilização de
solos degradados em virtude da sua capa-
cidade de fixação em locais hostis.
Cobertura de solo – pela capacidade de perfilhamento,

perenidade, rusticidade, biomassa abundante e de decom-
posição lenta.
– Possui alta germinação e estabelecimento de plântulas

mesmo sob condições adversas de clima e solo. Desta forma,
não recomendamos elevadas densidades de semeadura
(acima de aproximadamente 3,5 gramas de cariopses/m²),
pois a competição entre plantas pode inibir a expressão dos
caracteres ornamentais, a exemplo da produção de hastes
reprodutivas.
– É semelhante morfologicamente a Chloris elata Desv.

(capim-branco), principalmente no porte da planta e for-
mato da inflorescência. Diferenças que auxiliam na iden-
tificação são o maior comprimento das folhas e ápice em
ângulo agudo em C. elata (a esquerda), diferentemente
de E. distichophylla que possui o ápice obtuso (a direita).
Ainda, as folhas de C. elata não são dobradas ao longo
da nervura principal, sem o aspecto achatado da base
do colmo, como em E. distichophylla. De todo modo,
C. elata também apresenta potencial ornamental.
A temporalidade em capim-coqueirinho, hastes reprodutivas

78
Principais acordos mundiais: promoção do conhecimento e usos sustentáveis

da flora ornamental brasileira
O Brasil é signatário de importantes acordos e diretrizes ambientais mundiais. Os documen-
tos aqui brevemente apresentados facilitam o entendimento da motivação internacional para a
promoção do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e sua conservação por meio dos usos
sustentáveis da flora. Estas diretrizes servem de embasamento e compõem também a justificativa
para a construção da presente obra e para a pesquisa que a originou.
A partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano realizada em
1972, diversas discussões no campo ambiental ganharam força. Conhecida como a Conferência de
Estocolmo, tratou de questões cruciais como o compromisso dos povos do mundo com a proteção
do meio ambiente e a tomada de consciência sobre a degradação ambiental. O documento da
Conferência aborda princípios como a nossa responsabilidade com a preservação do patrimônio
da fauna e flora, seus habitats e o compromisso em tornar o processo de desenvolvimento socioe-
conômico compatível com a proteção dos recursos naturais.

Existe também o Acordo de Paris assinado em 2015, no âmbito da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), que rege medidas de redução das emissões
de gases de efeito estufa, visando impedir uma interferência antrópica perigosa no sistema cli-
mático. O documento também prevê que os países atuem na promoção do desenvolvimento sem
comprometer o planeta e as gerações futuras, com foco na redução das mudanças climáticas e
em ações eficazes, progressivas e inovadoras que promovam a diversificação econômica e gestão
sustentável dos recursos naturais. O maior protagonismo das espécies nativas ornamentais nos
espaços projetados possui relação direta com as diretrizes enquanto uma poderosa ferramenta
de valorização da biodiversidade, inovadora em diversas regiões brasileiras e bastante promissora
frente aos efeitos das mudanças climáticas.
Outra iniciativa mundial crucial nesta temática é a Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB) que diz respeito a um tratado da Organização das Nações Unidas e estabelece importantes
instrumentos sobre o meio ambiente. Por meio das Metas de Aichi 2011-2020 a CDB estabelece
que, em 2020, a população deveria estar ciente dos valores da biodiversidade, o conhecimento e
tecnologias relacionados a este tema deveriam ter sido melhorados, amplamente compartilhados,
transferidos e aplicados. No cenário atual, iniciativas que servem de instrumento para cumprir as
metas seguem extremamente necessárias.
Tais metas abordam aspectos diretamente relacionados ao conhecimento e promoção da
flora ornamental brasileira como: a integração dos valores da biodiversidade em estratégias de
desenvolvimento regional e.g. redes de coleta de sementes e produção de mudas em viveiros
locais; minimização de impactos negativos diretos e indiretos na biodiversidade e.g. alternativas
à espécies ornamentais exóticas invasoras; proteção ambiental de áreas naturais e suas conexões
através de projetos de paisagismo que atentem para a fragmentação ambiental atual; proteção do
conhecimento tradicional associado aos múltiplos usos das plantas nativas e respeito aos povos
tradicionais; prevenção a extinções por meio do estudo e utilização de espécies nativas ornamen-
tais ameaçadas; criação do senso coletivo sobre as consequências da perda da biodiversidade na
vida humana.
A Agenda 21 é um documento assinado por 179 países na Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que ocorreu no ano de 1992 e trata dos problemas e
desafios ambientais para o século 21. O documento ressalta o caráter urgente da conservação
e manutenção dos genes, espécies e ecossistemas com vistas ao manejo e uso sustentável dos
recursos biológicos. Conforme sugere a diretriz, a valorização e os usos sustentáveis da flora nativa
(inclui-se aqui a ornamental) podem contribuir para questões como: iniciativas de conservação do
solo, água e recursos genéticos; redução da pobreza; empoderamento feminino, dos povos indí-
genas e comunidades tradicionais; sistemas alternativos de produção e subsistência; aumento da
capacidade de conservação da fauna e da flora in situ e ex situ; recuperação de áreas degradadas;
produção de alimentos e atividades voltadas para a agricultura sustentável; promoção do uso de
espécies pouco conhecidas e potencialmente úteis; substrato de pesquisa para entender o papel da
biodiversidade no funcionamento dos ecossistemas e na produção de bens e serviços ambientais.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é uma diretriz assinada em 2015 pelos
193 países membros das Nações Unidas. Por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ODS), esta Agenda segue a provocação para iniciativas transformadoras na direção da susten-
tabilidade. Os usos paisagísticos da flora nativa entram em consonância com pelo menos nove
ODS, corroborando sua importância. Destacamos aqui a relação com os objetivos que abordam
sobre: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável
e fomentar a inovação (9); Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis (11); Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis (12);
Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e os seus impactos (13) e, Proteger,
recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável
as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade (15).
Por fim, apresentamos também o Protocolo de Nagoia. Adotado pelo Brasil em 2010, consiste
em um acordo internacional complementar à CDB. Com a adesão, os países se comprometem a
conservar e promover o uso sustentável da biodiversidade e dos seus recursos genéticos (portanto
aqui contempladas iniciativas de uso da flora nativa ornamental) e, a repartir de forma justa e
equitativa os benefícios dessas atividades. Esse protocolo pretende gerar o fortalecimento dos
povos indígenas, comunidades tradicionais e países provedores de recursos genéticos, por meio de
condições justas e transparentes para o acesso aos seus recursos e conhecimentos. Ainda, pretende
conferir segurança jurídica à pesquisa e o desenvolvimento tecnológico baseados nestes recursos.
Os documentos sucintamente apresentados originam uma série de iniciativas de caráter
jurídico e propositivo a nível federal e estadual que regulamentam e estimulam a valorização
das espécies nativas ornamentais. Deixamos, com esta aproximação de algumas diretrizes
ao tema do livro, uma provocação para entender a relevância dos usos sustentáveis da flora
nativa e o estímulo a outras leituras dentro da temática.
80
ERVA-GROSSA – Orthopappus angustifolius (Sw.) Gleason
Nomes populares: erva-grossa; língua-de-vaca; suçaiá-açu.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa, Mata Atlântica, Cerrado,
Pantanal, Amazônia e Caatinga. Em vegetação de área antrópica, formações
tipicamente xerófitas da Caatinga, campinarana, campo de altitude, campo
de várzea, campo limpo, campo rupestre, carrasco, diferentes formações do
cerrado, floresta ciliar, floresta de igapó, floresta de terra firme, floresta de
várzea, floresta estacional decidual, floresta estacional perenifólia, floresta
estacional semidecidual, floresta ombrófila, manguezal, palmeiral, restinga,
savana amazônica, vegetação aquática e afloramentos rochosos.
Raízes: o sistema radicular é formado por raízes adventícias a partir do caule subterrâneo.
Caules e ramos: o caule é subterrâneo e espessado, denominado rizóforo, onde a planta acumula reservas.
Os ramos (parte aérea) são eretos, cilíndricos, pubescentes em toda sua extensão e com aspecto veludoso.
Folhas: folhas inteiras, sésseis, alterna espiraladas e concentradas na base da planta, menores e menos
frequentes da base para o ápice. São lanceoladas a oblongas, ápice agudo, pubescentes em ambas as faces
e ásperas. A nervura central e secundárias são aparentes.
Estruturas floríferas: as capitulescências são longas, geralmente ramificadas, organizadas em espigas de

glomérulos numerosos com brácteas em formato de folha na base e brácteas involucrais lanceoladas. As
flores são bissexuadas, tubulosas, pequenas e numerosas, de corola palmada, coloração branca intensa,
creme a tons de azul e lilás claro. Os estiletes se dividem em dois ramos pontiagudos no ápice.
Frutos: cipselas fusiformes com tricomas, papus isomorfo, com muitas cerdas filiformes e prateadas.
82
Subsídios técnicos para

usos paisagísticos

Ciclo de vida: perene, fenece
a parte aérea no inverno,
rebrota na primavera-verão.
Pe r í o d o r e p r o d u t i v o :
dezembro a maio.
Textura: fina das hastes e
grossa da base onde se con-
centras as folhas.
Arquitetura da planta: as
hastes reprodutivas são
assimétricas e alonga-
das. A planta é ereta, sua
base é densa e de aspecto

verticilado.
Arquitetura da inflorescência: espigas.
CA: resistência a estresses ambientais3.

CG: capítulos numerosos na haste61 rusticidade da planta; crescimento rápido; haste densamente pubes-
cente conferindo tonalidade prateada16 a ocre.
CI: durabilidade por longo período pós corte; hastes eretas e de altura uniforme; florescimento e dispersão
de frutos simultâneos ao longo da haste conferindo dinamicidade e combinando o branco intenso das
flores e o brilho dos papus prateados expostos; arquitetura ramificada das hastes e originalidade do seu
formato; volumetria, rigidez e longa durabilidade das hastes secas;
UA: apresenta indicação de cultivo em jardins naturalistas; pode ser empregada em áreas bastante alte-
radas por conta de sua resistência3.
UI: na arte floral como
arranjos rústicos per-
manentes de uma única
espécie ou como comple-
mento, deve-se coletar as
hastes após a dispersão
dos frutos ou coletadas
frescas antes da frutifica-
ção (se coletadas frescas
podem ser desidrata-
das); no jardim pode ser
intercalada por grupos de
espécies de menor porte
ressaltando o formado
das capitulescência e
promovendo pontos de
fuga visual na composi-
ção; para conferir sazo-
nalidade devido as mudanças de coloração das hastes e a fenescência da parte aérea no outono-inverno;
84
para jardins em afloramento rochoso e em composições que simulam ambientes rupestres; para conferir
textura fina e cores neutras, chamando atenção para suas formas; para combinar com texturas grossas e
cores intensas; pode ser usada para promover efeito de linearidade por sua altura uniforme; para evocar
sensação de dinamismo e otimismo ao espaço por meio de sua arquitetura de capitulescência e movimento;
para melhoria das condições físicas do solo pela robustez das estruturas subterrâneas e sua expressão
mesmo em solos compactados.
Solo: se desenvolve bem e tolera diferentes tipos e fertilidades de solos, na natureza geralmente ocorre
em locais arenosos, afloramentos rochosos e solos antropizados31,42.
Luminosidade: pleno sol a meia sombra3.
Necessidade hídrica: pouco exigente em umidade do sítio, necessitando de irrigação somente em estia-
gens durante as fases iniciais de desenvolvimento.
Poda:
Não apresenta exigências desta prática. Recomendamos a remoção das hastes secas após encerrada sua
expressão da sazonalidade, ao final da expressão do efeito outonal no jardim.

Usos múltiplos

Medicinal – tratamento de diabetes10; depurativo
do sangue; no tratamento de anemia; reuma-
tismo; gripe61.
Recuperação de áreas degradadas em regiões de
sua ocorrência natural38 – principalmente por sua
resistência a estresses, rusticidade e expressão do
sistema radicular mesmo em solos compactados.
– Os frutos apresentam peso reduzido. Mil cipselas pesam aproximadamente 1,653 gramas.
– A identificação na fase de plântula é facilitada principalmente pelo formato das folhas e a nervura central
formando um pequeno sulco ao longo da lâmina foliar.
A temporalidade em erva-grossa, porção das hastes reprodutivas em

86
MACEGA-ESTALADEIRA – Saccharum angustifolium (Nees) Trin.

Família: Poaceae.
Nomes populares: macega-estaladeira; capim-guaçu; macega; estaladeira.
de altitude, campo limpo, restinga, campos arenosos, encostas e planícies úmidas.
Descrição Morfológica
Raízes: fasciculadas e densamente ramificadas. Algumas podem ser grossas e longas.

Caules e ramos: colmos grossos, eretos, cilíndricos, rígidos, numerosos e sem pilosidades nos nós.
Folhas: folhas lineares, de coloração verde opaca, a nervura central é aparente, de coloração branca e possui
largura semelhante à largura do limbo nas suas laterais. Ápice da folha agudo, lâmina foliar com bordas
ásperas ao toque. As bainhas inferiores são reduzidas e com pelos sedosos, as superiores são maiores,
estriadas e sem pilosidades. A lígula é membranosa.
Estruturas floríferas: as inflorescências são eretas, compostas de grandes panículas lineares a ovoides, de
coloração branca a prateada, abertas e com ramos dispostos em um eixo central alongado e persistente.
Quando em formação, são envoltas na bainha de uma grande folha apical modificada (espata) e
88
que posteriormente se abre e expõe

as numerosas espiguetas aristadas.
A base das espiguetas, pedicelos e
os entrenós da ráquis possuem densa
pilosidade de coloração branca, cada
nó da ráquis possui uma espigueta
pedicelada e outra séssil. As flores são
bissexuadas.
Frutos: cariopse, sendo que a unidade
de dispersão anemocórica engloba a
espigueta séssil, as pilosidades, o pedi-
celo e o entrenó da ráquis ou somente
a espigueta pedicelada.

Altura: 0,9 a 2,30 m.

Período reprodutivo: pode
se estender de outubro a
julho, geralmente ocorre
de fevereiro a maio.
Textura: média.
Arquitetura da planta:
cespitosa, densamente
entouceirada, por vezes
com aspecto pendente
conferido pelas folhas
curvadas.
Arquitetura da inflores-
cência: lanças.
CA: efeito outonal da colo-

ração avermelhada das touceiras no período do outono11.
CG: coloração paleácea das espatas pós-dispersão dos diásporos16.
CI: rigidez e durabilidade das espatas quando secas; pilosidade densa e brilhante das panículas; compri-
mento excelente das hastes para uso na arte floral; a ocorrência de orvalho gera a formação de numerosas
gotículas de água nas pilosidades, promovendo efeito de brilho intenso e dispersão da luz em diferentes
cores; alta produtividade de hastes por touceira; coloração verde opaca das folhas densamente agrupadas;
90
Papel que desempenha na composição: fundo, porém funcionam como secundária durante a expressão
das lanças eretas e longas.
Distribuição das plantas no espaço: quando usada como planta de fundo: em faixas, geralmente acompa-
nhando linhas de maior umidade do terreno ou então em grupos pouco numerosos. Quando usada como
secundária: sugere-se de maneira repetitiva.
UA: para cultivos em áreas úmidas e jardins de chuva11.

UI: na arte floral como complemento que confere pontos de fuga e dinamismo ao arranjo, para isso deve
ser coletada quando as hastes estiverem totalmente formadas ou iniciando a abertura, fases onde haverá
a exposição das espiguetas porém sem a queda de resíduos, ou então após a dispersão completa para
aproveitamento da estética e durabilidade da espata seca; para conferir verticalidade ao jardim por meio
da altura da planta quando em repro-
dução; como forma de evocar sensação
de dinamismo e inquietude através do
formato ereto e afilado das inflores-

cências; como opção de evidente con-
traste de forma e textura com diversas
espécies por conta de suas hastes na
forma de lanças e panículas plumosas;
para cultivo em faixas ou pequenos
grupos que intensifiquem a expressão
da tonalidade verde opaca das folhas
e permitam o uso das touceiras como
fundo na composição; para conferir
ritmo e movimento em razão das suas
formas (quando usada como secundária
e inserida de forma repetitiva); como fai-
xas limitadoras em vias de acesso e em
linhas de drenagem; como moldura em
faixas de diferentes cotas para realçar o
movimento das touceiras (visada abaixo) e visualização do seu formato circular (visada acima).
Solo: pouco exigente em tipo de solo e condições de fertilidade, podendo ocupar áreas alteradas47.
Necessidade hídrica: geralmente necessita de sítio moderadamente úmido a inundável para pleno desen-
volvimento e produção de hastes47, 48, com atenção especial em períodos de estiagem caso cultivado em
áreas drenadas do jardim.
Poda:
Como a maioria dos capins, tolera a poda de limpeza por meio da roçada das touceiras para eliminar o acú-
mulo de material fenecente. Esta prática pode ser executada ao final do período de inverno para estimular o
seu desenvolvimento e promover maior vigor de rebrota e florescimento na estação primaveril. Cabe analisar
aspectos como a situação da expressão ornamental da planta, se as touceiras estão desconfiguradas ou não, se
há a presença de material fenecente com (ou sem) interesse estético e qual a sua visibilidade na composição.
Usos múltiplos

Forrageiro – pouco adaptada à herbivoria, porém é
consumida quando se encontra palatável devido a
rebrota que ocorre durante a primavera48.
Planta hospedeira – abriga artrópodes reguladores
da população de insetos praga em monocultivos, na
sucessão soja-milho19.
Recuperação de áreas degradadas em regiões de sua

ocorrência natural – devido suas exigências de umi-
dade se torna ideal para áreas úmidas que necessi-
tem de estabilização, e.g. margens de cursos d’água e
base de taludes. Oferece refúgio para a fauna quando
cultivada em grupos, conferindo proteção e micro-

clima favorável.
– As hastes reprodutivas podem atingir comprimento elevado (aproximadamente 1,8 m) sem perder seu
aspecto de rigidez mesmo quando colhidas frescas, tornando a macega-estaladeira ideal para arranjos
de grande porte.
– Diásporos colhidos antes da dispersão podem ser semeados até 4 meses depois se mantidos em ambiente
seco e livre de umidade, assim como para as demais espécies deste capítulo, com excessão de Chromo-
laena pedunculosa.
A temporalidade em macega-estaladeira, porção das hastes reprodutivas

92
Algumas leis, decretos e ações que promovem e

regulamentam o uso da flora ornamental brasileira
Ao longo do livro discutimos as vantagens e a importância de valorizar a flora nativa por
meio do paisagismo e arte floral. Ressaltamos que, antes de desenvolver quaisquer atividades
é crucial buscar orientações técnicas e conhecimentos já existentes. Ainda, é preciso obter
autorizações, cadastros e/ou licenças junto aos órgãos ambientais competentes para coletar,
transportar, produzir e comercializar plantas nativas ornamentais. A coleta indevida de mudas
e sementes gera impactos negativos no ecossistema, contribuindo ainda mais para graves
ameaças, como a da extinção.
A partir do Princípio 21 apresentado na Declaração de Estocolmo (1972) os Estados podem
explorar seus próprios recursos, respeitando as normas, leis e ações vigentes e sem prejudicar o
meio ambiente. Em alguns componentes da política ambiental brasileira está regulamentado o
uso da flora nativa e são retomados os benefícios e a importância da sua conservação e utilização
sustentável. A seguir serão brevemente descritos alguns destes:

• Portaria Federal nº 122-P de 1985 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) que trata da coleta, transporte, comercialização, indus-
trialização e exportação de plantas ornamentais, medicinais, aromáticas ou tóxicas em
seu capítulo VII, ressaltando a necessidade de devida autorização do órgão ambiental.
• Decreto Federal nº 4.339 de 2002 que institui princípios e diretrizes para a implementação
da Política Nacional da Biodiversidade (PNB). Promove, de forma integrada, a conserva-
ção e a utilização sustentável da biodiversidade por meio de seus Princípios, Diretrizes
e dos sete Componentes que regem a gestão dos ecossistemas. A PNB dispõe de vasto
substrato de aprendizagem ao longo de toda sua redação, com destaque para os Com-
ponentes: Conhecimento (1), Conservação (2), Utilização sustentável (3) e Educação e
sensibilização pública (6) relativos à biodiversidade brasileira.
• Lei Federal nº 12.651 de 2012 que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa tendo
como objetivo o desenvolvimento sustentável. Esta Lei estabelece normas gerais sobre
áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal, envolvendo também
questões sobre a coleta de produtos não madeireiros, ou seja, a exemplo de propágulos
e hastes florais de espécies nativas ornamentais.
• Lei Federal nº 10.711 de 2003 que dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas
(SNSM), regulamentada pelo Decreto nº 10.586 de 2020. Tratam de questões como a
coleta e produção de mudas com o objetivo de garantir a qualidade e identidade das
mudas produzidas, comercializadas e utilizadas no país. O SNSM trata de registros nacio-
nais, produção, certificação, análises, comercialização, utilização de sementes e mudas
e fiscalização das diferentes etapas da produção à comercialização.
• Lei Federal nº 12.187 de 2009 que Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima
(PNMC) e estabelece seus princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos, junto da Portaria
nº 150 de 2016 que institui o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima. A PNMC
aponta tópicos que reafirmam o potencial de aliar o paisagismo à conservação e aos usos
múltiplos de espécies nativas, consistindo em uma ferramenta de combate e mitigação
das mudanças climáticas. Alguns desses tópicos são: a compatibilização do desenvol-
vimento econômico-social com a proteção do sistema climático; a implementação de
medidas para promover a adaptação à mudança do clima; a preservação, conservação
e recuperação dos recursos naturais; incentivo à recomposição da cobertura vegetal em
áreas degradadas; medidas de adaptação e mitigação dos efeitos adversos da mudança

do clima nos âmbitos local, regional e nacional.
• O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) objetiva ampliar e
fortalecer as políticas públicas, incentivos financeiros, mercados, boas práticas agro-
pecuárias e outras medidas necessárias para a recuperação da vegetação nativa. Nas
suas “iniciativas estratégicas” voltadas aos mercados consta “Estimular política de uso
de espécies nativas na arborização urbana, na ampliação de áreas verdes urbanas e em
projetos paisagísticos”. À partir do Planaveg é implementada a Política Nacional de Recu-
peração da Vegetação Nativa (Proveg), por meio do Decreto nº 8.972 de 2017, que assim
como outras normativas aqui discutidas, abordam a importância da conservação e uso da
vegetação nativa: para adaptação à mudança do clima e a mitigação de seus efeitos; para
prevenção a desastres naturais; proteção dos recursos hídricos e a conservação dos solos;
na recuperação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos; no estímulo à recupe-
ração de vegetação nativa com aproveitamento econômico e com benefício social; para
sensibilização da sociedade acerca dos benefícios da recuperação da vegetação nativa;
para fomentar a cadeia de insumos e serviços ligados à recuperação da vegetação nativa;
para fomentar a pesquisa e inovação, dentre outros tópicos.

• A Lei Federal nº 13.123 de 2015, regulamentada pelo Decreto nº 8.772 de 2016, tratam
da adesão ao Protocolo de Nagoia (já apresentado anteriormente). Esta Lei e Decreto
dispõem sobre o acesso ao patrimônio genético da biodiversidade brasileira, sobre a pro-
teção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios
para conservação e uso sustentável da biodiversidade. O Sistema Nacional de Gestão
do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen), criado pelo
Artigo 20 do mesmo Decreto, consiste em um sistema eletrônico de cadastro de informa-
ções para quem pretende acessar o patrimônio genético (neste caso a flora nativa), ou o
conhecimento tradicional, esse que consiste em informações ou práticas de populações
indígenas, comunidades tradicionais ou agricultura tradicional sobre as propriedades ou
usos diretos ou indiretos do patrimônio genético.
Tratando a nível estadual e municipal, em linhas gerais, o contexto de leis, decretos e ações
é bastante diverso. Por isso, cabe sempre atentar para as normativas do estado e município de
atuação e a consulta aos órgãos ambientais para esclarecimentos.
94
ARNICA-DO-CAMPO – Solidago chilensis Meyen

Nomes populares: arnica-do-campo; lanceta; erva-lanceta; arnica; arnica-brasileira; rabo-de-ro-
jão; espiga-de-ouro.
Distribuição natural: ocorre nos biomas Pampa, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Em vegetação de
área antrópica, campo de altitude, campo rupestre, floresta de galeria, floresta estacional semidecidual,
floresta ombrófila, restinga, campos arenosos e vegetação secundária.
Descrição morfológica Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

Raízes: as raízes são adventícias, surgem nos nós e entrenós dos rizomas, ou até mesmo na base dos
ramos aéreos. São finas, numerosas e de coloração branca.
Caules e ramos: caules do tipo rizomas, são abundantes, subterrâneos e brancos a rosados. Os ramos
aéreos são cilíndricos, eretos, de cor verde claro, pouco ou não ramificados, com entrenós muito curtos,
rígidos e folhosos desde a base.
Folhas: folhas simples, margem inteira, sésseis, com formato linear-lanceolado, de cor verde claro, acin-
zentado a verde escuro, ápice agudo e menores em tamanho na direção da base para o ápice do ramo.
A filotaxia é alterna espiralada.
Estruturas floríferas: as capitulescências são terminais, paniculiformes, com capítulos numerosos e dis-
postos apenas no lado superior das ramificações. As brácteas involucrais são campanuladas e verdes, a
corola é tubulosa, de coloração amarelo intenso. As flores do raio (periféricas no capítulo) são femininas
e as flores do disco (centrais no capítulo) são bissexuadas e possuem nectários.
Frutos: cipselas oblongas a ovoides, o papus apresenta apenas uma fileira de cerdas sedosas e de colora-
ção branca a prateada.
96
Altura: 0,5 a 1,7 m, geralmente

com cerca de 1 m.
Ciclo de vida: perene em seus
tecidos subterrâneos, fenece a
parte aérea no inverno e rebrota
na primavera-verão.
Período reprodutivo: de feve-
reiro a junho.
Textura: média.
Arquitetura da planta: aspecto
verticalizado dos ramos eretos,
as inflorescências tornam o ápice
piramidal e denso.
cia: espigas.

CA: rusticidade da espécie; compri-

mento das hastes excelente para a
arte floral; vistosidade e forma pira-
midal das capitulescências52; arquite-
tura da planta e capitulescência; cor
amarela intensa das flores e sua com-
binação com o verde da folhagem;
baixa exigência de manutenção62.
CG: propagação por sementes e
rizomas (estes podem aumentar a
área e densidade do maciço atra-
vés da intensa emissão de hastes no
segundo ano)16.
CI: altura uniforme das plantas;
durabilidade das hastes frescas em
arranjos, atratividade a diversa ento-
mofauna que visitará o jardim; for-
mato e abundância dos pequenos
capítulos; cheiro agradável das flo-
res; efeito helicoidal do conjunto de
folhas sob vista superior ou lateral;
simetria da planta; apresenta uma
segunda expressão ornamental das
hastes (após a formação dos frutos
a haste se torna prateada brilhante
em razão dos papus expostos); os
papus ficam orientados em todas as
direções, tornando as ramificações
da haste com formato cilíndrico deli-
cado, (este efeito se estende até ocorrer a dispersão da maior parte dos frutos); alta capacidade produtiva
de hastes.

Distribuição das plantas no espaço: repetitivas ou em pequenos grupos.
UA: como espécie nativa para complemento na arte floral, em substituição à espécie Solidago canadensis
L. que é exótica; para conferir sazonalidade ao jardim52 (devido seu caráter de espécie secundária e de
florescimento intenso); para jardins de manutenção mínima e xeropaisagismo63.
UI: como haste principal em arranjos; sugerida como espécie alternativa para composição em terrenos
secos e por conferir aspecto colorido a locais onde o cultivo de outras espécies é dificultado; para atribuir
harmonia complementar de cor com rosa ou lilás e com formas arredondadas ou texturas grossas ou muito
finas na composição; como espécie fornecedora de recursos à grande diversidade de insetos visitantes
durante a floração; para promover verticalidade em composições baixas por conta de sua silhueta; para
jardins em afloramentos rochosos e em composições que simulam ambientes rupestres.
98
Solo: cresce e floresce mesmo em solos pobres em nutrientes e áreas alteradas63.

Necessidade hídrica: resistente à seca por possuir cutículas grossas e abundante pilosidade, em ambiente
natural ocupa tanto sítios secos quanto úmidos52.
Poda:
Não apresenta obrigatoriedade desta prática. Após o período reprodutivo ocorre a sutil fenescência da
parte aérea, sem notável acúmulo de material sem interesse estético. Por vezes podem ser aplicadas podas
para eliminar hastes periféricas e reduzir a área de ocupação da espécie no jardim.
Usos múltiplos

Medicinal – anti-inflamatório por seu conteúdo de flavonoides; diurético; analgésico; para tratar queima-
duras; doenças reumáticas; sedativo; dores lombares e contusões; estimulante gastrointestinal; potencial
inibição da proliferação do câncer de cólon; cicatrizante; antisséptico; auxilia na manutenção da homeos-

tase glicêmica64.
Melífero – descrita como importante
para a produção de mel na região Sul37.
Aromático36,63 – potencial para extração
dos óleos essenciais e usos industriais.
Fitoquímico – o óleo essencial possui
compostos antioxidantes, fenólicos
e terpenos64.
Biotecnológico – para explorar as ativi-
dades antifúngica e antibacteriana dos
seus compostos64.
Tintorial65 – registros de uso eficaz no
tingimento de artesanatos com palha.
Sugestões de usos múltiplos

potenciais:
Recuperação de áreas degradadas

em regiões de sua ocorrência natural
– principalmente por sua rusticidade,
precocidade e capacidade de se esta-
belecer em áreas alteradas, além do
elevado fornecimento de recursos para
entomofauna diversa.
– Há registros de hábitos antigos de sua coleta e uso em arranjos florais em comunidades no bioma Mata
Atlântica. No Uruguai é utilizada na elaboração de jardins de Pampa.
– Quanto ao potencial de emissão de ramos a partir dos rizomas, apresenta expressiva capacidade de
ocupação e fechamento da superfície, podendo um indivíduo formar maciço de aproximadamente 1m²
no segundo ano de cultivo.
A temporalidade em arnica-do-campo, porção das hastes reprodutivas

100
ALECRIM-DO-CAMPO – Vernonanthura nudiflora (Less.) H.Rob.

Nomes populares: alecrim-do-campo.
Distribuição natural: ocorre majoritariamente nos biomas Pampa e Mata Atlântica. Em vegetação de
campo limpo, campo seco, campo com afloramento rochoso, campos de areais, nos campos gerais do
Paraná e alguns registros nas suas áreas de domínio de Cerrado.

Raízes: bastante ramificadas e desenvolvidas, emergem a partir das gemas do xilopódio ou do colo dos
ramos, apresentam engrossamento e lignificação nas partes mais velhas.
Caules e ramos: apresenta xilopódio subterrâneo espesso, bastante desenvolvido e com numerosas gemas
que originam abundantes brotações. Os ramos são eretos, cilíndricos, lignificados, ramificados próximo
ao ápice e com entrenós curtos.
Folhas: folhas inteiras, coriáceas, sésseis, lineares, com ápice agudo, margem revoluta e de filotaxia
alterna espiralada. A coloração é verde escura e brilhante na face adaxial e com nervuras aparentes
e coloração cinzenta na face abaxial, são abundantes desde a base da planta.
Estruturas floríferas: agrupamentos de capítulos numerosos e pedunculados, em formato de cimas corim-

biformes, que juntos compõe uma capitulescência paniculiforme vistosa. As brácteas formam um invólucro
campanulado. Os capítulos possuem numerosas flores bissexuadas de corola lilás a púrpura, com estiletes
bífidos e aparentes.
Frutos: cipselas levemente arqueadas com papus prateado ou pardo quando os frutos estão maduros.
102
Subsídios técnicos para usos

paisagísticos
Altura: de 0,6 a 2 m.
Ciclo de vida: perene, porém o
período de inverno provoca a parada
do crescimento e queda das folhas
mais velhas.
Período reprodutivo: janeiro a abril.
Textura: fina.
Arquitetura da planta: possui
aspecto entouceirado, conferindo
formato de arbusto irregular a glo-
boso conforme o adensamento
das brotações. Pode produzir
efeito verticalizado quando culti-
vado individualmente.

CA: alta viabilidade reprodutiva de forma sexuada e assexuada; tolerante a transplantes e podas; baixo
requerimento de práticas de manejo e manutenção; capitulescências robustas, expressivas e de tom púr-
puro; originalidade da espécie quanto a intensidade coloração da floração; adaptabilidade a condições
adversas66 (e.g. geadas leves a moderadas e estiagens).
CG: floração atrativa para entomofauna diversa67; capacidade dos xilopódios de emitirem ramos, podendo
aumentar a densidade dos maciços16.
CI: coloração bordô a púrpura das brácteas, este efeito se estende da formação do capítulo até a maturação
dos frutos; produtividade, comprimento, volumetria, rigidez e arquitetura da haste, logo, adequadas para a
arte floral; formato de pompom e coloração prateada a ocre dos capítulos na maturação dos frutos; brácteas
do capítulo persistentes, rosetadas e de coloração ocre a cinza intenso pós dispersão de frutos; florescimento
e dispersão de frutos simultâneos ao longo da haste, combinando a cor púrpura das flores e o brilho dos papus
expostos ao sol; folhas lineares e numerosas ao longo de todo ramo; longa duração do período de floração.
104
Distribuição das plantas no espaço: pequenos grupos de aproximadamente cinco indivíduos.
UA: para cultivo direto ou transplantio para jar-

dins onde se deseje conferir expressividade da
cor púrpura; pode ser cultivado em vasos gran-
des (acima de 5 L)66.
UI: potencial uso das hastes secas na arte floral
(pós dispersão), como complemento em con-
ceito rústico, ou frescas, ao iniciarem o floresci-
mento; em composições de cores
complementares com plantas de floração ama-
rela a creme e análogas como rosa e lilás; para
cultivo em composições com rochas ou áreas

com afloramentos rochosos por conta da apa-
rência rústica das plantas no outono-inverno
(caso não podadas); para xeropaisagismo em
razão da resistência a estiagens; para conferir
textura fina na composição por meio de sua
folhagem; para evocar a sensação de dinamismo
provocado pelo hábito ereto e cespitoso dos
ápices; para promover a visitação de diversas
espécies incluindo borboletas, mariposas, abe-
lhas e mamangavas; para melhoria das condi-
ções físicas do solo em função da robustez das
estruturas subterrâneas e sua expressão mesmo
em solos compactados.
Solo: geralmente se desenvolve em solos arenosos, podendo ocupar afloramentos rochosos. É pouco
exigente em condições físico-químicas do solo42,66.
Luminosidade: pleno sol16.
Necessidade hídrica: apresenta baixa necessidade
hídrica, tolerando estiagens prolongadas16, 66.
Poda:
A poda da parte aérea após a expressão ornamental
da espécie pode ser interessante por permitir a rebrota
vigorosa e melhor conformação da parte aérea na esta-
ção seguinte. Porém a decisão de poda deve ser baseada
em questões como o efeito (ou não) da sazonalidade das
estruturas fenecentes, regulação da altura do conjunto,
presença ou ausência de tecidos sem interesse estético
e assim por diante.
Por vezes podem ser aplicadas podas de desbaste de
brotações muito densas, poda de retirada de ramos pen-
dentes, e poda de redução da área da espécie, visto que
tende a aumentar com o tempo.
Usos múltiplos

Medicinal – facilita ou induz a produção de suor; analgésico; no tratamento de infecções respiratórias; no
tratamento de tripanossomíase e leishmaniose66.
Melífero – intensamente visitada por espécies de abelhas66.
Produção de moléculas bioativas – antioxidante natural e potencial uso no tratamento de diferentes tipos
de câncer68.
Potencial para produtos de controle de insetos – possui compostos naturais que atuam na inibição da
alimentação de insetos-praga69.
Herbicida5 – extração de compostos naturais com capacidade de inibir crescimento e germinação de
plantas competidoras.
Recuperação de áreas degradadas em regiões de sua ocorrência natural – pela capacidade de melhoria das
condições físicas do solo, rusticidade, tolerância a estiagens, abundância de recursos para visitantes florais
e poleiros para pequenas aves que utilizam a estrutura rígida e angular dos ramos em paisagens abertas.
– V. nudiflora (Asteraceae) pode ser erroneamente tratado como o alecrim de origem europeia, introduzido
e cultivado no Brasil que é a espécie Rosmarinus officinalis L. (Lamiaceae). Para evitar erros de comunica-
ção devemos sempre se referir à espécie deste livro através do seu nome popular completo “alecrim-do-
-campo”, seguido de seu nome científico Vernonanthura nudiflora. Apesar de semelhantes não se trata
da mesma espécie, R. officinalis apresenta folhas mais curtas e numerosas, além das flores azuis que se
formam junto aos ramos, diferentemente de V. nudiflora que forma capítulos florais característicos da sua
família botânica Asteraceae, estes que são numerosos e com pedúnculos, localizados no ápice dos ramos.
106
A temporalidade em alecrim-do-campo, porção das hastes reprodutivas

Tabela de interesse paisagístico das espécies
Expressão dos caracteres de interesse paisagístico conforme os meses do ano, onde as células em degradê mostram variações da
coloração do caractere ornamental no tempo
Espécie Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
folhas e ramos
Achyrocline satureioides (marcela)
floração
Andropogon bicornis hastes vivas hastes pós dispersão
(capim-cola-de-sorro-grande) touceiras
floração
Austroeupatorium inulaefolium
(eupatório-branco) ramos
folhagem
floração
Baccharis spicata (vassoura) coloração de brácteas
folhas e ramos
Plantas nativas ornamentais do bioma Pampa: potenciais e popularização
Bothriochloa laguroides
hastes vivas
(capim-pluma-branca)
Campuloclinium macrocephalum floração
(erva-pom-pom) maturação e dispersão das cipselas
Chromolaena pedunculosa floração
(cromolaena) ramos e brácteas involucrais
hastes vivas
Eustachys distichophylla
(capim-coqueirinho) hastes pós dispersão
touceiras
Orthopappus angustifolius hastes vivas
(erva-grossa) hastes secas
Saccharum angustifolium touceiras
(macega-estaladeira) hastes vivas hastes pós dispersão
Solidago chilensis floração
(arnica-do-campo) folhas e filotaxia
brácteas involucrais
Vernonanthura nudiflora
floração
(alecrim-do-campo)
ramos
107
Profusão de formas e cores pampeanas,
poesia composta pela natureza como inspiração final...
Margarida-do-campo Aspilia montevidensis (Spreng.) Kuntze sendo visitada por insetos, típico exemplo
de espécie secundária nos jardins projetados ao gosto da natureza no Pampa, em Santa Maria-RS.
Afloramento rochoso em Santana da Boa Vista-RS e Baccharis aliena (Spreng.)

Joch. Müll. ao fundo, uma das vassouras de arquitetura mais ornamental.
Glossário
Abaxial – face inferior (geralmente da folha), oposto ao eixo da planta.
Acuminado – que possui formato de ponta, semelhante ao formato de uma agulha. Pode ser
usado como sinônimo de agudo.
Adaxial – face superior (geralmente da folha), virado para o eixo da planta.
Agudo – quando a face termina em formato afinado, pontiagudo. Quando o ângulo formado é
menor que 90 graus.
Androceu – conjunto de estames da flor (antera, filete e conectivo), também dito órgão repro-
dutor masculinos da flor.
Antécio – conjunto de duas brácteas (lema e pálea) que envolvem uma flor ou são estéreis em
seu interior.
Antese – momento de maturação da flor, quando está formada e ocorre sua abertura.
Antocianina – pigmento natural das plantas, confere coloração que vai do alaranjado, vermelho,
roxo e azul, conforme a sua composição química. Fica evidente no outono-inverno subtropical
devido ao seu acúmulo e à degradação do pigmento que dá cor verde aos tecidos, a clorofila.
Antropizada – adjetivo de uma área cujas suas características originais foram alteradas pela
presença humana.
Aquênio – fruto seco, sem abertura natural na maturação, com apenas uma semente em seu
interior. Junto com o papus compõe a cipsela.
Área degradada – que passou por distúrbio maior do que sua resiliência, que tem seus processos
naturais ausentes ou ocorrendo em desequilíbrio. Usado como sinônimo para área alterada.
Aristado – quando apresenta arista, que é um prolongamento alongado da nervura central em

brácteas (glumas e lemas) da inflorescência de algumas gramíneas.
Arquitetura (da planta) – diz respeito ao aspecto conferido pela organização e posição dos órgãos
da planta, caules, ramos, hastes reprodutivas, folhas etc.
Autóctone – que tem distribuição natural de determinado local. Que não foi ali introduzido
(ver nativo).
Bainha – parte da folha que se insere no nó e cobre total ou parcialmente o colmo, possui nervuras
paralelas, sem uma principal.
Basilares (ref. a folha) – concentrado na base, mais abundante na base da planta.
Brácteas involucrais – estruturas que envolvem o capítulo e o protegem na fase jovem, como se
fossem sépalas.
Campanulado – que tem formato semelhante a um sino ou campânula.

112
Capitulescência – inflorescência formada pelo agrupamento de capítulos que pode assumir dife-
rentes formatos, e.g.: corimbiforme.
Capítulo – tipo de inflorescência com flores sésseis agrupadas em um eixo, geralmente envolvidas
pelas brácteas. Pode ser coloquialmente denominado “botão”.
Caractere – sinônimo de característica, refere-se ao que a espécie expressa.
Cariopse – fruto típico das gramíneas, seco e formado por um grão (uma semente com embrião
em sua base) e uma proteção ao seu redor chamada pericarpo.
Caulinares (ref. a folhas) – distribuído ao longo do caule, não concentrado em um ponto específico.
Cerdas – modificação no ápice do cálice, dão o aspecto piloso e facilitam a dispersão do fruto
pelo vento.

Cespitoso – hábito de crescimento, quando a planta emite ramos ou caules de maneira aglome-
rada a partir da superfície do solo, pode ser cespitoso ereto ou prostrado.
Cima – tipo de inflorescência que possui o eixo principal terminado em um capítulo ou flor que
é o(a) primeiro(a) a completar seu ciclo. As ramificações laterais se desenvolvem e também são
terminadas em capítulos ou flores.
Cipsela – tipo de fruto seco, arredondado a alongado, é composto por um aquênio na base (com
uma única semente em seu interior) e com pilosidades acima que auxiliam na dispersão por ane-
mocoria, o papus. Comum na família das Asteraceaes.
Colagogo – auxilia na contração da vesícula biliar e liberação de secreções gástricas para o duo-
deno, facilitando o funcionamento do sistema biliar.
Colar – limite entre a bainha e a lâmina foliar, na face inferior, que propicia o movimento da
lãmina foliar.
Colerético – que gera aumento da quantidade de bile produzida, descongestiona o intestino e

facilita digestão.
Colmo – tipo de caule de gramíneas, herbáceo, composto por nós e entrenós.
Composição (ref. ao paisagismo) – conjunto de elementos, espécies e até mesmo materiais que
são combinados adequadamente no jardim com o intuito de passar uma mensagem, atingir o
objetivo desejado para o espaço projetado.
Convoluta – folhas que envolvem o entrenó do colmo das Poaceaes (capins) em forma de
um cilindro.
Coriácea (ref. a folha) – aspecto medianamente espesso e rígido, textura semelhante ao couro.
Corimbiforme – quando possui formato de corimbo.
Corimbo – inflorescência onde os ramos laterais saem de pontos diferentes, mas terminam apro-
ximadamente alinhados no seu ápice.
Corola – conjunto de pétalas de uma flor, associada à proteção do androceu e do gineceu e à

atração e seleção dos polinizadores.
Crenada – margem da folha com dentes recortados de maneira arredondada ou obtusa.
Crescimento lateral (ref. a parte aérea da planta) – crescimento a partir das gemas não apicais,
quando brotam e crescem ramos laterais na planta. Desenvolve ramificações.
Cutícula – camada de cera produzida pela epiderme da planta que protege da transpiração exces-
siva, patógenos e injúrias.
Diásporo – unidade de tecidos que têm função de propagar à planta, gerar novos indivíduos.
Dispersão – separação e disseminação dos diásporos da planta mãe (e.g.: por ação do vento
– anemocoria).
Dística – quando as folhas estão dispostas em um mesmo plano, alinhadas em sua inserção.
Ecossistema – conjunto de organismos vivos de uma determinada área interagindo entre si e com
o ambiente, tendendo ao equilíbrio dinâmico deste espaço.
Efeito alelopático – liberação de substâncias que afetam o desenvolvimento de outra espécie,

podendo inibir, impedir ou favorecer seu desenvolvimento.
Entomofauna/fauna insecta – conjunto de insetos que visitam, forrageiam e/ou polinizam

as plantas.
Entouceirado – Que tem forma de touceira (ver touceira).
Entrenó – região entre os nós, pode ser bastante longo ou muito curto dependendo da espécie
e região da planta.
Espatéola – ramificação apical do colmo reprodutivo dos capins, onde se inserem as panículas.
Varia de verde a marrom, persistentes no colmo após a dispersão de diásporos.
Espigueta – unidades da espiga. Inflorescência típica das gramíneas, nelas estão os antécios (ver
antécio) e um par basal de brácteas estéreis chamadas glumas. O eixo que une essas partes é
a ráquila.
Espiralado – organização circular que aparenta estar se desenrolando, que possui aspecto
de espiral.
Estame – órgão masculino da flor, composto por antera, conectivo e filete.
Estilete – porção do órgão feminino da flor, entre o ovário (base) e o estigma (ápice).
Estriado – que possui estria, ranhuras ou sulcos ao longo do tecido.
Exótico – que se encontra fora da sua distribuição natural, que é introduzido em local diferente de
onde ocorre, não é nativo. O termo “espécie exótica” não carrega cunho negativo, pois diz respeito
a espécies fora da sua região de ocorrência natural que não causam problemas ambientais onde
foram introduzidas, diferente de “espécie exótica invasora”.
114
Fasciculado (ref. ao sistema radicular) – composto de numerosas raízes, parecidas em espessura

e comprimento, é comum nas espécies da família Poaceae.
Fenece – quando encerra o ciclo, morre.
Filiforme – que possui forma alongada, semelhante a um fio.
Filotaxia – diz respeito à forma de organização das folhas no caule ou ramos, como elas
se distribuem.
Folha bandeira – a última folha a surgir em cada colmo das gramíneas.
Fusiforme – que possui formato alongado, mais espesso ao centro do que nas extremidades.
Glabro – quando o tecido é liso, sem nenhuma pilosidade na superfície.
Glandular (ref. a tricoma) – possui função química de expelir substâncias urticantes ou mucilagi-

nosas para afastar ou retardar predadores.
Glomérulo – neste trabalho refere-se à organização dos capítulos com pedúnculos curtos, con-
densados em forma globosa.
Habitat – o local que apresenta condições adequadas (e.g: clima, solo, umidade) para a ocorrência
de determinada(s) espécie(s).
Hepatoprotetor – que protege o funcionamento do fígado de agentes tóxicos, evitando doenças

e aliviando distúrbios gastrointestinais.
Hirsuto – com tricomas pilosos, ásperos, cerdosos.
Homeostase glicêmica – equilíbrio de glicose no sangue.
Inflorescência – ramo vegetativo que se modifica para a reprodução, com flores de organiza-
ções variadas.
Invasora – espécie exótica (ver exótico) que foi introduzida em algum local, região ou país e altera
e/ou compromete o ecossistema natural. Se beneficia das condições e interage negativamente
com a biodiversidade do local.
Invólucro – conjunto extra de brácteas, abaixo e por fora das brácteas involucrais.
Jardins de Pampa (adaptado de Mariana Siqueira, 2020) – jardins que celebrem a biodiversidade
e a e as paisagens do bioma Pampa, diferentemente do termo “jardins do Pampa” que são nichos
ou locais tão belos sob diferentes perspectivas de análise que o tornam um jardim, projetado pela
própria natureza, neste a natureza do Pampa.
Lâmina – também chamada de limbo ou superfície foliar, representa o tecido popularmente

chamado de folha.
Lanoso – quando a superfície do tecido possui pilosidades abundantes, com textura e aspecto de lã.
Lignificado – que possui lignina, que é rígido.
Lígula – apêndice no limite entre a bainha e a lâmina foliar, na face superior, em forma de língua.
Pode ser membranosa e lisa ou com pelos ou então substituída apenas por linha de pelos.
Maciço – grupo de plantas da mesma espécie ocupando determinado espaço do jardim, no con-
texto desta obra e das classificações aplicadas pode se referir ao termo grupos ou faixas.
Meia sombra – planta que necessita receber poucas horas de luz solar direta ou prosperar sob
luz difusa.
Membranáceo – com aspecto de membrana, membranoso.
Mensagem (ref. ao paisagismo) – Ideia(s) e sensação(ões) que é(são) passada(s) ao usuário do

espaço, quem visita o jardim. Produto obtido através da composição paisagística (ver compo-
sição). E.g. mensagem de paz, relaxamento, contemplação; mensagem de dinamismo, lazer
ativo, inquietude.
Monocultura – cultivo ou criação de apenas uma espécie de planta ou animal de interesse, geral-
mente em grandes áreas, é uma técnica que se distancia do funcionamento normal dos processos
da natureza e culmina em diversos danos ao meio ambiente e ao ser humano.
Nativo – sinônimo de autóctone. Que é natural do local, possui distribuição natural para o local
onde está ocorrendo, não é exótico (ver exótico).
Nó – região onde surgem folha, flores ou ramos, nele se encontram as gemas laterais. Em gramí-
neas representa como se fosse um anel rígido em volta do colmo.
Obtuso – que possui extremidade arredondada, em ângulo entre 90 e 180 graus.
Ovoide – com formato arredondado, semelhante a um ovo.
Panícula – inflorescência que possui ramificações, estas formam cachos que decrescem de tama-
nho da base para o ápice.
Paniculiforme – que possui formato de panícula.
Papus – cálice modificado e persistente, unido ao aquênio, pode possuir formato de plumas,
cerdas etc.
Peciolado – que possui pecíolo (ver pecíolo).
Pecíolo – parte geralmente estreita que liga o limbo da folha à bainha ou diretamente ao caule.
Pedicelado – que possui pedicelo.
Pedicelo – é uma haste que liga cada flor a uma inflorescência. Em gramíneas liga as espiguetas
à panícula.
Perene – quando seu ciclo não é anual, se mantém viva ao longo de anos no jardim.
116
Perfilho – ramo lateral ao colmo principal que se desenvolve de gemas da base da planta e pode
dar origem a um novo indivíduo.
Pistilo – órgão feminino da flor, é composto pelo ovário, estilete e estigma.
Popularização – Ato de tornar conhecido, divulgar, fazer com que o máximo número possível de
pessoas tenha acesso à determinada informação.
Pleno sol – planta que necessita de luz solar direta durante todo dia.
Prostrado – quando a estrutura é paralela ao solo, horizontalizado, rastejante.
Pubescente – quando a superfície do tecido possui pilosidades curtas, finas, abundantes e macias.
Raiz adventícia – que se origina a partir do caule subterrêneo ou na parte aérea da planta.

Raiz tuberosa – raiz que atua também na reserva de nutrientes e água e apresenta espessamentos.
Ráquis – eixo ou ramificação da haste reprodutiva de Poaceaes onde se inserem as espiguetas.
Receptáculo floral – estrutura ou base onde se inserem os verticilos da flor (pétalas, estame, pistilo).
Reprodução assexuada – quando se propaga através de partes de uma mesma planta, gerando
um clone, e.g.: divisão de touceira, estaquia etc.
Reprodução sexuada – quando ocorre a fusão de gametas, garantindo a variabilidade genética

da espécie. Envolve os órgãos reprodutivos da planta.
Rizoma – caule horizontal, subterrâneo e que acumula reservas, possui gemas e pode dar origem
a novos ramos ou raízes.
Sazonalidade – quando o caractere ou a planta se expressa em determinada estação do ano ou

muda sua expressão conforme a estação.
Serreada – margem da folha com dentes recortados de maneira aguda, inclinados na direção
do ápice.
Séssil – sem pecíolo ou pedúnculo, ligando a folha ou a flor/fruto diretamente ao ramo ou ao caule.
Sítio – se refere a uma determinada área e suas características, em uma escala local.
Sombra – planta que necessita de luz solar apenas de forma indireta durante o dia.
Tomentoso – coberto por tricomas que conferem aspecto de penugem, lanugem.
Touceira – conjunto de plantas ou ramificações muito próximas na sua base, eretas e em formato
de tufo.
Transplantio – transferência de uma planta de um local para outro, geralmente de uma muda ou
planta adulta em embalagem para seu local definitivo no jardim.
Tricoma – células diferenciadas da epiderme da planta, são expansões que podem se assemelhar
a pelos, presentes na superfície de diversos órgão da planta.
Urbanização – transformação de uma paisagem para o que popularmente conhecemos como

cidades com a migração das pessoas para estes locais. Trata de questões a respeito do crescimento
das cidades, tanto em população quanto em área.
Verticilado – quando determinados tecidos se inserem em um eixo comum, ficando em um plano

horizontal entre si.
Volumetria (da planta) – relativo ao espaço que a planta ou haste ocupa, relacionado com o
tamanho e densidade dos tecidos, usado como variável aplicada à arte floral.
Xeropaisagismo – paisagismo com plantas adaptadas ao baixo regime hídrico, em áreas secas.
Xilopódio – engrossamento de uma parte subterrânea, raízes ou caules, que servem para acumular
reservas de água e nutrientes.

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from central Argentina. Blacpma, v. 13, n. 5, p. 498-505, 2014.
Sobre os autores
Jhonitan Matiello
Técnico em Agropecuária; Engenheiro Florestal;
Mestre em Engenharia Florestal. Executa o projeto
Espécies nativas para usos paisagísticos: descobrindo
e validando o potencial da flora do bioma Pampa e
faz parte do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade) – Uni-
versidade Federal de Santa Maria (UFSM). http://
lattes.cnpq.br/2952079237113522
Fabiane Granzotto
Engenheira Florestal e de Segurança do Trabalho;
doutoranda em Engenharia Agrícola. Integra a
equipe do projeto Espécies nativas para usos paisa-
gísticos: descobrindo e validando o potencial da flora
do bioma Pampa e faz parte do Núcleo de Estudos
e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas
(Neprade) – Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). http://lattes.cnpq.br/8076213921271063

Engenheira Florestal; Mestra em Agronomia e
Doutora em Ciência do Solo, professora do Depar-
tamento de Ciências Florestais/UFSM. É coor-
denadora do projeto Espécies nativas para usos
paisagísticos: descobrindo e validando o poten-
cial da flora do bioma Pampa e coordenadora do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de
Áreas Degradadas (Neprade). http://lattes.cnpq.
br/5274469660466638
PLANTAS NATIVAS
ORNAMENTAIS
DO BIOMA PAMPA
potenciais e popularização
Esta colorida obra é um convite a percebermos e

reafirmarmos a beleza e importância das plantas nativas dos
biomas brasileiros. Pretendemos despertar a leitora e o leitor
para o potencial paisagístico de espécies da flora do bioma
Pampa, ainda pouco conhecida e muito negligenciada.
Apresentamos alguns desafios à valorização das plantas
nativas ornamentais, mas também desenvolvemos subsídios
técnicos que auxiliam na aproximação de tão belas espécies
de plantas aos espaços ajardinados, colaborando na
extremamente necessária conservação dos recursos naturais,
no estímulo às identidades paisagísticas dos biomas brasileiros
e no conhecimento de sua rica biodiversidade.
ISBN 978-65-251-2458-2
9 786525 124582

Plantas Nativas Bioma Pampa

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

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1. Paisagismo 2. Paisagismo naturalista contemporâneo 3. Valorização de plantas 4. Arte floral

CDD 712  CDU 712.3

ESTA OBRA TAMBÉM SE ENCONTRA DISPONÍVEL EM FORMATO DIGITAL.

Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Reginaldo de Jesus Costa Farias (UEAP)

À biodiversidade brasileira, em especial ao bioma Pampa, por despertar

manifestações de fauna, flora

inadequado do campo nativo (sobrepastejo) e

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resultados experimentais e conhecimentos que estimulem e subsidiem usos múltiplos; provo-

segundo capítulo trata dos

ziu o setor da floricultura comercial para uma alta

o paisagismo e arte floral ainda inexplorado2, 3, 4.

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• Conhecer e divulgar amplamente o papel que o paisagismo pode assumir na redução de

• Respeitar a função que toda e qualquer espécie nativa

Tons do Cerrado expressos em emblemático projeto de jardim naturalista contemporâneo,

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facilitam o entendimento do contexto em que o livro se insere e provocam o pensamento da leitora

Informações básicas das espécies

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Subsídios técnicos para usos paisagísticos

Algumas variáveis comportamentais das espécies apresentam dados heterogêneos na litera-

Fogos de artifício – refere-se à inflorescência de ramos cespitosos e numerosos em seu ápice,

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rimental, experiências dos autores e em consultas à escassa literatura existente.

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Frutos: cipselas diminutas, com papus sedoso, branco a rosado.

Subsídios técnicos para usos paisagísticos

Altura: 0,2 a 0,8 m.

CA: cheiro agradável das folhas e flores; cor

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UA: em jardins de composição rochosa, vasos e bordaduras4; arranjos florais secos6.

Solo: baixas exigências quanto ao tipo de solo e

O ciclo de vida bianual da espécie pode exigir retirada

Usos que constam na literatura:

Sugestões de usos múltiplos potenciais:

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A temporalidade em marcela, hastes reprodutivas em

CAPIM-COLA-DE-SORRO-GRANDE – Andropogon bicornis L.

Raízes: raízes fasciculadas, densamente agrupadas

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Altura: 0,8 a 1,6 m.

Papel que desempenha na composição: protagonista.

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Solo: prefere solos arenosos, tolera baixos teores

Usos que constam na literatura:

Sugestões de usos múltiplos potenciais:

Recuperação de áreas degradadas em regiões

– Na fase reprodutiva, S. micros-

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A temporalidade em capim-cola-de-sorro-grande, hastes

Experiência de semeadura direta de

não comprometam a variabilidade genética da espécie em questão, o que é imprescindível em

Como mencionamos na apresentação, a grande

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Resposta típica de emergência de espécies da família botânica Poaceae (à esquerda) e Asteraceae

brasileiro, os resultados demons-

possibilita inclusive indicar o alto

Experimento de semeadura direta de ervas e arbustos do bioma Pampa aos 18 meses.

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