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21/09/2022 1º Aula
26/09/2022 2º Aula
Scruton 2017, página 9: “Nós, seres humanos, somos animais governados pelas leis da
biologia. A nossa vida e a nossa morte são processos biológicos, de tipo idêntico ao que
observamos noutros animais. Temos necessidades biológicas e somos influenciados e
constrangidos por genes com o seu próprio imperativo reprodutor. Este imperativo genético
manifesta-se na nossa vida emocional, de formas que nos recordam o corpo e o poder que
este tem sobre nós.”
3. Genes e memes
Scruton 2017, página 22: “Dawkins propõe-se a explicar objetivos e escolhas racionais
recorrendo a materiais genéticos que não fazem escolhas. Descreve estes materiais como
entidades “egoístas”, movidos por um “objetivo” reprodutivo, mas (pelo menos nos seus
momentos menos retóricos) reconhece que os genes não são, e não podem ser, egoístas, uma
vez que o egoísmo é um traço das pessoas, a ser caracterizado em termos das suas
disposições e projetos radicionais. Numa teoria biológica forte, todos
03/10/2022 3º Aula
Sumário: A pessoa como entidade emergente; O que é o eu: a noção de perspetiva sobre o
mundo e a capacidade de diferenciar ser e parecer; O eu como fenómeno linguístico: os
indexicais e a perspetiva científica; A diferença entre compreender (Verstehen) e explicar; As
humanidades e a compreensão do mundo humano; A atribuição ao outro indivíduo de uma
perspetiva sobre o mundo: consequências éticas e cognoscitivas.
Scruton 2017, página 40: “Como sujeito autoconsciente, tenho um ponto de vista acerca do
mundo. O mundo parece-me de uma certa forma, e este “parece” define a minha perspetiva
única. Todos os seres autoconscientes têm esta perspetiva, uma vez que é isso que significa ser
um sujeito da consciência. No entanto, quando forneço uma descrição científica do mundo,
estou apenas a descrever objetos. Estou a descrever o modo
10/10/2022 5º Aula
Sumário: Sobre a segunda pessoa e o eu como realidade social; Acerca da prioridade do eu e
do tu: diferentes posições sobre a questão; O argumento de Wittgenstein: o eu como efeito da
linguagem. A identidade entre verdade e veracidade no caso dos enunciados sobre o "eu"; O
conceito de reconhecimento; A luta pelo reconhecimento segundo Hegel; Individualidade e
individualidade profunda; Tempo e finitude; A consciência humana é autobiográfica. É a
pessoa uma constante antropológica, ou uma construção cultural contingente? Natureza e
segunda natureza.
12. A pessoa
Scruton 2017, página 49: “Há outra razão, mais interessante, para pensarmos que a pessoa
não pode ser eliminada da nossa descrição da natureza humana e que é
O “eu” é uma perspetiva sobre o mundo e está situado no limite do mesmo. Isto acaba por
explicar porque é que o “eu” que é essencial à pessoa não é um objeto no mundo, não é
identificável do mesmo modo nem tratado do mesmo modo como um objeto. Tudo o que diz
respeito ao “eu” tem uma perspetiva sobre o mundo. Isso mostra que a linguagem objetiva
das ciências não pode lidar com o “eu”, neste caso, uma pessoa humana, portanto um outro
tipo de abordagem é necessário.
A intencionalidade é comum aos animais em geral, já o ser humano goza de uma faculdade
que é a intencionalidade expandida que é a capacidade de dirigirmo-nos a um determinado
objeto com um outro sujeito, também ele sujeito intencional, ou seja, dotado de crenças e
expetativas. Ao falarmos da pessoa avançamos mostrando como todas as questões específicas
do humano nos apontam para um mundo, um ambiente das razões e das expetativas e,
portanto, do juízo e, então, das emoções ligadas a esse tipo de relações interpessoais. Assim,
vamos como que construindo um mundo humano a partir de uma base essencial que é a
capacidade de ver os outros também como agentes intencionais.
13. A compreensão
Scruton 2017, página 53: “Daí que a espécie a que pertencemos seja definida por meio de um
conceito que não se encontra na ciência da biologia humana. Essa ciência vê-nos como
objetos, em vez de sujeitos, e as suas descrições das nossas reações não são descrições daquilo
que sentimos. O estudo da nossa espécie é matéria das Geisteswissenschaften, que de todo
não são ciências, mas “humanidades” – por outras palavras, exercícios de Verstehen, que é o
tipo de entendimento exibido na minha descrição do riso. Defendi que, embora nós, seres
humanos, pertençamos a uma espécie, essa espécie não pode ser caracterizada meramente
em termos biológicos, mas ao invés, apenas em termos que façam uma referência essencial à
rede de reações interpessoais.”
A compreensão vai falar de todo esse mundo humano, particularmente como é que ele
funciona. Não funciona por causas, mas sim por razões. Não funciona por explicações, mas sim
por finalidades. Isto é o mundo da teleologia. O mundo dos princípios, das intenções e das
finalidades.
Scruton 2017, página 59: “Adotando e adaptando o famoso argumento de Peter Strawson,
Darwall mostra que emoções tais como ressentimento, culpa, gratidão e raiva não são
versões humanas de reações que podemos observar noutros animais, mas maneiras pelas
quais a exigência de prestação de contas, que surge espontaneamente entre as criaturas que
podem conhecer-se como “eu”, se traduz na linguagem do sentimento. No cerne destas
emoções reside a crença na liberdade do outro, uma crença irredutível, querendo isto dizer
que não podemos eliminá-la sem deixarmos de ser o que fundamentalmente somos. Como o
que somos é o que somos uns para os outros, a relação está incluída na própria ideia da pessoa
humana, que é uma primeira pessoa contida no ponto de vista da segunda pessoa como a
magnetita num campo magnético.”
Os sentimentos humanos, de base moral, expressos no texto não são versões humanas de
reações animais. A tese é que os sentimentos designados por estas emoções humanas não
encontram paralelo nem antecedente no mundo animal. Não são apenas versões diferentes,
mas algo radicalmente distinto. Radicalmente distinto porque funcionam por princípios
diferentes. Baseado na ideia de responsabilidade e prestação de contas, que só faz sentido
nessa ideia de que o outro é entendido como capaz ele próprio de se responsabilizar a si
mesmo, ou seja, ele refere a crença da liberdade do outro. Isto significa que tenho de acreditar
que o outro é capaz de se responsabilizar a si mesmo, ou seja, ser o “eu” também com o
mesmo funcionamento que eu próprio tenho para puder sequer atribuir-lhe justamente a
responsabilidade. A responsabilidade vem da minha relação com o outro, mas tem de ser
sempre também uma comigo próprio.
Scruton 2017, página 59: “A verdade moral de que as nossas obrigações derivam de uma
relação “eu-tu” funda-se numa verdade metafísica, que é o eu ser um produto social. É só
porque embarcamos em relações livres com outros que podemos saber de nós na primeira
pessoa. Os argumentos para esta conclusão metafísica são muitos, mas há dois em especial
que me atraem.”
12/10/2022 6º Aula
Scruton 2017, página 63: “Hegel afirma que, se eu fosse puro sujeito, existindo num vazio
metafísico, como Descartes imaginou, nunca conseguiria progredir até ao conhecimento, nem
sequer o conhecimento de mim mesmo, nem seria capaz de visar um determinado objetivo. A
minha consciência permaneceria abstrata e vazia, uma consciência de nada. Mas eu não me
perfilo apenas no limite…
Scruton 2017, páginas 89-90: “Eu não sou apenas um animal individual do modo que Desmond
é. Eu identifico-me como um indivíduo ao longo do tempo. Assumo responsabilidade pelo meu
passado e faço promessas para o futuro: reivindico o mundo como esfera da minha própria
agência Eu fazer isto constitui expressão da individualidade profunda que faz parte da
condição humana – que é a condição da criatura capaz de dizer “eu”. A individualidade
profunda é tão visível no Código de Hammurabi como nos sonetos de Petrarca, pode ser vista
tão claramente numa inscrição fúnebre ática como numa lápide vitoriana, e é uma constante
da condição humana – a premissa de todos as nossas esperanças e todos os nossos medos..
Scruton 2017, página 92: “Nos primatas nossos parentes foram observados muitos
equivalentes próximos de punição, conciliação e reconciliação. Embora…até que ponto
constitui um resultado natural dos seus desejos, intenções e planos, se foi ou não diretamente
intencional.”
Scruton 2017, páginas 98-99: “Todos os princípios seguintes, por exemplo, parecem ser
aceites por todos aqueles que depõem as armas e raciocinam para encontrar soluções:
O direito surge da prática de tentar resolver conflitos. Como faz parte da razão humana
compreender-se como 3º, ela tem de entender que a disputa é resolvida a partir da
argumentação/negociação de conceitos. O que justifica a minha vontade ou que o que
impugna, nas mesmas circunstâncias vão justificar ou impugnar a de outras pessoas. Por
exemplo, o que justifica ou impugna eu roubar em determinada circunstância, também valida
ou repugna, igualmente, a ação de outra pessoa na mesma circunstância.
Direito/lei natural: todo o ser humano tem naturalmente uma série de direitos. O sentido de
natureza é contestado por certos autores porque a natureza humana é uma natureza diferente
da natureza dos animais. A natureza humana entende-se como a segunda natureza.
Scruton 2017, página 100: “Para Singer, Parfit e muitos outros que falam pelos nossos tempos,
a pessoa boa é aquela que se esforça por obter o melhor resultado em todos os dilemas
morais com que é confrontada. E acabando por incorrer em petição de princípio a favor da sua
posição, discutem estes dilemas sob a forma de “dilema do guarda-freios” ou “dilema do
bote salva-vidas”. A moralidade é o que nos leva a desviar a agulha da linha do elétrico
quando nas duas vias trabalham vários operários ou a dirigir o bote salva-vidas para um grupo
de náufragos em detrimento de outro numa situação em que não podem ser todos salvos.
Estes “dilemas” têm a característica útil de eliminar da situação qualquer relação moralmente
relevante e reduzir o problema à mera aritmética.
Pense-se no amor pelos nossos filhos, que, nas pessoas normais, funde todos os circuitos da
máquina calculadora utilitária. Para Parfit, este é apenas mais um dado no dilema do bote
salva-vidas. Escreve que “os princípios optimíficos” não […] requerem que salve estranhos, em
detrimento dos seus próprios filhos. Se todos aceitassem e muitos seguissem tal requisito, as
coisas correriam melhor, pois seriam salvas mais vidas. Mas estes bons efeitos seriam
grandemente suplantados pelas formas nas quais seria pior se todos tivéssemos o motivo que
tais atos exigiriam: para que fosse verdade que salvaríamos vários estranhos e não os nossos
próprios filhos, o nosso amor pelos nossos filhos teria de ser muito menor.” E isso, prossegue
Parfit, teria muitos efeitos prejudiciais no longo prazo.”
17/10/2022 7º Aula
Sumário:
A existência da segunda pessoa institui uma relação moral/ética entre os seres humanos.
Como se fundamenta a moral?
Scruton 2017, página 107: “Vamos lançar luz sobre este ponto regressando a uma conceção da
vida moral que está associada a Aristóteles, uma vez que este a defendeu nos seus próprios
termos em Ética a Nicómaco. De acordo com esta conceção, a chave para vida moral é a
virtude, e para Aristóteles a virtude consiste na capacidade de fazer o que a razão recomenda,
apesar dos motivos que a contrariam. O argumento pode ser traduzido para os termos que
tendo vindo a usar da seguinte forma: a virtude consiste na capacidade de assumir inteira
responsabilidade dos nossos atos, intenções e compromissos, perante todos os motivos para
lhes renunciar ou os condenar. É a capacidade de reter e manter o centro de primeira pessoa
na vida e nas emoções, diante das tentações de descentramento de que estamos rodeados e
que refletem o facto de sermos seres humanos, com medos e vontades animais, e não sujeitos
transcendentes, motivados apenas pela razão. Os pensadores antigos distinguiam quatro
virtudes cardeias – coragem, prudência, temperança e justiça.
Aristóteles defendeu ainda que as virtudes cardeias partilham a estrutura da coragem. Cada
uma destas virtudes envolve uma disposição para fazer o que a razão reconhece ser horando
ou certo, em face de tentações contrárias. Esta disposição é adquirida através da imitação e da
consciência de ser julgado. As virtudes são disposições que louvamos e a sua ausência é
objeto de vergonha. Colocando a questão nos termos que tendo vindo a usar, é através da
virtude que as nossas ações e emoções permanecem centradas …
25. As instituições
Scruton 2017, página 119: “Para nos desenvolvermos plenamente como pessoas, afirmei,
precisamos das virtudes que transferem os nossos motivos do centro animal para o centro
pessoal do nosso ser – as virtudes que nos permitem dominar as nossas paixões. Essas virtudes
não estão disponíveis fora do contexto social firmemente tecido. Não há dúvida de que sem
formas de educação socialmente aprovadas, sem famílias e esferas de amor mútuo e sem a
abordagem disciplinada dos encontros eróticos as nossas emoções sociais não se centrarão
completamente no “eu”. Os seres humanos encontram a sua realização no amor mútuo e na
dádiva de si, mas chegam a este ponto percorrendo um longo caminho de
autodesenvolvimento, do qual a imitação, a obediência e o autocontrolo constituem
momentos necessários. Isto não é difícil de perceber se virmos o desenvolvimento da
personalidade nos termos sugeridos por Aristóteles. Mas é difícil de pôr em prática. Ainda
assim, quando compreendermos corretamente as coisas, sentir-nos-emos motivados para
repor a virtude e os bons hábitos no lugar que lhes pertence, no centro da vida pessoal.”
Scruton 2017, páginas 122-123: “A primeira crítica é a posição contratualista não levar a sério
a nossa situação enquanto organismos. Somos seres com corpo e as nossas relações são
mediadas pela nossa presença física. Todas as nossas emoções mais importantes estão eivadas
de amor erótico, amor pelos filhos e pais, ligados à casa, medo da morte e do sofrimento,
compaixão pelos outros quando em sofrimento ou medo – nada disto teria sentido se não
fosse a nossa situação enquanto organismos. Também o amor da beleza tem as suas raízes na
nossa vida física e no aqui e agora das nossas alegrias. Se fôssemos agentes racionais sem
corpos – “homo noumenoni” do tipo que se sentiria à vontade no Reino dos Fins de Kant – os
nossos fardos morais seriam levados com leveza e reduzir-se-iam às restrições secundárias
necessárias para conciliar a liberdade de cada um com a liberdade igual do próximo. Mas nós
somos seres com corpo, atraídos uns para os outros enquanto tal, presas de emoções eróticas
e familiares que criam distinções radicais, reivindicações desiguais, ligações fatais e
necessidades territoriais, e grande parte da vida moral diz respeito à transposição destas
regiões escuras da psique.”