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ATIVIDADE 1

ALUNO: JOAO PAULO LIMA


DISCIPLINA: EDUCOMUNICAÇÃO
PROFESSORA: ANDREA PINHEIRO

Os exemplos mostrados no documentário traduzem com muita lucidez a grande maioria das
realidades vividas por estudantes em todo o Brasil. A postura educacional adotada pela
maioria das escolas e por muitos educadores, embora já mostre certa evolução, encontra
raízes profundas e estruturais ainda baseadas na lógica do capital.

No contexto da minha trajetória escolar não é difícil fazer cruzamentos com as experiências
narradas pelos alunos do documentário e perceber que em um país de tantas diferenças há
tanta semelhança na forma como somos doutrinados na escola. Percebemos que, não
somente a escola pública, mas também a privada, se guiam por modelos auto centrados na
figura de um mestre ao qual devemos temer e obedecer sem qualquer questionamento.

Seria perfeitamente possível que o caso a seguir fizesse parte do documentário. Ele
começa nas aulas de matemática na década de 80 na cidade de Fortaleza. A professora
abria os trabalhos com uma “arguição” (é o novo) sobre a temida tabuada de multiplicação.
Aluno por aluno era chamado à frente da sala. A sabatina começa quente. O temido “9x8”
ou “8x9” poderia logo abrir a sessão (de tortura). Éramos normalmente "orientados” que a
resposta não poderia ser dita em voz baixa ou titubeante. Firmeza e volume na voz
deveriam ser acompanhados de um quase “grito” para demonstrar que sabíamos a tabuada
na “ponta da língua”. E poderiam questionar: e se a resposta não fosse a certa? Se a
resposta não fosse a certa você seria imediatamente “corrigido” ouvindo o som da
palmatória estalar na sua mão.

E assim começa uma vida escolar brasileira na década de 80. Pelo menos a minha
começou assim: apanhando pra aprender e aprendendo a apanhar. Hoje falo com muita
serenidade sobre isso, porém por algum tempo esse assunto era motivo de desconforto
para mim.

No ensino médio a palmatória foi substituída por diversos outros métodos, ganhou “didática”
e se travestiu da palavra vestibular. Era em torno dele que tudo girava, sem margem para
questionamentos ou divagações, se não tivesse na literatura indicada pela UFC não
precisaria constar, se não fosse tema da prova de atualidades, nem precisaria levantar
pauta, se o assunto não fizesse parte do conteúdo da prova da segunda fase, nem valeria a
pena discutir. Não fosse pela curiosidade mais aguçada à época e pelo senso de
auto-responsabilidade ou quem sabe auto-preservação, talvez o ensino médio tivesse
ficado marcado tão somente por essa falta de liberdade dentro da sala de aula.

Quando li o texto “Educomunicação - o que é isto” me fiz a pergunta se tudo aquilo poderia
ser possível dado o nível de complexidade da proposta. Seria uma grande utopia na
distopia em que vivemos? Depois de ver o vídeo, fiquei questionando o quão distante ainda
estamos das propostas de educomunicação. Será que haverá algum dia nesse país uma
proposta de politica educacional que se inspire em pelo menos 50% por cento de tudo o que
propõe a educomunicação? Será mesmo que um dia seremos aquele sujeito autônomo na
sua totalidade? Será ainda que poderemos negar a lógica da competição dentro da lógica
do cruel capital? Será que falaremos um dia sobre co-gestão de fato?

Talvez esses perguntas ainda não tenham respostas. Mas até que elas começem a ser
respondidas a história da educação brasileira deve se manter a mesma por algum tempo.
Desde que terminei ensino médio, em 1998, vejo por relatos de colegas mais jovens que o
contexto é diferente, mas o cenário ainda é o mesmo em 2022: assuntos tabus, professores
totalitários, didáticas engessadas, alunos desestimulados, assédios morais e intelectuais,
entre outras atrocidades que se cometem em nome de uma pedagogia ultrapassada.

Acredito que esse contexto se estende para além dos muros do ensino médio. As
universidades também corroboram para uma certa manutenção desse sistema. Apesar de
na academia os espaços para discussão serem mais amplos e democráticos, ainda estão
muito no campo da teoria, e o que está nos textos se mantém ali.

Dessa maneira poderia elaborar um conceito de educomunicação começando a dizer que


ela poderia ser o rompimento ou pelo menos a tentativa deste com as amarras do
tradicionalismo medíocre e hipócrita das doutrinas nocivas da educação formal. Diria
também que a educomunicação deveria mediar o conflito entre o faminto capital e o objetivo
educacional de cada indivíduo, tendo este liberdade para escolher sobre o que quer
aprender e pensar no melhor método para isso.

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