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Autoria: Patricia Itala Ferreira, Rossana Patitucci Franco, Carla Francisca Bottino Antonaccio
Agradecimentos ao IBGE por ter permitido a divulgação de sua experiência na implantação da seleção por
competências.
1. Introdução
2. Metodologia de Pesquisa
Quanto aos fins, a pesquisa é descritiva e explicativa. Descritiva porque, segundo Gil
(2006, p.44, 45) “(...) tem como objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis”. O
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caráter explicativo reside na preocupação em “identificar os fatores que determinam ou que
contribuem para a ocorrência dos fenômenos”. Ainda para o autor, uma pesquisa explicativa
pode ser a continuação de outra descritiva, visto que a identificação dos fatores que
determinam um fenômeno demanda que este esteja suficientemente descrito e detalhado.
Quanto aos meios, a pesquisa é um estudo de campo, que visa a um aprofundamento das
questões propostas por meio de um estudo de um único grupo ou comunidade. Trata-se ainda
de uma pesquisa de campo, visto que os dados foram coletados no local onde o fenômeno
ocorreu (VERGARA, 2012).
A coleta de dados ocorreu por meio da realização de entrevistas com representantes da
área de recursos humanos da instituição, bem como análise de documentos internos.
3. Referencial Teórico
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As competências técnicas (conhecimentos e habilidades demandados pelo cargo) são
aquelas normalmente já trabalhadas nos processos seletivos, logo, não serão objeto de maior
aprofundamento aqui. Depois de mapeadas as competências técnicas e comportamentais,
utilizando-se as descrições dos cargos, pode-se agrupar as competências comportamentais por
similaridade, por exemplo, aquelas orientadas para resultados, para clientes, para
comunicação, para liderança, entre outras. O tipo de agrupamento pode variar na dependência
de cada empresa (FERREIRA, 2015).
A entrevista comportamental é uma técnica de investigação cujo objetivo é identificar,
no perfil dos candidatos, comportamentos específicos que são pré-requisitos para ocupar de
forma adequada a vaga que está em aberto.
As perguntas comportamentais devem ser abertas, específicas, situacionais e
relacionadas a fatos passados (exemplos: “Conte alguma situação em que você
tenha”...”Relate algum fato que demonstre sua”..., “Dê um exemplo de uma situação em
que”...). O objetivo deste tipo de pergunta é viabilizar respostas com um SAC completo
(Situação, Ação e Consequências). Segundo Rabaglio (2008) a situação diz respeito ao
contexto em que a situação ocorreu, a ação retrata o comportamento da pessoa ao lidar com a
situação e como consequência existem os resultados das ações ou comportamentos. Leme
(2007) faz referência a CAR ao invés de SAC, porém, atribuindo o mesmo sentido.
As perguntas comportamentais devem ser abertas, situacionais, específicas para
investigação de determinadas competências e devem utilizar verbos de ação no passado.
Na análise das respostas dos candidatos, devem ser identificados verbos relacionados à
ação, conjugados na primeira pessoa do singular (eu). Caso contrário, é necessário investigar
a real participação da pessoa na ação por ela mencionada, bem como seu nível de
envolvimento (LEME 2007; RABAGLIO, 2008).
Outro ponto importante da entrevista comportamental é a mensuração das respostas.
Caso o entrevistador perceba que a resposta do candidato apresentou a quantidade mínima do
comportamento investigado, atribuirá o grau 1; caso perceba a quantidade máxima, o grau 4
deverá ser atribuído; para posições medianas, tendendo para menos, o grau 2 e, caso tenda
para mais, o grau mais adequado para a resposta do candidato é o 3.
O procedimento de atribuição de graus às respostas dos candidatos deve ser repetido
para cada pergunta, de forma que todas as respostas sejam mensuradas. As perguntas
comportamentais devem obter SACs relacionados a competências relevantes para a vaga em
aberto, por isso, precisam ser adequadamente formuladas. Não adianta nada aferir o nível de
criatividade de uma pessoa se a competência em questão não é relevante ou importante para o
desempenho no cargo que ocupa (LEME, 2007; RABAGLIO, 2008 e FERREIRA, 2015).
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As Unidades Estaduais representam a Instituição no Estado e planejar, coordenar, executar
e controlar a realização de atividades técnicas e administrativas do IBGE, de acordo com a
orientação e supervisão técnica normativa das Diretorias e Coordenações-Gerais da Sede.
O gestor titular da Unidade Estadual é denominado Chefe da Unidade e as Unidades
Estaduais são compostas por gerências/supervisões de pesquisas, geociências, disseminação
de informações, gestão, informática, e pelas Agências de Coleta.
O preenchimento desses cargos acontecia por nomeação do Presidente da Instituição.
Contudo, contudo, a partir de 2003, a escolha passou a ser fundamentada nas competências
necessárias para o desempenho da função por meio de um Processo de Seleção Interna para o
cargo de Chefe de Unidade Estadual do IBGE.
Foram, ao todo, 20 vagas preenchidas utilizando a seleção por competências desde 2003.
De acordo com a Resolução do Conselho-Diretor, o Processo Seletivo Interno (PSI) passou a ser
composto por: análise curricular (etapa classificatória), prova situacional (etapa classificatória e
eliminatória); dinâmica de grupo (etapa classificatória e eliminatória) e entrevista médico-social e
técnica.
As competências identificadas como relevantes para o desempenho do Chefe de Unidade
estadual, bem como seus respectivos indicadores foram:
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Figura 2. Competências e Indicadores
A etapa da dinâmica de grupo é a que mais sofreu alterações / adaptações ao longo dos
processos de seleção interna. Nas duas seleções de 2003, ela foi composta por técnicas
vivenciais, contudo, os critérios de avaliação não pareciam muito claros e objetivos para os
participantes. Em função da avaliação realizada à época, optou-se por diminuir o peso
atribuído a essa etapa da seleção (o peso caiu de três para dois na formação da nota dos
candidatos) no segundo processo, também em 2003.
Para a realização dos processos seletivos de 2008, 2009, 2012,2013 e 2014 a etapa foi
reformulada para minimizar o caráter subjetivo do método de avaliação. Foi contratada uma
consultoria especializada para redefinir as atividades, delimitando padrões de avaliação mais
objetivos, com o foco nas competências profissionais e comportamentais requeridas para o
cargo. Essa etapa – eliminatória e classificatória - consistiu no desenvolvimento de um
conjunto de atividades estruturadas, de base comportamental e técnico-gerencial, com a
finalidade de avaliar os valores dos candidatos face ao perfil desejado para o cargo de Chefe
de Unidade Estadual. Após a adoção de critérios mais objetivos, com o foco na seleção de
pessoas por competências, a etapa de dinâmica de grupo voltou a ter peso três nos processos
seguintes aos de 2003.
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No último processo seletivo de 2014 a dinâmica de grupo foi substituída pela
entrevista comportamental com base em competências, sendo este processo detalhado a
seguir.
Antes da realização das entrevistas a primeira etapa foi graduar cada competência,
considerando sua importância relativa para a vaga em aberto. A graduação foi feita em uma
reunião com a participação de quatro representantes do IBGE e o consultor contratado para a
condução do processo. As competências e seu peso relativo para o cargo de Gestor de
Unidade Estadual seguem especificados na Tabela 1.
Tabela 1:
Competências e Peso
Competência Peso
Capacidade Gerencial e Dinamismo 20%
Liderança 20%
Iniciativa para Diagnosticar Problemas 15%
Motivação 10%
Equilíbrio Emocional para Trabalhar Sob Pressão 15%
Facilidade de Comunicação Oral e Escrita 10%
Criatividade 10%
Total 100%
Competência Pergunta
Capacidade gerencial e dinamismo Conte uma situação em que você foi responsável
por uma atividade de planejamento de longo
prazo. Descreva a situação, a ação e os principais
resultados.
Criatividade Relate uma situação na qual você investiu muito
tempo e esforço nas atividades de planejamento,
mas por motivos alheios a sua vontade, não pôde
cumprir o que planejou. Relate a situação, ação e
resultado.
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Foram cinco os candidatos entrevistados. As entrevistas tiveram duração de uma hora e
meia a duas horas. Todos os candidatos tiveram que responder as mesmas perguntas, previamente
elaboradas e validadas. Todos os candidatos tiveram acesso prévio às competências que seriam
foco de avaliação.
A entrevista foi realizada por três entrevistadores, sendo dois do IBGE e o consultor
especializado. Houve um treinamento prévio na utilização da escala de avaliação e um
alinhamento entre os avaliadores a fim de maximizar a uniformidade na forma de avaliação. Os
graus e significados dos critérios de mensuração seguem detalhados:
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Figura 5 Gráfico de Resultados por Candidato
O processo de seleção por competências no IBGE ocorre desde 2003 devido a uma
decisão do Conselho Diretor do IBGE que estabeleceu que, em caso de vacância do cargo em
comissão de titular de Unidade Estadual, a escolha de novo ocupante seria feita por meio de
um processo seletivo interno. Foram, ao todo, 20 vagas preenchidas utilizando a seleção por
competências desde 2003. Este histórico mostra-se relevante devido ao fato dos cargos
poderem ser preenchidos por indicação e não por meio da aplicação de procedimentos
meritocráticos, como foi o caso da seleção por competências adotado pela organização.
É possível perceber, com ênfase no último processo seletivo realizado em 2014, que a
organização foi cuidadosa na realização do processo de seleção por competências, visto que:
Identificou as competências relevantes para o cargo, apesar de não possuir uma
descrição de cargo detalhada;
Ponderou cada competência, com base em seus indicadores, a fim estabelecer a
importância relativa de cada uma delas, possibilitando uma adequada mensuração e
Estabeleceu perguntas comportamentais com foco em competências,
permitindo a avaliação do SAC completo.
Outro ponto positivo da avaliação por competências foi permitir uma mensuração, o
que transformou a seleção, um processo avaliativo subjetivo por natureza, em um processo
com métricas, classificações e resultados numéricos.
Merecem destaque ainda dois itens do processo de seleção interno do IBGE: a
divulgação das competências via edital (todos os candidatos sabem os critérios de avaliação) e
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o relatório sobre os gaps de cada candidato, que foi enviado a todos os candidatos que
participaram da seleção, com a indicação de pontos fortes e daqueles que ainda precisam ser
desenvolvidos, considerando a oportunidade em aberto.
É sabido que na esfera pública muitos cargos são ocupados mediante nomeação.
Utilizar um processo de recrutamento e seleção, tal qual o realizado pelo IBGE, com base em
competências técnicas e comportamentais, trás inúmeras vantagens tanto para a organização
como para os servidores, tais como: aumento da motivação do quadro de pessoal, maior
confiabilidade sobre a atuação do escolhido, aproveitamento de conhecimento técnico anterior
do candidato sobre a instituição e conhecimento prévio do comportamento e das realizações
pregressas de cada candidato, assim como sua adequação à cultura da organização.
A análise de documentos internos da instituição, bem como a realização de entrevistas
com profissionais de RH que participaram dos processos, permitem concluir que o outro
ponto de destaque no trabalho desenvolvido pelo IBGE é o apreço da alta direção pelos
resultados da seleção por competências. A objetividade de critérios para os servidores
envolvidos, que possuem clareza sobre como serão avaliados, também é outro item que
merece destaque. O reconhecimento do êxito da seleção por competências foi ratificado,
ainda, pelo fato da Direção do IBGE ter estabelecido nova regulamentação interna
determinando que, a partir de 2015, o preenchimento das vagas para cargos de Coordenador
das Diretorias da Administração Central ocorrerá por intermédio de Processo Seletivo Interno,
com foco em competências. Essas seleções são estruturadas tendo por base os mesmos
pressupostos básicos que norteiam dos processos para gestores de Unidades Estaduais, e a
entrevista comportamental, com base em competências, é uma de suas principais etapas. Para
2015 existe a previsão de 3 (três) processos seletivos para Coordenadores, que são cargos
estratégicos e de grande relevância para o alcance da missão institucional do IBGE.
5. Considerações Finais
6. Referências Bibliográficas
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FLEURY, Afonso; FLEURY, Maria Teresa Leme.. Construindo o conceito de competência.
Revista de Administração Contemporânea, v. 5, p. 183-196, 2001.
FONSECA, Diogo Ribeiro; MENESES, Pedro Paulo Murce, CAMÕES, Marizaura Reis de
Souza. Elementos de institucionalização da gestão estratégica de pessoas no setor público. In:
EnGPR, 4, João Pessoa, 2011. Anais... João Pessoa: ANPAD, 2011.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
IBGE. Avaliação dos Processos de Seleção Interna para Chefes de Unidades Estaduais do
IBGE. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.
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