Você está na página 1de 38

Caderno de Relatos de Experiências do I

Fórum Pernambucano de Atenção Primária


sobre Saúde da População em Situação de Rua
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

Caderno de Relatos de Experiências do I Fórum Pernambucano de Atenção


Primária sobre Saúde da População em Situação de Rua

Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco


Superintendência da Atenção Primária
Gerência de Expansão e Qualificação da Atenção Primária

2020
2
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

Governador do Estado de Pernambuco Coordenação de Teleducação |


Paulo Henrique Saraiva Câmara Talita Helena Monteiro de Moura

Secretário Estadual de Saúde Apoio Institucional em Teleducação


André Longo Juliana Kaiza Duarte de Souza
Ação Estratégica “O Brasil Conta
Secretária Executiva de Atenção à
Comigo”
Saúde
Cristina Valença Azevedo Mota Webdesigner
Lucianne de Freitas Xavier Paulino
Superintendente Estadual de Atenção
Primária Comissão de Organização
Maria Francisca Santos de Carvalho Anna Karolina da Silva Pereira
Bárbara Sabrina Pereira dos Santos
Gerente Estadual de Expansão e Mendonça
Qualificação da Atenção Primária Jaqueline Cordeiro Lopes
Adriana da Silva Baltar Maia Lins Jéssica Cristina de Amorim
Mariana Alves Lemos
Coordenação de Expansão e Regina Flavia Praxedes Rodrigues
Qualificação Thaís Neves Gomes
Maria Isabel Ferreira Silva Yanka Karoline de Melo Santos
Coordenação Estadual do Programa Colaboração:
Consultório na Rua Coordenação Municipal do Programa
Carlos Henrique Tenório Almeida do Consultório na Rua de Recife
Nascimento Aline Carla Rosendo da Silva
Coordenação do I Fórum Coordenação Municipal do Programa
Pernambucano de Atenção Primária Consultório na Rua de Camaragibe
sobre Saúde da População em Situação Genivaldo Francisco da Silva
de Rua
Adriana da Silva Baltar Maia Lins Coordenação Municipal do Programa
Carlos Henrique Tenório Almeida do Consultório na Rua de Abreu e Lima
Nascimento João Henrique Medeiros Priston
Maria Isabel Ferreira Silva
Núcleo Estadual de Telessaúde: Coordenação Municipal do Programa
Secretaria Executiva de Gestão Consultório na Rua de Olinda
Mario da Costa Cavalcanti Neto
Estratégica e Participativa
Humberto Antunes Coordenação Municipal do Programa
Consultório na Rua de Petrolina
Diretoria
Marla Marcelino Gomes
Dulcineide Gonçalo de Oliveira
Técnica de Referência Municipal do
Superintendente em Tecnologias de
Programa Consultório na Rua de
Telessaúde Paulista
Carlos Américo Renata Viviane Neves da Silva

3
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Nelson Chaves (ESPPE)

P452f Pernambuco. Secretaria de Saúde do Estado. Superintendência da Atenção Primária Gerência


de Expansão e Qualificação da Atenção Primária.
I Fórum pernambucano da atenção primária sobre saúde da população em situação de rua:
caderno de relato de experiências do I fórum pernambucano de atenção primária sobre saúde
da população em situação de rua / Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco.
Superintendência da Atenção Primária Gerência de Expansão e Qualificação da Atenção
Primária. Recife: SES-PE, 2020.
38 p.:il.

1. Atenção à Saúde. 2. População em Situação de Rua. 3. Saúde Pública. 4. Atenção


Primária. 5. Educação Permanente. I. Título.

ESPPE / BNC CDU –364:614(813.4)

Bibliotecária Responsável: Ane fátima Figueiredo – CRB-4/P-1488

4
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 6

EIXO 01 - ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA ..... 7


RECONSTRUA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE DA POPULAÇÃO DE
RUA DO RECIFE. AÇÕES VOLUNTÁRIAS DO PROJETO RECONSTRUA: SAÚDE PARA POPULAÇÃO
DE RUA .................................................................................................................................................................. 8
OS DESAFIOS DA ATENÇÃO À CRISE EM SAÚDE MENTAL NA RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
DO CONSULTÓRIO NA RUA RECIFE ............................................................................................................. 11
EIXO 02 - EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO CONTEXTO DA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA............................................................................................................. 16
A EXPERIÊNCIA DE UMA PSICÓLOGA RESIDENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA NOS CONSULTÓRIOS
NA RUA DE SALVADOR .................................................................................................................................. 17
ESTÁGIO CURRICULAR NA ATENÇÃO BÁSICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM RESIDENTE DE
ODONTOLOGIA EM UM CONSULTÓRIO NA RUA ...................................................................................... 20
PROJETO LEITURA NA RUA ........................................................................................................................... 22
EIXO 03 - INTERSETORIALIDADE ................................................................................. 25

FORMULAÇÃO DE INSTRUMENTO DE DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS DETERMINANTES


SOCIOAMBIENTAIS DE SAÚDE NA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DO RECIFE
.............................................................................................................................................................................. 26
A GENTE QUER COMIDA, DIVERSÃO E ARTE: AS DIFICULDADES EM DESENVOLVER RESPOSTAS
INTERSETORIAIS A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA (PSR) NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA
DO HOSPITAL ULYSSES PERNAMBUCANO ................................................................................................ 30
DO GRUPO DE TRABALHO INTERSETORIAL AO CONSULTORIO NA RUA: RELATO DE UMA
CONQUISTA DISTRITAL EM SALVADOR/BAHIA ....................................................................................... 34
O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA FRENTE ÀS DEMANDAS DE CUIDADO DA PESSOA
EM SITUAÇÃO DE RUA .................................................................................................................................... 37

5
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

APRESENTAÇÃO

O “Caderno de Relatos de Experiências do I Fórum Pernambucano de Atenção


Primária sobre Saúde da População em Situação de Rua” reúne vivências de estudantes,
residentes e profissionais de saúde ligadas, direta ou indiretamente, à população em situação
de rua.

Os relatos apresentados se dividem em três eixos temáticos: assistência à Saúde da


População em Situação de Rua; educação em saúde no contexto da população em situação de
rua; e intersetorialidade.

A publicação dessas experiências visa promover a troca de saberes, bem como,


apresentar ferramentas e estratégias para o atendimento da população em situação de rua nos
territórios, segundo os princípios do Sistema Único de Saúde (universalidade, integralidade e
equidade).

A atenção à saúde à população em situação de rua deve se pautar pelo reconhecimento


do direito humano à saúde bem como das especificidades do atendimento desse público.

Assim, esperamos que esse Caderno, venha contribuir com a melhoria das ações de
saúde para a População em Situação de Rua, dando visibilidade a essa temática, e
sensibilizando gestores e profissionais de saúde para atuarem no atendimento às necessidades
de saúde, com acolhimento adequado para essa população.

6
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

EIXO 01 - ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA


POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

7
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

RECONSTRUA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE DA


POPULAÇÃO DE RUA DO RECIFE. AÇÕES VOLUNTÁRIAS DO PROJETO
RECONSTRUA: SAÚDE PARA POPULAÇÃO DE RUA

Alexandre Barbosa Beltrão¹; Leila Karina de Novaes Pires Ribeiro¹. Cintia Viana do
Prado²; José Almeida da Silva Neto²;Luiz Vinícius de Lima Guido³; Luíza Pereira
Gomes Ferreira Tavares²; Márcia Lúcia da Costa Cavalcanti Silva²; Maria Clara
Nogueira Borges de Melo²; Mariana Machado Farias²; Mariana da Soledade
Urquiza Lins²; Taciana Silva Ferreira de Moraes²; Vivian Marielly Bezerra dos
Santos². Alexandre Barbosa Beltrão1; Leila Karina de Novaes Pires Ribeiro1

1
Docente do curso de medicina da Universidade Católica de Pernambuco; 2Discente do
curso de medicina da Universidade Católica de Pernambuco; 3Discente do curso de
medicina da Universidade Católica de Pernambuco
E-mail: luiza.2017112002@unicap.br

INTRODUÇÃO: A atenção básica é um pilar fundamental para a promoção da saúde e porta


de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS). Sabe-se que um dos grandes
desafios para efetivação de uma atenção à saúde de qualidade a população em situação de rua
é a formação de profissionais que conheçam as especificidades desse público. Assim, o
projeto de extensão “ReconstRUA Saúde na Rua”, desenvolvida pela Universidade Católica
de Pernambuco (UNICAP), está voltado para a atenção ampliada às Pessoas em Situação de
Rua (PSR) no Recife-PE, adentra como uma maneira de exercer responsabilidade social em
meio a exclusão dessas pessoas que estão submetidos às condições de pobreza extrema, pelos
mais diversos motivos como: vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, desamparos
sociais, quadros psiquiátricos, abuso de drogas, além de crises financeiras que levaram a
inexistência de moradia convencional regular, tendo como opção a utilização dos logradouros
públicos e áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento. OBJETIVO: Relatar a
experiência de atenção básica à saúde desenvolvida pelo projeto de Extensão da Universidade
Católica de Pernambuco – UNICAP, o ReconstRUA: saúde na rua, voltada para a população
de rua na área central da cidade do Recife. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de
experiência que conta com a participação de dois professores orientadores e traz a experiência
do trabalho vivenciado por discentes do curso médico da Universidade Católica de
Pernambuco (UNICAP) participantes do projeto de extensão “ReconstRUA: saúde na rua”,
realizado em 2019 e 2020. Utilizou-se como fonte de dados, diário de campo e registros
fotográficos. A área das intervenções é localizada no Distrito Sanitário I, centro do Recife,
especialmente no entorno da UNICAP. Esse Projeto de Extensão funciona através da
identificação e articulação com organizações governamentais e não-governamentais que
trabalham com o público-alvo, a fim de desenvolver atividades, em parceria com esses
equipamentos, de atenção básica no território, como: educação em saúde, atendimento
médico, acolhimento, encaminhamentos para a rede intersetorial, entre outras atividades.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O projeto de extensão “ReconstRUA: Saúde na Rua”
realiza ações desde o primeiro semestre de 2019, no que tange o cuidado à saúde dos
indivíduos que se encontram em situação de rua. As principais queixas de saúde relatadas pela
população em situação de rua, são sintomas advindos da hipertensão, diabetes mellitus,
problemas psiquiátricos, HIV/aids, queixas dentárias, dependência química e problemas

8
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

relacionados a visão. É em meio ao alto índice de patologias, aliados aos estigmas sociais e
incipiente política pública, que a saúde das PSR é deixada de lado e, consequentemente, se
inserem à margem de uma sociedade que discrimina e exclui. Assim como relatado por Barata
et al (2015), um terço das pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo se sentiam
discriminadas ao frequentar os serviços de atenção à saúde. Dessa forma, ao fazermos um
paralelo com essa realidade, nota-se que não há espaço para todos os públicos nos serviços de
saúde na cidade do Recife, no qual muitos são rejeitados e renegados. Essa também é a
realidade relatada e visualizada nas ruas do Recife. Portanto, o projeto em questão objetiva,
contribuir com a melhoria da qualidade de vida dessa população quando a questão é saúde. A
coleta de histórias de vida e clínicas que são contadas, relatando os motivos para que as
pessoas se encontrarem naquela situação, subsidiaram a realização de consultas médicas,
objetivando resolver as queixas trazidas para os atendimentos. Os problemas mais complexos
e que demandam hospitalização, foram encaminhados e receberam orientações quanto ao
direito, enquanto cidadãos, de serem atendidos pelo SUS, ainda que sem documentação ou
terem residência fixa. Tal fato se configurava como desestímulo e um dos principais motivos
para não procurar ajuda de profissionais da saúde, no âmbito do SUS. Os trabalhos realizados
durante as ações do projeto, inicialmente se configuraram na análise da realidade local e o
conhecimento do território que possibilitou mapear os lugares de maior concentração;
posteriormente foram desenvolvidas diversas ações que incluíram: escuta, acolhimento,
educação em saúde e intervenções nos locais de circulação das PSR. Estas ações incluem não
só atividades relacionadas à Medicina (rastreios, prestação de cuidados e tratamento), mas
também atividades relacionadas à promoção à saúde, tais como: angariação/distribuição de
alimentos, instruções a jovens carenciados e atividades que promovem o bem-estar e a
autoestima, tais como: salão de beleza, oportunidade de escolha de roupas, através do bazar,
distribuição de kit de higiene individual, que em épocas de pandemia por coronavírus inclui
máscaras de tecido, dentre outras ações, encaminhamento para tratamento ambulatorial na
Unidade Básica de Saúde (UBS) do Pilar, onde PSR podem ser atendidas mesmo sem
documentação, uma vez que alguns perderam ou nunca tiraram. Em 2019 foram realizadas,
ações no “Instituto Pelo Bem” e em conjunto com a Fundação Terra no Pátio de Santa Cruz,
local onde foi identificado o maior volume em pessoas de situação de rua. Assim, foi possível
realizar atividades de atenção básica, as quais incluem orientações de serviços onde a
população possa ter atendimento e o seguimento do mesmo, aferição de pressão, orientações
de Infecções sexualmente Transmissíveis (ISTs), curativos, cuidados sintomáticos, higiene
pessoal, orientação quanto a redução de danos relacionado ao uso de drogas. Em meados do
primeiro semestre de 2020, com a pandemia do Covid-19, as atividades do Reconstrua
somaram-se ao do grupo Unificados, um conjunto de ações sociais que trabalham também em
prol da saúde e bem-estar da população em situação de rua. O local de atuação passou a ser o
Liceu, espaço cedido pela Unicap para dar continuidade as ações do projeto. Além das
colaborativas parcerias com instituições não governamentais, também houve o trabalho em
conjunto com a Vigilância Epidemiológica do Distrito 1 e com a Coordenação de Saúde do
Homem, onde foram realizadas atividades educativas sobre diversos temas, como:
Tuberculose, ajudando a repassar aos PSR a melhor forma para perceber os primeiros
sintomas, qual serviço recorrer, a importância do tratamento precoce e da prevenção. Um dos
desafios foi a criação de pequenos “espaços de acolhimento” nas ruas, durante as ações, para
possibilitar momentos mais íntimos em que as pessoas em situação de rua pudessem relatar
suas angústias, necessidades e dificuldades. O acolhimento faz parte de todos os encontros
com as PSR implica na escuta, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde
e doença, na responsabilização pela resolução e ativação de redes de compartilhamento de

9
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

saberes, proporcionando um vínculo maior entre os envolvidos e uma maior adesão das PSR
as orientações dadas. CONCLUSÃO: O Projeto de extensão auxiliou de forma significativa
para a formação dos estudantes envolvidos, contribuindo para a qualificação da formação
humana dos graduandos do curso médico, uma vez que possibilitou a reflexão sobre a
realidade das pessoas que vivem em situação de rua, através de um olhar ampliado do
conceito de saúde, ao mesmo tempo que permitiu o desenvolvimento de ações que são
instrumento de resgate do valor da vida e da saúde, da cidadania e da dignidade humana,
capazes de gerar autonomia e emancipação no contexto de exclusão social. Dessa forma,
constatamos o cotidiano e as condições de vida das PSR e suas situações de risco.
Reconhecemos as limitações do acesso da PSR aos serviços de saúde, o que nos levou à
reflexão acerca dos cuidados destinados aos moradores de rua, visando promoção da
discussão e busca de soluções nas experiências vivenciadas, e assim, gerar uma visão mais
humanística e fortalecer as parcerias com grupos envolvidos em ações benéficas para esse
público, criando uma rede de solidariedade. Entender as necessidades das PSR e sobre o
encaminhamento da rede de saúde foi enriquecedor para os alunos envolvidos em sua
formação, fazendo do projeto um grande instrumento de aprendizado em atenção básica de
forma integral e humanizada.

REFERÊNCIAS:

HINO, Paula; SANTOS, Jaqueline de Oliveira; ROSA, Anderson da Silva. Pessoas que
vivenciam situação de rua sob o olhar da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, São Paulo
- Sp, v. 71, p. 684-682, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/reben/v71s1/pt_0034-
7167-reben-71-s1-0684.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020.
OLIVEIRA, Alison; GUIZARDI, FranciniLube. A construção da política para inclusão de
pessoas em situação de rua: avanços e desafios da intersetorialidade nas políticas de saúde e
assistência social.: avanços e desafios da intersetorialidade nas políticas de saúde e assistência
social. Rev. Saúde Soc., Distrito Federal- Df, v. 29, p. 5-9, 17 ago. 2020. Disponível
em:https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
12902020000300307&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 02 set. 2020.
VALE, Aléxa Rodrigues do; VECCHIA, Marcelo dalla. SOBREVIVER NAS RUAS:
PERCURSOS DE RESISTÊNCIA À NEGAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE. Psicol. Estud.
[Online], Maringá, v. 25, n. 45235, p. 12-14, 2020. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.45235.. Acesso em: 15 jul. 2020.

10
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

OS DESAFIOS DA ATENÇÃO À CRISE EM SAÚDE MENTAL NA RUA: RELATO


DE EXPERIÊNCIA DO CONSULTÓRIO NA RUA RECIFE

Emerson Diniz da Silva¹; Ana Alice de Queiroz Ribeiro Barbosa²; Ednalva Maria de
Moura³

¹Agente Social do Consultório na Rua DS VI/VIII da Prefeitura do Recife; ²Assistente Social


do Consultório na Rua DS VI/VIII da Prefeitura do Recife; ³Agente Social do Consultório na
Rua DS VI/VIII da Prefeitura do Recife.
E-mail: atordiniz@hotmail.com

INTRODUÇÃO: As cidades brasileiras, entre elas o Recife, desenvolveram-se de forma


desordenada contribuindo para as desigualdades socioeconômicas, com evidentes injustiças
sociais. Destacam-se as pessoas em situação de rua, que sofrem um conjunto de violações de
direitos. No Recife, a pesquisa sobre a população de rua (2005), identificou 1.380, em
situação de rua, dentre esses sujeitos com todas as complexidades, destacam-se as pessoas
com transtornos mentais, que é um desafio para o cuidado em território, principalmente
quando encontram-se em desorganização psíquica e emocional. Atenção à crise em saúde
mental é um conjunto de práticas de cuidado voltadas às pessoas em crises psiquiátricas
agudas ou graves, seguindo os protocolos, todos os atores são acionados para a intervenção.
OBJETIVO GERAL: Contribuir para uma discussão ampla do cuidado da pessoa em
situação de rua com transtorno mental. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Realizar um relato de
experiência vivenciada pela equipe do Consultório na Rua em caso de transtorno mental e
atenção à crise. Mostrar a importância do trabalho articulado e em rede para os casos de
transtorno mental no território. METODOLOGIA: A equipe de Consultório na Rua (CnaR),
assim como outros dispositivos da rede de saúde mental, tem se empenhado nos casos de crise
em saúde mental na rua sempre numa ação integrada visando a preservação da vida e o direito
ao atendimento humanizado, sempre embasado na reforma psiquiátrica, avaliando o caso e os
riscos que o indivíduo se encontra, como em caso de estar atentando contra a própria vida ou
a de outrem. Portanto, mesmo com todos os protocolos e empenho (da rede), existem fatores
externos que colocam em xeque todo trabalho discutido e planejado entre as equipes. O
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU que é fundamental na condução do
cuidado, a dificuldade que se apresenta é quando depois de acionado pelas equipes, chega a
demorar horas para chegar no território é isso prejudica ação, este serviço aciona a guarda
municipal para acompanhar durante o processo, pois trata-se de uma situação envolvendo
violência, seja autoprovocada ou contra outros. RESULTADOS E DISCUSSÃO: No caso
apresentado da Srª A.P.B, a equipe do consultório na Rua recebeu diversas denúncias dos
moradores do bairro de Boa Viagem relacionadas a necessidade quanto aos cuidados em
saúde mental, ao qual relatava-se da mesma, comportamentos bastante agressivos, com
agressões físicas, jogando pedras e andando com espeto de Ferro, possuía um boneco de
pelúcia nos braços como uma forma de representar o filho que foi tirado. A usuária já é
atendida pela equipe do Consultório na Rua e pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), já
tinha passado por uma internação no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano no mês de

11
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

Novembro de 2019, também por conta das agressões às pessoas na comunidade, por ter
ocorrido um fatídico episódio em que a referida usuária lançou uma pedrada num idoso,
inclusive essa foto circulou em redes sociais através de populares, a exposição nas avenidas
no bairro de Setúbal, como também danos causados aos carros e nas vidraçarias através das
pedradas, a equipe do Consultório na Rua recebeu relatos que a mesma estava sofrendo
ameaças de morte devido a essa desorganização mental, quando ocorreu esta primeira
internação com permanência de quase três meses. A equipe ficou acompanhando a mesma no
hospital, realizou discussão de caso para a alta hospitalar, foi articulado o CAPS em que está
vinculada, como também a pessoa de referência da mesma no território. Na construção
coletiva do Projeto Terapêutico Singular (PTS) com a mesma, esta expressou que não tinha
desejo de ficar em CAPS, nem em abrigo e que no território ela tomaria as medicações e
seguiria no cuidado à saúde com a equipe. Passaram-se alguns meses sem a equipe encontrá-
la no território, pois tinha migrado para outro município, com outros usuários. Quando
retornou ao território, encontrava-se novamente desorganizada psicologicamente, no mês de
Agosto deste ano. Assim, as pessoas da comunidade retornaram a enviar para a equipe do
CnaR toda a situação de sofrimento em que a Srª A.P.B se encontrava na rua, em seguida a
referida equipe começou a realizar a busca ativa e de fato a mesma foi encontrada numa
situação bem delicada, e com uma desorganização mental muito expressiva, desta forma, foi
articulado o SAMU e a rede Psicossocial para o cuidado da mesma. CONCLUSÃO: A
atuação vivenciada com a Srª A.P.B, e de tantos outros casos em que por muitas vezes já se
consideram como se estivessem perdido suas identidades e singularidades, e que voltam a
sentir a dignidade recuperada ao serem cuidados e receberem atenção. Torna-se
imprescindível, este cuidado articulado e em rede, para que possa olhar para esta pessoa em
crise para além desta crise, em que o sujeito encontra-se em pauta, através da totalidade deste
ser, entendendo todo sofrimento físico, psíquico e social em que está inserido. "Valorizar o
sujeito em crise implica levar em consideração sua condição de ser humano, e não apenas de
doente e também não apenas como sujeito em crise; significa respeitar seu tempo, sua
individualidade e singularidade, que nem sempre vão de encontro com a expectativa da
equipe" (FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN. 2007,p. 37). O importante é o trabalho sendo
realizado junto e em diálogo, sempre encarando os desafios na linha construtiva do cuidado a
essa população tão esquecida e com seus direitos violados juntos com a rede procurar mudar
essas histórias tão desumanas e estigmatizadas, por uma sociedade onde poucos se colocam e
se importam com eles. Mesmo com toda fragilidade dos equipamentos, construir na linha do
cuidado acreditando e apostando na mudança de estigma e paradigmas que são etiquetas que a
sociedade e sua cultura desumana instalaram. Avante seguir como bravos guerreiros e
guerreiras, com trabalho coletivo, no cuidado, in loco, nas ruas, e com dedicação, mesmo com
toda sua singularidade e pluralidade do território e dessa população.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Cadernos de Atenção Básica, n. 34. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à


Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de

12
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas


Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 176 p. : il.

FERIGATO, Sabrina Helena; CAMPOS, Rosana T. Onoko; BALLARIN, Maria Luisa G. S.


O atendimento à crise em saúde mental: ampliando conceitos. Revista de Psicologia da
UNESP, 6(1), 2007.

O CUIDADO NA RUA E O ENFRENTAMENTO A PANDEMIA: O QUE NOS MOVE E NOS AFETA

Tigre, Heloisa Wanessa Araújo¹; Jorge, Jorgina Sales¹; Silva, Elis Jayane dos Santos¹;
Alves, Nemório Rodrigues2; Belo, Flaviane Maria Pereira¹.

¹Secretaria Municipal de Saúde de Maceió; ²Universidade Estadual de Ciências de Saúde de


Alagoas
E-mail: heloisa.tigre20@gmail.com

INTRODUÇÃO: Identificado em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, o novo


coronavírus, designado SARS-CoV-2, pode infectar pessoas de qualquer idade, sendo as mais
velhas e com doenças crônicas as que se encontram em maior risco. No primeiro trimestre de
2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a infecção por COVID-19 como
uma pandemia. As complicações graves e o número de mortes ao redor do mundo atualizam
diariamente à preocupação mundial com o avanço geográfico do vírus e com o aumento do
número de vítimas (HONORATO; OLIVEIRA, 2020). Levando isso em consideração, apesar
de o vírus propagar-se indistintamente entre as pessoas, é certo que as taxas de mortalidade
não são homogêneas e algumas populações estão sujeitas a maiores riscos, a exemplo, a
população em situação de rua. Para as pessoas que vivem nesse contexto a ameaça da
COVID-19 não é apenas viral, mas é também agravada pelas condições desiguais de vida da
população brasileira, que determinam e condicionam o processo saúde-doença. Segundo a Lei
nº 8080, no art 3º, à saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, sobretudo, a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; logo, considera-se
que os níveis de saúde da população expressam parte da organização social e econômica do
País (BRASIL, 1990). Nesse sentido, poder estar isolado em um ambiente domiciliar, ter
acesso a recursos e serviços de saúde, alimentar-se saudavelmente, possuir condições de
acessar água limpa e potável são elementos que devem ser considerados ao analisarmos os
modos pelos quais a população adoece. Para grupos com maiores riscos em função de suas
condições de vida, estratégias singulares, fluxos próprios e novos arranjos são fundamentais
para produção de uma resposta efetiva para prevenção e controle da COVID-19.

13
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

OBJETIVO: Descrever acerca das estratégias e “arranjos” utilizadas pelas equipes de


Consultório na Rua para o cuidado e enfrentamento da COVID-19 junto às pessoas em
situação de rua. METODOLOGIA: Em decorrência do avanço da pandemia no cenário
nacional, iniciamos em fevereiro de 2020 discussões entre a gestão e equipes de Consultório
na Rua (eCR) a fim de construir ações que auxiliassem o cuidado das pessoas em situação de
rua (PSR) visando a prevenção e controle da COVID-19 não somente para os usuários(as),
como também para os (as) trabalhadores(as) do serviço. Diante das especificidades do
contexto de saúde e de vida das PSR, foi essencial dialogar e propor algumas aquisições e
"arranjos" que envolveram desde a qualificação da equipe e garantia de equipamento de
proteção individual (EPI) ao acompanhamento sistemático dos casos suspeitos e confirmados
de COVID-19. A experiência ocorreu no cenário da rua, nos locais assistidos pela equipe de
Consultório na Rua de Maceió, e tem por objetivo relatar as estratégias e “arranjos” utilizadas
pelas eCR para o cuidado e enfrentamento da COVID-19 junto às pessoas em situação de rua.
Tendo como participantes da experiência os profissionais da eCR e a população em situação
de rua. Algumas ações já integravam a prática interprofissional das eCR, sendo necessário
certas adequações, como: higiene adequada do transporte e dos profissionais, distanciamento
social, reorganização dos campos de atuação, paramentação e desparamentação correta,
objetivando, sobretudo, a continuidade das atividades desenvolvidas de escuta qualificada,
promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, ressocialização, vacinas, curativos,
consultas de enfermagem, pré-natal, acompanhamento de casos de tuberculose e IST’s.
Ademais, foram acionadas parcerias intra e intersetoriais para viabilizar melhorias de higiene
e limpeza dos espaços urbanos tidos como moradia da PSR, bem como local para isolamento
em decorrência de casos suspeitos e confirmados de COVID-19. As eCR dispensaram
materiais e orientações na rua para a PSR sobre a utilização de garrafas pet com água e sabão,
além de máscaras, álcool 70%, materiais de higiene e limpeza, grande parte doados pela
sociedade civil e organizações não governamentais, ferramentas pensadas como alternativa
para o cuidado e prevenção da contaminação por COVID-19. Ademais, nos territórios mais
vulneráveis, às eCR se disponibilizaram a entregar refeições prontas para amenizar a fome
agravada pelo fechamento do comércio local e diminuição da circulação de pessoas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são arranjos
organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que,
integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a
integralidade do cuidado (Ministério da Saúde, 2010 – portaria nº 4.279, de 30/12/2010).
Diante desse conceito, no contexto da COVID-19, desde a gestão até as ações das eCR,
deparou-se com alguns desafios para garantir a integralidade do cuidado às pessoas em
situação de rua. Considerando especificamente o contexto das eCR, os impasses estiveram
relacionados tanto à adaptação e reorganização das ferramentas de trabalho, quanto a alguns
dilemas encontrados no dia-a-dia com os (as) usuários (as). Tendo em vista a perspectiva de
um sistema integrado de saúde, no primeiro caso listamos algumas adversidades:
disponibilidade de EPI para todos os profissionais do CnaR, orientação quanto a utilização e
descarte adequados, assim como maneiras de lidar com o desconforto diário do uso do EPI
nos espaços da rua; distanciamento social entre eCR e usuários, com limitações de contato
durante a abordagem; afastamento de trabalhadores nos grupos de risco e acometidos pela
COVID-19, além de sofrimento mental provocados pelo medo, insegurança, sobrecarga física
e psicológica devido exposição ao risco de contaminação; falta de equipamentos e estrutura

14
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

física inadequada com salas pequenas e pouca ventilação; transporte sem higienização
adequada, articulação intersetorial para transporte dos casos suspeitos ou confirmados, locais
para isolamento e assistência dos mesmos; evasão da PSR de serviços de saúde em
decorrência da dificuldade de compreensão de profissionais sobre a cultura na rua;
continuidade do cuidado da PSR de outras comorbidades. Quanto aos desafios externos,
observamos um significativo aumento da PSR, entre essa, houve também certa dificuldade de
compreensão da probabilidade de risco, alguns (as) usuários (as) por se encontrarem
clinicamente estáveis, mesmo com o diagnóstico positivo para COVID-19, apresentavam
resistência ao tratamento e isolamento. Nesse caso, cabe considerarmos situações em que
ocorre o uso constante de substâncias psicoativas (SPA) e a possível restrição e abstinência
atrelada ao tratamento. Ademais, apontamos como potencialidades: integração e articulação
entre as eCR e rede intersetorial; monitoramento semanal da dispensação de EPI;
fortalecimento de redes parceiras e solidárias; contratação de profissionais; aprendizados,
trocas, cuidado e suporte emocional entre as eCR e maior visibilidade do trabalho na rua. A
interprofissionalidade e as práticas colaborativas entre as eCR sem dúvida fortaleceram ainda
mais o trabalho, favorecendo a busca pelo cuidado integral ao usuário sem fragmentar,
mesmo em um contexto de muitas fragilidades e fragmentações no cuidado em geral.
CONCLUSÃO: É perceptível que ao lidar com algo novo, fomos impulsionados (as) a criar,
recriar, improvisar, inventar e se reinventar, inovar, acreditar que é possível fazer e produzir
resultados positivos apesar de tantas lacunas, faltas, ausências e muitas incertezas. A partir de
agora teremos uma nova realidade no contexto do trabalho das equipes de Consultório na Rua
e, certamente, alguns desafios pela frente para a adequação e adaptação da equipe e dos
usuários do serviço a essa nova realidade.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da Saúde. Dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário oficial da união,
Brasília, set. 1990.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 4.279 de 30 de Dezembro de 2010. Estabelece


diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS), 2010.

Honorato, B.E.O; Oliveira, A.C.S. População em situação de rua e COVID-19. Revista de


Administração Pública. Rio de Janeiro 54(4):1064-1078, jul. - ago. 2020.

15
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

EIXO 02 - EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO


CONTEXTO DA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA

16
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

A EXPERIÊNCIA DE UMA PSICÓLOGA RESIDENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA


NOS CONSULTÓRIOS NA RUA DE SALVADOR

Vitória Virginia Sousa dos Santos¹; João André Santos de Oliveira²

¹Psicóloga Residente em Saúde da Família do Programa de Residência Multiprofissional em


Saúde da Família pela FESF-SUS/Fiocruz; ²Médico da Equipe do CnaR de Itapuã-Salvador e
Professor Adjunto da FMB/UFBA.
E-mail: vitoriavirginia.ssantos@gmail.com

INTRODUÇÃO: O Consultório na Rua é caracterizado como uma equipe de atenção básica


para populações específicas. Esta estratégia foi incorporada para ampliação do acesso e
cuidado integral à saúde da população em situação de rua no primeiro nível de assistência pela
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2011. Até o início do corrente ano atuavam
em Salvador três equipes de Consultório na Rua (eCR), entretanto, em decorrência da
pandemia do novo coronavírus, a gestão municipal pressionada por representações locais do
Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) lançou no dia 16 de abril o projeto
Girassóis de Rua, objetivando implantar duas novas eCR e ampliar as já existentes. A
experiência apresentada contempla o estágio eletivo do Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Família da Fundação Estatal de Saúde da Família (FESF-
SUS), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que propõe à residente do
segundo ano uma imersão de oito semanas em um campo de prática de sua escolha. Psicóloga
de formação, busco integrar os interesses pessoais no fazer profissional desde o início da
minha trajetória acadêmica, através de espaços que permitem o contato com populações em
contexto de vulnerabilidade social e o desenvolvimento do exercício ético e político da
psicologia, assim como ocorreu na vivência aqui compartilhada. OBJETIVO: Refletir sobre
as experiências nas equipes de Consultório na Rua de Salvador-BA e seus atravessamentos na
minha formação em Saúde da Família. METODOLOGIA: O estágio nos Consultórios na
Rua contemplou a passagem, com duração de uma semana, em quatro das cinco eCR
espalhadas no território da cidade de Salvador-Bahia e posterior aprofundamento em uma
equipe por mais quatro semanas. Por meio de observação participante e contribuição ativa, foi
possível mergulhar no processo de trabalho das equipes, bem como nas atividades por elas
realizadas. A partir dessa imersão pude registrar em um diário de campo as experiências
vividas no estágio, o que contribuiu com a compreensão das transformações pelas quais
estava passando, tanto na forma de ser quanto de me perceber como trabalhadora da atenção
básica. Levando em consideração a utilização do relato de experiência como recurso
metodológico, cabe salientar que esta é sempre inundada pelo sentido que o sujeito lhe
confere. Bondía (2002) descreve a experiência como o modo particular como cada pessoa
vivencia um determinado encontro, ela produz o “saber da experiência” que “se dá na relação
entre o conhecimento e a vida humana, singular e concreta”. Este saber é particular, finito,
subjetivo e pessoal. Assim, esse relato versa sobre o sentido que conferi à minha experiência
nas eCR. Registro o que me tocou, os afetos suscitados pelos encontros, o fazer da clínica na

17
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

rua e o modo de produzir cuidado atrelado ao processo de trabalho das equipes.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram múltiplas as inquietações que marcaram o contato
com o Consultório na Rua. A primeira delas foi o fato do cuidado ser ofertado, na maioria das
vezes, sem que houvesse a procura da/o usuária/o pelo serviço, como ocorre nas Unidades de
Saúde da Família por exemplo. Isso em alguma medida me causou desconforto e sensação de
invasão de privacidade por interromper as atividades das pessoas que, embora estando em
espaços públicos, se encontravam em momentos privados. Essa percepção chegou com
expressividade na primeira ida ao campo, entretanto, foi ganhando outro significado
concomitantemente com a compreensão sobre a clínica na rua, as possibilidades, limitações e
desafios da atuação nesse contexto. O fazer em saúde engendrado pelas equipes lança mão do
vínculo, do respeito a pessoa, das relações horizontalizadas e da corresponsabilização na
produção de saúde, que ultrapassam os procedimentos clínicos hegemônicos e quando
realizado de forma ética produz relações sólidas, fazendo com que as pessoas desejem e
reconheçam o serviço. Dimenstein e Macedo (2009) ao citarem Foucault (2005, 2008),
reforçam que o fazer operacionalizado no campo social exige transpor o saber técnico, o qual,
solitário, tende a produzir cuidado na perspectiva da “tutela e da desapropriação do saber do
outro sobre si próprio”, tecendo “mecanismos de regulação e vigilância da vida”. Esse aspecto
toca principalmente a dimensão subjetiva de cada profissional, visto que a produção do
cuidado também produz sujeitos, como afirma Franco e Merhy (2011). É no trabalho em ato,
nas relações do cotidiano e seus desdobramentos que o fazer em saúde ganha vida e pouco a
pouco é costurado. Na dimensão da micropolítica, nas potências (e também limitações) dos
encontros entre as pessoas e as inúmeras possibilidades de criação, o que está posto em
palavras ganha corpo e movimento (FRANCO; MERHY, 2017). A dinamicidade e
flexibilidade da rotina laboral, o reconhecimento de pares e o convite à reflexão sobre as
problemáticas que circundam o uso de substâncias psicoativas também foram aspectos
importantes que estiveram presentes na experiência. Tal processo de análise corroborou para a
produção do saber no âmbito profissional, do trabalho em equipe, da produção do cuidado e
da função política do serviço, que levaram ao início da construção da identidade profissional,
atrelada a mobilizações e desconstruções pessoais, me fazendo revisitar a forma como
compreendo a minha própria inserção e a construção das minhas praticas de cuidado na
atenção básica. CONCLUSÃO: Entrar em contato, afetar e ser afetada pelas pessoas e pela
própria dinâmica do serviço me tocou em inúmeros pontos. A trajetória das equipes de
Consultório na Rua de Salvador convidou-me para uma vivência fluída em um “não lugar”,
facilitando um espaço de descobertas, (des)construções e (des)aprendizados. Sutilmente, os
elementos do cotidiano, das relações, das instituições e do meu ser pessoa, desvelaram-se
ganhando cores e sentidos, transformando-se em saberes, reconhecimento de pares, energia e
desejo de permanecer naquele (agora) lugar. A passagem pelas eCR foi também uma
passagem de transição rumo à construção de uma percepção de mim mais autêntica, que
gradualmente tem sido desenhada. Assim, cada encontro genuíno e inteiro ressoou em ondas
de afetos mútuos, os quais transpuseram a ideia simplista de uma experiência voltada para
aquisição de conhecimentos e formação profissional. O produto que dela floresceu supera por
completo os objetivos iniciais e aponta para uma (trans)formação pessoal, subjetiva,
complexa e profunda.

18
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

REFERÊNCIAS:

BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras.
Educ., Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, Apr. 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
24782002000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 set. 2020.
ARAÚJO, Maristela D.; FARIA, Helaynne X. Uma Perspectiva de Análise sobre o Processo
de Trabalho em Saúde: produção do cuidado e produção de sujeitos. 2010. Disponível em: <
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010412902010000200018&script=sci_abstract&tlng=
pt > Acesso em: 21 set. 2020.
DIMENSTEIN, Magda; MACEDO, João Paulo. Psicologia e a produção do cuidado no
campo do bem-estar social. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
71822009000300002&script=sci_abstract&tlng=es> Acesso em: 13 set. 2020.
FRANCO, T.B.; MERHY, E.E. El reconocimiento de la producción subjetiva del cuidado.
Salud Colectiva (Online), Buenos Aires, vol. 7(1), p.9-20, Enero/Abril, 2011. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672010000200025>
Acesso em: 24 set. 2020.
FRANCO, Túlio Batista; MERHY, Emerson Elias. Reestruturação Produtiva e Transição
Tecnológica na Saúde. 2017. Disponível em: <http://www.professores.uff.br/tuliofranco/wp-
content/uploads/sites/151/2017/10/32reestruturacao_produtiva_e_transicao_tecnologica_na_s
aude_emerson_merhy_tulio_franco.pdf> Acesso em: 13 set. 2020.

19
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

ESTÁGIO CURRICULAR NA ATENÇÃO BÁSICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA


DE UM RESIDENTE DE ODONTOLOGIA EM UM CONSULTÓRIO NA RUA

Cléverton da Silva Santos1; Márcia Maria Dantas Cabral de Melo1; Maria do Socorro
Alves de Almeida2; Mônica Maria Motta dos Reis Marques2.

¹Universidade Federal de Pernambuco; ²Secretaria de Saúde do Recife.


E-mail: cleverton_ssilva@hotmail.com

INTRODUÇÃO: Durante a Residência em Saúde da Família, os profissionais passam por


alguns campos de estágio acompanhados dos trabalhadores do serviço de saúde, chamados de
preceptores, como parte da formação prática da especialização. Esses estágios proporcionam
ao profissional a oportunidade de vivenciar a realidade de outros pontos da rede, aproximando
a teoria e a prática, bem como aprimorar habilidades técnico-científicas, reforçando os
aspectos bioéticos e a reflexão sobre o cuidado cotidiano nos serviços de saúde. Neste
contexto, foi escolhido como um dos estágios na atenção básica uma equipe do consultório na
rua na cidade do Recife. OBJETIVO: Relatar as atividades e a experiência de um estágio de
rede na atenção básica de um residente em odontologia em saúde da família, mais
especificamente o consultório na rua. METODOLOGIA: Trata-se de um relato experiência,
desenvolvido no consultório odontológico da Upinha do Pilar, juntamente com a equipe do
Consultório na Rua (CNaR), ambos ligados ao Distrito Sanitário I, pertencente à secretaria de
saúde do Recife, durante o período de agosto e setembro de 2020. RESULTADOS E
DISCUSSÃO: A partir das propostas do estágio, foram feitas atividades pertinentes ao CNaR,
sendo que as de maior destaque e participação do Residente foram a busca ativa de usuários
em situação de rua e as consultas e atendimentos ambulatoriais, além da educação em saúde
feita concomitantemente. As saídas para a rua das equipes do CNaR eram no período da tarde
e noite, sendo o turno noturno específico para busca ativa de novos casos, criação de vínculos,
redução de danos junto a população usuária de álcool e outras drogas, visitas a abrigos e
conhecimento do território por parte dos residentes. A busca ativa feita pelos profissionais de
saúde do CNaR orientava os usuários a procurarem a unidade de saúde para receber o
acompanhamento pela equipe de saúde da ESF. Além disso, foram realizados testes rápidos
para infecções sexualmente transmissíveis em locais estratégicos na rua, como praças,
quiosques e outros equipamentos sociais. No consultório odontológico da USF, os pacientes
que procuravam atendimento tinham as principais queixas: dor de dente, fratura coronária,
abscesso dentário, gengivite e periodontite e condições bucais associadas ao uso do tabaco,
álcool e outras drogas; outros procedimentos como prescrição de medicamentos e curativos de
urgência; interpretação de exames laboratoriais, tomadas radiográficas e avaliação de queixas
agudas também era realizado dentro do consultório odontológico. Durante as consultas, foi
possível desenvolver habilidades técnicas, criar vínculos com essa população, executar escuta
ativa, humanização e análises críticas sobre a realidade destas pessoas. Durante as abordagens
na rua, foi possível acompanhar alguns usuários que foram a unidade indo ao encontro deles e
ratificando sempre as orientações e educação em saúde bucal, proporcionando uma vivência

20
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

rica e singular. Além disso, foi possível identificar que o Cirurgião-Dentista oportuniza
articulação com demais serviços da rede intersetorial para discussão de casos e
encaminhamentos. Também proporciona, em rede coletiva, a oferta de cuidados de saúde aos
usuários em situação de maior vulnerabilidade. CONCLUSÃO: Diante desta experiência em
um Consultório na Rua, entende-se o estágio curricular como fundamental à formação
acadêmica, principalmente quando de frente a populações em situações de vulnerabilidade,
provocando o aprofundamento da relação teoria-prática, além de possibilitar a aproximação e
comunicação com a equipe multiprofissional. Ainda proporciona o desenvolvimento de olhar
crítico e de tomada de decisões, o aperfeiçoamento de técnicas e atividades assistenciais, bem
como das habilidades de comunicação, administração e gerenciamento.
Palavras-chave: Odontologia, Educação em Saúde bucal, Consultório na rua, Saúde Pública.

REFERÊNCIAS:

ALVES, Maria Izabel de Mendonça; VITORINO, Gabriel Lobo Gomes; LIBERATO, Thaysa
Priscilla Lacerda..A importância dos profissionais da saúde bucal no programa Consultório na
Rua: Revisão Narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde/Electronic Journal Collection
Health, 2019, Vol.Sup.35, e1428, Página 1 de 7;
BRASIL. 2009. In: Pesquisa nacional sobre a população em situação de rua. Disponível em:
www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Livros/Rua_aprendendo_a_cont
ar.pdf.Acesso em: 24 de set. 2020;
______. 2019. In: Política nacional sobre drogas. Disponível em: www.in.gov.br/materia/-
/assetpublisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/71137357/dole-2019-04-11-decreto-n-9-761-de-
11-de-abril-de-2019-71137316.Acesso em:24 de set. 2020;
______. MINISTERIO DA SAÚDE. Manual sobre à saúde junto a população em situação de
rua. 1nd ed. Brasilia: Ministério da Saúde, 2012. 76-77;
HALLAIS, Janaína Alves da Silveira; BARROS, Nelson Filice de. Consultório na Rua:
visibilidades, invisibilidades e hipervisibilidade. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro,
31(7):1497-1504, julho, 2015;
SILVA, Lílea Marianne Albuquerque; MONTEIRO, Ive da Silva; ARAUJO, Ana Beatriz
Vasconcelos Lima de. Saúde bucal e consultório na rua: o acesso como questão central da
discussão. Cadernos de Saúde Coletiva, 2018, Rio de Janeiro, 26 (3): 285-291;

21
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

PROJETO LEITURA NA RUA

Ana Alice de Queiroz Ribeiro Barbosa¹

¹Assistente Social do Consultório na Rua DS VI/VIII da Prefeitura do Recife.


E-mail: anaalicedequeiroz@gmail.com

INTRODUÇÃO: Este Projeto apresenta-se como uma iniciativa de ofertar cuidado à


população em situação de rua através da arte e incetivo à leitura, a partir do momento do
acolhimento e da construção do vínculo. O acolhimento é uma das principais diretrizes éticas
da Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Em que
apresenta-se como um espaço, um momento de recepção do usuário(a) ao serviço da Atenção
Básica, seja na unidade de saúde, em domicílio, na rua… Onde o principal torna-se a
disposição ao encontro e favorecimento da escuta qualificada (das demandas, sentimentos,
dores e sentidos da vida) que o usuário(a) traga como questões de saúde e de uma forma mais
ampla, de vida. Assim, a partir do acolhimento, tem-se o percorrer no âmbito da assistência à
saúde que precisa ser resolutiva, e para tanto, faz-se necessário a construção de vínculo com a
pessoa e traçar o projeto terapêutico singular, que será seu percusso no caminho do cuidado,
articulando os serviços da rede de saúde e intersetorial, numa perspectiva de que sua história,
contexto familiar, comunidade em que está inserido, território, todos compõem elementos que
precisam ser dialogados e a arte torna-se uma ferramenta de extremo valor neste processo.
OBJETIVO GERAL: Ofertar cuidado à população em situação de rua através da arte e
incetivo à leitura. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Realizar contação de história a partir dos
livros e vivências reais; Incentivar à leitura e retorno aos estudos como parte da construção do
projeto terapêutico singular; Promover um espaço lúdico que favoreça o momento da escuta e
acolhimento. 3. METODOLOGIA A ideia foi construída, primeiramente, como uma forma de
facilitar momentos lúdicos e de diálogos numa perspectiva de pensar em outras formas de ver
a vida, trazendo a tona o presente, passado e futuro, numa mistura de fantasia e realidade,
falar sobre cultura, literatura e histórias de vida, a partir dos livros, cadernos e outros
materiais didáticos levados para a rua. Foi construído como uma bolsa com os livros, que são
fáceis de carregar para o território e em qualquer lugar, se abre e há uma exposição dos livros,
em que a pessoa pode escolher livremente ao que se interessar e neste momento há uma troca
interessante de diálogos e experiências de vida, construções afetivas são favorecidas num
terreno fértil de acolhimento e reconhecimento de si e do outro, com respeito aos saberes de
cada um. A metodologia tem ênfase no atendimento espontâneo e individual, que acontece em
ato e no momento do encontro, mas também se propõem em alguns momentos para realização
de contação de história, encenação teatral dos textos lidos, recital de poesias, roda de diálogos
e produção de oficina a partir da leitura, sendo atividade coletiva e como forma de
proporcionar educação em saúde. Os livros utilizados são arrecadados através de doações de
materiais para a população em situação de rua. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Devido à
desigualdade social existente no Brasil, consequentemente uma grande parte das pessoas têm
dificuldades de acesso a livros ou mídias digitais, principalmente para as pessoas que estão

22
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

em situação de rua, em extrema vulnerabilidade social. Assim torna-se fundamental


proporcionar ações concretas que fomentem a promoção e acesso à cultura, através da leitura,
literatura, artes em geral, que acabam tendo rebatimentos diretos e indiretos nos cuidados em
saúde, é preciso entender este como um processo a curto e médio prazo, sem perder de vista o
horizonte das discussões e construções coletivas no âmbito das políticas públicas de forma
transversal e intersetorial, entre cultura, saúde, habitação, esporte e lazer, emprego e renda…
Para uma transformação da realidade destas pessoas que encontram-se nas ruas. Estas práticas
de cuidado no território, estimulam a atenção básica a construir e renovar abordagens numa
perspectiva de reconhecimento dos saberes das pessoas neste espaço de produção de vida,
com incentivo a formação de um pensamento crítico e questionador, visando a autonomia do
sujeito e o cuidado que se pauta na liberdade e respeito às diversidades e “que nos impulsiona
para uma cultura do cuidado em instituições abertas e com um estilo coletivo de trabalho”,
concordando com Soalheiro (2017)quando defende o cuidado em saúde mental
desinstitucionalizado e na rede básica. Desta forma, muitas questões são apontadas nesta
perspectiva, no sentido também de conseguir realizar uma leitura quanto ao que envolve
adoecimento e sofrimento psíquico, pois aspectos como a cultura, ambiente, acesso a direitos
e estrutura social, por exemplo, produzem efeitos extremamente relevantes à saúde, em que o
horizonte aponta para a eficácia sendo um cuidado interdisciplinar, integrado e territorial, a
partir da produção de vínculo, afeto e cuidado. ‘Qualquer abordagem assistencial de um
trabalhador de saúde junto a um usuário-paciente produz-se através de um trabalho vivo em
ato, em um processo de relações, isto é, há um encontro entre duas “pessoas”, que atuam uma
sobre a outra, no qual opera um jogo de expectativas e produções, criando-se
intersubjetivamente alguns momentos interessantes, como os seguintes: momentos de falas,
escutas e interpretações, nos quais há a produção de uma acolhida ou não das intenções que
essas pessoas colocam nesse encontro; momentos de cumplicidades, nos quais há a produção
de uma responsabilização em torno do problema que vai ser enfrentado; momentos de
confiabilidade e esperança, nos quais se produzem relações de vínculo e aceitação.’ (
MERHY 2004). A partir desta abordagem mútua, em que o trabalhador em saúde afeta o
outro ao mesmo tempo em que também é afetado, em que há troca de conhecimentos,
experiências, saberes, afeto e construção de um cuidado compartilhado e que faça sentido às
pessoas envolvidas nesta relação. A ideia proposta pretende proporcionar e fomentar
discussões sobre a vida das pessoas que se encontram em situação de rua, em que ali
estabelecem suas as relações sociais, histórias, dores e afetos a partir deste lugar. Resgatar
memórias afetivas e reflexões sobre o futuro, na coordenação do cuidado a partir da
construção de um plano singular que seja terapêutico e transformador para o sujeito em ação.
Segundo Paulo Freire (2000) “O mundo não é. O mundo está sendo”, assim, torna-se
imprescindível entender que as pessoas, a vida, as relações, o território, enfim, são dinâmicos,
portanto a atuação precisa acompanhar estes processos de transformações. 5. CONCLUSÃO:
No mundo há um grande investimento em tecnologias modernas (tecnologias duras), mas o
que não se pode esquecer ou perder de vista é o investimento em tecnologias leves, em que
torna possível o encontro, escuta, empatia, reconhecimento do outro, suas histórias e a
importância disso para a transformação de si e num coletivo um repercute para uma
transformação social. A leitura é um investimento na implementação de tecnologias leves no
cotidiano de trabalho na rede básica de atenção à saúde. É preciso estimular nas pessoas um
momento de reflexão crítica quanto a realidade em que se estão inseridas para incentivar a

23
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

transformação da realidade, estimular construção em coletividades. Num cuidado pautado na


realidade e na liberdade, mesmo assumindo os riscos que esta oferece, por mais difícil que
seja em alguns momentos, com certeza é uma aventura maravilhosa este caminho a ser
percorrido, de plantar as sementes do cuidado, da liberdade e da autonomia.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Acolhimento à demanda espontânea / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção Básica. – 1. ed.; 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde,
2013. 56 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica; n. 28, V. 1)

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2000.

MERHY, Emerson Elias. O ato de cuidar: a alma dos serviços de saúde. In: BRASIL.
Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. Departamento
de Gestão da Educação na Saúde. Ver-SUS Brasil: caderno de textos. Brasília: Ministério da
Saúde, p.108-137, 2004.

SOALHEIRO, Nina (org). Saúde Mental para a tenção Básica/organizado por Nina Soalheiro.
Rio de Janeiro: Editora FioCruz, 2017. 249 p.:il tab.

24
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

EIXO 03 - INTERSETORIALIDADE

25
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

FORMULAÇÃO DE INSTRUMENTO DE DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS


DETERMINANTES SOCIOAMBIENTAIS DE SAÚDE NA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DO RECIFE

Ivyson da Silva Epifânio¹; Ana Alice de Queiroz Ribeiro Barbosa²; Daniel Friguglietti
Brandespim³

¹Universidade Federal Rural de Pernambuco; ²Prefeitura da Cidade do Recife; ³Universidade


Federal Rural de Pernambuco.
E-mail: Ivyson_7@hotmail.com

INTRODUÇÃO: A saúde é compreendida como direito de todos e dever do Estado, deve ser
garantida mediante políticas sociais e econômicas que proporcionem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário as ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Viver nas ruas aumenta a vulnerabilidade
dos indivíduos devido à exposição a vários fatores de risco presentes nestes locais e que os
colocam como alvo de doenças. É notório o crescimento do número de indivíduos vivendo em
situação de rua nos grandes centros urbanos desprovidos dos seus direitos básicos de
cidadania, sendo um desafio para a rede de saúde absorver e ter resolubilidade dos problemas
inerentes dessa situação (BODSTEIN et al., 2017). Nas últimas décadas a temática
relacionada à população em situação de rua vem sendo discutida nas políticas sociais de
forma mais ampla, não sendo essa população apenas associada à ausência de moradia, pois
estes indivíduos encontram-se intrinsicamente relacionados à um processo de exclusão social,
sendo importante direcionar discussões no campo dos direitos humanos e sociais que são
violados nesta população (MONTEIRO, 2019). O profissional de saúde deve estar capacitado
para detectar as interações entre a saúde e as condições ambientais onde os indivíduos vivem,
buscando interligar o processo de doença à presença de exposição aguda ou crônica a
determinantes ambientais. A influência do ambiente, não sendo reconhecida, no processo
saúde-doença é danosa à população, pois excluir a condição sanitária que o indivíduo vive
pode retardar ou impossibilitar as ações de vigilância, prevenção e promoção da saúde, ou até
mesmo impossibilitar um tratamento eficiente devido ao indivíduo não ter a resposta esperada
da terapêutica, uma vez que este continua exposto ao evento danoso à saúde. Desta forma,
negligenciar a influência do ambiente ocasiona um grande prejuízo à saúde pública onde a
população continuará em situação de risco iminente e possivelmente fatal caso as medidas
corretivas não sejam tomadas (GOUVEIA E ALONZO, 2017). OBJETIVO GERAL:
Formulação de instrumento de diagnóstico situacional dos determinantes socioambientais de
saúde na população em situação de rua na Cidade do Recife. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Descrever a exposição a determinantes socioambientais do processo saúde-doença em
população em situação de rua na cidade do Recife. Estimular a integração entre a vigilância e
atenção primária em saúde para a prática do cuidado em população em situação de rua na
cidade do Recife. METODOLOGIA: O estudo foi realizado na cidade do Recife capital do
estado de Pernambuco que possui um território de 218,843 km² e população de 1.653.461

26
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

estimada no ano de 2020 (IBGE, 2020). A pesquisa envolve os profissionais de saúde e


população em situação de rua da cidade do Recife, tendo como interlocutores um médico
veterinário mestrando do programa de Pósgraduação em Ciência Animal Tropical e uma
assistente social mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Única e
integrante do consultório na rua do Distrito Sanitário (DS) VI da Prefeitura da Cidade do
Recife (PCR). Para formulação do instrumento de diagnóstico situacional dos determinantes
socioambientais de saúde na população em situação de rua foi utilizado como base a ficha de
diagnóstico da interação humano-animal-ambiente descrita por Rossa e colaboradores
(ROSSA, RIGON e GARCIA, 2019) que através da observação direta da população em
situação de rua no acompanhamento de suas atividades cotidianas e condições ambientais dos
locais em que vivem será observado a presença, ausência e condições de saúde de animais
domésticos, silvestres, vetores de enfermidades zoonóticas e arboviroses, presença de animais
peçonhentos, sinantrópicos, entulho e lixo. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Este
instrumento (Figura 1) permite a detecção dos reais problemas enfrentados pela população em
situação de rua fazendo com que medidas e ações possam ser implementadas pelo município
para minimizar os danos inerentes a essa condição de vida, já que a falta de comprovação de
residência por esta população é um grande desafio no campo da saúde, pois é o principal
entrave para a garantia de acesso aos serviços de saúde além disso, os tratamentos de saúde,
na maioria das vezes, não levam em consideração as condições de vida desses indivíduos e
contam com profissionais de saúde despreparados para o acolhimento desse usuário (COSTA,
2005). É importante destacar a intersetorialidade multiprofissional unindo instituições de
ensino superior e órgãos públicos em prol de uma saúde de qualidade e acessível a toda a
população, articulando toda a Rede de Atenção à Saúde (RAS) como preconizado pelo
Ministério da Saúde (MS) prestando atenção integral a pessoas em situação de rua, tendo
como base de sua prática a construção de vínculo, de maneira processual, com objetivo de
promover cuidado longitudinal a esta parcela da população que historicamente é distanciada
dos serviços de saúde (Brasil, 2012). A análise dos determinantes socioambientais na
população em situação de rua, com o envolvimento da medicina veterinária integrado com a
assistência social na equipe multidisciplinar, com um olhar diferenciado para a forma de
interação entre homem-animalambiente nesta população é inédito na cidade do Recife,
contribuindo assim para o exercício efetivo das práticas da saúde única, corroborando com à
integralidade, princípio II do SUS, não apenas na assistência à saúde, mas também
considerando a vulnerabilidade da população em situação de rua, estando a saúde animal e a
saúde ambiental intrinsicamente relacionada a saúde humana, necessitando ações em saúde
pública que envolva esta tríade. Durante a realização da aplicação em campo do referido
instrumental, tem-se observado a presença de animais de estimação entre a população em
situação de rua, sem a devida vacinação, pois ainda não há um fluxo instituído voltado às
especificidades de atendimento a este público, tendo em vista a importância de ações pautadas
em política de equidade. Outra observação, refere-se à identificação de animais sinantrópicos
que podem causar danos à saúde do homem, como pombos, ratos, baratas e um ambiente
contendo lixo acumulado, esgoto à céu aberto, poções de água acumulada (com risco à
formação de criadouro e foco de dengue), estando muitas vezes fora de área adstrita de
unidades de saúde, permanecendo assim sem os cuidados e atenção necessária, tornando-se
urgente a inserção desta pauta dentro da política pública voltada à população em situação de
rua. Relatos de experiências permitem verificar a importância da inserção do médico

27
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

veterinário na atenção primária em saúde, melhorando a qualidade do atendimento no


território frete às demandas das equipes, a partir da visão ampliada sobre a saúde ambiental
pelo médico veterinário, aumentando o escopo das ações e atividades de promoção,
prevenção, redução de danos por ações de educação em saúde no Sistema Único de Saúde
(SUS) (EPIFÂNIO; BRANDESPIM, 2019; GONÇALVES et al., 2019). CONCLUSÃO:
Portanto, fica provado a importância da atuação multiprofissional e intersetorial em prol de
uma saúde de qualidade, principalmente quando envolve usuários de alta vulnerabilidade,
como a população em situação de rua. Este instrumento idealizado pode servir diagnóstico
dos fatores socioambientais envolvidos no processo saúde-doença e através disso propor a
elaboração de políticas públicas efetivas que reflitam a demanda desta população atendendo
as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), como integralidade e equidade,
proporcionando uma melhor qualidade de vida aos usuários. O instrumental criado poderá ser
utilizado como modelo por outras equipes da atenção primária em saúde no território para
contribuir com o trabalho dos profissionais, para viabilizar a identificação no território das
demandas a partir desta relação da saúde humana, animal e o meio ambiente em que se
encontra a população atendida. Isso engloba um cuidado integral em que o sujeito é
compreendido dentro das suas especificidades e ao mesmo tempo em que compõe um
coletivo e encontra-se inserido numa determinada comunidade e ambiente.

REFERÊNCIAS:

BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Brasília:


Senado Federal, 1988.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 122, de 25 de jan de 2011. Diretrizes de


organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua, Brasília, DF, jan 2012.

BODSTEIN, R. et al. (Coord.). Produzindo saúde nas ruas: o trabalho das equipes de
consultórios na rua. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2017.

COSTA, A. P. M. População em situação de rua: contextualização e caracterização. Revista


Virtual Textos e contextos, n 4, p. 1-15, 2005.

EPIFÂNIO, I. S.; BRANDESPIM, D. F. Contribuição do médico veterinário na atenção


primária à saúde: um relato de experiência. ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, v.35, n.2,
p. 50-55, 2019.

28
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

GONÇALVES, S. R. F. et al. O médico veterinário no núcleo ampliado de saúde da família e


Atenção básica (NASF-AB). Rev. Ciên. Vet. Saúde Públ., v.6, n. 2, p. 388-396, 2019.

GOUVEIA, N. ALONZO, H. Universidade do Brasil. Instituto de Estudos em Saúde


Coletiva. Curso de especialização em Vigilância em Saúde Ambiental. Saúde e Ambiente.
Saúde humana e processos de contaminação ambiental, 2017.

MONTEIRO, M. M. F. C. A dimensão da intersetorialidade nas práticas do consultório na


rua: a experiência do Rio de Janeiro. 2019. 107 f. Dissertação (Mestrado) Fundação Oswaldo
Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2019.

ROSSA KA, RIGON SA, GARCIA RCM. Promoção da saúde: um dos pilares da Medicina
Veterinária do Coletivo. In: Garcia RCM, Calderón N, Brandespim DF. Medicina Veterinária
do Coletivo: fundamentos e práticas. São Paulo: Integrativa Vet; 2019. p. 39-46.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE. Disponível em:


https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pe/recife.html Acessado em: 24/09/2020.

29
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

A GENTE QUER COMIDA, DIVERSÃO E ARTE: AS DIFICULDADES EM


DESENVOLVER RESPOSTAS INTERSETORIAIS A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO
DE RUA (PSR) NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL ULYSSES
PERNAMBUCANO

Gabrielly Souza de França1

1
Estudante de Serviço Social – UFPE; Estagiária/Setor de Emergência Psiquiátrica do
Hospital Ulysses Pernambucano.
E-mail: gabysouzafv@gmail.com

INTRODUÇÃO: Este resumo aborda questões relativas a importância e as dificuldades em


promover ações intersetoriais destinadas as pessoas em situação de rua, vivenciadas no setor
de Emergência Psiquiátrica do Hospital Ulysses Pernambucano (SEP/HUP)2 . A aproximação
com a temática ocorreu durante a vivência das disciplinas práticas, Estágio Curricular I e II,
do Curso de Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Durante os atendimentos na emergência do HUP era notória a dificuldade da equipe
multiprofissional, em particular do Serviço Social, em realizar encaminhamentos para
pessoas, visto que, não eram possuidores de documentos e cercados por inúmeras
vulnerabilidades sociais. Mesmo os serviços da rede de atenção secundária em saúde sendo os
mais acionados pela equipe do Hospital, a exemplo do Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), a articulação com outras políticas sociais assume uma posição indispensável para
responder questões fundamentais desses indivíduos. Por tanto, daremos ênfase ao movimento
intersetorial destinado a essas pessoas. Cabendo abordar a intersetorialidade como
“intervenção coordenada de diversas instituições socioassistenciais e econômicas no
desenvolvimento de ações de atenção integral para tratar de problemas de saúde, bem-estar e
qualidade de vida” (UCHÔA, 2014, p.230). Em outras palavras, a intersetorialidade é um
conjunto de respostas que dão ênfase a atenção integral, sendo paradigma essencial no
desenvolvimento das políticas públicas sociais e econômicas, e na promoção de respostas
qualificadas. OBJETIVO: Objetiva-se com essa reflexão descrever a experiência de estágio
obrigatório, a fim de, refletir sobre as dificuldades e a extrema necessidade de práticas
intersetoriais para atender as pessoas em situação de rua. Também pretende-se estimular a
busca por conhecimento dos serviços sociais por parte dos/as profissionais. Por fim, defender
a necessidade do fortalecimento e da multiplicação dos dispositivos de cuidado a essas
pessoas. METODOLOGIA: Esse resumo toma como ponto de partida a observação
participante do campo de estágio curricular, com sua natureza qualitativa3 e descritiva
partindo da revisão de literaturas, sobre a população em situação de rua e a intersetorialidade.
Conta-se com dados empíricos baseados em anotações feitas no diário de campo e análise de
conteúdo, no qual, “constitui-se em um conjunto de técnicas utilizadas na análise de dados
qualitativos” (CAMPOS, 2004, p. 611). A temática chamou atenção diante da experiência de
atender inúmeros pacientes no HUP, todos demandando o olhar para além do adoecimento
mental, pois são compostos por determinantes sociais. Sendo isso agravado quando se

30
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

tratavam de pessoas em situação de rua, logo que, demandavam respostas mais planejadas e
articuladas, por se enquadrarem em tantas vulnerabilidades sociais. RESULTADOS E
DISCUSSÃO: Há um número cada vez maior de pessoas excluídas dos direitos sociais
básicos, como educação, saúde, assistência, trabalho, moradia, lazer e segurança (LEAL,
2008). São nessas características que encontramos o povo em situação de rua. De acordo com
a Política Nacional de Inclusão Social da População em Situação de Rua, esse grupo
populacional é heterogêneo, mas que apresenta em comum a pobreza, o rompimento de
vínculos familiares, vivência de um processo de desfiliação social pela ausência de trabalho
assalariado e das proteções advindas deste, sem moradia convencional regular e tendo a rua
como o espaço social, de moradia e sustento (BRASIL, 2008). Assim, essa população tem
convivido diariamente com a ausência de garantia e acesso aos direitos sociais conquistados
pela Constituição Federal de 1988, vivendo como sujeitos a margem de uma sociedade que
culpabiliza, exclui e estigmatiza. Diante desses fatos é urgente o estímulo do debate sobre a
intersetorialidade, uma vez que,

A problemática da pessoa em situação de rua, em decorrência de sua complexidade, demanda


a atuação de diferentes áreas do conhecimento e práticas de forma articulada, constituindo-se
em uma rede de ações complementares e contínuas, visando o enfrentamento das questões que
acometem essa população, envolvendo, assim, os setores da saúde, educação, assistência
social e direito, entre outros. (FIORAT; CARRETTA; PANÔNCIO-PINTO; LOBATO;
KEBBE, 2014, p. 1469).

Partindo desses entendimentos, no período de 09 (nove) meses de estágio (com início em


13/03/2019 e término em 09/12/2019), foram vivenciados 04 (quatro) atendimentos a pessoas
em situação de rua, sendo 03 (três) homens e 01 (uma) mulher. Encontrados/a em locais
públicos, apresentando situação de crise psíquica, com comorbidade do uso abusivo e/ou
dependência de drogas, levados/a ao HUP pelo SAMU e/ou Polícia. Demandaram
articulações planejadas e articuladas. Diariamente a Instituição entra em contato com outros
dispositivos de saúde, principalmente os da atenção secundária em saúde, por meio de
ligações e convocações para reuniões, estabelecendo a intrasetorialidade. Porém, indo além
das intervenções dadas no âmbito da saúde, daremos destaque à necessidade de estabelecer
movimentos entre diferentes setores dos serviços públicos. De início podemos citar que
dessas 04 (quatro) pessoas: (03) eram negras, 01 (uma) parda; apenas 01 (uma) ingressou em
rede regular de ensino, mas não concluiu o ensino fundamental; 03 (três) eram analfabetas, 01
(uma) semianalfabeta; nenhuma delas obteve vínculo empregatício formal, adquirindo
dinheiro apenas por esmolas e “bicos” na rua; todas relataram já terem sido vítimas de
violência verbal e física na rua; nenhuma delas obtinha documento pessoal. Desse modo,
essas pessoas chegaram ao HUP, não demandando apenas o serviço de emergência e urgência
em Saúde Mental, pois, sobretudo, viviam condições de extrema pobreza. Diante dessas tantas
características de extrema vulnerabilidade social, foi apenas possível articular tais respostas:
02 (duas) foram encaminhados ao CAPS; 01 (uma) recebeu direcionamento para ser
acompanhada no Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), por residir em Município que
não conta com CAPS; apenas 01 (uma) passou a receber atendimentos do Consultório de Rua;

31
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

e 01 (um) outro foi encaminhado para uma Unidade de Acolhimento masculina (UA), serviço
de alta complexidade da Assistência Social; Todos esses, foram articulados com o Centro de
Referência Especializada em Assistência Social (CREAS). Entretanto, todos os movimentos
foram de difícil articulação, visto que em todos os serviços listados a cima esbarrou-se com
falta de vagas, poucos recursos materiais e humanos para início de contato com esse grupo.
Conforme o Decreto 7.053/2009 é primordial “assegurar o acesso amplo, simplificado e
seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação,
previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, lazer, trabalho e renda” (BRASIL,
2009), demonstrando a necessidade de diálogos com outros serviços essenciais. O fato
fundamental, é que a promoção do acesso a esses serviços tem se tornado cada vez mais
difícil diante de tantos sucateamentos. Cenário este, que além de intensificar a situação das
ruas como habitação, é autor de intensos desmontes das políticas públicas, dificultando ações
universais, de equidade e de integralidade. Defendendo, por tanto, na presente discussão o
fortalecimento e multiplicação dos dispositivos de cuidado as pessoas em situação de rua,
para atender as vulnerabilidades sociais no qual esse grupo é acometido diariamente,
propondo ações para além das emergentes. CONCLUSÃO Considerando que a rua vem
servindo, historicamente, como habitação, este trabalho busca uma reflexão sobre a
necessidade de potencialização de ações intersetoriais ao grupo que nela reside. Dado o
exposto, sabemos que é um desafio romper com a descontinuidade, a fragmentação, as
múltiplas demandas profissionais e o cenário de contastes desmontes dos serviços públicos,
posto que para superar tais questões é preciso combater as imposições do estado neoliberal
(MOTA, 2009). Também, levando em consideração os aspectos abordados, é fundamental se
aproximar desta população criando respostas de qualidade por meio do trabalho territorial
intersetorial, com forte investimento na formação dos/as profissionais envolvidos/as. Mas não
se esgotando nisso, pois é tarefa urgente estimular a luta pela ampliação de equipamentos
sociais, a fim de, atender questões relativas a lazer, a trabalho, a educação e tantos outros
direito negados a estes indivíduos. Reconhecemos que o tema estudado não alcançou sua
plenitude, pois, os pontos trazidos em nossa análise, podem se manifestar em novas temáticas
e inquietações, as quais merecem ser aprofundadas. Por fim, cabe salientar que, onde quer que
as pessoas estejam, o respeito à dignidade humana deve ser garantido, assim como proposto
pela Constituição Federal de 1988 e por instrumentos internacionais de direitos humanos.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009. 2009. ed. Brasília, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm. Acesso em: 22
set. 2020. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Meta Instituto
de Pesquisa de opinião. Pesquisa Nacional sobre a População em situação de rua, 2008.
Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/acoes_afirmativas/inclusaooutros/aa_div
ersos/Pol.Nacional-Morad.Rua.pdf. Acesso em: 19 set. 2020.

32
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

CAMPOS, Claudinei José Gomes. MÉTODO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO: ferramenta


para a análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem,
Brasília, v. 57, n. 5, p. 611-614, set. 2004. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S003471672004000500019&lng=p
t&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 20 set. 2020.

FIORAT, Regina Célia; CARRETTA, Regina Yoneko Dakuzaku; PANÔNCIO-PINTO,


Maria Paula; LOBATO, Beatriz Cardoso; KEBBE, Leonardo Martins. População em
vulnerabilidade, intersetorialidade e cidadania: articulando saberes e ações. Saúde Sociedade,
São Paulo, v. 23, n. 4, p. 1458-1470, out. 2014. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/sausoc/v23n4/0104-1290-sausoc-23-4-1458.pdf. Acesso em: 19 set.
2020.

LEAL, Giuliana Franco. Exclusão social e ruptura dos laços sociais: análise crítica do debate
contemporâneo. 2008. 249 f. Tese (Doutorado) - Curso de Sociologia, Universidade Estadual
de Campinas, São Paulo, 2008. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/280476/1/Leal_GiulianaFranco_D.pdf
Acesso em: 20 set. 2020.

MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 10. ed. São
Paulo: HUCITEC, 2007. 406 p. MOTA, Ana Elizabete. Crise contemporânea e as
transformações na produção capitalista. In: Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social (org.). Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. 1. ed.
Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. p. 2-19. Disponível em: http://www.poteresocial.com.br/wp-
content/uploads/2017/08/1.2-Crisecontempor%C3%A2nea-e-as-
transforma%C3%A7%C3%B5es-naprodu%C3%A7%C3%A3o-capitalista-%E2%80%93-
Ana-Elisabete-Mota.pdf. Acesso em: 19 set. 2020. UCHÔA, Roberta. Intersetorialidade nas
políticas públicas: compromisso de todos. In:

BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS. Curso de


prevenção dos problemas relacionados ao uso de drogas: capacitação para Conselheiro e
Lideranças Comunitárias. 6. ed. Brasília: Senad-MJ, 2014. Cap. 11. p. 228-242.

33
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

DO GRUPO DE TRABALHO INTERSETORIAL AO CONSULTORIO NA RUA:


RELATO DE UMA CONQUISTA DISTRITAL EM SALVADOR/BAHIA

Ana Lourdes Nascimento Neves1, Carolina Santos Silva2, Elizabete Oliveira Santana3,
Sheila Trabuco4, Tatianne Melo de Freitas5

¹Assistente Social, Chefia de Ações e Serviços Básicos do Distrito Sanitário Itapuã (DSI);
2
Enfermeira, Apoiadora de Saúde Mental do DSI; 3Psicóloga, Núcleo de Apoio a Saúde da
Família/USF Aristides Pereira Maltez/DSI; 4Enfermeira, Técnica responsável pela Saúde da
População em Situação de Rua da Secretaria Municipal de Saúde do Salvador; 5Assistente
Social, UBS José Mariane/DSI.
E-mail: elizabeteoliveira.psi@gmail.com

INTRODUÇÃO: A população em situação de rua a que fazemos referência aqui é definida


como um grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades,
que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e
falta de habitação convencional regular, sendo compelido a utilizar a rua como espaço de
moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente (BRASIL, 2009). O
atual modelo de produção econômica estrutura de forma desigual a sociedade e suas relações
sociais, excluindo e marginalizando uma parcela da população do acesso a todas as formas de
bens e serviços e gerando um contingente de trabalhadores que encontram a rua como único
espaço de sobrevivência. Na Política Nacional para a População em Situação de Rua,
aprovada em 2009, prevê, entre seus objetivos os seguintes pontos: I - assegurar o acesso
amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de
saúde, educação, previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer,
trabalho e renda; II - garantir a formação e capacitação permanente de profissionais e gestores
para atuação no desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais, transversais e
intergovernamentais direcionadas às pessoas em situação de rua; e X - criar meios de
articulação entre o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Único de Saúde para
qualificar a oferta de serviços (BRASIL, 2009). O Distrito Sanitário de Itapuã (DSI), uma das
unidades territoriais de saúde do município de Salvador, na Bahia, possui um aglomerado de
pessoas em situação de rua a qual já vinha sendo notada por este equipamento administrativo
da rede de saúde local há alguns anos. Era observado que, em sua maior parte, esta população
estava situada no entorno do Parque Metropolitano do Abaeté e nas imediações da Avenida
Dorival Caymmi, dis importantes pontos da região. Desde 2011, algumas discussões vinham
sendo provocadas pelos gestores do Parque e da Casa da Música – equipamento da Secretaria
Estadual de Cultura do Estado da Bahia e localizado dentro do mesmo. Um espaço de
discussão, mobilizado por este equipamento em parceria com a comunidade local (sociedade
civil), constituía-se ali. A coordenação do DSI, de responsabilidade sanitária pelo local, é
então acionada e responde ao chamado, retomando participação ativa nas reuniões locais a
partir de 2018. A partir de então, inicia-se a construção coletiva de estratégias para oferta de
cuidado e atenção, de diversas ordens, à população em situação de rua deste território.

34
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

OBJETIVO: Este trabalho traz um relato de experiência e descreve a atuação conjunta de


trabalhadoras de saúde dos serviços locais, do Distrito Sanitário e da Secretaria Municipal de
Saúde (SMS), em parceria com rede local intersetorial, frente as demandas da população em
situação de rua do nosso território, visando gerar visibilidade e garantia de acesso a serviços
básicos. METODOLOGIA: Ainda em 2018, com importante presença da sociedade civil
organizada, representada pelo grupo “Solidária Maloca”, Casa da Música e Distrito Sanitário,
foi instituído o Grupo de Trabalho Intersetorial da População em Situação de Rua de Itapuã
(GTIPopRuaItapuã). Com a manutenção de realização de reuniões bimensais e ampliação da
mobilização e convite para participação de outros setores, quais sejam: Assistência Social
(Centro Pop, CRAS); Rede de Urgência e Emergência (UPA e PA); Coordenadoria da
Atenção Primária a Saúde/SMS; Coordenadoria de Atenção Psicossocial/SMS; Polícia
Militar; Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR); Programa Corra
para o Abraço; Prefeitura-Bairro; Centro de Controle de Zoonoses; e diversas lideranças
locais. Entre 2018 e 2019 o espaço do GTIPopRuaItapuã foi marcado por pautas relacionadas
a duas frentes: ao reconhecimento e aprofundamento das políticas públicas voltadas para esta
população; e às questões relacionadas a diferentes necessidades desta população
(apresentação e discussão de casos, dificuldades encontradas no acesso aos serviços de saúde
e sócio assistenciais e encaminhamentos individuais e institucionais sobre principais barreiras
de acesso a estes serviços). RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com a ampliação da presença
da rede e consolidação do GTI, diversas atividades e pautas começam a ter retornos
produtivos. São realizadas ações locais em parceria entre os pontos da rede: eventos culturais,
como saraus, oficinas de teatro, ações comemorativas de são joão e natal; e feiras de saúde e
cidadania. São realizadas também rodas de conversas para sensibilização das(os) profissionais
das unidades de saúde mais próximas e acessadas pela população em situação de rua e
reuniões com Núcleo de Tecnologia e Informação (NTI) municipal a respeito do fluxo de
confecção do cartão SUS para esta população. Em 2019, foi proposta uma estratégia de
aproximação em campo, com formação de uma equipe de campo piloto, composta por uma
assistente social, uma psicóloga e uma enfermeira de serviços distintos do Distrito,
disponibilizando parte da carga horária nesta atividade semanal. O objetivo desta equipe foi
conhecer de perto as reais demandas de saúde e poder ofertar cuidados mais diretos além de
fortalecer as ideias de cidadania ao institucionalizar a relação da saúde (SUS) no local de
circulação e vivência desta população. Ao iniciar construção de vínculo direto com a
população local, foi possível levantamento de demandas e construção de diagnóstico. Esta
equipe contou com presença de duas pessoas da sociedade civil (voluntárias) que possuíam
vinculação no território e faziam parte do GTI. As principais demandas identificadas no
campo foram: questões de saúde física (problemas de pele, “bichos de pé”, agravos do sistema
digestivo, dores musculares, saúde bucal, dores de cabeça, baixo peso e mal estar geral);
ausência de documentações e dificuldades de acesso e aquisição; descrições de precariedade
na mobilidade urbana; vivência de situações de violência institucional e interpessoal (entre
pares e entre casais heterossexuais); exposição a intempéries do clima/tempo e à riscos
relacionados a convivência com área de preservação (vegetação e animais do bioma local);
usos intensos e por vezes nocivos de substâncias psicoativas; relações de distanciamento
familiar e rede social de apoio; dificuldade e precariedade de acesso a alimentação; baixa
qualidade na relação com a cidade; fragilidade das perspectivas de vida e projetos futuros;
relatos de humilhação e exclusão social; condições desconfortáveis e insalubres de

35
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

descanso/sono; relações contraditórias quanto à convivência em área pública, ou seja, com as


rotinas administrativas do Parque; além da presença de mulheres gestantes com ausência ou
fragilidade de acompanhamento do pré-natal; entre outras coisas. Ao serem levadas para
discussão no GTI, foi observado fortalecimento da necessidade de oferta concreta de serviços
direcionados especificamente a esta população. É importante ressaltar o momento da rede e
sua composição, pois observava-se disposição técnica e política para debruçamento ao tema,
apesar das fragilidades constantes e recorrentes vivenciados cotidianamente com relação ao
acesso aos serviços básicos de saúde e sócio-assistenciais. Assim, por aproximação direta com
trabalhadoras(es), referências técnicas para a Saúde da População em Situação de Rua dentro
da Secretaria Municipal de Saúde, foi levantada no ultimo trimestre de 2019, a possibilidade
de implantação tanto de uma Equipe de Consultório na Rua (CnaR)quanto da instalação de
Unidade de Apoio na Rua do Programa Corra para o Abraço no nosso território.
CONCLUSÃO: Com a equipe de campo conseguimos mapear demandas de saúde no âmbito
da promoção e ofertar cuidados mais diretos, além de fortalecer o princípio da universalidade
e institucionalizar a relação da saúde (SUS) no local de circulação e vivência desta população.
Com a chegada do contexto da Pandemia do Covid19, foi conquistada um termo emergencial
para implantação de novas Equipes de CnaR e estamos em processo de construção deste
trabalho efetivamente em nosso território, já articulado com demais pontos da rede local,
mobilizados no decorrer destes últimos anos através do GTI. Contudo, o Distrito Sanitário de
Itapuã junto ao GTIPopRuaItapuã segue com o desafio de envolver e articular os diversos
setores importantes para o cuidado a esta população promovendo ações que tenham impacto
na saúde e mudanças na vida destes indivíduos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. 2009. Casa Civil da Presidência da República, Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Decreto 7.053, 23/12/2009 - Institui Política Nacional para População em Situação de Rua e
seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento.

36
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA FRENTE ÀS DEMANDAS DE


CUIDADO DA PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA

Carina Gleice Tabosa Quixabeira1; Luciana Pedrosa Leal2; Bruna Guimarães Aguiar3;
Arthur dos Santos Sena4; Lara Oliveira Araújo5; Caroline Coura Dias5

1
Universidade Federal de Pernambuco – Enfermeira Mestranda PPGENF
2
Universidade Federal de Pernambuco – Profª. Draª e Coordenadora PPGENF
3
Centro universitário Maurício de Nassau - Acadêmica de Medicina
4
Universidade Estadual de Pernambuco – Acadêmico de Medicina
5
Universidade Federal de Pernambuco – Acadêmica de Enfermagem
6
Universidade Católica de Pernambuco – Acadêmica de Psicologia
E-mail: carina.ufpe@outlook.com

Introdução: As ONGs possuem papel fundamental no processo de educação em saúde e no


acesso à informação de seus direitos enquanto cidadão e usuário do SUS. Constroem pontes
entre a população e as equipes de cuidados tecendo uma rede de apoio mais concreta, a qual o
indivíduo pode transitar sendo assistido de modo contínuo, intersetorial e integral. As
necessidades de cuidados em saúde são inerentes a qualquer ser humano durante seu ciclo
vital; a percepção e reação aos problemas de saúde dependem de fatores como apoio
estrutural, letramento em saúde, política de acesso aos serviços de saúde,rede social de apoio,
percepção do cuidar de si, dentre outros. As pessoas em situação de rua (PSR) geralmente não
se encaixam nas linhas de cuidado tradicionais impostas à população em geral, enfrentam
diversas dificuldades no processo do cuidar de si e, por vezes, negligenciam a saúde por causa
de medo, vergonha ou estigma sofrido frente os profissionais de saúde. Objetivo: Discutir a
experiência de voluntários da área de saúde no gerenciamento do cuidado à pessoa em
situação de rua junto à rede de apoio formal do município. Metodologia: Relato de
experiência vivenciada no cotidiano e atividades de voluntariado dos autores durante dois
anos de acompanhamento de PSR na comissão de saúde da ONG Samaritanos Recife, a
ViveRua!. Resultados e Discussão: As PSR são caracterizadas por apresentar processos
familiares conturbados ou interrompidos; utilizam ruas, avenidas e áreas abandonadas para
abrigo ou ainda unidades de acolhimento institucional. Normalmente possuem pobreza
extrema, necessitando de apoio de restaurantes, bares e ações comunitárias para alimento e
vestimenta principalmente.Em relação ao cuidar de si, as PSR adotam posturas diferentes,
influenciadas pelo acesso à informação, condições socioeconômicas antes do ingresso nas
ruas além do nível de dependência química, quando aplicado. Diariamente, a ViveRua!
desempenha atividades de educação em saúde, rastreamento, prevenção, promoção e
tratamento de condições e agravos à saúde de PSR em Recife. Dentre os principais relatos
dessa população, percebeu-se com ênfase, dois tipos de discursos sobre o “cuidar de si”na

37
Eixo 01
Assistência à Saúde da População em Situação de Rua

condição de rua: enquanto parte se autonegligencia, verbalizando insignificância sobre


cuidados uma vez que não possuem mais perspectivas, falta incentivo ou vontade de viver; há
também os que preocupam-se, utilizam os serviços de saúde , porém, sempre acabam
deparando-se com barreiras impostas pela burocracia exigida erroneamente pela equipe, além
de comportamentos preconceituosos sofridos. Tudo isso leva-se a refletir sobre a carência de
informação e empoderamento do sujeito quanto aos seus direitos. Enquanto comissão da
ONG, a ViveRua! prestou-se a acompanhar diversos casos de atenção à saúde de pessoas em
situação de rua na cidade do Recife. Considerando as limitações de pessoal e recursos das
equipes formais especializadas (Consultórios na rua) ao atendimento dessa população, a
comissão faz parte da rede de apoio informal que ancora os preceitos dos serviços formais
com reafirmação das diretrizes e princípios do SUS; insiste no processo de empoderamento
quanto aos direitos fundamentais e instrui essa população praticar o autocuidado. Além disso,
trabalha insistentemente com os órgãos públicos na conscientização do acesso universal ao
SUS dentre outros direitos fundamentais que estão atrelados aos determinantes de saúde:
alimentação, moradia, higiene pessoal, lazer. Um esforço em conjunto tem se mostrado como
um dos pontos-chave para continuidade e eficácia da adesão às orientações em saúde pela
POP Rua.Essa comunicação faz parte da realidade de gerenciamento do cuidado do indivíduo,
família e comunidades. Conclusão: Percebe-se que o processo de auto negligência em saúde
da pessoa em situação de rua é influenciado pela carência do acesso a informação e dos
serviços especializados que necessitam da rede de apoio informal para alcançar essa
população dinâmica e complexa.O desenvolvimento do cuidar de si e o tecer das linhas de
cuidado mais adequadas só serão possíveis através do investimento e ampliação da rede
formal, dessa forma, a rede informal poderia apoiar ao invés de complementar os serviços que
deveriam ser disponibilizados pelo poder público.

Descritores: Autonegligência; Colaboração Intersetorial; Integralidade em saúde;


Organizações; Pessoas em Situação de Rua.

REFERÊNCIAS:

OLIVEIRA, R. G. Práticas de saúde em contextos de vulnerabilização e negligência de doenças,


sujeitos e territórios: potencialidades e contradições na atenção à saúde de pessoas em situação de
rua. Rev.Saude soc., v. 27, n.1, Jan-Mar 2018.

VALLE, F.; LAWALL, A.A.;FARAH, B. F.; CARNEIRO JUNIOR, N. As vivências na rua


que interferem na saúde: perspectiva da população em situação de rua.Rev.Saúde e debate, V. 44,
n. 124, Maio 2020.

38

Você também pode gostar