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Teor de proteína: Tenebrio molitor &


Chrysodeixis includens

Matheus Abraão Piovesan Pedroso Jéssica Santi Boff


UFSM UFSM

Igor Sulzbacher Schardong Oderlei Bernardi


UFSM UFSM

Maximiliano Segundo E. Jiménez Neila Silvia P.S. Richards


UFSM UFSM

'10.37885/220308420
RESUMO

O hábito de consumir insetos – entomofagia, já faz parte da dieta de aproximadamente


dois bilhões de pessoas, em mais de 140 países, que incluem no cardápio mais de 2.114
espécies de insetos. Informativos da FAO sugerindo a inclusão de insetos comestíveis na
dieta humana, aliado ao aumento na demanda por alimentos que ocasiona a intensificação
dos meios de produção e o uso dos recursos naturais, faz com que insetos sejam con-
siderados uma fonte alternativa de proteínas. Objetivo: explorar o teor proteico de uma
espécie de inseto utilizada para consumo animal e humano (larva do besouro da farinha,
Tenebrio molitor) e outra ainda pouco estudada (lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis
includens). Métodos: as lagartas C. includens foram criadas e abatidas na UFSM; já as
larvas do T. molitor foram adquiridas comercialmente. A análise proteica foi realizada nas
dependências do Departamento de Tecnologia em Alimentos da UFSM (DTCA/UFSM),
seguindo o método Kjeldahl, utilizando o fator de conversão de 6,25. Resultados: a
lagarta C. includens obteve o maior teor proteico, de 61,95%, seguido da larva do T. mo-
litor (50,63%). Conclusão: ambos os insetos demonstram potencial elevado como fonte
alternativa de proteína para a alimentação humana e animal e contribuem para os ODS
2 (fome zero), 3 (saúde e bem-estar) e 12 (consumo e produção responsáveis).

Palavras-chave: Farinha de Insetos, Tenebrio Molitor, Chrysodeixis Includens, Falsa-Me-


dideira, Neofobia, Sustentabilidade, Carne Convencional.

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INTRODUÇÃO

A evolução humana fez com que o homem passasse por adversidades em busca da
sobrevivência, assim, na condição de caçadores, começaram a coletar plantas comestíveis,
disponíveis ou cultivadas e perceberam que se os insetos se alimentavam das mesmas
plantas, que poderiam, então, ser também uma ótima fonte de alimento (Ramos-Elorduy
Blásquez, 2012; Minas et al., 2016).
Os ovos, larvas, pupas e insetos adultos sempre foram usados pelos humanos como
ingredientes alimentares, e essa tendência continuou nos tempos modernos. O homem era
onívoro no início do desenvolvimento e comia insetos extensivamente. Antes do ser humano
possuir ferramentas para caça ou agricultura, o inseto constituía um importante componente
da dieta humana. Além disso, as pessoas viviam principalmente em regiões quentes, onde
diferentes tipos de insetos estavam disponíveis em todas as épocas do ano. Os insetos
costumavam ser uma fonte bem-vinda de proteína na ausência de carne de vertebrados, a
carne de caça (Meyer-Rochow & Jung, 2020; Van Huis et al., 2021).
A importância da criação de insetos para a humanidade começa na capacidade de
polinização, vital à sobrevivência de algumas espécies de plantas, perpassando pela alimen-
tação de outros seres vivos, até a capacidade de reciclagem de resíduos orgânicos tanto de
origem vegetal como animal (Van Huis et al., 2013).
Na cultura ocidental é normal a ingestão de invertebrados como lagostas e camarões,
que se alimentam de material em decomposição, enquanto o consumo de insetos (também
invertebrados e artrópodes, sendo alguns exclusivamente herbívoros) é visto com precon-
ceito (Ramos-Elorduy, 2009; Costa Neto, 2013).
Apesar das investigações e pesquisas em andamento, a introdução de insetos como
alimento humano ainda é um desafio devido à neofobia, sentimento de nojo, inadequação
cultural, associação de ingestão de insetos com comportamento primitivo e falta de conheci-
mento sobre entomofagia das pessoas, além das diferentes ideias, atitudes e preocupações
de segurança do consumo de insetos, como por exemplo, a coleta de insetos na natureza
(Gere et al., 2017). Outra limitação importante para o seu consumo é que os insetos são
vistos como vetores de doenças zoonóticas prejudiciais ao homem como malária, febre
amarela e dengue e como pragas sujas e não como um alimento nutritivo (Ramos-Elorduy,
2009; Orsi et al., 2019).
Atualmente, essa imagem é ainda mais pronunciada com a disseminação da doença
infecciosa do novo coronavírus, COVID-19, em todo o mundo. Em 11 de março de 2020, a
OMS caracterizou o surto de COVID-19 como uma pandemia depois de se espalhar para 114
países (WHO, 2020). Como resultado, está ocorrendo uma mudança potencial nas escolhas
alimentares dos consumidores, em particular no que diz respeito aos alimentos de origem
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animal. Por um lado, espera-se que haja uma maior rejeição ao consumo de alimentos inu-
sitados de origem animal, como os insetos (Khalil et al., 2021), mas por outro, apesar de
ações setoriais terem impactado diretamente no acesso a alimentação, o problema da fome
foi majorado em virtude da pandemia. Com o poder de compra diminuindo, e sem um auxilio
adequado, a população, na maioria dos países, é dependente de iniciativas de solidariedade
e filantropia (Freitas et al., 2021). Este cenário ainda é mais grave com a deflagração da
guerra entre a Rússia e a Ucrânia em fevereiro de 2022 e os embargos políticos.
De acordo com SOFI 2021 (OPAS, 2021) estima-se que cerca de um décimo da popu-
lação global (aproximadamente 811 milhões de pessoas) estavam subalimentadas em 2020
e, alertam sobre uma conjuntura crítica, que, segundo o relatório, mais da metade de todas
as pessoas subalimentadas (418 milhões) vivem na Ásia; mais de um terço (282 milhões)
na África; e uma proporção menor (60 milhões) na América Latina e no Caribe. O aumento
mais acentuado da fome foi na África, onde a prevalência estimada de desnutrição é mais
do que o dobro de qualquer outra região (21% da população).
Acompanhando as tendências atuais, estima-se que a Meta 2 do Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável (Fome Zero até 2030) não será alcançada por cerca de 660
milhões de pessoas e, destas, cerca de 30 milhões serão as mais prejudicadas. A insegurança
alimentar aumentou em um ano tanto quanto nos cinco anteriores (2015-2020), aumentando
também a desigualdade de gêneros, isto é, para cada 10 homens com insegurança, havia
11 mulheres com essa prevalência em 2020 (OPAS, 2021).
A ONU estima que a população mundial em 2024 será superior a 8 bilhões de pessoas,
representando um crescimento de 13,16% de 2012 a 2024 e de 34,90% entre 2012 a 2050,
ou seja, em 2050 será mais de 9,7 bilhões de habitantes. Este crescimento será maior em
países em desenvolvimento, mais especificamente na Nigéria, na República Democrática
do Congo, na Etiópia e na Índia, onde o número médio de crianças vem crescendo de forma
acelerada nos últimos anos (FAO, 2021).
A população brasileira, hoje, de acordo com os dados do IBGE é de 213 milhões,
em 2050 a previsão é de 238 milhões e em 2100 deve cair ligeiramente para 190 mi-
lhões (IBGE, 2022).
A superexploração de terra, energia e água não só desestabilizará nossa capacidade
de produzir vários alimentos, mas também o impacto que o sistema alimentar causa no meio
ambiente. Uma das maiores ameaças que enfrentamos hoje são as mudanças climáticas
globais e as preocupações sobre como as medidas de adaptação podem afetar o sistema
alimentar (FAO, 2013; 2021).
Os insetos podem contribuir para a segurança alimentar e ser parte da solução para
a escassez de proteínas, devido a sua produção sustentável, alto valor nutricional, baixa
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emissão de gases de efeito estufa, menos utilização da área da terra, capacidade de cres-
cer a partir de subprodutos orgânicos e alta eficiência na conversão alimentar (Patel, 2019;
Ojha et al., 2021).
Os insetos crescem, atingindo a maturidade em dias, em vez de meses ou anos como
no caso dos animais convencionais (bovinos, suínos, aves, etc), e são capazes de produzir
milhares de descendentes, são de 12 a 25 vezes mais eficientes ao converter sua ração em
proteínas (Grassi, 2014; Gravel & Doyen, 2020).
Uma das principais razões por trás dessa eficiência é que os insetos têm sangue frio
(característica pecilotérmica) e, portanto, desperdiçam menos energia mantendo o calor
do corpo, embora para algumas espécies há necessidade de um ambiente quente (Van
Huis et al., 2021).
Na produção animal, quando o máximo de crescimento é atingido o fornecimento de
alimentos não tem mais impacto no desenvolvimento e a partir deste ponto todo o inves-
timento realizado resulta em perdas de lucros. A FCR (feed conversion rate) ou taxa de
conversão, definida como kg de alimento/kg de animal, indica a quantidade de alimento
que é necessário fornecer para produzir um aumento de 1kg na biomassa do animal, sendo
também utilizada como indicador do impacto ambiental e da viabilidade econômica da produ-
ção. A eficiência da produção é maior quanto menor for o valor da FCR (Spang, 2013). A fi-
gura 1 mostra a diferença entre o valor da FCR obtido para a produção de bovinos, suínos,
aves e Tenebrio molitor.

Figura 1. Consumo de recursos para a produção de carne de animais tradicionais/convencionais (bovinos, suínos e aves)
e de T. molitor.

Fonte: Fogang et al. (2017); Miglietta et al. (2015) (adaptado).

A figura 1 ilustra como a criação de insetos é vantajosa principalmente quando com-


parada com a de bovinos, no que diz respeito ao uso de recursos, impactos ambientais,
macro e micronutrientes.
Na conversão dos valores em kg de alimento por kg de proteína, há algumas partes
dos animais que não são consumidas (pele, patas, penas, etc.). Na figura 2 podem ser
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observadas as diferença dos valores de proteínas aproveitavéis entre os animais conven-
cionais e a larva-da-farinha (T. molitor).

Figura 2. Aproveitamento de proteínas de animais convencionais e T. molitor.

Fonte: Van Huis (2021); Hunter (2021).

O FCR para T. molitor corresponde a 47% do obtido para as aves, 23% do valor para
os suinos e 85% do valor obtido para os bovinos, mostrando que é 2 vezes mais eficiente
em converter alimento em “carne” quando comparado com as aves, 4 vezes mais eficiente
que os suínos e 12 vezes mais que os bovinos (FAO, 2021; Ojha et al., 2021; Van Huis,
2021). Os teores de proteínas da larva-da-farinha é quase 100% comparativamente com os
bovinos (40%), suínos e aves (55%) (FAO, 2021; Hunter, 2021).
Como mostrado na figura 2, a eficiência de conversão alimentar para muitas espé-
cies de insetos é bem superior às carnes convencionais e mesmo para o cultivo de vege-
tais. Um exemplo seria a criação de mosca doméstica (Musca domestica) e a mosca soldado
negra (Hermetia illucens) que em 1 hectare de terra produz pelos menos 150 toneladas de
proteína de insetos por ano, enquanto que, na mesma área, menos de uma tonelada de soja
seria produzida (Reis & Dias, 2020).
São necessários 2 quilos de ração para produzir 1 quilo de insetos com proporcio-
nalidades nutricionais superiores à carne bovina e, com um custo de produção inferior ao
exigido pelo gado, que necessita de 8 quilos de alimento para produzir 1 quilo de carne
(Minas et al., 2016).
Os nutrientes dos insetos variam de acordo com a espécie, a dieta, o sexo, o ambiente
de crescimento e o estágio de desenvolvimento, se é ovo, pulpa, larva ou o inseto adulto
(Costa Neto, 2000; 2003; 2013; Dossey et al., 2016; ).
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Estudos têm demonstrado que a “carne” dos insetos contém quantidades de proteí-
nas e lipídeos satisfatórias e são ricas em sais minerais, como, por exemplo, ferro, fósforo,
magnésio, manganês, selênio e zinco, vitaminas (A, B1, B2, B5, B6, B7, B9, A, D, E e K),
carotenóides e flavonóides (apeginina, quercitina, luteolina e rutina) e facilmente metaboli-
záveis (Hunter, 2021; Ojha et al., 2021). Além disso, na composição encontra-se grandes
quantidades de fibras na forma de quitina insolúvel e nutrientes importantes para o correto
funcionamento do organismo humano (Castro Delgado et al., 2020).
A digestibilidade e o valor nutricional dos insetos dependem das espécies a serem
utilizadas e podem variar de 50 a 82% de proteína bruta (matéria seca) (Hunter, 2021).
Tenebrio molitor é um inseto pertencente à família Tenebrionidae da ordem Coleoptera
que está mais adaptado as regiões temperadas do hemisfério norte. Exibe um holometabo-
lismo (metamorfose completa) dividido em 4 fases: fase embrião (ovos), fase larvar, fase de
pupa e a fase adulta (Spang, 2013).
Em agosto de 2021, o tenébrio foi autorizado pela Comissão Europeia, painel da EFSA
sobre Nutrição, Novos Alimentos e Alérgenos Alimentares a ser utilizado como alimento na
forma de inseto inteiro desidratado ou em forma de pó (EFSA, 2021).
O baixo teor de umidade da larva do besouro da farinha (Tenebrio molitor) ou larva-da-
-farinha propicia vantagens tecnológicas dentro da indústria alimentícia, podendo ser moído
e facilmente introduzido no enriquecimento de produtos (Kim et al., 2021).
A lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) é apontada como uma das mais im-
portantes pragas da soja no Brasil, sendo de difícil controle sobretudo pela sua característica
polifaga, no entanto, pouco se sabe sobre seus atributos nutricionais (Yano et al., 2016).
A falsa medideira (Chrysodeixis includens) tem essa denominação devido a sua loco-
moção ser em “mede palmo”. Apresenta grande preferência alimentar pela cultura da soja
e melhor adaptação biológica, podendo ocorrer em populações elevadas e causar severos
danos econômicos (Bernardi et al., 2012).

MÉTODOS

Tenebrio molitor

Tenebrio molitor desidratado foi adquirido por e-commerce (Universo dos Pássaros).
Para uma melhor padronização foram colocados em estufa de circulação de ar por 04 horas
a 50 ºC. Foram triturados, acondicionados adequadamente e colocados em refrigeração (5
ºC) até a realização das análises.

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Falsa medideira

As lagartas Chrysodeixis includens (falsa medideira) foram criadas nas instalações


do Laboratório de Entomologia da UFSM, em condições que simulavam seu ambiente na-
tural. A sala de criação foi mantida na temperatura de 25±2 ºC com umidade relativa de
70±10% e fotoperíodo (10 horas de escuro e 14 horas de luz), com controle automático por
relógio elétrico (timer), de acordo com Botelho et al. (2019).
As lagartas recém-eclodidas foram separadas e acondicionadas em copos plásticos
de 50 mL. A dieta das lagartas seguiu os procedimentos estabelecidos por Bernardi et al.
(2012) com exclusão do antibiótico. Quando as larvas se encontravam no seu quinto instar
foram deixadas em jejum por 24 horas, para remoção de resíduos intestinais. Após foram
pesadas e abatidas por congelamento (-18 ºC). Após 24 h, foram desidratadas em estufa de
circulação de ar a temperatura de 50 ºC. Sendo posteriormente trituradas e mantidas sob
refrigeração (5 ºC) até seu uso.

Análise de proteína

A análise de proteína foi realizada seguindo o método de Kjeldhal clássico, baseado


em três etapas: digestão, destilação e titulação. Foi utilizado o fator empírico de conversão
de 6,25, de acordo com IAL (2008) (método 036/IV).

Análise de pH

Para a análise potenciométrica, pesou-se 10 g das amostras de T. molitor e C. includens


trituradas. A seguir, foram transferidas para um béquer com 100 mL de água destilada e
realizada a leitura em potenciômetro digital (modelo Datalogger-Digital Instruments) previa-
mente calibrado e operado de acordo com IAL (IAL, 2008) (método 417/IV).

RESULTADOS

Na criação de insetos é necessário conhecimento da biologia e fisiologia dos mes-


mos. As condições do local e a dieta devem atender as necessidades da espécie a fim de
controlar o ciclo de vida, necessidades ambientais, ferramentas para coleta e manejo pro-
dutivo. A figura 3 mostra o quinto instar (a) da falsa-medideira e as larvas sendo pesadas,
após o jejum, e preparadas para o abate.

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Figura 3. Larvas da falsa medideira em jejum (24 h) (a) e pesagem das larvas após o jejum (b).

(a) Larvas em jejum (b) Pesagem das larvas


Fonte: Autores.

A figura 4 e mostra o processamento das amostras de T. molitor e da falsa-medideira


após serem desidratadas e trituradas.

Figura 4. Fotos dos insetos desidratados e moidos na forma de farinha (a) Tenébrio molitor; (b) falsa medideira.
(a) T. molitor

(b) Falsa medideira

Fonte: Autores.

A tabela 1 apresenta os valores de pH e os teores de proteína encontrados nas amos-


tras de T. molitor e C. includens. As análises foram realizadas em triplicatas.

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Tabela 1. Resultados médios dos teores de proteína e pH das amostras de T. molitor e C. includens.

Amostra/Análise T. molitor Falsa medideira


Proteína (g/100g) 50,63±0,02 61,95±0,01
pH 6,7±0,01 6,4±0,01
Fonte: Autores.

DISCUSSÃO

Como pode ser observado na tabela 1, a falsa medideira apresentou um teor de pro-
teína superior ao do tenébrio.
O teor proteico dos insetos é muito superior ao dos animais de corte, por exemplo: a
carne bovina contém, em média, 22,3% de proteínas; suínos 22,8% em média e as aves,
dependendo do corte, entre 20,5 a 24,1% (Lima et al., 2006), ou seja, T molitor apresentou
227% a mais de proteínas que os bovinos, 224% do que os suínos e entre 210 a 246% do
que os corte de frango. Quando os mesmos valores são comparados com o teor proteico
da C. includens observa-se: para bovinos 278% menos de proteína, para suínos 271% e
para os cortes de aves de 257 a 302%.
O teor de proteína das larvas de T. Molitor (50,64%) foram semelhantes aos obtidos por
Rumpold & Schlüter (2013) que observaram teores entre 47 e 49% e Zielinska et al. (2018)
de 52,35% e, inferiores ao observado por Amarender et al. (2020) que foi de 63,43%, estando
esse resultado semelhante ao teor observado para a falsa-medideira neste estudo (61,95%).
Kim et al. (2021) observaram teores de proteínas em torno de 21,53% para amostras
de T. molitor, 235% menor que o teor observado neste estudo.
O consumo de insetos comestíveis em populações ocidentais são ignorados pelos
consumidores por causa de sua aparência e outras percepções (Kim et al., 2021). Os insetos
comestíveis têm um alto teor de proteína, mas para serem utilizadas é necessário que haja
um processamento (Melgar-lalanne et al., 2019).
Insetos comestíveis adultos possuem quantidades muito maiores de quitina do que em
sua forma larvar, portanto, as larvas podem apresentar uma fonte de proteína mais adequada
ao consumo humano (Kwak et al., 2020; Acosta-Estrada et al., 2021).
Tenébrio molitor é usado principalmente como ração animal ou suplemento proteico
por ser rico em proteínas e ácidos graxos essenciais (Amarender et al., 2020; Moraes et al.,
2020) e, na sua forma larvar, está entre as espécies mais econômicas para a produção de
alimentos ricos em proteínas, sendo comercializado por empresas na forma original (inseto
vivo) ou mesmo desidratado para a alimentação de pets e animais em cativeiro (zoológico),
incluindo aves, répteis, pequenos mamíferos, anfíbios e peixes (Dobermann et al., 2017;
Mishyna et al., 2019).

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Com a autorização dos tenebrios pela a Autoridade Europeia para a Segurança
Alimentar (EFSA) há sinalização de abertura de um nicho de mercado de alimentos para os
próximos anos, sugerindo que os insetos comestíveis possuem potencial para serem uma
das melhores fontes de proteína alternativas à carne convencional.
Schardong et al. (2019) realizaram um estudo exploratório que analisou o perfil alimen-
tar, percepção, motivação e a forma preferida do consumo de insetos de 1.610 consumidores
das cinco regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) e, constataram
que as mulheres são mais relutantes do que os homens quanto ao consumo de insetos,
sendo que o consumo na forma de farinha seria a preferida. Um dado interessante é que
a maioria dos consumidores brasileiros não tem opinião sobre a segurança de insetos, no
entanto, os respondentes com níveis mais elevados de educação e familiaridade consideram
o consumo seguro.
De acordo com Melgar-lalanne et al. (2019), o interesse do consumidor para o con-
sumo de insetos pode ser aumentado quando se utiliza insetos como ingrediente em uma
forma não reconhecível como pó ou farinha e introduzidos em barras de cereais, bebidas,
massas, biscoitos, etc.
Os insetos, em especial as larvas, têm a habilidade de reciclar resíduos de baixa qua-
lidade em alimento de alta qualidade, rico em energia, proteína e gordura, em um tempo,
relativamente, curto.
Nos próximos anos, o crescimento sustentável da produção de proteína animal de-
penderá em grande parte da existência de alimentos para rações. Os insetos atendem a
esta demanda também e podem substituir as fontes normais de alimentos nas rações ani-
mais. As instalações de criação e produção de insetos são economicamente viáveis devido
à elevada produtividade em curto prazo.
Rosenfeld & Tomiyama (2022) afirmam que a agricultura como praticada atualmente
tem sido a principal causa do antropomorfismo climático, portanto, alimentar as futuras po-
pulações exigirá o desenvolvimento de fontes alternativas de proteínas, tais como a carne
cultivada, algas, feijões, fungos e insetos.
Há um interesse crescente em insetos comestíveis como uma fonte alternativa aos
alimentos normalmente empregados na alimentação animal, como, por exemplo, soja, mi-
lhos, farinha de peixes, farinha de penas e grãos (Minas et al., 2016; Kornher et al., 2019).

CONCLUSÃO

As larvas de T. molitor e C. Includens apresentam um elevado teor proteico, sendo


superior ao observado em carnes convencionais, como bovina, suína e aves.

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A produção de proteinas a partir de insetos comestíveis é menos dispendiosa do
que a produção tradicional de carne e muito mais rápida devido ao curto período de repro-
dução dos insetos.
Os insetos são fontes proteicas valiosas para a alimentação humana e de animais.
São uma alternativa às atuais fontes, além de serem promissores para atender o aumento
da demanda por alimentos proteicos sem competir com os já existentes, como os animais
de corte e alguns vegetais.
A composição nutricional dos insetos combinada com o uso mais eficiente dos recursos
naturais e uma pegada ambiental menor contribuem para o ODS 2 (fome zero), o ODS 3
(saúde e bem-estar) e o ODS 12 (consumo e produção responsáveis).
É preciso que os consumidores tenham certeza que comer insetos não é bom apenas
para a saúde, é bom para o planeta.

Agradecimentos

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. (bolsa DT e


PIBIC) Universidade Federal de Santa Maria (bolsa FIPE).

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