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1, 2022
ISSN: 2764-1295
Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná – UniSL
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Análise da aplicação da Lei Maria da Penha, Lei 11.340/2006, para os casos de violência
doméstica contra mulheres indígenas
* Autor correspondente: Graduando do 9º período de Direito do Centro Universitário São Lucas- Ayfa de Ji-Paraná/RO. Ji-Paraná, RO,
Brasil. Rua João de Albuquerque, 3014, setor 05, +55 69 99326-4024, amaike595@gmail.com
Recebido: 31/03/2022 - Aceito: 01/06/2022.
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Resumo
A violência doméstica é um problema social e de saúde pública que no Brasil só passou a ter visibilidade quando
Maria da Penha Maia Fernandes, levou o caso dela até à Corte Interamericana de Direitos Humanos, sendo o Brasil
condenando, em 2001, por omissões, ausência de estrutura e atenção ao problema da violência doméstica no Brasil.
A vigência da lei, por maior que seja a conquista de direitos e uma legislação específica sobre o tema, ainda sofre
percalços na sua aplicação e efetivação, em razão da insensibilidade e falta de informação com que muitos agentes
estatais lidam com a questão, falta de estrutura e por a norma em si não produzir um efeito automático de repressão
no cometimento de crimes. Os dados alarmantes dos casos de violência doméstica têm crescido ano a ano, isso
sem contar a cifra oculta dos delitos, mas o cenário fica ainda mais crítico quando olhamos para os povos indígenas
que vivem de modo coletivo e originário. As mulheres indígenas reconhecem que a violência doméstica ocorre
dentro das terras indígenas, mas que a Lei 11.340/06 não dá conta de protege-las e buscam outros instrumentos de
proteção, visto que a aplicação da lei sem considerar o contexto sociocultural desses povos ferem outros direitos
fundamentais. A presente pesquisa se debruçou sobre este problema e buscou alternativas, muitas vezes propostas
pelas próprias mulheres indígenas vítimas de violência doméstica, em como superar a inefetividade da lei e para
que as mulheres indígenas recebam também a proteção estatal garantida em lei.
Palavras-chave: Lei Maria da Penha, Povos Indígenas, violência doméstica.
Abstract
The domestic violence it's a social and health public problem which in Brazil only became visible when Maria da
Penha Maia Fernandes took her case to the Inter-American Court Human Rights, when Brazil was condemned, in
2001, for omission, lack of structure and attention to the problem of domestic violence in the country.The law's
videncity, no matter how great the conquest of rights and specific legislation about this subject, still suffers mishaps
in its enforcement and effectiveness, because of the insensitivity and lack of information with lots of state's agents
deal with he issue, foul of structure and by the norm itself don't produce an automatic effect of reprimand in the
crime's commission. The alarming data of the violence's cases has grown year by year, without mention the hidden
number of crimes, but the scenario becomes even more critical when we look at indigenous peoples who lives
collectively and originally.The indigenous' women know that the domestic violence happens inside of their lands,
but the 11.340/06 law cannot protect this women and search for others ways of protection, seeing that the law's
application without consider the sociocultural context of these peoples violate other fundamental rights.The present
requiry looked into this problem and seek for alternatives , often proposed by indigenous women themselves
victims of domestic violence, in how to overcome the ineffectiveness of the law and for indigenous women to also
receive state protection guaranteed by law.
Key words: Maria da Penha's law, indigenous peoples,domestic violence.
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especial, sobre a saída e prisão do agressor, chegasse ao nível em que se encontra nos dias
além de retirar dos Juizados Especiais de hoje, com a indubitável importância que se
Criminais a competência de julgar casos de desempenha na sociedade brasileira (SIDNEY
violência doméstica. GUERRA, 2019, p. 254).
Houve também alterações sobre a Importância que se erigiu na
prisão preventiva, possibilitando ao juiz a Constituição Federal de 1988 onde se
possibilidade da decretação de prisão reconheceu a igualdade entre homens em
preventiva quando houver risco a integridade mulheres, elencado no artigo 5°.
física ou psicológica da mulher, em qualquer Art. 5º Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza,
momento da fase do inquérito policial ou da garantindo-se aos brasileiros e aos
instrução criminal (art. 20, parágrafo único, estrangeiros residentes no País a
Lei nº 11.340/06), além de obrigar o agressor inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
de comparecer aos programas de recuperação propriedade, nos termos seguintes.
e reeducação.
I - Homens e mulheres são iguais em
direitos e obrigações, nos termos desta
3.2. A ocorrência dos casos de violência Constituição;
doméstica após criação da Lei nº 11.340/06 Com o grande avanço da Lei Maria da
Os debates sobre a questão de gênero Penha para a sociedade, a fim de garantir a
no campo das relações socias construídas segurança das mulheres, observa-se que
entre homens e mulheres demostra a mesmo com o Estado tendo maior intervenção
discrepância com relação a estas interações contra as práticas de violência no âmbito
socias e que são permeadas inferioridade das domiciliar, percebe-se que infelizmente não
mulheres. Os papéis de gênero foram houve diminuição dos casos de violência, uma
construídos na imagem de que o homem é um em cada quatro mulheres acima de 16 anos
ser forte, viril e provedor, e em relação à afirma ter sofrido algum tipo de violência no
mulher a visão é invertida, de um ser frágil, último ano no Brasil, durante a pandemia de
incapaz, responsável pela reprodução e prole Covid-19, segundo pesquisa do Instituto
e submissa. Tal discrepância entre homens e Datafolha encomendada pelo Fórum
mulheres colabora para que as interações Brasileiro de Segurança Pública, em
socias sejam social e culturalmente desiguais comparação à pesquisa realizada em 2019, as
e, por muitas vezes, violentas. agressões passaram de 42% para 48,8%,
Muitas mulheres constroem e aumento significativo e preocupante (FBSP,
participam de movimentos de debate e luta 2020).
contra a violência de gênero no Brasil, estes Todos os dias as mulheres vêm
movimentos ainda lutam pela criação e sofrendo com agressões físicas e psicológicas
efetivação de direitos, mas ainda são dentro de seus lares, em casos mais graves
reprimidos pela sociedade em geral, não se perdem suas vidas, hoje tipificado como
pode negar que muitos direitos foram feminicídio. Deste modo, todos se perguntam
conquistados aos longos dos anos, tendo a porque essas mulheres não denunciam seus
mulher papel central e importante nestas agressores ou buscam ajuda, a resposta é
conquistas. simples, o medo do agressor. E isso é
De fato, as conquistas das mulheres preocupante, pois os casos ainda continuam
aconteceram de forma paulatina até que se aumentando.
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tido como de segunda categoria, por ora como vitima mulheres todos os dias, inclusive em
coisa e propriedade pela sociedade “moderna” casos que surgem como violência doméstica e
que estava se formando. se tornam em feminicídios, devido o Estado
Esse apagamento histórico não conseguir conter os altos índices da
permaneceu e existe até hoje, mesmo com as prática desses crimes.
lutas e conquistas históricas de direitos das As mulheres indígenas se encontram
mulheres, a igualdade de direitos entre em um contexto ainda mais complexo, uma
mulheres e homens prevista na Constituição vez que sofrem as mesmas violências, mas as
Federal (art. 5º, I, CF/88), a conquista de suas especificidades culturais e étnicas não
direitos individuais, civis, políticos, são levadas em consideração, além do fato que
econômicos, entre outros, não vislumbramos os povos indígenas vivem em coletividade e
um direito específico e que atenda as os agressores, por vezes, são “protegidos”
especificidades das mulheres indígenas. porque o acesso à terra indígena é
O capítulo indígena da Constituição da obstaculizado em razão das regras existentes
República, artigos 231 e 232, trouxe avanços para se acessar uma terra indígena.
significativos para os povos indígenas, a Apenas a Polícia Federal – PF e o
saber, reconhecimento dos direitos originários Ministério Público Federal – MPF possuem
sobre as terras que originariamente ocupam, jurisdição para adentrar em terras indígenas,
direito de ser povo e viver em coletividade além da FUNAI, que é o órgão federal que
conforme seus usos e costumes, direito à cuida da política indigenista no Brasil. Por
postular em juízo sem necessidade de tutela da uma questão de boas práticas, sempre que os
FUNAI, e o importante direito de referidos órgãos precisam ir nas terras
autodeterminação, que é a possibilidade de indígenas, eles costumam avisar a FUNAI
escolher o destino e os rumos do próprio povo. para que eles acompanhem, uma vez que são
Após séculos de violências e exploração, com eles que tem mais proximidade e contato com
o intenso aumento da dinâmica entre as os indígenas e geralmente os únicos que
culturas indígenas e não indígenas, alguns compreendem os idiomas falados pelos povos
problemas da sociedade não indígena indígenas brasileiros.
passaram a refletir e acontecer nas sociedades O Estatuto do Índio, Lei nº 6.001 de
indígenas, a exemplo do problema do 1973, por mais que seja uma legislação
alcoolismo e da violência doméstica cada vez indigenista que trata das regras específicas
mais crescente nas comunidades indígenas. para os povos indígenas, é uma norma de
A adoção de direitos humanos por meio de caráter profundamente colonial, criada antes
tratados e convenções internacionais, a da Constituição, e que objetivava a integração
exemplo da Convenção sobre a Eliminação de forçada dos indígenas à comunhão nacional.
Todas as Formas de Discriminação contra a Obviamente que a lei por si só já é violadora
Mulher, adotado pelo Brasil em 2002, e de ter dos direitos indígenas, e não previu nenhuma
realizado uma mudança da prática de atos regra específica para tratar de violência
internos após a condenação do país pela Corte doméstica, bem como se perdeu a
Internacional de Direitos Humanos – CIDH, oportunidade de tratar desse tema dentro da
que resultou na criação da Lei Maria da Penha, própria Lei Maria da Penha, lei mais recente e
Lei nº 11.340 de 2006, a violência doméstica que deveria proteger também as mulheres
ainda é um fator preocupante no país, pois indígenas dentro das suas especificidades.
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A luta das mulheres indígenas, que foi aplicada para as mulheres indígenas, não pode
se modificando ao longo dos anos e se interferir no direito de autodeterminação das
adaptando as diversas necessidades, teve que comunidades, visto ser um direito
incluir dentre as suas pautas a questão da fundamental que tem respaldo constitucional.
mulher e seus direitos específicos. Sacchi afirma que a punição do agressor fora
Movimentos feministas indígenas do contexto das comunidades indígenas afeta
foram surgindo, posto que o feminismo na vida dos membros, visto que ao ser
interseccional, corrente feminista que busca removido da comunidade, haverá a
pensar as questões de gênero dentro das várias necessidade de uma nova readequação das
formas de opressão que acontecem na atividades laborais, gerando acúmulo de
sociedade, ainda não dá conta de resolver ou novas funções para os demais membros
mesmo amenizar os problemas enfrentados (SACCHI, 2021, p. 104).
pelas mulheres indígenas. O mesmo autor destaca ainda que além
As próprias mulheres indígenas, alvo de prejudicar a interdependência das relações
das mais diversas violências, têm se levantado dessas pessoas, essas mulheres vítimas de
contra a sociedade machista e contra os violência não tiveram oportunidade de
dogmas das próprias culturas que podem ou reclamar e recorrer às instituições judiciais
não tentar diminuir as suas reivindicações. (SACCHI, 2021, p. 104). A comunidade, em
Elas têm conseguido se firmar cada vez mais busca de um mecanismo para lidar com esse
como lideranças femininas e ganhado tipo de violência, e a pressão da própria
visibilidade nos debates sobre violência, comunidade prova que existem problemas
hipersexualização, igualdade, entre outros, raciais e culturais que devem ser levados em
como relata Joênia Wapichana, a primeira consideração (Kaxuyana e Souza /p.49).
mulher indígena eleita para o Congresso Deve haver equilíbrio e
Nacional, no ano de 2018, compatibilidade entre os direitos impostos
Nos últimos anos, a gente tem visto as pelo Estado aos povos indígenas e as questões
mulheres reivindicando cada vez mais,
levantando a necessidade de políticas
de violência doméstica que afetam essas
específicas. A Lei Maria da Penha não mulheres, devendo prevalecer o entendimento
foi preparada para a indígena, ela foi que o Estado deve fornecer assistência e
feita em um contexto urbano. A lei
pode auxiliar em situações de violência políticas públicas de enfretamento e
doméstica, mas não foi pensada para a contenção da violência, devendo haver
mulher indígena. Dentro da comunidade
adequação da lei e suas políticas no âmbito
indígena, a gente percebe que há
problemas que foram levados por fatores cultural destes povos.
externos. Nas comunidades mais A violência doméstica não é uma
próximas das cidades, o alcoolismo gera
violência contra a mulher indígena, por preocupação exclusiva do Brasil, em todo o
exemplo. E, por outro lado, há questões mundo os problemas de saúde pública e
propriamente relacionadas aos direitos violação de direitos das mulheres existirão
indígenas, como o impacto de invasões.
Os conflitos por terras também com maior ou menor grau de incidência, mas
vitimam as mulheres. Assim, ao pensar principalmente em países emergentes.
em uma proteção, a legislação tem que
Esse tipo de violência tem levantado
ter essa visão do geral, do que afeta as
indígenas. (GELEDÉS, 2019). reflexões em diversas áreas de conhecimento,
não só na área do direito, mas também em
Kaxuyana e Souza (2008, p 44)
outras áreas, porém ainda há uma grande
afirmam que a Lei Maria da Penha, quando
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existia a visão da mulher como “santa”, uma públicas a serem aplicadas no âmbito cultural
“divindade superior e única”, visão aplicada destes povos.
às mulheres brancas, por outro lado a mulher Kaxuyana e Souza e Silva (2008)
foi colocada como a responsável pela reiteraram que o equilíbrio entre os princípios
introdução do pecado no mundo, nascia ali o universais e relativos dos direitos humanos é
mal que assombra às mulheres até os dias de difícil de ser alcançado, sendo que a
hoje, criando o ideário de que a violência responsabilidade deste país democrático,
contra mulher é um dado “normal” e principalmente no caso da violência de
“natural”, constatando que essa visão é gênero, deve se basear no estabelecimento de
utilizada como justificativa para a prática das uma agenda e Política Pública para ajudar as
violências, não raro os agressores usam frases mulheres indígenas a entender a gravidade do
praticamente comum entre os brasileiros “ela problema em conjunto com outros membros
merecia”, “ela é culpada”, “ela provocou”. da comunidade e seus pares, buscar sempre
Mesmo após o Brasil ter ratificado, em ouvir a realidade dessas violações dessas
1984, a Convenção sobre a Eliminação de pessoas, e prestar auxílio no âmbito judicial
Todas as Formas de Discriminação Contra a brasileiro quando estas considere necessário
Mulher, e ser signatário de tratados de direitos (KAXUYANA e SOUZA E SILVA 2008).
humanos, ainda ter elaborado uma das leis Nesse diálogo é imprescindível
mais importantes para o combate contra a observar a Convenção nº. 169 da Organização
violência contra a mulher (a Lei Maria da Internacional do Trabalho – OIT, norma de
Penha) , a violência não tem fim , inclusive direitos humanos que o Brasil é signatário,
vitimando mulheres indígenas, uma mulher que prevê a consulta aos povos e o respeito à
com especificidades culturais, que na maioria autodeterminação dos povos indígenas, sendo
das vezes o direito não contempla. Também se fundamental conhecer o código de condutas
observa uma carência de fonte bibliográficas de cada povo e promover um verdadeiro
e dados sobre as mulheres indígenas e suas diálogo de fontes entre as normas indígenas e
demandas sociais. indigenistas na proteção e promoção dos
Mesmo com o surgimento de direitos das mulheres indígenas.
movimentos indígenas feministas em busca
dos direitos das mulheres indígenas, ainda se 3.4 Da (in)efetividade da aplicação da Lei
percebe o desinteresse dos legisladores na Maria da Penha nas Terras Indígenas
criação de leis voltadas para os problemas Com a criação da Lei Maria da Penha
enfrentados pelas mulheres indígenas, que, é possível notar que houve sim uma tentativa
por muitas vezes, são esquecidas dentro das por parte do legislador em reprimir os altos
comunidades, sem atendimento necessário. índices de violência ora praticados, não
Deve haver equilíbrio e podemos negar os avanços. Entretanto,
compatibilidade entre os direitos que estão observa-se que mesmo com a lei em vigor e
postos pelo Estado e os direitos indígenas, o produzindo todos os seus efeitos, aplicando
Estado deve fornecer assistência e políticas penas, oferecendo medidas de proteção para
públicas de enfretamento da violência as mulheres vítimas de violência doméstica,
doméstica também nas terras indígenas, nota-se que a sociedade tem como
devendo haver a adequação da lei e políticas entendimento que a violência doméstica é
algo normal, pois os altos índices de violência
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direitos, mas também o poder público não está conhecimento dos direitos assegurados à
preparado para atender as suas demandas, todas as mulheres
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existem para 7% das cidades do país. E Fica demostrado que, embora a Lei
esse número vem diminuindo: em 2014,
havia 441 delegacias voltadas para a
Maria da Penha garanta proteção a todas as
mulher no Brasil; em 2019, passou a mulheres, independente de raça, cor, etnia, a
haver apenas 417. Essa ausência é notada lei não foi pensada sobre o viés indígena, visto
sobretudo nos municípios pequenos:
somente nove das 3,6 mil cidades com que a realidade indígena é totalmente
até 20 mil habitantes têm delegacias de diferente da realidade ao qual foi criada.
atendimento à mulher. Juntos, esses
municípios somam 32 milhões de
moradores (PIAUÍ/FOLHA/UOL, 5. Considerações Finais
2020). A violência doméstica ainda é algo que
está longe da acabar, infelizmente é um mal
Isso demostra que o país se encontra
enraizado dentro da humanidade e desde os
longe de uma cobertura eficiente sobre
primórdios as mulheres vêm sendo tradadas
atendimento aos casos de violência doméstica.
como objetos de usufruto por seus cônjuges e
Se há escassez para os meios urbanos, na
companheiros.
questão indígena torna-se extremamente pior,
Tal situação se agrava ainda mais
pois para que seja feito uma ocorrência sobre
quando se trata de violência doméstica contra
a questão de violência doméstica, a mulher
as mulheres indígenas, infelizmente ainda há
indígena enfrentará uma longa viagem,
um grande desconhecimento da Lei Maria da
chegará a uma unidade policial onde
Penha pelas comunidades indígenas, além do
provavelmente não seria especializada e, além
problema de não se compreender o idioma
disso, os profissionais não estariam aptos a
indígena materno e a dificuldade de chegar às
realizar o devido atendimento em razão das
autoridades para denunciar o agressor.
questões étnicas, culturais e pelo entrave do
Ainda há uma falta de estrutura por
idioma.
parte do judiciário para o atendimento dessas
Isso se torna algo desgastante e leva as
mulheres, falta de pessoas qualificadas para o
comunidades a resolverem os problemas com
atendimento, problema que se estende às
seus próprios meios de solução, talvez seja
demais mulheres do meio urbano, onde ainda
eficaz em alguns casos, porém certamente
não há uma quantidade adequada de
haverá casos em que não será suficiente para
delegacias especializadas em atendimento à
sanar a violência, levando a danos piores e
mulher.
irreversíveis na comunidade e para a mulher
O legislador deveria dar maior atenção
indígena.
aos direitos das mulheres indígenas e suas
Vale ressaltar que isso é uma questão
especificidades, pois muitas ainda têm sofrido
praticamente normal dentro das terras
com a falta de atenção do Estado, pois não se
indígenas, visto que a maioria das
dá atenção aos casos violência doméstica
comunidades estão sem aparo nenhum de
dentro das comunidades indígenas.
delegacias ou qualquer outro meio de que
Tal adequação às normas vigentes em
venha ajudar no momento da agressão, por
relação aos direitos indígenas deve ser
vezes nem mesmo a FUNAI intervém, e todas
repensadas, repaginadas, bem como as
essas dificuldades geram nas vítimas um
normas de proteção, todas elas, deveriam ser
sentimento de que qualquer medida que seja
traduzidas para as línguas indígenas de nosso
oferecida não será eficaz pela falta de
território para uma compreensão de todas
qualquer tipo de controle ou fiscalização.
comunidades, em especial as mulheres
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