Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

GIULIA NATALINI

PREVISÃO DE CAPACIDADE DE CARGA LATERAL DE


POSTES DE LT EM SOLO MELHORADO COM CIMENTO

NATAL-RN
2017
Giulia Natalini

Previsão de capacidade de carga lateral de postes de LT em solo melhorado com cimento

Trabalho de Conclusão de Curso na


modalidade Artigo Científico, submetido ao
Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos necessários para
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.

Orientador: Prof. Dr. Yuri Daniel Jatobá Costa

Natal-RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Natalini, Giulia.
Previsão de capacidade de carga lateral de postes de LT em
solo melhorado com cimento / Giulia Natalini. - 2017.
19 f.: il.

Artigo científico (graduação) - Universidade Federal do Rio


Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de
Engenharia Civil. Natal, RN, 2017.
Orientador: Prof. Dr. Yuri Daniel Jatobá Costa.

1. Engenharia civil - TCC. 2. Prova de carga - TCC. 3. Solo-


cimento - TCC. 4. Carregamento lateral - TCC. 5. Poste - TCC. 6.
Coeficiente de reação horizontal do solo - TCC. I. Costa, Yuri
Daniel Jatobá. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 624


Giulia Natalini

Previsão de capacidade de carga lateral de postes de LT em solo melhorado com cimento

Trabalho de conclusão de curso na modalidade


Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.

Aprovado em 24 de novembro de 2017:

___________________________________________________
Prof. Dr. Yuri Daniel Jatobá Costa – Orientador

___________________________________________________
Profa. Dra. Carina Maia Lins Costa – Examinador interno

___________________________________________________
Eng. Arthur Gomes Dantas de Araújo – Examinador externo

Natal-RN
2017
RESUMO

O presente estudo analisa, através de provas de carga estática horizontal, métodos de


previsão de capacidade de carga lateral de estacas. O estudo foi feito em quatro postes de
linha de transmissão assentados em depósito arenoso melhorado com cimento em 10% em
peso ao longo do comprimento embutido. Foram retroanalisados os valores de coeficiente de
reação horizontal do solo-cimento através dos resultados das provas de carga aplicados ao
método de Matlock e Reese (1961). Os resultados de capacidade de carga lateral
experimentais foram confrontados com resultados previstos pelos métodos de equilíbrio limite
de Broms (1964), Brinch Hansen (1961) e um método p-y implementado em um código
computacional. Os resultados de capacidade de carga lateral obtidos através dos métodos p-y
e de Brinch Hansen (1961) foram significantemente superiores e inferiores aos experimentais,
respectivamente. O método de Broms (1964), por outro lado, se revelou o mais adequado para
o solo melhorado com cimento. As curvas de carga versus deslocamento horizontal previstas
com o método p-y apresentaram-se relativamente próximas às obtidas em campo.

Palavras-chave: Prova de carga; Solo-cimento; Carregamento lateral; Poste; Coeficiente de


reação horizontal do solo.

ABSTRACT

Predictions of the ultimate lateral load capacity of poles embedded in a compacted


sandy soil improved with cement with a 10-% content by weight are assessed in this
paper. Analysis included results of tests on four poles in a power station. The coefficients of
horizontal soil reaction of the soil-cement mixture were backanalyzed from the method of
Matlock and Reese (1961) and the experimental results obtained with the lateral load tests.
Results of the ultimate lateral load capacity collected in the field were compared against
predictions given by the limit equilibrium methods of Broms (1961) and Brinch Hansen
(1961), and a p-y method implemented in a computer program. The ultimate lateral load
capacities obtained with the p-y method were significantly larger than the experimental
results. Brinch Hansen’s method gave rather underestimated predictions. On the other hand,
Broms’ method gave close predictions to the field results. Moreover, the p-y method provided
reasonably close lateral load versus lateral displacement relationships, as compared to the
curves obtained from the load tests performed in the field.

Keywords: Lateral load tests; Soil-cement; Lateral load; Pole, Coefficient of the horizontal
soil reaction.
5

1. INTRODUÇÃO1

Estações e subestações elétricas são obras de grande porte que contemplam a


construção de postes para linhas de transmissão (LT), sendo cruciais para o abastecimento de
energia elétrica do país (Jung, 2009). Postes para LT possuem sua base assente no solo,
comportando-se como uma estaca e servindo de elemento de fundação para si mesmos.
Devido à ação do vento, à altura dessas estruturas e ao peso de cabos e transformadores, suas
fundações ficam submetidas à esforços laterais significativos.
O uso de solo-cimento vem a ser um importante recurso, do ponto de vista econômico,
em fundações de LT, uma vez que o método tradicional (fundação concretada) vem a ser
muito oneroso. Ao diminuir as atividades envolvidas na execução de fundações tradicionais e
o uso de materiais necessários à produção de concreto, o custo global da obra diminui
significativamente.
De acordo com Murugan et al. (2001), é importante conhecer a resistência lateral das
estacas e existem diversos métodos teóricos para prever os valores de capacidade de carga
lateral. Atualmente, porém, existe uma lacuna muito grande na literatura de pesquisas
relacionadas à aplicação de métodos de previsão de capacidade de carga lateral de fundações
imersas em solo-cimento. Os poucos estudos existentes se limitam a uma simples comparação
entre os resultados de provas de carga com o solo puro e o solo melhorado. Assim sendo,
faltam previsões adequadas da capacidade de carga lateral do sistema solo-estaca. Em
contrapartida, existem diversas propostas relacionadas à aplicação desses métodos para
fundações em areias ou argilas.
O presente estudo visa ampliar os conhecimentos sobre a aplicação de solo-cimento a
fundações de postes de LT, uma vez que é um material econômico, acessível e eficiente.
Foram analisados, através de resultados de provas de carga, alguns métodos para previsão da
resistência lateral das fundações de quatro postes de uma subestação no estado do Rio Grande
do Norte. Valores de coeficiente de reação horizontal do solo (nh) foram propostos para o
solo-cimento. Os postes encontram-se assentes em depósito arenoso, típico da região,
melhorado com cimento na dosagem de 10% em peso.

2. REVISÃO DA LITERATURA

A procura por um desenvolvimento sustentável e eficaz é um dos desafios que


engenheiros enfrentam todos os dias. Esse contexto motiva a busca por novos materiais de
alto desempenho, conciliando baixo custo, redução de desperdício e aumento de qualidade.
Assim surge a ideia do solo-cimento, uma mistura de solo, cimento e água que resulta em um
material aplicável em várias áreas da construção civil.
Contudo, ainda existem poucas pesquisas quanto à viabilidade do uso do solo-cimento
em projetos de fundações (Filho et al., 2014), justificando a necessidade de expandir
conhecimentos sobre esse método alternativo. De acordo com Magalhães (s.d.) o uso do solo-
cimento em fundações de LT é um importante recurso tanto técnico quanto econômico,
reduzindo custos e se tornando um elemento controlador na estabilidade do sistema solo-
poste.
Segundo Magalhães (s.d.) a função de um reaterro de solo-cimento é reduzir tensões
entre o aterro e o solo natural, permitindo que as tensões desenvolvidas entre o contato poste-
reaterro sejam transmitidas ao solo natural de forma compatível com sua capacidade de
suporte. Assim sendo, seu dimensionamento fica entrelaçado ao dimensionamento geotécnico

*Giulia Natalini, graduanda em Engenharia Civil, UFRN


**Yuri Daniel Jatobá Costa, Prof. Dr., Departamento de Engenharia Civil da UFRN
6

da fundação, podendo ser realizado por métodos comumente aplicados às fundações de


postes.
Em pesquisas realizadas por Mateus e Silva (1997), comparando-se postes com
fundações reaterradas em terreno natural e com solo-cimento, notou-se que o mecanismo de
transferência de esforços no caso do solo melhorado com cimento se comporta como previsto
através de métodos clássicos.
Estudos quanto ao uso de melhoramento com solo-cimento para o caso de postes são
raros. Entretanto, existem alguns estudos voltados para a analise dessa técnica aplicada a
fundação por estacas. Ferreira et al. (2006) realizaram um estudo para quantificar a
capacidade de carga lateral do sistema solo-cimento-estaca através de provas de carga
horizontais em uma estaca de 7 metros de comprimento. Os resultados foram confrontados
com provas de carga realizadas na mesma estaca executada no solo sem melhoria. O estudo
foi realizado em solo arenoso e colapsível. Através da solução apresentada por Matlock e
Reese (1960), Ferreira et al. (2006) calcularam o valor do coeficiente de reação horizontal do
solo para as duas situações. Os resultados obtidos para o solo cimento foram 30 vezes
superiores ao do solo natural.
Posteriores estudos por Ferreira et al. (2010) foram realizados em estacas apiloadas de
4 metros de comprimento, executando-se três provas de carga com o solo original e três com
reforço de solo cimento. Essa pesquisa foi desenvolvida em solo colapsível. Os resultados
obtidos indicaram que o melhoramento com solo-cimento levou a um aumento de 350% na
capacidade de carga, comprovando a eficácia do emprego do reforço para solos submetidos a
esforços horizontais.
Faro et al. (2015) também evidenciam a falta de um conhecimento bem estabelecido
para avaliar a resistência de estacas carregadas lateralmente imersas em solo melhorado com
cimento. Os autores realizaram uma pesquisa em estacas curtas e de topo livre, se movendo
como um corpo rígido na direção da aplicação da força lateral. A camada de solo local tratada
ao redor da estaca variou entre 2-4 vezes o diâmetro dela e 0,1-0,3 vezes o comprimento da
mesma, a partir da superfície. Os resultados obtidos indicaram que o reforço executado
próximo à superfície melhora significantemente a performance de estacas curtas submetidas a
carregamentos laterais. Além disso, os autores reforçaram que o tratamento do solo com
cimento é muito promissor e deveria ser considerado no projeto de fundações de prédios,
pontes, portos e linhas de transmissão, entre outros.
Tariq (2014) realizou estudos em modelos reduzidos com estacas metálicas de 25mm
de diâmetro e 450mm de comprimento para investigar o efeito do melhoramento com cimento
na capacidade de carga lateral das estacas. O melhoramento foi realizado com cimento de cura
rápida, em proporção de 30% para areia, e pó de calcário, para aumentar a viscosidade da
mistura. As estacas possuíam topo fixo e foram cravadas em uma área de melhoramento de
0,5x0,5x0,45m, sendo realizados testes de carga lateral controlada através do deslocamento.
Foram aplicadas cargas cíclicas até que o deslocamento da estaca fosse 4%, 10%,
20%, 35%, 50%, 75% e 100% o diâmetro da estaca. Os resultados experimentais obtidos para
o deslocamento de 35%D foram comparados com métodos de previsão de carga como Broms
(1964) e Brinch Hansen (1961), sendo o solo-cimento modelado como solo coesivo. Os
resultados foram obtidos em forma de curvas de reação do solo (kN/m) vs. profundidade (m).
Os resultados de Tariq (2014) mostraram que o método de Broms (1964) apresentou
resultados mais compatíveis com os obtidos experimentalmente, de modo que as curvas
apresentaram um mesmo comportamento ao longo da profundidade analisada. Os resultados
pelo método de Brinch Hansen (1961), porém, só apresentaram comportamento parecido com
o obtido experimentalmente na superfície do solo, se distanciando dos resultados
experimentais ao longo da profundidade. Em geral, o método de Brinch Hansen (1961) não
apresentou aproximação satisfatória com os experimentos.
7

3. METODOLOGIA

3.1. Descrição do subsolo

A partir de sondagens de simples reconhecimento SPT foi possível identificar que o


subsolo é composto por camadas de areia fina, pouco argilosa, cuja compacidade é crescente
em função da profundidade (pouco compacta a medianamente compacta). Não foi encontrado
nível de lençol freático durante o ensaio. A Figura 1 apresenta o perfil típico do subsolo,
juntamente com os valores médios de resistência (Nspt) com a profundidade.

Figura 1 – Resultados da sondagem do solo da área próxima ao assentamento dos postes

Fonte: Autor.

3.2 Provas de carga lateral

O estudo do presente trabalho é embasado nos resultados de quatro provas de carga


estática horizontal (PCEh) realizadas em postes de linha de transmissão. Foram ensaiados dois
pares de postes de uma subestação elétrica localizada no Rio Grande do Norte. Os pares (P22
e P24/26) e (P21 e P23/25) foram ensaiados conforme a NBR 12131/06. A geometria da
seção transversal dos postes é mostrada na Figura 2.

Figura 2 - Dimensões dos postes em mm: (a) P21 e P22 (b) P23/25 (c) P24/26 (sem escala)

(a) (b) (c)


Fonte: Autor.
8

Na região de assentamento dos postes foi realizado um melhoramento no solo local


com cimento, na proporção de 10% de cimento por peso. O cimento utilizado foi o CP-V-ARI
(Cimento Portland de Alta Resistência Inicial), devido à sua propriedade de cura rápida. A
Figura 3 mostra um esquema da disposição dos dois pares de poste e a área de melhoramento
de solo-cimento, enquanto que a Figura 4 mostra um corte vertical do terreno indicando a
profundidade de melhoramento do solo.

Figura 3 - Locação dos postes: (a) P21 e P23/25 (b) P22 e P24/26 (dimensões em cm, sem escala)

(a) (b)
Fonte: Autor.

Figura 4 - Corte vertical da área de melhoramento com cimento para os postes: (a) P22 e P24/26 (b) P21 e
P23/25 (dimensões em mm)

(a) (b)
Fonte: Autor.

A Tabela 1 apresenta os valores de rigidez à flexão e comprimento enterrado (L) dos


postes. O módulo de elasticidade do concreto (E) dos postes foi estimado conforme a Equação
1 (NBR 6118, 2014), para uma resistência característica do concreto (fck) igual a 30MPa.

𝐸 = 5600 ∙ 𝑓() [1]


9

Tabela 1 – Comprimento enterrado (L) e rigidez flexional (EI) dos postes

Postes L (m) EI (MN*m2)


P22 2,9 40
P24/26 2,0 212
P21 2,9 40
P23/25 2,5 279
Fonte: Autor.

As provas de carga foram do tipo rápida, com aplicação de força horizontal a uma
distância de 150mm do solo através de um cilindro hidráulico de 2000kN de capacidade e
medidas por meio de uma célula de carga. O sistema foi montado entre os pares de postes,
como pode ser observado na Figura 5. Os deslocamentos foram medidos por extensômetros
mecânicos com precisão de 0,01mm e capacidade de 50mm. Foram posicionados dois
extensômetros por poste, através de bases magnéticas, a uma distância de 0,35 ou 0,7m do
ponto de aplicação da força. As bases magnéticas foram fixadas em vigas metálicas rígidas de
3m de comprimento, transversais à aplicação da força.

Figura 5 – Esquema das provas de carga realizadas: (a) P22 e P24/26 (b) P21 e P23/25

(a)

(b)
Fonte: Autor.

A prova de carga para o primeiro par de postes atingiu uma carga máxima de 450kN e
para o segundo par foi registrada carga máxima de 490kN. Ao atingirem essas cargas, os
10

postes começaram a apresentar fissuras. Dessa forma, definiu-se a carga de ruptura horizontal
como a carga limite de serviço de 500kN. A Tabela 2 apresenta os valores máximos de carga
e deslocamento horizontal obtidos nas provas de carga. A Figura 6 apresenta as curvas carga
(H) versus deslocamento horizontal (yt).

Tabela 2 – Carga e deslocamento horizontal máximo das provas de carga horizontal

Desloc. Horizontal Máx.


Postes Carga Máx. Atingida (kN)
(mm)
P22 490 4,59
P24/26 490 2,46
P21 450 0,65
P23/25 450 3,04
Fonte: Autor.

Figura 6 - Curva carga vs. deslocamento horizontal dos postes: (a) P22 (b) P24/26 (c) P21 (d) P23/25

(a) (b)

(c) (d)
Fonte: Autor.

3.3. Retroanálise do coeficiente de reação horizontal do solo

Foram determinados os valores do coeficiente de reação horizontal do solo (nh)


utilizando-se os resultados das provas de carga realizadas no solo-cimento. O método de
Matlock e Reese (1961) foi aplicado de forma iterativa, encontrando o valor de coeficiente de
rigidez da estaca (T) para o qual as Equações 2 e 3, de cálculo do deslocamento horizontal na
superfície do terreno (y0), se igualam:
𝐻𝑇 6 𝐻𝑇 𝐻𝑒 < 𝐻𝑒 6 𝑒′
𝑦/ = 𝑦0 − 𝐴3 + 𝐵3 ∙ 𝑒 + 𝑒; − − [2]
𝐸𝐼 𝐸𝐼 3𝐸𝐼 2𝐸𝐼
11

𝐻𝑇 < 𝐻𝑇 6 𝑒
𝑦/ = 𝐴@ + 𝐵@ [3]
𝐸𝐼 𝐸𝐼
em que:
yt = deslocamento horizontal medido em campo;
As, Bs, Ay, By = coeficientes adimensionais do método de Matlock e Reese (1961);
e = distância da superfície do terreno até o ponto de aplicação da força = 0,15m;
e’ = distância do ponto de aplicação da força até o extensômetro;
H = força aplicada nos estágios da prova de carga.
O valor de e’ é igual a 0,35m para os pares de postes (P22 e P24/26) e 0,7m para os
pares de postes (P21 e P23/25). O coeficiente de reação horizontal representativo do solo foi
obtido para uma deformação cisalhante do solo de 0,02.

3.4. Aplicação de métodos para estimativa da capacidade de carga lateral

Choi et al. (2013) destacam a existência de quatro linhas de abordagem de métodos


para estimativa da capacidade de carga lateral de estacas: métodos de equilíbrio limite,
métodos baseados no coeficiente de reação horizontal do solo (p-y), métodos elásticos e
métodos de elementos finitos. Nesse estudo foram utilizados os métodos de Broms (1964) e
Brinch Hansen (1961) que fazem parte do primeiro grupo, assim como um método p-y. Os
métodos de equilíbrio limite assumem que o coeficiente de empuxo passivo de Rankine é
mobilizado e que a estaca se desloca de alguma forma. Os métodos de curvas p-y descrevem
uma relação entre a resistência do solo contra a estaca (p) e o deslocamento lateral da estaca
(y), sendo embasados na Hipótese de Winkler, proposta em 1867, que idealiza o solo como
uma série de molas horizontais elásticas e a estaca como uma viga.
Os parâmetros de resistência utilizados para o solo-cimento foram obtidos através do
trabalho de Lopes (2012), que realizou um estudo do comportamento mecânico de areias
artificialmente cimentadas, com areia da região do Rio Grande do Norte. Em seu estudo foi
avaliada a influência do teor de cimento, moldando corpos de prova com porcentagens de
cimento de 2,5%, 5% e 10% em peso, sendo o agente cimentante o CP-V-ARI. Dessa forma,
foi adotado o valor de ângulo de atrito efetivo do solo (φ’) igual 40o, para amostras com 10%
de cimentação. O valor do peso específico aparente seco do solo-cimento igual a 19,7kN/m3
foi obtido através de ensaio de compactação realizado em laboratório para o solo melhorado
obtido da região de assentamento dos postes.

3.4.1 Método de Broms

O método foi aplicado conforme descrito em Broms (1964), sendo o momento de


ruptura (Mu) da estaca calculado para o caso de estacas com seção H, como apresentado pela
Equação 4:
𝑀B = 1,1 ∙ 𝑓() ∙ 𝑍EáG [4]
em que:
fck = resistência característica do concreto = 30MPa;
Zmáx = módulo de seção do poste (m3).
Os módulos de seção calculados são apresentados na Tabela 3.
Decidiu-se adotar o problema em condições drenadas, com coesão efetiva do solo (c’)
igual a 0, uma vez que o método de Broms (1964) somente considera o solo como sendo não-
coesivo ou coesivo.
12

Tabela 3 - Momentos estáticos de área das seções dos postes

Postes Zmáx (m3)


P22 0,031063
P2426 0,021247
P21 0,031063
P2325 0,025887
Fonte: Autor.

3.4.2 Método de Brinch Hansen

Para aplicação do método de Brinch Hansen (1961), buscou-se obter o máximo de


precisão, dividindo-se o comprimento da estaca em diversas partes. Dessa forma, foi possível
encontrar mais precisamente o ponto de rotação da estaca e calcular a capacidade de carga
lateral. Para tal, fez-se uso de um código na linguagem Python, desenvolvido pela autora, no
qual o comprimento embutido de cada estaca foi dividido em três mil partes. Os parâmetros
do solo utilizados para ângulo de atrito interno efetivo e peso específico aparente foram
adotados conforme descrito no item 3.4, sendo o método aplicado para condições drenadas
com c’=0.

3.4.3. Método p-y

O método de Matlock e Reese (1961) foi aplicado através do software Pile,


pertencente ao programa computacional Geo5 (Fine, 2017). Para tal, foi modelada uma estaca
de topo livre, de seção circular equivalente e de comprimento igual ao comprimento enterrado
de cada poste. A área da estaca modelada foi mantida igual à área da seção transversal dos
postes. Através dos valores de nh e deslocamento no topo da estaca foi possível recriar a curva
carga horizontal (H) vs. deslocamento horizontal na superfície (y0) dos postes, de modo a
avaliar se o modelo numérico apresenta aproximação satisfatória com os dados da prova de
carga realizada em campo. A partir da curva, obteve-se a carga de ruptura (Hu) para o valor de
deslocamento horizontal máximo de cada poste registrado nas provas de carga.
Nota-se que não foi possível realizar a análise para um dos postes, o P21, uma vez que
seu deslocamento horizontal na superfície do terreno era tão pequeno que o software não
possuía precisão suficiente para fornecer resultados de carga equivalentes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Determinação do coeficiente de reação horizontal do solo e rigidez da estaca

Através da iteração da solução apresentada por Matlock e Reese (1961) foi possível
obter a variação de nh com o deslocamento horizontal para cada um dos postes. Em seguida,
determinou-se um valor de nh para cada incremento de carga aplicada (H). A partir das curvas
nh vs. y0 obteve-se um valor de nh representativo como o correspondente a uma deformação
cisalhante do solo (𝛾) igual a 0,02. A relação entre 𝛾 e y0 é dada através da Equação 5
(Blaney, 1986):
𝑦/
𝛾 = 0,54 ∙ [5]
𝐵
em que:
B = dimensão da mesa da seção H dos postes.
13

Através das curvas nh vs. y0 foram obtidos altos valores de coeficiente de reação
horizontal do solo para pequenos deslocamentos. Contudo, as curvas apresentaram formato e
comportamento esperado, sendo possível extrapolar as mesmas através da criação de uma
linha de tendência dada através de uma equação potencial com formato indicado através da
Equação 6:
𝑛K = 𝑎 ∙ 𝑦/ MN [6]
Por meio da equação potencial, foi calculado o valor de nh representativo
correspondente ao valor de y0 obtido pela Equação 5. As curvas nh vs. y0 são apresentadas nas
Figuras 7 e 8. Nas mesmas figuras são apresentadas as equações obtidas a partir dos ajustes
dos pontos.

Figura 7 - Curvas de nh vs. y0 para os postes: (a) P22 (b) P24/26

(a)

(b)
Fonte: Autor.

Os valores de nh representativos, obtidos para 𝛾= 0,02 são apresentados na Tabela 4.


Como esperado, os valores do coeficiente de reação horizontal do solo foram bastante
elevados. Isso é devido ao melhoramento com cimento, o qual acentuou sua resistência.
Nota-se que o valor de coeficiente de reação horizontal do solo obtido para o poste
P24/26 é significantemente superior ao obtido para os outros postes. Tal situação pode ter
ocorrido por causa de fatores como: excesso de compactação do solo, tempo de cura diferente
ou dosagem errada do cimento. Acredita-se, portanto, que os resultados obtidos para esse
poste extrapolem a representatividade da situação em questão.
Araújo (2013) conduziu estudo de coeficiente de reação horizontal em dois depósitos
arenosos da região metropolitana de Natal - RN, o qual incluiu estacas metálicas e estacas
hélice continua. Um dos depósitos foi compactado com densidade relativa (Dr) de 70%
enquanto que o outro foi compactado com densidade relativa de 45%. Para um valor de
14

deformação cisalhante do solo de 0,02, o nh do solo melhorado com cimento é 19 vezes


superior àquele obtido para Dr=45% e 5 vezes para Dr=70%.
Figura 8 - Curvas de nh vs. y0 para os postes: (a) P21 (b) P23/25

(a)

(b)
Fonte: Autor.

Tabela 4 - Resultados do coeficiente de reação horizontal do solo

Postes y0 (mm) L/T nh (MN/m3)


P22 22,59 2,5 205
P24/26 17,96 3,0 1731
P21 22,59 2,7 304
P23/25 19,18 3,0 681
Fonte: Autor.

Comparando os valores obtidos de coeficiente de reação horizontal do solo deste


trabalho com os valores obtidos por Ferreira et al. (2010), para o solo colapsível melhorado
com cimento para uma deformação cisalhante de 0,02, observa-se que o nh médio obtido
nessa pesquisa é superior em 55%. Essa diferença é devida à qualidade do solo natural das
diferentes regiões, além de diferenças na dosagem do cimento e tempo de cura.
Uma vez de posse do coeficiente de reação horizontal do solo, foi possível o cálculo
do coeficiente de rigidez da estaca (T). De acordo com Tomlison (1994), o primeiro passo
para o cálculo da resistência lateral é determinar se a estaca irá se comportar como um
elemento rígido ou um elemento flexível. Tal análise é feita através do cálculo do coeficiente
de rigidez que depende da rigidez à flexão da estaca (EI) e da compressibilidade do solo,
sendo calculado através da Equação 7:
15

O 𝐸𝐼
𝑇= [7]
𝑛K
Uma vez calculado T, sabendo-se o comprimento embutido da estaca (L), a estaca foi
classificada conforme o critério de Davisson (1970): é considerada rígida caso L≤2T e
flexível caso L≥4T. A determinação desse coeficiente leva a escolha de quais métodos podem
ser usados. Uma vez que o solo-cimento ao redor dos mesmos é muito rígido, todas as estacas
resultaram intermediárias, como pode ser observado na Tabela 4.

4.2. Previsão de carga de ruptura e da curva carga lateral versus deslocamento lateral

Os valores de carga de ruptura (Hu) experimentais foram tomados iguais aos de carga
máxima atingida na prova de carga para cada um dos postes, uma vez que os mesmos
começaram a apresentar fissuras ao serem submetidos a essas cargas. Os valores podem ser
observados na Tabela 5.
Uma vez que os postes resultaram de rigidez intermediária, o método de Broms (1964)
foi aplicado para o caso de estacas rígidas e flexíveis, de topo livre, em solo não coesivo. Foi
realizada uma média entre os resultados, sendo a capacidade de carga lateral de cada poste
apresentada na Tabela 5. Os valores obtidos através do método de Broms (1964) apresentaram
boa concordância com os obtidos pelas provas de carga horizontal. Por se tratar de um método
mais conservador, representa adequadamente os limites estruturais e de serviço dos postes.
Já os resultados obtidos por Brinch Hansen (1961) levaram a valores de capacidade de
carga lateral muito inferiores aos experimentais, como pode ser analisado na Tabela 4. Tal
acontecimento pode ser justificado pelo fato do método ser dedicado ao uso para estacas
curtas e não intermediárias e pelo solo-cimento ter sido considerado um solo não coesivo.
Pesquisas relacionadas à estimativa de capacidade de carga lateral por métodos de
equilíbrio têm verificado que o método de Broms (1964) gera resultados conservadores para
solos não coesivos (Fan e Long, 2005; Zhang et al., 2005). O fato dos resultados obtidos pelo
método de Broms (1964) terem se adequado melhor aos resultados experimentais pode ser
causado pela condição que Broms (1964) assume para o solo, em que o coeficiente de
empuxo passivo é igual ao empuxo em repouso, o que deve se aproximar melhor da condição
encontrada para o solo-cimento.
Nota-se que a boa concordância do método de Broms (1964) e a má concordância do
método de Brinch Hansen (1961) aos resultados experimentais estão de acordo com os
resultados obtidos por Tariq (2014).

Tabela 5 - Resultados de capacidade de carga lateral Hu (kN)

Postes Experimental Broms Brinch Hansen p-y


P22 490 522 124,5 833
P24/26 490 403 77,5 654
P21 450 412 124,6 -
P23/25 450 447 43,6 538
Fonte: Autor.

A aproximação das curvas de H vs. y0 pelas provas de carga e pela aplicação do


método p-y podem ser analisadas nas Figuras 9 a 11. As curvas de H vs. y0 obtidas através do
software Pile para aplicação do método p-y apresentaram boa concordância com as provas de
carga realizadas. Embora as curvas obtidas para os postes P24/26 e P23/25 se comportaram
similarmente às curvas obtidas experimentalmente, apresentam valores de carga 30% e 35%
16

superiores aos experimentais, respectivamente, para um mesmo deslocamento. Ademais, a


curva obtida para o poste P22, embora apresente comportamento similar à curva
experimental, atingiu valores 75% superiores aos resultados experimentais.
Os valores obtidos de capacidade de carga Hu através do método p-y resultaram
superiores aos experimentais, indo além da capacidade estrutural admitida para os postes
como mostrado na Tabela 5.

Figura 9 - Curva comparativa de carga vs. deslocamento horizontal na superfície para P22

Fonte: Autor.

Figura 10 - Curva comparativa de carga vs. deslocamento horizontal na superfície para P24/26

Fonte: Autor.

Figura 11 - Curva comparativa de carga vs. deslocamento horizontal na superfície para P23/25

Fonte: Autor.
17

5. CONCLUSÕES

No estudo em questão foi analisada a previsão de capacidade de carga lateral de quatro


postes de linhas de transmissão, imersos em solo-cimento, através dos métodos de equilíbrio-
limite de Broms (1964) e Brinch Hansen (1961), além de do método p-y implementado em
um código computacional. As previsões foram comparadas com resultados de provas de carga
lateral realizadas nos postes.
O método de Broms (1964) apresentou boa concordância com os resultados das provas
de carga estática horizontal. Contudo, os métodos de Brinch Hansen (1961) e p-y forneceram
valores de capacidade de carga lateral muito inferiores e muito superiores aos valores obtidos
experimentalmente, respectivamente. Apesar de ter fornecido previsões superestimadas, o
método p-y gerou curvas H vs. y0 relativamente próximas às obtidas em campo, validando o
modelo numérico adotado.
Os valores de coeficiente de reação horizontal do solo-cimento, retroanalisados a partir
dos resultados experimentais, foram bem mais elevados que a faixa tipicamente obtida para
solos granulares puros, sem adição de cimento, reflexo da alta rigidez adquirida pelo material
melhorado com adição de cimento.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Geoquality Geotecnia Ltda. pelo apoio fornecido a esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABNT. NBR 12131 – Estacas – Prova de carga estática – Método de ensaio. Rio de
Janeiro, 2006.
ABNT. NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro,
2014.
ARAÚJO, A. G. D. Provas de carga estática com carregamento o lateral em estacas
escavadas hélice contínua e cravas metálicas em areia. 253f. Dissertação (Mestrado).
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2013.
BLANEY, G. W; O’NEILL, M. W. Measured lateral response of mass on single pile in
clay. Journal of Geotechnical Engineering, ASCE 112, issue 4, 1986.
BROMS, B.B. Lateral Resistance of Piles in Cohesionless Soils. Journal of Soil Mechanics
and Foundation Engineering Division, ASCE 90, SM-3, p.123-156, 1964.
CHOI, H.; LEE, S.; PARK, H.; KIM, D. Evaluation of lateral load capacity of bored piles
in weathered granite soil. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
ASCE 139, issue 9, 2013.
DAVISSON, M. T. Lateral Load Capacity of Piles. Highway Research Record, no 333. Pile
Foundations, National Research, Council. Washington D.C., p. 104-112, 1970.
FAN, C-C.; LONG, J. H. Assessment of existing methods for predicting soil response of
laterally loaded piles in sand. Computer and Geotechnics, volume 32, issue 4, p. 274-289,
2005.
FARO, V. P.; CONSOLI, N. C.; SCHNAID, F.; THOMÉ, A.; LOPES, L. S. Field tests on
laterally loaded rigid piles in cement treated soils. Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, ASCE 141, issue 6, 2015.
FERREIRA, C. V.; LOBO, A. S., ALBIERO J. H.; CARVALHO, D.; ALBUQUERQUE, P.
J. R. Efeito do solo-cimento no comportamento de estaca carregada lateralmente. IV
18

Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, 2007, Salvador – BA. NSAT 2007, Salvador –
BA: EDUFBA, 2007. Volume único: p. 299-306.
FERREIRA, C. V.; LOBO, A. S.; CARVALHO, D.; ALBUQUERQUE, P. J. R.
Comportamento de estaca carregada lateralmente, implantada em solo reforçado com
solo-cimento. 10o Congresso Nacional de Geotecnia, Sociedade Portuguesa de Geotecnia,
vol. 4, 2006.
FINE. Geo5 – User Guide Manual. 2017.
HANSEN, J. B. The ultimate resistance of rigid piles against transversal forces. Danish
Geotechnical Institute, bulletin n. 12, 1961.
JUNG, J. G. Fundações superficiais de linhas de transmissão submetidas a esforços de
tração: comparação entre métodos de previsão de capacidade de carga. 60f. Trabalho de
Conclusão de Curso. Departamento de Engenharia Civil. Escola de Engenharia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009.
LOPES, F. M. G. Estudo do comportamento mecânico de areias artificialmente
cimentadas. 109f. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2012.
MAGALHÃES, R. T. N. Fundação em solo-cimento para postes de LT’s. Ronama
Engenharia Ltda. São Paulo, s.d.
MATEUS, A. J. B.; SILVA, R. L. Verificacão experimental de fundações lateralmente
carregadas. VII Encontro Regional Latino-Americado da Cigre, CE 22-02, 1997.
MATLOCK, H.; REESE, L. C. Foundation analysis of offshore pile supported structures.
ICSMFE, 5, Paris, p. 91-91, 1961.
MURUGAN, M.; NATARAJAN, C.; MUTHUNKKUMARAN, K. Behaviour of laterally
loaded piles in cohensionless soils. International Journal of Earth Sciensces and Engineering,
vol. 4, p. 104-106, 2011.
TAQUIR, K. A. Mechanical behavior of cement treated sand and its application to
improve the cyclic behavior of pile foundation. Escola de Ciênciss e Engenharia da
Universidade de Saitama. Tese (Pós-doutorado). Escola de Pós-Graduação em Ciências e
Tecnologia, 2014.
TOMLISON, M. J. Pile design and construction practice. 4th ed. London: E& FN Spon,
1994.
VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Fundações: critérios de projeto, investigação do subsolo,
fundações superficiais, fundações profundas. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
ZHANG, L.; SILVA, F.; GRISMALA, R. Ultimate lateral resistance to piles in
cohesionless soils. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, ASCE 131,
issue 1, p. 78-83, 2005.

Você também pode gostar