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Orientadora:
Profa. Dra. Gilka Elvira Ponzi Girardello
Florianópolis, 2018
Ficha de Identificação
Inclui referências.
SUMÁRIO
Referências 294
Resumo
A presente tese visa a afirmar o potencial da arte enquanto uma via de
pesquisa acadêmica capaz de propiciar modos alargados de pensamento e
ação, concebendo a criação e a experiência como elementos centrais do
processo investigativo. Na perspectiva que elege, a tese entende a pesquisa
com a arte não tanto como uma elaboração epistemológica, mas como um
dispositivo de ações ontológicas: a composição de uma estética da
existência, de um devir-pesquisa, de um devir-arte. No momento
contemporâneo, em que a humanidade se confronta com a possibilidade de
estar causando sua própria extinção, a tese apresenta a força do ato poético
de perscrutar caminhos outros, desestabilizando o lugar comum do
pensamento, propiciando um “acreditar na possibilidade do mundo”
(Deleuze). A Tese sublinha a importância da arte na formação de
pesquisadores e na efetivação de uma educação enquanto educere,
permitindo uma humanidade por-vir. A pesquisa, de caráter ensaístico, é
organizada como uma “tese-parangolé” (Oiticica), propondo operações
discursivas bricoladoras e lúdicas, visando a produzir deslocamentos e
intensificações da potência de vida, articulando, na educação, tanto saberes
quanto não saberes. A tese revisita a obra de alguns autores da metodologia
conhecida como Pesquisa Baseada em Arte, enfatizando a contribuição dos
desafios colocados por Jan Jagodzinski e Jason Wallin. A tese propõe ainda
navegações teórico-poéticas por diferentes águas: pelos gestos
transgressores nietzscheanos, que situam a arte no centro da vida; pelos
processos foucaultianos de subjetivação, que desdobram liberdades e
práticas de si; pelo olhar noturno de Blanchot, que vislumbra a experiência-
do-fora; pela in-fância ética agambeniana que favorece experiências; pelo
pensamento desviante de Deleuze, que se espalha em multiplicidades
produzindo inícios. E propõe, especialmente, encontros com você, leitor. E
com quem mais chegar.
Abstract
The objective of this thesis is to affirm the potential of art as a means for
academic research that is capable of propitiating broad modes of thinking
and action, conceiving creation and experience as central elements of the
investigative process. The thesis understands research with art not so much
as an epistemological elaboration, but as a dispositif for ontological actions:
the composition of an aesthetic of existence, of a become-research, of a
become-art. At the contemporary moment, when humanity faces the
possibility that it is causing its own extinction, the thesis affirms the strength
of the poetic act for scrutinizing other paths, destabilizing the commonplace
of thought, propitiating a “believe in the possibility of the world” (Deleuze).
The thesis highlights the importance of art in the education of researchers
and in the realization of an education as educere, which makes possible a
humanity to come. This essay-like research is organized as a “parangolé
thesis”(Oiticica), proposing ludic discursive operations and bricolages,
aiming to produce displacements and an intensification of the potential for
life, articulating, in education, forms of knowledge and non-knowledge. The
thesis revisits the work of some authors of the methodology known as Arts-
Based Research, emphasizing the contribution of the challenges raised by
Jan Jagodzinski and Jason Wallin. The thesis also proposes theoretical-poetic
navigations through different waters: through the transgressive Nietzchean
gestures, which locate art at the center of life; by the Foucaultian processes
of subjectivation, which unfurl liberties and practices of self; through the
nocturnal look of Blanchot, which envisions the outside-experience; through
the Agambenian ethical childhood that is propitious to experiences; and
through the deviant thinking of Deleuze, which spreads out in multiplicities
to produce beginnings. It especially proposes encounters with you, the
reader. And with those to come.
Résumé
1 FOUCAULT, 1995
2 COMETTI, 2000, p. 12
3 BACHELARD, 2009, p. 3
4 VINHOSA, 2011, p. 43.
5 MACHADO, 2004, p. 6
22
6 MACHADO, 2004, p. 4
7 CERTEAU, 2013, p.87
23
8 DELEUZE, 1992
9 NIETZSCHE, 2007, p. 16
10 RANCIÈRE, 2009, p.13
25
que a poesia atrai, faz surgir e libera por intermédio das palavras que o
dissimulam.14
a arte não diz a realidade mas sua sombra, ela é o espessamento pelo
qual algo distinto se anuncia a nós (...), é a experiência da arte como
cumprimento não pode cumprir-se, (...), daquilo que é sempre distinto
do real.15
19 BLANCHOT, 1997, p. 81
20 BLANCHOT, 2010, p. 35
21 BLANCHOT, 1987, p. 212- 213
22 FOUCAULT, 1995, p. 261
29
23 LEVY, 2011, p. 74
24 FOUCAULT, 2015
25 FOUCAULT, 2015, p. 224
26 FOUCAULT, 2015, p. 224
27 LEVY, 2011
28 LEVY, 2011, p. 59
30
Para Deleuze, o olhar sensível nos coloca na pele das coisas, não
para compreendê-las, mas para animá-las, fazendo os afetos
transbordarem e devirem a energia vinculadora de nossas relações. O
mundo, espelhado pela criação artística, deixa de ser uma simples
materialidade, convertendo-se num potencial e diversificado corpo de
relações significativas.33 Nos colocamos na pele do mundo e... “o mais
profundo é a pele”34
Escrever tem a ver com a vida, mas a vida é algo mais do que pessoal.
(...). Acho que escrever é um devir alguma coisa. Mas também não se
escreve pelo simples fato de escrever, se escreve porque algo da vida
passa em nós. Qualquer coisa. Escreve-se para a vida. É isso. Nós nos
tornamos alguma coisa. Escrever é devir. É devir o que bem entender.
(...) Escrever é mostrar a vida. É testemunhar em favor da vida. (...).
Escrever é necessariamente forçar a linguagem, (...), forçar a sintaxe até
um certo limite. (...). Tanto o limite que separa a linguagem do silêncio,
quanto o que separa a linguagem da música (...) Fica-se no limite que
separa o pensamento do não pensamento.”37
35 CANTON, 2009, p. 53
36 DELEUZE; PARNET, 2012, p. 4.
37 DELEUZE; PARNET, 2012, p. 4.
33
40 VASCONCELLOS, 2015
41 DIAS; IRWIN, 2013
35
Para que as escolhas que fazemos dos conceitos (textos, livros e obras)
dos outros passem para nós, é necessário que os definamos como
escritos por nós. E que, ao mesmo tempo, os tornemos outros,
deformando-os por amor, desde que por eles fomos seduzidos. O que
buscamos, (...) é que alguma coisa ocorra: uma nova aventura, uma nova
conjunção amorosa; e, por isso, a relação que estabelecemos com
determinados conceitos do autor amado é a de que eles fiquem lá, como
dignos de nós mesmos, inspirando-nos a passar do Prazer de Ler ao
Desejo de Escrever.49
56 RANCIÈRE, 2009a
57 SPINK, 2014, p. 21 Grifos da autora citada.
41
E isso não é pouco.... E isso não é fácil.... Não é fácil escapar aos
hábitos e modelos que estruturam nossa percepção, nosso pensamento,
nosso desejo, nossos afetos.
Hannah Arendt! Bem vinda! Até já...) parece que tantas vezes
escolhemos caminhos íngremes e inóspitos, em torno da vontade de
controle, do domínio do saber.... Estaríamos assim também entornando
nossa capacidade de pensamento, experiência e ação?
61
LOPES. 2007, p. 77
47
66 ARTAXO, 2014, p. 21
67 ROCKSTRÖM, 2009
68 COSTA, 2016, p. 3
69 FOUCAULT, 1984.
50
Figura 9 – Devir-pedra. Joseph Beyus, O final do século XX. 1968. Instalação, Bienal
de Veneza.
74 GOODMAN, 1992, p. 15
75 DELEUZE, 1990, p. 207
76 DELEUZE, 1992, p. 222
77 CERTEAU, 2013, p. 49
53
78 CERTEAU, 2013, p. 49
54
79
Revisitando o poema de NHAT HAHN, Thich. Por favor, me chame pelos meus
verdadeiros nomes. https://www.mundomindfulness.com.br/poema-por-favor-
me-chame-pelos-meus
55
80 KOHAN, 2007, p. 52
81 CAMOZATTO, 2014, p.574
56
Figura 10 – Devir- leveza. Guto Lacaz. Auditório para questões delicadas. Instalação
flutuante. 1989. Parque do Ibirapuera, SP.
83 CERTEAU, 2013, p. 89
84 BACHELARD, 1997, p. 2
58
passemos de uma à outra, e que todo homem falante seja o lugar desta
diferença, desta passagem. (...) O homem, na medida que tem uma
infância, em que já não é sempre falante, cinde esta língua uma e
apresenta-se como aquele que, para falar, deve constituir-se como
sujeito da linguagem.87
88 BACHELARD, 1993, p. 63
60
Figura 13 – Devir-dança. Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC.
2016.
Vamos?
66
Já a criação é imprevisível.
97 KLEIN, 2011, p. 91
98 Idem.
69
plano, um solo, que não se confunde com eles, mas que abriga seus
germes e os personagens que os cultivam.”101
suficiente para provar a verdade de uma teoria.107 Niels Bohr afirma que
qualquer investigação implica uma interferência no curso dos
fenômenos observados e requer uma renúncia à ideia clássica de
causalidade, uma mudança radical em nossa relação ao problema da
realidade. Para ele, o propósito de delinear teorias científicas não é
desvendar a essência real dos fenômenos, mas sim, criar significações,
evidenciar relações entre os múltiplos aspectos de nossa experiência.108
112 ROLLING Jr, 2013, p. 12. “Renaissance thinkers who postulated a scientific method
nos livros Anti-Édipo (2010) e Mil-Platôs vol. 3 (1997). Este conceito, inspirado em
Antonin Artaud, se refere à dimensão virtual, potencial, intensiva de nosso corpo. O
corpo organismo funciona de maneira estratificada e trabalha para a produção, para
realizar objetivos pré-determinados, ordenados pela lógica capitalista. Criar um
corpo sem órgãos supõe criar devires, experiências que escapem destes
condicionamentos e propiciem revelar e ativar nossos potenciais.
86
Figura 20- Devir cartográfico. Carmela Gross. Bordado: a rede hídrica de São Paulo.
2007.
140 ROLLING, 2013, p. 4. “digging out connective elements, casting models, and
constructing assemblies that shape the flux and caos of each day`s perceptions into
a patterned reality we can comprehend and correlate.” (tradução livre de minha
autoria)
88
Figura 21 – Devir-arte. Oficina Parangolé, a vida como obra de arte, CED UFSC, junho
2016, e CCE, 2017.
91
ethical, aesthetical and political reasons when it comes to furthering that trajectory
along epistemological claims, and with a self-serving representational aesthetic.
Figura 23 – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC, junho de 2016
Figura 23 a – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC, junho de 2016
163 BARONE; EISNER, 2012, p. 64. ”a moving outward into communion with others”
164 BARONE; EISNER, 2012, p. 64. “Catharsis, therapy, self-awakening, self-
transformation, self-empowerment, personal growth – these are available
subjectivist aims for social inquiry espoused by methodologists who are willing to
brave the epithets of self-indulgence, self-absorption, narcissism, and navel-gazing
inevitably hurled at them.”
165BARONE; EISNER, 2012, p.3 “Art based research is an heuristic through which we
deepen and make more complex our understanding of some aspect of the world”.
166 Idem. “necessary condition for deep forms of meaning in human life”.
103
172 BARONE; EISNER, 2012, p.124. “a need for surprise, for the kind of re-creation that
catalytic potential for engendering a conversation, texts, that is, in which there is not
inscribed a single, monolithic, static, privileged, authoritative, dominant point of
view? How can we offer a multiplicity of perspectives, each of which is fragile, fluid,
tentative, and epistemological humble? How can we create a text that is
simultaneously owned by all collaborators, one that discloses the multiple
perspectives of the researcher and the various perspectives of the characters
inhabiting the text? And how can the text serve to raise questions about the
dominance of the master narrative in the minds of the readers as they imagine
characters and events outside of the text as analogous to those portrayed within it?”
107
175 BARONE; EISNER, 2012, p. 153. “What makes a work significant is the thematic
importance, its focus on the issues that make a sizable difference in the lives of people
within a society.”
176 Idem, p. 154
177 BARONE; EISNER, 2012, p. 6 “The virtues to be found in arts based research are
180 ISER, 1993, p. 16-17. “Empirical world from which the textual world has been
drawn, allowing this very world to be perceived from a vantage point that has never
been part of it making conceivable what would otherwise remain hidden.”
181 ISER, 1993, p. 298
111
Figura 25 – Devir-pintura. Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC,
junho de 2016.
182 BARONE; EISNER, 2012, p. 56-57 “We believe that someone who can produce such
a work – by first carefully observing facets of the world and then recasting them in to
a meaningful cultural form – is at the time of that creation operating as an artist. (…)
We believe that the skills and talents needed can – to a large degree – be acquired
through dedication, practice, and guidance. And we believe that universities and
colleges can create and/or modify social research programs that attend to the
teaching of those skills and talents that provide the practical resources required to
become a good arts based researcher.”
113
183 BARONE; EISNER. 2012, p.62. ”a process concerned essentially with the making of
meaning in language to a process in which meaning is made through the
interpretation of forms in whatever media they happen to appear.”
184 BARONE; EISNER. 2012, p. 156. “The presence of nondiscursive experience
provides for an awareness that when artistically crafted enables us to grasp some
aspects of the meaning of things. Nondiscursive theory is not an oxymoron as long as
our conception of theory is expanded beyond the narrower confines of traditional
scientific discourse.”
114
Figura 26 – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CCE UFSC, setembro de
2017.
187BARONE; EISNER. 2012, p. 162. “Most of the most profound experiences we have
is life are fundamentally unmeasurable.”
116
1.2.2. A/r/tografia
Inspirados nas concepções de Eisner e Barone, um grupo de
pesquisadores canadenses, criaram a partir da década de 2000 outras
conceituações e práticas de investigação artística, que denominaram
A/r/tography (A/r/tografia), talvez a modalidade de PBA mais conhecida
no Brasil. São professores/pesquisadores da Faculdade de Educação da
University of British Columbia, em Vancouver, no Canadá, entre outros:
Stephany Sppringay, Rita Irwin, Carl Leggo, A. Sinner e Peter Gouzouasis.
198 DE COSSON; IRWIN, 2004, p. 31. “Art is the visual reorganization of experience
that renders complex the apparently simple or simplifies the apparently complex.
Research is the enhancement of meaning revealed through ongoing interpretations
of complex relationships that are continually created, recreated and transformed.
Teaching is performative knowing in meaningful relationships with learners.”
199 IRWIN; SPRINGGAY, 2008, p. 31. “In a critical exchange that is reflective,
sugere que ser é sempre ser com o outro, em uma perspectiva onde o
eu e o outro não ocupam posições opostas, mas diferentes: o eu não
existe sem o outro, nem é redutível a ele, mantendo-se assim a
diferença. Irwin sublinha a importância da comunidade nas práticas
a/r/tográficas, pois “nenhum pesquisador, artista ou educador, existe
somente em si mesmo nem somente dentro de uma comunidade. (...).
As comunidades a/r/tográficas podem ser definidas pelo próprio ato de
aproximação, pela condição de uma relação, de pertença.”209 Para
Nancy, a comunidade “é uma tarefa infinita ao pé da mortalidade e da
impermanência.”210 Rita Irwin propõe quatro modalidades de
compromissos comunitários a serem assumidos pelos a/r/tógrafos ao
realizarem uma investigação: o compromisso com uma maneira de
ser/estar no mundo; o compromisso com a investigação, no sentindo de
manter a curiosidade, de buscar questões e entendimentos relevantes,
de se engajar no desenvolvimento das próprias aptidões enquanto
professores e artistas; o compromisso com a negociação do
engajamento pessoal em uma comunidade de pertença; e o
compromisso com a criação de práticas que problematizem e reflitam a
diferença. 211
productionist logic of modern power that designer capitalism puts into play.”
Capitalismo designer é um termo cunhado por Jagodzinski, referindo-se à sociedade
de controle, como foi descrita por Deleuze e Guattari em Mil Platôs (1995)
220 GARION, Charles, in Jagodzinski; Wallin, 2013, p. vii
221 DELEUZE, 2013
128
Figura 30 – Devir- crença. Adriana Varejão. Andar com fé. Fotografia. 2002.
131
A Ética da Traição
234SILVA, 2002, p. 50
235JAGODZINSKI; WALLIN, 2013, p. 10. “Betrayal is an enemy to common sense – as
what is most common marks a will to representation. Betrayal is hence what
unleaches from common form thoses forces through which the word might be
thought with difference”.
136
240JAGODZINSKI; WALLIN, 2013, p. 13. “Perhaps the highest power of a political ABR
is the creation of traitor objects through which thought might trust the future. The
art force of the traitor object might change everything.”
241 JAGODZINSKI; WALLIN, 2013, p. 16. “An ethics of betrayal is a corollary of
individuated realm of the unconscious raises all sorts of problematics for arts-based
research that wishes to free itself of the capitalist lure. Perhaps it can’t. The renewed
emphasis on affect in cultural studies raises one more commodity fetishism and what
has been termed ‘capitalist animism’ in some circles. (...). Capitalism in this sense is
143
machinic, an alien monstrosity that sustains itself indefinitly through continous cycles
of deterritorialization and reterritorialization. Its animist agency is manifested
through ecophagic practices, wich harbor a freudian death drive to the point where
everything will be used up, as our species is liquidated by its own narcissism.
144
“Distribuindo o sensível”
Provocações
Provocação 2: “Mude”
“A questão não é de onde você tira as coisas, mas para onde você
as leva.”256 Este tipo de roubo não ressoa, nem com o desejo de
acumulação, nem com uma recombinação de alguma produção cultural.
Este roubo promove novas maneiras de se pensar o que já existe.
Jagodzinski e Wallin trazem o exemplo de Kafka. Kafka não busca a
expressão de um significado, ou a representação de um ser, ou a
imitação da natureza; o que este escritor faz é promulgar um novo modo
de pensar a linguagem. Kafka usa palavras e situações conhecidas,
tornando-as irreconhecíveis, roubando dos valores coletivos da fala
oficial, uma semiótica mutante, que não presume sua reflexão numa
forma de vida existente a priori. A trapaça seria, portanto, no sentido
proposto por Jagodzinski e Wallin, um ludibriar as formas da linguagem
e dos estilos de vida neo-liberais, criando novos estilos artísticos capazes
de mobilizar a vida de um povo por vir. Criar formas de vida que se
evadam das garras do biopoder e de sua manipulação. Assim a força da
arte e da pesquisa baseada em arte, de acordo com estes autores, pode
ser pensada de uma maneira distinta da imagem familiar que a vê como
uma criatividade pessoal e uma expressão individual. Uma força que
parte de uma produção desejante que é sempre já social.
E la nave va....
No corredor: a espera
Figura 38 – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CCE UFSC, setembro de
2017. Fotografia, Tim Diederichsen.
154
CECÍLIA - ...
PEDRO - Olá! Final de ano, correria, esse baita calor, salário de professor,
bolso vazio... estou exausto.
MARIA - Oi! Ainda bem que temos um tempinho antes da aula. Essa
minha barriga, não é tão fácil de carregar.
CECÍLIA - Senta aqui, então. Também tive um dia cansativo... Não tenho
nem vontade de falar.
PEDRO - Nossa batalha hoje é outra... Como fazer para não sermos
contaminados pelos modelos de competição, produtividade e
homogeneização que inundam nossa sociedade? “Nós hoje sabemos
que, para a destruição da experiência, uma catástrofe não é de modo
algum necessária, e que a pacífica existência cotidiana em uma grande
cidade é, para este fim, perfeitamente suficiente.”264 O que temos para
narrar?
PEDRO - Eu estou olhando e vendo vocês duas bem aqui na minha frente.
PEDRO - A pesquisa? Não sei, mas eu sou normal. Ainda não saí
berrando por aí. Ahahaha!
MARIA - Muitas vezes sinto uma profunda ruptura com a escola em que
trabalho, discordo da forma como esta atua e dos valores que promove,
mas, ao mesmo tempo, apareço aos olhos do aluno como uma
representante da instituição.273 Pode?
CECÍLIA - Acho, às vezes, que os alunos (assim como eu) estão apenas
reproduzindo disposições condicionadas, trajetos preestabelecidos,
trejeitos consumistas, trajando imitações made in china e emoções de
novela. Às vezes dá vontade de sumir... ou de morrer...
MARIA - Meu papel? Acho que eu mesma é que fui deixando fixar-se em
mim todo tipo de papel: outdoors, filipetas, dicionários, cartilhas, papéis
de filha, mãe, aluna, professora, esposa, papéis moeda, tratados e
fórmulas sobre tudo e todos, papéis repletos de números e letras,
sempre preenchidos, sem espaços em branco, cobertos por palavras
escritas há muito tempo ou imagens descoloridas por ideais de beleza, e
verdades perfeitas; papéis que foram se acumulando sobre minha pele,
sobre meus poros, sobrepondo camadas, enrijecendo, me fazendo
sentir pequena, eu ainda pequena e criança, eu adolescente que não
sabia se sabia, diante da vastidão do mundo, eu adulta, envolta em
papéis.
PEDRO - Penso que cada momento tem sua casca. Talvez possamos
descascá-los. E comê-los!
MARIA - Pois a vida continua pulsando aqui, lá e acolá. “Pipoca aqui, ali,
pipoca ali, desainotece a manhã, tudo mudou.”277
MARIA - “Há que se encontrar pela primeira vez uma frase para poder
ser poeta nela.”279
CECÍLIA - E você, Maria querida, como está a gravidez, como vai nossa
Alice, lindinha? Sua barriga já está bem grande! Quando vai ser o parto?
MARIA - Eu que o diga! Bem pesadinha também. Acho que daqui umas
duas semanas vocês já vão poder segurá-la em seus braços! Ela está
chegando!
CECÍLIA - Sim! Será muito bem vinda nossa pequena Alice! Única no
mundo! “É a singularidade que distingue cada ser humano de todos os
demais, a qualidade em virtude da qual ele não é apenas um forasteiro
no mundo, mas alguma coisa que jamais esteve aí antes.”283
MARIA - Ter um bebê dentro da gente, que vai nascer logo logo, faz a
gente pensar... Não tem como proferir uma frase pessimista... Nem
pensar ou sentir algo muito negativo... O acreditar na possibilidade do
mundo passa a ser essencial, prioritário, urgente.
PEDRO - Isso aí! Assino embaixo. Mas tem gente que não pensa assim.
PEDRO - Talvez...
MARIA -Tomara!
Figura 42- Devir-navegante. Anselm Kiefer. Batalhas no mar, por Khlebinikov. 2016.
171
Sim!!!!
Sim.
Sim.
Escuta! Ele segue fluindo, vou junto com ele. Devir riacho.
“Ir para onde? Não importa, para frente é que se vai! Mas,
depois.” Agora é repousar neste riacho, e relaxar.” É gostoso! Parar para
tremer. E para pensar. Também.”295
( )
178
Escuta?
Cintila, por detrás dos reflexos de sua superfície, “por trás das
imagens que se mostram, (...) a própria raiz da força imaginante.”299
Arroyto. Suas águas são povoadas por sonhos. “Como a vida é um sonho
dentro de um sonho, o universo é um reflexo dentro de um reflexo.”300
Refletindo o brilho do céu, o rio cria um céu em sua pele. Neste céu
invertido, a vida ganha uma nova vida. Algum deles é real?
Mas esta não é a única escuta possível. Há uma outra escuta, que
não interpreta, não decifra, como a escuta da música proposta por
Nietzsche, uma escuta que escuta o mundo e “incorpora para si a
experiência musical do próprio mundo. (...). Heráclito se posiciona como
aquele que conhece o ritmo ao qual pulsa o cosmos” e busca perceber o
ser do devir total.
Escuta?
Devir rio é “um tipo de destino. Não apenas o vão destino das
imagens fugazes, o vão destino de um sonho que não se acaba, mas um
destino essencial que metamorfoseia incessantemente a substância do
ser.”306 Temos o destino da água que corre, nascemos e morremos a
cada instante. Alguma coisa em nós desmorona constantemente. “A
morte cotidiana é a morte da água. A água corre sempre, cai sempre,
acaba sempre em sua morte horizontal.”307
Escuta?
Sim! O rio também ri! Você escuta sua risada? Um ahahaha, meio
misturado a um glu glu glu... Ele não se leva demasiadamente a sério...
Figuras 48 - Oficina Parangolé, a vida como obra de arte, CED UFSC, 2016.
188
Assim eu ouvi:
320
Trecho da carta escrita por um chefe da etnia Seattle, de 1854, em resposta à
proposta que o então presidente dos EUA lhe fez, de comprar as terras indígenas.
Fonte:https://opiniaosocialista.wordpress.com/textos-fundamentais/
Acesso em 04/11/2017
189
A fala da água é poesia. Há falas que não fluem, são como pedras.
Não são encontro, mas condenação. Há falas “que só querem te deixar
ali onde você está, preso de sua prisão, órfão de outras vidas.” 328 A
poesia quer fluir, nos carrega num devir-riacho, num devir-criança, em
seu fluxo ininterrupto “nos restitui ininterruptamente a faculdade de
nos maravilharmos. A Poesia é uma função de despertar.” 329
Figura 50 – Devir- rio. Carmela Gross. Fronteira, fonte, foz. 2001. Instalação. Mosaico
português. Laguna, SC
A criança vivencia o mundo com seu corpo sem órgãos.341 Ela não
é separada do que vivencia. A criança quando brinca com um avião, ela
devém-avião.
360
BOSQUET, Apud BACHELARD, 2009, p.94
204
Como escrever de outro jeito senão sobre aquilo que não se sabe(...)? Só
se escreve na ponta de seu próprio saber, nesta ponta extrema que
separa nosso saber e nossa ignorância e que faz passar um no outro. (...).
Suprir a ignorância é deixar a escrita para depois ou, antes, torná-la
impossível.363
das bocas que se beijam, nas perguntas das crianças, nas palavras ditas,
nas emudecidas e nas que escrevemos, nas pesquisas que se mantêm
abertas à sinfonia inacabada da vida, aos gestos imprecisos deste corpo
onde o tempo deixa suas marcas assinalando sua passagem, ao
murmúrio deste eu-mundo-sem-fim, ao fluxo incessante desta nascente,
que não cessa de nascer.
Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário
nas coisas -Assim me tornarei um daqueles que fazem as belas coisas.
Amor Fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não
quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem
mesmo acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o
olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém
que diz Sim!”367
Fundar é afundar.
369
ROSA, 1994, p. 411-413.
210
viagens pelos mundos, pelas avenues, pelas paisagens dos livros, pelos
desertos, pelas florestas de pedra e de árvores, por casinhas de pau-a-
pique, sem luz elétrica, nem água: só lampião e balde (água corrente, só
ali no riachinho, ao lado da casa, lembras do riacho? onde lavávamos a
roupa, a louça, o corpo e a alma - a alma? Sim, também a alma); depois
de ter aceitado o convite do fora, e adentrado (ou saído?) de seus
desterritórios, atravessado seus redemoinhos, seus labirintos; depois de
eu, por incontáveis vezes, ter permitido o fora me quebrar e abrir o
infinito e a poesia em mim, em meus olhos e no mundo, o vasto mundo
que agora vejo, não me sinto mais confinada. Só um pouco.
PEDRO - Boa!
CECÍLIA - Está pronta a canoa que nos levará até lá. Nela, atravessaremos
as corredeiras aventureiras do pensamento, em direção às terceiras
margens. Afinal, é por elas que escaparemos aos dualismos e às duas
margens que estreitam nosso pensamento, e traremos alguma liberdade
às nossas pesquisas.
(..........)
PEDRO - Escuta?
CECÍLIA - Escuto!
MARIA - Sim!
215
CECÍLIA - É Zaratustra!
PEDRO - Sobe, então, por favor, em nossa canoa! Poderias nos deslocar
para-lá com o remo de tuas potentes palavras?
374
NIETZSCHE, 2011, p. 16-17
217
MARIA - Um devir-ponte para que nosso mundo possa ser a terra dos
que virão. Do povo por-vir. É o que busco como professora de arte.
CECÍLIA - E lhe perguntamos agora, como teriam sido erigidas estas duas
margens em nosso pensamento?
218
PEDRO - Dentro deste modelo, não seria aceita uma pesquisa com a arte.
CECÍLIA - Veremos.
MARIA - Sim! Uma pesquisa pode ainda ser única e manter um mistério.
Nunca conheceremos tudo.
NIETZSCHE - “Tudo veio a ser; não existem fatos eternos: assim como
não existem verdades absolutas. - Portanto, o filosofar histórico é
doravante necessário, e com ele, a virtude da modéstia.”378
CECÍLIA - Bem que podia aparecer por aqui Dionísio, trazendo vinho e
sua embriaguez.
PEDRO - Está falando tão alto! Ouço alguma coisa... Vamos chegar mais
perto para escutar.
MARIA - Escuta?
PEDRO - Será?
PEDRO - Será?
CECÍLIA - Não o vejo... Mas escuto! Que estranho... Ele está falando de
uma segunda divisão? .... o quê?... vamos chegar mais perto... sim, fala
de uma outra divisão lavrada pelo pensamento platônico.
CECÍLIA - Eu diria que “o sábio taoísta assume o sonho, não o deriva para
a esquizo,”397 para o engano. Percebe a fluidez da realidade.
PEDRO - Esse fluir das águas me embala, me enrola, me nina. Ai, que
sono.
MARIA - Estou bem animada para mais esta visita, embora a margem do
fora seja, provavelmente, a mais violenta.
CECÍLIA - Claro!
MARIA - Olha! Talvez seja alguém, veja! Ali deitado, talvez olhando a
noite.
CECÍLIA - Boa noite, Monsieur Blanchot! Bon soir. É bem escuro aqui,
onde vives... mas, sabes? Há também em mim uma parte que não
231
PEDRO - Mas este vazio anônimo em uma pesquisa não seria por demais
vago, fugidio, por demais solipsista, não habitando nenhuma terra em
comum com o leitor, com o outro, com o mundo?
BLANCHOT - “A arte quer edificar, mas segundo ela própria. (...). Ela tem
certamente por objetivo algo de real, (...). Real: eficaz. Não um instante
de sonho, um puro sorriso interior, mas uma ação realizada que é ela
mesma atuante, que informa ou desinforma os outros, os atrai, os agita,
os comove, os impele a outras ações que, na maioria das vezes não
retornam à arte, mas pertencem ao curso do mundo, ajudam à história
e, assim, perdem-se talvez na história mas nela se reencontram,
finalmente, na liberdade convertida em obra concreta.”416
PEDRO - Agora sou cavaleiro, laço firme, braço forte, no reino que não
tem rei.421
CECÍLIA - Reino que não tem rei... Me sinto ainda tão vulnerável! Como
podemos passar ao longo da corredeira dos poderes sem nos deixarmos
arrastar? Como realizar uma pesquisa que não reproduza mecanismos
do poder? O poder não tem forma, é difuso, habita corpos, instituições,
discursos, se ramifica, se espalha na tal “Microfísica do Poder.”422
CECÍLIA - Até você habita a terceira margem! Que alegria poder lhe
escutar. Tantos anos lendo seus textos!
que produzam a sua voz! Essa é minha luta de muitos anos! Morte do
autor? Eu realmente me sinto desmoronar...
MARIA - Sim! Mas como fazer o fora estar dentro de nossas pesquisas?
Ops! Falei besteira, ou um paradoxo?
Figura 63- Devir-exterior. Logon Zillmer. Looking for the sun. 2016. Foto-montagem.
PEDRO - E eu não sei se percebo como funciona uma pesquisa sem uma
razão representativa. A ciência tem suas regras. Suas seguranças.
Figura 64- Devir-comoção. Guto Lacaz. Buenos Livros – Oxigênio. 2010, Parque em
Buenos Aires.
Figura 65- Devir-vagalume. Yayoi Kusama. Sala de espelhos do infinito, cheia com o
brilho da vida. 2011.
442
BOPP, 2009
248
criação é uma fuga dos humanos do homem e dos sistemas de poder que
este padrão pressupõe.443
Figura 69 - Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC, junho de 2016.
de receber sentido, produzir sentido, dar sentido, fazer com que seja,
cada vez, um sentido novo.475
PEDRO - Concordo! Lembrei agora que o próprio Sócrates dizia que sua
atividade consistia em incitar os outros a ocuparem-se de si mesmos.
Para ele, o cuidado de si constitui um princípio de agitação, movimento
e liberdade, de permanente inquietude no curso da existência.
CECÍLIA - Pesquisar “tem a ver com o talvez de uma vida que nunca
poderemos possuir, com o talvez de um tempo no qual nunca
poderemos permanecer, com o talvez de uma palavra que não
compreenderemos, com o talvez de um pensamento que nunca
poderemos pensar, com o talvez de um homem que não será um de nós.
Mas que, ao mesmo tempo, para que sua possibilidade surja, talvez, do
interior do impossível, precisam de nossa vida, de nosso tempo, de
nossas palavras, de nossos pensamentos e de nossa humanidade.”483
ao seu reboliço de forças. Parece que nada vai sobrar... que estamos
perdidos em seu movimento caótico. Mas... em seguida, logo em
seguida, emergimos em novas possibilidades de fluência, novos
sentidos, novos cenários.
Figura 71 – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC, 2016.
Figura 72 – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC, 2016.
488
ANDRADE, Manifesto Pau-Brasil, in TELES, 1976
266
498Situação que ainda se reproduz até hoje, e mais enfaticamente nos últimos anos,
quando vemos a elite econômica e política brasileira, se curvar aos interesses no
capitalismo internacional, instaurando sua “cleptocracia,” na ânsia de mordiscar um
pedaço do bolo.
273
A ascensão que leva hoje a arte brasileira a uma expressão nova, vem da
consciência de um processo antropofágico iniciado desde Osvaldo
Andrade, (...) e daí pra cá eclodindo nas mais diversas experiências a que
se denominam vanguardas (...) e a consequente evolução do que veio a
se chamar tropicalismo. 501
na rua, essa palavra mágica. (...). Eu estava indo de ônibus e na Praça da Bandeira
havia um mendigo que fez assim uma espécie de coisa mais linda do mundo: uma
espécie de construção. No dia seguinte já havia desaparecido. Eram quatro postes,
estacas de madeira de uns dois metros de altura, que ele fez como se fossem vértices
de retângulos no chão. Era um terreno baldio, com um matinho, e tinha esta clareira
que o cara estacou e botou as paredes feitas de fio de barbante de cima a baixo. Bem
feitíssimo. E havia um pedaço de aninhagem pregado num destes barbantes, que
dizia: ‘aqui é....’ e a única coisa que eu entendi, que estava escrito, era a palavra
‘Parangolé’. Aí eu disse: É essa a palavra!” OITICICA – Entrevista a Jorge Guinle Filho,
in FAVARETTO, 2015, p. 117.
506 FAVARETTO, 2015, p. 173
276
Esse ato, a imersão no ritmo, é um puro ato criador. (...) A dança não
propõe uma fuga desse mundo imanente, mas o revela em toda sua
plenitude – o que seria para Nietzsche a embriaguez dionisíaca é na
verdade uma lucidez expressiva da imanência do ato.507
Figura 78- Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CCE UFSC, setembro de 2017
.
Figura 79 – Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CED UFSC, 2017
Figura 80 – Devir- coletivo. Sambistas da Escola de Samba Vai Vai, SP, usando
Parangolés. 1979.
Figura 81- Oficina Parangolé, a vida como obra de arte, CED UFSC, 2017
Escrever como um cão que faz um buraco, um rato que faz a toca. E, por
isso, encontrar o seu próprio ponto de subdesenvolvimento, o seu
próprio terceiro mundo, o seu próprio deserto. Houve muitos debates
sobre o que é uma literatura marginal. (...). Só deste modo é que a
literatura se torna realmente máquina coletiva de expressão, apta a
tratar e exercitar conteúdos. (...). Como é que se extrai da sua própria
língua uma literatura menor, capaz de pensar a linguagem e fazê-la tecer
conforme uma linha revolucionária sóbria?516
Figura 82- Oficina Parangolé, a vida como obra de arte. CCE UFSC, setembro de 2017.
pesquisa “se avalia nela mesma, pelos movimentos que traça e pelas
intensidades que ela cria (...). Não há nunca outro critério senão o teor
da existência, a intensificação da vida.”536
Penso que alguns passos foram dados neste sentido. Penso que
de alguma forma, esta tese nos animou a correr riscos e a considerar a
possibilidade de empreender trajetórias outras de pesquisa. Nos animou
a convidar a arte como guia e companheira nesta empreitada. Nos
animou a ponderar que, se uma pesquisa tradicional pode nos induzir a
realizar algo da ordem de um recenseamento de terras conhecíveis,
dimensionado por um cogito territorializado e ordenador,537 uma
pesquisa com a arte pode nos incitar a criar um pensamento que ainda
não sabe a si próprio e por isso se pensa. Por isso pode inventar formas
de percepção, sensibilidade e atuação, capazes de inaugurar mundos e
humanidades.
Me deixou leve.
O tempo dirá.
294
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Figura 10 - Devir- leveza. Guto Lacaz. Aud. para questões delicadas.........56
Instalação flutuante. 1989. Parque do Ibirapuera, SP. (Fonte: A
Metrópole e a arte. SP, Ed Prêmio, 1992)
Figura 63- Devir-exterior. Logon Zillmer. Looking for the sun. ................239
2016. Foto-montagem. (Fonte: http://loganzillmer-
photography.tumblr.com/. Acesso em 15.01.2018)