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Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação
(Licenciatura em Filosofia)
Maputo
Novembro de 2022
UDL
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANEANE
Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação
(Licenciatura em Filosofia)
Maputo
Novembro de 2022
iii
Declaração de honra
Eu, Fátima José Matusse, declaro em minha honra que a presente monografia é fruto da minha
investigação, sob orientação da minha tutora. O conteúdo nele existente é original e todas as
fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e nas referências bibliográficas.
Declaro ainda que, o mesmo nunca foi apresentado em nenhum outro âmbito para obtenção de
qualquer grau académico.
Por ser verdade, a declaração será por mim assinada como prova da minha palavra.
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida.
Em segundo lugar aos meus tios Fernando Timbe, e sua esposa, Sandra Sarmento que me
ajudaram a partir de 8 classe e contribuíram para suprimir as minhas dificuldades, até ao nível
superior.
Em terceiro lugar, ao meu esposo Jamal, e aos meus filhos Rawan e Rawad por terem se
comportado a quando minha formação.
RESUMO
A presente monografia subordinada ao tema Ética da alteridade enquanto fundamento à reafirmação da
condição humana em Emmanuel Lévinas. Procura reflectir sobre a ética da alteridade enquanto
fundamento para a reafirmação da condição humana. A contemporaneidade tem vindo a ser caracterizada,
como sendo uma época em que se regista perda de referências e consequente conflitos sobre a
identificação e reconhecimento do Rosto culminando assim com actos de “desumanização”. Neste
contexto, procura-se pensar sobre as condições de aplicação da ética da alteridade proposta por Lévinas
enquanto um meio que pode contribuir para criar a harmonia no seu dos homens em função da diversidade
de Culturas e outros atributos de diferenciação. Porém, diante das aforias socias que mostram as nossas
convivências, diante das barbaridades das perpetradas pelas duas grande guerras que marcaram o percurso
da humanidade e acima de tudo diante da desvalorização do ser humano pelo outro da mesma espécie,
Lévinas, apresenta a ética da Alteridade, como um recurso para a restauração dos valores que outrora as
sagradas escrituras defendiam, como o amor ao próximo e a defesa da integridade e a responsabilidade
pelo outro, por ser, humano igual ao outro. A ideia de alteridade de Lévinas ancora-se na responsabilidade
entre os homens para que permitem a definição e reconhecimento do Outro que vai se articulando em
todos os domínios de poder e saber, mas também, propõe-se um reconhecimento dos homens, numa
perpectiva em que são chamados a entender a sua responsabilidade diante das espécies humanas. Quanto a
metodologia, o trabalho é fruto da pesquisa bibliográfica auxiliada pela técnica hermenêutica textual, que
consiste na compreensão e interpretação das obras sobre a temática.
ÍNDIC
E
Introdução.........................................................................................................................................9
Introdução
O presente trabalho é subordinado ao tema, Ética da alteridade enquanto fundamento à
reafirmação da condição humana em Emmanuel Lévinas. O tema surge da constatação de que
com o desenvolvimento da ciência e da técnica, muitas sociedades deixaram de fora a ética como
elemento determinante para o desenvolvimento humano através da qual, valores como a paz,
dignidade, respeito mútuo, interculturalidade, tolerância, direitos e liberdades fundamentais
reinam no seio da sociedade de diferentes formas. O desenvolvimento dos meios de transportes e
comunicação que impulsionaram os movimentos migratórios pelo mundo fora, aumentando a
coexistência de diversas culturas dentro do mesmo espaço geográfico, fazem com que diferentes
culturas entrem em conflitos que podem provocar crises humanitárias que mesmo a nível político
pode ter fissuras para poder resolver as mesmas.
O referencial bibliográfico deste trabalho baseou-se nas obras que abordam sobre a temática com
destaque para as obras de Lévinas tais como: Totalidade e infinito, (2000), originalmente
publicada em 1961, foi sua tese de doutoramento, com esta obra, Lévinas inaugura o terceiro
período da humanidade, onde as questões éticas constituem o cerne dos debates entre os homens.
Nela o autor defendeu que, a ética é anterior á ontologia fundamental existencial e ponto de
partida de toda a filosofia que orienta a convivência dos seres humanos.
Já na obra Humanismo do outro homem (1993) Lévinas afirma que a manifestação do outro se
produz, certamente, à primeira vista, de acordo com o modo pelo qual toda a significação se
produz. O Outro está presente numa conjuntura cultural e dela recebe sua luz como um texto do
seu contexto. A manifestação do conjunto assegura sua presença. A compreensão do Outro é a
manifestação hermenêutica, uma exegese. A epifania do Outro comporta uma significação
própria, independente desta significação recebida do mundo. O Outro não nos vem somente a
partir do contexto, mas, sem esta mediação significa por si mesmo.
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As abordagens de ética, para Lévinas na obra Entre nós: ensaio sobre a alteridade (2004), está
pautada na relação do eu para com o outro, cuja definição do indivíduo ético é composta sempre
pelo outro e nunca pelo eu. Esta reflexão leva-nos a entender que o eu é, sobretudo, presumido
pelo outro e que a subjetividade provem de fora do eu, pois o outro me tece como sujeito.
A estrutura do trabalho compreende três (3) capítulos, dois quais, no primeiro capítulo,
dedicamo-nos na apresentação contextual do pensamento de Lévinas e os efeitos que a
modernidade teve para que este pudesse brotar e procuramos mostrar as formas articulação a
ética da alteridade para o autor de forma a responder os problemas da humanidade. No segundo
capítulo, procuramos discutir como é que a indiferença do humano pode influenciar
drasticamente na vida ou nos destinos do Outro, principalmente, em tempos de abundância
tecnológica. E já no terceiro capítulo, procuramos apresentar como é que a ética da alteridade
pode se tornar meio que pode sustentar o humanismo enquanto para a boa interação entre os
homens.
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Na abordagem de Marcondes (2001: 42) a ética apresentada pelos antigos, a partir de Sofistas até
Aristóteles, gravitava sobre o debate da ética na política, sobre a formação do cidadão virtuoso
que pudesse servir a polis; na busca do elemento primário para a vida boa (virtude); na busca do
verdadeiro conhecimento para o respeito entre eles; na busca da excelência de cada homem para
o bem dele mesmo; na busca pela felicidade. Numa altura em que os regimes políticos vigentes se
metamorfoseavam, saía-se, em Atenas, da tirania, e da oligarquia para a democracia, e a
preocupação do dia era, como sobreviver diante desta mutação, e que tipo de cidadãos precisa-se
1
Emmanuel Lévinas foi um filósofo judeu que viveu no corpo do Século XX, nasceu em janeiro de 1906 em Kaunas,
na Lituânia morre em 1995 em Paris. Estudos secundários na Lituânia e Rússia. Estudos de Filosofia em Estrasburgo,
de 1923 a 1930. Estada em Friburgo em 1928-1929. Onde aprofundou os estudos sobre a Fenomenologia com de
Husserl e Heidegger que foram seus professores. Naturalizado francês em 1930. Tornou-se Professor de Filosofia,
director da Escola normal israelita oriental. Mais tarde Professor de Filosofia na Universidade de Poitiers (1964), de
Paris-Nanterre (1967), depois, na Sorbona (1973). É Autor de obras como: Ética e infinito; O humanismo do outro
homem; Totalidade e Infinito e outras obras que marcam o desenvolvimento dos seus pensamentos.
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para o bem de todos. Neste período, o discurso sobre a moral ladeava sobre a organização da
polis.
Cortina e Martínez, (2009: 60-61) entendem que para os estóicos e os epicuristas a moral não se
define com relação à polis, mas com relação ao universo. Enquanto para os estóicos o universo
tem Deus como o seu guia, o orientador de toda acção humana e viviam sob princípios do cosmo.
Para os epicuristas, tudo quanto existe no universo, é formado de átomos, matéria que possui uma
certa liberdade, e não existe intervenção divina, podendo o homem buscar o bem (prazeres
espirituais) neste mundo da forma que ele pudesse visto que este é livre para tal.
A partir dos meados do século XIX e no século XX, a racionalidade subjetiva cartesiana que mais
tarde encontra sustentáculo no iluminismo kantiano, o que veio a marcar o pensamento filosófico
moderno, coloca-se em desconfiança. Assim emerge os questionamentos que preocupam as
respostas da tradição filosófica que se encontrava no cerne do indivíduo enquanto um sujeito
singular.
Miranda (2014: 467- 468) sugere dois campos críticos na crise da modernidade: o antropológico,
onde se questiona os vários modos de domínio ao Outro e as falácias dos argumentos
etnocêntricos, que embasam o olhar sobre o Outro a sua cultura. No campo filosófico, aponta
para a “desconstrução e reconstrução” dos princípios que formulam “a vontade racional” e a
“centralidade do EU”. Uma abertura de tensão filosófica surge nos fundamentos que orientam a
formação do ser humano. Agora, será necessário encontrar um novo olhar formativo do sujeito no
processo educativo.
Entretanto, é na letra que se encontra acorrentada na raiz o espírito liberdade por que os livros
ensinam-nos a ser e estar em meio a diversidade e ao mesmo tempo em que, ensinam-nos a
maldade da qual o mundo pode estar carregada. “Com efeito, ler é manter-se acima do realismo
ou da política, da preocupação por nós mesmos, sem desembocar, contudo, nas boas intenções
das nossas belas almas, nem na idealidade normativa do que deve ser” (LÉVINAS, 2007: 11).
Para Lévinas, o livro por excelência seria a Bíblia, o maior e primeiro livro para orientar as
vivencias da humanidade, desta forma, seria a partir da bíblia que nasceria a moral da qual os
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Esse sentimento de que a Bíblia é o Livro dos Livros aonde se dizem as coisas primeiras, as que
deviam ser ditas pra que a vida humana tivesse um sentido, e que se dizem sob uma forma que
abre aos comentaristas as dimensões mesmas da profundidade, não era uma simples substituição
da consciência do sagrado por um juízo literário porque o filósofo sustenta que “... o Deus do
versículo, apesar de todas as metáforas antropomórficas do texto, pode permanecer a medida do
Espírito para o filósofo” (LÉVINAS, 2007: 13). Isto é, a bíblia deve ser apresentada como a base
para o espírito filosófico humano, especificamente para a filosofia moral, onde os homens
encontrariam o seu encanto social, em busca de melhor convivência, para salvaguardar as ânsias
de uma convivência mais harmoniosa.
que o sujeito faz até o Outro, sem se impor ou retornar a si mesmo, tentando assim ultrapassar,
Heidegger e Nietzsche ao buscar reformular seu humanismo sob a concepção da alteridade.
Lévinas, Mergulha-se na fenomenologia husserliana, mas discorda de seu mestre no que tange à
experiência fenomenológica como fonte de sentido. O Outro não se apresenta a partir de uma
consciência transcendental, e nesse viés não é possível conhecê-lo, uma vez que não é uma
experiência adequada.
Reconhece-se a ética. Neste contato anterior ao saber – nesta obsessão
pelo outro homem – pode-se, certamente, distinguir as motivações de
muitas de nossas tarefas cotidianas e de nossas altas obras cientídicas e
políticas; mas, minha humanidade não entra na história desta cultura, que
aparece propondo-se à minha assunção e que torna possível a própria
liberdade deste assumir. O outro homem comanda, a partir do seu rosto –
que não está encerrado na forma do aparecer – nu despojado de sua forma,
desnudado de sua própria presença que o mascararia ainda como seu
próprio retrato; pele enrugada, vestígio de si mesma, presença que, em
todos os seus instantes, é uma retirada no vão (creux) da morte como uma
eventualidade de não-retorno. A alteridade do próximo é este vão do não-
lugar onde, rosto, já se ausenta sem promessa de retorno (LÉVINAS,
2012: 15).
Lévinas ao estudar a filosofia de Husserl, percebe algo que atrai seu interesse no método que
alicerça a fenomenologia, trata-se da diversidade de regiões do ser com suas respectivas
ontologias regionais que permitem deliberar sobre a impossibilidade de pensar estas diversidades
regionais com as mesmas categorias de conteúdo. A partir dessas percepções filosóficas, Lévinas
só aumenta o interesse por um maior aprofundamento nas reflexões que dizem respeito à
subjetividade e à alteridade com vista a expressar a melhor forma de responsabilidade entre os
homens.
Nas suas encruzilhadas de Lévinas, apresenta uma critica à tese heideggeriana defendida na obra
Ser e Tempo na qual “… o ser é inseparável da compreensão do ser (que se desenrola como
tempo), o ser é já apelo à subjetividade” (LÉVINAS, 2000: 30) No entendimento do Filósofo,
Heidegger não só não resolve o problema da ontologia clássica, isto é, apresentada pelos gregos,
como também acaba fundando uma outra ontologia, a ontologia fundamental; ela inviabiliza uma
relação ética com o Outro, pois impulsiona a soberania do Ser, que se apresenta na compreensão
do ser do ente.
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Para Chalier (1993: 9) os filósofos, educados, desde Heidegger, a não esquecer o ‘ser’ e a pensar
o cuidado próprio de cada um com a sua mortalidade, não respondem a esta crise profunda que
transita pelas ideias e bane a esperança. O sentido parece doravante se ausentar dos discursos e
muitos sorriem com condescendência diante do esforço daqueles que, simples e obstinados, não
ratificam o veredicto desta sabedoria desabusada, frequentemente em perdição. O anti-
humanismo contemporâneo tem assim sua fonte numa inteligibilidade da realidade, desejosa de
não se confrontar com os desastres que obscurecem o mundo.
A critica de Lévinas vai mais longe ao acusar a ontologia heideggeriana por ser uma filosofia da
injustiça, por que assim como todo o pensamento ocidental, a ontologia impede a abertura à
exterioridade. Heidegger de não conseguir afastar-se totalmente da tradição clássica uma vez que
sua atenção aos entes é norteada pela dúvida ontológica sobre o sentido do Ser, numa pretensão
em que o ser tem sido esquecido, ou mesmo confundido pelo Ente. Desse modo, sua proposta é
que se pense o Ser que se revela na existência, que através do Dasein, se manifesta por excelência
no ser humano. Ou seja, o Ser outrora esquecido pela filosofia é resgatado por Heidegger,
orientado pela própria existência humana, concebendo assim, uma ontologia. Assim, no
entendimento de Lévinas (2002: 30) ontologia, dita autêntica, coincide com a facticidade da
existência temporal. Compreender o ser enquanto ser é existir. A ontologia não se realiza no
triunfo do homem sobre sua condição, mas na própria tensão em que esta condição se assume. O
homem inteiro é ontologia. Sua obra científica, sua vida afetiva, a satisfação de suas necessidades
e seu trabalho, sua vida social e morte articulam, com um rigor que se reserva a cada um destes
momentos uma função determinada, a compreensão do ser ou a verdade.
que Lévinas vivenciou a real violência que o homem perpetra para o outro homem, e isto porque,
viu-se na diferença um elemento para pelo qual exaltavam a exclusão do outro, pelos atributos de
diferenciação.
Chalier (1993: 9) afirma que Lévinas viveu em um século duramente marcado pelo ódio na
direção do outro homem, o desprezo cotidiano a seu respeito e a surdez diante de seu lamento
submete todos à tentação do niilismo do qual o individualismo das sociedades ocidentais constitui
uma das metamorfoses cruéis. Para Lévinas, o assassinato é a matriz da violência e da guerra, a
impossível negação do outro; de forma contrária, a interdição é a primeira e fundamental não
violência. Entretanto, a guerra mostrou para o autor a real face do homem, este que é conduzido
pela violência e pela apatia diante do Outro, por causa disso no prefacio de Totalidade e Infinito o
autor afirma que,
A face do ser que se mostra na guerra fixa-se no conceito de totalidade.
Os indivíduos reduzem-se aí a portadores de formas que os comandam
sem eles saberem. Os indivíduos vão buscar a essa totalidade o seu
sentido (invisível fora dela). A unicidade de cada presente sacrifica-se a
um futuro chamado a desvendar o seu sentido objetivo. Porque só o
sentido último é que conta, só o último ato transforma os seres neles
próprios. Eles serão o que aparecerem nas formas, já plásticas, da epopeia
(LÉVINAS, 2000: 10).
A guerra representava, antes de tudo, a prova mais patente do fracasso de um projeto de convivência
e do fracasso da cultura europeia. Uma cultura assentada na ilustração e no liberalismo agora é
colocada em juízo. Esta critica desencadeia-se pela experiência que ele, juntamente com o povo
judeu, faz da guerra, pelos tratos que estes tiveram nos campos de concentração, no período das
duas grandes guerras que marcaram a história da humanidade.
Em Lévinas (2012: 37-38) o modo como o Outro se apresenta, ultrapassando a ideia de Outro em
mim, pois ele constitui um fato, rosto. Esta maneira não consiste em figurar como tema sob o
meu olhar, em expor-se como um conjunto de qualidades que formam uma imagem. A crueldade
da qual as guerras foram marcadas, propiciaram o lance de uma ética que vai articulando-se de
um para o Outro e vice-versa. Esta inversão de sentimentos emerge com o objectivo de os
nazistas e todos os que a tentaram contra os Judeus e outras raças, pensassem na possibilidade de
as crueldades efeituadas pelas raças diferentes da ariana, fossem feitas contra os protagonistas.
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Segundo Ruiz (2008: 118) a alteridade é a filosofia primeira que dá sentido pleno a toda a obra de
Lévinas. Ele não foi o único filósofo a pensar a alteridade, porém sim pensou a alteridade desde
uma perspectiva inédita. O outro não é um ausente total do pensamento ocidental, porém a
presença do Outro é tratada quase sempre de forma marginal ao eu e colateral a um sistema. A
novidade que Lévinas apresenta na sua incursão ergue-se no outro enquanto um ser diferente de
um Eu, que, entretanto, devem colaborar para evitar a violência e outros meios que colocam em
risco a existência do Outro.
O rosto do outro, desafia o Eu, sendo assim o egoísmo humano deve ser colocado em descrença
de modo a visualizar a essência do Outro na diferença que une os homens. À luz deste
entendimento, Lévinas apresenta uma possibilidade de se pensar numa ética voltada para as
relações humanas que contemplem e respeitem o Outro, que se ancora na diversidade, a partir de
uma cultura de responsabilidade pelo Outro, da compreensão deste como sendo uma extensão de
si mesmo. O que Lévinas levanta sobre a alteridade é de que, se nossas interações sociais não
forem sustentadas pelas relações éticas com as outras pessoas, então o pior pode acontecer, ou
seja, o fracasso em reconhecer a humanidade do outro. Isso, para Lévinas, é o que aconteceu no
Holocausto e em outras incontáveis calamidades do século XX, em que a outra pessoa torna-se
um rosto sem face na multidão, alguém por quem o transcende simplesmente passa, alguém cuja
vida ou morte é, para mim, um problema indiferente.
Lévinas (2004: 31) sustenta que, o encontro com outrem consiste no fato de que, apesar da
extensão da minha dominação sobre ele e de sua submissão, não o possuo. Ele não entra
inteiramente na abertura do ser em que já me encontro como campo de minha liberdade. Não é a
partir do ser em geral que ele vem ao meu encontro. Tudo o dele me vem a partir do ser em geral
se oferece por certo a minha compreensão e posse. Compreendo-o, a partir de sua história, do seu
meio, de seus hábitos. O que nele escapa à minha compreensão é ele, o ente.
reencontro do rosto poderia quebrar a crosta que faz de cada homem um ser para si. A alteridade,
a heterogeneidade radical do Outro, só é possível se o Outro é realmente outro em relação a um
termo cuja essência é permanecer no ponto de partida, servir de entrada na relação, ser o
Mesmo não relativa, mas absolutamente (LÉVINAS, 2000: 24). O rosto do homem excede a toda
possível descrição, não se reduz a uma soma de detalhes de qualquer espécie, é a parte mais nua
do corpo humano e também a mais exposta à violência, pois é a parte que, também, deduz as
diferenças que se fazem entre os homens, eis por isso que, o homem, é reflexo do seu rosto, tanto
que, as suas manifestações diante do outro é a favor do que se vê.
Nas abordagens de Lévinas o rosto, na sua ausência de proteção, impõe-se àquele que o olha ao
mesmo tempo como um convite ao assassinato e como uma interdição absoluta de ceder a esta
tentação. Ruiz, sustenta essa visão afirmando que,
A produção massiva de bens e consumos faz com que o homem contemporâneo esteja propenso a
sedução pelo ideal consumista, reproduzindo a atração pelo consumo e o desejo de controlar e
dominar outros homens e o mundo. A emergência do capitalismo, também, como uma forma de
totalitarismo na qual as regras são estabelecidas por quem tem o poder econômico propiciam a
angústia de possuir e a fatalidade de existir em harmonia, por isso que Lévinas afirma que;
identificar- se, em reencontrar a sua identidade através de tudo que lhe acontece. É a identidade
por excelência, a obra original da identificação” (2000: 24). Este itinerário, chama atenção na
necessidade da identidade do sujeito, em meio ao Outro, isto é, agir pensando sobre a existência
do outro que tenha a mesma dor enquanto indivíduos. A identificação a que Lévinas se refere é a
identidade do Ser que permanece o Mesmo diante de todas as mudanças que podem ocorrer.
Lévinas chama atenção a responsabilidade dos Homens, pois o reconhecimento do outro molda a
convivência em sociedade sem turbulências. Segundo Chalier, (1993: 18) em Lévinas a
responsabilidade infinita faz com que aquele que é por ela habitado saiba que jamais está com o
outro e compreenda que este é o destino humano imperioso no face-a-face com o outro.
Entretanto, o face-a-face, por si só, não possibilitaria o pensar a edificação de uma sociedade
humana. Nesse sentido, a ética prescreve uma política e um direito. Com efeito, a passagem do
amor à justiça começa quando acontece a necessidade de comparar o outro ao terceiro e de
refletir sobre a igualdade das pessoas; isto obrigaria a traçar limites à responsabilidade infinita
pelo outro, pois em tal situação é preciso levar em conta todos os outros, resistir a um para salvar
o outro, escolher entre eles e considerá-los iguais. Com isso, o amor pelo outro deve ouvir o
apelo da sabedoria e da medida para não se tornar injusto.
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No entendimento de Jonas não existem formas de parar os avanços tecnológicos, sendo assim, os
homens devem encontrar freios sobre a sua capacidade de consumir, e que pode se reflectir nas
convivências, entretanto, é preciso que se faça o uso racional das tecnologias tanto para que se
salvaguarde a condição de existência e permanência das futuras gerações assim como garantir um
ambiente em que os homens possa conviver sem sentimento de exclusão um sobre o outro pela
incapacidades de aquisição dos dispositivos.
Bauman (2015: 17) citando Timothy W. Luke, sustenta que, a sociedade da conexão deu à luz
uma forma nunca antes esperada de resolução dos problemas, pois estes já não são resolvidos
tendo em conta os fundamentos das relações tradicional ou presencial. Isto porque nas visões
26
tradicionais de acção muitas vezes recorrem a metáforas orgânicas para suas alusões: o conflito
era cara a cara, o combate corpo a corpo; a justiça era olho por olho, dente por dente; a discussão
encarniçada, a solidariedade ombro a ombro, a comunidade face a face, a amizade de brado dado
e a mudança passo a passo.
O que Bauman, olha nas tecnologias é o poder que ela tem de tornar os homens medíocres, assim
como, pessoas mais atentas e muito mais informadas, isto porque, as tecnologias permitem o
desenvolvimento de várias formas de interação e controle a partir da Internet, pelo que, com ela
“a vigilância pode ocorrer de todos sobre todos” (BAUMAN, 2015: 53). É sobre várias
situações, ao mesmo tempo, em que através dela, pode se instaurar mecanismos de solidariedade
e assim como de indolência, colocando em causa a convivência física entre os homens, pois, não
existe entre eles uma formula que permita a aplicação de sansão sobre a não convivência física.
O empreendimento tecnológico, que mata e escraviza, também pode ser o meio para liberar os
homens das necessidades, dependências e vulnerabilidades que ameaçam a sua existência. É
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permitido inferir que a poluição, por exemplo, poderia ser um estágio intermediário, embora
existam fortes indícios, no caso do meio ambiente, que podemos estar errando gravemente.
O debate sobre as tecnologias no âmbito da relação entre os homens não foi um debate tratado
por Emmanuel Lévinas, mas entendemos que em meio à alteridade, é preciso questionar sobre as
relações midiáticas, orientadas pelas redes sociais e outros dispositivos de comunicação e o lugar
da alteridade nesse modelo de interação. A tecnologia está interposta em um contexto de poder
político e institucional que, a princípio, não está interessado na alteridade o estado de guerra
suspende a moral. A alternativa à violência inerente a técnica está no reconhecimento do Outro.
As relações quotidianas humanas implicam um conhecimento profundo das sobre as partes das
quais pretende-se conhecer, daí que, pensar sobre o infinito no outro é mergulhar-se à um
conhecimento sobre o mesmo que vai além da interioridade do Outro, procurando encontrar o
infinito dele, oque há além do mesmo. O infinito não encarna-se sobre o interior, mas na busca do
exterior e no reconhecimento das diferenciações, com vista a desconstruir o ideal totalizante
numa penetração insegura do outro no meio da sua consciência.
Emanuel Lévinas na obra Totalidade e Infinito, inicia o seu pensamento partindo do postulado de
que “avançará distinguindo entre a ideia de totalidade e a ideia de infinito, dando um primado
filosófico à ideia do infinito” (LÉVINAS, 2000: 14). Entretanto, procure-se compreender em que
medida essa ideia, de fato, abre uma via de relacionamento com o Ser. mas, ainda assim, isto
mostra que sobre as relações, entre os homens, o filósofo dá primazia o reconhecimento do
exterior e a sua consequente identificação, na busca de um ideal sobre os mesmos.
Na visão de Lévinas (2000: 19) a epifania do Rosto é o “evento” que retira do sujeito a
comodidade e comunidade - comum-unidade - do Eu com o mundo e o envia, pelo Desejo
metafísico, ao Outro, que é o catapultador desse desejo. Ademais, o termo desse movimento, o
outro lado ou o outro, é denominado outro num sentido eminente. Nenhuma viagem, nenhuma
mudança de clima e de ambiente podem satisfazer o desejo que para lá tende. O Outro
metafisicamente desejado não é Outro como o pão que como, como o país que habito, como a
paisagem que contemplo, com, por vezes, eu para mim próprio, este Eu, esse Outro.
A ideia de infinito, permite entender as relações entre o Eu e o Outro, pois é só a partir dela que
se pode entender estas duas facetas das relações entre os homens nos tempos em que se vivem.
Diferente de Descartes que o seu entendimento do infinito pensava sobre a divindade, Lévinas,
reconhece que há que pensar sobre o mesmo nas relações humanas. Mas ainda assim, não
descarta a possibilidade de que o pensamento cartesiano ofereça algum subsídio sobre a ideia de
infinito.
Lévinas argumenta que, o infinito no finito, o mais no menos que se realiza pela ideia do infinito,
produz-se como Desejo. Não como um desejo que a posse do desejável apazigua, mas como
Desejo do Infinito que o desejável suscita, em lugar de satisfazer. Desejo perfeitamente
desinteressado da bondade. Ainda assim, o autor sustenta que, “o infinito é característica própria
de um ser transcendente, o infinito é absolutamente outro. O transcendente é o único ideatum do
qual apenas pode haver uma ideia em nós; está infinitamente afastado da sua ideia, quer dizer,
exterior porque é infinito” (LÉVINAS, 2000: 39). Por isso que convier de forma sã e tranquila
com o outro é entender a infinitude do seu ser, em busca do aperfeiçoamento das relações
humanas.
Na reflexão de Lévinas, entendimento de Ricardo Timm de Souza (2001), a substituição ética não
se reporta à extrapolação dos limites do pensamento, mas é antes decorrência da forma e
pensamento que tem como constitutivo primeiro, não a identidade postulada ou conquistada,
porém a identidade original do desencontro do pensamento e, por decorrência consigo mesmo, a
pluralidade. O que encarna-se na busca do auto conhecimento para o conhecimento do Outro em
relação a sua semelhança. Souza, categoricamente, entende que o homem é indispensável e
insubstituível nas suas relações, por isso apresenta a seguinte a firmação,
... Insubstituível que sou, tenho de, enquanto mera consciência, substituir
minha estrutura endógena de auto-compreensão pela radical insegurança
que se deriva do fato de que, além de mim, algo mais é consistente em si
mesmo: o outro – muito embora esta consistência nunca se ofereça à
minha demiurgia racional, por mais poderosa que esta se apresente
(SOUZA, 2001: 413).
O desejo pelo infinito que se sente metafisicamente, ou seja, por algo que está além das nossas
compreensões naturais, só pode ser sentido por um ente que se encontra satisfeito com suas
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necessidades mundanas. Ademais, não se trata de algo que pode, de algum modo, satisfazer uma
necessidade, mas se refere ao desejo do que se tem em falta que se manifesta em um ser que não
tem fome, que não sente frio, mas que sente-se instigado por algo que não pode ser abarcado e
não consumível e que não permite o momento, mesmo que insignificante, mas que mostra-se
saciável pelas ansias sociais.
No entendimento de Lévinas (2002) só há liberdade na medida em que faço o que ninguém pode
fazer no meu lugar. E esta, está na obediência ao Altíssimo que torna o homem livre. Na
substituição Deus se revela como mandamento vocacionando o homem à redenção da
humanidade e, dessa forma, o homem se constitui humano. É na responsabilidade diante de Deus
e do outro que o homem é homem. Eis por isso que o autor afirma que,
... a significação ética significa não para uma consciência que tematiza,
mas a uma subjetividade, toda ela obediência, obediente de uma
obediência que precede o entendimento. Passividade mais passiva que a
da receptividade do conhecer, receptividade que assume o que a afeta;
consequentemente, significação em que o momento ético não se funda
sobre estrutura preliminar alguma de pensamento teórico, de linguagem
ou de língua (LÉVINAS, 2002: 113).
O autor adverte que é a partir da responsabilidade que formula a noção estranha da filosofia, de
substituição, como sentido último da responsabilidade. Na visão dele, embora na filosofia
fenomenológica o último acontecimento deva ser o aparecer, aqui, sob a modalidade ética, é
pensada uma “categoria” diferente do saber. Seu esforço consiste em pensar o Outro-no-Mesmo
sem pensar o outro como um outro mesmo. Portanto, a noção de infinito nas relações, em
Lévinas, ancora-se na compreensão do exterior do Mesmo mediante ao entendimento
transcendental do Outro, que se mostra diante da compreensão do Eu, em revelação, porém, não
existe nada que possa explicar o infinito nas relações se não a própria infinição plena.
Lévinas, encontra na ética a dimensão que preserva a alteridade de Outrem uma vez que,
“tematização e a conceitualização, aliás inseparáveis, não são paz com o outro, mas supressão
ou posse do outro” (LÉVINAS, 2000: 33). O poder sobre o outro só afirma o outro, negando sua
independência. Por isso que, seu esforço de captar no discurso uma relação respeitadora da
alteridade, uma relação do desejo metafísico que impede o assassínio do Outro e o mantém numa
relação de justiça. Eu e Outrem precisam ser mantidos dissociáveis.
Na sua trajetória vital, Lévinas conheceu a ilusão criada por um período de importantes avanços
tecnológicos, que repercutiram de varias formas nas vidas humanas, por um lado, foram
responsáveis na facilidade das atrocidades barbaras que o autor passara no período da segunda
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guerra mundial, desde a sua prisão, como fizemos menção no capítulo anterior, e os massacres
que este sofreu e por outro lado, foram responsáveis por melhorias nas condições de vida na
humanidade e pela criação de inúmeras facilidades para o cotidiano do homem contemporâneo,
ao mesmo tempo que tirou muitos princípios básicos para a valorização da dignidade humana que
outrora encontravam-se em circulação.
A relação de alteridade, na visão de Melo (2003: 204) é já um estatuto ético, a ética da alteridade
se estrutura numa relação entre Eu, o Outro e o terceiro excluso (subjetividade). Assim, na re-
lação interpessoal, o Outro não está sobre meu poder, Eu não posso comandar o Outro porque
não é minha propriedade e nem um objeto. Ele é quem comanda, ele não é propriedade minha,
mas o próximo, meu mestre, que me apela à máxima diferença de não matar; o próximo para o
qual tiro da boca o único pedaço de pão para saciar a sua fome.
Na visão de Lévinas (2007: 58) a alteridade exprime uma sabedoria pertinente para a consecução
de uma comunicação ética, onde o sujeito é chamado sai de si mesmo para ir ao encontro do
OUTRO. Assim, a ética da alteridade se torna caminho e abre estradas para o âmbito da
comunicação. O homem, independentemente daquilo que exerce, precisa ser justo: justo com
aquilo que faz, justo com o outro e justo consigo mesmo: é o princípio básico de toda ética. Desta
forma o Outro do que se diz, na alteridade não pauta-se pela filiação, nem por desejo de um
masculino para o feminino, mas de um diferença de subjeção, onde o sujeito não encontra nada
que os ligue em meio as circunstancias sociais.
34
O olhar que revela a infinitude, do reconhecimento do outro estabelece uma relação. O Eu tem
que cuidar do Outro, não importa a situação de reconhecimento ou de convivência da alteridade
porque ele é o Bem. Assim compreendemos que o movimento da saída de si em direção ao outro
faz com que a subjetividade se torne unicidade, torna-se única e insubstituível. “Somente outra
pessoa pode arrancar o sujeito de si suscitando-o a sair de si por meio da sensibilidade e do
desejo” (Oliveira, 2007: 24). Este postulado apresentado pelo autor, que também ancora-se na
alteridade de Lévinas, torna o homem não dono de si apenas, mas que compreende-se a partir da
existência do outro. Ademais, pode mostrar uma fragilidade do próprio homem, se este
ideologizar a sua existência mediante a existência do Outro, por isso, que é preciso que o homem
seja ele primeiro para entender o Outro em meio ao seu entendimento.
Lévinas, (2012: 89), existe um outro termo, em que o homem se encontra, desta forma é aí que a
alteridade obriga infinitamente que o Um é pra o outro de um ser que se desprende, sem se fazer
o contemporâneo do “Outro”, sem poder colocar-se a seu lado numa síntese, expondo-se como
um tema; um-para-o-outro como um guardão-de-seu-irmão como responsável-pelo-outro.
Lévinas, ainda, inicia o seu pensamento a partir do que ele chama de inatualidade. Se o termo
pode ser entendido como aquilo que já determinou, no pensamento levinasiano, ele é entendido
como um Outro do atual. Partindo desta acepção o filósofo desenvolve a crítica na qual a tradição
filosófica chamou, ao longo dos anos, ser-em-ato, procurando estabelecer um Eu além da
intencionalidade, uma vez que dando um outro olhar aos conceitos ontológicos é possível
conceber uma subjetividade fundada na consciência de si.
Desta forma o inatual pode dissimilar algo que determinou, nada é preservado da preempção,
nem mesmo o peremptório. Mas o inatual, em que se situam (ou para onde tendem os estudos da
presente coletânea), não se confunde com uma desatenção qualquer a respeito das opiniões
dominantes de nosso tempo, defendidas com tanto brilho e maestria. Assim, Lévinas (2012: 17),
o inatual significa, aqui, o outro atual, e não sua ignorância e negação; o outro daquilo que se
convencionou chamar na alta tradição do Ocidente, ser-em-ato; não só o outro ser-em-ato, mas
também de sua corte de virtualidades que são potências; o outro do ser, do esse do ser, da gesta
do ser, o outro do plenamente ser plenamente a ponto de transbordar que o termo em ato enuncia;
o outro do ser em si o intempestivo que interrompe a síntese dos presentes a constituir o tempo
memorável.
A dominação do homem sobre os outros homens, sobre a natureza e tudo o que se supõe poder
conquistar, controlar. A origem disso está no totalitarismo de caráter ontológico, por isso Lévinas
critica a Filosofia Clássica e propõe uma mudança na maneira de conceber o sujeito, de modo que
haja uma ruptura com o que ele chama de “egologia” e com o solipsismo do Eu. A concepção de
Humanismo considerada até então, na ideia do autor, incapaz de fornecer subsídios para
solucionar os problemas éticos contemporâneos porque, segundo ele, não dá conta do sentido de
humano.
37
Lévinas, até certo ponto, mostrou algum exagero sobre o humanismo, pois essa postura, de certa
forma, otimista, não tem como finalidade de colocar o fim do humanismo na morte do homem,
mas sim, no fim de sua atualidade, como se o intempestivo viesse desarranjar as concordâncias da
re-presentação. “Essa constatação parte da experiência de sua realidade mesma como homem,
desdobrada em receptividade e significação. Tal necessidade, entretanto, procede de sua própria
necessidade, da necessidade do ser seguir seu destino [...]” (HADDOCK-LOBO, 2006: 89). O
objetivo ao substituir a concepção de ontologia como filosofia primeira por ética como, é o de
contestar o pensamento ocidental, sustentado na afirmação do Ser enquanto ser, e seu caráter
aniquilador das diferenças. Se por um lado a ontologia apresenta-se como uma incessante
redução o Outro ao Mesmo, a proposta levinasiana é motivar uma nova concepção de
humanismo, um movimento que o sujeito faz até o Outro, sem se impor ou retornar a si mesmo.
A ideia de humanismo não se pretende exterminar as relações entre os homens, muito pelo
contrário, pretende-se “[…] ultrapassar as concepções anti-humanistas de Heidegger e Nietzsche
ao buscar reformular seu humanismo sob o crivo da alteridade” (HADDOCK-LOBO, 2006: 90).
Assim, Lévinas, recorre à fenomenologia de Husserl, apesar de discordar com o seu mestre no
que se refere à experiência fenomenológica como fonte de sentido. O Outro não se apresenta a
partir de uma consciência transcendental, e nesse viés não é possível conhecê-lo, uma vez que
não é uma experiência de equivalência ou adequação.
Para Lévinas (2012: 16), a verdadeira relação ética é de acolhimento do Outro, manifestada no
Rosto, sem que se exija a separação entre forma e conteúdo, negando uma relação de dominação,
poder ou posse. É uma relação que protege a Alteridade do Eu. Ao mesmo tempo que permite o
reconhecimento da ética. Neste contato anterior ao saber nesta obsessão pelo outro homem pode-
se, certamente, distinguir as motivações de muitas de nossas tarefas cotidianas, mas, a
humanidade não entra na história desta cultura, que aparece propondo-se à assunção e que torna
possível a própria liberdade deste assumir.
O outro homem comanda, a partir do seu rosto – que não está encerrado na forma do aparecer
nem despojado de sua forma, desnudado de sua própria presença que o mascararia ainda como
seu próprio retrato, pele enrugada, vestígio de si mesma, presença que, em todos os seus
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instantes, é uma retirada no vão da morte como uma eventualidade de não-retorno. Assim, a
alteridade do próximo é este vão do não-lugar onde, rosto, já se ausenta sem promessa de retorno.
A luz daquela acepção, surge, então, uma subjetividade entre os homens, que não pressupõe
anterioridade, que rejeita todo movimento egoísta do Mesmo em relação ao Outro, promovendo
uma ruptura das estruturas totalizantes e uma abertura à exterioridade, acolhimento, um
movimento de Ser-para-o-Outro, a eleição da responsabilidade absoluta por isso que,
A ideia de que o homem ocupa um lugar de inigualável no Universo e sua pretensa capacidade de
compreender e deliberar sobre a integralidade da vida, revelam as origens do totalitarismo, da
injustiça, da violência, que são responsáveis por excluir as diferenças e a pluralidade da
existência. Logo, o filósofo apresenta um projeto de desconstrução da noção de sujeito na
Modernidade e a forma de conceber as relações, apontando para uma nova significação,
estabelecida a partir da pluralidade. Assim, Lévinas sinaliza a exigência de um novo e original
sentido à subjetividade, que ultrapasse o sentido do conhecimento e contemple o sentido ético.
Tal sentido é estabelecido a partir do acolhimento de Outrem em suas particularidades, a partir do
encontro com o Rosto do Outro que me convoca a responsabilidade por ele, que se apresenta
enquanto infinitude, e nisso concretiza-se o sentido de humano.
A liberdade individual faz um sujeito cada vez mais diferente e ao seu extremo o torna
indiferente diante do Outro da mesma sociedade, quando este herda valores externos dos que eles
possuem. A ânsia de possuir, e a angústia do despossuir, eleva cada um deles em virtude do que
ele possa apresentar para a sua satisfação. Segundo Lipovetsky (2007: 9) é muito comum, em
dias actuais, as pessoas "sonharem ardentemente com o impossível” por falta de existências de
regras sociais estritas que inibam projectos desviantes e insensatos, a ânsia desencadeia-se
livremente. De fato, cada indivíduo deseja ultrapassar o estado em que se encontra, tomar
contacto com delícias e sensações continuamente renovadas como consequência do não encontro
da sua felicidade.
A liberdade descontrolada permite que as pessoas se desviem dos valores que, de certo modo,
norteiam as sociedades e como consequência, destrona o humanismo pois esta mesma liberdade
tende a se converter em hiper-liberdade, isto é, estágio acelerado e desorganizado das
convivências. Não se trata de liberdade que permite o uso autónomo das competências dos
indivíduos para um bem comum, mais de liberdade exacerbada que leva os homens ao
desrespeito das normas de convivência social para a satisfação das suas necessidades
egocêntricas. Esta liberdade já vem ligada ao hiperconsumo e ao hiperindivíduo, alias, ela é, além
dos efeitos da globalização, mais um meio impulsionador para o hiperconsumo e o
hiperindividualismo quando encara-se a morte efectiva das regras de ordem social.
Os homens estão, constantemente, na busca de liberdade, esta ânsia leva-lhe ao desrespeito dos
valores de humanização, esta busca, constante, pela liberdade é o que se mais quer quando o
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indivíduo é livre, mas esta liberdade não é basta para ele, eis por isso que necessita de cada vez
mais da abdicação do controle sobre o que o orienta, de modo, à exageradamente, realizar oque
lhe agrada, inconsciente das possíveis consequências advindas da ânsia da liberdade exacerbada,
procurando o banal para si dentro da liberdade pretendida. “A sociedade hipermoderna cria
novas imposições e cobra novas posturas. A liberdade pode ter um preço muito alto: a
frustração” (LIPOVETSKY, 2007: XIX). Por isso, a regulação do desejo excessivo da liberdade
deve ser feita em concordância com o que se tem, para adquirir o que se pretende, e com o que se
deve ter para não se atingir ao estágio último da frustração: a insanidade. Portanto, a liberdade
deve se reflectir na busca de recursos e da multiplicação de condições para a intensificação dos
valores de congregação entre os homens e não a desenfreada busca pelas ferramentas
desagregadora da comunhão.
Ao colocar em questão a liberdade está toda a crítica de Lévinas à história da filosofia ocidental
moderna. “O primado do Mesmo foi a lição de Sócrates: nada receber de Outrem a não ser o
que já existe em mim, como se, desde toda a eternidade, eu já possuísse o que me vem de fora.
Nada receber ou ser livre” (LÉVINAS, 2000: 31). Nesta compreensão, o conhecimento,
entendido enquanto conhecimento de objeto, é capturado, tematizado e trazido à luz dos
conceitos. Embora ainda com muitas nuances, deve ser neste nível da sociabilidade que se pode
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abordar outro, respeitando-o enquanto outro, ou dominando-o, fazendo dele minhas posses; até
mesmo objeto; é na relação com outro que se verifica a possibilidade de concreção da justiça ou
injustiça, da não verdade e da verdade, isto implica que, a liberdade, no pensamento de Lévinas,
deve permitir olhar para o Outro tal quanto poderiam olhar a nós mesmos.
O sentido de humanidade, proposto por Lévinas (2012: 45) orientado pela sua acepção de ética é
capaz de garantir que as relações subjetivas, por meio da proximidade, afirmem a identidade do
Mesmo e a Alteridade de Outrem, superando assim, por meio da ética, toda forma de
generalização, neutralização e totalidade. Entretanto, Lévinas propõe é uma crítica aos saberes
que se denominam humanistas. Na sua visão, a crise do humanismo se manifesta na ineficácia da
ambição humana e na precariedade da concepção de homem. Seu humanismo consiste na prática
do amor e da justiça.
A ética enquanto testemunho da revelação, espera a resposta do homem, pois ela não se auto-
manifesta para o exercício das boas acções. Este homem, de nenhuma forma pode ser passivo,
pois, espera-se dele o amor ao próximo, isto é um amor conjugado pela existência de sujeitos
gregários. Ademais, nesse amor vai construindo-se um caminho para a eternidade. Desta forma,
já pode-se observar que a ética proposta pela filosofia de Lévinas não está condicionada pela
normatividade, mas encontra-se em movimento constante já que o homem é o ponto de partida.
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A proposta de Lévinas (2004: 147) é encarna-se de muita ousadia porque, busca a partir de um
estilo existencialista mostrar os fundamentos da ética sem dissociá-los de uma exigência de
natureza religiosa. Acredito que a proposta do nosso filósofo continua atual e provocativa, não
por tentar conciliar filosofia e religião, mas por convocar o homem a uma postura ética num
mundo onde a ideia do sagrado perdeu seu valor ao ser vulgarizado por um mundo indiferente à
experiência religiosa.
A diferença entre a ética tomada como um sistema normativo, da ética proposta por Lévinas, que
parte do valor mais profundo presente no ser humano, que é o amor. Como mostram as palavras
do Filósofo,
a justiça brota do amor. Isto não quer absolutamente dizer que o rigor da
justiça não se possa voltar contra o amor, entendido a partir da
responsabilidade. A política, abandonada a si mesma, tem um
determinismo próprio. O amor deve sempre vigiar a justiça. Na teologia
judaica não sou orientado explicitamente por essa teologia Deus é Deus da
justiça, mas seu atributo principal é a misericórdia. Na linguagem
talmúdica, Deus sempre se chama Rachmana, o Misericordioso: todo este
tema é estudado na exegese rabínica (LÉVINAS, 2004:148).
Segundo Lévinas (2004: 153), entre as razões já apresentadas antes, ainda poderá ser mencionado
o fato de o outro ser previamente considerado como um ente objetivo, que pode ser inserido
numa generalização qualquer. Antes mesmo de ele entrar no discurso, já foi representado,
pensado como um dado genérico. Por isso que, desde a perspectiva da retórica, ele pode adequar-
se, com propriedade, à relação sujeito-objeto. Ao contrário, pensa Lévinas que, a linguagem não
se adequa e nem pode ser reduzida à trama de sujeito-objeto e, por conseguinte, os seus
interlocutores não podem ser pensados eticamente. Assim, o outro interpelado não é um
representado, não é um dado, não é um particular, por um lado já aberto à generalização.
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Lévinas (2011: 30) explicita que entre os homens, percebe a necessidade de enquadrar a questão
na sua relação com o ser e o tempo. Percorrendo no pensamento kantiano que afirmou o primado
do tempo e do espaço. Desta forma, Lévinas, sustenta que, de outro modo que o Ser não pode
enquadrar-se numa qualquer ordem eterna arrancada ao tempo. Na impossibilidade de reivindicar
uma subjetividade que possa ser responsável fora do tempo, pensou também na necessidade de
demandar a temporalização do tempo que mantivesse a ambiguidade de significar
simultaneamente “o ser e o nada e o para além do ser. Ademais, propôs que o além do ser e o não
ser significasse uma diferença radical “em relação ao ser e o nada”. Para o Filósofo, está em
questão o sentido do estatuto da ideia de diferença, pois o tempo pode significar a essência e a
sua própria manifestação, o tempo é essência e amostração da essência.
Lévinas (2007: 89), sustenta que a relação com outrem só se aperta como responsabilidade, quer
esta seja, alias, aceite ou rejeitada, se saiba ou não como assumi-la, possamos ou não fazer
qualquer coisa de concreto por outrem. Dizer: eis-me aqui. Fazer alguma coisa por outrem. Dar
ao Ser o espírito humano. A encarnação da subjectividade humana garante a sua espiritualidade
(não vejo como os anjos se poderiam dar ou como entreajudar-se). Diaconia antes de todo o
diálogo: analiso a relação inter-humana como se, na proximidade com outrem para além da
imagem que ficção de outro homem o seu rosto, o expressivo no outro (e todo o corpo humano e,
neste sentido mais ou menos, rosto), fosse aquilo que me manda servi-lo. Emprego esta fórmula
extrema. O rosto pede-me e ordena-me. A sua significação não é uma ordem significada.
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Conclusão
Após fim da reflexão subordinada ao tema: Ética da alteridade enquanto fundamento à
reafirmação da condição humana em Emmanuel Lévinas, conclui-se que, o pensamento de
Lévinas tal igual aos outros filósofos da sua época tem encontra as bases do seu pensamento na
antiguidade. Ou como um modo de inspiração para a construção, ou ainda como fonte de
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Outro ponto de influência do pensamento de Lévinas foi a bíblia sagrada, pois para o autor a
Bíblia é o Livro dos Livros aonde se dizem as coisas primeiras. E é nela que se parte a ideia de
ética, desta forma, a bíblia é apresenta as primeiras ideias que vão construindo as lições de
convivência entre os homens. Não menos importante, estão os pensamentos de Husserl e
Heidegger, que também, constituiu grande influência na construção da ideia de ética de Lévinas,
quando este último se propõe, aos seus mestres a substituição da ideia de ontologia por ética
como filosofia primeira. Neste aspectos, a noção de ontologia conhece a sua restrição, quando
propõe-se a ética, como o fundamento da para a vida em sociedades gregarias. As duas grandes
Guerras múndias, também, influenciaram bastante na construção do pensamento sobre a
alteridade, pois, o autor foi vítima das atrocidades destes fenómenos, por isso que a ideia de
alteridade por ele desenvolvida já estabelece, a necessidade de pensar no Outro como se fosse
uma a essência do ser em si.
que, a relação com outrem só se aperta como responsabilidade, quer esta seja, alias, aceite ou
rejeitada, se saiba ou não como assumi-la, possamos ou não fazer qualquer coisa de concreto por
outrem, mas há sempre a responsabilidade de garantir o bem-estar do mesmo. Reconstruindo a
condição do Outro na mesma proporção do que nos é lembrando a nossa existência.
É uma relação que protege a Alteridade do Eu. Ao mesmo tempo que permite o reconhecimento
da ética. Neste contato anterior ao saber nesta obsessão pelo outro homem pode-se, certamente,
distinguir as motivações de muitas de nossas tarefas cotidianas, mas, a humanidade não entra na
história desta cultura, que aparece propondo-se à assunção e que torna possível a própria
liberdade deste assumir. Assim, a ética da alteridade se torna caminho e abre estradas para o
âmbito da comunicação. O homem, independentemente daquilo que exerce, precisa ser justo,
justo com aquilo que faz, justo com o outro e justo consigo mesmo, é o princípio básico de toda
ética.
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