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Brasília-DF, 2010.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Autor
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SUMÁRIO
Apresentação 04
Ícones organizadores
Referências 54
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ÉTICA PROFISSIONAL
Introdução
Olá cursista!
Neste material estudaremos uma questão que, para alguns, parece um pouco abstrata e para tanto,
veremos a importância de vários conceitos a ela relacionados, focando a sua atuação profissional!
A ética advocatícia ensina que cada cliente deve ser tratado humanamente o que é similar à ética
ensinada pelas religiões ditas universais: o que você não quer que lhe seja feito não o faça aos
outros. O contrário seria aquela que não visa ao Bem Comum do Homem.
Ser ético, no entanto, não significa ser linear ou mesmo seguir um processo especifico. Diferentemente
dos problemas prático-morais, os éticos são caracterizados pela sua generalidade. Assim, o que
fazer em cada situação-problema concreta é um problema prático-moral e não teórico-ético dos
indivíduos.
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ÍCONES ORGANIZADORES
Provocação: Pensamentos
inseridos no material Atenção: Destaque do
didático para provocar a assunto referente ao
reflexão sobre sua prática conteúdo.
e seus sentimentos ao
desenvolver os estudos em
cada disciplina.
Sintetizando e
Enriquecendo nossas
Referências: Bibliografia
Informações: Espaço para
consultada na elaboração
você fazer uma síntese dos
da disciplina.
textos e enriquecê-los com
sua contribuição pessoal.
Atividades: Atividades
sugeridas no decorrer das Curiosidades:
leituras com o objetivo Aprofundamento das
pedagógico de fortalecer o discussões.
processo de aprendizagem.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Certamente você já ouviu falar, mas você saberia explicar o que é Ética? Então, vejamos
desde o ínicio: A palavra Ética procedente do latim e trata-se da parte da Filosofia que estuda
a moral.
Podemos então dizer que ética é a ciência dos costumes, tendo como horizonte
o interesse coletivo universal. Também podemos afirmar que a ética é um campo
da ciência e da filosofia voltado para os problemas práticos do homem.
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UNIDADE 1 :: ELEMENTOS DA ÉTICA I
Sócrates legou aos seus sucessores três incumbências: a de precisar o conceito do que é
útil em conformidade com a Razão; a de estabelecer a ideia mais geral possível do Bem; e dar
à Ética o seu lugar dentro de uma concepção total o mundo.
Platão procurava a ideia geral do Bem, abandonando o caminho que Sócrates trilhara
antes e para chegar à Ética escolhe o desvio que conduz pela teoria das ideias e numa dedução
forçada, que sofre toda sorte de fantasia e obscuridade. Platão procurou estabelecer a Ética
sobre os alicerces de uma teoria relativa à natureza do nosso conhecimento do mundo exterior.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Lucius Annaeus Sêneca [4 a.C – 65 d.C], ou o Filósofo Sêneca, o Jovem, tem a sua obra
literária e filosófica, reconhecida como modelo do pensamento estóico. Seu grande mérito
foi apontar que nenhum homem é mais nobre do que os demais, a não ser que a sua índole
espiritual seja de melhor qualidade e o capacite para uma sabedoria sublime. A exigência
ética com a qual se dirige aos homens é que seja útil ao maior numero possível de homens.
Grande parte de seus escritos, de sua filosofia e de sua ética é fruto de suas reflexões
sobre sua experiência como atuante da vida política de seu tempo. Tudo em sua biografia
acusa que suas atribulações, suas intranquilidades e as agitações de sua engajada vida pública
serviram de pasto para o desenvolvimento de suas convicções e certezas morais, assim como
para o desenvolvimento de suas habilidades teóricas no trato com a ética [BITTAR, 2002].
A escola filosófica dos estóicos foi fundada no século III a.C. por Zenão de Cittium
[334-262 a.C.], que preconizava a indiferença à dor de ânimo oposta aos males e agruras
da vida. A ética estóica é ainda uma ética que determina o cumprimento de mandamentos
éticos pelos simples dever. Não é com vistas em um fim qualquer que da ação deve
decorrer um bem ao social, ao elogio, à elevação de seu conceito entre as pessoas. A ética
deve ser cumprida porque se trata de mandamentos certos e incontornáveis da ação. Eis
uma ética do dever.
Nascido Aurelius Augustinus, Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho [354-430 d.C] como
se tornou conhecido, é dos pensadores mais importantes no desenvolvimento do cristianismo
no Ocidente. Fortemente influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente por
Plotino, Agostinho foi importante para o “batismo” do pensamento grego e a sua entrada na
tradição cristã e, posteriormente, na tradição intelectual europeia.
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UNIDADE 1 :: ELEMENTOS DA ÉTICA I
Por óbvio, a ética a moral agostiniana é teísta e cristã, teleológica e, logo, transcendente
e ascética, na medida em que deposita a finalidade do obrar na noção de Bem Comum, com
base na escolha do bem e do que é melhor.
Neste foco, o ato moral da escolha do bem, e de repudio do mal consiste numa
atividade racional na medida em que os melhores meios se escolhem pela experiência
haurida, direcionando-se para a realização do bem
vislumbrado também pela razão.
Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo,
introduzindo o aristotelismo, redescoberto na Idade Média. Na Escolástica, compaginou
um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia. Em suas duas
obras Summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: na Summa
Theologiae, e Summa Contra Gentiles.
São Tomás de Aquino e Santo Agostinho buscam a vontade que torna-se o principal
atributo da ética após a intervenção do cristianismo. Assim, as éticas tomista e agostiniana
convergem para admitir que à lei divina se deve atribuir uma supremacia que a faz pairar
acima dos atos, julgamentos, práticas, necessidades, políticas, sistemas e comportamentos
humanos.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Baruch de Spinoza [1634-1677] foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro
da chamada Filosofia Moderna. Nasceu em Amsterdam, nos Países Baixos, no seio de uma
família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
A lei ética e a lei moral espinosanas estão ligadas à virtude. A noção de virtude está
ligada à ideia de compreensão, ou seja, de compreensão que decorre da razão. Para Spinoza,
aquele que se guia e age por instinto pode ser comparado a um animal, e, nesse sentido,
distancia-se da verdade que se procura em campo ético. O homem é capaz de ética porque
é racional.
Resumidamente, Spinoza em sua teoria ética apresenta a razão como a chave para
construção do caminho ético humano. Em sua concepção, é o império da razão que retira o
homem do lodo da paixão e o faz galgar em direção à luz da virtude; é o império da razão
que retira o homem do estado de natureza, submerso ao egoísmo e à desordem das paixões,
para construir a sociedade, forma racional de vida e de direcionamento dos comportamentos
individuais para a beatitude do conhecimento de Deus.
A ética, a moral, a justiça e o direito humeano não possuem qualquer vínculo metafísico,
dado que procuram construir-se a partir de recursos empíricos, recorrendo à explicação de que
é da experiência sensorial que se extraem o caráter e as convicções morais. Neste particular,
não é a razão que informa o que seja o certo e o errado, o justo e o injusto, mas a própria
experiência humana.
Para Hume não existe um bem supremo ao qual deva-se conformar o comportamento
humano nem ideias morais inatas. A Moralidade é um conjunto de qualidades
aprovadas pela generalidade das pessoas. Essas qualidades seriam aprovadas
conforme sua utilidade ou o prazer que proporcionam [utilitarismo]. A justiça deve
todo o seu mérito à utilidade pública.
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UNIDADE 1 :: ELEMENTOS DA ÉTICA I
Não há para Hume uma imanência das regras de justiça, há experiências de Justiça.
A ética e a moral kantiana são revolucionárias. A sua preocupação está em dizer que a
razão humana é insuficiente para alcançar o modelo ideal de realização de felicidade humana.
A sua grande preocupação reside em fundamentar a prática moral não na experiência, mas
em uma lei inerente à racionalidade universal humana, que se expressa por uma máxima, o
chamado imperativo categórico.
Nesta área, Kant é provavelmente mais bem conhecido pela teoria sobre uma obrigação
moral única e geral, que explica todas as outras obrigações morais que temos, o imperativo
categórico – que pode ser resumido assim: Age como se a máxima de tua ação deverá
tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza [KANT, 2003, p. 70-71].
Para Bittar (2002), o kantismo inaugura uma nova fase das especulações éticas. Kant
faz da ética o lugar da liberdade, tendo em vista que instrui seus preceitos de forte conotação
deontológica [dever-ser], e faz a liberdade residir na observância e na conformidade do agir
com a máxima do imperativo categórico.
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ÉTICA PROFISSIONAL
No passado, assim como no presente, moral e ética significam algo muito semelhante,
por isso a aparente sinonímia das expressões “valor moral” e “valor ético”, “normas morais”
e “normas éticas”.
Neste prisma temos: ética como ciência dos costumes e moral como objeto dessa
ciência dos costumes. Daí a definição que apresentamos: ética é a ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade.
Uma classificação da ética hodiernamente, embora não se mostre essencial para uma
reflexão ética, poderia apontar para a existência de uma ética empírica, ética dos bens; ética
formal, ética dos valores, ética do cristianismo, ética do direito, ética familiar, bioética, ética
ambiental, ética da sociedade, ética do estudante de direito, ética do advogado, ética da
polícia, ética do juiz, ética do promotor de justiça ou mesmo do lugar da ética na sociedade
brasileira. Ou se vale a pena ser ético e razão pela qual devemos ser éticos.
Por óbvio, em cada tipo de ética apontada acima pode ser desdobrada ou subdividida
em frações com o mesmo peso da expressão maior. Tomemos por base dois exemplos: a ética
empírica e a ética do advogado.
No primeiro diz-se ser aquela que pretenda derivar seus princípios da mera
observação dos fatos, e encontra-se subdividida em ética anarquista, ética
utilitária, ética ceticista e ética subjetivista, cujos conceitos olvidamos apresentar
nesta oportunidade.
A ética profissional do advogado, segundo Ruy de Azevedo Sodré, consiste na
persistência de amoldar sua conduta, sua vida, aos princípios básicos dos valores
culturais de sua missão e seus fins, em todas as esferas de suas atividades [NALINI,
2008], e encontra-se absolvida pelas regras deontológicas do Código de Ética do
Advogado, objeto de nossas considerações nas unidades subsequentes.
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UNIDADE 2 :: ELEMENTOS DA ÉTICA II
Literalmente, utópico significa o que não está em lugar algum. Desde Thomas Morus,
diz-se utópico todo ideal de sociedade humana que se supõe desejável ao máximo, mas
que se considera muitas vezes inatingível.
Ser ético é ser e agir na conformidade com os ditames morais da sociedade, dito de
outra forma é saber gerenciar impulsos em face de realidade social, é não fazer aos
outros o que não gostaria que lhe fizesse os outros.
Podemos entender que o problema ético na atualidade, no geral, e das utopias éticas,
no particular, encontra-se diretamente relacionado às dificuldades do conhecimento ético,
principalmente, de como a Humanidade chegou a conceitos morais e como progrediu neles.
Muitos dos que compartilham socialmente conosco hoje nem mesmo consideram que os
progressos realizados pelo pensar ético são lentos e inconstantes.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Neste diapasão, não existe, portanto, nenhuma ética utópica, nenhuma ética científica,
nenhuma ética profissional, nenhuma ética otimista, nenhuma ética do racionalismo, nenhuma
ética religiosa ou qualquer ética anarquista, platônica, utilitarista, ou ética do altruísmo, do
autoaperfeiçoamento, ou coisa mais que o valha, senão apenas uma ética pensante.
E, ainda, há que se considerar que nenhum homem pode falar como perito sobre o bem
e o mal e sobre as ponderações que o capacite à prática do primeiro ou à elisão do segundo.
O quadro estereotipado que nos oferece a história da ética facilmente nos poderá induzir a
uma postura céptica ou mesmo utópica.
Contudo, caro aluno, as utopias são formas que homens e mulheres encontram para
exercerem ou manifestarem suas insatisfações, seus poderes criativos e transformadores.
Um mundo sem utopias é um mundo serem o humano. As utopias, como expressão de
subjetividades históricas, não são equivalentes, pois o anúncio de um lugar que ainda não é,
mas pode ser, sempre parte de uma leitura ética da realidade1.
Não vamos insistir nesta seara, e encerremos com uma frase de Schopenhauer: é fácil
pregar a moral, porém difícil assentá-la. E nessas palavras, resta formulado o nosso problema
e as utopias éticas.
Ao analisar o direito moral individual perante o direito dos outros, tem-se a percepção
de que a razão moral não tem fundamentos, o que nos conduz ao risco da regressão para
soluções pessoais bem anteriores ao estabelecimento do próprio estado de direito ou aos seus
primórdios. Muitas vezes essa impressão torna-se realidade.
Algumas vezes, em situação de conflito de interesses, fica difícil lembrar ou reconhecer que
ética, cidadania e direitos humanos estão indissoluvelmente associados, e ser cidadão/cidadã
significa exatamente ter garantidos e garantir a fruição de todos os direitos fundamentais que um
indivíduo possui pelo simples fato de ser humano e de poder exercer livre e plenamente dos seus
direitos civis e políticos, bem como os seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais.
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UNIDADE 2 :: ELEMENTOS DA ÉTICA II
O direito é um fenômeno complexo. Muitas vezes ele é confundido com lei, que é uma
de suas expressões – o denominado direito positivo. Direito é processo dentro do processo da
evolução histórica da Humanidade.
O “ser humano” não é um conceito unívoco. Anote-se que o entendimento que os seres
humanos têm de si, individual e coletivamente, varia no tempo, no espaço e nas culturas.
As mudanças históricas também impuseram novos problemas e novos entendimentos que
propiciam outro referencial para os direitos humanos.
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ÉTICA PROFISSIONAL
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UNIDADE 2 :: ELEMENTOS DA ÉTICA II
E a sua resposta é:
Virtude, então, pode ser entendida como a força, os traços de caráter que nos conduzem a
praticar o bem e/ou a agir corretamente, ou algo equivalente a que Aristóteles afirmou ser um
traço de caráter manifestado no agir habitual.
Daí advém a pergunta basilar: em que consiste a virtude? A nossa resposta é que esses
traços de caráter, sem adentrar no mérito da questão, advêm de coragem, generosidade e da
honestidade. Todos esses aspectos imprimem ao advogado o timbre de virtuosidade. E são
aspectos que poderão e deverão ser administrados pelas universidades e faculdades de direito
desde as primeiras letras jurídicas, como discutiremos até mais adiante.
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ÉTICA PROFISSIONAL
A tese é que, se numa comunidade o que se considera moralmente correto pode ser
visto noutra comunidade como moralmente incorreto, e dado que não há padrões universais
do correto e do incorreto, e sendo a ética algo relativa à cultura, logo a “ética” é algo que pode
ser ensinada desde os bancos da escola primaria à universidade.
Você sabia que a disciplina Ética, nos primeiros cursos de Direito, era estudada dentro
de um segmento mais amplo, o da Filosofia? Desde a criação dos cursos de Direito no Brasil
em 1827, a disciplina de Filosofia só passou a ser obrigatória em 1891 e era ministrada em
conjunto com a disciplina História do Direito. A partir de 1931, com a Reforma Francisco Campos,
que procurou emprestar um caráter profissionalizante aos cursos jurídicos, a disciplina Filosofia
do Direito deixou de ser obrigatória no curso de bacharelado sendo obrigatória apenas no curso
de doutorado.
A disciplina de ética pelo art. 6o da Portaria no 1.886 poderia ser ministrada em conjunto
com a disciplina de Filosofia ou separadamente. Algumas faculdades e universidades fazendo
uso da liberalidade passaram a ministrar a disciplina ética da filosofia de forma independente.
Depois desse breve histórico, algumas considerações se fazem necessária para fechar o
entendimento doutrinário sobre a premência do ensino interdiciplinar da ética, proporcionando
uma formação ético-profissional, conforme se espera, a partir dos cursos de graduação em
Direito, já que não existe boa vontade nem proposta para a ensino desde os bancos escolares
do ensino fundamental e médio na proposta do Ministério da Educação.
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UNIDADE 2 :: ELEMENTOS DA ÉTICA II
Assim, diante de todo o exposto, a formação do estudante deve ser não apenas técnica, mas
também geral e humanística, o que envolve a ética. Por isso, para proporcionar uma formação
ético-profissional, conforme se espera, é preciso uma disciplina específica dentro do curso de
graduação em Direito. Por isso, é tão importante a discussão sobre o projeto pedagógico e o
currículo adotado por cada instituição de ensino.
A ideia central é orientar ético e moralmente o estudante de Direito em todo seu processo
educativo, criando nele a idéia de cidadão. Isso deve ocorrer principalmente durante o ensino
superior proporcionando-lhe uma orientação para o desenvolvimento de sua futura atuação
profissional.
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ÉTICA PROFISSIONAL
A expressão profissão provém do latim professione, com diversas acepções. Muitos autores
definem a ética profissional como sendo um conjunto de normas de conduta que deverão ser
postas em prática no exercício de qualquer profissão.
A ética profissional poderia, então, ser definida como sendo a ação “reguladora”
da ética agindo no desempenho das profissões, fazendo com que o profissional
respeite seu semelhante quando no exercício da sua profissão.
A razão pela qual se exige uma disciplina do homem, o advogado no caso, em seu grupo
repousa no fato de que as associações, e a OAB especificamente, possuem por suas naturezas,
a necessidade de equilíbrio que só se encontra quando a autonomia dos seres se coordena na
finalidade do todo. [SÁ, 2000].
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UNIDADE 3 :: ÉTICA PROFISSIONAL I
A ética é indispensável ao dvogado, dado que na ação humana “o fazer” e “o agir” estão
interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir
para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do advogado, ao conjunto de
atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão. O Código de Ética e Disciplina
serve para que se consiga eliminar conflitos e especialmente evitar que se macule o bom nome
e o conceito social da categoria.
2 Lei no 8.906/1994, art.15, § 2o, recomenda a aplicação do Código de Ética às sociedades de advogados; art.33, obriga o advogado a
cumprir, rigorosamente, os deveres consignados no código; art.54, V, autoriza o Conselho Federal da OAB a editar e alterar o Código de
Ética e Disciplina.
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ÉTICA PROFISSIONAL
As disposições dos artigos 49 a 66 dizem respeito à apuração das infrações e aplicações das
penalidades cominadas, determinando que o Tribunal de Ética e Disciplina [TED] é competente
para aconselhar sobre ética profissional, responder às consultas em, se julgar os processos
disciplinares.
Desta forma e à semelhança do direito penal, os Tribunais de Ética e Disciplina da OAB, nas
Seccional da Ordem em cada Estado da Federação, funcionam e julgam os casos que lhe são
encaminhados ou dos quais tomaram conhecimento por meio da fiscalização que a Instituição
promove, garantindo ao acusado e ao defensor, em qualquer das fases processuais, todas as formas
de defesa em direito permitidas e em seu julgamento se consideram todas as atenuantes e agravantes.
Conclusivamente, cada profissão tem suas próprias características e isto exige virtudes que
conduz a um desempenho de boa qualidade, e essas qualidades são basilares para assegurar
as condições fundamentais do exercício profissional em todas as variantes, prevenindo situações
suscetíveis de desqualificação institucional e moral.
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UNIDADE 3 :: ÉTICA PROFISSIONAL I
Necessário observar, ainda, que a profissão jurídica impõe aos profissionais deveres de
tripartite natureza:
Finalmente, os princípios éticos e morais, são na verdade os pilares da construção que formam
a consciência profissional do advogado e representam imperativos de sua conduta, tais como:
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ÉTICA PROFISSIONAL
A Lei no 8.906/1994 definiu no seu art. 2o, caput e § 1o, que o advogado é indispensável
à administração da justiça e que no seu ministério privado, o advogado presta serviço público e
exerce função social. Portanto, a função social do advogado me parece ser a mais importante
e dignificante característica da advocacia, com eco na Constituição da República Federativa do
Brasil [CRFB].
No entendimento do advogado Vanderlei Luis Kronbauer Bonatto [2004] , esses dispositivos
legais, direta e indiretamente, reza que o advogado exerce função social quando:
I. é o primeiro juiz de seu cliente e o mais severo deles;
II. defende, com todos os instrumentos públicos disponíveis,
notadamente no processo judicial, os grandes interesses da sociedade
civil;
III. domina todas as estratégias dogmáticas, pois sabe que
as categorias jurídicas não são entidades ontológicas, isto é,
transcendentais, para assim, virar o jogo a favor das causas populares;
IV. conduz, com técnica adequada, as pessoas litigantes ao
estabelecimento de uma solução que a paz social deseja; não se
subtrai à defesa de causas impopulares ou perigosas;
V. funciona como verdadeiro canal receptor dos anseios
nacionais, pois, nos tempos de crises institucionais, atuando
individualmente ou através da entidade que o congrega;
VI. não pleiteia contra o Direito, os bons costumes e a segurança
do país; atua com independência e dignidade, não descrimina ricos e
pobres, poderosos e humildes;
VII. participa da construção de uma sociedade integralmente
justa, fundamentada na consciência critica, no repensamento das
estruturas sociais e no aperfeiçoamento das instituições;
VIII. cumpre uma função social, na medida em que não é simples
defensor judicial do cliente, mas projeta seu ministério na dimensão
comunitária;
IX. participa da administração da justiça: ora como assistente, ora
como representante e patrono das partes, outras vezes, entretanto,
como Juiz Leigo ou Conciliador;
X. aconselha, possibilitando a paz jurídica sem lide;
XI. tem por missão exercer sua função social, e para isso coloca
os valores fundamentais da pessoa humana como sustentadores do
interesse coletivo ou do bem comum, no qual ao social submeter-se
o econômico;
XII. luta, sem receio, pelo primado da justiça;
XIII. aplica o mesmo zelo, diligencia e recursos do saber com que
defende seus cliente para defender o Planeta Terra;
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UNIDADE 3 :: ÉTICA PROFISSIONAL I
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ÉTICA PROFISSIONAL
Resulta daí ser também a advocacia a profissão mais solicitada pelos profissionais de outras
áreas. E a razão está em que, em todos os ramos da convivência humana, surgem relações sociais
e, com estas, as relações jurídicas, oferecendo campo largo para a atuação do advogado.
O bom advogado, ou seja, aquele que não incide em erros reiteirados; daqueles que não
são reincidentemente em exarar petições que por ineptas sejam indeferidas liminarmente pelos
Juízes; ou mesmo daqueles que não necessitam retornar perante o Conselho da Ordem para
provas de habilitação [Art. 37, § 3o, da Lei no 8.906/1994], navega em Céu de Brigadeiro.
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UNIDADE 3 :: ÉTICA PROFISSIONAL I
Para muitos outros, efeitos e consequências da conduta ética do advogado estão estatuídos
no Capitulo VIII, artigos 31 e seguintes do Estatuto da Advocacia e da OAB. A estrita observância
a aqueles preceitos capitulares jamais resultarão em sanções disciplinares.
CAPÍTULO VIII
Da Ética do Advogado
Art. 31. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que
contribua para o prestígio da classe e da advocacia.
§ 1o O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer
circunstância.
§ 2o Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de
incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão.
Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar
com dolo ou culpa.
Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente responsável
com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o que será
apurado em ação própria.
Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no
Código de Ética e Disciplina.
Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para
com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do
patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos
procedimentos disciplinares.
CAPÍTULO IX
Das Infrações e Sanções Disciplinares
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ÉTICA PROFISSIONAL
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UNIDADE 3 :: ÉTICA PROFISSIONAL I
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ÉTICA PROFISSIONAL
Por moral entende-se o conjunto de normas associadas a ideias sobre formas lícitas e
ilícitas de comportamento, conjunto esse aceito e sancionado por um determinado estrato
social. Não se confunde, pois, com ética, embora dela seja parte integrante.
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UNIDADE 4 :: ÉTICA PROFISSIONAL II
Antes de adentrarmos nos deveres profissionais, faz-se mister observar que a profissão
jurídica impõe ao profissional deveres de dúplice natureza: deveres de natureza jurídica,
referindo-se àqueles que defluem de preceitos e normas jurídicas, revestidos de coercitividade
especifica; e deveres de natureza profissional, precisamente àqueles advindos da inferência
da própria finalidade institucional que especifica e determina todo o campo de atuação da
entidade de classe.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Por essa razão, importa destacar que cabe à corporação a fiscalização do exercício
profissional do advogado, sendo ela autônoma para punir aqueles que descumprirem as
condutas éticas estabelecidas no Código de Ética e Disciplina da OAB e, por extensão, ao
Estatuto da Advocacia, ao Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, e, por que
não dizer: aos Provimentos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
A presentada a matéria desta forma, caro aluno, avaliamos que os deveres do advogado
no exercício da profissão podem ser separados em quatro grandes blocos:
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UNIDADE 4 :: ÉTICA PROFISSIONAL II
A lealdade deve ser a matéria prima do advogado. Embora muitos considerem o dever
de lealdade como a síntese dos deveres éticos do advogado para com o cliente, o é, antes,
um dever para consigo mesmo.
Por esse enfoque o advogado há de empenhar-se para fazer jus à confiança do cliente,
representá-lo da melhor maneira técnica e estratégica, sem prejudicar sua independência,
recordando-se de que ao advogado o cliente não dá ordens [NALINI, 2008].
Podemos pensar que ser leal é ser verdadeiro consigo mesmo. Ser leal significa ser
absolutamente fiel à causa escolhida e à profissão abraçada voluntariamente e sem restrições
mentais. Penso que lealdade para conosco significa, primeiramente, sermos absolutamente
leais aos clientes, às causas que defendemos e a nós mesmos, e complementarmente, sermos
absolutamente leais aos muitos e variados aspectos de nossas vidas e das nossas atividades
pessoais e comportamentais.
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ÉTICA PROFISSIONAL
A questão dos honorários profissionais se não for a pedra de toque é a pedra que
obstaculiza o procedimento ético-profissional, por envolver múltiplos aspectos da questão.
O Código de Ética, em seu Capítulo V, passou a denominar de honorários a remuneração
pelos serviços prestados. O termo honorário deriva da palavra honra, com o sentido de
reconhecimento público moral pela grandeza e relevância de uma prestação de serviço tal ou
qual.
A par da leitura do Código de Ética conclui-se que a remuneração profissional não deverá
refugir da moderação ética que o caso concreto apresentar. A idealização da moderação na
obtenção de ganhos ou honorários advocatícios está estatuída nos artigos 35 a 43 do Código
de Ética e Disciplina da OAB.
Recomenda a ética que o advogado estime os seus honorários com moderação, tendo
em vista que a advocacia é ramo de administração pública e não comércio para fazer dinheiro.
É extremamente condenável o locupletamento.
Locupletamento é o benefício ou
enriquecimento indevido do advogado, e, por
via de regra, se configura com a cobrança
de honorários abusivos; quando participa
vantajosamente no resultado financeiro ou
patrimonial do caso; quando obtém vantagens
excedentes ou não previstas no contrato de
honorários; quando promove levantamento
de recursos depositados em nome do cliente;
quando se apropria ou transfere para si,
abusando do mandato, bem ou valores
que seriam do cliente ou a ele destinado, e,
principalmente, é gravoso, quando recebe A lhaneza do trato com juízes,
procuração e adiantamento do cliente e não promotores, oficiais de justiça, delegados,
ajuíza a ação, ou quando repassa ao cliente com outros advogados e com o público
valor que lhe pertence mediante cheque sem em geral é uma via de mão dupla, se de
fundo. um lado o advogado precisa ser delicado
no trato e na conduta, está a exigir para
si o mesmo tipo de tratamento [CED, art.
45]. Essa é a lei da reciprocidade.
9 A matéria prima do advogado é a palavra, escrita ou falada, precisa conhecê-la e dominá-la para que sirva adequadamente às
estratégias de atuação profissional, e, ainda, o perfeito e atualizado conhecimento das leis.
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UNIDADE 4 :: ÉTICA PROFISSIONAL II
O advogado tem o direito de ser tratado com educação por juízes, promotores, delegados
de polícia, funcionários e todos que mantenha contato. É obrigado também a dispensar a
urbanidade com todas as pessoas, independentemente de cargos ou posição social.
A publicidade é algo legitimo. Não está o advogado proibido de anunciar os seus serviços.
O serviço profissional é bem de consumo e, para ser consumido, há de ser divulgado mediante
publicidade [NALINI, 2008]. Destarte, precisa fazê-lo com moderação. O seu desiderato é
apenas informar, sendo vedada a divulgação ou publicidade em conjunto ou relacionada com
outro tipo de atividade profissional [CED, art. 28].
Importante destacar que a publicidade de advogados [art. 29] só pode ser veiculada na
mídia impressa, sendo vedada a publicidade, a qualquer título, pelo rádio, televisão e sob
denominação ou nome de fantasia.
Pela letra fria da norma, estão vedadas publicidade em outdoors ou em qualquer outro
meio equivalente, fotos, ilustrações, cores, figuras, logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis
com a sobriedade da advocacia. Também é proibido o uso de símbolos oficiais e dos que
sejam de uso privativo da OAB.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Ademais, os anúncios não devem conter qualquer referência a valores dos serviços,
tabelas, gratuidade ou forma de pagamento, se facilitado ou não, bem como outras formas
informações suscetíveis de serem interpretada como forma direta ou indireta de captação de
clientes.
A dignidade de conduta da
pessoa humana é um dos fundamentos
estruturante do Estado Brasileiro. Por
isso, é considerado como princípio
maior na interpretação de todos os
direitos e garantias conferidos às
pessoas no Texto Constitucional.
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UNIDADE 4 :: ÉTICA PROFISSIONAL II
A cordialidade entre colegas é um dever. Os advogados não devem competir entre si,
por qualquer que seja a razão, e menos ainda se referir desairosamente à atuação do colega.
O regramento deontológico, contudo, vai além do tratamento pessoal e determina que o
advogado não pode aceitar procuração de quem já tenha advogado constituído, sem prévio
entendimento com o colega.
Caros alunos! É dificílimo ser humilde, mas é necessário ser meticuloso em escrúpulo e
fazer sempre autocrítica da nossa conduta perante os colegas, ante os demais servidores da
justiça e perante à sociedade como um todo. Neste particular é imprescindível que tenham
a consciência de que nossa luta não é isolada e que ao nosso lado está sempre um outro
advogado com os mesmos desejos, anseios, sonhos, medos e tudo o mais que temos e às
vezes acreditamos que só pertence a nós. E isto vale para todos e para cada um dos nossos
semelhantes.
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ÉTICA PROFISSIONAL
A relação direta com o cliente perdura não só até a conclusão da causa, quando se
presume cumprido e cessado o mandato. Não raro é que o cliente necessite de esclarecimentos
posteriores e o advogado não há de recusar-se a prestá-los.
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UNIDADE 4 :: ÉTICA PROFISSIONAL II
Assim, todas as confidências que o cliente fizer ao advogado só podem ser utilizadas
no limite da necessidade da defesa e desde que autorizada pelo constituinte. Atente-se que
mesmo as comunicações epistolares [via fax, fac-símile, telegrama, telex, e-mail ou por
qualquer outro meio eletrônico] entre o advogado e o cliente são consideradas confidenciais
[CED, art. 27]. Tais confidências não podem ser levados a conhecimento de terceiros, sob
pretexto algum.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Assim, desde o início, o Código de Ética [art. 1o] preceitua a necessidade que o exercício
da advocacia impõe: conduta moral, atos e atitudes passiveis de ser observadas pelo advogado
no exercício da sua profissão. A observância dos princípios éticos e morais reflete qual um
espelho nas relações profissionais e no que concerne ao exercício da advocacia.
Pela análise sumariante do art. 2o, o advogado foi erigido pela Lei no 8.906/1994
e também pela Constituição Federal de 1988 [art. 133] à condição de indispensável
à administração da Justiça. E, da leitura singular do parágrafo único do art. 2o, advém a
convicção que a advocacia e a função do advogado é, antes de tudo, uma missão. Zelar
pelo caráter de indispensabilidade corresponde a dizer que é zelar pela própria Constituição
Federal e pelas leis, ou seja, pelo sistema jurídico vigente. Uma missão para zelar por si
mesmo e pelos interesses da Ordem e da Sociedade.
Insta declarar, por fim, que a atividade do advogado transcende a simples delimitação
conceitual de profissão, alcançando o caráter de múnus público, denotando aquele que se
reveste de precedência de autoridade pública ou da lei, e obriga o indivíduo a certos encargos
em benefício da coletividade ou da ordem social.
Portanto, por mais que não queira o advogado, no exercício da advocacia, é mais
que um mero profissional, homem ou mulher no exercício da profissão, é um profissional
indispensável para a Justiça no chamado Estado de Direito, tendo, portanto, direito e obrigação
na defesa de direitos e liberdades em todos os seus mais variados aspectos.
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UNIDADE 4 :: ÉTICA PROFISSIONAL II
À guisa de conclusão, apenas dois tópicos merecem especial atenção dos novos
advogados, quer sob a ótica dos atos privativos da advocacia, quer sob o enfoque dos
direitos profissionais: Incompatibilidades e Impedimentos para o exercício da Advocacia, e,
Responsabilidades decorrentes do mandato judicial. Trataremos deste assunto no próximo
módulo.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Com isto estamos dizendo que não há como o advogado deixar de reconhecer que é
de fato e de direito, indispensável à administração da Justiça, que é um defensor do Estado
Democrático de Direito, da cidadania, da moralidade pública e da paz social.
E, não há como não saber ou não pretender reconhecer que da sua atuação depende
a administração da Justiça, razão pela qual a sua conduta encontra-se voluntária ou
involuntariamente jungida à atividade do seu Ministério Privado e à elevada função pública
que exerce.
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UNIDADE 5 :: ÉTICA PROFISSIONAL III
Na órbita do Estatuto, o
caput do artigo 31 estabelece que o
advogado deva proceder de forma
que o torne merecedor de respeito
e que contribua para o prestígio da
classe e da advocacia.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Os valores que estão a nortear esta política de ambiência corporativa são a autonomia e
o protagonismo dos sujeitos, a coresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos
solidários, a participação coletiva na gestão do processo, e a indissociabilidade entre a
pretensão judicial do cliente e a gestão administrativa do trâmite processual.
E vale repetir. O advogado é um homem público sobre o qual não é possível pairar
quaisquer dúvidas sobre a sua conduta tanto profissional quanto pessoal.
Essa tarefa ética e social do advogado, essa atividade que não se esgota na invocação e
da lei e em sua aplicação ao caso concreto no qual intervém, senão pelos valores humanos.
Um advogado deve ser, essencialmente, um bom cidadão, e, sobretudo, ético. E, sobremodo,
o advogado há que ter uma vida particular honrada.
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UNIDADE 5 :: ÉTICA PROFISSIONAL III
A diferença entre esse papel e o dos cidadãos em geral é que, no caso do advogado, há
expressa previsão legal para que assim seja, sob pena de incidir em penalidades administrativas
aplicadas pelo Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil [OAB].
Deste modo, pense bem. Como compatibilizar a atuação ética do advogado enquanto
profissional com a sua conduta na vida privada? Como compatibilizar a ideia de ministério
com as exigências capitalistas da sociedade hodierna? Como minimizar o impacto entre o
que se aprende na faculdade com o exercício da advocacia no dia a dia? São questões e mais
questões que se colocam diuturnamente ante os deveres e direitos dos advogados.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Não temos a resposta para apresentar aqui e agora, mas, certamente, podemos dizer que
o caminho é atuar na conformidade da lei, observando a ética e a disciplina recomendada pelo
Código de Ética e Disciplina da OAB, pelo Estatuto da Advocacia e da OAB, pelo Regulamento
Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, e pelos Provimentos e Orientacoes emanadas do
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
O que podemos dizer, sem pretender ainda dar a resposta a essas indagações, mas
apenas continuar em busca de uma resposta, é que o advogado/advogada deve crer no
Direito e na Justiça. E, sobretudo, crer em si mesmo.
A Responsabilidade Civil vem a ser obrigação que pode forçar uma pessoa
a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou fato de pessoas
ou coisas que dela dependam, ou seja, em qualquer relação jurídica,
existindo violação a algum bem jurídico, tal ato é considerado lesão a
outrem e o autor ou dependente seu tem o dever de reparar o dano
sofrido, seja ele moral ou material.
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UNIDADE 5 :: ÉTICA PROFISSIONAL III
É bem verdade que o parágrafo único desse dispositivo vaticina que “em caso de lide
temerária, o advogado será solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado
com este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria”.
A responsabilidade civil decorre do ato ilícito praticado pelo agente, gerando nulidade dos
atos de advocacia praticados, causando dano ao cliente. De fato, o advogado é responsável
pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa [Lei no 8.906/1994, art. 32].
A responsabilidade administrativa ocorre no âmbito da OAB, sob forma de penalidade.
Fases
O processo disciplinar desenvolve-se em três fases: postulatória, instrutória ou
probatória e decisória.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Após a formalização do contraditório, deve ser proferida decisão que poderá resultar na
instauração do processo disciplinar ou no arquivamento. Instaurado o processo disciplinar,
tem início a fase instrutória, com a realização de audiência para depoimentos pessoais e
oitiva de testemunhas [em número de cinco para cada parte], se necessário.
Como um todo, o processo disciplinar deve primar pelo devido processo legal, com
direito à produção de provas e oferta de ampla defesa, e contraditório, com os recursos e
instrumentos devidos.
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UNIDADE 5 :: ÉTICA PROFISSIONAL III
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ÉTICA PROFISSIONAL
Alguns fatos que são indicativos e que podem resultar na aplicação dessa punição:
envolvimento de advogados com entidades do crime organizado, fraudes financeiras,
comportamento desregrados e vários outros.
A suspensão preventiva será julgada em processo sumário, representado por uma única
sessão, na qual será apresentada a defesa e proferida a decisão.
f) não tem prazo delimitado ou definido, mas considerando que o processo disciplinar
não pode/deve ultrapassar noventa 90 dias [art. 70, § 30, do EAO], a conclusão é de
que a suspensão preventiva não poderá ser superior a este lapso.
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UNIDADE 5 :: ÉTICA PROFISSIONAL III
Dos Recursos. São cabíveis recursos apenas contra as decisões terminativas ou definitivas.
O que significa dizer que as decisões interlocutórias não são recorríveis.
Nos termos do art. 75, parágrafo único, do EAO, além das partes, o
presidente do Conselho Seccional possui legitimidade para interpor o aludido
recurso.
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ÉTICA PROFISSIONAL
Pressupostos da Revisão:
Os pressupostos de
admissibilidade estão contidos
no art. 41 do EAO. O prazo
é de um ano decorrido de O pedido de revisão
seu cumprimento. Este prazo pode ser para gerar a
é contado a partir do dia inversão do julgamento,
seguinte ao termo final da de condenação para
suspensão. absolvição ou para alterar
a natureza ou o rigor
Vale lembrar que da pena, de suspensão
quando a sanção disciplinar para censura, redução do
resultar de crime, o pedido prazo de suspensão.
de reabilitação depende
também da correspondente
reabilitação criminal.
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UNIDADE 5 :: ÉTICA PROFISSIONAL III
5.6 Conclusão
Vejam!
1. O Tribunal de Ética e Disciplina, como visto, é a primeira instância de
julgamento do processo disciplinar.
2. Processo disciplinar e processo administrativo na OAB são coisas estanques.
3. Prevalece no processo administrativo o princípio do informalismo ou
formalismo moderado.
4. O processo administrativo disciplinar é formal no sentido que deve ser
escrito e observar os princípios essenciais do devido processo legal e da ampla
defesa.
5. A Lei no 8.906/1994, detalha os procedimentos a serem adotados no
processo disciplinar.
6. Há normas expressas prevendo o modo de instauração, indicando quem
pode ser parte, quem tem competência originária para punir, quais os meios de
defesa, as hipóteses de recursos, a competência para julgamento, e o mais que
se fez necessário ao ordenado prosseguimento do feito.
7. Os prazos, em qualquer processo administrativo na OAB, seja para
manifestação de qualquer natureza, seja para recorrer, é único de 15 dias, e vale
tanto para os membros dos órgãos da OAB, como para as partes, interessados
ou terceiros.
8. O poder de punir advogados ou estagiários inscritos na OAB por infração
disciplinar relacionada com a atividade profissional é exclusivo da OAB, cabendo
a apuração, o julgamento e a aplicação da sanção disciplinar ao Tribunal de
Ética e Disciplina.
9. A sanção disciplinar de suspensão e exclusão aplicada aos advogados só
contam a partir da publicação da sanção na imprensa oficial.
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ÉTICA PROFISSIONAL
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