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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA- ISMU

Curso: PST- 1º Ano


Disciplina: Filosofia da História

Aula: 5-Problemas da Filosofia da História


Caros estudantes, na aula passada apresentamos sobre duas propostas de compreensão da
Filosofia da História, a primeira de Karl Marx, que fundamenta a história como factos históricos
materiais e a segunda visão de Immanuel Kant, na qual apresenta-se uma perspectiva
universalista de história fundamentada nos propósitos cosmopolitas. Na aula de hoje, dedicar-
nos-emos nos problemas da filosofia da história, neste contexto, far-se-á breve apresentação a
problemática da localização do sujeito da história, o enquadramento da razão na história e
finalmente trataremos do sentido e fim da história.

1. O sujeito da História
O mundo sempre contestou a posição do sujeito da história, numa situação em que vários países
ocidentais reivindicaram a sua posição como sujeitos da história, não obstante, os orientais
também clamavam pela sua posição nos factos históricos mundiais. Mas o sujeito da história
sempre é aquele que o faz, e não aquele com o qual é feito a história, foi entre o ocidente
escravizador e os africanos escravizados. Por conta disso. O ocidente sempre recusou que a africa
e o oriente fossem sujeitos da sua própria historia, alegadamente que estes não foram capazes de
desenvolver nenhum episodio contribuinte para o mundo.

2. O lugar da Razão na Histórias


A problemática da existência de razão na história desenvolve-se com Hegel, com ele o
questionamento sobre a racionalidade do fazer história coloca-se em questão quando este faz
julgamento de certos povos, assumindo que alguns povos como os africanos não tinham história
pelo simples facto destes não serem detentores de uma capacidade racional de compressão dos
factos históricos feitos por eles (sobre esta matéria vamos desenvolver nas próximas aulas).

Hegel (1986) na do capítulo introdutório das Lições sobre Filosofia da História acaba por
pressupor o conceito de Razão como princípio e objetivo do estudo filosófico da história,
assumindo que ela, a Razão, fora demonstrada em outras obras, e/ou será confirmada na
sequência desta em questão.
Mas aqui isso só pode ser feito como uma alegação, não sendo o lugar para desenvolver a Ideia
do espírito especulativamente, porque o que pode ser dito em uma introdução é, sobretudo
enquanto histórico, como já foi mencionado, para se tomar como pressuposto, já que recebeu seu
desenvolvimento e prova em outro lugar, ou só depois do tratado da ciência da história deve
receber sua justificação (HEGEL, 1986, p. 29).

Entretanto, resta saber se a Razão já tinha sido demonstrada, se foi confirmada na exposição da
obra, ou se ambas as opções anteriores. Primeiramente, o conceito puro de Razão foi
demonstrado, enquanto determinação conceitual do Espírito Absoluto, de maneira mais pontual
na seção Fenomenologia do Espírito, da Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio
(1830) - Vol III (HEGEL, 2011): cuja definição representa a certeza da consciência-de-si de ser
toda a realidade. De acordo com tal seção, a sua verdade, ou concretização, só seria determinada
com o Espírito. “A consciência-de-si, [que é] assim a certeza de que suas determinações tanto são
objetivas, determinações da essência das

Com relação ao conceito provisório da filosofia da história, pode se observar o seguinte: a


primeira crítica da filosofia é abordar a história com ideias e considere-as de acordo com as
ideias. Mas a única ideia que a filosofia traz é a da razão simples- a ideia de que a razão governa
o mundo e, portanto, a história universal também foi racional. Essa convicção, essa ideia é uma
presunção em relação a história como tal.

Não é para a filosofia. Não é demonstrado pelo conhecimento especulativo que Razão - aqui
podemos nos ater a esse termo sem enfatizar ainda mais o relacionamento com Deus - é sua
substância, o poder infinito, a matéria infinita de toda vida natural ou espiritual, - e também a
forma infinita, a realização de seu próprio conteúdo. É a substância que é dizer o quê, o quê e em
que toda realidade encontra seu ser e sua consistência.

É o poder infinito não é impotente a ponto de ser apenas um ideal, um simples dever-ser, que não
existiria na realidade, mas não se saberia onde, por exemplo, no espírito de alguns homens. Ela é
o conteúdo infinito, tudo o que é essencial e verdadeiro, e contém o seu próprio material que dá
ao desenvolvimento a sua própria atividade. Porque ele não precisa, como o ato final, de
materiais e meios externos doados, para fornecer alimentos e objetos para sua atividade.
Alimenta-se. Ela é para ela- até o material com o qual ela trabalha. É seu próprio pressuposto e
seu fim é o fim absoluto do mesmo, realiza seu objetivo e o faz passar do interior para o exterior,
não apenas no universo natural, mas ainda no universo espiritual - na história universal. A ideia é
a real, o eterno, o poder absoluto. Ele se manifesta no mundo e nada se manifesta lá que não seja
ela, sua majestade e sua magnificência: é isso que a filosofia demonstra e que aqui se supõe
demonstrado.

A reflexão filosófica não tem outro objetivo senão eliminar o acaso. Contingência é igual à
necessidade externa: uma necessidade que se resume a causas que elas mesmas não são apenas
circunstâncias externas. Devemos buscar na história um objetivo universal, o objetivo fim do
mundo - não um objetivo particular da mente subjetiva ou do sentimento particular. Nós temos de
compreendê-lo com a razão, porque a razão não pode encontrar interesse em nenhum objetivo
finito específico, mas somente para o propósito absoluto.

Esse objetivo é o conteúdo que testemunha a si mesmo: tudo o que pode manter o interesse do
homem encontra nele fundamento. O racional é o que existe por si só e para si mesmo - de onde
provém tudo o que tem valor. Dá-se formas diferentes; mas é a natureza, que deve ser uma meta,
se manifesta e se expressa mais claramente nessas figuras multiformes que chamamos de Povos.
Devemos trazer à história a fé e a ideia de que o mundo da vontade um fim último domina a vida
dos povos; A razão está presente na história universal - não subjetiva, razão particular, mas
divina, razão absoluta: estas são verdades que pressupomos aqui. O que os demonstrará é a
própria teoria da história universal mesmo porque é a imagem e o trabalho da razão. Na verdade,
a demonstração em si não é descobre isso no conhecimento da própria razão. Na história, apenas
se mostra. coisas, quanto são seus próprios pensamentos, é a razão; [...]. Essa verdade que sabe é
o espírito ” (HEGEL, 2011, p. 209).

Em segundo lugar, pode-se também constatar que o conceito de Razão foi confirmado com a
exposição da Filosofia da História (HEGEL, 1986), ou melhor, sua verdade foi determinada ao
expressar a sua realização encarnada nos eventos histórico-mundiais pelo espírito do mundo. Em
relação à introdução das Lições sobre a Filosofia da História , ela também mostra que tal questão
- em saber a determinação da razão - desapareceria se a razão fosse considerada em relação ao
mundo, no desenvolvimento de si mesmo nas suas particularidades: A questão de saber o que é a
determinação da razão em si mesma, na medida em que a razão é tomada em relação ao mundo,
coincide com a questão de qual seja o objetivo final do mundo; mais próximo dessa expressão
situa-se, que deve ser realizado, deve ser efetivado (HEGEL, 1986, p. 29).

Além disso, é uma diferença decisiva o que Hegel postula entre esse princípio em si, abstrato – a
certeza de ser toda a realidade -, e sua realização efetiva - verdade de ser toda a realidade - no
desenvolvimento de si mesmo nas suas determinações conceituais. Pois é esta desigualdade, que
marca o nível da consciência, o que dará o impulso exigido para a autodeterminação desse
princípio com fim à identificação do sujeito/conceito com o seu objeto.

Tal indício dessa realização leva a compreender que esta [realização] é efetivamente o momento
do espírito, que segundo a Razão na Fenomenologia do Espírito pode ser comprovado: A
consciência-de-si, [que é] assim a certeza de que suas determinações tanto são objetivas,
determinações da essência das coisas, quanto são seus próprios pensamentos, é a razão; razão
que, enquanto é essa identidade, não é somente a substância absoluta, mas a verdade como saber.
Com efeito, ela tem aqui por determinidade própria, por forma imanente, o conceito puro
existente para si mesmo: [o] Eu, a certeza de si mesmo como universalidade infinita. Essa
verdade que sabe é o espírito (HEGEL, 2011, p. 209).
São com essas passagens que se pode provar as intenções de Hegel com o tratamento filosófico
da história: trata-se do momento do espírito, em que os conteúdos particulares ali descobertos
nada mais são do que as próprias determinações conceituais da certeza da Razão já conquistada -
a vida ética - a eticidade - já fazem parte, enquanto pressuposto lógico-conceitual, do Espírito
Objetivo que sabe de si mesmo e se autodetermina, e consequentemente da história mundial.
Assim, a razão enquanto certeza de si mesma, é tomada como pressuposto para o tratamento
filosófico da história mundial, já contém, em sua própria realização exteriorizada no tempo, as
determinações do saber que sabe de si mesmo.

Dessa forma, foram principalmente esses os resultados da investigação sobre a cientificidade do


tratamento filosófico da história na introdução das Lições sobre a Filosofia da História (HEGEL,
1986): um tratamento no qual a Razão é pressuposta, e cuja história em que ela se realiza a
marcha do espírito do mundo, a marcha daquele que determina concretamente o seu
desenvolvimento conceitual e revela uma parcela da verdade da razão, enquanto Espírito
Objetivo. Mas o espírito pensante da história do mundo, enquanto ao mesmo tempo despe
aquelas limitações dos espíritos-dos-povos particulares, e sua própria mundanidade, apreende sua
universalidade concreta e se eleva ao saber do espírito absoluto , com o [saber] da verdade
eternamente efetiva, em que a razão que-sabe é livre para si mesma, e a necessidade, a natureza e
a história são só para servir a revelação
desse espírito, e vasos de sua glória (HEGEL, 2011, p. 325).

3. Sentido e Fim da História


Ao ter que assumir a manifestação em ordem cíclica dos factos históricos, como vimos nas aulas
anteriores, estar-se-ia a assumir que a história tenha algum começo e um termino. E o debate
sobre o fim da história iniciado, vivamente, por Hegel e vai até os pensadores mais actuais,
colocavam o fim da história ao alcance de um apogeu político no qual os acontecimentos ou a
manifestação do mundo teria a mesma estrutura, mas também, porque a historiografia entraria em
crise, incluindo as outras ciências sociais. Com Hegel o fim da história seria no momento em que
a humanidade atingisse o equilíbrio, representado, de acordo com ele, pela ascensão
do liberalismo e da igualdade jurídica, mas com prazo indeterminado para ocorrer.

O debate iniciado com Hegel, é continuado com o estadunidense, Francis Fukuyama,


desenvolvido na obra “O fim da História e o Último Homem” de 1992. Nestes estudos Fukuyama
apresenta uma abordagem da História, desde Platão até Nietzsche, passando por Kant e pelo
próprio Hegel, a fim de revigorar a teoria de que o capitalismo e a democracia burguesa
constituem o coroamento da história da humanidade. Assim, na ótica de Fukuyama, após a
destruição do fascismo e do socialismo, a humanidade, à época, teria atingido o ponto mais alto
de sua "evolução" com o triunfo da "democracia" liberal "ocidental" sobre todos os demais
sistemas e ideologias concorrentes no mundo.
Em oposição à proposta capitalista liberal restavam apenas os vestígios de nacionalismos, sem
possibilidade de significarem um "projeto para a humanidade", justamente porque refutam o
dogma de que deve existir um só caminho para todos e cada grupo é dono de seu próprio destino,
e o fundamentalismo islâmico, antes restrito ao Oriente e em países periféricos, mas que avança
em centros importantes tais como Paris. Desse modo, diante do desmoronamento do socialismo
da URSS, o autor concluiu que a "democracia" liberal de matriz ocidental, firmou-se como a
solução final do governo humano, significando, nesse sentido, o Fim da história" da humanidade,
gerando um estagnacionismo jamais visto antes na história do mundo muito mais dinâmica antes
com seus povos vivendo do seu modo original no seu ambiente original.

Mas antes de Fukuyama, alguns pensadores como Marx, Kant, e outros já propunham algumas
hipóteses sobre o fim da história, no caso de Marx, estar-se-ia perante a condição do comunismo
e já com Kant no momento em que alçar-se-ia o apogeu de uma história universal cosmopolita.
Apesar deste reconhecer que a história humana é história do desenvolvimento liberal. Na visão
dele, A história da natureza inicia com o bom [vom Guten], pois é obra de Deus, a história da
liberdade inicia com o mau [vom Bösen], pois é obra do homem. Para o indivíduo, que no uso de
sua liberdade tem em vista apenas a si mesmo, aquela mudança foi uma perda, para a natureza,
cujos fins dizem respeito ao homem enquanto espécie, foi um ganho.

Tarefas
1. Por que que Hegel questiona a razão histórica?
2. Argumente sobre a posição do sujeito da história entre os fautores ocidentais e orientais
da história da humanidade.
3. Até que ponto as posições de Hegel e Kant, justificariam, necessariamente o fim da
história?
4. A visão de Fukuyama, apesar de basear-se nos eventos ocidentais, feria a sensibilidade
dos povos africanos. Argumente este facto tento em conta que em Fukuyama, a história
mundial terminaria enquanto os Estados africanos estavam a alcançar a independência.

Bibliografia
HEGEL, George W. (1986). A razão na História: Introdução à Filosofia da História. Lisboa: 70.
______________.(2011). Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio (1830) – V.III.
Ed. São Paulo: Edições Loyola.
MARX, Karl. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
KANT, Immanuel. (1992). Filosofia de la história. Trad. Eugenio Ímaz. México: Fondo de
Cultura Econômica.
LÖWITH, Karl. (1991). O sentido da História. Lisboa: Edições 70.

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