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1.

INTRODUÇÃO

O Banco de Moçambique é a autoridade de supervisão das instituições de crédito e sociedades


financeiras que operam no País, incluindo a bolsa de valores, estando esta actividade orientada
para a prevenção e minimização de ocorrência de factores que podem perturbar o bom
funcionamento, a saúde e o equilíbrio do sistema financeiro, para além de concorrer para a
promoção da confiança do público nos produtos e serviços que as instituições oferecem e o
aumento e consolidação da competitividade entre os operadores.

O presente capítulo sintetiza os desenvolvimentos internacionais e domésticos em matéria de


supervisão bancária e avalia o desempenho do sistema bancário durante o ano de 2009. A
análise do desempenho do sistema bancário baseia-se na informação contabilística e prudencial
agregada, submetida pelas instituições sujeitas à supervisão do Banco de Moçambique.

2. DESENVOLVIMENTOS NO SISTEMA BANCÀRIO

A conjuntura mundial do ano de 2009 continuou a ser marcada pela crise económica e
financeira ao nível global, despoletada em 2007 e que levou a que os governos e bancos
centrais do mundo inteiro tomassem um conjunto de medidas para amortecer os seus efeitos
sobre as suas economias e consequentemente a economia mundial. Não obstante nos finais do
ano em revista serem mais animadoras as perspectivas de recuperação da actividade
económica nas principais economias, os seus efeitos continuaram visíveis, quer a nível do
sector real como do financeiro.

A crise financeira mundial não teve impacto directo sobre as instituições bancárias a operar no
mercado moçambicano, tendo-se o sistema mantido estável e robusto. Isto deveu-se por um
lado, ao facto das instituições de crédito que operam no País, apresentarem um baixo grau de
exposição aos activos que desencadearam a crise, como também, pelo facto da maioria das
instituições possuírem um nível de capitalização adequado para assumir perdas decorrentes dos
activos em carteira, medidos pelo rácio de solvabilidade que alcançou cifras confortáveis, ao
fixar-se em 15,1% em Dezembro de 2009, contra 13,9% em Dezembro de 2008.

Adicionalmente, as medidas que têm sido tomadas do ponto de vista regulamentar, a atitude
prudente na tomada de riscos pelas instituições, acompanhada de acções de vigilância
permanente ao sistema pelo Banco de Moçambique, contribuíram para a manutenção da
estabilidade do sector financeiro nacional.

Esperava-se que o advento e a persistência da turbulência nos mercados financeiros


internacionais e a deterioração da actividade económica mundial, pudessem condicionar, ainda
que em menor grau, a evolução dos fundos próprios totais em algumas instituições, em
resultado da contracção de empréstimos subordinados no mercado internacional, situação que
não se verificou, mercê dos lucros substanciais que as instituições financeiras lograram
alcançar, o que lhes permitiu reforçar os fundos próprios, e, por conseguinte, reforçar a sua
capacidade de suportar choques adversos sobre o seu balanço e conta de resultados.

Esperava-se igualmente, que à semelhança do que se registou em algumas economias directa


ou indirectamente afectadas pela crise, o sistema bancário registasse incrementos substanciais
nos níveis de incumprimentos, especialmente pelas empresas internacionalmente expostas, cujo
1
volume de negócio depende em larga medida, da actividade económica internacional. Com
efeito, os níveis de incumprimento mantiveram-se relativamente baixos, tendo o rácio do crédito
vencido em percentagem da carteira total diminuido de 1,9% em Dezembro de 2008 para 1,8%
em Dezembro de 2009.

Outro facto digno de realce é o processo de expansão da rede de balcões pelos Distritos, no
quadro da estratégia de alargamento de serviços financeiros às zonas menos favorecidas do
país, mas também no interesse próprio das instituições de exparandirem a sua base de clientes
e explorar novos nichos de mercado. Esta tendência foi generalizada, acompanhada por um
conjunto de inovações seja no desenho de produtos financeiros, como na infra-estrutura de
suporte.

3. Principais ActivuidCTIVIDADES REALIZADAS PELO BANCO DE MOÇAMBIQUE NA


ÁREA DE SUPERVSÃO BANCÁRIA

3.1. Desenvolvimentos no Quadro Regulamentar

No decurso de 2009 prosseguiu-se com o reforço do quadro regulamentar para as instituições


de crédito e sociedades financeiras, tendo sido publicado o Aviso nº5/GBM/2009 de 10 de Junho
que estabelece o regime das comissões e outros encargos e regulamenta o dever de
informação que incumbe às instituições de crédito e sociedades financeiras, instruindo a
facultação, aos utentes dos serviços financeiros, os preços e condições dos serviços e produtos
que contratam, e promover a transparência e a concorrência na fixação das referidas comissões
e outros encargos.

Na sequência deste Aviso referido, foi publicada a Carta Circular nº 2/SFA/2009, de 4 de


Setembro de 2009, sobre a necessidade de remessa da Informação sobre às comissões e
outros encargos ao Banco de Moçambique.

3.2. Licenciamento

Em 2009, o Banco de Moçambique autorizou a constituição de cinco instituições de crédito (um


banco, que terá a sede na Cidade de Maputo, um microbanco, que terá a sede no distrito de
Caia, uma instituição de moeda electrónica com sede na Cidade de Maputo e duas cooperativas
de crédito nas cidades de Nampula e Nacala, respectivamente) e duas casas de câmbio, em
Xai-Xai e Cidade de Maputo, respectivamente. As duas cooperativas autorizadas serão as
primeiras a se estabelecerem na região norte do país.

Adicionalmente, foi autorizada a inscrição de cinco organizações de poupança e empréstimo


(uma no distrito de Chókwè e quatro em igual número de distritos da província de Cabo
Delgado) e vinte e três operadores de microcrédito nas províncias de Maputo, Gaza,
Inhambane, Sofala, Zambézia, Cabo Delgado e Cidade de Maputo, respectivamente.

Em relação à composição do sistema, entraram em actividade dois microbancos autorizados em


2007, com sedes no distrito de Báruè e Cidade de Maputo, respectivamente, uma casa de
câmbio localizada na Cidade de Maputo, cinco organizações de poupança e empréstimo e vinte
e três operadores de microcrédito. Com efeito, o número de microbancos, organizações de
2
poupança e empréstimo e operadores de microcrédito em actividade elevou para 3, 9 e 95,
respectivamente (Quadro 1).

Quadro 1: Evolução do sistema bancário


Tipo de Instituição 2009 2008 Variação
Bancos 14 14 0
Microbancos 3 1 2
Cooperativas de Crédito 6 6 0
Sociedades de Locação Financeira 1 1 0
Sociedades de Investimento 1 1 0
Sociedades Emitentes ou Gestoras de Cartões
1 1 0
de Crédito
Casas de Câmbio 20 22 -2
Organizações de Poupança e Empréstimo 9 4 5
Operadores de Microcrédito 95 72 23

No que respeita à expansão da rede bancária, foi autorizada a abertura de 58 agências de


bancos em todas as províncias do país e duas agências de cooperativas de crédito em Chimoio
e Boane, tendo o número de agências autorizadas de bancos e cooperativas de crédito elevado
de 343 para 401, e de 12 para 14, respectivamente, de Dezembro de 2008 para Dezembro de
2009 (Quadro 2).

Quadro 2: Evolução de agências autorizadas de bancos


Província 2009 2008 Variação

Cidade de Maputo 157 146 11


Província de Maputo 34 32 2
Gaza 24 19 5
Inhambane 29 21 8
Sofala 37 32 5
Manica 21 16 5
Tete 20 17 3
Zambézia 17 14 3
Nampula 42 32 10
Cabo-Delgado 10 8 2
Niassa 10 6 4
Total 401 343 58

De referir que no mesmo período, o número de agências de bancos em funcionamento


aumentou de 297 para 352, tendo em resultado, havido uma ligeira redução da assimetria
existente na distribuição da rede bancária, uma vez que maior parte das agências foi aberta fora
da cidade de Maputo (vide Quadro 3).

3
Quadro 3: Evolução de agências de bancos em funcionamento
Província 2009 2008 Variação

Cidade de Maputo 135 128 7


Província de Maputo 32 30 2
Gaza 24 17 7
Inhambane 27 18 9
Sofala 33 31 2
Manica 17 14 3
Tete 19 11 8
Zambézia 16 11 5
Nampula 31 24 7
Cabo-Delgado 9 7 2
Niassa 9 6 3
Total 352 297 55

Um aspecto a destacar é o facto do número de distritos cobertos pela rede bancária ter elevado
para 51, o que corresponde a um acréscimo de 17 distritos em relação à situação a Dezembro
de 2008.

Ainda no decurso do ano de 2009 foram revogadas licenças de 2 casas de câmbio que
operavam nas cidades de Quelimane e Maputo.

Caixa 5: Bancarização da Economia e Aprofundamento do Sector Financeiro Nacional

O desafio de bancarização da economia, lançado pelo Banco de Moçambique em 2007, tem com
objectivo final, levar os serviços financeiros as zonas mais desprovidas dos mesmos, garantido o
acesso de uma parte considerável da população de Moçambique ao mesmo tempo que se criam
condições para estimular a poupança e o investimento.

Para a materialização deste objectivo várias medidas de incentivo foram aprovadas, nomeadamente,
(i) ao nível do Banco de Moçambique, que incluem entre outras, a abertura de agência em cinco
principais cidades do país; e (ii) consideração da caixa das agências dos bancos comerciais em
zonas rurais para efeitos de constituição de RO´s, o que permite libertar liquidez para outro tipo de
aplicações incluindo expansão do crédito e reduzindo o custo implícito de manutenção de reservas;
(iii) ao nível do Governo, onde pontificam os benefícios fiscais e desenvolvimento de infra-estruturas;
(iv) apoio institucional, que consiste no co-financiamento às instituições de micro finanças e aos
bancos na introdução de produtos adequados ao meio rural, bem como a criação, pelo Governo do
Programa de Apoio às Finanças Rurais (PAFR), visando o apoio técnico às instituições financeiras
nas zonas rurais, donativos para o investimento inicial para aquisição/modernização e
apetrechamento das instalações e linhas de crédito para a expansão da actividade creditícia nas
zonas rurais.

No XXXIV Conselho Consultivo do Banco de Moçambique, realizado em Maputo, em Janeiro de


2010, foi feito um balanço do processo de extensão dos serviços financeiros para as zonas rurais do
país, bem como, a avaliação da importância das infra-estruturas de comunicação e energia no
processo. A informação disponível, mostra a seguinte evolução desde o lançamento da estratégia até
Dezembro de 2009:

4
Evolução do Número de Balcões
 O número de instituições bancárias em Cidade de Maputo 135
98
funcionamento no país, incrementou de 12 Província de Maputo 16 32
para 14 bancos, ao mesmo tempo que o Gaza 14 24
sistema passou a contar com 3 novos Inhambane 12 27
Sofala 33
micro bancos, 9 organizações de 21
Manica 12 17
poupança e empréstimo. Tete 19
8
Zambézia 16
10
 O total de operadores de microcrédito Nampula 16 31
Cabo Delgado 9
licenciados e em exercício incrementou em 7
Niassa 9
39 novas unidades para um total de 96 4

instituições. 0 20 40 60 80 100 120 140


2009 2005

 O número de agências de bancos em funcionamento incrementou em 134 unidades (61.5%)


para 352 em todo o país de um total de 401 autorizadas.

 O número de distritos com agências bancárias aumentou em 23 (82%) para 51, o que
representa uma taxa de cobertura de cerca de 40%.

 O total de ATM´s e POS´s aumentou para 620 e 4,668 contra os 382 e 3,248,
respectivamente.

Para além do aumento do número de instituições e da rede de balcões de bancos, a estratégia de


bancarização do país conta, igualmente, com o aumento da disponibilidade de meios alternativos,
designadamente, os instrumentos electrónicos, que a possibilitem a prestações de serviços
financeiros básicos sem a necessidade de instalação física de uma agência bancária. Com efeito, a
disponibilidade desses meios têm vindo a concorrer para o aprofundamento do subsistema de
pagamentos e, consequentemente, a redução do peso das notas e moedas em circulação na
realização de transacções comerciais e no total de meios de pagamento disponíveis no país.

Conforme ilustrado no gráfico, o aumento das caixas automáticas e dos terminais de pagamento
automático nos postos de venda tem vindo a ser acompanhado por uma tendência de redução da
taxa de preferência de liquidez pura, por parte do público, medida pela relação entre o saldo das
Notas e Moeda em poder do público e a massa Preferência por liquidez vs. Meio alternativo de pagamento
monetária (NMC/M3). 52.0% 13.5%
50.0% 13.0%
A preferência de liquidez reduziu de 13.2% em 48.0%
Dezembro de 2006, para 12.2% em Dezembro 12.5%
46.0%
2009, ao mesmo tempo que o peso dos valores 12.0%
44.0%
movimentados através dos cartões de débito vem 11.5%
42.0%
aumentando continuamente no tempo, tendo o
40.0% 11.0%
rácio entre os valores pagos através de cartões de
2006 2007 2008 2009
débito em relação à massa monetária (valores
C. Débito/M3 (eixo a esquerda) NMC/M3 (eixo a direita)
pago por cartão/M3), incrementado o seu peso
relativo, na liquidação de transacções em Moçambique de 41.7% em Dezembro de 2006 para 50.8%
em Dezembro de 2009.

A tendência de queda do rácio NMC/M3, conjugada com a evolução das taxas de poupança
financeira e de financiamento bancário, resumidas no quadro abaixo, mostram que o sector
financeiro moçambicano, tem ao longo dos últimos anos, aumentado a sua expansão territorial, ao
mesmo tempo que tem conhecido um maior aprofundamento e desenvolvimento, factores
importantes para a promoção do crescimento da produção e consequentemente o almejado
desenvolvimento económico. Efectivamente, o aumento da poupança financeira, aliado ao

5
crescimento contínuo da taxa de transformação, têm permitido uma maior capacidade de
financiamento bancário á actividade produtiva, medida pelo Produto Interno Bruto, que cresceu de
cerca de 13% em Dezembro de 2005 para 27.5% em Dezembro de 2009.

Alguns Indicadores de Aprofundamento do Sector Financeiro


Poupança Financeira Taxa de Transformação Financiamento Bancário
DT/PIB DP´s/PIB CE/DT CE/PIB
2005 24.8 6.9 53.0 13.2
2006 26.0 7.5 56.5 14.7
2007 28.0 9.0 53.1 14.9
2008 29.7 11.1 63.3 18.8
2009 36.2 12.8 76.0 27.5

Depreende-se, pois que, a bancarização da economia, não só tem permitido o alargamento da


disponibilidade dos serviços financeiros na economia nacional, como também tem concorrido para o
aumento da intermediação financeira, bem como, o aprofundamento do sector, factores importantes
para a sua maior contribuição para o desenvolvimento da economia e do próprio sector.

4. DESEMPENHO DO SISTEMA BANCÁRIO

4.1. Estrutura Patrimonial

Evolução e Estrutura do Activo1

A actividade bancária avaliada pelo activo total em base consolidada evidenciou um crescimento
assinalável de 36,1% face à Dezembro de 2008 (Gráfico 1), incremento justificado pelo aumento
significativo da carteira de crédito que reflecte o crescente dinamismo que se assiste no
mercado de crédito, principalmente para particulares, que nos últimos tempos tem registado
taxas de crescimento significativas quando comparadas com a parte destinada para outros
sectores de actividade, num contexto em que as condições de acesso ao mercado internacional
ainda estavam condicionadas pelos efeitos da crise financeira. Desde o início do ano, a
evolução do activo tem evidenciado uma trajectória crescente tendo atingido o pico em
Novembro de 2009, ao expandir em 38,4%, valor mais alto nos últimos cinco anos.

1
Diferentemente da análise efectuada na parte macroeconómica deste mesmo relatório, neste capítulo,
considera-se crédito total líquido ao total de empréstimos concedidos pelo sistema bancário a totalidade dos
seus clientes, incluindo as outras IC’s, entidades não residentes e ao Governo Central, deduzido o valor das
provisões constituidas para o respectivo crédito.
6
Gráfico 1: Evolução do activo

A carteira de crédito a clientes apresentou uma taxa de variação de 63,5%, a mais alta taxa de
variação desde 2004, situação acompanhada pelo aumento substancial da sua importância na
estrutura do activo, que passou de 40,8% em Dezembro de 2008, para 49,0% em Dezembro de
2009, totalizando 69.022 milhões de Meticais (Gráfico 2).

Apesar de registar uma evolução acentuada em termos absolutos, o peso do crédito em moeda
estrangeira na carteira total mantém-se relativamente estável, mercê do maior dinamismo que
se verifica no crédito em moeda nacional, que desde Abril de 2006 passou a representar mais
de 50% do total da carteira de crédito total ao sector privado, situação igualmente favorecida
pelos requisitos impostos pelo Aviso 5/GGBM/2005, de 20 de Maio nas operações de crédito em
ME. Ainda assim, a procura pelo crédito em ME, mostra-se ainda elevada, isso se consideradas
as taxas de crescimento desta componente, que desde Agosto de 2008 foi superior as do
crédito em MN, trajectória invertida apenas em Dezembro de 2009 (Gráfico 3).

Gráfico 2: Estrutura do activo

Dezembro 2008 Dezembro 2009

7
O valor dos activos financeiros2 aumentou 12,1%, totalizando 21.502 milhões de Meticais. O
maior aumento verificou-se nos activos financeiros detidos para negociação que cresceram
312,4%, seguido dos activos financeiros disponíveis para venda, 7,3%. Não obstante a evolução
favorável, a importância dos activos financeiros no activo total diminuiu de 18,5% em Dezembro
de 2008, para 15,3% em Dezembro de 2009 (Gráfico 2), uma queda resultante do aumento
expressivo da carteira de crédito. O investimento em títulos de dívida pública continua sendo a
aposta de alguns bancos principalmente os que encontram dificuldades de se afirmar no
mercado de crédito ou os que são aversos ao risco. Outro factor associado a apetência de
títulos por parte de alguns bancos é o facto de possuírem ponderação nula na computação do
rácio de solvabilidade e taxas de juro atractivas.

Considerando a decomposição dos activos financeiros por tipos, os activos financeiros


disponíveis para a venda continuaram a ser a maior componente desta carteira, apesar do
respectivo peso ter diminuido para 92,7% em Dezembro de 2008 (96,9% em Dezembro de
2008). Por sua vez, o peso dos activos financeiros detidos para negociação passou de 1,8%
para 6,6% no mesmo período.

Gráfico 3: Evolução do crédito em moeda estrangeira e nacional

As aplicações em instituições de crédito aumentaram 6,7%, face à Dezembro de 2008. Esta


evolução, não foi suficiente para aumentar sua contribuição no activo total e decorre

2
Os Bilhetes de Tesouro são o principal componente dos activos financeiros e dependendo da intenção da
gestão, podem ser classificados como activos financeiros disponíveis para venda ou de negociação ou detidos
até a maturidade.
8
principalmente do aumento das aplicações em instituições de crédito no estrangeiro, que
cresceram 14,6%, sendo que a maior parte encontram-se sob a forma de depósitos a prazo em
outras instituições de crédito no estrangeiro e ao longo de 2009 apresentaram uma trajectória
crescente, contrariando assim a tendência de 2008.

Passivo3

Os depósitos de clientes continuaram sendo o maior passivo no balanço das instituições de


crédito e ao mesmo tempo, principal fonte de financiamento da actividade bancária
apresentando uma taxa de crescimento de 35,3% em 2009, comparativamente ao saldo
apurado no fecho de 2008. Este aumento é resultado não só da expansão da rede de agências
que tem permitido as instituições alargarem sua base de clientes, mas também das campanhas
publicitárias de captação de poupanças que algumas instituições têm empreendido.

A estrutura dos depósitos não registou alterações significativas, mantendo assim a tendência
que se vem registando desde Dezembro de 2003 (Gráfico 4), onde os depósitos a ordem
continuam a ser a principal componente, tendo a sua evolução em 2009 sido determinante para
o crescimento registado nos depósitos totais (Gráfico 5 e Gráfico 6).

Gráfico 4: Estrutura do passivo exigível

Nota-se todavia, que em 2009, a desaceleração dos depósitos a prazo, resultou num
crescimento acentuado dos depósitos a ordem, o que permitiu consolidar o seu peso na
estrutura dos depósitos totais, que passou de 66,1% em Dezembro de 2008, para 68,3 % em
Dezembro de 2009 (Gráfico 5). Os depósitos com pré-aviso e outros depósitos continuaram com
um peso residual na estrutura dos depósitos (Gráfico 6).

3
São considerados por depósitos de clientes, neste capítulo, aos fundos aplicados no sistema
bancário pela totalidade dos seus clientes, incluindo outros bancos, Governo Central e agentes não
residentes.
9
Gráfico 5: Evolução dos depósitos a ordem e a prazo

Gráfico 6: Estrutura dos depósitos

Quanto aos depósitos de residentes, a estrutura revela que não houve alterações significativas.
Os depósitos de empresas privadas continuaram a representar maior componente na estrutura
dos depósitos e no período em análise totalizaram 44.213 milhões de Meticais, o que representa
45,3% dos depósitos de residentes (Gráfico 7). Apesar de terem aumentado em 33,4%, o peso
dos depósitos de particulares na estrutura dos depósitos de residentes manteve-se praticamente
inalterado (Gráfico 7).

10
Gráfico 7: Estrutura dos depósitos de residentes

Dezembro 2008 Dezembro 2009

Os recursos de outras instituições de crédito apresentaram um crescimento de 179,7 % face


Dezembro de 2008, passando a representar 6,8% do passivo exigível (Gráfico 4). Esta evolução
reflecte não só aumentos de recursos obtidos junto de instituições de créditos no país, mas
também, de instituições de crédito no estrangeiro. Estes últimos, resultam essencialmente de
variações nos depósitos a prazo de instituições de créditos do estrangeiro e dos empréstimos
contraídos juntos das mesmas.

A rubrica de capital e reservas totalizou 10.024 milhões de Meticais, o que corresponde a um


aumento de 35,9% em relação à Dezembro de 2008, a reflectir aumentos de capital e de outras
reservas resultantes de resultados não distribuídos.

4.2. Solvabilidade

De acordo com actual quadro regulamentar, as instituições de crédito devem manter a todo
momento, um rácio de solvabilidade não inferior a 8%, nível considerado adequado e importante
para a estabilidade do sistema bancário, pois permite que as instituições absorvam quaisquer
perdas que possam resultar de choques adversos sobre seu balanço, continuando a
desempenhar o papel da intermediação financeira.

Em 2009, o rácio de solvabilidade do sistema bancário situou-se em 15,1% após 13,9% em


Dezembro de 2008 (Gráfico 8). Esta subida deveu-se ao aumento dos fundos próprios totais
(39,2%) numa proporção maior que a dos activos ponderados (27,9%). Considerando apenas os
fundos próprios de base – Tier I – o rácio de solvabilidade registou uma melhoria de 0,6 pp.
Entretanto, as duas grandezas apresentam trajectórias relativamente similares, o que evidencia

11
uma forte dependência do rácio de solvabilidade as variações nos fundos próprios de base
(Gráfico 8).

Gráfico 8: Rácio de Solvabilidade

Á semelhança de anos anteriores, em 2009, o crescimento registado nos fundos próprios totais
beneficiou do aumento dos fundos próprios de base em 34,3% (2.377 milhões de Meticais) e
dos fundos próprios complementares em 81,5% (772.130 milhões de Meticais). Por sua vez, o
aumento dos fundos próprios de base relacionou-se com aumentos de capital concretizados por
algumas instituições de crédito, sobretudo no segundo trimestre do ano, num montante de
781.637 milhões de Meticais (+22,3% que Dezembro de 2008) e do aumento de reservas
provenientes da não distribuição de resultados em 1.478 milhões de Meticais (mais 38,1% que o
registado em Dezembro de 2008). O aumento dos fundos próprios complementares esteve
relacionado com o acréscimo do valor de empréstimos subordinados decorrentes não só da
contracção de novos empréstimos mas também, de variações cambiais. Contribuiram
negativamente para a variação dos fundos próprios, o incremento dos resultados negativos e de
imobilizado recebido em reembolso de crédito próprio.

Analisado a distribuição do rácio de solvabilidade pelas instituições de crédito, observa-se que


um conjunto significativo de instituições apresentou rácio entre 8 à 15% e apenas duas
instituições posicionaram-se abaixo do mínimo regulamentar (Gráfico 9), e fazem parte deste
grupo, instituições que se enquadram na categoria de cooperativas que durante 2009 estiveram
sob acompanhamento rigoroso e foram objecto de algumas medidas de saneamento com vista a
melhorar a situação de solvência.

12
Gráfico 9: Distribuição das instituições de crédito quanto ao rácio de solvabilidade

Outro rácio complementar ao rácio de solvabilidade e que tem merecido atenção nos últimos
tempos é o rácio de alavancagem (leverage ratio). Este rácio estabelece a relação entre os
fundos próprios de base e activos totais4 e fornece uma indicação da dimensão do
financiamento dos activos pelos capitais próprios. Tal protagonismo decorre do facto de se ter
constatado que um dos elementos principais que contribui para o escalar da crise financeira
mundial foi o facto de muitos bancos possuírem uma alavancagem excessiva.

Gráfico 10: Rácio de alavancagem (Leverage ratio)

4
Numa perspectiva mais rigorosa, aos activos deverão ser deduzidos os montantes referentes aos intangíveis
para que sejam comparáveis aos fundos próprios de base, que desde a introdução das Normas Internacionais
de Relato Financeiro, passaram a ser incluídos como elementos negativos na computação dos fundos próprios
de base.
13
O gráfico 10 revela que em 2009 o rácio de alavancagem flutuou entre 6,4% e 8,3 %, tendo-se
fixado em Dezembro de 2009 em 6,6% contra 6,8% registados em Dezembro de 2008. Estas
cifras situaram-se em níveis superiores aos mínimos estabelecidos por algumas entidades
supervisoras como por exemplo, a Swiss Financial Market Supervisory Authority (FINMA) que
definiu o mínimo de 3,0%5.

Em geral, os elevados níveis de capitalização evidenciados pelo rácio de solvabilidade e por


outros indicadores de adequação de capital, revelam que o sistema bancário continuou sólido e
estável e que as perturbações que ocorreram no mercado financeiro internacional, não
exerceram pressão palpável sobre os fundos próprios das instituições de crédito que operam no
país, situação justificada pelo facto destas não se encontrarem expostas aos activos que
desencadearam a crise financeira. Adicionalmente, a predominância de instituições com rácio de
solvabilidade acima de 8%, incluído os grandes bancos, confere ao sistema bancário, maior
capacidade para acomodar perdas de magnitude significativa sobre o balanço e conta de
resultados, assegurando a sua função de intermediação financeira.

4.3. Rendibilidade

Os resultados do sistema bancário em base consolidado registaram um aumento de 14,7%


contrariando assim a tendência que se vem registando em vários países, em que devido a
recessão económica os bancos no seu conjunto registaram diminuição dos lucros. Este
crescimento reflecte o ambiente macroeconómico favorável a nível doméstico e a importância
que este desempenha para actividade bancária.

Gráfico 11: Variação homóloga dos resultados e da margem financeira.

5
Este valor mínimo ainda não é extensivo a todos os bancos a operarem na Suiça. Actualmente não existe um
benchmark definido para este indicador e diferenças nos princípios contabilísticos e na fórmula de cálculo
podem de alguma forma dificultar a comparação entre países.
14
Especificamente, o crescimento dos resultados do exercício teve subjacente a evolução
favorável dos lucros em operações financeiras que cresceram 61,2%, da margem financeira em
20,9% e do crescimento dos custos operacionais em 27,0%. Uma análise da evolução homóloga
dos resultados, revela que nos últimos três anos, estes incrementaram a taxas bastante
inferiores às registadas em 2005 e 2006 (Gráfico 11), um abrandamento associado, em parte, à
desaceleração do ritmo de crescimento da margem financeira, resultante entre outros factores,
do estreitamento do spread entre as taxas de juro de crédito e de depósitos, não
suficientemente compensado pelo aumento do volume de fundos transacionados

A estrutura dos juros e proveitos equiparados, revela que os activos de maior risco na estrutura
do balanço apresentaram maior contributo na estrutura de juros. O crédito a clientes é o activo
produtivo que apresenta maior contributo na estrutura dos juros e proveitos equiparados, pese
embora, este contributo não tenha aumentado em relação a 2008 (Gráfico 12). Os aumentos
dos juros de activos financeiros em 34,8% e dos investimentos em 70,1%, traduziram-se no
acréscimo do respectivo peso na estrutura dos juros e proveitos equiparados, passando a
representar 20,2% e 1,4%, respectivamente. O remanescente dos juros e proveitos equiparados
resultou de vários outros activos com menor representatividade no balanço, destacando-se a
diminuição do peso de juros provenientes de aplicações em outras instituições de crédito
(Gráfico 12)

Gráfico 12: Estrutura dos juros e proveitos equiparados

Dezembro 2008 Dezembro 2009

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Gráfico 13: Composição da conta de resultados

Proveitos

Custos

As comissões líquidas cresceram 14,0% face aos 2.162 milhões de Meticais registados em
Dezembro de 2008 (Gráfico 13). Esta evolução não se traduziu no aumento de sua contribuição
na formação do produto bancário e resultou essencialmente de comissões por prestação de
serviços bancários como depósito e guarda de valores, transferência de valores, gestão de
cartões e anuidades.

Os resultados em operações financeiras aumentaram 61,2%, contribuindo com 43,6% para o


aumento do produto bancário. A depreciação do Metical face às principais moedas foi
determinante para este aumento, dado que permitiu que algumas instituições realizassem
ganhos substanciais decorrentes da reavaliação da posição cambial. Deste modo, o contributo
dos resultados em operações financeiras no produto bancário, aumentou de 19,7% em
Dezembro de 2008, para 24,8% em Dezembro de 2009 (Gráfico 13). Há no entanto, instituições
cujo contributo dos lucros em operações financeiras no produto bancário excedem 50%.

Em relação aos indicadores de rendibilidade, registou-se uma diminuição, mantendo assim, a


tendência descendente iniciada em finais do primeiro trimestre de 2007 (Gráfico 14). A
rendibilidade dos capitais próprios (ROE) diminuiu de 44,7% em Dezembro de 2008, para 36,7%
em Dezembro de 2009. No mesmo período, a rendibilidade do activo médio (ROA) diminui de
3,5% para 3,0% (Gráfico 14). Esta tendência de queda deveu-se, entre outros factores, a
desaceleração do crescimento da margem financeira, aumento do volume de crédito vencido,
acumulação de prejuízos por parte de algumas instituições e crescimento acelerado dos custos
operacionais resultantes da estratégia de expansão de vários bancos, caracterizado pela
abertura de novas agências bancárias, facto que se tem traduzido no aumento de custos de
investimento e empregados no sector.

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Gráfico 14: Rendibilidade

Em 2009, os custos operacionais totalizaram 7.725 milhões de Meticais, o que corresponde a


um aumento de 27,0%, contra um crescimento de 22,7% registado em 2008. Concorreu para o
incremento desta categoria de custos, a evolução das despesas com o pessoal (principal
componente dos custos operacionais) em 29,3% resultantes dos aumentos registados na
remuneração mensal de empregados, subsídios, encargos com fundos de pensões e
transferência de pessoal. Com este acréscimo, o peso dos custos com o pessoal nos custos
operacionais incrementou ligeiramente de 45.1% para cerca de 46% (Gráfico 15)

Gráfico 15: Estrutura dos custos operacionais

Dezembro 2008 Dezembro 2009

Os gastos gerais administrativos cresceram 25,9%, passando a representar 44,9% (42,5 % em


Dezembro de 2008) do total dos custos operacionais totais. Este crescimento deveu-se

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essencialmente, a evolução das despesas com serviços de terceiros, nomeadamente, serviços
especializados, conservação e reparação, publicidade e edição de publicações.

Em 2009, a trajectória do rácio custos operacionais-produto bancário (cost-to income) manteve-


se relativamente estável, pese embora, registasse pequenas flutuações no primeiro trimestre,
tendo-se no final de 2009, fixado em 58,4% (58,8% em Dezembro de 2008) (Gráfico 16). A
distribuição do rácio cost to income pelas instituições de crédito, revela que algumas instituições,
apresentam cifras inferiores a média do sistema bancário e outras, principalmente as que fazem
parte do grupo das cooperativas de crédito e os bancos que operam no segmento de micro
finanças, apresentam um rácio superior.

Gráfico 16: Rácio de eficiência (cost-to-income ratio)

Caixa 6: Perspectivas e Desafios do Banco de Moçambique na Area de Supervisão Bancária

Os desafios que se colocam à supervisão prudencial enquadram-se no contexto geral de manter o sistema
financeiro moçambicano competitivo, saudável e sólido. Estão previstas um conjunto de acções com enfoque
nos seguintes domínios:

 Melhoramento da base de dados da Central de Registo de Crédito (CRC) quer em termos de qualidade de
informação como de volume, âmbito, tempestividade e acessibilidade;
 Prosseguir o processo de transição para a supervisão baseada no risco;
 Consolidação dos core principles para uma supervisão eficaz;
 Prosseguir o reforço e capacitação de pessoal técnico para responder aos novos e complexos desafios
impostos pela modernização e alargamento do sistema financeiro;
 Melhorar o quadro regulamentar com vista a acomodar os novos desenvolvimentos em matéria de
supervisão bancária;
 Consolidar as práticas de corporate governance no intuito de aplicar, efectiva e permanentemente, as
regras de uma gestão profissionalizada das instituições de crédito e sociedades financeiras;
 Continuar a monitorar os desenvolvimentos e as actividades do sector financeiro. Maior atenção será dada
à avaliação das condições de liquidez e a qualidade de activos; e,
 Adoptar um plano de contingência para o sector financeiro para que esteja permanentemente alerta aos
riscos de crise.

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