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A História de

Yogananda
Cronologia
Artigos
Curiosidades

1
Índice

Introdução ............................................................................................................................03
Cronologia da Vida de Yogananda ......................................................................................04
A História de Mount Washington.........................................................................................13
A História das SRF Magazines.............................................................................................21
A História da Kriya Yoga.....................................................................................................34
Uma Breve História de Hong-Sau, Exercícios de Energização e Técnica de OM ...............41
Questionamento sobre Autoridade em Kriya Yoga..............................................................45
Swamis Chefes de Família: o Gesto Histórico de Babaji ....................................................49
Histórias que não se Devem Esquecer..................................................................................50
Algumas Considerações Históricas - Autobiografia de um Iogue........................................55
Histórias de Santidade: o Falecimento de Quatro Grandes Discípulos.................................59
Livros e Lições Escritas de Yogananda................................................................................68
Um Personagem Histórico, mas Desconhecido: Swami Dhirananda...................................72
O Histórico Torso Descoberto de Lahiri Mahasaya..............................................................77
Uma Questão Histórica: A SRF Mantendo Colônias?..........................................................79
História? Os 13 Idiomas de Yogananda................................................................................81
Uma Reunião Histórica.......................................................................................................107

2
Introdução
Este livro é fruto de uma vida inteira de dedicação de um discípulo de Yogananda. É
oferecido com amor por um devoto a outros devotos: a todos que possam estar interessados
em saber informações precisas acerca da vida de Yogananda, e sobre a história de sua obra.
É um trabalho que poderia ser descrito como heterodoxo, pois não está vinculado a
qualquer linha partidária.

Cada tópico foi minuciosamente pesquisado. Por certo haverão alguns erros e mal
entendidos, pois a perfeição não existe neste mundo, e certamente não foi atingida pelo
autor. Os textos não foram escritos segundo metodologias científicas, mas sim visando a
uma leitura agradável.

Se você por acaso se der conta de que está discordando de alguma afirmação no livro, por
favor, considere uma oportunidade para fortalecer o seu “músculo da harmonia”. A
intenção do livro é simplesmente descrever a história de Yogananda com a maior fidelidade
possível. Não tem a pretensão de estar sempre certo, e representa a compreensão de apenas
um indivíduo.

Todas as citações e fotos são de domínio público.

Possamos todos nós aumentar nosso entendimento da missão de um Premavatar, sua


bênção e seu amor. Certa vez, um discípulo que atravessava uma fase excepcionalmente
difícil pediu a Yogananda: “Por favor, dê-me uma bênção”. O Mestre, encarando o devoto
com seus olhos grandes e luminosos, respondeu com extrema gentileza: “Eu o estou
abençoando o tempo inteiro. Tanto que nem sou capaz de dizer – muito mesmo – é melhor
nem perguntar. Apenas receba”.

Jai Guru!

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Capítulo 1
Cronologia da Vida de Yogananda
Infância

1893-1902
Nasce e mora em Gorakhpur (até os 8 anos). Nesta cidade o pequeno Mukunda recebe uma
carta mística de Deus.

1902
Visita Ichapur (“com a idade de 8 anos”). Um evento importante, pois aqui recebe uma
visão de Deus como Luz, conforme descreveu na Autobiografia de um Iogue.

1902-1904
Mora em Lahore (dos 8 aos 11). A Mãe Divina amorosamente responde às preces de
Mukunda, levando até ele duas pipas. (ver Autobiografia de um Iogue).

1904-1906
Mora em Bareilly (dos 11 aos 12). Aqui Yogananda perde sua mãe, que morreu em
Calcutá, durante os preparativos para o casamento de seu filho mais velho, Ananta (ver
Autobiografia de um Iogue).

Maio 1906- Julho 1906


Mora em Chittagong (idade 12)

Após 1906
Mora em Calcutá (a partir dos 12 anos)

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Juventude na Índia

1908
Com a idade de 15, Mukunda funda seu primeiro ashram: o Sadhana Mandir em Calcutá.
Seu passatempo favorito é conhecer santos: Swami Pranabananda (de 2 corpos), o bem-
aventurado Mestre Mahasaya, o impressionante Swami Tigre, o levitador Bhaduri
Mahasaya, o cientista J. Chandra Bose, e outros.

1909
Transfere o ashram para um anexo da casa de Tulsi Bose. Ele inclui a “Biblioteca
Saraswati”. (Em 1910 foi instalada em outro lugar).

1910
Mukunda encontra seu guru, Swami Sri Yukteswar. Inicia a faculdade em Calcutá, pelo
menos oficialmente – ele quase nunca está na sala.

1913
Os ”estudos” continuam em Serampore. Ele se encontra com Rabrindranath Tagore, “logo
após ter recebido o Prêmio Nobel”.

1915
Mukunda cola grau universitário.
Em Julho seu guru o inicia na ancestral Ordem dos Swamis, conferindo-lhe o nome
espiritual de Swami Yogananda Giri.

1916
Yogananda retoma as atividades do ashram na casa de Tulsi. É aqui que aceita os primeiros
alunos para formação escolar. Yogananda descobre os princípios dos exercícios Yogoda,
que mais tarde se tornam seus exercícios de energização. Entre Agosto e Novembro visita o
Japão.

1917
Yogananda funda a Yogoda Satsanga Society.
Ele também dá início a uma escola em Dihika (Bengala).

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1918
A escola é transferida para Ranchi (Bihar).

1920
Ainda na Índia, Yogananda publica seu primeiro livro: “Dharmavijnana” (Sabedoria do
Dharma)- mais tarde chamado Science of Religion (A Ciência da Religião).
Dois anos após a fundação da escola de Ranchi, ele se encontra novamente com o poeta
laureado com o Nobel, Rabrindranath Tagore, e ambos debatem métodos de ensino.
Em Ranchi, recebe um convite da América para participar de um “Congresso de Religiosos
Liberais”.
Em Calcutá, no dia 25 de Julho, o supremo Guru Mahavatar Babaji o abençoa para sua
missão no Ocidente.

Na América

1920
No dia 19 de Setembro, Yogananda desembarca em Boston.
Dr. Lewis se torna o primeiro discípulo americano de Yogananda.
Por três anos, de 1920 a 1923, Swami Yogananda reside e ensina em Boston.

1922
Em Junho, estabelece seu primeiro centro americano de ensino em N.Waltham, MA.

1923
Yogananda publica seu livro de poesia, Songs of the Soul.
Também publica suas primeiras lições escritas: YOGODA INTRODUCTION
Yogananda inicia sua viagem transcontinental de palestras. Ele fala nas maiores cidades, no
principais anfiteatros da América. Milhares o ouvem.
Ele deu palestras em Worcester, MA (5 de Novembro) e em Nova Iorque (a partir de 24 de
Novembro, durante 4 meses)

1924
Yogananda publica seu livro A Ciência da Religião, e também suas Afirmações Científicas
de Cura.

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1º de Maio: Inicia um mês inteiro de aulas na Filadélfia. Nesta cidade o conhecido maestro
Leopold Stokowski se torna seu aluno.
11 de Agosto: Yogananda começa uma série de aulas em Denver.
O famoso horticulturista Luther Burbank torna-se aluno de Yogananda.
Ele conhece Tara Mata, sua editora chefe.
Em Setembro, Yogananda visita o Alasca, viajando em um navio a vapor.

1925
Yogananda publica seu CURSO YOGODA.
Em Julho, se encontra com sua mais avançada discípula mulher, Irmã Gyanamata.
25 de Outubro: Yogananda estabelece sua sede central em Mount Washington, Los
Angeles.
Lá, em Mount Washington, ele tenta estabelecer uma escola “da arte de viver”.
Neste ano, Yogananda começa a publicar sua revista. Ela teve diversos nomes: East-West
(1925 a 1936 e de 1945 a 1947); Inner Culture (1937 a 1944); Self Realization Magazine
(1948 a 1969); Self-Realization (1970 até os dias de hoje). A revista apresenta, entre outros
artigos, seus comentários sobre a Segunda Vinda de Cristo (a partir de 1932), sobre o
Bhagavad Gita (a partir de 1932), e sobre o Rubaiyat de Omar Khayyam (a partir de 1937).
Ele conhece Kamala Silva.

1925-33
Yogananda prossegue com suas palestras para milhares, por toda a América.
Sua fama aumenta.
George Eastman, inventor da câmera Kodak, se torna amigo e estudante de Yogananda.

1926
Yogananda publica seu CURSO AVANÇADO EM METAFÍSICA PRÁTICA.
Clara Clemens Gabrilowitsch, a filha de Mark Twain, torna-se discípula de Yogananda.

1927
Em 24 de Janeiro, o Presidente Coolidge recebe Yogananda na Casa Branca.

1929
Yogananda conhece a famosa cantora de ópera, Amelita Galli Curci, que se torna sua
discípula.
Durga Ma torna-se sua discípula.
Ele publica o livro Whispers from Eternity.
Dhirananda o trai, enfrentando-o até mesmo em um processo judicial.
Yogananda decide visitar o México, onde ministra palestras e conhece o presidente
mexicano, Portes Gil.

1930
Yogananda publica seu CURSO SUPER AVANÇADO.

7
1931
Daya Mata se torna discípula de Yogananda. Com a chegada dela, tem início a ordem
monástica de Yogananda.
Yogananda também se encontra com Yogacharya Oliver Black.

1932
Em 10 de Janeiro, Yogananda conhece Rajarsi Janakananda, seu mais avançado discípulo e
sucessor. Yogananda publica suas Meditações Metafísicas. Ele organiza uma “Escola de
Verão” em Mount Washington. Em maio, a revista East/West publica nomes de estudantes
famosos de Yogananda: Amelita Galli-Curci; Luther Burbank; Luigi von Kunits, Maestro
da New Symphony Orchestra de Toronto, Canadá; Huston Ray, brilhante pianista;
Condessa Ilya Tolstoy; Homer Samuels, distinto pianista; Vladimir Rosing, eminente tenor
e diretor da American Opera Co.; Clara Clemens Gabrilowitsch; Maria Carreras, famosa
pianista; George Liebling, compositor e pianista; R. J. Cromie, proprietário e editor do
jornal "Vancouver Sun"; Louis van Norman, Adido Comercial do Departamento
Americano do Comércio; Douglas Grant Diff Ainslie, poeta e autor Inglês; Alfred Himan,
editor da revista "Singing"; Rev. Dr. Arthur Porter, pastor da Salem Congregational Church
em York, na Inglaterra.

1932-35
1932 Ananda Mata adentra na vida monástica.
A partir de 1934, Yogananda interrompe suas “campanhas” na América, e permanece na
maior parte do tempo em Mount Washington. São tempos difíceis, em que o principal
alimento eram tomates caseiros.
Em 1934 Yogananda publica seu SUPER AVANÇADO CURSO DE CIÊNCIA
CÓSMICA.
Até 1934, ele havia utilizado o nome indiano Yogoda Satsanga para sua organização,
mesmo na América. A partir desse ano ele passa a chamá-la de Self-Realization Fellowship.
Em 1935 Yogananda registra a Self-Realization Fellowship como uma igreja oficial.

Europa, Oriente Médio, Norte da África

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1935
Em 9 de Junho, Yogananda embarca nos Estados Unidos com destino à Índia. No trajeto,
desembarca na Europa, viajando de carro pela Inglaterra (palestras em Londres, visita a
Stonehenge), Escócia, França, Bélgica, Holanda, Alemanha (visita a estigmatizada bávara
Teresa Neumann), Suíça, Itália (Veneza, peregrinação a São Francisco de Assis, palestras
em Roma), Grécia (visita aos templos de Atenas), Israel (peregrinação aos locais sagrados
de Jesus) e Egito (visita às pirâmides).

Na Índia

Em 22 de Agosto de 1935, Yogananda desembarca do navio em Bombaim. Sua primeira


parada, ainda em agosto, é em Wardha, onde visita o grande santo político Mahatma
Gandhi. Após, Yogananda viaja a Calcutá, revendo amigos e familiares.
Em Serampore, reencontra seu guru Sri Yukteswar, depois de 15 anos.
Sua próxima visita é a sua escola em Ranchi. No meses de outubro e novembro de 1935, no
Sul da Índia, vai a Mysore (onde se encontra com Sir C. V. Raman, o indiano Prêmio Nobel
de Física). Ele dá muitas palestras.
Em dezembro, Yogananda se encontra com a grande santa, Anandamoyi Ma em Calcutá, e
mais tarde também em sua escola de Ranchi.
Ainda em dezembro, um dia após o Festival do Solstício de Inverno de Sri Yukteswar,
Yogananda recebe de seu guru o elevado título espiritual de “Paramhansa”.

1936
Em janeiro, Yogananda visita a Kumbha Mela em Allahabad. Depois segue viagem para
Agra (Taj Mahal), Brindaban (Swami Keshabananda, templos antigos), Delhi, Meerut (a
antiga casa de seu irmão Ananta), Bareilly (visita a um amigo de infância), Gorakhpur
(cidade natal), e Benares (templo Vishvanath, casa de Lahiri Mahasaya). No início de
março, de volta em Calcutá, um telegrama o convoca a Puri: Sri Yukteswar entrou em
Mahasamadhi no dia 9 de março. Em Junho, no retorno a Bombaim, Yogananda
testemunha a ressurreição de Sri Yukteswar.

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Retorno aos Estados Unidos

1936
Em setembro de 1936, Yogananda retorna à Inglaterra, onde permanece algumas semanas e
ministra mais palestras. No final de outubro, chega em Nova Iorque. Quase no fim do ano,
está de volta em Mount Washington.

1936
Tendo retornado da Índia, Yogananda recebe o belo eremitério de Encinitas, como um
presente de seu mais avançado discípulo, Rajarsi Janakananda. Um período de produção
literária começa para Yogananda.

1938
Yogananda publica seus Cantos Cósmicos. Ele também publica suas LIÇÕES
PRAECEPTA.
O Golden Lotus Temple of All Religions é construído em Encinitas: o primeiro templo a
levar o nome “de Todas as Religiões”. O templo desmorona no oceano em 1942.
Yogananda inaugura a Self-Realization Church of All Religions em Washington, DC.

1939
A sede central da YSS é estabelecida em Dakshineswar, Índia.
Brother Bhaktananda se torna discípulo de Yogananda.

1941
Yogananda funda uma Universidade de Ioga em Mount Washington, que mais tarde foi
desconstituída devido à falta de interesse do público.

1942
Ele inaugura a Self-Realization Church of All Religions em Hollywood.
Yogananda inicia uma “Colônia de Fraternidade Mundial” em Encinitas, convidando
famílias a viver lá. O projeto foi descontinuado em virtude da falta de interesse do público.

1943
Yogananda inaugura a Self-Realization Church of All Religions em San Diego.

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1944
Publica o livro Atributos do Sucesso, atualmente chamado A Lei do Sucesso.

1945
Mrinalini Mata se torna sua discípula.

1946
Yogananda publica seu principal e mais famoso livro, a Autobiografia de um Iogue.
Uma Mata, Brother Bimalananda e Mukti Mata se tornam seus discípulos.

1947
Ele inaugura a Self-Realization Church of All Religions em Long Beach.

1948
Yogananda inaugura a Self-Realization Church of All Religions em Phoenix.
Yogananda experimenta um grande samadhi. "Eu sempre estarei naquele estado agora, mas
ninguém saberá”. Swami Kriyananda se torna seu discípulo.

1949
A propriedade do Lake Shrine é doada a Yogananda, sendo inaugurada como um santuário
em agosto de 1950.
Yogananda publica o livro de seu guru, A Ciência Sagrada.
Em 1º de Novembro, saúda o Primeiro Ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, em São
Francisco.
Brother Anandamoy se junta ao monastério da SRF (ele conheceu Yogananda em 1948)
Peggy Deitz, uma ex-motorista de Yogananda, se torna discípula.

1950-52
Yogananda passa a maior parte do tempo recluso em seu retiro no deserto de Twenty-Nine
Palms, a fim de completar seus escritos, especialmente seus comentários ao Bhagavad Gita.

1950
Roy Eugene Davis torna-se discípulo de Yogananda.

1951
Ele inaugura o India Center em Hollywood.

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1952- Mahasamadhi

Em 7 de Março de 1952, no Hotel Biltmore em Los Angeles, durante uma homenagem ao


Sr. Sen, embaixador indiano nos EUA, Yogananda abandona conscientemente o corpo. Ele
já sabia de antemão o dia, causa e circunstância de seu falecimento. Seu caso é único na
história americana: por três semanas, até o momento em que o caixão foi lacrado, o corpo
de Yogananda não demonstrou nenhum dos sinais típicos de decomposição física, nenhum
odor ou desintegração. O mundo ocidental ficou maravilhado ao testemunhar um
“fenomenal estado de incorruptibilidade”, o qual foi descrito na revista TIME.

12
Capítulo 2
A História de Mount Washington

A Roma Antiga, na época em que Cristo nasceu, já contava com um milhão de


habitantes. Compare isso com Los Angeles: em 1860, a cidade era o lar de um punhado de
4.500 almas – não muito mais do que um vilarejo. 13 anos antes do nascimento de
Yogananda, em 1880, Los Angeles ("a Benares da América") era ainda uma cidade
relativamente pequena com cerca de 12 mil habitantes. A América, no entanto, crescia
dinamicamente. Era uma cultura jovem, cheia de vigor. Yogananda amava seu espírito de
pioneirismo: “Eventualmente? Eventualmente? Por que não agora!” Com esse espírito
expansivo, ele sabia que sua mensagem poderia se desenvolver. Quando Yogananda era um
menino de 7 anos, em 1900, a população de Los Angeles já havia crescido para 100.000.
Ainda não assim tão grande, alguém poderia observar.
Sim: é por isso que naquela época Mount Washington nada mais era que uma
montanha virgem, habitada somente por esquilos, codornas, coelhos, alguns alpinistas e
fazedores de piqueniques. Estes últimos vinham para desfrutar da fantástica vista, um
aspecto da montanha que era bem conhecido. Foi essa mesma vista que motivou alguns
corretores imobiliários a construir um hotel de luxo no cume de Mount Washington, a 300
metros de altura. O problema é que não havia estrada, nenhuma trilha para chegar até lá. E
a colina era um tanto íngreme. Então, primeiro foi necessário instalar um bonde, que foi
inaugurado em 1909. Na mesma época uma estrada foi aberta na montanha, que levava até
o cume. É claro que naquela época os carros eram relativamente raros, e não eram
fabricados para subir montanhas.

A construção do Hotel Mount Washington propriamente dito finalizou em janeiro de


1910, no mesmo ano em que Yogananda encontrou seu guru, Sri Yukteswar. Nesse tempo a
população de LA já havia aumentado para orgulhosos 320 mil. Quando em 1925
Yogananda se tornou o proprietário do espaçoso Hotel Mount Washington, ele próprio era
um ainda algo jovem homem de 32 anos. O hotel, todavia, era muito mais jovem, apenas 15
anos. Mesmo assim, em seus primeiros anos de existência, já havia testemunhado muitas
aventuras, mudanças e definitivamente muitas surpresas, como iremos ver.

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Finalizando o panorama populacional: naquele ano de 1925, quando Yogananda
estabeleceu sua sede central no topo de Mount Washington, a população de Los Angeles já
havia crescido para cerca de um milhão de habitantes. Quando Yogananda faleceu, em
1952, o número havia aumentado para cerca de dois milhões, ou seja, dois milhões a mais
do que meros 100 anos antes.
O "Hotel Mount Washington" foi planejado para ser um resort no alto da montanha,
com 14 acres de belo cenário. A elegante estrutura de 3 andares foi construída por "Meyer
& Holler," a mesma companhia que em 1927 também edificou o famoso Teatro Chinês do
Sr. Gruaman em LA. Curiosamente, o Hotel Mount Washington também tinha um certo
toque oriental, antes mesmo de Yogananda tê-lo adquirido: possuía um belo jardim japonês
na entrada, e também no telhado. Na planta original, este jardim japonês deveria incluir
uma torre de observação (Yogananda, como irão ver, mais tarde também nutriu esse mesmo
plano), que ofereceria uma espetacular vista das belas montanhas, do vale e do mar. O
Hotel Mount Washington, incidentalmente, foi construído no chamado “estilo missionário”.
Sua missão, contudo, foi muito diferente daquilo que o mundo ocidental havia visto até
então: Auto-Realização, a descoberta da divindade interior do homem. O Sr. Grauman e
Yogananda, pode-se acrescentar, não estavam apenas ligados através de suas belas e
distintas edificações. Eles chegaram a se conhecer. Yogananda convidou o Sr. Grauman a
Mt. Washington em 1932 como convidado de honra para uma celebração a atletas indianos.
Yogananda, por sua vez, deu palestras no Teatro Chinês. O Hotel Mount Washington tinha
18 quartos. É engraçado que atualmente ainda se pode ver a numeração original nas portas.
Cada quarto possuía um banheiro individual, o que era algo extraordinário para a época, o
que viria a ser uma ótima característica para as futuras monjas que posteriormente
ocupariam esses aposentos. Os monges residiam no subsolo, onde se situavam os aposentos
dos antigos empregados do hotel, que compartilhavam um banheiro em comum. Abaixo
segue uma foto do impressionante Hotel Mount Washington nos primeiros anos:

O tênis era um esporte extremamente popular na virada do século. Desse modo, duas
quadras de tênis logo agraciavam a propriedade. Alguns torneios com jogadores famosos
foram realizados naquele local. Mais tarde, Yogananda costumava jogar lá também, e
muito bem, pois era extremamente veloz. O bonde levava as pessoas até o hotel. Também
era possível chegar até lá de carro, mas nem todos os modelos conseguiam subir a ladeira

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sem ferver o motor. A antiga casa de máquinas do bonde foi posteriormente convertida em
aposentos para os monges, e atualmente serve de instalação para o setor de informática da
SRF. O hotel, após sua abertura em 1910, logo se tornou um grande sucesso: virou um
ponto de encontro para os ricos. Mt. Washington tornou-se uma exclusiva e desejada
pousada residencial na colina. Oferecia uma excelente sala de jantar, com pratos elaborados
por chefs gourmets. Yogananda mais tarde se tornou um digno herdeiro daquela renomada
cozinha: ele mesmo era um cozinheiro de mão cheia, inventor de muitas receitas saborosas
e sempre descobrindo novas maneiras de cozinhar, fatiar e preparar os pratos. Tudo no
hotel era da mais alta qualidade: carpetes aveludados, camas de bronze, mobília de carvalho
e nogueira. Nos finais de semana, geralmente todos os quartos estavam ocupados.
Os negócios estavam indo tão bem que em setembro de 1911, o jornal LA Times
escreveu que o hotel planejava construir mais 100 quartos e 50 banheiros! Esse plano,
contudo, jamais foi levado adiante. Que pena.
Yogananda poderia ter feito bom uso de tantos quartos extras, especialmente os
monges. A reportagem também dizia que 3.500 passageiros foram levados de bonde até o
topo em uma única tarde de domingo (imaginem a multidão!). A estação do bonde no início
da Marmion Way estava tão sobrecarregada que foi necessário abrir uma outra ala para
aliviar a pressão. Parece que Mt. Washington havia verdadeiramente se tornado o “point”.
Os terrenos nos arredores também valorizaram muito, e vendiam cada vez mais. Belas e
dispendiosas casas começaram a surgir por toda a montanha, onde até poucos anos antes
não se via qualquer edificação.
Mas, principalmente, havia uma razão fascinante que tornava o Hotel Mt. Washington
tão atraente: os 18 quartos do hotel estavam sendo ocupados por celebridades, tais como...
vejam só... Charlie Chaplin, que sempre se hospedava no hotel quando atuava em algum
filme nos estúdios Sycamore Grove. Outros astros e estrelas do cinema e dos esportes
também se hospedavam lá. O local se tornou um ponto de encontro dos famosos. Não
surpreende que o público lotava os aposentos. Será que Yogananda sabia que sua amada
sede central já havia abrigado Charlie Chaplin, e todas aquelas celebridades? Bem, ele deve
ter sabido. E se importava? E as monjas, se divertiam pensando que algumas estrelas de
cinema haviam certa vez ocupado aqueles quartos?
No entanto, ai!, a glória inicial de Mount Washington foi logo exposta a um duro teste:
tempos difíceis começaram. As estrelas de cinema abandonaram o Sycamore Grove Park,
transferindo-se para Edendale, e então para Hollywood. Isso teve um efeito devastador
sobre o Hotel Mt. Washington. Depois que as celebridades se foram, cada vez menos
pessoas vinham fazer sua reserva em Mt. Washington.
Um outro problema é que os automóveis começavam a ser possíveis dentro do
orçamento de cada vez mais pessoas. Os proprietários de carros logo descobriram o prazer
de viajar a localidades mais distantes. O Hotel Mount Washington foi ficando cada vez
mais esquecido. Em janeiro de 1919 o bonde em Mount Washington foi cancelado. Os
habitantes locais, com muito esforço, tentaram mantê-lo em funcionamento. Tudo em vão.
Agora o cume de Mount Washington não contava mais com nenhum meio de transporte
público. A vida monástica em Mt. Washington, assim, começou um tanto
involuntariamente: sem o serviço de bonde, todo o alto da montanha ficou totalmente
isolado do mundo exterior. Ainda se podia chegar até lá de automóveis, mas a subida
íngreme apresentava um desafio e tanto àqueles primeiros veículos. Sem um carro, o cume
de Mount Washington só poderia ser atingido depois de uma cansativa caminhada.
Incidentalmente, os trilhos do bonde, que levavam até o hotel, só foram retirados em 1930.

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Dessa forma, Yogananda e seus primeiros discípulos desfrutaram durante 5 anos aquele
"souvenir" dos antigos trilhos.
Muita propaganda tentou salvar o uma vez famoso Hotel Mt. Washington, mas,
novamente, não houve muito resultado. Ele sofreu um declínio constante, e finalmente
precisou fechar, em algum momento durante o verão de 1921. Naquele tempo, Yogananda
já havia desembarcado nas encostas da América, sabedor que um dia iria encontrar a
edificação de suas visões. Enquanto isso, em 1922, um Colégio Militar ocupou o hotel:
"Uma escola ideal para meninos e jovens situada em uma localização ideal. Do primário ao
colegial. Supervisão pessoal de professores do mais alto nível. Aulas particulares, se
necessário. Campus com 20 acres”. A escola não durou muito, mas Yogananda logo iria
retomar a idéia.
Em 1923 o hotel se tornou o Goodrich-Mount Washington Emphysema Hospital. Esse
hospital respiratório, contudo, fechou em finais de 1924 ou início de 1925. A arte da
respiração, todavia, não iria ficar perdida por lá: Yogananda tinha um bocado a dizer sobre
esse tópico específico.
Foi justo então, em janeiro de 1925, como se por uma sincronia divina, que Yogananda
chegou em Los Angeles. (Em 1924, Yogananda havia iniciado sua primeira campanha pelo
país inteiro, depois de ter permanecido em Boston durante seus primeiros três anos na
América). Em busca de um lugar para sua sede, ele finalmente encontrou e comprou o
Hotel Mt. Washington. Naqueles dias a propriedade estava infestada com andarilhos e
vagabundos, muitas janelas estavam quebradas. O lugar havia quase se tornado um deserto.
(A foto de capa deste livro foi tirada naquela época). Por outro lado, isso teve seu lado
bom: Yogananda adquiriu o hotel por um preço bem razoável, $45.000. Obviamente, houve
uma ajudinha pelas amorosas mãos da Mãe Divina! Esse foi um grande passo para a missão
de Yogananda. Ele correu para enviar fotos de sua nova sede central a seu guru, Sri
Yukteswar.

Em sua Autobiografia ele escreveu:


“Com a ajuda de estudantes de coração generoso, em fins de 1925 estabeleci a sede
central americana em Mount Washington, Los Angeles. A construção é a mesma que tinha
aparecido muitos anos antes na visão que tive em Caxemira. Apressei-me a enviar a Sri
Yukteswar fotografias dessas atividades em terras distantes. Ele respondeu com um cartão
postal em bengali, que transcrevo a seguir:

11 de agosto de 1926
Filho de meu coração, ó Yogananda!
Vendo as fotografias de sua escola e estudantes, não consigo expressar em palavras a
alegria que inunda a minha vida. Transbordo de alegria ao ver os estudantes de ioga de
diferentes cidades.
Lendo sobre seus métodos de afirmações repetidas, vibrações curativas e preces para
a cura divina, tenho que agradecer-lhe de todo o coração.
Vendo o portão de entrada, o caminho ascendente e sinuoso e a belíssima paisagem
que se estende aos pés de Mount Washington, anseio por contemplar tudo com meus
próprios olhos.
Tudo aqui vai bem. Pela graça de Deus, que você possa estar sempre na bem-
aventurança divina”

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Curiosamente, a sede central de Mount Washington e a revista de Yogananda, “East-
West”, nasceram juntas: são gêmeas, por assim dizer. Na primeira edição de East-West,
Nov/Dez de 1925, Yogananda anunciava a abertura oficial de sua sede central em 25 de
outubro de 1925. Na verdade, e talvez um tanto significativamente, ele havia batizado a
sede de “Centro Educacional Mount Washington"— Sede Central de Sat-Sanga e Yogoda.
O anúncio dizia assim: "…O principal objetivo e desejo no coração de Swami Yogananda é
tornar possível a ele estabelecer uma ESCOLA YOGODA DA ARTE DE VIVER em
Mount Washington para o treinamento de crianças segundo as linhas de YOGODA
(desenvolvimento harmonioso de todas as faculdades humanas) e SAT-SANGA
(Associação com a Verdade), visando aos melhores resultados físicos, mentais e,
especialmente, espirituais.
Além da ESCOLA YOGODA DA ARTE DE VIVER, Swami Yogananda também
planeja oferecer a estudantes adultos cursos em Psicologia, Filosofia e todos os ramos de
Realização Espiritual Científica, e ainda Cursos por Correspondência de todos esses
assuntos. O Centro planeja, eventualmente, erguer um Taj, ou Torre, uma ampla piscina,
uma biblioteca, uma gráfica e um museu contendo artigos raros e interessantes,
especialmente do Oriente. Pela graça do Grande Poder Divino, possa este Centro em Mount
Washington se tornar um magneto de atração e interesse mundial, e ser uma Meca para
todos que estiverem espiritualmente sedentos”.
O “principal objetivo e desejo” de Yogananda para Mount Washington, então, era criar
uma escola para crianças. Isso chega a surpreender? Provavelmente, porque hoje em dia
não se ouve mais falar disso tão facilmente: ouvimos que Yogananda veio para criar uma
ordem monástica. O texto primitivo acima, porém, parece indicar que Yogananda
contemplava sua missão no Ocidente em termos um tanto amplos, dos quais uma ordem
monástica seria apenas uma (se é que principal) parte. É divertido também saber dos planos
para uma ampla piscina. Esse plano foi realmente executado mais tarde: ele ordenou a
construção de uma em Encinitas (que ainda existe) e outra no retiro em 29 Palms.

Vamos divagar um pouco. Analisando-se as direções principais que a obra de


Yogananda seguiu ao longo de sua vida, podemos observar as seguintes fases:
1) Na Índia, ele iniciou a missão de seu coração ao construir uma escola, que oferecia
uma educação equilibrada para os jovens, com as práticas espirituais em primeiro lugar.
2) Na América, depois de ensinar em Boston por 3 anos, um “principal objetivo e
desejo” era o de estabelecer uma escola, em Mount Washington. Swami Dhirananda, um
velho amigo da Índia, foi chamado para tomar conta de Mount Washington sempre que
Yogananda estivesse viajando. Yogananda anunciou no primeiro número da revista East-
West.
“Dhirananda conduzirá uma Escola Dominical para meninos e meninas todos os
domingos pela manhã em Mount Washington, e cuidará dos trabalhos com o Curso Yogoda
por correspondência, além de lidar com os ulteriores desenvolvimentos da missão
espiritual”. Além da escola, uma outra meta de Yogananda era obviamente o treinamento
espiritual de adultos.
3) A partida de Dhirananda (uma grande alma, diga-se) foi um grande golpe para
Yogananda, e na verdade parece ter alterado a direção de sua obra: daquele ponto em
diante, não lemos mais tanto sobre escolas. Ao invés disso, a era monástica teve início. Os
pilares da ordem monástica de Yogananda chegaram: Durga Mata (1929), Daya Mata

17
(1931), e Gyanamata Mata (1932). “Yogoda Satsanga” tornou-se “Self-Realization
Fellowship” em 1934, e em 1935 foi registrada como igreja. Yogananda doou seu coração e
alma para aqueles que desejavam viver apenas para Deus.
4) Depois que retornou da Índia, Yogananda permanecia com frequência em Encinitas,
trabalhando em seus escritos. Uma nova e interessante direção se cristalizava: ele começou
a falar e escrever frequentemente sobre o seu ideal de uma “Cidade Dourada Mundial”, ou
“Colônias de Fraternidade Mundial”. Ele inaugurou uma dessas para famílias em Encinitas
(com discurso de abertura e tudo mais), e incluiu as colônias em seus “Objetivos e Ideais”.
Isso era, obviamente, não uma mudança de direcionamento em relação à vida monástica, a
qual ele procurava fortalecer de todas as maneiras possíveis. Era uma missão paralela. Ele
escreveu em 1946: “Amado Pai, abençoa-nos com poder físico pelo qual possamos
controlar construtivamente os átomos e suas forças subjacentes, abençoa-nos para que
possamos estabelecer o templo do controle atômico nas almas dos homens, e em Auto-
Realização, e em nossa Cidade Dourada Mundial”.
5) Após o falecimento de Yogananda, apenas a vida monástica permaneceu. De volta a
Mount Washington, sede central de Yogananda: em agosto de 1927, na East-West, os
primeiros frutos dos labores de Mount Washington foram jubilosamente divulgados. Atente
aos seguintes números – é muita gente. Se estiverem corretos, seriam um desafio e tanto
para igualar, mesmo hoje em dia. É claro que, atualmente, não existem mais classes
públicas e serviços sendo conduzidos em Mount Washington. A Sede Central, hoje em dia,
serve exclusivamente como centro administrativo da SRF.
- Frequência total em palestras, aulas semanais e classes especiais ministradas no
Mount Washington Education Center: 20.000. – Comparecimento total na Sunday School:
4,500. Crianças: 1.500; Adultos: 3.000
- Entrevistas pessoais com estudantes Yogoda e não estudantes, fornecendo-lhes
aconselhamento e orações em auxílio a problemas pessoais: 2.500 – Orações, ajuda e
instruções escritas abrangendo problemas físicos, domésticos, morais e espirituais
apresentados por estudantes e não estudantes (pelo correio): 4.000.
- Dúvidas recebidas e respondidas em relação ao Curso Yogoda por correspondência:
4.000
Ligações para enfermos nos hospitais de Los Angeles e em lares domésticos: 500

Havia também palestras ministradas em conhecidas associações, igrejas, organizações


civis e no rádio. Numerosas peças teatrais, recitais de música, festas em feriados e outras
atividades também eram oferecidas. Em resumo: eles eram extremamente ativos! Aqui está
uma foto daquela época, tirada no Natal de 1930 em Mount Washington.

18
Yogananda declarou que já tinha meditado em cada cantinho de Mount Washington. E
realmente o visitante mais meditativo consegue facilmente sentir suas vibrações vivas e
presentes naquela área. Ela certamente permanece um abençoado destino de peregrinação.
O devoto fica imaginando quantos êxtases divinos já tiveram lugar naqueles sagrados
recintos.

Para ver o “moderno” Mt. Washington, 80 anos após seu nascimento, com os horários
de visitação, acesse o website da SRF: www.yogananda-srf.org.

É claro que muitas outras histórias poderiam ser contadas sobre Mount Washington:
- Como os quartos eram alugados ao público naqueles primeiros tempos, com anúncios na
East-West.
- Os primeiros e poucos discípulos que moravam lá, e como conviviam juntos; Yogananda
estava quase sempre ausente em suas “campanhas”; os dolorosos problemas que se
seguiram.
- O inacreditável barulho que as primeiras instalações gráficas de Mt. Washington faziam.
- As variadas plantas e árvores especiais que Yogananda plantou nos terrenos.
- As extensas batalhas financeiras que Yogananda enfrentou para quitar as duas hipotecas
sobre a propriedade de Mt. Washington, e a oportuna ajuda de Rajarsi em 1932, quitando
inteiramente o débito.
- As meditações longas de Natal em Mount Washington, ocasiões em que Cristo apareceu
muitas vezes, tendo seu início em 1931.
- O nascimento da ordem monástica em Mount Washington no ano de 1931 e os programas
da “Escola de Verão” de Yogananda em 1932.
- A construção do Poço dos Desejos (1934), e do Templo das Folhas; - A plantação de
tomate em Mount Washington durante os períodos de dificuldade financeira.
- As muitas pessoas famosas (músicos, estrelas, políticos, instrutores espirituais) que
honraram Mt. Washington com suas visitas ao longo dos anos.
- A arrumação do último andar para entregar a Rajarsi seus aposentos particulares.
- Como Mt. Washington permaneceu, de certa forma, um “hotel” – os discípulos que iam e
vinham, sem compreender o que tinham em mãos.
- A primeira convocação de todas, em Mount Washington, em 1950.
- O relacionamento de Mt. Washington com os vizinhos durante a vida de Yogananda.
- As construções que foram sendo acrescentadas ao prédio principal.
- O plano de construir um enorme Mausoléu em Mt. Washington, para abrigar o corpo
(ainda incorrupto?) de Yogananda.

Todavia, como qualquer um pode ver, esses tópicos todos nos iriam levar para muito
longe. Este capítulo já ficou longo do jeito que está. Talvez seja melhor finalizá-lo com o
poema que Yogananda escreveu para seu amado Mt. Washington, o “sonho de uma vida”,
publicado na primeira edição da East-West, Nov/Dez. 1925. Atente para as “Árvores de
cânfora Nipônicas (Japonesas)”; seu sonho de promover em Mount Washington a união “na
mais profunda amizade” de todas as igrejas, mesquitas e templos, algo tão necessário nos
dias de hoje, e seu uso continuado da palavra “liberdade!”

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O Sonho de uma Vida
Dedicado ao Centro Educacional Mount Washington

O Oriente é quente
O Ocidente é frio
É o que dizem – mas tu, Mount Washington
Que tens o nome daquele pioneiro
Que pela Liberdade dedicou seu corpo inteiro,
Tu permaneces um Himalaia, sem as neves, mas protetor
Da terra dos anjos, de um verdejante e perpétuo esplendor.
Árvores de cânfora nipônicas, flores perfumadas e rosas sorridentes
Palmeiras, tâmaras e saborosos temperos do Hindustão presentes,
Com cenários de interminável beleza
Oceano, desfiladeiro, sol que se põe, luar e natureza
Da cidade, à noite, brilham luzes alterosas
Declarando sempre Tua cambiante face formosa.
Na régia coroa que sempre renovada portarás
Uma cintilante escola em que todo futuro servirá
Para atrair do Oriente e do Ocidente viajantes extraviados
Que sua meta atingirão e seus corpos descansados.
Eis aqui o caminho
Que se une aos demais, nunca sozinho.
E aqui o grande amor da América, o paraíso da terrena Liberdade,
Com o amor da Índia pela Liberdade espiritual, se mesclará pela eternidade.
Nesta igreja em profunda amizade todas as outras irão se unir.
Aqui o templo e a mesquita saberão vir.
E as leis da matéria, há tanto divorciadas
Casarão novamente, na paz de leis espirituais promulgadas.
Todos aqui a verdadeira Arte aprenderão
Como iniciar na vida uma doação
Sem desvios ao grande e Único lugar
Onde todos por fim irão se encontrar.
Jeová! Neste solo sagrado o alívio surge
E o sonho de uma vida verdadeiramente ressurge!

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Capítulo 3
História das SRF Magazines
Escrito (por pura diversão) por Andy e Serafi

“Neste mundo, todos nós somos um pouco loucos, mas não sabemos, porque os loucos
do mesmo tipo interagem com loucos do mesmo tipo. Quando pessoas com loucuras
diferentes se encontram, então elas descobrem suas próprias loucuras”.
Em um dia inspirado, depois de terem refletido sobre essas palavras de Yogananda,
Andy, um devoto independente, e Serafi, um devotado membro da SRF, decidiram se
reunir para trocar idéias, e descobrir suas próprias “loucuras” ao interagir entre eles. O
tópico que decidiram debater foi “A História das SRF Magazines”. Yogananda fez uma
outra declaração divertida: “Às vezes penso que Deus deve estar assistindo surpreso a este
enorme zoológico de humanos que vivem aqui”. Bem, Andy e Serafi eram uns “animais”
um tanto diferentes no grande zoológico de Deus, que enxergavam o mundo com olhos
diferenciados. Desse modo, a primeira coisa que fizeram foi examinar um ao outro cheios
de dúvidas, mas então sentaram-se para desfrutar alegremente de um belo copo de chá e
pedaço de bolo. Não demorou muito e logo começaram a apreciar a companhia um do
outro. Será que concordavam em tudo? Longe disso. Mas conseguiam “concordar em
discordar”, como as pessoas de mente aberta fazem.
Eles começaram a estudar as antigas SRF magazines. Serafi havia trazido uma
impressionante pilha delas, e Andy acrescentou algumas mais. Seu objetivo era vasculhar
cuidadosamente o conteúdo delas e “sentir” as revistas, para conseguir uma melhor
compreensão da SRF em seus diferentes estágios de evolução. Na verdade, a beleza
daquelas antigas revistas é que elas transmitem a pulsação e os batimentos cardíacos da
SRF em todas as épocas de sua existência. Através delas, é possível quase que intuir como
era a vida por detrás das paredes monásticas.
E assim, ao se embrenharem nelas, Andy e Serafi descobriram um colorido panorama,
uma história viva, extremamente interessante. No início, Serafi se confrontou com uma
dificuldade psicológica: “Estou tão familiarizado com uma certa maneira de conhecer a
SRF ao longo de décadas de suas publicações, que chega a ser difícil abrir o coração a uma
SRF bastante diferente de tempos passados. A pessoa realmente precisa deixar de lado
todas suas concepções pessoais acerca da SRF para compreender melhor seu passado”.

21
Andy, a propósito, tinha descoberto anteriormente dois websites que publicavam
trechos das antigas revistas. Ele, no entanto, rapidamente descobriu que aquelas
transcrições, como documentos históricos, eram de pouco valor, pois haviam sido editadas
e revisadas, de acordo com as preferências pessoais do proprietário do website.
Dhirananda, por exemplo, um dos personagens principais nos anos 20, que apareceu
muitas vezes nas antigas revistas, havia sido completamente excluído. História deveria
permanecer história, Andy pensou, e não ser adaptada para se encaixar no perfil
organizacional.
Na primeira edição, Yogananda escreveu uma nota em que declarava a missão de sua
revista:
“Com esta edição de Novembro-Dezembro de 1925, o instrumento oficial da
YOGODA AND SAT-SANGA HEADQUARTERS em Mount Washington, Los Angeles,
a revista ‘East-West’ oferece sua reverência inicial ao público americano. Seu Objetivo e
Propósito, como definidos por Swami Yogananda, é inspirar, iluminar e encorajar todos a
viver uma Vida Espiritual Prática... Pretendemos preencher todas as edições com artigos,
poemas, fotografias e editoriais de generalizado interesse e apelo...”.
E assim, Andy e Serafi leram e leram, debatendo sobre as revistas o dia inteiro. Andy
tomava notas e posteriormente escreveu o estudo abaixo.

Aqui Começa a História da Revista:

Yogananda veio ao Ocidente em 1920, e logo colocou as gráficas para funcionar, para
dar início a sua missão. Antes mesmo do estabelecimento de Mount Washington, ele já
havia publicado Songs of the Soul, Yogoda Introduction, Science of Religion, e Scientific
Healing Affirmations.
Quando ainda estava em “campanha” pela América em 1924, ele sentiu que havia
chegado a hora de publicar uma revista periódica. Foi em novembro de 1924, durante uma
visita a seu amado amigo, o “Santo Americano” Luther Burbank em Santa Rosa, que o
nome da futura revista foi elaborado. Lemos na Autobiografia de um Iogue: “Luther –
observei – no próximo mês começarei a publicar uma revista para apresentar as dádivas das
verdades do Oriente e do Ocidente. Por favor, ajude-me a escolher um bom nome para a
revista. Trocamos ideais sobre títulos e finalmente concordamos na escolha de East-West.
Em seu escritório, Burbank deu-me um artigo de sua autoria intitulado ‘Ciência e
Civilização’.
- Será publicado no primeiro número da East-West – disse-lhe eu em agradecimento...”
Na verdade, as primeiras edições se chamavam “East-West World Wide.” A adição do
termo “World Wide”, como lemos, foi sugestão de Luther Burbank. No entanto, a partir de
janeiro de 1926, este nome foi retirado, talvez porque “East-West” (Oriente-Ocidente) já
implique o conceito de “World Wide” (Mundial).

“No mês seguinte” Yogananda queria que a revista já estivesse nas bancas. O Irmão
Tempo, no entanto, parece recusar quando desejamos que ande muito depressa: a primeira
edição de “East-West” finalmente apareceu um ano depois, em novembro de 1925, logo
depois de Yogananda ter inaugurado a sede central em Mount Washington. Ele manteve a
palavra: o artigo de Luther Burbank, “Ciência e Civilização”, foi incluído nesta edição
inaugural.

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Anos 20

O que Yogananda pretendia realizar com sua revista “East- West”?


• Ele viu que muitos dos devotos que havia encontrado em diferentes cidades seriam
beneficiados por esse constante contato e inspiração: “Minhas bênçãos a todos os meus
estudantes. Irei falar com todos vocês através das colunas desta revista, e peço por vocês
todas as manhãs em minha oração das 7 horas, para que possam perseverar em sua prática e
vir a conhecer a alegria suprema da realização espiritual absoluta”.
• Ele também via a revista como um instrumento para compartilhar com todos, conforme
escreveu na primeira edição, “os princípios universais para fazer a vida mais bonita”.
• Sua esperança era: “Que nossa fome por conhecimento nos faça esquecer nossas pequenas
diferenças e nos ensine a receber com alegria as oferendas da verdade de outras pessoas”.
Sua abertura e universalidade eram agudamente sentidas naquelas revistas.
• E, obviamente, ele a via como uma maneira de unir o Oriente e o Ocidente, para “tornar
compreensíveis as diferenças boas entre o estilo de vida Oriental e Ocidental, mediante elos
de amizade e a troca construtiva de idéias práticas (Sat-Sanga)”. Ele escreveu belamente:
“Que o Oriente e o Ocidente possam estar sempre prontos a intercambiar suas melhores
características e assim fazer a vida mais completa”. (Todas essas citações foram extraídas
da primeira edição, onde se descrevia os “Objetivos da East-West”).

A Ciência tinha um papel importante em sua revista, pois era uma grande contribuição
do mundo ocidental. E assim também as artes: poesia, pintura, música. Suas aparições na
revista eram abundantes nos primeiros anos. Logo na primeira página da primeira edição,
os leitores eram convidados a contribuir com artigos, ou fotos, e mandá-los para apreciação
pelo editor. A revista era como um campo aberto, por assim dizer, onde todos eram
convidados a semear seus grãos de inspiração. Estes são os conteúdos da primeira edição,
bastante típicos daquela era da revista. Diversos escritores contribuíram.

- Dedicatória a Sra. Mary E. Foster (que “tornou possível iniciar e prosseguir com esta
Revista”).
- Consciência Cósmica, por Swami Yogananda
- Quando Deus Perambulou em Meu Jardim (Poema), por Elisabeth Swaller
- A Obra Educacional de Swami Yogananda na Índia
- A História da Missão de Swami na América
- Sonho de uma Vida (Poema), por Swami Yogananda
- Abertura Oficial do Mt. Washington Center
- Ciência e Civilização, por Luther Burbank
- Saudações aos Estudantes Americanos do Swami
- Aula em Los Angeles (fotografia)
- Luther Burbank (Poema), por Swami Yogananda
- Uma Oração, por um discípulo
- A Vida Equilibrada, por Swami Yogananda
- “Dusky Sound, “ Nova Zelândia (fotografia)
- Panteísmo (Poema), por um discípulo
- A Senda que Leva a Deus, por Harriet Hobson
- Ensinamentos do Swami
- Saudações à Índia

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- Swami Dhirananda, por Swami Yogananda
- Minha Terra Nativa (Poema), por Swami Yogananda
- Isto e Aquilo (Notas)

A segunda edição de “East-West” apresentava artigos sobre Buda, Sufismo, Guru


Nanak (o fundador do sikhismo) e três poemas por diversos autores, além de uma
contribuição científica sobre “o Mundo da Natureza”. Dhirananda escreveu um extenso
artigo, e outros autores também. Há também uma foto atualmente difícil de encontrar de
Yogananda usando uma bandana, que lhe foi presenteada por Índios Americanos. A revista
era publicada bimestralmente.
Essas primeiras edições eram maiores em tamanho do que hoje, e eram um tanto
rústicas. Bem, tal característica, é óbvio, refletia perfeitamente a pulsação da SRF (ou
melhor, Yogoda Satsanga) naqueles primeiros anos no Ocidente: era tudo muito rústico e
simples. Kamala escreve que quando ela veio com sua mãe para permanecer em Mt.
Washington no verão de 1926, o quarto delas estava completamente vazio, sem mobília.
Elas precisaram pintá-lo também. O “prédio estava esparsamente ocupado, e tínhamos a
nossa escolha dezenas de quartos”. Imagine a grande mansão vazia!
Durga Ma escreve que mesmo em dezembro de 1929, quando ela se mudou, “alguns
quartos eram mobiliados com os móveis da própria pessoa, e outros estavam vazios”. Para
seu novo quarto, uma cama e um colchão foram providenciados. Yogananda levou
pessoalmente um tapete até o quarto dela.
Mais tarde, ela saiu para comprar um armário, uma cadeira e uma mesa em uma loja de
móveis usados. Outros devotos usavam engradados com tábuas para colocar o colchão, “e
mais engradados para servir de armário e prateleiras”. Apenas uns 15 ou 16 devotos
moravam lá naquele tempo. Mais uma vez, tente imaginar esse cenário totalmente
diferente. Ainda não havia uma ordem monástica em Mt. Washington naquela época. O
prédio, que não estava em boas condições quando Yogananda comprou, foi pintado pela
primeira vez apenas em 1933 (ver o livro de Durga)! É possível ter uma idéia... a vida era
rústica!
Em maio/junho de 1926, East-West oferecia espaço para publicidade em suas páginas,
alegando que 5.000 revistas haviam sido vendidas em pouquíssimo tempo. Para o próximo
mês, seriam impressos 10.000 exemplares. Que início!
Talvez Laurie Pratt (Tara Mata) tenha sido a editora da revista entre 1925 e 1929 (em
1929 ela partiu, e voltou em 1936). A partir de novembro de 1937, a revista indica que
Laurie Pratt é sua editora. Naquele meio tempo, outras pessoas desempenharam esse papel:
Salome Marckwardt, Louise Royston. Yogananda passava muito tempo viajando, em
“campanhas”. Isso era tão frequente que, Daya Mata escreve, ele enviava seus artigos pelo
correio desde as cidades onde estava lecionando, até mesmo durante sua viagem até a Índia,
via Europa e Palestina, em 1935-36.
Qual era a sensação geral daquelas primeiras revistas?
Um sopro livre de inspiração. Abertura. Jovialidade.

Anos 30

A década de 30 teve início em uma trilha dura e pedregosa. Foi o período da maior
crise econômica americana. East-West teve que enfrentar dificuldades terríveis. Ela
adoeceu, por assim dizer, e ficou de cama, sem se mexer. As instalações gráficas estavam

24
paradas. Já não haviam sido publicadas as edições de: Set-Out.1928; Mar-Abr 1929; Jul-
Ago 1929; Set-Out 1929.
Os anos 30 estavam piores: Jan-Fev 1930 não foi publicada, nem tampouco Mai-Jun
1930; Set-Out 1930; Nov-Dez1930. Em 1931, nem sequer uma edição foi impressa. Em
Jan-Mar 1932 East-West ainda não tinha se recuperado. Durga escreve que durante aqueles
anos os devotos em Mt. Washington não recebiam salário. Então, em abril de 1932,
Yogananda retomou a revista, com nova periodicidade e vigor: East-West começou agora a
ser publicada mensalmente. Os comentários de Yogananda sobre a Bíblia, “A Segunda
Vinda de Cristo”, começaram a ser publicados já desde o início dessa nova fase. Logo
depois ele acrescentou seus comentários ao Bhagavad Gita.

Dhirananda tinha ido embora. Um novo colaborador costumeiro era Brahmachari


Nerode. A partir de 1932, Laurie Pratt (Tara Mata) escreveu muitos artigos sobre as Yugas
e filosofia Hindu, no tempo em que viveu fora da SRF. É curioso notar que em março de
1934 foi publicado um anúncio de Laurie Pratt como astróloga em Atlanta, e algumas
edições depois uma propaganda de seu livro sobre as Yugas, publicado fora da SRF.
Saborosas e saudáveis receitas eram agora uma presença regular na East-West. A
revista passou a contar com menos colaboradores em seus artigos. Yogananda e seus
discípulos eram agora os principais autores. As artes já não apareciam mais tanto, e nem a
ciência, embora ainda havia, com certa regularidade, a publicação da coluna “Scientific
Digest.” Parece que os tempos difíceis dos primórdios dos anos 30 atuaram como um fogo
que fez Yogananda direcionar suas energias com mais força para sua mensagem. O início
da década também testemunhou os primeiros passos da ordem monástica da SRF. A energia
como um todo assumiu nova forma, obviamente. Talvez Deus tenha ajudado Yogananda a
concentrar suas energias, pois se ele tivesse continuado a ser multifacetado demais, sua
missão talvez não tivesse sido tão eficaz.
Em maio de 1934 Yogananda alterou o nome da revista para Inner Culture, com o
subtítulo de East-West Magazine. Isso aconteceu de mãos dadas com outra grande
mudança: 1934 foi também o ano em que ele renomeou sua organização de Yogoda Sat-
Sanga para Self-Realization Fellowship.
Em maio de 1937 o tamanho da revista sofreu alteração. Ela sempre fora maior do que
as edições atuais, durante seus primeiros 12 anos de existência. A partir de então, ela
passou a ser impressa no tamanho em que vemos ainda hoje.
Aquele foi também o ano em que Yogananda inseriu suas interpretações periódicas do
Rubaiyat.
Nessa época Daya Mata e Ananda Mata geralmente datilografavam as interpretações
que Yogananda ditava.

Em seus últimos anos, Yogananda solicitou aos discípulos que editassem seus
primeiros artigos, pois seus antigos editores da East-West geralmente faziam um trabalho
precário, alterando os textos e até mesmo acrescentando suas próprias idéias. Yogananda
nunca tinha dado uma segunda olhada. Desse modo, os textos precisavam de correção. No
entanto, surge a dúvida: Sim, antes de Tara Mata haver retornado em 1936, talvez os
antigos editores não tivessem feito um bom trabalho, de modo que uma nova edição se
fazia necessária. Mas, e depois de 1936?
SRF publicou uma carta assinada por Tara, datada de 1937, na qual ela escreve acerca
do privilégio que foi ajudar com o maravilhoso livro (referindo-se às interpretações das

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escrituras do Mestre), dizendo que “minha tarefa era pura gramática, arranjo”. Noutras
palavras, ela já tinha feito o trabalho editorial. Lá atrás em 1937, os comentários do Gita e
da Bíblia estavam ainda muito no início, e o Rubaiyat mal havia nascido. As maiores
porções dessas obras surgiram mais tarde, já sob as asas editoriais de Tara, na qualidade de
editora da revista. E além disso Yogananda estava, como escreve a SRF, muito satisfeito
com o trabalho de Tara. Ficamos imaginando, então, porque se julgou necessário, anos
mais tarde, que o material passasse por novas revisões. De volta às revistas: Em outubro de
1937 o subtítulo mudou. O novo nome Inner Culture- The Magazine of India. Seria uma
alteração no conceito, para indicar uma predominância no ensino do estilo indiano de Auto-
Realização?
E realmente, logo depois Yogananda alterou o subtítulo novamente. A partir de abril de
1938 ele passou a chamar a revista de Inner Culture - For Self-Realization – uma melhor
escolha, talvez. Tudo isso aconteceu não muito depois de Yogananda haver retornado de
sua visita ao país natal, por fins de 1936. A propósito, em suas viagens pelo sul da Índia,
Yogananda teve um encontro com o iluminado santo Ramana Maharishi. Conforme
Yogananda narrou, Ramana era leitor das revistas East- West, e guardava uma pilha delas
em seu quarto. E assim provavelmente também devia ser o Shankaracharya de
Kanchipuram (um dos quatro principais líderes espirituais na Índia), que havia encontrado
Yogananda em 1935 e “acompanhado suas atividades desde então”.
Certamente havia muitos outros na Índia que seguiam as atividades de seu embaixador
espiritual no Ocidente. E realmente, naquela época, havia algum outro santo indiano
vivendo na América, divulgando com êxito os antigos ensinamentos iogues? O sucesso de
Yogananda era obviamente uma grande notícia em seu país natal. A Índia estava orgulhosa.
Esse foi provavelmente o motivo pelo qual Yogananda conseguiu desembaraçadamente
requerer ao Primeiro Ministro Jawaharlal Nehru em 1948, mediante um telegrama
(transcrito na revista): “Venho requerer profundamente que o senhor conserve metade das
cinzas de Gandhi, algumas para permanecer na Índia, outras para a América, a fim de serem
enterradas debaixo de monumentos a serem erguidos nos dois países”. Nehru respondeu
afirmativamente, e é por isso que temos uma parte das cinzas de Mahatma Gandhi mantidas
no Lake Shrine. Mais tarde, em novembro de 1949, Yogananda foi até São Francisco para
se encontrar pessoalmente com Nehru. É interessante notar como Yogananda ficava à
vontade tanto entre grandes santos como também entre importantes políticos do mundo: ele
se encontrou com o Presidente americano Calvin Coolidge, o Presidente do México Portes
Gil, o Primeiro Ministro Indiano Nehru, embaixadores, governadores, cônsules. E se sentia
igualmente em casa entre grandes artistas, inventores, empresários e pessoas comuns. Ele
conheceu dois ganhadores do Prêmio Nobel. Em outras palavras, ele era cidadão do mundo.
Ops, voltando... ainda estamos nos anos 30! Inner Culture era publicada mensalmente.
Imaginem o trabalho que isso envolvia. A sensação geral da revista era: mais madura, mais
focada, mais centrada nos ensinamentos de Yogananda. Proeminentes certamente eram suas
interpretações da Bíblia e do Bhagavad Gita.

~~~
Anos 40

A década de 40 testemunhou muitas alterações na revista. Em julho de 1940,


Yogananda decidiu publicá-la trimestralmente, talvez porque era muito trabalho do jeito
que estava.

26
Nos primeiros anos da década, Yogananda anunciava na revista a disponibilidade de
quartos em Mt. Washington. Era possível alugá-los por um dia ou mais. Isso pode dizer
duas coisas: Primeiro, que os quartos ainda estavam vagos, e portanto a turma de
Yogananda não era muito numerosa (um fato que foi bastante alterado com a publicação de
sua Autobiografia em 1946). Segundo, isso pode indicar uma dificuldade financeira, e/ou
braços abertos para devotos de fora.
Sobre a agitação que começou na vida de Yogananda depois que sua Autobiografia foi
publicada, ele diz (na revista de nov-dez 1948): “... a obra se expandiu além de minha
imaginação. Renunciantes, em um fluxo contínuo, estão se juntando a nossa Colônia na
Sede Central e na Colônia de Encinitas – e existe uma longa fila de espera...” A chegada da
Autobiografia de um Iogue foi certamente um evento crucial na missão de Yogananda, de
modo que ele clamava aos leitores de sua revista para que “divulgassem a mensagem” ao
compartilhar com outras pessoas suas cópias da Autobiografia, ou mesmo dando de
presente aos amigos. Críticas maravilhosas afluíam sem parar, e Yogananda as publicava na
East-West.
Espere um instante! Por que “East-West”? O nome não tinha mudado para Inner
Culture há bastante tempo? Sim, mas em julho de 1944, curiosamente, Yogananda
modificou o nome da revista novamente para East-West. A alteração perdurou por apenas 3
anos, até junho de 1947. A partir de então o nome mudou para Self-Realization Magazine.
Ela continuava sendo trimestral.

Um exemplo típico do conteúdo da revista nos anos 40 (East-West de Abril, Maio e Junho
de 1945):
– Um Idioma Internacional, por A. Lavagnini
– Minha Oração de Páscoa, por Paramhansa Yogananda
– Verdadeira Renúncia, por Hanumanprasad Poddar
– Libertando-se do Dever, comentário ao Bhagavad Gita, por Paramhansa Yogananda
– À Mãe Divina, poema por Kandhubhai Desai
– A Nosso Pai Espiritual, poema por Sharon O’Neil
– Ciência na Índia Antiga, por Kumar Goshal
– Pensamentos Diários para Abril, Maio e Junho, por Paramhansa Yogananda e outros.
– Templo, ou Covil de Ladrões? Interpretações da Bíblia, por Paramhansa Yogananda
– Seu Rosto no Espelho, por Sri Bolanathji Maharaj
– Esferas da Ciência, Novas Vitaminas
– Notícias (dançarinos hindus; religiões comparadas, inspiração)
– International Fellowship (Notícias da Índia; A Ciência Transcende Fronteiras; Amizade
Índia-China; Protegendo as Minorias)
– Críticas Literárias por Virginia Scott (Carta de Nova Guiné; Seus Filhos e os Meus; A
Vida lá Fora)
– Diretório de Centros

Uma série de matérias sobre posturas de yoga teve início no final dos anos 40 e
prosseguiu durante muitos anos. A partir de janeiro de 1949, Yogananda injetou uma nova
dose de energia em sua revista, e passou a publicá-la de forma bimestral, ao invés de
trimestralmente.
Uma nota sobre copyright: as revistas de Yogananda até dezembro de 1942 encontram-
se em domínio público. Edições posteriores pertencem à SRF. Para os interessados: quem

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tiver interesse em ler e estudar todas as edições, pode encontrá-las na Biblioteca do
Congresso, em Washington DC. A Stanford University Library também possui muitos
números. A British National Library em Londres detém algumas (prateleira P.P.636.ctd). É
possível encomendar cópias das revistas com eles, através da internet, ou ir até lá e fazer
suas próprias cópias. Dentro da lei, é claro, você só pode copiar, ou encomendar cópias, de
edições até dezembro de 1942. Segue uma belíssima e típica oração de Yogananda
impressa na revista: “Pai Celestial, Jesus, Mestre Supremo Babaji, Grande Mestre Lahiri
Mahasaya, Mestre Sri Yukteswarji, Guru-preceptor, eu me curvo a todos. Que o Teu Amor
brilhe para sempre no santuário de minha devoção, e que eu possa despertar o Teu Amor
em todos os corações”.
A alma da revista naqueles anos: dinâmica, alegre e cheia de vida com novas idéias.

~~~
Anos 50

A revista testemunhou os dois últimos anos da presença de Yogananda neste planeta. O


ambiente na SRF era bastante diferente na época. Não se usavam uniformes. Monges e
monjas vestiam roupas normais no tempo de Yogananda. Imagine Daya Mata, Durga Ma, e
todos os demais em trajes comuns. “Vocês não precisam vestir uniformes, hábitos ou saris
enquanto eu estiver aqui, deixem isso para depois que eu partir para o Infinito”, dizia
Yogananda com frequência (veja no livro de Durga). “Vocês jamais conseguirão organizar
as coisas enquanto o Mestre estiver vivo”, Gyanamata acrescentou.
Na edição de Set.-Out. de 1950, na transcrição do discurso de inauguração do Lake
Shrine, Yogananda explica que seus rapazes “vestem roupas americanas, e eu também. Este
hábito é somente para ocasiões espirituais. Não dou ênfase a roupas... nossos rapazes e
meninas se vestem como americanos, mas em seus corações as coisas são diferentes...”
Rajarsi não introduziu uniformes no período de sua presidência. Eles tiveram início em
1959, quando Daya Mata retornou da Índia. As sisters começaram agora a vestir elegantes
saris alaranjados. Os brothers receberam roupas ocidentalizadas, também de cor laranja.
Quando Yogananda faleceu, sua revista revelou uma sincronia divina: a última edição
publicada em vida de Yogananda continha, surpreendentemente, um artigo intitulado “A
Experiência Final”, o último na série de seus comentários sobre a Bíblia que durante 20
anos apareceram na revista de maneira ininterrupta. Nesta edição, ele tecia suas
considerações sobre a seguinte passagem: “Jesus, clamando com grande voz, disse: Pai, nas
tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou”.
O artigo foi publicado na edição de março de 1952, no mês exato em que Yogananda
partiu para as esferas superiores. Surpreendentemente, naquela época a revista ainda
custava 25 centavos, o mesmo preço da primeira edição quase 30 anos antes.
Durante a presidência de Rajarsi, (1952-1955) não foram observadas muitas mudanças
na revista. Isso talvez se deva ao agravamento de sua enfermidade, ou porque estava
bastante satisfeito com os padrões estabelecidos pelo Mestre.
Daya Mata foi eleita presidente em 1955. Ela escreve que sentiu-se bastante relutante
em preencher aquele cargo de liderança, que para ela foi uma “tremenda provação”.
Quando foi escolhida pela mesa diretora, ela questionou, “Por que eu?” No entanto, pouco
tempo depois na Índia, em um êxtase, Daya Mata presenciou Babaji (episódio descrito no
livro Only Love). Ela se curvou mentalmente e, aos soluços, perguntou:

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"Eles escolheram a mim. Eu sou tão indigna. Por que isso?” Babaji, com extrema
doçura, respondeu: “Minha filha, não deves duvidar de teu Guru. Ele disse a verdade. O
que ele te disse é verdade”. De fato, Yogananda havia dito a ela antes de seu falecimento:
“Agora meu trabalho está terminado, e o seu irá começar”. E assim ela voluntariamente
abraçou a enorme tarefa. Depois de algum tempo sob sua liderança, a revista apresenta
algumas mudanças significativas:

–– o nome e a assinatura de Yogananda foram alteradas para “Paramahansa”,


apresentando-os corretamente em Sânscrito.
–– os “Objetivos e Ideais” de Yogananda foram modificados, eliminando-se o ideal das
colônias de fraternidade mundial, um conceito que, conforme foi explicado, Yogananda
havia abandonado.
–– os altares e as orações sofreram alteração, com o acréscimo de Krishna, a inversão da
imagem de Sri Yukteswar e a troca de posições entre Yogananda e Sri Yukteswar – tudo
por motivos compreensíveis.
Na década de 50 a SRF vendia altares portáteis para viagem. É curioso encontrar um
daqueles originais com cinco gurus da SRF. Ainda na revista de Nov/Dez de 1959 o arranjo
no altar recebeu a seguinte explicação (em uma resposta a questionamentos de estudantes):
“O próprio Paramahansa Yogananda determinou o número e as posições relativas das cinco
fotografias que demonstram a linhagem de gurus da SRF-YSS”.

As mudanças na revista acaso refletem os acontecimentos na SRF durante aquele


período? Talvez. Alguns discípulos afirmam que se tratou realmente de uma época de
mudanças dentro da SRF:

–– Todos agora assumiam os votos monásticos. Yogananda iniciou sua ordem monástica
em 1931, mas sempre houve devotos em Mt. Washington e Encinitas que não faziam os
votos monásticos, como o irmão de Daya Mata, Richard Wright, que desempenhou papéis
relevantes na SRF até 1941 (membro da Mesa Diretora, responsável pelos departamentos e
pessoal em Mount Washington, tesoureiro da SRF); ou Peggy Deitz, que era motorista de
Yogananda, que chegara em 1949 para viver em Mt. Washington. Essa novo monasticismo
foi um dos motivos que fizeram o Reverendo Bernard Cole partir (para uma explicação de
Daya, ver abaixo).
–– Todos os monges e monjas agora recebiam um nome monástico. Yogananda havia
conferido apenas alguns deles: Gyanamata, Durga Ma, Mataji, Rajarsi Janakananda; todos
os outros devotos conservavam seus nomes normais. Daya Mata, por exemplo, já era
monástica por mais de 20 anos, mas nunca recebera um outro nome de Yogananda. Ele
sempre a chamou de Faye.
–– Foi distribuído um manual com lições de discipulado para os monges, e lições de vida
renunciante eram aplicadas regularmente. De maneira geral, numerosas regras foram
adicionadas à vida monástica.
–– Também foram impressas uma série de diretrizes para os centros da SRF, que mais tarde
foram promovidas a regulamentos.
–– Uniformes monásticos começaram a ser utilizados.

Durga Ma não estava sempre em concordância com essas novas orientações


monásticas: “Yogananda não veio para fundar uma nova igreja”. Por muitos anos ela havia

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estado muito próxima a Rajarsi, que considerava demais o caráter universal da missão de
Yogananda. Daya Mata, em seu livro Finding the Joy Within You, explica essas
encruzilhadas e as diferenças de opinião entre os diretores da SRF, e como tudo se resolveu
após uma experiência divina, que estabeleceu as diretrizes para o futuro do monasticismo
na SRF. Sua história é parafraseada neste artigo devido a questões de copyright, mas suas
palavras exatas podem ser conferidas em seu livro, ou em http://www.yogananda-
srf.org/tmp/py_notitle.aspx?id=1264.
Ela explica que quando um grande mestre abandona o mundo, geralmente acontece um
surgimento de opiniões divergentes entre os discípulos, no que diz respeito ao modo como
sua missão deve ser conduzida a partir de então. Daya informa que tais questionamentos
surgiram durante uma reunião em 1955, logo na manhã seguinte após sua eleição como
presidente. Um dos pontos em discussão era se a condução da obra deveria estar nas mãos
de chefes de família ou de monásticos. Yogananda, prossegue ela, havia dito que
renunciantes, assim como ele, deveriam ser os encarregados. Essa orientação, todavia,
estava sendo questionada por alguns membros da mesa diretora. Daya se viu diante de um
dilema, pois também compreendia o ponto de vista deles: é verdade, por que se amarrar a
aspectos externos? Um devoto é um devoto porque ama Deus, e não porque está vestido
com um tecido alaranjado. Naquela noite, em profunda meditação e oração, ela buscou uma
resposta de Yogananda. Já de madrugada, ela contemplou seu próprio corpo levantando-se
da cama, descendo as escadas e adentrando no quarto de Yogananda (parece ter sido uma
visão de si mesma). Enquanto assim fazia, ela observou o xale do mestre flutuando.
Quando se virou, lá estava seu Guru. Com grande alegria, ela correu em sua direção e
ajoelhou-se perante seus pés, exclamando: “Mestre, Mestre, o senhor não morreu, o senhor
não partiu! A morte não é mais forte que o senhor”.
Yogananda baixou o braço e tocou sua testa. Neste instante, Daya soube imediatamente
a resposta que deveria apresentar na reunião da manhã seguinte. Yogananda a abençoou, e
ela se viu novamente sentada na cama. Na manhã seguinte, ela se reuniu com os diretores
da sociedade, e transmitiu a resposta que Yogananda havia lhe dado. E assim, a SRF se
concentrou nos renunciantes. Daya Mata tinha boas razões para permanecer firme: em um
pequeno lapso de tempo havia recebido o darshan e a bênção de ambos Yogananda e
Babaji.

Outra coisa interessante de se observar é a lista “Directory of Centers”, publicada na


revista.
–– Em seus diversos centros da SRF, como se pode ler, Yogananda havia nomeado um
“líder orientador”.
–– Na parte final da década de 50, essa tarefa havia sido reduzida para alguns poucos
“conselheiros em meditação”.
–– Ainda mais tarde, até mesmo os “conselheiros em meditação” dos centros
desapareceram, como demonstra a revista. Os monges itinerantes assumiram o papel de
líderes.

Na revista de Nov/Dez de 1959, encontra-se um comunicado indicando que a “Irmã


Daya” deveria agora ser chamada de “Irmã Dayamata.”
Mais tarde, ele se tornou Daya Mata. Todas as outras discípulas mulheres que tinham
conhecido Yogananda pessoalmente também eram agora chamadas “Mata”. Todos os
monges permaneceram “Brother”. Naquela mesma revista, em seu artigo sobre a viagem à

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Índia, Dayamata respeitosamente chama Brother Kriyananda de “Kriyanandaji.” Ela
escreve que os dois desfrutaram de longas conversas, palestravam lado a lado, sendo que
ela inseriu naquele artigo as notas que Kriyananda havia extraído da conversa que tiveram
com Shankaracharya. Os dois viajaram juntos ao longo de meses pela Índia, juntamente
com a irmã de Dayamata, “Mataji”, e com Sister Revati. Dayamata descreve como gostava
de ver Kriyananda e Karunananda (Devi Mukkherjee) jogando futebol com entusiasmo e
habilidade. Ela até mesmo tentou dar um chute na bola, mas enroscou os pés no sari. Uma
cena doce de imaginar.
Logo depois, (em 1960) Brother Kriyananda foi anunciado na revista como o novo
vice-presidente da SRF, e como um membro da mesa diretora, que havia sido “íntimo de
Yogananda”. Ele já era o responsável pelos monges, pelos centros e grupos de meditação, e
era o principal ministro itinerante de Kriya. Algo interessante no estudo das revistas é
observar que ao longo de sua história sempre foram publicados anúncios que divulgavam
livros de autores não vinculados à SRF. Isso ajuda a diagnosticar a pulsação da SRF com a
passagem do tempo:

–– Yogananda anunciava livros espirituais de outros autores, mesmo de fora da SRF. Uma
atração comum nos anos 30 e 40 eram as críticas literárias, onde se debatiam e
recomendavam livros de vários autores.
–– Nos anos 40 a SRF anunciava uma lista de 16 livros escritos por Swami Premananda
(antes Bramachari Jotin, que se juntou a Yogananda no final dos anos 20, e que havia sido
educado na escola de Ranchi), e uma outra lista de 11 livros por Sri R.K. Das (outro
indiano que Yogananda havia chamado para representá-lo, e que havia “fundado” e
liderado o centro da SRF em Indianapolis). Esses livros não eram encomendados em Mt.
Washington, mas diretamente de Sri Das no centro da SRF em Indianapolis, e de
Premananda no centro da SRF em Washington DC.
–– Encontra-se uma pequena joia na East-West de abril de 1946, onde um livro espiritual
do Dr. K. Samras, “ex-membro da Self-Realization Fellowship”, é anunciado. Ele ainda
recebia apoio.
–– Em fins da década de 50, a SRF vendia algumas importantes escrituras à parte das
publicações regulares da SRF: Yoga-Sutras de Patanjali, A Joia Suprema da Sabedoria, de
Shankaracharya , o Ramayana e o Mahabharata, a Bíblia Sagrada. Também se vendia um
livro de receitas vegetarianas, bem como Stories of Mukunda, um livro sobre o jovem
Yogananda, escrito por Kriyananda.
–– Da década de 60 em diante, apenas livros da SRF eram vendidos. “O órgão oficial da
SRF” (como a revista sempre tinha sido chamada) mostrava alguns sintomas de retração.
Em termos gerais: a pulsação da revista naquele ponto aparenta simplicidade,
espiritualmente muito sincera, jovial e leve. Demonstra ainda o direcionamento da SRF
rumo a um monasticismo ocidental tradicionalista.

~~~
Anos 60

A partir de julho de 1961, a revista tornou-se novamente trimestral. (ela vinha sendo
bimestral).
Daí em diante, pelas quatro décadas seguintes, poucas mudanças podem ser
observadas. Eram 64 páginas, e a estrutura permaneceu praticamente inalterada.

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~~~
Anos 70

Em 1970, a “Self-Realization Magazine” virou simplesmente “Self-Realization”.


Ela permaneceu trimestral, mas a partir de janeiro de 1971 passou a ser dividida em
edições da Primavera (Spring), Verão (Summer), Outono (Fall) e Inverno (Winter). Do
meio da década em diante, uma carta de Daya Mata passou a constar na última página. No
geral, a situação da revista permaneceu tranquila. Vishnu, o Preservador, estava no
comando.

~~~
Anos 80

Não se observam muitas ondulações. A revista revela uma feliz consolidação.

~~~
Anos 90

Nos anos 90, a julgar pelas revistas, algo deve ter mexido com a SRF. As revistas, tão
estáveis e inalteradas por décadas, começavam agora a despertar, novamente se
movimentando. Brahma, o Criador, assumiu o controle.
Em 1995, ao que parece, a equipe de design gráfico da SRF foi mudada. Há um óbvio
incremento na qualidade. O design e o layout haviam agora se tornado extremamente
profissionais e bem-feitos. Antes já eram bonitos, mas pareciam mais simples e caseiros.
Todas as revistas da SRF (e todas as capas dos livros) foram a partir de então apresentadas
com o novo design e logotipo da SRF, e foram obviamente produzidas por profissionais de
alta classe.
Em 1999, mais uma vez houve um influxo de nova energia na revista: a SRF aumentou
o número de páginas, de 64 para 80, adicionando artigos de interesse mais geral. No
interior, pela primeira vez, foi utilizada cor, ao invés do tradicional preto e branco. O preço
subiu de 75c para $2. O sentimento básico que a nova revista transmite é: alto
profissionalismo. “O jeito com que nos apresentamos ao mundo é tremendamente
importante para nós”.

~~~
2000

Incluímos aqui informações editoriais públicas que foram impressas anualmente na


Self-Realization. Tais números refletem a distribuição da revista e seu desenvolvimento em
anos recentes.

Na Primavera de 1972, na informação de “circulação total paga”, consta que havia


entre 11.899 – 13.482.
No Inverno de 1984, consta que eram entre 21.488 – 21.957.
No Inverno de 1992, entre 26.332 – 26.396.
No Inverno de 1995, entre 19.393 – 19.048.
No Inverno de 2000, entre 19.069 – 20.604.

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No Inverno de 2001, entre 18.250 – 18.199.
No Inverno de 2002, entre 17.494 – 17.890.
No Inverno de 2003, entre 16.629 – 16.548.
No Inverno de 2004, entre 15.157 – 14.634.

No Inverno de 2005 a SRF parou de publicar essa informação. Os sintomas da revista,


no entanto, eram claros. Sua pulsação estava ficando mais fraca. Médicos foram chamados.
E assim, compreensivelmente, as coisas se agitaram novamente. Em 2005 uma grande
mudança ocorreu na revista: um CD passou a ser incluído, apresentando uma palestra de
um ministro da SRF. O preço sofreu um considerável aumento, de $2 para $6.
O novo mote da revista parece ser: “Ela é feita exclusivamente para vocês, nossos
membros da SRF”. Pois quem mais iria adquirir palestras de ministros por $6? Com tal
estratégia, os números podem ter caído ainda mais, tememos.
Para não deixar dúvidas: a energia da revista continua certamente bela, inspiradora e
sátvica. Muita energia positiva flui nela. Universalidade é outra vez presença em suas
páginas: por exemplo, na edição de Outono de 2006, encontramos sabedoria de vários
grandes Mestres, como Ramakrishna, Vivekananda, Ram Das, etc. É possível sentir que
devotos sinceros estão por trás, tentando fazer a revista decolar.

~~~
2010

A revista continua bela, sem modificações desde 2005. A carta no final da revista pode
vir a ser de Mrinalini Mata. É possível que não ocorram maiores mudanças durante sua
presidência, tendo em vista que ela tem mais de 80 anos, mas nunca se sabe. Resta observar
o que o futuro irá trazer. Como vimos, a revista passou por muitas mudanças ao longo dos
anos, correções, altos e baixos. A revista certamente continuará a evoluir, e o leitor atento
poderá sentir o clima no interior das paredes monásticas da SRF.

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Capítulo 4
A História da Kriya Yoga

Kriya Yoga, “a via aérea até Deus”, ainda que continue relativamente desconhecida
nos dias de hoje, apresenta-se a nós com um passado e uma história incríveis. Sua luz tem
brilhado no firmamento dos séculos, como redentora de incontáveis almas. Sua história está
repleta com os mais ilustres santos e mestres. Todos nós que fazemos parte desta sagrada
tradição da Kriya estamos nos banhando em suas silenciosas bênçãos. Os Kriya Iogues
estão vinculados a um legado verdadeiramente fascinante.
Quando falamos em Kriya Yoga, pensamos principalmente em Yogananda e sua
linhagem de Gurus de Kriya: Mahavatar Babaji, Lahiri Mahasaya, e Sri Yukteswar. No
entanto, o que vemos é como uma corrente que puxamos apenas um tantinho de dentro do
oceano, e isso é tudo que podemos ver. A corrente mesmo vai fundo no oceano, até Deus
sabe onde!
A Kriya Yoga, dizem, se estende até os longínquos primórdios da vivência iogue. Por
que? A razão é que a Kriya, a mais elevada técnica de Raja Yoga, se baseia em fatos
centrais e universais da natureza humana. "A ciência da Kriya Yoga é eterna. É verdadeira
como a matemática; como as simples regras de soma e subtração, a lei da Kriya nunca será
destruída. Reduzam-se a cinzas todos os livros de matemática; a menta lógica sempre
redescobrirá essas verdades. Suprimam-se todos os livros de ioga; seus princípios
fundamentais serão revelados outras vez, sempre que aparecer um sábio com devoção pura
e, consequentemente, conhecimento puro”. (Sri Ananda Mohan Lahiri, um neto de Lahiri
Mahasaya, citado na Autobiografia de um Iogue). A Kriya, obviamente, nem sempre foi
chamada “Kriya Yoga”. Babaji a renomeou “Kriya Yoga” para esta época. Yogananda
escreve: “Algumas escrituras descrevem a Kriya Yoga como Kabali Pranayama” (ou
Kevali Pranayama, ou Kevala Pranayama, conforme o dialeto. “Kevala” significa
“sozinho”, referindo-se ao Eu). “Kabali Pranayama foi considerada a maior de todas as
técnicas para o controle do prana (força vital)”. Ela conduz cientificamente o devoto ao
estado de não-respiração. “Ausência de respiração é imortalidade”. O resultado é Bem-
Aventurança Cósmica.
“A Kriya é uma ciência antiga”, Yogananda escreve. Lahiri Mahasaya recebeu-a de seu
grande guru, Babaji, que redescobriu e esclareceu a técnica depois das Idades das Trevas,
época em que esteve perdida. Babaji revelou a Lahiri Mahasaya: "A Kriya Yoga que estou
transmitindo ao mundo por seu intermédio neste século XIX é a revivificação da mesma
ciência que Krishna deu há milênios a Arjuna; e que foi mais tarde conhecida por Patânjali

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e Cristo, e por São João, São Paulo, e outros discípulos”. Vamos dar uma olhada em alguns
desses mundialmente famosos santos kriyabans, já que pelo menos conhecemos esses elos
da corrente da Kriya!

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Bhagavan Krishna
Por volta de 700 a.C (e outras encarnações muito anteriores)

Sri Krishna, um avatar, ensinou Kriya Yoga, como acabamos de dizer. Arjuna e seus
heróicos irmãos Pandavas receberam dele a técnica de Kriya. Só a vida de Krishna como
um mestre de Kriya já seria suficiente para deixar a história da técnica inesquecível. Mas,
de novo, o que vemos é apenas a superfície de uma longa corrente invisível: Krishna já
havia ensinado Kriya em suas vidas passadas. “Em uma encarnação anterior” ele iniciou
Vivasvat em Kriya Yoga, conforme Yogananda escreve em sua Autobiografia de um Iogue,
explicando uma certa passagem no Bhagavad Gita. Vivasvat, por sua vez, iniciou Manu
(seu filho), o grande legislador da Índia. Mais tarde, Manu iniciou seu próprio filho
Ikshwaku. Para os Ocidentais, esses nomes não dizem muita coisa. Para os Hindus, no
entanto, sim. É como se aprendêssemos no Ocidente: “Krishna ensinou Kriya a Noé”. No
Hinduísmo, Manu é considerado o progenitor da humanidade, tendo deixado leis e regras
religiosas para a vida Hindu. Ikshvaku é considerado como tendo sido o primeiro rei da
antiga Índia (e fundador da Dinastia Solar). Estamos falando de eras atrás, muito mais
antigas do que nossa história ocidental está acostumada a tratar. Para os interessados, aqui
está a passagem particular do Bhagavad Gita, na qual Krishna revela seu papel na antiga
história da Kriya Yoga:

“Disse o sublime Senhor a Arjuna: 'Eu conferi esta Yoga imperecível a Vivasvat;
Visvavat transmitiu este conhecimento a Manu; Manu o ensinou a Ikshvaku. (4:1)
Transmitido desse modo, em sucessão ordenada, o conhecimento chegou aos Rajarishis
(rishis régios). Entretanto, Arjunada, em virtude de se ter passado muito tempo, já não se
via mais esta Yoga na terra. (4:2) Agora eu te fiz saber a respeito desta mesma yoga antiga,
porque és meu devoto e amigo" (4:3) Arjuna então pergunta como isso pode ser possível,
uma vez que Vivasvat viveu muito tempo antes de Krishna. Krishna responde: 'Muitos

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nascimentos foram experimentados por mim e por ti. Eu conheço-os a todos, enquanto tu
não tens lembrança deles'”. (4:5)

Em resumo: Krishna se refere à incrível antiguidade da Kriya Yoga, e ao fato de ter


andado por aí desde sempre, em uma forma ou outra, para ensiná-la e revivê-la. A Kriya era
sempre de novo ensinada, mas sempre também acabava sendo perdida, com o vai e vem das
Yugas. A história da Kriya Yoga é um longo registro de grandes iogues que levaram esta
ciência mais e mais vezes de volta ao seu papel principal, com Krishna estando sempre nas
rédeas. No atual ciclo desta Yuga, também, a Kriya Yoga foi guardada por “rishis reais” até
a chegada da era materialista. E então, devido ao segredo sacerdotal e à indiferença dos
homens, o sagrado conhecimento foi gradualmente se tornando inacessível. E mais uma vez
Krishna, na forma de Mahavatar Babaji, a trouxe novamente à vida de maneira espetacular,
em um palácio de ouro. Um renascimento espiritual tomou impulso nesta era, que “rodeará
o globo e ajudará a estabelecer a fraternidade entre os homens: uma unidade baseada na
percepção direta do Pai Único”.

~~~
Elias
Por volta de 850 a.C

Elijah (Elias) é descrito como o mais sublime e maravilhoso profeta do Antigo


Testamento. Elijah foi o Mestre de Elisha (Eliseu), que, de acordo com Yogananda,
renasceu mais tarde como Jesus Cristo. Elijah (e portanto Elisha) praticaram Kriya, ou uma
técnica bastante similar (ver Autobiografia de um Iogue). Elijah, assim como Kabir e Jesus,
através da Kriya Yoga, conseguia desmaterializar seu corpo à vontade. Na morte, ele
“simplesmente” ascendeu em uma “carruagem de fogo”. Yogananda explica: “Alguns
iogues, como Elijah ou Kabir, converteram seus corpos em correntes astrais e os fundiram
na Luz Cósmica, sem a necessidade de enfrentar o fenômeno comum da morte”.
Kriya Yoga era o seu “truque”! Seja como for, embora desconhecido da maioria das
pessoas, temos que a Kriya Yoga esteve proeminentemente representada também no Antigo
Testamento. Desse modo, também os judeus poderiam ser inspirados a praticar Kriya.

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~~~
Patânjali
200 a.C. – ninguém sabe ao certo

Patânjali foi um dos antigos avatares, sendo atualmente conhecido como o “Pai da
Yoga”. Ele foi o grande expoente da Raja Yoga, e ensinou ashtanga yoga (yoga de "oito
membros") em seus famosos Yoga Sutras. Os ensinamentos de Patânjali ocupam lugar
central na yoga, e jamais poderiam ser ignorados na história. E, bem: Patânjali também foi
um Kriya Iogue, como afirma Babaji na Autobiografia de um Iogue. E curiosamente, Georg
Feuerstein (um dos mais destacados estudiosos de yoga na atualidade), em sua aclamada
obra Enyclopedic Dictionary of Yoga, escreve: “Ainda que a Yoga de Patânjali tenha
alcançado fama devido a seu caminho óctuplo, é bem provável que tal sistematização tenha
sido meramente citada por ele, e que sua contribuição original à Yoga tenha sido a Kriya
Yoga”.

~~~
Shankaracharya
A maioria acredita que por volta de 700 d.C., outros o situam em 500 a.C

Shankaracharya (Shankara), maior expoente da filosofia Vedanta Advaita (não


dualista), foi o reformador da antiga Ordem dos Swamis na Índia. Todos os dez ramos da
ordem retrocedem até ele, como o primeiro, “Adi” Shankaracharya. E assim, todos os
swamis podem traçar sua linhagem espiritual até um guru em comum, Shankara. Ele é,
certamente, uma das maiores figuras na tradição iogue. Shankaracharya é amplamente
reconhecido como um gênio da filosofia, um santo da mais alta classe, um incrível
astrólogo e escritor. Ele fundou os quatro principais “Shankaracharya Maths”, onde as

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quatro principais autoridades espirituais da Índia residem ainda hoje, nos quatro pontos
cardeais da Índia.
Mahavatar Babaji afirma na Autobiografia de um Iogue que foi ele mesmo quem
iniciou Shankara em Kriya Yoga. Yogananda narrou a fascinante história de como
Shankaracharya veio a aceitar a iniciação em Kriya de Babaji.

~~~
Jesus Cristo

Jesus viveu na Índia durante seus 18 “anos perdidos”, tendo praticado e ensinado Kriya
Yoga. Seus discípulos, os apóstolos, também foram Kriya Iogues, conforme afirma Babaji.
Até mesmo São Paulo, que não conheceu Jesus pessoalmente, recebeu Kriya, diretamente
de Jesus em uma visão, ou de seus discípulos diretos, segundo o estilo indiano. Através da
Kriya Yoga, São João pode compartilhar suas experiências cósmicas: “No início era o
Verbo...” No Apocalipse, ele fala sobre o mistério das “sete estrelas”, e das “sete igrejas”.
Pela Kriya Yoga, São Paulo foi capaz de declarar: “Eu morro todos os dias!” A Kriya Yoga
poderia ser ousadamente descrita como a essência do Cristianismo, e os Kriya Iogues como
os mais autênticos Cristãos. Jesus ainda hoje trabalha de mãos dadas com Babaji, como diz
Yogananda. Através deles, a Kriya Yoga irá finalmente se espalhar em todos os cantos do
mundo. Os Kriya Iogues de hoje são precursores espirituais, pioneiros, assim como foram
os primeiros cristãos. Que eles possam manter a chama da Kriya sempre acesa.

~~~
Kabir
1440 – 1518

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Kabir também foi um grande Mestre de Kriya, como lemos na Autobiografia de um
Iogue, e recebeu a iniciação de Mahavatar Babaji. Kabir foi chamado de o “Mestre Sem
Credo”, que zombava da ancestral rivalidade entre Hindus e Muçulmanos. Com alegria, era
o guru de ambos. O ato final da vida de Kabir exemplifica de uma linda maneira os seus
ensinamentos não-sectários: em sua morte, os discípulos estavam discutindo se o corpo dele
deveria ser enterrado, ao estilo Muçulmano, ou queimado, segundo as tradições Hindus.
Kabir levantou-se dos mortos, e lhes disse: “Metade de meus restos deve ser enterrada
conforme os ritos islâmicos, e a outra metade deverá ser queimada com uma cerimônia
hindu”. Ele então desapareceu. Quando os discípulos abriram o caixão em que seu corpo
havia sido confinado, não havia mais nada senão uma deslumbrante variedade de flores
douradas. Metade delas foi obedientemente enterrada pelos muçulmanos, que veneram seu
santuário até hoje. A outra metade foi utilizada para os rituais hindus. Se Kabir retornasse
nos dias de hoje, novamente como um santo kriyaban, ele provavelmente iria trabalhar duro
para desfazer as infantis controvérsias existentes entre as diversas linhagens de Kriya, que
alegam: “A nossa tradição da Kriya é a verdadeira, a maior e a original”. Ele poderia
responder (à maneira poética de Kabir): “Todos que se banham no Ganges da Kriya são
meus filhos”. E também: “É o desabrochar que conta, e não a flor!”.

~~~
Trailanga Swami
1601-1881

Trailanga Swami foi descrito por seus devotos como “o maior entre os Kriya Iogues
conhecidos”. Ele foi um rebelde, uma renomada criança problema, sempre nu,
enormemente gordo, ministrando publicamente todos os tipos de assombrosos milagres. Ele
foi um bom amigo de Lahiri Mahasaya. O guru de Trailanga se chamava Bhagiratananda
Saraswati, que o iniciou em Kriya Yoga. Trailanga Swami veio a ser conhecido como
Sachal Vishwanath (Lorde Vishwanath, ou Shiva, ambulante). Segue uma pequena história,
típica de sua personalidade tumultuosa: Ramakrishna, o grande mestre, se dirigiu a Benares
para conhecer Trailanga Swami em 1869. Trailanga levou sua urina e a aspergiu sobre o
ídolo da Deusa que Ramakrsiha adorava, e perguntou a ele: “Qual é a diferença entre minha
urina e a água do Ganges?” Ramakrishna, ao invés de se sentir ofendido ou provocado,
percebeu que as palavras de Trailanga se originavam de sua verdadeira realização interna.
Ele falou de Trailanga: “Percebi que o Próprio Senhor Universal estava utilizando o corpo
dele para se manifestar”.

39
~~~
Mahatma Gandhi
1869-1948

O Mahatma (“grande alma”) também se tornou um Kriya Iogue, através de Yogananda.


Desse modo, ele também reconheceu a grandeza do que Yogananda ensinava, e agora faz
parte da tradição da Kriya.
“Outros profetas”, conforme Yogananda escreve em sua Autobiografia de um Iogue,
também praticaram Kriya, e são parte da corrente da história da Kriya. O antigo Rei Janaka,
da Índia (guru de Sukdeva, que era o filho de Vyasa, o autor do Mahabharata), a quem
Krishna menciona no Bhagavad Gita, foi um deles, segundo Yogananda escreveu.
É claro que neste período recente teríamos que acrescentar à história da Kriya os
sublimes discípulos de Babaji, Lahiri Mahasaya, Sri Yukteswar, e Yogananda. Swami
Kebalananda é apenas um dos luminosos exemplos, tendo dito: “Eu próprio considero a
Kriya o mais eficaz recurso de salvação pelo esforço pessoal, que já foi desenvolvido, na
busca do ser humano pelo Infinito”.
E assim como a Kriya Yoga possui um passado incrível, Jesus, Krishna, Patânjali e
Shankaracharya, entre outros, da mesma forma seu futuro será glorioso. A corrente da
Kriya é energética, e continua aumentando.
Yogananda escreve em sua Autobiografia de um Iogue: “A função abençoada da Kriya
Yoga está apenas começando!” Basta agora de história e teoria. Lahiri Mahasaya nos
aconselha:

“Continuem incessantemente na senda de libertação através da Kriya, cujo poder reside


na prática”. Vamos então permitir que essas correntes fluam, fluam e fluam, até que
possamos finalmente exclamar: “JAI KRIYA YOGA!”

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Capítulo 5
Uma Breve História
de Hong-Sau, Exercícios de Energização
e Técnica de OM

Hong Sau

A técnica de Hong Sau, como a maioria dos devotos já sabe, não é uma técnica que
Yogananda tenha criado algumas décadas atrás. Ele é antiga, e tem sido praticada há eras
por incontáveis iogues, assim como a Kriya Yoga e a Técnica de OM. E também, Hong Sau
não foi algo que Yogananda aprendeu de Sri Yukteswar. Ele aprendeu de algum outro
iogue, e então a incluiu em seus ensinamentos de Kriya. É por isso que outras linhagens de
Kriya não praticam Hong-Sau. O que Sri Yukteswar pensava desse acréscimo? Em uma
carta a Yogananda, citada na Autobiografia de um Iogue, ele diz: “Lendo sobre seus
métodos de afirmações repetidas, vibrações curativas e preces para a cura divina, tenho que
agradecer-lhe de todo o coração”. Sri Yukteswar certamente expressou a mesma apreciação
pela técnica de Hong-Sau, caso contrário Yogananda jamais a teria ensinado. “Hong-Sau” é
a pronúncia Bengali do mantra Sânscrito “Hamsa”, ou “Hansa”. Pelo menos é assim que
geralmente se explica. Ou será que “Hong Sau” não é apenas em Bengali? Quem sabe
como “Hamsa” era pronunciado em tempos antigos! Certa vez Swami Vivekananda teve
uma visão de antigos rishis recitando mantras sânscritos, e afirmou que eles soavam
bastante diferentes da maneira com que são entoados atualmente. Yogananda escreve em
sua Autobiografia: “Ham-sa (pronuncia-se hong-sau)…” Em outras palavras, ele
simplesmente declara que Ham-sa é realmente pronunciado “Hong-Sau”. Seria Yogananda
um fanático Bengali, ou havia nele algum conhecimento mais profundo? Hong Sau, como
dissemos, chegou até nós vindo de um passado muito distante. “Hamsa” (Hong-Sau) já
pode ser encontrado no mais antigo dos Vedas, o Rig Veda (1550 a.C., sendo em data
anterior transmitido oralmente). Ele se refere ao Senhor Supremo. Nas escrituras iogues
também assume papel do Eu (atman). Hamsa deriva das palavras sânscritas “Aham-Sa,”
significando literalmente "Eu sou Ele". Hamsa (Hong-Sau) é explicado nas antigas
escrituras iogues como o próprio som da respiração sutil: a entrada do prana no corpo causa
o som “ham”, e a ejeção do prana do corpo o som “sa". Desse modo, considera-se que o
próprio corpo recita automaticamente esse som mântrico 21.600 vez por dia. Esse som

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espontâneo é amplamente conhecido como “Ajapa Mantra” (mantra não-pronunciado), ou
“Ajapa-Gayatri,” (Gayatri Mantra não-pronunciado), ou simplesmente “Hamsa-Mantra.”
Em sua Autobiografia Yogananda afirma algo semelhante: “Ham-sa (pronuncia-se
hong-só) significa literalmente ‘Eu sou Ele’. Estas potentes sílabas sânscritas têm relação
vibratória com a inspiração e a expiração”.
Yogananda descreveu esses sons mântricos como “sagrados”. Os textos antigos
concordam. O “Gheranda-Samhita” instrui a recitar esse potente som constantemente, a fim
de atingir um estado de exaltação. “Aham”, quando pronunciado na forma mântrica de
“Hong”, se torna um mantra bija (semente), vibrando com a inalação. Sua vibração
corresponde, como ensinam os tratados de yoga, à corrente ascendente “ida”. “Sa” torna-
se “Sau” na forma mântrica, e vibra com a exalação, e com a corrente descendente
“pingala”.
A antiga técnica de “Hong-Sau” visa levar o iogue a uma calma mental, ajudando-o a
atrair sua energia para o interior, e conduzi-lo naturalmente ao estado de não-respiração.
Neste estado, a dupla vibração de “Hong” e “Sau” funde-se na vibração única onipresente,
Aum. Vários Mestres e escrituras não ensinam “Hong-Sau”, mas “So- Ham”. Na Índia,
alguns iogues ensinam a versão sânscrita “Hamsa”. Todas as tradições merecem respeito,
mas os discípulos de Yogananda deveriam praticar aquilo que seu Guru ensinou. Se seu
devoto pensar: “Talvez a versão sânscrita oficial, ou a versão invertida, sejam melhores
para praticar”, bem, esse devoto pode simplesmente não possuir algumas noções básicas de
discipulado. E se, por outro lado, ele pensar: “Devo converter outras pessoas ao ‘melhor
mantra’ de meu Guru”, novamente alguma compreensão parecerá estar faltando. Acerca do
antigo simbolismo de Hamsa/Hong-Sau: “Hamsa” tradicionalmente se traduz como
“cisne”, (ainda que, literalmente, signifique ganso), que nas antigas escrituras indianas é o
veículo de Brahma, o Espírito Supremo. Também se diz que o cisne possui o conhecimento
sagrado de Brahma. O vôo do Hamsa, portanto, simboliza a fuga do ciclo de samsara
(reencarnação). O cisne vive na água, mas suas penas não ficam molhadas, e assim,
similarmente, o iogue que pratica Hong-Sau aprende a viver neste mundo material (maya)
sem ser tocado por suas ilusões, tentações e armadilhas.
Com “Hong-Sau”, fortalecemos o inatingível observador interno. (A alma é o
observador, escreveu Yogananda). Na qualidade de símbolo do discernimento, o cisne
Hansa branco é visto como tendo a habilidade de separar a essência do néctar de uma
mistura entre leite e água. Um “Parama-hamsa” simboliza o “cisne supremo”, o maior dos
iogues, um ser liberto. Sim, Yogananda escrevia seu título como “Paramhansa”, e ao que
parece deveríamos honrar sua escolha. “Paramahamsa” poderia, por diversão, ser também
traduzido como o “Hong-Sau supremo”, significando “o supremo Eu-sou-Ele”.

~~~
Os Exercícios de Energização

Em contraste com a ancestral existência da técnica de Hong-Sau, os exercícios de


energização foram uma criação pessoal de Yogananda. Ele os apresentou (ou “descobriu”)
em 1916, conforme escreve em sua Autobiografia. Com o passar do tempo, ele os expandiu
a uma sequência de 49 exercícios.
Os exercícios de energização são a sua preciosa contribuição ao mundo da yoga. No
entanto, é claro que os princípios da energização também são antigos (como o são todos os
verdadeiros princípios), e foram utilizados por incontáveis iogues no passado. Na clássica

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terminologia iogue, tal método é chamado prana-dharana (concentração de prana),
significando a técnica de projetar a força vital (prana) em partes específicas do corpo, a fim
de restaurar a saúde de órgãos, membros, etc. Yogananda, poderia-se então dizer, através
dos exercícios de energização ensinou antigos princípios em uma nova forma. "As pessoas
não sabem o que possuem nestes exercícios”, Yogananda escreveu. Bem executados
(atraindo o prana para o corpo através da medula oblongata pela força de vontade, e a
direcionando às partes do corpo), eles podem realizar milagres de curas físicas e
psicológicas.

~~~
A Técnica de OM

A Técnica de OM que Yogananda ensinou é igualmente ancestral. O som é um dos


mais importantes e antigos meios que os iogues descobriram para focalizar a atenção. É
uma prática de Nada-Yoga, que ocupa um lugar de destaque nos Yoga-Upanishads. A
prática de se ouvir aos sons internos é chamada “Nada-Anusandhana” nos tratados de yoga.
Naqueles antigos textos, o som sutil que o devoto procura ouvir é geralmente chamado de
“Shabda.” O som definitivo a ser ouvido é chamado de “Shabda-Brahman”, o som de
Brahman: “AUM” Afirma-se que o som interno atrai bem-aventurança e conhecimento, e é
descrito como uma embarcação que transporta o iogue através do oceano da ilusão até o
Absoluto.
Curiosamente, em diversas escrituras iogues, os diferentes sons internos foram
associados com diferentes chacras. Como podemos novamente constatar, Yogananda
ensinou sabedoria antiga e sempre nova. E realmente, será que as realidades internas
poderiam alguma vez sofrer alterações?
O “suporte de OM”, por exemplo, que Yogananda recomendava para a prática da
técnica, pode ser encontrado em antigas representações gráficas indianas.

~~~
Jyoti Mudra

“Jyoti-Mudra” (Mudra da Luz), a técnica que Yogananda ensinou para a observação da


luz interior (“Bhagavan Jyoti”), é conhecida em tratados de Yoga como “Shan-Mukhi-
Mudra”, o “selo de seis aberturas”. Ela também é mencionada no antigo “Goraksha
Paddhati”, que a explica como sendo o bloqueio dos ouvidos, olhos e narinas com os dedos:
cobre-se as ouvidos com os polegares, os olhos com os dedos indicadores, e as narinas com
os demais dedos. Este Mudra, lemos naquele texto, é recomendado para a manifestação do
som interno. Yogananda o ensinou para a visualização da luz interna. Interessante!
Pensando bem, ele ensinou que a vibração de OM é experimentada como ambos, som e luz.

~~~
Maha Mudra

Maha Mudra (Grande Mudra) também é uma prática de yoga bastante clássica. Diz-se
no Goraksha Paddhati (mencionado acima) que ela purifica toda a rede de nadis. E a
principal escritura da Hatha Yoga, a Hatha Yoga Pradipika, afirma que a Maha Mudra
desperta a Kundalini-Shakti, a “força serpentina”.

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~~~
O Ponto Entre as Sobrancelhas

Lahiri Mahasaya escreveu em uma carta, citada na Autobiografia de um Iogue: “Quem


atingiu o estado de tranquilidade no qual as pálpebras não pestanejam, alcançou Sambhabi
Mudra.” Este Mudra em particular (também escrito “Shambhavi Mudra”, significando
“Shiva-Mudra”) é um dos mais importantes (e geralmente mantido em segredo) mudras da
yoga. Ele envolve a contemplação fixa no ponto entre as sobrancelhas, na busca de se
tornar completamente absorto no “sinal” interno. “Mudra” significa selo, e Sambhabi
Mudra é talvez o selo mais esotérico de todos, conhecido por santos de todas as religiões
(em suas representações estão sempre olhando para cima). É uma barreira (selo) ao mundo
exterior, com o intuito de se tornar internamente absorto. Yogananda descreveu claramente
esse “sinal” que o iogue contempla em Sambhabi Mudra. É interessante que, como se pode
deduzir da carta de Lahiri Mahasaya (impressa com sua caligrafia), ele ensinou que essa
prática divina deve ser feita com os olhos abertos. Yogananda ensinou que olhos semi-
abertos ou fechados são igualmente bons. A pintura de Babaji é uma perfeita imagem de
Sambhabi Mudra, com os olhos abertos.
Yogananda ensinou que a ancestral Sambhabi Mudra deve ser praticada ao final da
Kriya ou do Hong-Sau, com a mais profunda devoção da alma. Nunca termine sua
meditação com técnicas. Permaneça sentado por longo tempo: “Abandonarei minha mansão
finita para adentrar em minha Infinita Morada através do túnel do Olho Espiritual e da não-
respiração”. Yogananda, pode-se concluir, é um iogue muito mais tradicionalista do que
geralmente se considera, tendo dado continuidade a uma antiquíssima tradição iogue. Ele
ensinou técnicas sagradas e primordiais de yoga da antiga tradição para homens e mulheres
modernos, para você e para mim.
Bem, a coisa mais importante é praticar: banat, banat, ban jai (fazendo, fazendo,
algum dia feito)!

44
Capítulo 6
Questionamento sobre
Autoridade em Kriya Yoga

Este capítulo pode causar alguma controvérsia, como já aconteceu no passado. Vamos
devagar então, respirando fundo! A questão surgiu depois de uma carta que a SRF enviou a
seus membros, datada de novembro de 1995, em que apresenta seu ponto de vista acerca de
muitos tópicos controversos, entre eles um crucial: “Quem está autorizado a conceder
iniciação em Kriya?” A posição deles é que somente os monásticos da SRF possuem tal
autoridade, e não chefes de família, pois assim era a vontade do Guru.
Por um instante, vamos recordar Jesus e os apóstolos. Muito embora fossem evoluídos,
Jesus os repreendeu por não terem compreensão. Depois dele ter deixado o corpo, São
Pedro foi convencido de que sua mensagem era destinada somente aos judeus
circuncidados. Não era isso que Jesus tinha dito? Não era ele o “Rei dos Judeus?” Foi São
Paulo, um forasteiro, quem compreendeu melhor: a mensagem de Jesus era para o mundo
inteiro. É como se esse exemplo histórico acrescentasse um ponto de interrogação na
declaração da SRF sobre a Kriya. E se tal interrogação se provar válida, seria uma pena se
uma falta de compreensão, baseada em inclinações pessoais (todos nós ouvimos aquilo que
estamos preparados a ouvir), prevalecesse sobre aquilo que Babaji nos trouxe. Seria uma
verdadeira lástima se os chefes de família aceitassem em seu coração que são “cidadãos de
segunda classe” no mundo da Kriya, jamais aptos a darem Kriya, e que os monásticos se
sentem superiores a eles. Seria uma pena se a nossa preciosa história da Kriya se
enfraquecesse dessa maneira.
É isso que a carta afirma:
"Devido ao fato de não haver muitos monásticos naqueles primeiros anos,
Paramahansaji deu permissão a uns poucos discípulos chefes de família a conceder Kriya
sob os auspícios da Self-Realization Fellowship. No entanto, à medida em que sua vida ia
chegando ao fim, ele estipulou que a partir de então a Kriya deveria ser ministrada apenas
por monges da ordem da SRF". Vamos dar uma olhada no que a história tem a dizer sobre
essa declaração, que certamente foi exarada com boas intenções: esses “poucos discípulos
chefes de família” a quem Yogananda deu permissão para iniciar em Kriya devido a uma
“falta de monásticos” eram, na verdade, não apenas uns tapa-buracos momentâneos, mas
alguns dos maiores e mais importantes discípulos de Yogananda. E seria realmente uma
questão dos “primeiros anos?” Não exatamente, se olharmos bem. Até o final da vida de
Yogananda, e mesmo durante um bom tempo após, discípulos casados concederam a

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sagrada iniciação em Kriya, no âmbito da SRF. Isso significaria que a SRF foi desobediente
ao desejo de seu Guru (já que ele “estipulou que a partir de então a Kriya deveria ser
ministrada apenas por monges da ordem da SRF”)? Ninguém pensaria isso. A SRF estava
simplesmente fazendo a coisa certa: permitindo que aqueles discípulos casados
continuassem a iniciar em Kriya, uma vez que tinham recebido sua autoridade do próprio
Yogananda.

Aqui estão eles:

- Dr. Lewis, o primeiro Kriya Iogue Americano, não era monge, mas casado. Ele foi
autorizado por Yogananda a dar Kriya, inclusive as iniciações superiores. Sua autoridade
como ministro de Kriya casado nunca foi questionada até sua morte em 1960.

- Yogacharya Oliver Black era altamente evoluído, casado, morava em uma comunidade
espiritual que havia fundado (não a SRF), e foi até sua morte um reconhecido ministro de
Kriya. Seu nome aparecia nas SRF Magazines (até 1986, ou posterior), nas listas de
ministros autorizados a iniciar em Kriya Yoga.

- Rajarsi Janakananda também era casado. Sua esposa Frieda morreu depois dele (ver o
livro de Durga Ma). É claro que Rajarsi, como sucessor de Yogananda, tinha sido
autorizado a iniciar discípulos em Kriya Yoga. Ninguém jamais lhe perguntou: “Mas, o
senhor é monge?” Parece uma pergunta equivocada.

- Prabhas Ghose, o vice-presidente indiano da YSS (o presidente americano da SRF


também é o presidente da YSS) até 1975, foi um homem casado. Ele era primo de
Yogananda e se casou, como Yogananda escreve na Autobiografia, com "uma das garotas
que minha família havia selecionado como uma possível esposa para mim” Prabhas tornou-
se o vice-presidente casado da YSS, e iniciava em Kriya Yoga.

- Peggy Deitz abandonou a vida monástica, seguindo orientações de Yogananda. Depois


disso, em uma carta datada do início de 1952, Yogananda escreveu carinhosamente para ela
e sua mãe: "Vocês duas estão entre meus maiores tesouros de amizade e devotas da SRF de
todos os tempos... fico tão feliz que Peggy seja uma excelente ministra espiritual da Auto-
Realização”. Na mente de Yogananda, Peggy era simplesmente uma ministra não-
monástica, e pediu a ela que desse iniciação em Kriya lá fora, para qualquer pessoa a quem
se sentisse orientada a dar. Isso foi bem no final da vida dele.

- Kamala Silva se casou com Edward Silva a pedido de Yogananda, que autorizou Kamala
a conceder a sagrada iniciação em Kriya. Ela escreve que em 1950, durante uma cerimônia
de Kriya, Yogananda a abençoou, orou silenciosamente, e lhe disse: “Deus te abençoe.
Estou dando minhas bênçãos pelos milhares que você irá iniciar em Kriya Yoga”. Parece
claro que Yogananda entregou a ela uma responsabilidade vitalícia pela Kriya, na qualidade
de mulher casada. (É possível ouvir a gravações da linda voz de Kamala no site
www.kamalasilva.org)

É por isso que a carta deve ser seguida por um notável ponto de interrogação. Seria
possível fortalecermos esse ponto, ao dar-lhe ainda mais conteúdo? Talvez. Vamos dar uma

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olhada em nossa história maior da Kriya. Será que Yogananda não iria dar continuidade aos
exemplos de seu Guru e Paramgurus? É improvável (embora não obrigatoriamente). Seja
como for, qual foi o exemplo que os Mestre de nossa linhagem de Kriya deram? Nenhum
deles desenhava uma linha divisória entre monásticos e chefes de família no momento em
que decidiam a quem conceder autoridade para ministrar Kriya.

- Mahavatar Babaji, como lemos na Autobiografia, escolheu um chefe de família, Lahiri


Mahasaya, como um instrumento para a disseminação da Kriya Yoga pelo mundo,
afirmando que era para um “propósito superior". Ele fez com que um chefe de família desse
iniciação em Kriya dia e noite, trazendo de volta à sociedade aquela ancestral arte perdida.
Pessoas normais "receberão nova inspiração de você, um chefe de família como eles",
Babaji disse a Lahiri. Será que deveríamos abandonar essa orientação em nossos tempos
modernos?

- Lahiri Mahasaya, chamado de "Pai da Kriya Yoga", autorizou tanto discípulos chefes de
família quanto swamis a dar iniciação em Kriya. Panchanon Battacharya era chefe de
família, ao passo que Swami Pranabananda era renunciante. Na verdade, a maioria das
linhagens derivadas de Lahiri proclama que os chefes de família deveriam assumir o papel
predominante na divulgação da Kriya Yoga.

- Sri Yukteswar foi pai de família, com mulher e filha, durante a maior parte do tempo em
que Lahiri Mahasaya esteve vivo. Ele se tornou Swami apenas quando conheceu Babaji,
pouco tempo depois da morte de Lahiri. Sri Yukteswar também autorizava tanto chefes de
família quanto swamis a conceder a sagrada iniciação em Kriya. Um exemplo de chefe de
família é Motilal Mukkherjee, descrito edição original da Autobiografia de um Iogue como
um “discípulo altamente avançado".

- Paramhansa Yogananda, seguindo a orientação de seu Mestre, durante toda sua vida
autorizou chefes de família e monásticos a darem Kriya.

Será que esses exemplos não acrescentam valor a nosso ponto de interrogação? E já
que estamos falando nisso: não podemos deixá-lo ainda mais sólido? Vamos lançar o olhar
para ainda mais longe em nossa antiga história da Kriya: lemos que Bhagavan Krishna foi
casado, assim como o “Pai da Yoga” Patânjali. Ambos foram mestres de Kriya casados,
conforme Yogananda. É claro que existe um equilíbrio: exemplos históricos de
Kriyacharyas (mestres de Kriya) monásticos seriam Adi Shankaracharya e o Senhor Jesus
(ambos ensinavam Kriya ou uma técnica similar, de acordo com Yogananda).

A carta da SRF prossegue dizendo que Yogananda deu origem à política de que
“apenas o presidente, na qualidade de representante de Paramahansa Yogananda, possui a
autoridade de iniciar em Kriya Yoga”, e que ele/ela anualmente nomeia ministros
ordenados para conduzir as cerimônias de Kriya. Tal declaração também não poderia passar
sem nosso tranquilo ponto de interrogação. A SRF afirma que essa política se originou de
Yogananda. É possível que tenham se enganado? Outros discípulos afirmam que tal política
foi instaurada somente anos após o falecimento do Mestre. Bem, não vamos discutir aqui,
mas simplesmente conservar um sensato ponto de interrogação:

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Teria Yogananda realmente rompido com a tradição indiana de Guru-discípulo, que
autoriza o discípulo? Teria ele realmente limitado a autoridade mundial da Kriya não
apenas para sua organização, mas para uma única pessoa (atualmente Mrinalini Mata)? Que
tipo de energia uma política dessas acaba gerando? Não ficariam os Kriyacharyas
automaticamente desautorizados, enfraquecidos? Seria esse o método de Babaji para
divulgar a Kriya em todos os países?

Existe uma carta de Yogananda, escrita quatro meses antes de seu falecimento, datada
de 13 de novembro de 1951, dirigida a um chefe de família indiano da cidade de Puna,
chamado K.S. Bylani. Yogananda escreve: "Por favor, inicie em Kriya Yoga apenas
aqueles membros de sua família que estiverem profundamente interessados e que você
achar que praticarão diariamente. Deus abençoe você e sua família. Minhas orações estarão
com cada um de vocês”.
Segue aqui uma divertida e interessante conversa entre Yogananda e Peggy Deitz
(extraída do livro Thank You, Master). "Ele disse para me sentir à vontade para ministrar
Kriya ou qualquer outro de seus ensinamentos a qualquer pessoa que eu achasse que
deveria. Reagi sonoramente: ‘Mestre, não posso fazer isso. O pessoal do escritório vai ter
um treco!’ Ele respondeu: ‘Sua tolinha divina, a quem você está seguindo, ao escritório ou
a mim?’”

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Capítulo 7
Swamis Chefes de Família:
o Gesto Histórico de Babaji

Apresentamos uma questão “apimentada” capaz de provocar enorme resistência entre


os devotos mais ortodoxos: “A tradição da Kriya Yoga permite que uma pessoa casada, um
pai de família, torne-se um swami, mesmo enquanto ainda está vivendo com seu cônjuge?”
"O QUE? NÃOOOO MESMO!" ressoam indignadas as vozes da ortodoxia indiana.
Suas contrapartes ocidentais também não reagiriam de outro jeito: católicos mais ortodoxos
se opõem veementemente à idéia de um homem casado se tornar padre. É uma ofensa
inaceitável a sua antiga tradição. Ainda assim, na Autobiografia de um Iogue lemos um
relato de um evento histórico ocorrido na Kumbha Mela onde Babaji fez de Sri Yukteswar
um Swami. Isso aconteceu durante a vida de Lahiri Mahasaya: em janeiro de 1894, de
acordo com o livro A Ciência Sagrada.
Lemos ainda na Autobiografia que posteriormente Sri Yukteswar foi oficial e
formalmente iniciado em Bodh Gaya: "Após a morte de minha esposa, ingressei na Ordem
dos Swamis e recebi o novo nome de Sri Yukteswar Giri". Isso aconteceu após a vida de
Lahiri Mahasaya (depois de setembro de 1895), conforme Yogananda explica em uma nota
de rodapé: “'Yukteswar' era seu nome monástico, o qual ‘não recebi durante a vida de meu
guru Lahiri Mahasaya”. (Swami Prajnanananda escreveu uma biografia de Sri Yukteswar, e
descreveu esse evento formal: "Swami Shriyukteshwarji foi iniciado em sannyas, vida
monástica, por Swami Krishna Dayal Giri de Bodhagaya, no Guru Purnima, em plena lua
cheia, em julho de 1906"). Em uma análise clara das citações de Yogananda, constatamos:
quando Babaji fez Sri Yukteswar um Swami na Kumbha Mela, sua esposa ainda estava
viva. Ele era um homem casado. Babaji, portanto, fez de Sri Yukteswar um “Swami
casado”. Sri Yukteswar, naqueles primórdios, chamava a si mesmo, adequadamente, de
"Priya Nath Swami," como se lê em seu livro A Ciência Sagrada. Priya Nath era seu nome
de família. Ele foi um pioneiro do gênero “Swami de família”.

E ainda tem mais:


Yogananda tornou Rajarsi Janakananda um Swami, conferindo-lhe o manto laranja e
um nome de Swami em 1951, em uma formalidade completa com votos e cerimônia,
enquanto ainda era casado. Sua esposa Frieda morreu depois dele. Ela foi, segundo o livro
de Durga Mata, a razão pela qual Rajarsi acabou sendo enterrado em Kansas, e não em Los
Angeles próximo a seu Mestre. Yogananda, portanto, tornou Rajarsi também um “Swami
casado”.
Então, pelo jeito, a senda da Kriya não é assim tão ortodoxa? Seria porque foi
projetada para a Dwapara Yuga? Adeus, velhos tabus. Nos vemos na próxima Kali Yuga!

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Capítulo 8
Histórias que não se Devem Esquecer

As citações que seguem (todas extraídas de antigas edições da Autobiografia de um


Iogue) lançam luz sobre diversas características formidáveis de Yogananda. Elas
representam um espírito e uma história a ser lembrada – até mesmo a ser protegida.

A Medalha de Ouro Humanitária de Yogananda

Yogananda não era apenas o monge contemplativo, mas também extremamente


expansivo. É neste espírito que, nas primeiras edições da Autobiografia de um Iogue, ele
encorajava os membros a “não se isolar da comunidade, mas levar vidas equilibradas de
meditação E atividades exteriores construtivas”.
Yogananda apreciava sobremaneira obras humanitárias, mesmo as realizadas fora de
sua própria organização. E assim, ele criou as “Medalhas de Ouro da SRF para os Serviços
à Humanidade”, que eram entregues anualmente como recompensa a prestadores de obras
humanitárias nos campos da religião, arte, ciência e serviço público. Durante as
festividades de abertura do India House em 1951, ele apresentou oito dessas Medalhas de
Ouro. Nelas havia o entalhe de “uma Cruz, uma estrela de cinco pontas com o olho da
sabedoria no centro e uma flor de lótus – suas raízes na lama e suas pétalas ao sol, um
símbolo da ascensão do plano mortal à divindade”.
Uma parte do Mestre e de sua história que não deve ser perdida!

~~~
As Lojas de Caridade de Yogananda e o Fundo Social

Nas edições 3 a 5 da Autobiografia de um Iogue (1951-1955) lemos sobre as lojas


sociais de Yogananda: renunciantes vendiam doações realizadas por membros e amigos da
SRF. A renda dessa atividade era revertida “totalmente para fins de caridade”. Yogananda
chegou mesmo a criar um “Fundo Social da SRF”, ao qual os renunciantes (que não
recebiam salário) faziam doações. Através dele, pode-se ler, eram enviados alimentos a
“crianças na Índia e na Europa”.
Isto parece uma outra preciosa característica de Yogananda que deveria ser conservada.

50
~~~
O Espírito Universal de Yogananda

Ainda tirado das antigas edições da Autobiografia de um Iogue: Yogananda, em seu


belíssimo espírito universalista, chamava todas as suas igrejas de “Igreja de Todas as
Religiões” (Church of All Religions); a “SRF Church of All Religions em Washington,
D.C.”, “SRF Hollywood Church of All Religions”, “SRF Church of All Religions em San
Diego”, e “uma outra em Long Beach”. Atualmente, apenas a Igreja de Hollywood
conserva aquele histórico nome.
Lemos também sobre a característica distinta de “benevolência universal” de
Yogananda na Church of All Religions em Hollywood: “Uma benevolência universal
emana de pequenos nichos em que repousam estátuas de Lahiri Mahasaya, Sri Yukteswar,
Krishna, Buda, Confúcio, Moisés, São Francisco e uma linda representação em
madrepérola de Cristo na última ceia”.
Nessa mesma igreja havia originalmente dois púlpitos, por uma razão específica: o
plano de Yogananda era utilizar um deles para os ministros da SRF, enquanto o outro seria
utilizado por ministros convidados de outras religiões – em sua mente, ele mantinha uma
verdadeira “Igreja de Todas as Religiões”. Na edição de 1946 Yogananda expressa ainda
seu espírito universalista de outra maneira: “Faremos preparativos aqui (Encinitas) para
receber muitas conferências e Congressos de Religião, convidando delegados de todas as
nações. Bandeiras dos países irão tremular em nossos salões. Templos em miniatura serão
erguidos no terreno, dedicados às principais religiões do mundo”.

~~~
Yogananda e Liberdade

É interessante ler (na Autobiografia de um Iogue em edições anteriores a 1955) que


Yogananda se referia a Swami Premananda como “o fundador da Igreja da SRF em
Washington, D.C”. Na edição original de 1946, Yogananda escreveu algo similar: “...
durante uma visita a seu (de Premananda) novo templo...” Ao que parece, o Mestre tinha
concedido uma boa dose de independência a outros.
Babaji, no que diz respeito à Kriya Yoga, igualmente parece ter dado bastante
liberdade. Ele deixou a Lahiri Mahasaya a liberdade de desenvolver a Kriya segundo seu
próprio discernimento: Lahiri, como lemos na Autobiografia, "cuidadosamente subdividiu a
Kriya em quatro iniciações progressivas", e "sabiamente determinou os quatro passos
essenciais, os que possuem o maior valor prático”. Noutras palavras, ele desenvolveu a
Kriya que havia recebido de Babaji. E assim também Sri Yukteswar e Yogananda, pois
ambos inseriram pequenas alterações que julgaram apropriadas para o ensino de Kriya a
seus discípulos. A essência da técnica permaneceu a mesma, obviamente, mas infelizmente
isso deu início a um bocado de discussões entre discípulos acerca de qual Kriya é melhor,
mais pura e original. Yogananda também incluiu nos procedimentos da Kriya os seus
exercícios de energização, os quais, segundo escreve, “descobri em 1916”, bem como a
técnica de Hong Sau.
Neste contexto, é interessante ler a carta de Sri Yukteswar a Yogananda (no capítulo
37 do livro), na qual ele o agradece por “seus métodos de afirmações repetidas, vibrações
curativas e preces para a cura divina". Yogananda, como vemos, ensinava seus próprios
métodos. Ele era, obviamente, um Mestre iluminado, e não seriam muitos de nós que teriam

51
esse mesmo direito. Seja como for, essa carta passa uma impressão de que a Kriya Yoga é
um caminho espiritual dinâmico, vivo.
Esta é uma grande e importante questão. Até que ponto as futuras gerações devem ser
livres em sua interpretação da Kriya? Provavelmente, seriam mais prudentes se não
alterassem uma vírgula sequer daquilo que qualquer um dos grandes (Babaji, Lahiri, Sri
Yukteswar, ou Yogananda) estabeleceram. As futuras gerações de devotos de Yogananda,
por exemplo, deveriam definitivamente ensinar Hong Sau, seus exercícios de energização,
a técnica de OM, e Kriya Yoga da exata maneira como ele ensinou, com todos os seus
componentes.
Mas em meio a tudo isso, nossa jornada da Kriya deveria permanecer sempre uma de
alegria interior, liberdade e adequada criatividade individual.

~~~
O Apoio de Yogananda a Outras Linhagens e
Instituições de Kriya

Yogananda escreveu nas primeiras edições da Autobiografia de um Iogue: "A


Instituição Missão Arya (de Panchanon Battacharya) promoveu a publicação de muitos
comentários das escrituras feitos pelo guru (Lahiri)”. A instituição de Panchanon era apenas
uma entre os diversos esforços para divulgar a nova mensagem da Kriya.
Yogananda era amigo de Tinkuri e Dukouri Lahiri, filhos de Lahiri Mahasaya, que
obviamente ensinavam Kriya Yoga (e sua linhagem familiar até os dias de hoje).
Yogananda harmoniosamente compartilhava com eles a divulgação da Kriya Yoga.
Yogananda também visitou Swami Keshabananda, que juntamente com seus discípulos
disseminava a Kriya Yoga (eles ainda possuem ashrams ativos hoje em dia). Teria
Yogananda objetado ou tido a intenção de? Por que iria fazê-lo? Ou iria ele pedir que os
discípulos de Ram Gopal Muzumdar parassem de ensinar Kriya?
Babaji, como lemos na Autobiografia, escolheu Yogananda “para disseminar a
mensagem e a técnica da Kriya Yoga no Ocidente”. As palavras de Babaji, “no Ocidente”,
certamente implicam uma importante missão, mas não parecem indicar um monopólio
mundial.
Swami Shankarananda e outros estão atualmente realizando um belo trabalho na
divulgação da mensagem da Kriya no Oriente e no Ocidente. Yogananda, segundo a
primeira Autobiografia de um Iogue, não iria objetar: “Kriya deve ser aprendida de um
kriyaban".

~~~
Yogananda e Outros Grandes Mestres

Um memorável exemplo do espírito universal de Yogananda pode ser encontrado em


uma nota na Autobiografia, logo nas primeiras páginas da edição original de 1946, em que
recomenda os comentários ao Bhagavad Gita de um outro grande Mestre. Suas palavras
são: “Uma das melhores traduções com detalhados comentários é o livro de Sri Aurobindo
Message of the Gita (Jupiter Press, 16 Semudoss St., Madras, India, $3.50).”
Um espírito de generosidade a ser lembrado!

52
~~~
A Generosidade de Yogananda com o Público

Yogananda era expansivo, com um coração que abrangia o mundo inteiro, de portas
abertas para todos, sempre um querido amigo de pessoas provenientes de todos os lugares.
Tal característica também faz parte de uma história que rogamos jamais seja esquecida.
(Novamente, as citações que seguem foram extraídas das Autobiografias publicadas
durante a vida de Yogananda). Havia um Hotel da SRF em Encinitas “para acomodar a
membros da SRF e ao público”. Em edições posteriores, se tornou um retiro da SRF para
membros.
Na época de Yogananda havia em Dakshineshwar “acomodações adequadas
disponíveis para convidados ocidentais, particularmente aos que estão dedicando suas vidas
intensamente para a realização espiritual”. Edições modernas não oferecem mais essas
acomodações. O mesmo acontece em Ranchi: “Uma casa para convidados encontra-se
aberta para visitantes ocidentais”. Essa frase não consta mais nas edições atuais.
Na igreja de Hollywood havia “assentos de pedra no gramado, que são um convite para
que os transeuntes da movimentada Sunset Boulevard entrem e desfrutem de alguns
momentos contemplativos”. Atualmente esse convite público de Yogananda não está mais
sendo oferecido.
"O SRF Lake Shrine está aberto ao público". Esta frase não aparece mais no texto
principal da Autobiografia de um Iogue, mas ainda a encontramos debaixo de uma foto do
Lake Shrine. Lemos em uma antiga Autobiografia (durante a vida de Yogananda, em 1951)
acerca de três cafés públicos da SRF administrados por Yogananda: um no Lake Shrine (no
jardim da casa com o moinho holandês), um em Hollywood (SRF India Cafe), e um em
Encinitas.
Eles agora são história.
O “Cultural India House” é visto em uma foto de 1951, convidativamente voltado para
a Sunset Boulevard, e mostra que na Igreja de Hollywood nem mesmo havia muros de
proteção (talvez aqueles dias eram menos perigosos?) O local foi originalmente descrito por
Yogananda como “um local de encontro para o Oriente e o Ocidente”. Havia no local uma
Sala de Leitura, como se observa no texto. Também oferecia uma Biblioteca Memorial de
Gandhi. Todas essas características convidativas ao público atualmente fazem parte do
passado.
Consta também nas edições mais antigas um doce e comovente testemunho para a
Autobiografia de um Iogue, feito pelo Prof. Piper (alguns trechos ainda são publicados
atualmente). Ele escreveu que, depois que alguém lê com atenção o livro do Mestre, “fica
com a feliz impressão de ter feito uma amizade duradoura com um raro gênio”. Suas
palavras parecem bastante apropriadas para quem Yogananda era e é. Possa Yogananda ser
sempre lembrado assim: um amigo duradouro a todos, facilmente acessível de coração a
coração, sempre aberto ao público, a todos.

~~~
Discípulos Escrevendo sobre o Guru

Nas primeiras edições de sua Autobiografia Yogananda escreveu: “Assim como Jesus
e outros grandes profetas, o próprio Lahiri Mahasaya não escreveu livros, mas suas
penetrantes interpretações foram anotadas e organizadas por vários discípulos. Alguns

53
desses voluntários registros foram mais bem sucedidos do que outros em corretamente
transmitir as profundas intuições do guru; todavia, no quadro geral, seus esforços foram
exitosos. Através do zelo desses discípulos, o mundo possui os incomparáveis comentários
de Lahiri Mahasaya a vinte e seis antigas escrituras”.
"Vários discípulos" de Yogananda seguiram esse exemplo, e escreveram sobre
Yogananda e seus ensinamentos do jeito que os haviam compreendido:
- Durga Mata: Trilogia do Amor Divino
- Dr. Lewis: Tesouros que Desafiam o Tempo
- Swami Kriyananda: A Senda
- Kamala Silva: O Espelho Perfeito
- Meera Gosh: Minhas Reminiscências de Paramhansa Yogananda
- Roy Eugene Davis: Minha Vida com Paramahansa Yogananda
- Sananda Gosh: Mejda
- Hare Krishna Gosh: Experiências com Meu Guru, Paramhansa Yogananda
- Swami Satyananda: Yogananda Sangha
- Peggy Deitz: Obrigado, Mestre

E novamente, "no quadro geral, seus esforços foram exitosos".


Possamos conservar essas características de Yogananda sempre vivas, seu legado de
amor e abertura!

54
Capítulo 10
Algumas Considerações Históricas -
Autobiografia de um Iogue

Seguem aqui algumas observações históricas acerca da famosa obra prima e clássico
espiritual de Yogananda, a Autobiografia de um Iogue. Yogananda trabalhou por 25 anos
nessa livro, que certamente deve ser considerado como um dos mais importantes projetos
de sua vida. A obra foi uma parte essencial de sua missão no Ocidente conferida por seus
Gurus e Paramgurus.
E realmente foi seu Mestre, Swami Sri Yukteswar, quem lhe solicitou que escrevesse o
livro. Ele sabia que fora profetizado há muito tempo por Lahiri Mahasaya, e que era
Yogananda quem deveria cumprir a profecia. Lê-se na Autobiografia de um Iogue:
"Aproximadamente cinquenta anos após a minha morte", ele (Lahiri Mahasaya) disse,
"escrever-se-á um relato de minha vida, em virtude do profundo interesse pela ioga que
surgirá no Ocidente. A mensagem da ioga rodeará o globo, e ajudará a estabelecer a
fraternidade entre os homens: uma unidade baseada na percepção direta do Pai Único”.
"Meu filho Yogananda" - continuou Sri Yukteswar – você precisa fazer a sua parte na
divulgação dessa mensagem e no relato escrito dessa vida sagrada”.
“Em 1945, cinquenta anos após a partida de Lahiri Mahasaya, ocorrida em 1895,
completou-se o presente livro". Em um capítulo posterior, Yogananda prossegue: “Meu
objetivo, ao procurar Keshabananda, relacionava-se com este livro. Nunca me esqueci do
pedido de Sri Yukteswar para que eu escrevesse sobre a vida de Lahiri Mahasaya. Durante
minha permanência na Índia, aproveitei todas as oportunidades para entrar em contato com
discípulos diretos e parentes do Yogavatar. Registrando suas declarações em volumosas
anotações, eu verificava datas e fatos, reunia fotografias, cartas antigas e documentos.
Minha pasta de informações sobre Lahiri Mahasaya começou a engrossar; percebi, com
espanto, que teria diante de mim um árduo trabalho de escritor”.
Durga Ma escreve que grande parte do livro foi composta em Encinitas. Na maioria
das vezes, conforme relata, Yogananda escrevia de próprio punho. Em outras ocasiões, ele
ditava para a caligrafia de Daya Mata. Ou então Daya Mata e Mataji (a irmã de Daya,
Ananda Mata) se alternavam na máquina de escrever. Yogananda gostava quando liam o
texto de volta para ele. O trecho datilografado, como recorda Daya Mata, era então
entregue, folha por folha, a Tara Mata, para que fizesse a edição.
Enquanto escrevia, Yogananda geralmente fazia uma pausa, olhava para cima, e
entrava em samadhi. Desse modo, a Autobiografia de um Iogue tornou-se um livro
impregnado com suas vibrações superconscientes. O livro, declarou Yogananda, “é a
principal obra de minha vida”, e será “meu mensageiro!”.

55
O livro foi terminado em 1945. Yogananda obviamente esperava publicá-lo no início
de 1946: na East-West (Jan.-Março 1946), na mensagem de Ano Novo de 1946, ele
conclamava aos leitores da revista que “divulgassem a mensagem” e que emprestassem aos
amigos seus exemplares da Autobiografia de um Iogue, ou mesmo que os presenteassem.
Ele também anunciava como iria utilizar o dinheiro da venda: para construir a “Golden
World City”(Colônia de Fraternidade Mundial) em Encinitas.
No entanto, demorou ainda quase um ano antes que sua obra prima chegasse aos
leitores. A Autobiografia de um Iogue foi finalmente publicada em Dezembro de 1946. O
problema foi encontrar uma editora que o publicasse: pensamentos novos e desafiadores
nunca percorrem uma jornada fácil. Aquela era uma obra pioneira, repleta de histórias
nunca antes ouvidas de assombrosos milagres iogues. Tara Mata, na verdade, precisou
correr atrás durante um bom tempo. A editora que por fim aceitou o encargo foi a
Philosophical Library de Nova Iorque. Foi realmente um ano bastante desafiador para Tara
Mata. Em busca de uma editora para imprimir o livro, ela viveu longe do ashram e de seu
guru, sozinha, em uma humilde pensão sem água quente e calefação em Nova Iorque, em
meio a um ambiente mundano. “Ela quase morreu”, dizem que Yogananda teria
comentado. Não surpreende que mais tarde ele tenha declarado em agradecimento: “Sem
ela, o livro jamais teria visto a luz do dia”. Ele expressou sua gratidão a Tara, que era
também a responsável pela edição do livro, na dedicatória de sua Autobiografia de um
Iogue, dizendo estar “profundamente reconhecido” a ela “por seu longo trabalho editorial
no manuscrito deste livro".
Depois da publicação, a Autobiografia de um Iogue começou a “despertar o mundo”
(nas palavras de Yogananda), e Yogananda recebia, conforme escreveu, “milhares de
cartas”. Maravilhosas expressões de apreço surgiram como uma inundação: nas abas da
capa foram impressos comentários de pessoas famosas. O ganhador do Prêmio Nobel,
Thomas Mann, escreveu a Yogananda: "Este renovado contato com a esfera da Yoga, sua
superioridade mental em relação à realidade material, e sua disciplina espiritual, foram
bastante instrutivas para mim, e estou grato por ter me concedido um vislumbre desse
fascinante mundo”.
A Autobiografia de um Iogue logo começou a conquistar o mundo, país após país,
cultura após cultura. Com ela, teve início uma nova era para a missão de Yogananda: de
agora em diante, sua plateia era mundial. Conforme escreveu em seu livro: "Muitos homens
e mulheres espiritualmente sedentos descobriram como saciar a sede nas águas refrescantes
da Kriya Yoga. Assim como na lenda Hindu, em que a Mãe Ganges oferece um gole divino
ao sedento devoto Bhagirath, assim também, o rio celestial da Kriya Yoga começou a fluir
das secretas fortalezas do Himalaia para as ressequidas moradas dos homens”. Através da
Autobiografia de um Iogue a missão da Kriya Yoga deu realmente um salto em todas as
direções, em todo canto, “para as ressequidas moradas dos homens”.
Yogananda estava feliz. Existe uma bela fotografia dele, orgulhosamente segurando
sua joia literária. Já durante o tempo de vida de Yogananda o impacto da Autobiografia de
um Iogue foi mais forte que o de suas turnês de palestras, como ele mesmo declarou em
1948: Sua Autobiografia estava fazendo “aquilo que eu mal conseguia fazer quando viajava
e palestrava para milhares”. Mesmo nos dias de hoje, a Autobiografia de um Iogue
permanece sendo o mais importante instrumento de Yogananda para alcançar pessoas de
todos os lugares. Ela verdadeiramente se tornou seu “mensageiro!”. Surpreendentemente,
ainda hoje, 65 anos após sua primeira aparição, a Autobiografia de um Iogue é ainda por
vezes listada entre os bestsellers no campo da espiritualidade. Foi também eleito um dos

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100 livros espirituais mais importantes do século passado. E é um livro que fará ainda
muito mais história, se a declaração de Yogananda se provar verdadeira: “O abençoado
papel da Kriya Yoga no Oriente e no Ocidente ainda mal começou”. Pense só nisso!
Mesmo hoje, se não houvesse o livro, quantas pessoas teriam ouvido falar da Kriya Yoga?
Sem ele, quantos discípulos de Yogananda estariam por aí? Sem ele, será que os diversos
mestres de Kriya receberiam a mesma atenção do público? Shibindu Lahiri (o bisneto de
Lahiri Mahasaya), por exemplo, afirma que seu sucesso decorre da fama da Autobiografia
de um Iogue. Muitas edições diferentes da Autobiografia de um Iogue foram impressas de
1946 em diante. O livro passou por um vívido desenvolvimento, especialmente após o
falecimento de Yogananda. Tara Mata não era preguiçosa. A Irmã Gyanamata escreveu o
quão profundamente apreciava e saboreava as divinas vibrações de Yogananda contidas na
Autobiografia de um Iogue. Nos primeiros meses, ela na verdade se satisfazia apenas em
possui-lo, em mantê-lo perto de si. Mais tarde, começou a lê-lo, apenas em seus melhores
dias. “Estou absorvida em ti através do livro”, ela escreveu para Yogananda em uma carta.
Gyanamata, como todos os outros discípulos, leu a edição original, tendo em vista que
faleceu em 1951. Na Índia, tanto a SRF quanto a Ananda publicaram aquela edição original
de 1946, como um documento histórico especial. No Ocidente também foi publicado, e tem
sido transcrito em um crescente número de páginas na internet, já que atualmente encontra-
se em domínio público. Todos podem usá-lo livremente, inclusive as fotografias. Dessa
forma, parece que ultimamente a Autobiografia de um Iogue criou novas asas. A
Autobiografia de um Iogue foi, curiosamente, o único livro de Yogananda que ele publicou
através de uma editora de fora, vendendo os direitos. Aliás, Yogananda teve o coração
partido por não ter podido citar o nome de seu amado discípulo Rajarsi de maneira
específica no livro, em virtude de razões comerciais. Mais tarde, após o falecimento de
Rajarsi, ele pode finalmente ser citado pelo nome.
Eis uma pergunta: Qual o principal objetivo que Yogananda pretendia realizar com sua
Autobiografia de um Iogue? Por que foram 25 anos trabalhados na obra?

Poderia-se responder:

“Ele queria tornar conhecida a missão de sua SRF”.


“Ele queria disseminar a antiga ciência iogue indiana da Auto-Realização”.
“Ele queria apresentar a técnica da Kriya Yoga”.
“Ele queria inspirar o leitor com o Amor de Deus”.
“Ele queria elevar o público em geral”.
"Ele queria unir o Oriente e o Ocidente".

Verdade, certamente. No entanto, sua mente universalista e abrangente, ao que parece,


estava mirando ainda mais longe, em uma meta global: paz mundial! Seguem algumas
citações da Autobiografia de um Iogue (o negrito é nosso): “A mensagem da ioga rodeará o
globo, e ajudará a estabelecer a fraternidade entre os homens: uma unidade baseada na
percepção direta do Pai Único”.
“Para atingir o supremo ideal do mundo – paz por meio da fraternidade – possa a
ioga, a ciência da comunhão pessoal com a Divindade, espalhar-se com o tempo entre todos
os homens, em todas as terras”.
“Kriya Yoga, a técnica científica de realização divina’ – disse finalmente com
solenidade – ‘terminará por difundir-se em todas as terras e ajudará a harmonizar as

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nações por meio da percepção pessoal e transcendente que o ser humano terá do Pai
Infinito’”.
“A Liga das Nações efetiva será uma liga natural e anônima de corações humanos...
[fluindo] do conhecimento da unidade profunda dos homens: seu parentesco com Deus”.
Para seus leitores alemães, Yogananda escreveu o seguinte prefácio, em outubro de 1950 –
um chamado para a fraternidade, também: “Enche-me de grande alegria saber que haverá
uma edição alemã da Autobiografia de um Iogue. Nada menos que sete editoras na
Alemanha demonstraram interesse em traduzir e publicar o livro. Isso prova certamente que
a Alemanha está se voltando para pensamentos de evolução espiritual. Foi na Alemanha,
afinal de contas, que no final do século 18 a grandiosa herança Sânscrita da Índia encontrou
seus primeiros amigos e tradutores entusiasmados. Em 1936 viajei de carro pela
Alemanha. Que país maravilhoso! E como sua gente é amigável! Aos meus leitores alemães
envio esta mensagem: vamos caminhar juntos – Alemães, Indianos, toda a raça humana! O
que poderia agradar mais ao coração de nosso Pai Único do que nos rejubilarmos em nossa
fraternidade?”
A Autobiografia de um Iogue está repleta de histórias fascinantes.
No entanto, uma história que Yogananda originalmente pretendia incluir não entrou no
livro. O objetivo do relato, que um dos amigos de Yogananda havia pessoalmente
testemunhado, era demonstrar que os corpos podem ser modificados, “como modelos de
automóveis!”

Aqui está:

Havia um jovem na Índia que tinha morrido, e seu corpo estava sendo preparado para a
cremação. A família estava prestes a incendiar a pira funerária, quando um iogue bastante
velho saiu de uma floresta nas proximidades, gritando: “Parem, parem! Eu preciso desse
corpo jovem, cremem este!” A família ficou atordoada. Em seguida, ele caiu ao chão,
morto. Segundos depois, o jovem levantou-se da pira, e antes que alguém pudesse agarrá-
lo, correu em direção da floresta. A família cremou apenas o corpo do velho homem.
Aquele era um iogue que mudou seu “modelo”. Seu corpo havia se tornado velho demais –
e então ele conseguiu adentrar em um novo “modelo”.
Yogananda declarou não ter conseguido entrar em contato com seu amigo santo que
havia testemunhado aquela cena incrível – e por isso preferiu não publicá-la em seu livro.
Yogananda disse que a Autobiografia de um Iogue transmite suas vibrações,
especialmente, talvez, suas vibrações de amor. De uma linda maneira, portanto, todas as
edições terminam com essas palavras de seu coração: “Senhor, Tu deste a este monge uma
grande família!”
E aqui uma questão: o que ele quis dizer por “grande família?” Quão grande ela é?
Todos os Kriya Iogues? Ou sua família é muito maior? Ó Senhor, ajuda-nos a compreender
o Amor Divino de Yogananda!

58
Capítulo 11
Histórias de Santidade:
O Falecimento de Quatro Grandes Discípulos

A ideia original por detrás da concepção deste capítulo era descrever a gloriosa morte
de quatro grandes discípulos de Yogananda: Rajarsi Janakananda, Irmã Gyanamata, Oliver
Black e Dr. Lewis. No entanto, os parágrafos foram aumentando para contar um pouco
sobre suas vidas, tornando-se quase umas mini-biografias.

Rajarsi Janakananda

Rajarsi Janakananda (James Jesse Lynn, 1892-1955, nascido em Archibald, Louisiana)


foi o principal discípulo e sucessor de Yogananda, a quem o mestre “passou o manto”,
conforme disse. Yogananda e Rajarsi encarnaram praticamente ao mesmo tempo – Rajarsi
era apenas 7 meses mais velho. Yogananda chegou mesmo a dizer que ambos tinham um
“karma gêmeo”.
Rajarsi, ou “São Lynn”, tinha sido um discípulo por muitas vidas. Certa vez
Yogananda lhe escreveu: “Tu és um iogue hindu dos Himalaias enviado como um Príncipe
Americano Iogue Maharaj, para acender a lâmpada da Yogoda nos corações desorientados
de nossos irmãos ocidentais”. Em uma outra carta, ele contou amorosamente a Rajarsi: “Tu
és o meu Vivekananda”. E ainda: “Reconheço os teus diversos rostos do passado. Quão
frequentemente meditei contigo nas trevas das encarnações. Tanto amor e amizade divina,
tais são as cordas que uniram nossas almas no passado”.
Rajarsi disse de Yogananda: "Um mestre é um anjo de Deus, e em nosso amado
Swamiji temos alguém que é a própria encarnação do amor, do altruísmo, impregnado de

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Alegria Divina”. O amor entre Guru e discípulo é amor em seu nível mais elevado e puro.
Tal era o relacionamento entre aquelas duas almas repletas de Deus. Nas cartas de
Yogananda a Rajarsi é possível captar um lampejo daquela bem-aventurada comunhão de
almas. “Tu e eu somos uma só luz em dois corpos”, Yogananda chegou a afirmar.
Rajarsi Janakananda foi criado em uma família pobre, mas trabalhou duro para se
tornar um milionário. Ele, no entanto, era diferente da maioria dos ricaços: na qualidade de
um iogue elevado, estava cumprindo sua missão cármica de consolidar em terreno firme a
situação financeira da obra de Yogananda. Rajarsi conheceu Yogananda em Kansas, em
janeiro de 1932. Desse modo, ele apareceu justamente na hora exata, quando uma hipoteca
enorme sobre Mt. Washington precisava ser quitada, em uma época em que a América
inteira estava com dificuldades financeiras. Rajarsi, conforme Yogananda disse, “salvou a
obra”.
Tão inquieto era Rajarsi que não conseguia ficar parado nem por um instante, e ficava
sempre batucando com os dedos. (Não é impressionante como a superfície de nossas
personalidades pode disfarçar totalmente nossa verdadeira natureza?) Quando os dois se
encontraram, todavia, Rajarsi enxergou uma luz azul circundando Yogananda, preenchendo
todo o palco. Rajarsi ficou totalmente absorto, sentou-se reto, e ficou perfeitamente imóvel,
em uma profunda sensação de imobilidade interna. Seu velho karma emergira. Daquele
instante em diante, permaneceu sempre imerso em Deus.
Dentro de apenas cinco anos Rajarsi atingiu o samadhi. Há uma bela fotografia dele em
samadhi no ano de 1937, impressa na Autobiografia de um Iogue.
Rajarsi era um empresário durão, mas sua verdadeira natureza era doce. Em sua
infância, quando uma brincadeira ficava muito estúpida, ele se retirava, e caso alguém se
ferisse, ele chorava junto. Na verdade, até os seis anos de idade teve o cabelo comprido –
aquele velho iogue! – e era um líder natural. Quando se ouve sua voz em uma gravação, ela
soa incrivelmente doce e suave.
Rajarsi era um homem de poucas palavras, mas quando falava, ia direto ao ponto. Nada
escapa de sua aguda percepção. Em seus últimos anos, quando não estava fazendo
negócios, ele praticamente só falava de Deus, Guru, meditação. Rajarsi meditava muito, e
cosmicamente. Certa vez Yogananda estava caminhando com um outro discípulo no terreno
de Encinitas, quando viu Rajarsi meditando no jardim. Puxando o discípulo para o lado,
Yogananda sussurrou: “Você não tem idéia do tamanho das bênçãos que são atraídas a esta
obra cada vez que um de seus seguidores entra tão profundamente em meditação como
Rajarsi faz”.
Rajarsi continuou a morar em Kansas, com sua (um tanto terrível) esposa Frieda, que
em 1954 ficou sabendo da doação de um milhão de dólares que Rajarsi fez para a SRF, e
“subiu no teto” de raiva. Naquela cidade, ele liderava um grupo de meditação. Sempre que
podia, ele ia visitar seu Mestre, Yogananda. Era sempre uma ocasião muito especial.
Yogananda não poupava esforços para deixar tudo preparado em Mt. Washington para
receber seu “amado número 1”, trabalhando duro com outros discípulos para que tudo
ficasse lindo e impecável. Rajarsi tentava comparecer a cada Natal. Como presente
natalino, ele geralmente doava grandiosas somas de dinheiro a Yogananda. Ele ajudou
Yogananda a resolver muitas situações financeiras precárias, inclusive de sua escola na
Índia.
Quando Yogananda retornou à Índia em 1935/36 (a viagem foi, obviamente,
patrocinada por Rajarsi), Rajarsi secretamente construiu para ele o lindo eremitério de
Encinitas, onde mais tarde Yogananda escreveu a maior parte de sua Autobiografia. Na

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verdade, a partir de 1937, Yogananda permaneceu principalmente lá (o que foi doloroso
para muitos discípulos, que agora o viam muito menos), tendo em vista que em Mt.
Washington ele simplesmente não conseguia encontrar o silêncio que necessitava para seus
escritos.
Com o tempo, os negócios de Rajarsi se estabilizaram, e ele conseguia ficar mais
tempo com Yogananda. Em 1946, uma severa enfermidade finalmente conseguiu fazer com
que Rajarsi permanecesse no eremitério de Encinitas durante muitos meses. Depois disso,
ele passou a retornar com mais frequência, ocasiões em que permanecia durante meses a
fio.
Rajarsi nunca ocupara um cargo oficial na SRF, exceto como líder de um grupo de
meditação. Em agosto de 1951, contudo, Yogananda concedeu “sannyas” a ele, entregando-
lhe o manto alaranjado, e anunciando que se tornaria o segundo presidente da SRF.
Em 1951, atendendo a um pedido de Yogananda, Rajarsi comprou por motivos de
saúde uma fazenda no deserto, em Borrego Springs. Mais tarde, ele foi viver lá, onde teve
muitas visões de Yogananda, que havia falecido em março de 1952.
A saúde de Rajarsi, infelizmente, piorou. Ele desenvolveu um tumor no cérebro, e sua
primeira operação ocorreu em agosto de 1952. Seus dias, no entanto, estavam
abençoadamente repletos com uma visão após a outra de Yogananda. Rajarsi disse que a
certa altura tinha realmente vindo a falecer, mas que Yogananda o trouxera de volta ao
corpo. Naquele período, Rajarsi tornou a SRF a beneficiária de seu seguro de vida, e
também doou ações no valor de um milhão de dólares. Com isso, a “SRF terá três, quatro,
sim, até seis milhões em créditos”. Ele estava feliz. Sua missão na terra estava cumprida.
Em janeiro de 1954, Swami Atmanada (líder na YSS) e Prokash Ghose (futuro vice-
presidente da YSS, primo de Yogananda), os dois discípulos que queriam ver o corpo de
Yogananda quando ele morreu (o motivo pelo qual o caixão não tinha sido lacrado durante
três semanas, e que por isso o milagre da incorruptibilidade do corpo foi revelada ao
mundo), finalmente visitaram a América. Atmananda então recebeu de Rajarsi os votos de
Swami (ele já tinha sido feito um Swami através de uma carta de Yogananda). Mais tarde,
em abril de 1954, Rajarsi sofreu sua segunda operação. Uma terceira se seguiu em outubro.
Durante todos aqueles meses Rajarsi esteve divinamente unido com Yogananda, em muitas
visões beatíficas.

Sobre o momento de sua morte:

E finalmente veio seu último dia. Foi em 20 de fevereiro de 1955. Daya Mata,
Mrinalini Mata, Sailasuta Mata, e Durga Mata estavam com ele. Durga Ma segurou a mão
dele até o fim. Rajarsi, o iogue iluminado, fundiu-se na luz. Mesmo externamente, uma luz
branca começou a circundar sua cabeça. A luz foi ficando cada vez mais brilhante. Então
sua respiração cessou. O “pequeno príncipe” de Yogananda estava na Eternidade.
Como Yogananda tinha lhe dito: “O Reino Infinito é teu!”

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Irmã Gyanamata

Irmã Gyanamata (Edith Anne Ruth D’Evelyn Bissett, 1869-1951, nascida em


Woodbridge, Canadá) encontrou-se pela primeira vez com Yogananda em 1925, na própria
casa dela em Seattle, onde já tinha, curiosamente, sido anfitriã de Rabindranath Tagore.
Apenas imagine a cena: a distinta esposa de um respeitado professor (os Bissetts
tinham, por exemplo, uma famosa biblioteca particular com uma das maiores coleções do
mundo de livros referentes a Lincoln), de inteligência afiada, já tendo lido as obras dos
maiores pensadores do mundo, uma mulher madura de 56 anos, conhecendo um jovem de
32, um “swami Hindu com o manto alaranjado da renúncia”.
Pela idade, ela poderia ter sido mãe dele. Tais considerações, todavia, eram por demais
superficiais para a sua profunda intuição interna: ela viu diante de si um ser semelhante a
Cristo, e entregou seu coração, mente e alma a ele. Em sua devoção, ela conservava pelo
chão algumas flores alaranjadas nos pontos em que o guru havia permanecido. Um símbolo
perfeito de sua vida de completa devoção a ele.
Depois daquele primeiro encontro, ai!, durante cinco longos anos ela não viu
Yogananda novamente. No entanto, constantemente escrevia-lhe cartas. “Ela é uma antiga
devota de encarnações”, Yogananda escreveu.
A saúde dela, contudo, não era nada boa. Ele sofreu um ataque cardíaco e muitas outras
enfermidades graves. Em 1930, os médicos chegaram a dizer que não havia muita
esperança de vida, e afirmaram que não poderiam mais ajudá-la. Naquele ano, os Bissets se
mudaram para La Jolla, não muito longe da sede central de Yogananda em Los Angeles.
Sempre que Yogananda retornava de suas viagens, Gyanamata vinha visitá-lo. Sendo o
Mestre que era, Yogananda a curou de sua doença fatal. A fé que ela tinha nele era
imensurável.
Em 1932 ela finalmente foi morar em Mount Washington, depois da morte de seu
marido. Yogananda comentou sobre ele: “Foi um grande homem de Deus. Poucas pessoas
sabiam disso”. Sem qualquer sinal de doença, Yogananda tinha previsto a morte dele com
três meses de antecedência. Aquele era o ano em que Gyanamata também estava
“agendada” para falecer, mas Yogananda, conforme afirmara, “implorou a Deus” pela vida
dela, e com Sua graça a manteve no corpo por mais 20 anos. Ela era de um valor
inestimável ao Mestre, ainda que externamente não fosse capaz de fazer muito.
Depois de sua chegada em Mt. Washington, Yogananda imediatamente fez dela uma
Irmã (em 1932, embora Durga Mata escreva que tenha sido em 1931). A ordem monástica
de Yogananda havia então recém-começado, com a chegada de Daya Mata em novembro
de 1931.
Em 1933 Yogananda a nomeou como encarregada da sede central sempre que ele não
estivesse lá. Ela sucedeu a Dhirananda, que havia partido, e a Nerode, que agora viajava e

62
palestrava. Yogananda estava aliviado por contar com Gyanamata. Ela era de confiança, ele
sabia.
Em 1935 Yogananda incorporou sua sociedade com o nome de Self- Realization
Fellowship Church, com ele próprio de presidente, e Irmã Gyanamata como vice-
presidente. Naquele mesmo ano Yogananda viajou para a Índia. Enquanto esteve fora,
Gyanamata era a responsável por Mt. Washington, tendo sido então chamada por
Yogananda de “o Anjo de Guarda de Mt. Washington”.
Depois que Yogananda retornou para a Califórnia em novembro de 1936, ele recebeu o
eremitério de Encinitas como um presente de Rajarsi. Gyanamata se mudou para lá, ficando
como encarregada. E lá residiu a partir de então, assim como Yogananda também na maior
parte do tempo. E foi lá que ela por fim abandonou o corpo em 1951, aos 82 anos.
A divina história de amor entre Yogananda e Rajarsi talvez só possa ser igualada pela
história de Amor Divino com a “Irmã”. Embora Yogananda caminhasse de mãos juntas
com Rajarsi, ele obviamente não poderia fazer isso com Gyanamata. Com ela, a comunhão
de amor era puramente interna. Ela sempre se levantava quando o mestre entrava no quarto,
em silencioso contato interno com ele. “Ela e eu nunca conversamos, mas sempre nos
entendemos”, Yogananda disse. Eles escreviam um ao outro “cartas mentais”.
Surpreendentemente, e bastante revelador, ele escreveu: “Ela é uma deusa. Ela e eu
somos um”.
Quando Gyanamata morreu, Yogananda gritou: “Irmã querida!” Muitas lágrimas
inundaram seus olhos. Seu lado humano estava “terrivelmente” sentindo a falta dela, a
quem ele chamava de “Rainha da sabedoria”. “Mas ela retornará”.
No Serviço Memorial, Yogananda disse aos presentes que “isto não é um serviço
funerário para a Irmã, é uma expressão de meu amor por ela, que viveu tão perfeitamente”.
Gyanamata vinha sofrendo terrivelmente, ano após anos. Seu sofrimento, todavia, não era
para ela, conforme Yogananda explicou, mas “pelos pecados de outros que se tornaram
santos por intermédio da vida dela”. Ela estava “enfrentando o terrível karma de outras
pessoas”. Gyanamata chegou mesmo a ter discípulos, conforme Yogananda certa vez
declarou. Abençoados! Ela já tinha atingido Nirbikalpa Samadhi em sua vida anterior, e
atingiu uma altura tão elevada quanto os maiores santos do Cristianismo. Ela tinha as
mesmas características de Teresa d´Ávila, Yogananda escreveu.
Gyanamata, por falar nisso, não foi o único discípulo que assumiu o karma de outros.
No livro de Durga Mata, lemos que Yogananda explicou que Rajarsi sofreu pelo karma de
outros, e que ela (Durga), também estava assumindo o karma de outros.

E agora sobre a gloriosa morte de Gyanamata:

Foi no dia 17 de novembro de 1951. Em seus últimos momentos, Irmã Gyanamata


estava radiante. Com um sorriso iluminando seu rosto, ela exclamou suas últimas palavras:
“Que alegria, que alegria, tanta alegria!” Ela deu umas inspiradas (Kriya) bastante longas, e
então sua respiração cessou, ela tinha partido. Yogananda chegou logo depois. “Toquem os
pés dela”, ele disse aos presentes. Estavam frios. “Agora, toquem o alto da cabeça”. Estava
bastante quente, como se estivesse em chamas. Era um sinal, Yogananda explicou, de que
ela havia partido em um estado de “Mukti”, libertação final. “O teu lugar Deus reservou
para ti no céu”
Ela tinha chegado!

63
Oliver Black

Oliver Black (1893-1989) não é um discípulo muito conhecido, embora Yogananda


tenha dito que ele era o segundo em Auto-Realização, logo depois de Rajarsi. O terceiro era
Gyanamata. Ele era uma companhia extremamente sublime: estamos falando de um santo
da mais elevada estatura. Essa deve ser a razão pela qual ele, sendo um homem de família e
fundador de sua própria comunidade espiritual, era listado até sua morte em 1989 entre os
ministros oficiais da SRF autorizados a dar iniciação em Kriya.
Oliver Black nasceu em Grover Hill, Ohio, em 1893, no mesmo ano em que
Yogananda nasceu, que era apenas 8 meses mais velho. Assim como Rajarsi, Oliver Black
era um homem que se fez sozinho, um industrial milionário que vendia partes automotivas
em Detroit. Ele era uma pessoa energética e extremamente talentosa, que começou os
negócios em uma escala bastante reduzida: em sua garagem, com um investimento inicial
de apenas $500. Na época em que Oliver Black se afastou dos negócios em 1952, sua
receita era estimada em $35 milhões de dólares ao ano.
Ele e sua esposa Ethel tiveram dois filhos: Robert, que morreu como piloto na Segunda
Guerra, e uma filha, Phylis. Sua esposa morreu em 1970. Oliver Black conheceu
Yogananda em 1931 num evento festivo particular. O reconhecimento foi instantâneo:
“Reconheci na hora o gigante espiritual que ele era”. A vida de discipulado de Oliver
começou naquele dia, e rendeu frutos maravilhosos: “Ele mudou completamente a direção
da minha vida”.
Deve ter sido um período profundamente realizador para Yogananda: ele encontrou
Rajarsi, Oliver Black, Daya Mata, todos naquela mesma época, em que também Gyanamata
se mudou para Mt. Washington... todas aquelas brilhantes estrelas em seu firmamento
espiritual.
Oliver Black descreveu o estado interno em que se encontrava na época com essas
vívidas palavras: “Na época (aos 38 anos) em que o conheci, tinha medo de ficar a mais de
meio quilômetro de uma farmácia. Eu era hipocondríaco. Tomava comprimidos laxantes,
aspirinas para dor de cabeça, e provavelmente também teria tomado tranquilizantes, se na
época houvesse. Também sofria de pressão, como todos os meus colegas. Além de
comandar uma companhia de sucesso, também estudava e dava aulas de filosofia a um
pequeno grupo. Estávamos tentando encontrar uma resposta para a existência humana”.
A busca externa pela verdade estava agora terminada. “Yogananda ensinou onde a
encontrá-la. Pode-se dizer que ele me entregou um projeto na planta, e eu o tenho seguido
desde então”.
No entanto, a mudança que Oliver Black fez não foi tão grande quanto Yogananda
teria gostado. Seu dharma era diferente do de Rajarsi: por muitos anos Yogananda
encorajou Oliver Black a se afastar de seus negócios e começar uma vida de ensinamentos
a outros buscadores da verdade. “Yogananda vivia dizendo para eu largar os negócios, mas
eu simplesmente não lhe dava ouvidos”.

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Verdade, Oliver Black era o líder do centro da SRF em Detroit, mas seu guru tinha
planos muito maiores para ele. Em maio de 1951, o mestre lhe escreveu: “Com seu poder
de organização você pode fazer coisa muito maior, muito mais duradoura, muito mais fácil
e muito mais segura do que nessa vida empresarial de hoje em dia, onde a pessoa trabalha
para pagar impostos e arruina sua saúde e felicidade. Detroit, estando no centro dos Estados
Unidos, proporciona uma grande oportunidade para atrair buscadores da verdade, tanto do
Oriente quanto do Ocidente. Nada me faria mais feliz do que você estabelecendo uma outra
sede central naquele lugar”.
Em agosto de 1951, em uma cerimônia, Yogananda deu a Oliver Black o título
espiritual de “Yogacharya”, juntamente com o Reverendo Bernard Cole e mais uns cinco
outros. Foi também naquela ocasião que Yogananda ministrou a Rajarsi seus votos de
sannyas, deu-lhe o manto alaranjado e o nome monástico. Há uma foto daquele dia
(Bhaktananda aparece nela também). FOTO
Após seu último encontro com Oliver Black, Yogananda observou amorosamente:
“Vocês viram Deus em seus olhos?”
Yogananda faleceu pouco tempo depois, em março de 1952. Foi um ano de dramáticas
mudanças para Oliver Black. Yogananda havia dito repetidas vezes que se ele não largasse
voluntariamente os negócios, algo iria acontecer que o forçaria a tomar o rumo espiritual. E
então aconteceu. Em 1952, devido a uma agressiva especulação na bolsa de valores, Oliver
Black perdeu grande parte daquilo que havia construído com tanto esforço, e muito de sua
riqueza. Mesmo assim, ele ainda continuou mais ou menos rico. Mas agora, estava
aposentado dos negócios... finalmente! Uma nova fase começou em sua vida: ele criou uma
escola de Yoga (Yogacharya Oliver Black's Self-realization yoga), onde ensinava posturas
(asanas) e dava treinamento a outros professores – novamente com grande sucesso.
Em 1966, a frequência em suas meditações semanais de domingo e seus serviços
devocionais chegava a 200 ou 300 pessoas! Seus professores de hatha yoga alcançavam
milhares de alunos! E seu “Festival de Yoga”, realizado anualmente em Detroit, era
visitado por mais de 3 mil buscadores. As atividades de yoga e meditação que mais faziam
sucesso nos Estados Unidos naquela época eram as dele! O objetivo principal de Oliver
Black, obviamente, era ensinar meditação e os aspectos mais profundos da yoga. Ele deu
iniciação a todos os seus professores de yoga nas técnicas superiores de meditação. No
entanto, por alguma razão, no início dos anos 70 seu sucesso começou a diminuir.
Por volta de 1971 ele tinha vendido todas as suas propriedades, com exceção de uma
linda porção de terra de 800 acres, situada nas proximidades de Gaylord, Michigan, que se
tornou seu retiro permanente de yoga, chamado “Song of the Morning Ranch”. Lá ele viveu
e ensinou, juntamente com Bob Raymor, um outro discípulo direto de Yogananda. O retiro
ainda funciona hoje em dia, embora a mensagem de Kriya de Yogananda não pareça mais
ocupar um lugar central. Oliver Black era conhecido por seu rosto iluminado, seu sorriso
contagioso, seu amor divino e amizade. Ele tinha a incrível capacidade de conhecer o
pensamento dos outros, e dizem que realizou muitos milagres. Ele viveu até os 96 anos –
sempre jovem, saudável e ativo. Sua morte foi linda. Aconteceu em 16 de setembro de
1989. Ele faleceu como somente um iogue avançado é capaz. Durante todo aquele seu
último dia, ele permaneceu em meditação. E então chegou a hora de seu êxodo final: ele se
ajeitou na postura de lótus, e sentou-se calmamente. Seu olhar voltou-se para cima, fixo no
ponto entre as sobrancelhas. Naquele instante, sua alma gloriosamente abandonou o corpo.

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Gentilmente, o corpo inclinou-se para trás, permanecendo em um perfeito lótus, enquanto
sua alma estava subindo.
Oliver Black havia conscientemente entrado no reino da Bem-Aventurança.

Dr. Lewis

Outra alma altamente avançada, muito próxima a Yogananda, foi o Dr. Lewis
(1893-1960, Boston). Yogananda escreveu a ele: “Que entre nós reino apenas a
Consciência de Deus; que o eterno laço espiritual seja mais forte do que nunca”. O encontro
deles nesta vida foi uma renovada amizade em Deus. E vai prosseguir na próxima,
conforme disse certa vez Yogananda ao Dr. Lewis: "Tivemos uma boa vida juntos. Parece
que foi ontem que nos encontramos. Dentro em breve iremos nos separar, mas logo
estaremos juntos de novo”.
Dr. Lewis desceu ao plano material em março de 1893, somente dois meses após
Yogananda. Foi praticamente na mesma época que Rajarsi e Oliver Black também
encarnaram. Parece que aqueles quatro homens desceram como um grupo de amigos.
Uma nota sobre aniversários: por muitos anos, Yogananda evitou celebrar seu
aniversário, e manteve o dia em segredo – até 1939, quando seu irmão mais novo Bishnu
veio da Índia visitá-lo. Perguntando a ele, os discípulos finalmente descobriram a data de
aniversário de Yogananda, e então seu aniversário foi comemorado pela primeira vez no
Ocidente. From No entanto, ai!, Yogananda não revelava o ano em que nasceu! Desse
modo, seus bolo de aniversário costumava ser decorado com apenas uma vela, que ele
soprava no momento de fazer o desejo. (“Ainda tenho um pouco de fôlego. Devo tomar
cuidado para não derrubar o bolo!”) Ao longo dos anos se tornou uma tradição nas festas de
aniversário de Yogananda que o Dr. Lewis tentasse provocá-lo para revelar sua idade, mas
Yogananda sempre recusava. “Minha idade é infinita!” Dr. Lewis era casado, sua esposa
era Mildred, e teve dois filhos: Bradford e Brenda. A família residia em Boston, onde o Dr.
Lewis exercia a profissão de dentista.
Depois que Yogananda chegou na América, em 19 de setembro de 1920, ele logo
conheceu Alice Haysey (Irmã Yogamata), que convidou sua amiga Mildred Lewis para vir
conhecê-lo na igreja da comunidade. Depois de tê-lo encontrado, a Sra. Lewis queria que
seu marido também o conhecesse. E o Dr. Lewis encontrou com ele, na véspera de Natal,
em 1920. “O que é o ‘olho simples’ falado na Bíblia?” Era uma dúvida que há longo tempo
perseguia o Dr. Lewis. “O senhor pode me mostrar?” Lá mesmo Yogananda mostrou a ele
a glória celestial do olho espiritual e do lótus de mil pétalas. O Dr. Lewis ficou extasiado.
Ele se tornou o primeiro Kriyaban Americano, e amigo de Yogananda pela vida inteira.
Todavia, ele quase arrumou uma tremenda encrenca com Mildred (leia em “Tesouros que
Desafiam o Tempo”). Yogananda escreve em sua Autobiografia que morou em Boston em
“condições humildes”, enquanto buscava dar início a sua missão. Às vezes, o Dr. Lewis
convidava Yogananda a permanecer em sua casa. Em 1923, quando Yogananda partiu para

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sua “campanha” de palestras, ele pediu que o Dr. Lewis permanecesse em Boston para
liderar um grupo de meditação, e arrecadar dinheiro para financiar as viagens.
Ao longo dos anos, Yogananda e Dr. Lewis continuaram mantendo contato, externa e
internamente. O Dr. Lewis, mais tarde, vinha “duas vezes por ano de Boston a Encinitas”.
Em 1929 Yogananda retornou a Boston para dar uma palestra. Em 1942, esteve lá
novamente, com Swami Premananda. Ele relata na Autobiografia: “Senhor”, o Dr. Lewis
me disse, sorridente, “durante seus primeiros anos na América o senhor ficou hospedado
nesta cidade em um quarto simples, sem banheiro. Eu queria que o senhor soubesse que
Boston possui alguns apartamentos de alto luxo!”
Em 1945, Yogananda pediu ao Sr. e Sra. Lewis que se mudassem para Encinitas.
A vida agora havia mudado significativamente para o Dr. Lewis. Teve início uma
época de crescente responsabilidade espiritual: ele dava palestras nos templos de Encinitas
e San Diego (mais tarde também em Hollywood), chegando a ministrar 7 palestras por
semana. Ele também foi designado para liderar a Colônia de Encinitas (provavelmente a
saúde de Gyanamata não permitia mais que ela desempenhasse a tarefa). Além disso, ele
era o responsável pelo treinamento dos monges em Encinitas. Yogananda também o
autorizou a dar iniciação em kriya, algo que ele cumpriu até sua morte. Para descansar, ele
passava um dia na semana em silêncio, na casa de Rajarsi no deserto em Borrego. Quando
Yogananda faleceu em 1952, Rajarsi se tornou o presidente da SRF, e o Dr. Lewis o vice-
presidente, posição que ocupou até sua morte. Dr. Lewis permaneceu sempre ativo em seu
ministério. Sua morte foi verdadeiramente espetacular. Foi no dia 13 de abril de 1960. O
Dr. Lewis estava no hospital. No início da noite, ele deu uma breve cochilada. Quando
acordou, disse a Mildred: “Quero sentar com as costas retas”. Ela arrumou os travesseiros
em suas costas, e ele assumiu a postura de lótus. Ela narra: “Suas mãos estavam viradas
para cima, seus olhos fechados. Sentei-me ao lado da cama, pensando que também iria
meditar. Em dois ou três minutos, levantei-me ao ouvir um som fortíssimo. Parecia o
barulho de sucção de uma enorme bomba, ou o som da respiração de uma Kriya gigantesca.
Juntamente com o som veio um grande flash de luz espiritual branca, cujo brilho poderia
ser comparado ao de um milhão de lâmpadas elétricas. Os olhos azuis do doutor se abriram,
penetrantes flashes de luz azul emanavam deles. E então se fixaram no centro Crístico na
testa. Sua cabeça baixou um pouco, mas seu corpo permaneceu ereto. Por um instante, o
rosto de Swami Sri Yukteswar apareceu, envolvendo a face do doutor”. Naquele momento,
na postura de lótus, com a coluna reta, com um tremendo som de Kriya, o flash de uma luz
branca, olhar fixo no olho espiritual, e com a divina presença de Sri Yukteswar, o Dr.
Lewis fez sua gloriosa saída do palco deste mundo.
Dificilmente poderia haver uma prova melhor da promessa de Yogananda: “Para
aqueles que permanecerem sintonizados até o fim, eu, ou algum outro grande mestre,
estaremos lá para conduzi-lo até o reino divino”.

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Capítulo 12
Livros e Lições Escritas de
Yogananda

Yogananda vestiu muitas carapuças diferentes em sua vida. Uma delas foi a de um
escritor inspirado, que buscava elevar a todos nós. Com sua caneta, tentou unir as religiões
do Oriente e do Ocidente. Através de seus livros e lições, ele procurou ensinar uma
espiritualidade prática e abrir nossos corações a Deus, com poesia e canção. Este capítulo
disserta sobre o que ele escreveu, e quando. No que diz respeito a seus livros, Yogananda
poderia muito bem ser descrito como um atleta maratonista. Noutras palavras, ele não dava
um pique e terminava um livro para começar o próximo. Ao contrário, escreveu suas
principais obras em um período de décadas, trabalhando concomitantemente nelas.
Yogananda declarou que sua "Autobiografia de um Iogue" demorou 25 anos para ficar
pronta – o que significa que ele começou em 1921, logo depois de sua vinda à América (o
livro foi publicado em 1946). Seus comentários ao Bhagavad Gita e à Bíblia levaram 20
anos para serem finalizados – ele publicou os artigos em sua revista, tendo iniciado a série
na "East-West" em 1932.
Seus comentários ao "Rubaiyat"(versos escritos pelo místico muçulmano Omar
Khayyam) começaram a aparecer na revista em 1937. Além dessas obras “maratonistas”,
Yogananda realmente não publicou tantos livros assim durante seus 32 anos na América:
seu livro inaugural ("A Ciência da Religião"), seus dois livros de poesia (“Sussurros da
Eternidade" e "Cânticos da Alma"), seu pequeno livro com afirmações ("Afirmações
Científicas de Cura”) e um com meditações ("Meditações Metafísicas"); seu livro de cantos
("Cantos Cósmicos"); e um livreto "Atributos do Sucesso;" e o livro de seu guru, “A
Ciência Sagrada”.
É claro que ele escreveu muitos artigos para sua revista, além de suas inúmeras lições.
As lições são aqui listadas com seu conteúdo, para que vocês tenham uma ideia do que
diziam.

1920
Ainda na Índia, Yogananda publicou seu primeiro livro:
“Dharmavijnana” (A Sabedoria do Dharma), mais tarde chamado “A Ciência da Religião”

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1923
Yogananda publicou seu livro de poesia, "Cânticos da Alma".
Publicou também YOGODA INTRODUCTION, que foram as primeiras lições escritas de
Yogananda, descrevendo basicamente alguns exercícios de energização; com uma primeira
introdução de meditação – mas ainda não o Hong Sau.

1924
Publicou dois livros, A Ciência da Religião e Afirmações Científicas de Cura.

1925
Yogananda começou a revista: East-West (1925 a 1936) e (1945 a 1947); Inner Culture
(1937 a 1944); Self Realization Magazine (1948 a 1969); Self-Realization (1970 até hoje).
A revista apresentava, entre outras coisas, seus comentários sobre a Segunda Vinda de
Cristo, sobre o Bhagavad Gita, e sobre o Rubaiyat of Omar Khayyam.
Ainda em 1925, Yogananda publicou seu CURSO YOGODA, que descrevia a Arte da
Energização, Hong Sau, e diversos tópicos espirituais e filosóficos.
Lição 1—Sistema Yogoda de Perfeição Física, Mental, e Espiritual
Lição 2—Recarregamento individual das 20 partes do corpo
Lição 3—Movimento Mecânico combinado com Exercícios de Força de Vontade
Lição 4—A Mais Alta Técnica de Concentração
Lição 5—A Mais Alta Técnica de Meditação
Lição 6—A Cura do Nervosismo
Lição 7—A Arte do Desenvolvimento da Memória
Lição 8—A Arte da Cura Espiritual
Lição 9—Espiritualizando e Transmutando a Força Criativa
Lição 10—A Arte do Sucesso Material e Espiritual
Lição 11—Psicanálise e Sonhos
Lição 12—Visão Oculta e a Metafísica da Consciência Cósmica; Juramento Espiritual dos
Estudantes Yogoda

1926
Yogananda publicou seu CURSO AVANÇADO EM METAFÍSICA PRÁTICA
Lição 1: O Verdadeiro Significado Científico do Gênesis
Lição 2: A Cura pela Força de Vontade Divina
Lição 3: Como Desenvolver Conscientemente a Intuição
Lição 4: Os Cinco Pranas
Lição 5: Reencarnação
Lição 6: A Lei do Karma
Lição 7: Casamento Espiritual
Lição 8: Almas Desencarnadas
Lição 9: Bhagavad Gita (A Bíblia Hindu)
Lição 10: A Química dos Sentimentos
Lição 11: Alimento Espiritual
Lição 12: O Despertar da Kundalini ou Força Serpentina

1930
Neste ano ele publicou o CURSO SUPER AVANÇADO

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Lição 1—Yoga Cristã e as Verdades Ocultas no Apocalipse de São João
Lição 2—Desenvolvendo o Raciocínio em Sussurros Mentais
Lição 3—Revertendo os Holofotes dos Sentidos
Lição 4—A Arte de Encontrar os Verdadeiros Amigos de Encarnações Passadas
Lição 5—A Divina Dieta Magnética
Lição 6—A Instalação Voluntária na Mente de Hábitos de Sucesso, Saúde e Sabedoria
Lição 7—Magnetismo
Lição 8—Eliminando as Sementes Malignas do Fracasso
Lição 9—Conquistando o Medo, Raiva, Ganância, Tentação, Fracasso e Complexo de
Inferioridade
Lição 10—A Arte do Super Relaxamento
Lição 11—Convertendo as Mãos em Dínamos de Cura
Lição 12—A Maneira Estética de Desenvolver a Consciência Cósmica

1932
Yogananda publicou suas Meditações Metafísicas.

1934
Ele publicou o CURSO AVANÇADO DE SUPER CIÊNCIA CÓSMICA
Lição 1—A Cura pela Afirmação Espiritual e pelo Alimento Astral
Lição 2—Como Desenvolver Intuição Criativa
Lição 3—A Árvore da Vida – Consciência de Adão e Eva
Lição 4—Reencarnação
Lição 5—Como Contatar Almas Desencarnadas
Lição 6—Meditações Cósmicas

1938
Ele publicou seus Cantos Cósmicos.
Também publicou as LIÇÕES PRAECEPTA: uma compilação de lições anteriores, com o
acréscimo de histórias, poesias, tópicos, etc. Essas lições são muito mais extensas do que as
que já tinham sido publicadas antes.
Elas foram a base das atuais lições da SRF. Cada seção incluía:
- Poemas inspiracionais Praeceptum
- Orações Praecepta
- Técnicas e princípios científicos
- Epílogos
- Saúde
- Receitas
- Mensagens inspiradoras
- Afirmações
- Apresentações especiais

1944
Publicação de Atributos do Sucesso, atualmente chamado As Leis do Sucesso.

1946
Yogananda publicou seu principal e mais famoso livro, a Autobiografia de um Iogue.

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1949
Publicação do livro de Sri Yukteswar, A Ciência Sagrada.

1950-52
Yogananda passou a maior parte do tempo em seu retiro no deserto de 29 Palms para
finalizar suas obras e escrever novos livros. Foram tempos extremamente ocupados para
ele, que tentava conseguir a publicação de seus livros. Era uma corrida contra seus últimos
dias, que ele sabia estarem se aproximando. Surpreendentemente, em sua edição de 1951 da
Autobiografia de um Iogue (3a. edição), Yogananda já anunciava que seus comentários ao
Bhagavad Gita tinham sido publicados e estavam à venda. Não estavam. No entanto, esse
anúncio público deve ter sido sua diamantina afirmação de que o livro iria ver a luz do dia
ainda em seu tempo de vida. Naquela Autobiografia de um Iogue ele escreveu: "Um outro
livro, finalizado em 1950 durante minha permanência em um retiro da SRF próximo ao
deserto Mojave, é uma tradução, com comentários, da Bhagavad Gita. O livro, God Talks
With Arjuna, apresenta um estudo detalhado dos variados caminhos da yoga".
Em uma nota de rodapé naquela página, ele acrescentou: “Publicado em 1951 (ver nota
na página 6)”
E naquela página 6, em uma nota pode-se ler que é possível comprar o livro por $3.50.
Ele continuou dando duro. Yogananda escreveu a Kamala em uma carta (datada de 17
de janeiro de 1952): "Recebi uma carta do Cônsul em que fui convidado para participar das
celebrações em San Francisco pelo Dia da Independência da Índia. Estou ocupado nos
preparativos para a publicação do livro, e por isso não poderei comparecer”.
E em 20 de fevereiro, 1952, ele escreveu para ela: "Tenho estado atarefado até o
pescoço com os trabalhos no livro, e não consegui responder às cartas que chegaram. O
livro está progredindo muito bem, e tenho a esperança que não demorará muito até que
esteja pronto para publicação. Estou trabalhando dia e noite em busca desse objetivo”.
Alguns dias depois, em 25 de fevereiro, Yogananda escreveu a Peggy Deitz: "Ainda estou
no deserto, onde meus dias e noites são gastos com Deus e no trabalho do novo livro. Está
tudo indo muito bem e espero que esteja pronto para os editores sem muita demora. A
Bhagavad Gita está sendo impressa agora, e depois que eu der uma última olhada, estará
pronta para o público. Tenho certeza que você irá gostar do meu último livro sobre o
Gênesis, pois as interpretações dadas a mim por Deus jamais haviam sido apresentadas
antes".
O Mestre tinha trabalhado noite e dia, os comentários da Bhagavad Gita já estavam na
prensa e só precisavam de uma última conferida... parecia que faltavam apenas alguns
segundos antes da publicação. A meta estava tão próxima, mas então, em março de 1952,
Yogananda faleceu. Seu ardente fogo pela publicação foi apagado naquele trágico
momento. O departamento editorial estava obviamente um pouco mais cauteloso acerca dos
livros do Mestre. Mais revisões eram necessárias, eles devem ter achado.
E assim, 42 anos se passaram antes de os comentários de Yogananda a Bhagavad Gita
terem sido publicados em forma de livro. O tempo do Rubaiyat foi parecido. 52 anos foram
necessários para a Segunda Vinda de Cristo. Seus comentários ao Apocalipse, Gênesis, e
aos Yoga Sutras de Patânjali ainda estão aguardando por seu momento. Parece um bocado
de tempo, mas uma coisa é certa: os discípulos editores fizeram o melhor que podiam, e
certamente fizeram o que achavam melhor para os escritos de seu Guru.

71
Capítulo 13
Um Personagem Histórico, mas Desconhecido:
Swami Dhirananda

Swami Dhirananda já foi falado no capítulo sobre a “História de Mount Washington”.


Aqui se apresenta uma história mais completa desse importante personagem na vida de
Yogananda, que atualmente (por motivos bem compreensíveis) tornou-se quase que
totalmente desconhecido entre os devotos de Yogananda. E quando sabem algo sobre ele,
Dhirananda é considerado uma bandeira vermelha: um inimigo de Yogananda.
É fácil colocar pessoas em arquivos: “bom,” “mau”, “herói”, “vilão”, “preto”,
“branco”. No entanto, se dermos uma olhada mais cuidadosa, veremos que a vida não é
bem assim. As pessoas são muito mais complexas do que isso. Dhirananda, portanto, não
era “preto” nem “branco”, mas simplesmente um devoto com suas lutas, com seus lados
mais brilhantes ou menos brilhantes – como o resto dos discípulos de Yogananda, como
todos nós.
O que aconteceu lá atrás na Índia, nos primórdios? Os eventos a seguir foram extraídos
do livro de Swami Satyananda, “Yogananda Sangha.”
Dhirananda (Basu Kumar Bagchi) foi um dos mais próximos amigos de infância de
Yogananda. Eles tinham praticamente a mesma idade, conheceram-se na escola, e
estudaram na mesma turma. Os dois se tornaram amigos, viajaram juntos pela Índia,
visitaram santos, meditaram, cantaram muitas canções devocionais para Deus, e fundaram
uma escola e uma biblioteca. Dhirananda é descrito como zeloso, prestativo e bastante
inteligente. Sananda, em seu livro “Mejda”, acrescenta uma divertida história dos primeiros
anos na Índia: Dhirananda estava tendo problemas em sua casa, pois não conseguia a
privacidade necessária para suas meditações. Yogananda, então, convidou para que fosse a
sua casa em Gurpar Road, dizendo: “Nós dois trilhamos a mesma jornada com o coração e
a alma”. Primeiramente, Yogananda manteve a presença de Dhirananda em seu sótão um
segredo, e compartilhava amorosamente suas refeições com ele. É claro que a presença de
Dhirananda acabou se tornando conhecida de todos, e ele foi aceito na casa como um dos
membros da família. Os familiares de Dhirananda eram todos discípulos Bhaduri Mahasaya
(o santo que levita). Dhirananda costumava também frequentar as reuniões com Bhaduri,
mas depois que se juntou a Mukunda, parou de ir lá.
Satyananda fazia parte daquele inspirado círculo de amigos. Em todo seu livro, ele
descreve Yogananda como o líder do grupo. Yogananda era chamado de “Bara (líder ou
mais velho) Swami;” Dhirananda era chamado de “Meja (do meio) Swami;” e Satyananda,

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sendo alguns anos mais jovem, “Chota (mais novo) Swami.” Mais tarde, no entanto, eles
chamavam Yogananda de “Guruji.”
Seguindo o conselho de Yogananda, Dhirananda recebeu iniciação em Kriya Yoga de
Shastri Mahasaya (Kebalananda), e progrediu rapidamente.
Em 1911, Yogananda deu a Dhirananda seu hábito laranja, iniciando-o na ordem dos
swamis, conferindo-lhe o nome monástico “Dhirananda”.
Yogananda viajava bastante, e assim Dhirananda passou mais tempo na escola,
tornando-se o professor principal e administrador.
Quando Yogananda deixou a Índia em 1920, ele pediu a Satyananda, várias vezes, que
se preparasse para ir à América. Na cidade de Boston, em 1922, ele escreveu que um deles,
Satyananda ou Dhirananda, deveria vir. Satyananda respondeu não, que não desejava ir.
Yogananda ficou um pouco triste com isso. Ele escreveu:
“Dhirananda deve vir imediatamente. Satyananda, assuma a direção da escola de
Ranchi”.
Conforme Satyananda escreve, Guru Maharaj (Sri Yukteswar) “Mais tarde, disse um
tanto acabrunhado, meio sussurrando, que sentia que o início de um futuro não muito
auspicioso estava por acontecer em virtude dessa viagem de Dhirananda”. Yogananda e
Dhirananda logo começaram a trabalhar juntos em Boston. Eles imprimiram livros,
panfletos e circulares sob o nome “Yogoda Shiksha Pranali”. Então, em 1924, Yogananda
começou sua série de palestras pelo país. Em 1925 ele inaugurou Mt. Washington. É
interessante que, em 1925, quando Yogananda chamou Dhirananda para juntar-se a ele em
Los Angeles, “Dhiranandaji havia se firmado com bastante sucesso em Boston, na área do
ensino e da matemática, mas, atendendo aos desejos do líder Yoganandaji, largou tudo, foi
para Mount Washington em Los Angeles e assumiu a responsabilidade daquele centro”.
Dhirananda foi certamente uma grande alma, e carmicamente muito próximo e querido
de Yogananda. Em sua primeira edição da East/West, em Nov/Dez.1925, quando
Yogananda anunciou que tinha convidado Dhirananda para ser o responsável em Mt.
Washington sempre que ele não estivesse presente, também escreveu: “Sou incapaz de
dizer o quão imensamente ele tem me ajudado no prosseguimento de minha obra
educacional na Índia e em Boston, ou do bem que o mundo já recebeu de seu caráter ideal e
sua elevada vida espiritual. Ele irá abençoar Mount Washington com sua presença, na
qualidade de Swami residente”.
Não foram muitos entre os conhecidos discípulos diretos de Yogananda que chegaram
a conviver com Dhirananda – todos eles vieram mais tarde, com exceção de Tara Mata (que
se juntou a Yogananda em 1924, antes mesmo do estabelecimento de Mt. Washington), e
Kamala, que veio a Mt. Washington em 1926, tendo sido convidada por Dhirananda. Até
mesmo Durga Mata veio mais tarde, em dezembro de 1929; ela escreve que em maio de
1928 “Dhirananda tinha deixado o rebanho de seu Guru”. (Um pequeno equívoco, que ela
mesmo esclarece mais tarde ter acontecido em 1929). Todos os outros discípulos, então,
contam suas histórias sobre Dhirananda pelas coisas que ouviram ou leram.
Os Mestres, conforme Yogananda explicou, vivem uma existência dualista: possuem
um lado bastante humano, que sofre e se rejubila, e um lado divino, profundo, em que estão
completamente livres em Deus, em bem-aventurança, jamais se esquecendo de que tudo é
apenas um grande sonho. Yogananda, escreve Durga, cultivava um profundo amor por
Dhirananda. Quando Dhirananda, “a quem ele amava tão carinhosamente”, deixou Mount
Washington em 1929, depois de ter vivido lá por 3,5 anos como professor residente,
Yogananda exclamou dolorosamente: “Meu melhor amigo se foi!” Ele estava com o

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coração partido. Em uma carta, chegou a escrever: “Dei mais a Dhirananda do que a
qualquer outra pessoa”. Yogananda ficou tão abalado que arrumou as malas e viajou para o
México, para esquecer sua dor (também narrado no livro de Durga). Os discípulos
pensaram que ele talvez jamais retornasse.
Kamala escreve que Yogananda se ausentou por muito mais tempo do que tinha
planejado. Mas “o Senhor consertou o coração ferido do Mestre” (Durga).
Aquela viagem acabou rendendo bastante frutos – Yogananda conheceu o presidente
mexicano, deu palestras e compôs a música: “Devotos vêm, devotos se vão, mas eu serei
para sempre só Teu...” Ele também visitou Xochimilco, que acabou sendo um dos mais
belos lugares na terra que Yogananda viu. Na Autobiografia de um Iogue, ele escreve:
“Inscrevendo-os num concurso de belezas panorâmicas, proponho o primeiro prêmio para a
deslumbrante vista do lago Xochimilco no México, onde os céus, as montanhas e os álamos
se refletem entre peixes travessos, em miríades de alamedas líquidas, ou então os lagos da
Caxemira...”
O coração de Yogananda esteve em paz somente quando conheceu seu melhor amigo,
Rajarsi Janakananda, em 1932. Durga: “e dizia com freqüência que foi o Senhor que o
trouxe de volta (do México), pois Deus tinha um pequenino escondido em Kansas City, na
forma de Rajasi Janakananda, para o Mestre amar um milhão de vezes mais do que poderia
amar Dhirananda”.
Yogananda escreveu para Rajarsi em uma carta, em outubro de 1936: “De tudo aquilo
que sonhei para Dhirananda, só recebi decepção, mas Deus realizou muitas vezes em você”.
O amor e a amizade entre eles era verdadeiramente divina. É profundamente comovente ler
sobre ela no livro de Durga. Yogananda derramava lágrimas de amor por Rajarsi, por vezes
as escondendo com as mãos, para não exibi-las. E Rajarsi, “o pequenino”, ou “amado n. 1”
sabia corresponder: não em um nível pessoal, mas de alma para alma, em Deus. Quando
Dhirananda deixou Mount Washington, ele abriu seu próprio centro de meditação em Los
Angeles. Daya Mata relata que ele chegou a criar sua própria organização, o que gerou
bastante confusão entre os membros de Los Angeles. Ela conta que esse foi um momento
tão triste para Yogananda, que ele chegou mesmo a considerar abandonar tudo, retornando
para a Índia. Dhirananda tinha sido um importante sustentáculo para Yogananda: Daya
Mata afirma que sua partida realmente exigiu um reajuste na organização. (Daya, ao contar
a história, não menciona o nome de Dhirananda, mas é óbvio quem era aquele “monge da
Índia”)
A nova organização de Dhirananda, todavia, nunca chegou a decolar. Seu magnetismo
não era tão grande quanto deve ter acreditado. Ele provavelmente chegou a pensar ser um
igual a Yogananda, mas depois que se afastou dele, seu barco naufragou, por assim dizer,
enquanto Yogananda continuava a lotar os maiores auditórios da América, com milhares e
milhares de pessoas.
Dhirananda continuou com seu centro de meditação até 1933, e então o abandonou,
juntamente com seu título de Swami, para se tornar um respeitado e bem-sucedido
professor universitário em Michigan. Bom para ele... mas ainda assim parece uma história
triste. É claro, ele também poderia ter se tornado um grande artista, um empresário, uma
celebridade, ou o que seja. Mas o que isso poderia significar para um devoto como ele,
exceto um grande vazio para a alma?
Dhirananda casou-se em 1934. Teve um filho e uma filha.
Dhirananda não conseguia esquecer Yogananda. Teria sua inveja aumentado ainda
mais? Provavelmente: em 1935, seis anos após sua saída, ele processou Yogananda,

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alegando ter sido seu sócio. Ele ganhou a causa, e conseguiu 8 mil dólares. Parabéns! Ele
também declarou, em Juízo, que Yogananda estava obtendo vantagens sexuais de suas
discípulas jovens.
A partir daí Dhirananda sempre rejeitou Yogananda. Yogananda disse que jamais iria
se esquecer dele. Um dia ele comentou, falando de Dhirananda: “Não importa o que ele
faça, jamais irá encontrar Deus se não for por este canal, ordenado por Deus”.
Sim, Dhirananda (um Ph.D.) era muito mais acadêmico que Yogananda. Yogananda
admitia abertamente que nunca tinha chegado a ser um bom estudante. O Inglês de
Dhirananda era melhor também. Mas isso diz o que? Nas palavras de Sri Yukteswar: “Um
diploma universitário nada tem a ver com a compreensão védica. Não se produzem santos
às fornadas a cada semestre, como se produzem contadores”.
A pergunta é: Dhirananda foi feliz depois que saiu? Não foi, se o filho dele estiver
certo. Ele foi um homem triste e, provavelmente, (segundo diz o filho), porque lá no fundo
uma parte dele sempre ansiava pela vida monástica que havia deixado para trás. (Além de
seu melhor amigo na vida e na morte!)
Vários discípulos parecem acreditar que Dhirananda foi o pai de Mona, a filha de Tara
Mata. Fato: Dhirananda e Tara deixaram Mount Washington por volta da mesma época.
Dhirananda partiu em maio de 1929. Tara também saiu em 1929, pois estava grávida. Mona
nasceu em 2 de outubro de 1929, o que significa que foi concebida no início de janeiro de
1929 (enquanto Yogananda estava em Boston, palestrando).
Isso, no entanto, pode não ser verdadeiro. Primeiro: a aparência de Mona não
apresentava qualquer traço de influência oriental (é o que dizem). Segundo: o filho de
Dhirananda, que é bastante franco em relação às “muitas falhas” de seu pai, descreveu que
o comportamento imoral não “fazia parte de sua natureza”. Terceiro: Tara saiu grávida e se
casou. Parece provável que tenha casado com o pai de sua filha Mona. Quem ele era, não
sabemos. Para finalizar essa parte da história de Tara: depois de seu retorno da Índia, em
1936, conforme Durga Ma escreve, Yogananda foi até San Francisco convencer Tara Mata
a retornar para Mount Washington, para ajudá-lo com seus livros. Yogananda a tinha em
alta estima (ela também não é nem “preto” nem “branco”, como algumas pessoas parecem
crer). Ele arrumou um bangalô próximo a Mount Washington para ela e Mona morarem.
Durga, aliás, sem muito tato, nunca menciona Mona em seu livro, nem que Tara tinha
casado. Yogananda descrevia Dhirananda como um de seus dois Judas, sendo que o outro
era Nerode. Quando Dhirananda partiu, como disse Daya Mata, a SRF (então ainda
chamada de Yogoda Satsanga) precisou ser refeita. Nerode (um indiano que conheceu
Yogananda no início dos anos 20 e tinha se tornado seu discípulo, e que também conheceu
Dhirananda) foi então convidado para tomar conta de Mount Washington sempre que
Yogananda não estivesse presente, o que acontecia bastante. No entanto, logo no início dos
anos 30 Yogananda parou bastante com as palestras, e Nerode era o enviado para promover
a obra e as lições nas turnês.
Nerode era um bom professor, inteligente, bem-sucedido, e viajou praticamente sem
pausa entre 1932 e 1937. Assim como Dhirananda, escreveu seus próprios livros, que a
SRF publicava. Nerode se casou com uma americana em 1931 (existe uma filmagem de
Yogananda celebrando o casamento), e tiveram um filho.
Em 1939 Nerode também saiu e entrou com uma ação pesada contra Yogananda,
exigindo $500.000 (em valores de hoje seriam muitos milhões), alegando sociedade.
Yogananda, contudo, tinha aprendido a lição de dez anos antes com Dhirananda: ele fez
com que Nerode (e talvez outros) assinassem um papel lá atrás, em 1929, em que havia um

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declaração de que estava trabalhando como voluntário. Aquele documento salvou
Yogananda. Nerode perdeu a causa. Muito mais grave, todavia, foi que Nerode proferiu
acusações contra a moralidade de Yogananda ainda mais severamente do que Dhirananda
havia feito. Ele acusou Yogananda de uma conduta sexual bastante desregrada, de sempre
manter jovens garotas em seu quarto no último andar, enquanto mantinha as mulheres mais
velhas no andar abaixo. Com certeza isso não era pouca coisa: Nerode era um professor
respeitado. Devotos (talvez ainda hoje, quando lêem tais coisas) podem até ficar abalados
em seu amor e confiança, em seu discipulado com Yogananda.
Não é incrível o quão para baixo bons devotos podem afundar quando maya os cega e
os aperta? É claro que a maneira mais fácil e eficaz de atacar legalmente um adversário é
através de um clamoroso escândalo sexual. Foi isso que Dhirananda e Nerode fizeram com
Yogananda. Eis aqui uma compreensão mais ampla da história de Dhirananda: Sim,
Yogananda chamava Dhirananda de Judas. Mas será que alguma vez o rejeitou em seu
coração? Teria o amor de Yogananda por ele terminado, sua preocupação, sua lealdade?
Não, seu amor é incondicional, e essa é a diferença com a maioria de nós. Quando
chamamos alguém de “Judas”, facilmente o rejeitamos, nosso amor geralmente acaba,
podemos ficar furiosos, ou expulsar completamente a pessoa de nossas vidas. É por isso
que Dhirananda não é muito conhecido hoje em dia. O Mestre, contudo, ainda que o
discípulo possa mesmo ter agido como um Judas, jamais deixa de vê-lo como é: um anjo de
Deus, a quem ele ama. E assim, Yogananda enviava a Dhirananda uma caixa de mangas
todos os anos no Natal, como um gesto de sua amizade incondicional e imperecível, mas
toda vez Dhirananda as devolvia, ainda lacradas. O amor do guru é eterno, o amor do
discípulo muitas vezes é frágil.
Surpreendentemente, Yogananda já sabia há muito tempo o que iria acontecer com
Dhirananda. Ainda quando era um menino, ele disse a seu melhor amigo Tulsi Bose: “Um
dia Bagchi (Dhirananda) irá me trair e se casará com uma mulher branca”. Não é incrível
que Yogananda ainda assim o permitiu entrar em sua vida, e desse a ele tudo o que podia?
Ele também contou que Dhirananda já o havia traído severamente em outra vida. O amor
do Mestre, contudo, é divino, ininterrupto. E assim o drama continua sempre. Quem sabe o
que a próxima vida irá trazer? Mais uma vez Yogananda, como um mensageiro divino,
levará luz e amor ao mundo, e novamente haverá pessoas que irão tentar sabotá-lo, jogar
sujeira nele, trai-lo, incompreendê-lo. A paciência e o amor do Mestre permanecem,
felizmente. E assim, um por um, os discípulos encontrarão sua libertação final em Deus. A
melhor coisa, nos parece, é aprender com a história de Dhirananda, para que nós mesmos
não tropecemos e soframos mais do que o necessário. Ó Senhor, ajude-nos a vigiar este ego
estúpido!

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Capítulo 14
O Histórico Torso Descoberto
de Lahiri Mahasaya

Esta é a história da fotografia original de Lahiri Mahasaya. Na foto, ele é visto


sorridente com sua barriga de fora. A foto tem uma história extraordinária: só pode ser
tirada quando Lahiri aprovou ser fotografado – quando tirada sem sua aprovação, a foto
apresentava um inexplicável borrão vazio no local onde Lahiri deveria aparecer. “Eu sou
Espírito”, o Mestre sorriu. (ver Autobiografia de um Iogue).
Essa mesma foto salvou o jovem Yogananda de uma morte terrível quando estava
enfermo com o cólera: "Uma luz cegante" emanou da foto, “envolvendo meu corpo e todo
o quarto”. Yogananda foi instantaneamente curado.
Muitas vezes, lemos, enquanto Yogananda estava meditando em frente da foto, Lahiri
Mahasaya emergia do quadro e se tornava uma forma viva, sentando-se em frente a ele.
Quando Yogananda então tentava tocar os pés “de seu corpo luminoso”, nunca obtinha
sucesso: Lahiri sempre fugia, voltando a ser uma fotografia.
A mesma fotografia sacra protegeu uma discípula, quando um violento relâmpago
atingiu sua casa – até mesmo o livro ao seu lado. Ela rezou desesperadamente para Lahiri,
curvando-se perante a foto, e foi salva milagrosamente, como se estivesse envolvida por
“um lençol de gelo”.
Lahiri Mahasaya comentou em relação a sua foto: “Se você a considerar uma proteção,
assim há de ser; do contrário, será apenas um retrato”. Era um dos “bens mais preciosos” de
Yogananda, conforme escreveu. “Dada a meu pai pelo próprio Lahiri Mahasaya, irradia
uma santa vibração”.
Em 1935/36, conforme lemos na 12ª edição de 1998 da Autobiografia de um Iogue,
Yogananda pediu a um artista bengali (provavelmente Sananda, seu irmão, que também
pintou Babaji) para criar uma tela de Lahiri. E ela se tornou a imagem que geralmente se
observa hoje. Nela, Lahiri aparece muito mais suave (“vovozinho”), porém menos místico e
poderoso do que na foto original. Em 1946, quando Yogananda apresentou sua
Autobiografia de um Iogue para o mundo, ele não utilizou, contudo, a pintura, mas escolheu
imprimir a foto original de Lahiri Mahasaya. Pode ser que ele tenha recebido algumas
críticas indignadas de alguns leitores. Ou que a qualidade da foto simplesmente não era
suficiente. Seja qual for o caso, para a 3ª edição de 1951, Yogananda preferiu publicar a

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pintura do artista – e assim a foto original desapareceu Autobiografia de um Iogue. Essa
pintura, contudo, ainda mostrava o torso descoberto de Lahiri.
Algum tempo depois do falecimento do Mestre, aquele ventre à mostra tornou-se um
pouco ousado demais para alguns gostos. E assim, na 5ª edição de 1954, encontramos o
peito de Lahiri lindamente vestido. O manto, conforme se lê em uma nota na 7ª edição, foi
acrescentado posteriormente por um “artista bengali".
Meio século depois, na 12ª edição de 1998, a foto milagrosa original de Lahiri
repentinamente ressurgiu. A foto publicada naquela edição, todavia, é de uma qualidade
inferior. No ashram de Shibindu Lahiri em Varanasi é possível admirar e tirar fotos de uma
das reproduções originais: você verá que o contraste entre o preto e o branco é muito menos
pronunciado, verá os olhos de Lahiri abertos, e uma curiosa cortina ao fundo.
Naquela mesma Autobiografia de um Iogue de 1998 também encontramos a explicação
do porquê daquela pintura ter sido usada durante todos aqueles anos: Yogananda a tinha
designado como o retrato oficial de Lahiri para as publicações da SRF; e que ela está
pendurada no quarto de Yogananda em Mount Washington. Hoje em dia, se você visitar
Mount Washington, irá realmente encontrar aquela pintura pendurada lá, com um Lahiri
Mahasaya apropriadamente vestido. O observador mais atento, porém, descobrirá que esse
quadro é na verdade uma pequena alteração realizada nos aposentos de Yogananda, que,
fora isso, sempre tiveram o máximo cuidado para não sofrerem qualquer modificação: em
uma foto publicada no “Paramahansa Yogananda – In Memoriam" podemos ver o jeito
como ele apreciava a pintura: Lahiri estava com o torso belo e livremente descoberto.

Que a Alegria de Lahiri chegue a todos, tenham o gosto “conservador” ou “liberal”!

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Capítulo 15
Uma Questão Histórica:
A SRF Mantendo Colônias?

Quem olha a Autobiografia de um Iogue publicada no tempo de Yogananda, fica com a


impressão de que a SRF deveria também administrar uma Colônia de Fraternidade
Mundial. Yogananda escreve na 3ª edição, de 1951, publicada alguns meses antes de seu
falecimento: “Anos felizes passaram voando, repletos de intensas atividades. Uma Colônia
de Fraternidade Mundial da Self-Realization-Fellowship (SRF), planejada em 1937, e
firmemente estabelecida em 1947, serve de modelo para colônias menores da SRF. As
edificações no terreno de trinta acres de Encinitas incluem diversos eremitérios, uma loja de
presentes, um café, e um hotel para acomodação de membros da SRF e do público em
geral. As belas instalações contêm flores de lótus e uma grande piscina. Uma sequência de
colunas brancas de frente à rodovia estão enfeitadas com lótus dourados.
As atividades da Colônia incluem os numerosos passos do treinamento dos discípulos
em conformidade com os ideais da SRF, e o desenvolvimento de um extenso projeto de
agricultura que proporciona vegetais frescos para os residentes da SRF nos centros de
Encinitas e Los Angeles. ‘De um só sangue Ele criou todas as nações!’ É urgente a
necessidade, neste mundo assolado pela guerra, da fundação, sobre bases espirituais, de
numerosas colônias de fraternidade mundial".
Encinitas era, para Yogananda, em parte uma Colônia de Fraternidade Mundial. E
assim com Mt. Washington: em seu discurso de inauguração do Lake Shrine, Yogananda
declarou que “iniciamos colônias em fase de teste em Encinitas e em Mt. Washington em
Los Angeles, e temos algumas colônias na Índia também. Nossa organização não é uma
igreja no sentido comum”.
Monásticos e não monásticos viviam nesses locais. E Encinitas, lemos, deveria ter
servido como um modelo para outras colônias da SRF. O discurso de Yogananda na
inauguração do Lake Shrine (em 1950) foi gravado, e nele o Mestre diz: “Eu não estou
fundando igrejas ou novas seitas. Não tenho fé nessas coisas!” E também: “O aspecto mais
importante no movimento é a construção de colônias!” Se essa era sua convicção, não teria
ele desejado que sua organização administrasse colônias? Talvez sim, talvez não. É fato
que ele incluiu as Colônias como parte de seus Objetivos e Ideais da SRF, que eram
publicados com essa informação até 1958. Ainda assim, poderia ser que Yogananda tivesse
mudado de idéia por alguma razão específica? A SRF não fora destinada a construir
colônias, afinal de contas? Na verdade, em 1955 Yogananda apareceu para Daya Mata (ver

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capítulo 3), inspirando-lhe a desenvolver a SRF segundo diretrizes monásticas. A idéia de
colônia foi abandonada, e ela admitiu que “não estava interessada”. O coração dela era
completamente monástico. Poderia ela ter construído e incentivado as colônias? Por outro
lado, em várias ocasiões Yogananda falou, e também Rajarsi em 1954, a Kriyananda que
“você tem um grande trabalho a fazer”, o que Kriyananda interpretou como sendo a
fundação de colônias. Kriyananda já tinha prometido fazer isso durante a vida de
Yogananda, depois que ouviu um poderoso discurso de seu Guru acerca da necessidade
delas (conforme relatado na revista da SRF). Dessa forma, duas diferentes obras
começaram a florescer, nem sempre isentas de dificuldades.

Um pequeno questionamento histórico como reflexão:


Em religião, aparentemente observamos um fenômeno particular: geralmente quando
um grande Mestre deixa o mundo seus seguidores se dividem, um reflexo da lei da
dualidade. Um lado representa o raio lunar – ortodoxo, protetor, conservador. O outro lado
representa o raio solar – expansivo, criativo, e menos convencional. No Cristianismo, São
Pedro apregoava que os ensinamentos de Cristo deveriam ser restritos aos Judeus. São
Paulo discordava, e os divulgava em todo canto, de modo que os não-judeus poderiam
livremente se tornar Cristãos. No Islamismo temos os ultra-conservadores Xiitas (maioria
no Irã e no Iraque), e os menos conservadores Sunitas (embora tradicionalistas e
majoritários, eles incorporaram diversos costumes e tradições que surgiram historicamente,
mas sem estarem enraizadas no Alcorão). Os Judeus também possuem uma forte divisão
entre ortodoxos e liberais. No Budismo, observamos o ramo mais conservador Hinayana, e
o mais liberal e expansivo ramo Mahayana.
A pergunta: Conforme a história se desenrolar e progredir, também chegaremos a ver
no caso de Yogananda esse desenvolvimento dualista natural? E estaria sua sábia
orientação por detrás disso tudo?

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Capítulo 16
Os 13 Idiomas de Yogananda

O presente artigo foi elaborado, ludicamente, a partir de uma passagem na


Autobiografia de Um Iogue. Logo nas primeiras páginas, Yogananda escreve sobre seu
nascimento e infância, dizendo: “Minha forte vida emocional exprimiu-se, mentalmente,
em palavras de muitas línguas. Entre a confusão interna de idiomas, habituei-me, pouco a
pouco, a ouvir as sílabas bengalis de meu povo”.
Nossa interrogação, que servirá como fio condutor através deste texto, é a seguinte:
Quais eram essas “muitas línguas” que ressoavam nos ouvidos do pequeno Yogananda,
em
virtude de suas encarnações passadas? Yogananda afirmou que era um avatar. Nas
páginas
seguintes, buscaremos seguir as pegadas deixadas em suas passagens pela terra.
Muitas idéias contidas neste artigo foram baseadas naquilo que Yogananda disse.
Entretanto, com o intuito de sermos francos desde o início, avisamos: grande parte é pura
especulação. É um texto escrito exclusivamente para seus discípulos – de maneira que
outras pessoas quase com certeza irão taxá-lo de insanidade pura, fantasia despropositada,
ou fanatismo pelo Guru. O artigo foi escrito, ainda, em um espírito de “excitação pela
descoberta”, e obviamente não tem a pretensão de ser científico ou capaz de ser
demonstrado mediante provas conclusivas. Todos vocês, os leitores, irão certamente
formular suas próprias opiniões acerca do assunto. Como sempre, tais opiniões irão variar
desde “EXCELENTE!” até “HORRÍVEL!”. Não é divertido isso? Concluindo: este texto
não foi escrito para ser uma profunda discussão filosófica. Pelo contrário, sua intenção é
tornar-se um divertido passatempo... um loooongo passatempo, admitimos... o artigo não é
tão curto assim!
Seguindo o fio condutor dos idiomas, iremos levá-lo a uma longa jornada através de
muitas terras, culturas e linguagens, atravessando muitos séculos – sempre ao lado de
Yogananda. Aviso aos navegantes: esperamos que apreciem a viagem!

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~~~~~<>~~~~~ 1º Idioma: “Beaker” ~~~~<>~~~~~

Seria o “Idioma Beaker” que os jovens ouvidos de Yogananda escutavam


internamente?
Este era, segundo os historiadores, o idioma utilizado na Ilha Britânica pelo “Povo
Beaker” a Era do Bronze Inglesa, entre 2.500-600 a.C.
Yogananda revelou para Richard Wright, quando ambos visitaram Stonehenge em
1936 (informação também corroborada pelo filho do Dr. Lewis, Bradford, que acompanhou
Yogananda na viagem de volta da Inglaterra para a América), que tinha vivido lá por volta
de 3.500 anos atrás – o que daria aproximadamente o ano 1.500 antes de Cristo.
Surpreendentemente, foi nessa época que Stonehenge estava no auge, tendo sido
também o período em que foi terminado o complexo, que foi erigido em várias fases de
construção. Segundo as modernas técnicas de datação arqueológica, as obras iniciaram por
volta de 2.950 a.C., tendo sido finalizadas em 1.500 a.C.!
Pesquisadores escrevem: “Por mais impressionante que seja, aquilo que vemos
atualmente em Stonehenge é apenas um fragmento do que havia em seu apogeu, quando a
parte final do complexo foi concluída”.
No imaginário coletivo, costuma-se associar Stonehenge com aqueles druidas de
túnicas brancas. Entretanto, de acordo com os historiadores, os druidas chegaram na
Inglaterra muito mais tarde, por volta de 300 anos antes de Cristo. Se aqueles antigos
druidas utilizaram Stonehenge para seus rituais, eles devem ter “herdado” o monumento.
Stonehenge (que se localiza na planície de Salisbury, em Wiltshire, no sul da
Inglaterra) é atualmente considerado um monumento da “Era do Bronze Inglesa”. Contudo,
o sistema de Yugas de Sri Yukteswar apresenta um panorama distinto: Stonehenge fazia
parte de uma civilização mais avançada que a nossa. Sua construção começou por volta de
2950 a.C., durante o período de transição entre a Treta Yuga e a Dwapara Yuga (a data
exata de transição ocorreu em 3.100 a.C. Antes e depois dessa data, todavia, existiu um
período de transição com duração de 300 anos cada). O período de vida de Yogananda em
Stonehenge se passou uns bons 800 anos antes da Kali Yuga entrar em cena.
Em outras palavras: Stonehenge é um remanescente de uma sociedade altamente
evoluída. Existe, de fato, conforme o astrônomo americano Gerald Hawkins escreveu em
seu livro “Stonehenge Desvendado” (1963), uma prova aparentemente indiscutível de que
Stonehenge era um tipo de computador que fornecia as posições exatas de diversos eventos
astronômicos, alguns dos quais ocorrendo em intervalos de 50 anos ou mais – tempo
demasiado longo para que uma sociedade não avançada pudesse acompanhá-los sem
manter registros cuidadosamente preservados.
Stonehenge também determinava as datas de solstícios e equinócios, permitindo ainda
a previsão de eclipses do sol e da lua. Por fim, como seus “fãs” gostam de proclamar, sua
característica mais impressionante é a exatidão com a qual foi construído.

82
Entretanto, Stonehenge não foi apenas um observatório astronômico, mas também
servia como um templo a céu aberto, um santuário sagrado com objetivos espirituais.
Provavelmente foi utilizado de maneira ininterrupta por milhares de anos.
Stonehenge continua sendo um dos maiores mistérios de nosso planeta. Yogananda
viveu naquela “terra de mistérios” no período em que o monumento atingiu seu maior
esplendor. O “Idioma Beaker” também permanece um mistério. Segundo os historiadores,
era completamente diferente das línguas atualmente faladas na Europa. Contudo, o estudo
das línguas Indo-Européias demonstra que o Grego, Latim e Sânscrito, entre outras, foram
todas derivadas de uma fonte comum, os “Arianos”, povo que viveu no Irã e norte da Índia.
Teria sido o “Idioma Beaker” um fenômeno completamente à parte?
Yogananda disse: “Antes de encarnar num corpo físico faço testes com a personalidade
que irei assumir e me sinto ligeiramente desconfortável. É como ser obrigado a vestir um
pesado casaco de lã em um dia de sol e calor. Não demoro muito para me acostumar, mas
internamente jamais perco de vista que esta personalidade não é o meu verdadeiro Ser”.
Podemos apenas imaginar o tipo de personalidade que o Mestre assumiu em
Stonehenge! Deve ter sido um grande santo, obviamente, mas isso é tudo que podemos
afirmar.
A propósito... a estrutura do Lake Shrine não remete de certo modo a Stonehenge? Sua
compleição a céu aberto não teria um certo “quê” com o monumento antigo?

~~~~~~~~~<>~~~~~~~~~ 2º Idioma: Sânscrito ~~~~~~~~~<>~~~~~~~~~

Certamente o antigo Sânscrito deve ter estado entre as causadoras da “confusão interna
de
idiomas” de Yogananda.
O Mestre confidenciou a vários discípulos ter sido o grande guerreiro Arjuna, o
principal discípulo de Sri Krishna, que atualmente vive nos Himalaias na forma de
Mahavatar Babaji.
Yogananda disse que se tornou livre há muitas vidas. Isso aconteceu, segundo
comentou certa vez, durante o período em que foi o guerreiro Arjuna.
Arjuna (Yogananda) e Krishna (Babaji), juntamente com os irmãos de Arjuna, os
Pandavas,
saíram vitoriosos do mais famoso conflito da história Indiana, a batalha de
Kurukshetra. Reis ilegítimos foram conquistados e a Índia (“Bharata”) foi unificada.
Durante aquela vida, Yogananda declarou, seu discípulo mais avançado, Rajarsi
Janakananda, foi Nakula, um dos cinco irmãos Pandavas. Yogananda contou a Durga Mata
que ela também esteve junto naquela época. Parece provável que outros discípulos também

83
estavam encarnados naquele tempo com Arjuna. De fato, Yogananda explicou que
normalmente um Mestre traz consigo seus discípulos, para ajudá-lo em sua missão.
De acordo com o épico Mahabharata, que descreve o conflito entre os Pandavas e os
Kauravas, a morte de Krishna marcou o início da Kali Yuga. Krishna e Arjuna, então,
conforme os cálculos de Sri Yukteswar, viveram e morreram por volta de 2.700 anos atrás,
ao redor do ano 700 antes de Cristo. Portanto, acreditamos que Arjuna tenha vivido entre
760 e 700 a.C. Não muito tempo depois, por volta de 560 a.C., nascia Buda, um avatar,
cujo ímpeto reformador do Hinduísmo deu origem à religião Budista. Ele possuía, como
Yogananda escreveu, “muitos discípulos libertos”.
Segundo costuma se ensinar, Adi Shankaracharya (Shankara), nasceu por volta de 700
d.C. Os atuais Shankaracharyas, contudo, afirmam possuir registros em seus monastérios
que acompanham a linha sucessória dos representantes de Shankara (os Shankaracharyas)
através dos séculos, finalizando com o nascimento de Adi Shankaracharya em 500 a.C.
Yogananda não soluciona a controvérsia em sua Autobiografia: “Alguns registros indicam
que o incomparável monista viveu no século VI a.C.; historiadores ocidentais atribuem a
Shankara o século VIII d.C”. Entretanto, em seus comentários ao Novo Testamento,
Yogananda afirma que Shankara nasceu no século 7º da Era Cristã.
Shankaracharya resgatou a Índia da falsa concepção ateísta com que os budistas
acabaram soterrando os sublimes ensinamentos de seu fundador. Shankara é conhecido
como o maior
expoente da filosofia Vedanta: “Apenas um existe, Sat-chit-ananda, todo o resto é
ilusão!” Ele abrigou muitos religiosos conflitantes sob um mesmo “guardassol” filosófico
que incluía, (para o desconhecimento de muitos), tanto Gyana quanto Bhakti Yoga, ambos
parte do conceito do “Único” e do relacionamento “Eu e Tu”. Shankara foi bem-sucedido
em unificar espiritualmente a Índia.
Yogananda mencionou Shankara muitas vezes em sua Autobiografia, palestras e
demais escritos. O Mestre deve ter sentido uma profunda conexão interna com ele. Quando
se tornou Swami em 1915, Yogananda entoou um cântico de Shankara. Além disso, na
visão que Yogananda teve na juventude, foi o antigo templo de Swami Shankara em
Srinagar que se transmutou naquela que seria sua futura Sede Central de Mount
Washington. Yogananda costumava ainda contar muitas histórias geralmente
desconhecidas sobre a vida de Shankara, tais como a de um feiticeiro maligno que
pretendia assassiná-lo, ou de como sua discípula morrera em decorrência de suas dúvidas.
O Mestre contou ainda a história de como Shankara recebeu de Mahavatar Babaji a
iniciação em Kriya Yoga.
Na verdade, o próprio Yogananda afirmou que era um discípulo de Babaji. (Sri
Yukteswar, conforme explicou, foi seu guru “por procuração”). É possível que Yogananda
e Shankara tenham sido irmãos kriyabans aos pés de Babaji? Em caso afirmativo,
Yogananda viveu com Shankara por volta de 700 d.C. Um devoto certa vez teve uma visão
na qual Yogananda na verdade foi Shankara. Quem pode dizer? Se Yogananda atingiu a
libertação quando foi Arjuna, ele já era um avatar na época de Shankara!

Uma nota: isso não está um pouco confuso?

Babaji era o verdadeiro(!) guru de Yogananda.


Em uma carta para Rajarsi, Yogananda escreveu que “Lahiri Mahasaya é meu guru
astral(!)

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(poucas pessoas no mundo sabem disso)... foi através de sua vontade que encontrei
Swami Sri Yukteswar, meu guru terreno(!)”
De volta à história: a Enciclopédia Britânica ensina que a agricultura na Índia data de
7.000 a.C. e que as primeiras cidades foram construídas em 2.600 a.C.. Os indianos,
todavia, costumam calcular sua história em termos de milhões de anos. Para eles, a história
é concebida como um movimento cíclico entre Eras mais e menos avançadas, as Yugas. Sri
Yukteswar, conforme sabemos, também ensinava essa visão da história, mas acabou
construindo seu próprio sistema não-ortodoxo de cálculo das Yugas.
Se o conceito indiano for verdadeiro, a humanidade descobrirá perante si uma história
imensurável: incontáveis civilizações, aventuras e santos. De acordo com a tradição
Indiana, Arjuna e Krishna foram, em vidas anteriores, os antigos rishis Nara e Narayana,
que teriam vivido na Satya Yuga que, segundo Sri Yukteswar, durou de 16.300 a 6.700 a.C.
(incluídos os períodos ascendente e descendente).
E antes disso? Podemos apenas imaginar até que ponto desconhecido na história as
encarnações de Babaji e Yogananda, como santos, atingem. Um discípulo de Yogananda,
Norman Paulsen, viu a si mesmo em uma visão com seu Mestre, Yogananda, na Lemúria,
há 80 mil anos atrás!

~~~~~<>~~~~~ 3º Idioma: Aramaico ~~~~~<>~~~~~

Teria o Aramaico feito parte das “palavras de muitas línguas” na audição interna do
pequeno Yogananda?
Em suas primeiras lições, Yogananda (um tanto destemidamente!) originalmente ditou
que os três reis magos, que vieram visitar o recém-nascido Jesus, foram encarnações
anteriores de Mahavatar Babaji, Lahiri Mahasaya, e Sri Yukteswar. (É possível encontrar
boas referências indicando que os três reis magos vieram provavelmente da Índia na obra
de Yogananda, “The Second Coming of Christ”).
Por diversas vezes, Yogananda veio à terra em conjunto com aqueles grandes Mestres.
Seria possível então que Yogananda também estivesse por perto na época de Jesus, há 2 mil
anos, na antiga Israel? Alguns de seus discípulos acreditam fortemente nisso.
Nesse caso, Yogananda teria vindo como um avatar, uma vez que já tinha atingido a
libertação como Arjuna. De fato, certa vez um discípulo perguntou: “O Senhor foi Jesus?”,
no que Yogananda respondeu: “Que diferença isso faz? O oceano do espírito é a Realidade.
Quando uma ou outra onda tornam-se conscientes de sua unidade com o oceano, ambas
atingiram a mesma consciência”.
Se soubéssemos a resposta, contudo, nossos “estudos” poderiam se aprofundar ainda
mais. Apenas argumentando, vamos por um momento considerar que Yogananda realmente

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tenha sido Jesus – o que iria nos levar aos tempos do Profeta Eliseu do Velho Testamento
que, de acordo com Yogananda, foi a encarnação passada de Jesus. Eliseu viveu durante o
reinado do Rei Achab (875-845 BC).
Eliseu, posteriormente Jesus, como Yogananda explicou, era menos avançado que seu
mestre Elias, posteriormente João Batista.
Entretanto, Eliseu (Jesus) acabou se desenvolvendo além de Elias (João Batista). Essa
“ultrapassagem” deve ter acontecido no período entre as respectivas encarnações, tendo em
vista que Jesus já nasceu um avatar, em um estágio mais avançado que João Batista.
É interessante notar que Yogananda afirmou (na Eterna Busca do Homem), que Jesus
conquistou a maior parte(!) de sua perfeição em sua encarnação anterior como Eliseu. Não
muito tempo após, seguindo a cronologia histórica, Arjuna atingiu a libertação na Índia.
Portanto, acompanhando-se essa incrível linha de raciocínio, descobrimos que a
sincronia temporal faz sentido para a evolução de Yogananda:

• Como Eliseu, atingiu grande parte de sua perfeição (por volta de 850 a.C.)
• Como Arjuna, atingiu a libertação (por volta de 700 a.C.)
• Como Jesus, nasceu avatar. (ano 0). Foi nesse período que Elias, em sua vida de João
Batista, atingiu a libertação, conforme Yogananda escreveu.
Outro fato interessante é que Elias, ou João, era um mestre de Kriya, conforme Yogananda
declara em sua Autobiografia. Ele certamente deve ter ensinado a seu discípulo Eliseu,
Jesus!
Essas informações nos levam ao seguinte quadro:
• Como Eliseu, Yogananda praticava Kriya
• Como Arjuna, certamente também praticava Kriya, já que Krishna ensinava a técnica (ver
Autobiografia)
• Shankara praticava Kriya – e, como vimos, Yogananda pode ter estado bem próximo a
ele, também praticando Kriya
• Como Jesus, ele também conhecia a Kriya (ver Autobiografia), e a ensinava
• Como discípulo de Babaji, quaisquer que fossem suas encarnações, Yogananda deve ter
praticado Kriya
• Yogananda praticava e ensinava Kriya

Podemos ou não contemplar Yogananda envolvido com a longa e antiga história da


Kriya Yoga?
Estranho: Em seus comentários originais das passagens bíblicas, Yogananda escreveu
claramente que Elias (João) era mais desenvolvido que Eliseu (Jesus), mas que decaiu e,
mais tarde, como João, atingiu a libertação passando pelo sofrimento de ter sido decapitado.
“Algumas vezes o Guru-Preceptor sofre uma queda, apenas para ser novamente erguido
pelo discípulo avançado, assim como Jesus reergueu o decaído Elias, ou João Batista, que
podia apenas batizar com água”.
Entretanto, no “The Second Coming of Christ” da SRF, lemos que “tanto João Batista
quanto Jesus, em suas encarnações passadas como Elias e Eliseu, atingiram a libertação
total”. E que ambos eram “da mesma estatura espiritual”. Estranho!
Seja como for, Yogananda demonstrou possuir um conhecimento íntimo acerca da vida
de Jesus, como podemos ler em seus comentários ao Novo Testamento. Ele descreveu
algumas

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ocorrências desconhecidas e peculiares, tais como: “Embora Jesus fosse tão grande, ele
frequentemente recostava sua cabeça nos ombros de João, seu amado discípulo”. Refletindo
sobre essa possibilidade de “Jesus=Yogananda”, alguém poderia se perguntar: Mas como
pode Yogananda ter sido Jesus? Quando Jesus apareceu para Yogananda, ele apareceu para
si mesmo? Como isso é possível?
É uma boa pergunta. Entretanto, nós também sabemos que Yogananda tinha visões de
Krishna, cuja alma já tinha encarnado no corpo de Babaji. Ainda assim, Krishna aparecia
para Yogananda, e se comunicava com ele. É possível que um avatar consiga manter sua
individualidade passada, mesmo quando sua alma tenha encarnado novamente?
Jesus, de acordo com Yogananda, viveu na Índia e no Tibete durante os “18 anos
perdidos” que constituem a maior parte de sua vida na terra. A Bíblia não diz uma só
palavra sobre todos aqueles anos perdidos. Yogananda fez referências positivas ao livro “A
Vida Desconhecida de Cristo”, de Nicholas Notovitch, que encontrou antigos pergaminhos
em um monastério tibetano descrevendo a vida de Jesus na Índia. Naquele período, Jesus
era chamado de “Issa”. O manuscrito descreve a visita de Issa à Índia no exato momento
em que houve seu desaparecimento na Ásia Menor.
Os pergaminhos sagrados também revelaram que Jesus Cristo, que recebeu a visita dos
Três Reis Magos do Oriente, retribuiu a honraria com uma visita ao Tibete, tendo se
reunido com os Grandes Mestres.
E ainda tem mais: vários livros já foram publicados indicando que Jesus teria
sobrevivido ao seu martírio, retornado à Índia e lá morado até uma idade avançada em
Caxemira, onde seu túmulo “Roza Bal” ainda hoje pode ser visitado em Srinagar (e muitos
o visitam diariamente). Algumas evidências convincentes são apresentadas. Na sepultura
pode-se notar impressas as marcas de pés com cicatrizes de pregos.
O texto Bhavishya Maha Purana (115 d.C) narra a história do rei de Caxemira, Shali-
Vahana (cerca de 80 d.C), que encontrou um estrangeiro, uma personalidade distinta que
vestia um hábito branco, em Wien, um lugarejo próximo a Srinagar. O estrangeiro chamava
a si mesmo de Ishvara Putaram (Filho de Deus), Isha Masih (Jesus Messias), e Kanya
Garbam (Nascido de uma Virgem).
Ele disse: “Apareci como Isha-Saih (Jesus Messias). Recebi a unção do Messias (unção
de Cristo) na terra dos Mleechas (Amalequitas, Israel)”.
O que Yogananda falou sobre este assunto?
Nada. Porém, o que desperta algumas suspeitas é o fato de que em sua detalhada
interpretação da Bíblia, Yogananda jamais menciona a ascensão final do corpo de Jesus, 40
dias após sua aparição aos apóstolos, muito embora esta seja uma parte importante do
dogma Cristão. Ele discorre sobre todo o resto: sua imaculada conceição, seus milagres, sua
crucificação e ascensão (em consciência) através dos três mundos até o Pai, sua miraculosa
ressurreição depois de três dias, suas aparições aos discípulos durante 40 dias... mas nem
uma palavra sobre a posterior ascensão de seu corpo.
Realmente, será que um corpo físico poderia sequer adentrar o mundo astral ou causal,
ou no Reino de Deus? Ele iria cair imediatamente!
Não é interessante que nem João ou Mateus, os dois evangelistas que conheceram
pessoalmente Jesus, que escreveram minuciosamente sobre sua vida, crucificação,
ressurreição e subsequentes aparições, tenham escrito uma palavra sequer sobre a ascensão
do corpo de Jesus? Um evento desta magnitude não mereceria uma descrição detalhada?
Apenas Lucas (24:51), um médico e discípulo de Paulo, e Marcos (16:19), um
discípulo de Pedro, fazem alguma breve menção à ascensão, escrevendo algo acerca do que

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tinham ouvido. A principal fonte de informação sobre a ascensão de Jesus vem dos Atos
dos Apóstolos (1:8-11), cujo autor acredita-se ter sido Lucas (nem mesmo o mestre de
Lucas, Paulo, conheceu pessoalmente Jesus. O principal objetivo de Paulo era estimular a
fé nas pessoas). E mais, Yogananda originalmente escreveu em seus comentários ao Novo
Testamento:
“No caso de Jesus Cristo, [a ressurreição] foi excepcional porque muito embora na
morte sua alma tenha sido separada de seu corpo físico, foi através de um ato de vontade
com a Energia Cósmica que Jesus reconstruiu seu corpo dilapidado e nele habitou sua alma
uma vez mais.
Assim sendo, a alma de Jesus Cristo ressuscitou no mesmo corpo”.
Em outras palavras: Jesus tinha morrido na cruz, mas retornou a seu corpo sem vida,
tornou a animá-lo e viveu “no mesmo corpo”. Foi diferente da ressurreição de Sri
Yukteswar, que disse: “Dos átomos cósmicos criei um corpo inteiramente novo”.
Isso tudo não nos faz pensar que Jesus planejou continuar sua vida terrena?
É óbvio que, espiritualmente falando, é de pouca importância o que Jesus fez com seu
corpo. Ele poderia (e fez, conforme Yogananda), materializá-lo e desmaterializá-lo à
vontade, e poderia adentrar instantaneamente em qualquer nível da criação. Jesus não
estava identificado com seu corpo. Ele proclamou no Evangelho de Tomé: “Eu sou a luz
que brilha sobre todas as coisas. Eu sou tudo: de mim nasceu a criação e a mim voltará.
Rachem um pedaço de madeira: lá estarei. Levantem uma pedra: lá irão me encontrar”.
Foi esse mesmo Tomé que, vindo a se tornar apóstolo na Índia, posteriormente
encontrou Jesus em Taxila (atual Paquistão), de acordo com a escritura Revelatio Thomae
(mais tarde declarada herege).
Poderia então Jesus realmente ter vivido em Caxemira após sua ressurreição física?
Não o estariam aguardando por lá seus muitos discípulos que Jesus havia reunido em seus
longos anos anteriores passados na Índia?
Yogananda visitou Caxemira com Sri Yukteswar, conforme narra em sua
Autobiografia. Teriam eles aproveitado para visitar a tumba de Jesus em Srinagar? Ou
Yogananda foi apenas para apreciar a paisagem, como aparenta ter sido?
Na Autobiografia, lemos ainda que Yogananda visitou um templo de Shankara
próximo a Srinagar, aquele mesmo que se transmutou em sua Sede Central de Mount
Washington durante uma visão. (ver: www.koausa.org/Monuments/PlateV.jpg ) Este,
incidentalmente, é um templo muito especial, constantemente mencionado pelos
pesquisadores do tópico “Jesus na Índia”. Ele é conhecido como Takht-i-Sulaiman (ou
Takhat Sulaiman: o Trono de Salomão), um local cuja origem remonta a 2.500 a.C., e que
foi reconstruído por Adi Shankara. O templo possui uma coluna dedicada a Jesus, algo que
muitos consideram uma prova de que Jesus viveu em Caxemira após a crucificação. A
coluna possui quatro inscrições, duas das quais ainda hoje estão legíveis, sendo que uma faz
menção a Jesus. As inscrições foram historicamente preservadas.

Elas dizem:
1) O construtor desta coluna é Bihishti Zargar, ano cinquenta e quatro.
2) Khwaja Rukun filho de Murjan erigiu esta coluna.
3) Yuz Asaf proclamou ser um profeta. Ano cinquenta e quatro.
4) Ele é Jesus, Profeta dos Filhos de Israel.

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(“Ano cinquenta e quatro” refere-se ao calendário da Era Laukika, então vigente em
Caxemira.

Em nosso calendário seria o ano 78 d.C. “Yuz Afal” traduz-se como “Jesus o
Acolhedor”, que é o mesmo epíteto gravado na “Tumba de Jesus” em Srinagar).
Yogananda visitou aquele antigo templo, que homenageia Jesus e foi reconstruído por
Shankara.
Teria sido mera coincidência, esse encontro dos três Mestres?
A propósito: em sua viagem de retorno à Índia, em 1936, Yogananda visitou
novamente aquele templo de Shankara em Srinagar.
É evidente que a alegação de que Jesus sobreviveu ao martírio e foi morar na Índia
contraria imensamente os atuais ensinamentos da Igreja. Mesmo que Yogananda
considerasse verdade, será que teria dito? Seus comentários e ensinamentos teriam sido
completamente rejeitados pela grande maioria dos cristãos.
Seja qual for a resposta: devemos acrescentar o Aramaico antigo aos idiomas de
Yogananda?

~~~~~~~<>~~~~~~ 4º e 5º Idiomas: Francês Antigo, Inglês Antigo ~~~~~~<>~~~~~

Será que o Francês e o Inglês também ressoavam na audição interna do pequeno


Yogananda?
O Mestre declarou a vários discípulos ter sido Guilherme o Conquistador (William the
Conquerer, Guillaume le Conquérant, 1027–1087d.C), que falava ambos os idiomas. Na
verdade, o antigo idioma Francês falado no norte da França na época de Guilherme era
conhecido como “Langue d'oïl”. A nobreza falava “Anglo-Normando”.
Curiosamente, o Inglês falado hoje em dia tem uma mãozinha de Guilherme
(Yogananda): “O idioma Francês do conquistadores Normandos eventualmente se fundiu
ao Anglo-Saxão falado pelos camponeses britânicos para formar a Língua Inglesa”.
[Enciclopédia Britânica]
Em um artigo, Yogananda contou fatos impressionantes de sua vida como Guilherme:
“Lembro-me de ter estado há 900 anos na Torre de Londres. Quando visitei o local, em
1936, fiz algumas investigações. Perguntei se não havia banheiro em uma certa localização
na torre. O guia respondeu negativamente. Eu, contudo, lembrava de sua existência, de
modo que procurei o curador e perguntei se havia tal cômodo antigamente. Ele respondeu
que sim. Minha memória estava correta. Já recordei muitos eventos daquela encarnação.
Quando criança, eu costumava comer de garfo e faca, escondido, para que minha família
não soubesse. Meu irmão acabou descobrindo e perguntou: “Que costume pagão é esse?”
Eu não soube responder, mas conforme meu irmão insistia, acabei dizendo que já tinha

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vivido na Inglaterra antes. Ele ficou chocado com minha resposta... Vocês sabiam que meu
irmão e eu, quando crianças, costumávamos brincar planejando uma invasão à Inglaterra?
Quem sabe não teria conseguido, pois já tinha feito isso antes”.
Um pouco de história Normanda: Guilherme o Conquistador era descendente do
Viking Rollo, que tinha invadido a Normandia em 886 d.C. Após 30 anos de guerra com o
Rei da França, Carlos, ambos assinaram um tratado de paz. Rollo casou-se com a filha de
Carlos e se converteu ao Cristianismo. A Normandia se tornou um ducado relativamente
independente do resto da França. Cento e cinquenta anos mais tarde, nasceu Guilherme, que
se tornou o 7º duque da Normandia. Ele era uma criança ilegítima, filho de Herleva, a filha
de um rico mercador.
Herleva, também conhecida popularmente como Arlette, uma camponesa da Falésia,
teve um sonho profético quando estava grávida: uma poderosa árvore cresceria em seu
útero, ficando cada vez maior, até cobrir toda a Normandia e a Inglaterra. O sonho provou
ser verdadeiro. Costuma-se dizer também que quando Guilherme tinha recém-nascido, no
castelo de seu pai na Falésia, seu primeiro gesto foi agarrar um punhado de palha com tanta
força que a enfermeira mal conseguiu tirá-lo de suas mãos. Ela sabia que isso foi um
presságio, e profetizou que o bebê cresceria e se tornaria famoso por conquistar vastos
territórios. Essa profecia também provou ser verdadeira.
Guilherme se tornou o rei da Inglaterra e modificou o curso da história para sempre.
No famoso livro de Michael H. Hart, “O Ranking das 100 Personalidades Mais Influentes
da História”, Guilherme aparece na posição 68. Entre outras coisas, ele construiu a famosa
Torre de Londres. Por mais de 900 anos a Torre tem dominado a cidade de Londres e ainda
hoje é um dos marcos mais famosos da capital, sendo uma atração turística reconhecida
mundialmente. Todos os grandes reis e rainhas da Inglaterra desde então, incluindo os
famosos reis “Henrique”, as rainhas Elisabete e Vitória, são descendentes de Guilherme e
sua esposa Matilda – inclusive a atual Rainha Elisabete II e seu filho Príncipe Charles.
A historiografia inglesa tradicional, contudo, geralmente não descrevia Guilherme sob
uma ótica favorável. Ele estava mais para um vilão da história. E havia um motivo aparente
para isso. O orgulho nacional Inglês foi profundamente abalado por Guilherme, um simples
Duque da Normandia insolente o bastante para invadir e conquistar sua pátria mãe inglesa.
Acaso os historiadores ingleses fariam elogios a ele? Muitas lendas horripilantes foram
contadas e criativamente envernizadas ao longo dos anos. Inglaterra e França eram eternas
rivais, de maneira que Guilherme acabou se tornando amplamente conhecido como um
homem avarento, soberbo e impiedoso.
Atualmente, contudo, livros mais realistas têm sido publicados por historiadores
respeitados. O mais conhecido deles é “Guilherme o Conquistador”, de David C. Douglas.
Ele é um autor coerente, mas mesmo assim... quem é capaz de enxergar a verdade mais
profunda de uma personalidade divina, especialmente decorridos mais de 900 anos? Quem
poderia sequer reconhecer e compreender uma pessoa tão enigmática, mesmo que
aparecesse nos dias de hoje, bem aqui em nosso meio? Muito poucos. A maioria das
pessoas continuaria mantendo suas opiniões enraizadas, grande parte delas provavelmente
equivocada. Quem é capaz de compreender o planejamento divino para o desenrolar da
história? Até mesmo grandes devotos devem algumas vezes ficar meio perdidos...
Historiadores ingleses afirmam que Guilherme conquistou injustamente o Trono da
Inglaterra. Eis a história da famosa conquista Normanda: o Rei Inglês Edward (meio-tio de
Guilherme), havia morrido há pouco, sem deixar herdeiros, mas tendo prometido o trono a
Guilherme. Haroldo (que era cunhado de Edward), porém, afirmava que alguns dias antes

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de sua morte, o Rei Edward tinha mudado de idéia e prometido o trono a ele. Haroldo, com
incrível agilidade, organizou a cerimônia e conseguiu ser coroado. Ele tinha feito,
entretanto, um antigo juramento sobre relíquias sagradas de que iria apoiar a indicação de
Guilherme ao trono inglês. Haroldo também tinha prometido se casar com a filha de
Guilherme, Ágata, que era então apenas uma criança. Contudo, Haroldo quebrou ambas as
promessas, tendo dessa maneira montado o cenário para a invasão da Inglaterra pelos
Normandos. Ele agora declarava que tinha deveres mais elevados a seguir.
Guilherme então atravessou o Canal da Mancha em 1066 d.C para lutar contra
Haroldo, conquistar a Inglaterra e se tornar um dos personagens mais famosos da história
ao vencer a
Batalha de Hastings. A invasão de Guilherme era altamente arriscada, pois perderia
tudo em caso de derrota. E realmente, no início, parecia que as coisas não andavam bem
para ele. Ventos extremamente fortes não permitiam que cruzasse o canal com sua frota.
Guilherme utilizou esse tempo perdido imerso em frequentes orações. Quando finalmente
partiram, tempestades terríveis fizeram com que perdesse muitos navios e soldados. Muitos
viram nisso um mau presságio.
Guilherme, porém, tinha uma determinação inquebrantável e jamais perdia a coragem.
A história conta que assim que atracou em Hastings, Guilherme começou a tremer e caiu no
chão. Um verdadeiro choque tomou conta de seu exército – era outro mau presságio.
Guilherme, contudo, começou naquele momento a demonstrar sua força, caráter e liderança
inata. Ficou em pé e exclamou: “Estou tão determinado a conquistar essa terra que, vejam
só, agarrei-a com as duas mãos”. Brados de vitória eram gritados pelo exército.
Conforme se desenrolou a história, foi muita sorte que Guilherme não tivesse partido
antes para a batalha. Haroldo estava de prontidão com os guerreiros mais ferozes da
Europa, como eram conhecidos os Saxões e seus terríveis machados de batalha. Entretanto,
Haroldo precisou marchar com seu exército para o Norte, para lutar contra o rei dos
vikings, Harald Hardrada, que estava invadindo a Inglaterra com a ajuda do próprio irmão
de Haroldo, Tostig. Haroldo venceu a batalha, mas perdeu muitos soldados. Dois dias após
sua vitória, Haroldo recebeu a notícia de que Guilherme havia pisado na Inglaterra. Haroldo
marchou imediatamente para encontrar Guilherme no Sul. Seus soldados estavam
confiantes após a recente vitória, mas certamente também estavam cansados e em menor
número. Guilherme, que esperava lutar logo após o desembarque, aguardou. Ele chegou até
a organizar um belo banquete para seus soldados.
Quando Haroldo se aproximou, os dois trocaram mensagens, ambos exigindo que o
outro retirasse seu exército e reconhecesse seu direito. Nenhum dos dois aceitou. Guilherme
então pediu a Haroldo que poupassem o sangue de incontáveis soldados, propondo que
resolvessem a disputa em um combate pessoal mano-a-mano. Haroldo, porém, não aceitou
o desafio, já que Guilherme era conhecido por ser extraordinariamente forte. É possível
que, psicologicamente falando, o resultado da batalha já estava definido a partir daquele
momento. Haroldo não atacou. Ele posicionou seu exército em vantagem, no alto de uma
colina, de modo que os normandos teriam que lutar em declive, enquanto os saxões teriam
uma fortíssima linha defensiva. Teve início a batalha. Os normandos utilizavam cavalos, os
saxões não. Foi uma luta renhida, de manhã até a noite – e durante muito tempo nenhum
lado parecia prevalecer. De repente, os saxões gritaram: “Guilherme está morto”. Os
normandos ficaram aterrorizados e bateram em retirada, sendo furiosamente perseguidos
pelo inimigo. Foi um momento célebre:

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Guilherme tirou seu elmo e cavalgou até o campo de batalha, gritando: “Estou aqui,
estou aqui!”.
Com isso, os normandos deram meia-volta e contra-atacaram. Os saxões, que
anteriormente estavam fortemente plantados para a batalha, estavam agora espalhados,
sofrendo pesadas baixas. Muitos historiadores consideram que essa reviravolta foi
premeditada, pois Guilherme já tinha usado a mesma tática antes, e voltaria a utilizá-la em
breve. Suas estratégias eram consideradas brilhantes. Ele finalmente venceu a batalha
utilizando-se do mesmo plano: seus soldados atacaram e deram meia-volta, fingindo uma
retirada. Os soldados saxões, que haviam segurado o terreno até então, pensaram que a
vitória estava próxima, e correram atrás deles.
Naquele instante, os soldados de Guilherme retornaram e superaram seus inimigos
desprotegidos e assustados. Em tudo isso, Guilherme jamais esteve protegido longe dos
combates. Esse não era seu temperamento.
William de Poitiers, que conheceu Guilherme de perto e foi seu biógrafo, escreveu: “O
Duque Guilherme se sobressaía em bravura e conhecimento militar. Ele dominava as
batalhas, comandando seus homens em campo, fortalecendo seus espíritos e correndo os
mesmos riscos que eles. Guilherme foi um nobre general, inspirando valentia, comandando
seus homens à frente do campo de batalha, ao invés de ficar na retaguarda. As tropas do
inimigo, na Batalha de Hastings, com a mera visão daquele terrível e maravilhoso
guerreiro, perdeu grande parte de sua moral. Três cavalos montados por Guilherme foram
mortos. Três vezes ele saltou e ficou de pé.
Capacetes, escudos e coletes de guerra foram estilhaçados por sua lâmina brilhante e
furiosa, ao mesmo tempo em que seus agressores eram impedidos por seu escudo”.
Os Normandos venceram. Haroldo finalmente tombou, abatido por uma flecha em seu
olho, que pode ter sido disparada pelo próprio Guilherme, pois se sabe que ele cavalgou
com alguns de seus cavaleiros em direção de Haroldo, quando a situação finalmente
permitiu. Um de seus cavaleiros, em um rompante de vitória, decepou a perna de Haroldo,
balançando-a no ar. Guilherme condenou veementemente o gesto, tendo expulsado com
rigor aquele cavaleiro de seu exército.
Foi um dia que a história jamais esquecerá, pois Hastings talvez tenha sido a batalha
mais importante da história da Inglaterra. A vitória foi de Guilherme, mas ainda assim ele
não ficou feliz. Após a batalha que vencera, Guilherme, assim como Arjuna em
Kurukshetra, retornou ao campo de batalha durante a noite, tendo chorado copiosamente
pela morte de tantos guerreiros. Guilherme foi coroado em Londres, na Abadia de
Westminster, no Natal de 1066. Até o ano de 1071 ele precisou enfrentar muitas rebeliões,
tendo finalmente debelado a todas. Guilherme forjou o destino da Inglaterra. O estilo de
vida anglo-saxão havia terminado. Uma nova era teve início. Eis as mudanças mais
significativas:
Governo: Era o início de uma nova dinastia, que dura até hoje, uma aristocracia que se
tornou majoritariamente Normanda. A Inglaterra passou a ter mais parentesco com a França
do que com a Escandinávia, como era antes. A Inglaterra tornou-se Européia.
Anteriormente os senhores feudais era muito independentes, quase tão poderosos
quanto o Rei. Não havia uma união nacional. Guilherme unificou a Inglaterra sob sua
coroa – os senhores feudais foram obrigados a prestar juramento de lealdade. Se não o
fizessem, perderiam suas terras para os barões normandos.
Guilherme fez com que a lealdade à nação, representada pela coroa, fosse mais
importante do que a lealdade ao senhor individual. Sistema Legal: novas estruturas de

92
governo, leis e impostos foram estabelecidos. As leis eram severas e ofereciam proteção.
Nenhum homem ou mulher desarmados precisavam ter medo durante o reinado de
Guilherme. Seus soldados eram instruídos a agir dentro da mais absoluta justiça. Guilherme
era rigoroso:
Odo de Bayeux, meio-irmão de Guilherme e seu conselheiro de confiança, assumiu
interinamente o reino enquanto Guilherme visitava a Normandia. Em 1082 Guilherme
ouviu reclamações acerca do comportamento de Odo. Ele então retornou à Inglaterra e Odo
foi acusado de conduta irregular no governo e opressão, tendo sido mandado para a prisão.
Ao ser declarado culpado pelo tribunal, permaneceu preso durante cinco anos. Religião: os
clérigos anglo-saxões foram gradualmente substituídos pelos normandos. Guilherme
nomeava homens de boa educação e caráter. Sob a administração de Lanfranc (que foi Sri
Yukteswar, nas palavras de Yogananda), agora Arcebispo da Cantuária, novos monastérios
foram estabelecidos, ao mesmo tempo em que as regras e a disciplina foram
cuidadosamente observadas. A igreja e as leis do estado laico foram separadas, os bispos
possuíam seu próprio tribunal, o que permitiu que as leis civis evoluíssem de maneira
independente. Guilherme manteve-se no direito de nomear bispos e destituir abades. Ele
utilizava esses clérigos como administradores públicos, pois eram de longe os membros
mais instruídos da sociedade.
“A Paisagem Inglesa”: Não havia castelos na Inglaterra antes de Guilherme, que agora
eram construídos em todo lugar, como pontos estratégicos de observação e controle. Os
castelos eram doados aos barões normandos que serviam ao rei.
Guilherme também construiu o Castelo de Windsor. Mesmo nos dias de hoje, sendo
uma das residências oficiais da Rainha, o Castelo de Windsor continua desempenhando um
papel formal em assuntos de estado e eventos oficiais. Guilherme não tinha a opção de ser
doce e meigo. Aqueles eram tempos difíceis e perigosos. Desde a mais tenra infância a vida
de Guilherme esteve ameaçada em virtude da inveja de seus opositores, mesmo dentro de
seu próprio Ducado na Normandia. Imaginem só: ele, um filho ilegítimo, tornou-se o
governante quando tinha apenas 8 anos de idade. É claro que alguns barões, que desejavam
para si o poder e a glória, tentaram por diversas vezes assassiná-lo.
Guilherme precisou lutar pela sobrevivência desde cedo. Anos mais tarde, o Rei da
França e outros também puseram em risco sua vida e seu ducado. E ainda, após ter
conquistado a Inglaterra, Guilherme continuou enfrentando rebelião após rebelião. No fim,
ele foi atacado até mesmo por seu próprio filho, Robert, que cobiçava a Normandia para si.
Numa época em que era comum executar inimigos, Guilherme ordenou a pena de morte
apenas uma única vez, por traição (algo que Yogananda, mesmo nesta vida, denominava “o
maior dos pecados”).
A história pode ser transformada em mentiras! Mesmo hoje em dia as notícias na mídia
são “enfeitadas”, distorcidas, alteradas. Certa vez, após ter ouvido uma das terríveis
histórias contadas sobre Guilherme, Yogananda exclamou: “Como distorcem a história!
Não foi nada disso que aconteceu!”
Entretanto, lendo-se as fontes históricas francesas, o panorama se altera drasticamente.
Aos olhos dos franceses, Guilherme não apenas foi um rei extraordinariamente poderoso,
corajoso e inteligente, mas também um patrono das artes, um líder sábio e um verdadeiro
grande homem. O Papa Gregório VII, que viveu na época de Guilherme e foi
posteriormente canonizado, se referia a Guilherme como “uma preciosidade entre os reis”.
Guilherme era um homem extremamente religioso. Ele construiu inúmeros monastérios
e igrejas na Normandia e na Inglaterra. Era também um devoto seguidor de seu conselheiro,

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o Arcebispo Lanfranc. Guilherme era homem de caráter generoso, disciplinado,
compassivo, que protegia seu povo e exigia virtude de seus soldados. Em uma era
libidinosa, foi completamente fiel a sua esposa Matilda. Guilherme decretou o fim da
escravidão, que ainda era praticada na Inglaterra Saxônica.
Guilherme e Matilda tiveram 10 filhos, 4 homens e 6 mulheres. Não se tem registro de
algum filho ilegítimo. (A propósito: todas as filhas e a maioria dos filhos eram muito
religiosos). Eram eles:

• Robert Curthose, 1052/4–1134: Duque da Normandia. Foi o mais problemático dos filhos,
chegando até mesmo a trair Guilherme e lutar contra ele.
• Richard: nascido em 1054, foi morto em um acidente durante uma caçada em1075.
• Adelaide (ou Alice), c. 1055–?, morreu virgem.
• Cecília , c. 1056–1126, abadessa da Santíssima Trindade em Caen.
• William “Rufus,”1056–1100, Rei da Inglaterra após a morte de Guilherme.
• Matilda
• Adela, c.1062–1138
• Ágata, c.1064–c.1080
• Constance, c.1066–1090
• Henrique “Beauclerk,” 1068–1135, caçula de Guilherme, que mais tarde se tornaria o Rei
Henrique I, rei da Inglaterra e Duque da Normandia.

Sobre Ágata:
Ela é mencionada pelo historiador Orderic Vitalis, que afirmou que ela foi prometida
em casamento primeiramente a Haroldo da Inglaterra e mais tarde a Afonso VI, Rei de
Galícia e Leão, na Espanha, que havia pedido uma das filhas de Guilherme em casamento.
Ágata, porém, supostamente morreu virgem – o casamento não chegou a ser consumado.
Ela teria por volta de 16 anos, se pudermos confiar nos registros históricos. Ela foi
enterrada na Catedral de Bayeaux, em Bayeaux, na Normandia, França.
Curiosamente, Yogananda contou para Daya Mata que ela tinha sido Ágata, que
realmente havia sido enviada por ele para se tornar a Rainha da Espanha. Ágata, porém, era
de temperamento naturalmente monástico, tendo decidido apaixonadamente se casar “com
Deus apenas”. (A própria Daya Mata contou essa história). Ela desembarcou no Porto de
Espanha, onde foi encontrada morta em sua cabine. Ela tinha morrido de joelhos, rezando
para que fosse liberada daquela provação. Seus joelhos devem ter sofrido de maneira
extrema. A dor deve ter sido tanta que, segundo relatos de Daya, ela levou essa influência
para a vida atual, em que sofre de problemas de joelho. Uma vez mais, nesta vida,
Yogananda confiou a essa alma interiorizada uma posição de grande responsabilidade
externa. Desta vez, porém, Daya enfrentou essa enorme tarefa, embora muitas vezes tenha
se referido a ela, de maneira compreensível, como “um fardo”.
Sua vida passada deixou marcas que ainda são visíveis. Daya possui definitivamente
um ar de realeza. De maneira apropriada (karmicamente falando), chegou até mesmo a
receber uma coroa dos monges e monjas da SRF na comemoração de seu quinquagésimo
aniversário de vida monástica. Ainda no aspecto exterior, para a consternação de alguns,
sabe-se que ela anda com um carro digno de uma rainha e também vive em um palacete.
Sua irmã mais velha, Ananda Mata, também aparenta possuir essa aura de nobreza. Será
que Ananda Mata também era filha de Guilherme? Poderia talvez ter sido a irmã mais velha

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de Daya, Cecília, que, conforme já dissemos, foi abadessa na “Santíssima Trindade” em
Caen?

Sobre Henrique:
No leito de morte de Guilherme, seu filho mais novo Henrique, que herdaria apenas
alguma quantidade de dinheiro, perguntou: “Como irei gastar esse dinheiro, se não tiver
terras?” Guilherme então pronunciou algumas palavras proféticas: “Fique calmo, pois tu
acabarás possuindo aquilo que teus irmãos agora possuem”. Essa profecia provou ser
verdadeira, pois Henrique mais tarde governou tanto a Inglaterra quanto a Normandia,
continuando com sucesso o que seu pai havia iniciado.
Swami Kriyananda escreve que intuitivamente acredita ter sido o Rei Henrique.
Kriyananda também emana uma certa aura de realeza. Tanto ele quanto Daya já disseram
que se sentiam como irmãos. “Sinto que você esteve próximo do Mestre em outras vidas”,
Daya também lhe falou.
Houve uma época em que esses dois príncipes, que atualmente não se falam, eram
muito próximos: lado a lado aos pés de Yogananda; trabalhando juntos como presidente e
vice-presidente da SRF; viajando juntos durante meses pela Índia; e mais tarde brigando
muito, como irmãos e irmãs costumam fazer às vezes.
Henrique, assim como Guilherme profetizou, teve um grande papel a desempenhar em
nome de seu pai (e assim como Guilherme, obviamente, não é considerado com muita
simpatia pelos historiadores). Yogananda repetiu muitas vezes a Kriyananda: “Você tem
um grande trabalho a fazer”. Daya e outros colegas discípulos rejeitam essas novas palavras
proféticas de Yogananda. Apenas o futuro dirá se Henrique vai mais uma vez assumir um
papel de destaque na obra de seu pai.

Sobre Robert Curthose, Duque da Normandia:


Dhirananda foi, como Yogananda afirmou, o filho mais velho de Guilherme, Robert
Curthose. Guilherme ficou profundamente contrariado e entristecido pela traição de seu
filho amado, que o abandonou e fez aliança com o inimigo. Robert queria para si o Ducado
da Normandia, mas Guilherme recusou. Eventualmente ambos entraram em guerra, e
Guilherme chegou mesmo a ser ferido por Robert em batalha. Mais tarde, os dois se
reconciliaram. Guilherme, após sua morte, deixou a Normandia para Robert. Este, porém,
reinou de maneira dissoluta, chegando a por em risco o legado de seu pai. Robert jamais
aceitou Henrique como rei da Inglaterra (já que ele, Robert, era o primogênito), de maneira
que lutou contra seu irmão, mas perdeu. Foi então que Henrique, para ter certeza que
Robert não iria causar mais problemas, encarcerou o irmão pelo resto de sua vida. Mesmo
assim, ele sempre tratou Robert com generosidade e honra. Seu irmão viveu, conforme
relatam os historiadores, em “considerável luxo”.
Mais uma vez, agora nesta vida, Yogananda foi traído por Dhirananda, que o
abandonou e batalhou contra ele nos tribunais. O karma repete a si mesmo, a menos que o
impeçamos.

Sobre William “Rufus”, Rei da Inglaterra após a morte de Guilherme:


Dizem ter sido um homem grosseiro, mas sempre leal a seu pai. Ele também sofreu
muito na mão dos historiadores britânicos, que atualmente o descrevem um pouco melhor.
Ele morreu durante uma caçada. Os historiadores, obviamente, especularam que o acidente

95
foi na verdade obra do plano ganancioso de Henrique para assumir o trono – uma teoria que
atualmente encontra-se desacreditada.
Nos tempos de Yogananda, William Rufus foi um certo Sr. Vickermann de Nova
Iorque, empresário e devotado seguidor do Mestre. Era uma pessoa espiritualmente
avançada (enquanto os historiadores normalmente retratam Rufus como um governante
anti-religioso).

Será que Tara Mata também viveu na época de Guilherme? Aparentemente sim, já que
ela disse:
“Mesmo quando era Guilherme, Yogananda nunca chegou a dominar totalmente a
Língua Inglesa”. Quem ela poderia ter sido? Só podemos tentar advinhar!

Aqui vai uma pergunta difícil: por que Deus iria querer que Guilherme, um avatar,
conquistasse a Inglaterra? Qual era o plano divino por trás disso? Não é absolutamente
intrigante?
A resposta pode simplesmente ser: só Deus sabe. “Porque os meus pensamentos não
são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor.
Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais
altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos
pensamentos”. (Isaías 55:8)
A mente humana, entretanto, anseia pelo conhecimento e procura obter uma resposta
concreta. Uma possível resposta, portanto, poderia ser: Guilherme unificou a Inglaterra,
uma nação que jamais tinha conhecido a unidade antes, tendo criado uma potência que
jamais seria novamente destruída. Eventualmente, a Inglaterra acabaria colaborando para
unificar o mundo, colonizando a América no Ocidente e a Índia no Oriente. Seus métodos
de conquista, obviamente, nem sempre foram dignos de louvor, mas ajudaram a estabelecer
o cenário para o futuro do mundo: a América e a Índia, Yogananda profetizou, irão liderar
em conjunto as nações rumo a Dwapara Yuga.
Um efeito colateral da unificação inglesa também se torna óbvio quando observamos a
penetração do idioma Inglês, que se tornou a Língua Franca do mundo, unindo a todos os
países.
Guilherme, coincidentemente, faleceu aos 59 anos de idade, assim como Yogananda.
Ele morreu no dia 9 de setembro de 1087 em decorrência de um acidente com seu cavalo.
Ele foi arremessado violentamente da sela, tendo sofrido ferimentos internos que não
cicatrizaram. Após seis semanas, em Rouen, ele veio a falecer de maneira divina:
Guilherme dirigiu suas mãos e seu olhar para o céu em oração, invocando a Virgem Maria
e Jesus Cristo, tendo então, naquele momento, expirado.
Surpreendentemente, há muitos quilômetros dali, naquele mesmo dia, alguns
normandos que viviam em Roma e na Calábria afirmaram que de algum jeito misterioso
ficaram sabendo da morte de Guilherme. Teria Guilherme aparecido para eles? Seu corpo
foi enterrado em Caen, na Igreja de Santo Estevão. Em seu testamento, Guilherme
distribuiu sua riqueza entre os pobres e a Igreja.
Agora vem um fato fascinante, que não se encontra em nenhum livro de história
britânico – é preciso recorrer aos historiadores franceses. Uma das obras mais pesquisadas é
“Guilherme o Conquistador”, de Michel de Boüard, um professor altamente respeitado,
autor e pesquisador da Europa medieval. A informação seguinte foi extraída de seu livro:

96
Em 1522, 435 após a morte de Guilherme, o pesquisador Charles de Bras, de Caen,
registrou o seguinte incidente histórico:
Um cardeal, um arcebispo e um bispo vieram de Roma. Obviamente sua visita tinha
alguma
razão especial, embora desconhecida. Eles receberam as boas-vindas do abade Pietro di
Martigny, ao qual pediram que abrisse o sarcófago de Guilherme o Conquistador. Eles
encontraram o corpo de Guilherme em perfeito estado de incorruptibilidade!
É impressionante. Guilherme, assim como Yogananda, deixou um corpo incorrupto.
Ambos legaram ao mundo este maravilhoso sinal de sua alma santificada. Teria Yogananda
nos deixado sinais de sua presença celestial não somente em sua vida como Yogananda,
mas também em sua vida como Guilherme?
A propósito: Edward da Inglaterra, o Rei que havia prometido o torno Inglês para
Guilherme, deve tê-lo conhecido bem, pois além de ter sido seu meio-tio, Edward viveu
exilado durante 25 anos na Normandia (entre 1016 e 1041; Guilherme foi Duque da
Normandia a partir de 1035), desde que o rei Viking dinamarquês, Canuto, o Grande, tinha
conquistado a Inglaterra. Edward (chamado de “o Confessor”) foi, interessantemente, um
homem extremamente religioso. Em 1102, 36 anos após sua morte, sua tumba foi aberta e
descobriu-se que seu corpo também estava preservado! Milagres aconteceram lá. O Rei
Edward foi canonizado em 1161 pelo Papa Inocêncio II, tendo se tornado o santo patrono
da Inglaterra até que foi “superado” por São Jorge.
Guilherme e Edward, portanto, foram “gêmeos na incorruptibilidade”. Ao
representarem o drama da realeza, suas vidas parecem ter ajudado uma a outra. É de se
perguntar se eles já vieram à terra juntos, como velhos amigos.

~~~~~<>~~~~~ 6º Idioma: Espanhol Antigo (Castelhano) ~~~~~<>~~~~~

O antigo Espanhol deve ter estado entre a confusão mental dos idiomas de Yogananda!
Yogananda disse que muito séculos atrás tinha sido um comandante militar na
Espanha, lutando para libertar o país dos Mouros (Muçulmanos de origem africana, de
descendência Árabe) e proteger o Cristianismo.
(O famoso El Cid vem à mente – mas não seria possível, pois viveu na mesma época
de
Guilherme o Conquistador). Os Mouros conquistaram a Península Ibérica no século
oitavo. Sua presença naquela região durou mais de cinco séculos, até que finalmente foram
expulsos em grande parte da Espanha no século treze. Toledo foi conquistada em 1212,
Córdoba em 1236 – e por volta de 1250 os Mouros mantinham apenas a cidade de Granada
no extremo sul da Espanha.

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Estudando para saber quem foram os responsáveis pela expulsão dos Mouros, ficamos
intrigados ao descobrir que a tarefa foi um esforço conjunto de Alfonso VIII de Castela e
seu neto, que era um raro exemplo de Rei-Santo: Ferdinando III, de Leão e Castela,
chamado de “Fernando El Santo”. (Não deve ser confundido com o muito mais famoso
Ferdinando II, “O Católico”, que também lutou e venceu os Mouros em sua última fortaleza
de Granada, no século quinze, sendo quem patrocinou Cristóvão Colombo, mas que
infelizmente também deu início à Inquisição Espanhola).

Uma pequena nota:


Alfonso VIII foi casado com Eleanor, a filha de Eleanor de Aquitânia com Henrique II
da
Inglaterra. Portanto, Eleanor foi tataraneta de Guilherme o Conquistador.
A filha de Alfonso VIII, Berenguela, era a mãe de Ferdinando III. Resumindo:
Ferdinando III era descendente direto de Guilherme o Conquistador!
Quando o irmão de Berenguela, Henrique, morreu em 1217, ela renunciou a seus
direitos reais em favor de seu filho Ferdinando III, que então sucedeu a seu avô Alfonso III,
tendo prosseguido com sucesso sua batalha contra os Mouros.
O Rei Ferdinando III (1198–1252) foi realmente um santo. Muitos milagres
aconteceram em seu túmulo. Foi canonizado pelo Papa Clemente X em 1671. Assim como
Guilherme, ele foi um conquistador: foi através de sua vitória sobre os Mouros, que ele
finalizou a reconquista da Espanha. (ver: www.ronda.ws/images/archi...urillo.jpg)
É agora que vem o mais impressionante: o corpo de Ferdinando III é oficialmente
considerado como tendo permanecido incorrupto, e ainda hoje pode ser visitado em
Sevilha.
A esta altura, surge uma forte suspeita:
Não apenas Yogananda pode realmente ter sido o Rei Ferdinando III, mas... será que
um corpo incorruptível é a assinatura celestial de suas passagens pela terra? Algo talvez
como um código secreto?
Há uma passagem na obra “The Second Coming of Christ” da SRF, que parece
explicar aquilo que Jesus, Eliseu, Guilherme, Ferdinando III e Yogananda fizeram: “Assim
como Jesus preencheu de vida a concha de seu corpo morto, espiritualizando-o e
imortalizando-o, também o corpo em decomposição do falecido Eliseu foi mantido através
da força vital”. Todos eles imortalizaram seus corpos!
De volta ao Rei Ferdinando! Um estudo mais aprofundado de sua vida revela muitas
similaridades impressionantes com Guilherme o Conquistador. Seguem alguns fatos de sua
vida:
• Em 1217, aos 18 anos, Ferdinando tornou-se Rei de Castela (A Espanha na época
consistia em diversos reinos independentes). Em 1230 ele assumiu a coroa de Leão (um
reino ao norte), unificando os dois. “União”, ao que parece, poderia ser a palavra chave da
missão de Yogananda, tanto no sentido externo quanto no interno (Ioga). Como Arjuna, ele
unificou a Índia. Como Guilherme, unificou a Inglaterra. Como Ferdinando III, unificou a
Espanha e, como Yogananda, unificou as religiões e uniu as almas com Deus.
• Ele nomeou como seus conselheiros os homens mais sábios de seu tempo. (Os amigos
próximos a Guilherme também eram homens de grande sabedoria. Lanfranc era
considerado o homem mais sábio de sua época. Santo Anselmo também foi muito sábio).

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• Juiz rígido no que dizia respeito à lei, Ferdinando III era gentil e piedoso em sua vida
pessoal. (Guilherme também foi muito severo no cumprimento da lei, sendo extremamente
generoso em sua vida privada).
• Ferdinando III foi cuidadoso em não onerar seus súditos com impostos em demasia.
(Guilherme também era protetor e carinhoso com seu povo).
• Seguindo o conselho de sua mãe, Ferdinando III se casou em 1219 com Beatrice, filha de
Felipe da Swabia, Rei da Alemanha, uma das princesas mais virtuosas de sua época!
• Deus abençoou essa união com dez filhos: sete homens e três mulheres. (Guilherme
também teve dez!)
• Os maiores objetivos da vida de Ferdinando foram a propagação da fé Cristã e a
libertação da Espanha do jugo Mouro. Ele foi vitorioso e retomou todos os territórios, com
exceção de Granada, cujo governante, ainda assim, prestava homenagens a Ferdinando.
• Ele unificou a Espanha com suas conquistas. (Assim como Guilherme unificou a
Inglaterra).
• Nas cidades mais importantes estabeleceu dioceses, restabeleceu a fé católica, construiu
igrejas, fundou monastérios, patrocinava hospitais. (Guilherme também construiu muitos
monastérios e igrejas).
• Ele controlava o comportamento de seus soldados, confiando mais em suas virtudes do
que em sua coragem. (Guilherme tinha feito exatamente a mesma coisa).
• Ferdinando costumava jejuar severamente. (Guilherme era homem de rigoroso
autocontrole).
• Ele vestia uma camisa rasgada, e frequentemente passava as noites em oração,
principalmente antes das batalhas. (Guilherme também orava muito, especialmente antes
dos combates). Entre o tumulto do acampamento de soldados, ambos viviam como
religiosos na clausura.
• O Cristianismo e a felicidade de seu povo eram as duas forças motrizes de sua vida.
• Ele reformou a lei espanhola, compilando-a em códigos utilizados durante séculos.
(Assim como Guilherme). Ele foi um excelente administrador e governante justo,
frequentemente concedendo indulto a quem tramava contra a coroa. (Novamente, assim
como Guilherme).
• Procurou sempre utilizar seu poder para melhorar as condições de vida do povo e da
nação.
(Guilherme também agiu assim).
• Fundou a Universidade de Salamanca, a Atenas da Espanha.
• O primogênito de Ferdinando se tornou o rei Alfonso X, “El Sabio”, cuja corte foi um
centro de cultura. Ele fomentou a astronomia e também moldou as bases da Espanha
moderna. Ferdinando foi enterrado na grande catedral de Sevilha, perante a imagem da
Bem-Aventurada Virgem. Seu corpo foi coberto, conforme ele mesmo havia pedido, com o
hábito da Ordem Terceira de São Francisco.
A pergunta é: o pequeno Mukunda ouvia ou não a santa voz de Ferdinando em sua
audição interna?

~~~~~~~~<>~~~~~~~~~ 7º Idioma: Espanhol Moderno ~~~~~~<>~~~~~~~

Seria possível que uma versão passada do idioma Espanhol Moderno também ecoasse
na mente do jovem Yogananda?

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Yogananda disse para alguns discípulos: “Eu já fui governante, poeta, guerreiro e por
diversas vezes renunciante”.
Suas muitas vidas como eremita dificilmente serão conhecidas. Mas, poeta? Quem era
esse poeta? A poesia em Yogananda nascia naturalmente, dizia ele, em virtude de uma vida
passada.
Ele escreveu poemas místicos de beleza incomparável.
Muitos discípulos imaginavam que Yogananda tinha sido o rei dos poetas, William
Shakespeare, já que o Mestre recomendava que lessem pequenos trechos de suas obras
diariamente. Em seus comentários originais ao Bhagavad Gita, Yogananda chegou
inclusive a citar Shakespeare ao lado de Cristo e Krishna, todos sendo “grandes luminares”.
Kamala, no livro “O Espelho Perfeito”, escreve acerca de uma noite memorável com
Yogananda, na casa de sua família em Santa Barbara. Yogananda surpreendeu a todos com
uma representação dramática impecável do famoso discurso de Marco Antônio na obra
“Julius Caesar”, de Shakespeare. E tudo de memória!
De onde veio essa lembrança?
Bem, nós estamos tomando uma rota alternativa aqui (é só por diversão mesmo,
praticamente im-“provável”!)
Seguindo-se a suspeita de que Yogananda deixava como sua “assinatura celestial” os
corpos incorruptos, somos levados ao famoso poeta místico São João da Cruz (1542–1591),
cujo corpo ainda hoje está intacto! São João é, obviamente, um dos maiores personagens do
cristianismo místico. (Ele foi, a propósito, contemporâneo de Shakespeare).
Quando São João da Cruz (Juan de Ypres y Alvarez) morreu, ele foi enterrado em um
sarcófago debaixo do piso de uma igreja. Quando sua tumba foi aberta, nove meses mais
tarde, o corpo continuava novo e intacto. Quando um de seus dedos foi amputado para ser
utilizado como relíquia, seu ferimento sangrou como se fosse de uma pessoa viva.
Em exumações posteriores nos anos de 1859 e 1909, seu corpo ainda mantinha o
frescor. A última exumação aconteceu em 1955, quando o corpo – após quase 400 anos –
continuava ainda “úmido e flexível”, embora com uma leve despigmentação da pele. (ver:
carmelnet.org/galleries/Jcr001.jpg )
São João foi conselheiro e confessor de Santa Teresa D’Ávila, que mais tarde voltaria,
como muitos discípulos de Yogananda acreditam, como a Irmã Gyanamata.
Em seu livro “God Alone”, Gyanamata narra que alguém teve uma visão na qual a viu
em uma outra (aparentemente santa) encarnação. Foi assim que sua lenda como Teresa
surgiu?
Yogananda afirmou: “Gyanamata possui características de Teresa”, além de ter
descrito Santa Teresa como sendo “de nossa linhagem”.

Teresa morreu em 1582. Seu corpo também, surpreendentemente, ainda está


preservado. Outra vez mais, seria o caso de “gêmeos na incorruptibilidade”? Existe aqui
algum plano celestial de amor divino? O corpo de Teresa foi exumado diversas vezes após
sua morte, sempre com os mesmos resultados: frescor, firmeza e incorruptibilidade.
Diversas partes de seu corpo encontram-se em exposição ao redor do mundo. O coração e o
braço de Santa Teresa estão à mostra em um santuário no convento carmelita na cidade de
Alba de Tormes. Yogananda disse acerca de Teresa: “Após 25 anos de sofrimento, os anjos
assopraram um vento ardente em seu coração, e Santa Teresa falou que ‘parecia que não
conseguiria suportar, mas então de repente eu O vi’. Esse é o eterno romance. Essa é a onda
se tornando o oceano. O corpo de Cristo se tornou o oceano da Unidade que Teresa sentiu”.

100
Gyanamata, conforme Yogananda disse, havia atingido Nirbikalpa samadhi em uma
vida
passada. Teria sido esse o momento?
São João era muito mais jovem que Teresa (27 anos), assim como Yogananda era
muito mais jovem que Gyanamata (24 anos). O ministério de São João incluía orientar
Santa Teresa. Ele se tornou seu guia e confessor. Teresa se referiu a ele numa carta como
“um homem divino e celestial”. Em 18 de novembro de 1572, enquanto recebia a
comunhão das mãos de João da Cruz, Teresa recebeu a bênção do “casamento espiritual”
(união divina).
São João da Cruz é geralmente conhecido como um dos mais importantes místicos
cristãos, um imaculado poeta e reformador da igreja ao lado de Santa Teresa. Seus livros
mais famosos, “Subida ao Monte Carmelo” e “A Noite Escura da Alma” são explicações de
seus versos místicos, iniciando assim: “Em uma noite escura, de amor em vivas ânsias
inflamado…” Ele ensinava meditação, conhecimento da alma e da luz interior.
Entretanto, não iremos nos aprofundar na vida de São João, tendo em vista que
Yogananda não costumava falar muito sobre ele. Aparentemente, se o Mestre tivesse sido
São João, seria provável que tivesse escrito mais sobre sua vida. Assim, na feliz dúvida,
iremos apenas incluir dois versos de um belíssimo poema de São João:

“Estava tão embebido,


tão absorto e despojado;
deteve-se meu sentido
de todo sentir privado,
e o espírito dotado
de entender não entendendo,
toda ciência transcendendo.
Quem ali chega um dia
de si mesmo desfalece;
tudo que antes conhecia
mui ínfimo lhe parece,
sua ciência tanto cresce,
que fica desconhecendo,
toda ciência transcendendo”

101
~~~~~~~~~~<>~~~~~~~ 8º Idioma: Hindi ~~~~~~~~<>~~~~~~~~

Será que o pequeno Yogananda, então chamado Mukunda, também ouvia o Hindi em
sua
audição interna?
Ele afirma no início de sua Autobiografia: “Lembro-me claramente de uma existência
longínqua como iogue entre as neves do Himalaia".
Audaciosamente iremos inserir essa “existência longínqua” na lacuna entre 32 d.C e
700 d.C, onde não vimos traços de alguma vida de Yogananda. Bem, ele já foi renunciante
muitas vezes, o Mestre mesmo disse – então quem sabe não estamos com sorte!
Ousaremos ainda designar o Hindi como seu idioma naquela vida em particular – de
maneira um tanto oportunista, admitimos, já que o Hindi estava faltando em sua relação de
idiomas! E mais, ainda de maneira audaciosa, iremos vesti-lo em um hábito laranja, pois
quando seu irmão Ananta o ridicularizou pela idéia de fugir aos Himalaias (“Onde está sua
túnica alaranjada? Não pode ser um swami sem ela!”), Yogananda respondeu: “Suas
palavras, porém, provocaram em mim inexplicável comoção. Fizeram com que visse uma
nítida imagem: eu era um monge, percorrendo a Índia. Talvez as palavras de Ananta
despertassem lembranças de uma vida anterior; em todo caso, percebi com que naturalidade
usaria a túnica daquela ordem monástica, de fundação antiquíssima”.
Evidentemente, Yogananda não era nem um pouco medroso! Logo no início de sua
Autobiografia, na primeiríssima página, Yogananda confronta o leitor ocidental com o
estonteante conceito da reencarnação. Seu livro foi publicado nos anos 40, quando quase
ninguém acreditava ou mesmo sabia que reencarnação existia. Naqueles tempos
longínquos, palavras como ioga, swamis, reencarnação, etc, eram praticamente
desconhecidas, e certamente muito estranhas.

~~~~~~~~<>~~~~~~~~ Especulação Pura ~~~~~~~~<>~~~~~~~~

O negócio tá ficando pior aqui: adentramos no reino da mais pura, fantástica (e


totalmente incomprovável) especulação:

102
Yogananda disse que “nos tempos antigos, a Índia sempre foi governada por reis de
menor ou maior grau de religiosidade”. (Alguns que vem à mente: Rei Janaka, Rei Krishna,
Rei Rama, Rei Yuddhistira.)
Como já vimos, Yogananda foi rei uma ou duas vezes na Europa. Não teria sido um
grande rei na Índia também?
Caso fosse, teria nos deixado algum sinal dessa vida?
Talvez! Em sua Autobiografia, quando Yogananda se refere ao famoso rei Asoka, na
verdade não chega a dizer muito sobre ele. Na verdade, Yogananda se refere a Asoka como
o neto do grande rei Chandragupta Maurya. O Mestre continua descrevendo Chandragupta,
embora Asoka seja significativamente mais famoso, sendo considerado o maior imperador
da dinastia Maurya.
Yogananda dedicou muitas linhas ao imperador Chandragupta em sua Autobiografia,
além de tê-lo mencionado em suas palestras.
Por que mencioná-lo tantas vezes? Seria uma maneira de honrar o maravilhoso passado
da Índia?
Talvez. Ou quem sabe exista algo mais? Será que Yogananda foi o próprio Rei
Chandragupta?
Chandragupta (340–297 a.C.), segundo os historiadores, unificou a Índia e se tornou o
primeiro rei a governar uma Índia unida e independente. Padrões de medida e peso foram
estabelecidos, as primeiras moedas da Índia foram cunhadas. O império de Chandragupta
era muito tolerante com a variedade de religiões, incluindo Budismo e Jainismo.
Todas(!) as seguintes informações sobre Chandragupta foram retiradas da
Autobiografia e das palestras de Yogananda:
Alexandre “o Grande” invadiu a Índia 327 a.C. Chandragupta conheceu Alexandre
quando jovem. (Teria sido esta a razão pela qual Yogananda tentou marcar um encontro
com Hitler? Afinal de contas, conforme dizia o Mestre, Hitler tinha sido Alexandre o
Grande. Alexandre tinha inclinações espirituais, de maneira que o Mestre desejava tentar
reacender essas inclinações em Hitler).
O Rei Chandragupta (que reinou entre 321–297 a.C.), após a morte de Alexandre,
expulsou os gregos da Índia em 305 a.C., destruindo as guarnições macedônias
remanescentes.
Ele certa vez recebeu em sua corte o embaixador grego Megástanes, que nos deixou
descrições da Índia feliz e empreendedora de sua época:
Os habitantes, possuindo abundância dos meios de subsistência, são altos e se
distinguem pelo andar orgulhoso. Também são muito habilidosos em tarefas manuais, o que
é de se esperar em homens que respiram ar puro e bebem da mais límpida água. Todos os
indianos são livres, não há um escravo sequer entre eles, nem mesmo estrangeiros. Eles
vivem frugalmente e observam a ordem. É raro haver furto de propriedade. A simplicidade
de suas leis e contratos resta demonstrada pelo fato de que raramente precisam apelar ao
magistrado. Não existem processos de cobranças, nem mesmo necessitam de testemunhas
ou documentos escritos, pois confiam uns nos outros. Os indianos nem emprestam dinheiro
a juros, nem sabem como pedi-lo emprestado...
Verdade e virtude andam juntas em sua preferência... Em contraste com a simplicidade
geral de sua vida, eles amam enfeites e artigos bem produzidos.
O reinado dos reis Gupta tem sido chamado de a Era Dourada. As maiores autoridades
concordam que o país nunca foi tão bem governado nos tempos antigos quanto nos dias dos

103
Guptas. O povo era feliz e honesto. Não havia pena de morte. Não era necessário o
“olho por olho, dente por dente”.
Eventualmente, o vitorioso Chandragupta passou as rédeas do governo da Índia a seu
filho. Viajando para o sul do país, Chandragupta passou os últimos doze anos de sua vida
como um asceta sem dinheiro, buscando a Auto-realização numa caverna rochosa em
Sravanabelagola, hoje um santuário de Mysore.
Chandragupta morreu em 297 a.C., após um glorioso reinado de 24 anos. (Ele tinha 57
anos, pouco menos que Yogananda).
O filho de Chandragupta, Bindu Sara, entregou o império intacto a seu filho, Asoka,
após 25 anos de reinado. Asoka governou respeitando os direitos dos homens e dos
animais. Por volta de 272 a.C., enviou missionários para terras tão distantes quanto o Egito
e a Síria, a fim de pregar o budismo. Os missionários indianos converteram a China (um
quinto da população do planeta) e o Japão ao Budismo.

~~~~~~~<>~~~~~~9º, 10º e 11º Idiomas: Latim, Grego, Egípcio~~~~~<>~~~~~~

Nada além de pura especulação:


É normal imaginar que, em 1935, quando Yogananda viajou à Europa, ele estava
aproveitando para visitar alguns dos lugares em que já tinha vivido antes: já vimos que ele
visitou Stonehenge.
Visitou ainda Londres e a França, onde viveu como Guilherme. Visitou Israel, onde
provavelmente também viveu.
E quanto a Itália? Em 1935 Yogananda visitou os santuários de São Francisco de Assis
(1182- 1226), a quem se referia como sendo “de nossa linhagem”. Ele também chamava
São Francisco de “meu santo patrono”.
Alguns rumores entre os discípulos de Yogananda indicam que Sri Yukteswar era a
reencarnação de São Francisco de Assis. Outras histórias contam que São Francisco atingiu
a libertação naquela vida, e que também foi um discípulo de Jesus. Quem poderá dizer?
Teria Yogananda talvez vivido na antiga Grécia com seus filósofos luminares, tendo
em vista que também visitou os templos atenienses? Ele escreveu: “Fiquei pasmo com as
ruínas antigas e suas associações na Roma e na Grécia”.
O que ele quis dizer com “associações”?
A propósito:
Yogananda falava muito bem de Pitágoras, que viveu entre 580-500 a.C., no início da
Era de Ouro de Atenas. Pitágoras dizia que “Tudo é Número”, e dava ensinamentos sobre a
imortalidade da alma, reencarnação, união da alma com o divino, o poder libertador da
abstinência e do vegetarianismo. Ele também introduziu a idéia de uma terra esférica, 2 mil
anos antes de Colombo, além de ser considerado o pai da cosmologia. Ele fundou em
Crotone, no sul da Itália, uma comunidade filosófico-religiosa: os Pitagóricos.

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Yogananda disse: “Pitágoras foi um dos grandes filósofos gregos. Ele definitivamente
se lembrava de já ter sido um percursor na Grécia, e de também ter sido um guerreiro. Ele
se
lembrava de muitas encarnações”.
Como Yogananda conhecia “definitivamente” as memórias particulares de Pitágoras?
Nenhum de seus escritos chegou até nossos dias...
Uma nota: Pitágoras exerceu forte influência sobre a filosofia de Aristóteles, que foi
avô, mestre e tutor de Alexandre que, mais tarde, declarou-se divino... Ele deve ter feito
alguma confusão com os sublimes ensinamentos gregos! Yogananda conta em sua
Autobiografia como os sábios indianos posteriormente deram uma lição de sabedoria e
humildade em Alexandre. O grande general, entretanto, tinha um karma obviamente
positivo: foi ensinado por seu avô Aristóteles, teve contato com santos e chegou inclusive a
levar consigo um verdadeiro iogue, seu “guru Indiano” (ver Autobiografia). Mais tarde,
Yogananda disse, ele encarnou como Hitler. Logo que chegou ao poder, Yogananda, que
conhecia seu karma, chegou a ter boas expectativas para seu governo (o mesmo com
Mussolini). Quando visitou a Alemanha em 1935, o Mestre tentou conseguir uma entrevista
com ele, com o intuito de levá-lo de volta ao bom caminho. Hitler, infelizmente, acabou se
tornando cada vez mais maligno, promovendo enorme destruição. As pessoas comuns, ao
que parece, fazem tão pouco bem quanto mal. As grandes, por sua vez, são capazes de fazer
um grande bem, assim como um grande mal. As consequências kármicas, obviamente, são
extremamente amargas.
E quanto ao antigo Egito, em sua era dourada? Yogananda visitou as pirâmides. Ele
escreveu: “A Esfinge e as Pirâmides me contaram muito da história antiga”. História geral,
ou teria sido uma particular? (ver: www.ananda.org/inspiratio...camel1.JPG )
Se a segunda opção for verdadeira, fizemos bem ao acrescentar três novos idiomas ao
histórico de Yogananda: Latim, Egípcio e Grego!

~~~~~<>~~~~~12º Idioma: “Hiranyalokês”~~~~~<>~~~~~

Vamos deixar o passado de lado agora. E quanto ao presente? Qual idioma Yogananda
está falando neste momento, enquanto viaja incansavelmente através dos reinos astrais?
Haveria um idioma-vibracional “Hiranyalokês”?

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~~~~~<>~~~~~13º Idioma: Inglês-Mundial~~~~~<>~~~~~

E quanto ao futuro? Quando Yogananda escreveu que durante a infância lembrava de


uma vida passada na qual fora um iogue no Himalaia, ele acrescentou: “Esses lampejos do
passado, por alguma ligação adimensional, permitiram-me também vislumbres do futuro”.
O Mestre eventualmente contou aos discípulos algo sobre aquele futuro: ele renasceria
na Índia, após duzentos anos (por volta de 2.150 d.C). Ele então viveria nos Himalaias –
uma atração nunca esquecida! Uma vez mais, o Mestre disse, seus discípulos próximos
estariam com ele, até o fim de sua vida.
Em seu poema “Minha Índia”, o Mestre expressou o desejo de renascer na Índia: “Nem
no céu de uma terra florescente eu nasceria - se uma vez mais tivesse de tomar as vestes
mortais. Mesmo que a terrível fome rondasse e me lacerasse a carne, mesmo assim gostaria
de voltar ao meu Hindustão... Ainda assim, lá na Índia gostaria de renascer!”
Em sua próxima vida, daqui há 150 anos, será que o Inglês será seu idioma, já que se
tornou a língua franca do mundo?
Seja como for, ao contemplarmos a história passada e futura de Yogananda, obtemos
um quadro assombroso:
Yogananda declarou para vários discípulos que era um avatar, que atingiu a libertação
há muitas vidas atrás. Em uma da suas palestras disponíveis em áudio, ouvimos claramente
ele dizer: “Já nasci livre!” E não só isso. Ele nos deixou, no poema “O Barqueiro de Deus”,
esta incrível promessa: “Oh, eu virei, várias vezes! Se preciso for, um trilhão de vezes -
enquanto souber que um irmão extraviado ficou para trás”.
Um trilhão de vezes! Santo Deus! No sistema de Sri Yukteswar, quantas Yugas dariam
para um trilhão de vidas? Se calcularmos uma média de 50 anos para cada vida, admitindo-
se uma logo após a outra, teríamos aproximadamente 2 bilhões de Yugas!!!! Alguém é
capaz de conceber essa quantidade de anos, quanto mais de Yugas?
Assombrados com essa impressionante linha temporal dos Mestres, é difícil não relaxar
um pouco em nosso pequeno mundinho, que tantas vezes nos parece tão grande e importante...
Para finalizar de maneira bem-humorada:
Yogananda pode se meter em uma grande enrascada: quando for criança novamente,
após muitas e muitas vidas, será que as centenas de linguagens não irão criar uma
“confusão interna de idiomas” total em sua mente?
Ahá!!! É por isso que o Mestre queria um idioma único para o mundo!!!

~~~~~<>~~~~~Resumo das prováveis vidas de Yogananda~~~~~<>~~~~~

1.500 a.C. - Viveu em Stonehenge


Por volta de 850 a.C. – Eliseu
760–700 a.C. – Arjuna
340– 297 a.C. - Rei Chandragupta
Ano 0 – Jesus, ou seu contemporâneo
700 d.C – Junto de Shankara
1027–1087 d.C – Guilherme o Conquistador
1198–1252 d.C Ferdinando III
1542–1591 d.C – São João da Cruz
1893–1952 d.C – Yogananda
2150– ? d.C – Eremita nos Himalaias

106
Capítulo 17
Uma Reunião Histórica

Este livro termina com um sonho: uma reunião harmoniosa entre todos os discípulos
íntimos de Yogananda, compartilhando juntos suas incríveis e autênticas experiências com
seu Mestre. Vamos imaginá-los sentados em um círculo. Cada discípulo tem sua vez para
falar e compartilhar seu testemunho. Enquanto um discípulo conta sua história, outros
balançam a cabeça em aprovação, pois viram ou passaram por uma situação similar. Dessa
forma, a atmosfera entre eles aumenta em santidade, uma presença é sentida. Uma nítida
imagem lentamente se forma demonstrando quem Yogananda era e é: uma alma muito
maior do que o mundo poderá jamais saber. Sim, esse encontro histórico é apenas
imaginação, mas mesmo assim, cada uma das experiências individuais que está sendo
compartilhada é baseada em fatos verdadeiros, que foram realmente vividos.

Daya Mata: "Ele é Imortal"


Daya Mata inicia o debate compartilhando sua experiência com a aparição de Yogananda
em carne e osso após sua morte.

Gyanamata: "Ele foi um Curandeiro Divino"


Gyanamata conta como foi curada de uma doença fatal pela intervenção de Yogananda,
quando os médicos já tinham lhe desenganado.

Brother Bhaktananda: "Ele Dominava o Plano Material"


Brother Bhaktananda fala que testemunhou Yogananda materializando suco de cenoura,
que continuava sempre cheio no jarro.

Swami Kriyananda: "Ele foi um Premavatar"


Swami Kriyananda recorda como sentia um fluxo arrebatador de amor divino emanando
dele quando o mirava nos olhos, a ponto de fazer jorrar lágrimas em seu rosto – seu amor
era profundamente comovente.

Ananda Mata: "Ele era Um com a Mãe Divina"


Ananda Mata lembra do samadhi Cósmico que Yogananda experimentou em 1948. Ela o
viu conversando em êxtase com a Mãe Divina. Ananda Mata ouvia duas vozes distintas
provenientes da boca de Yogananda, a própria voz do Guru e a Mãe Divina respondendo a
ele através de sua própria fala.

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James Coller: "Ele era Onipresente"
James Coller fala do momento em que descobriu que Yogananda conhecia seus
pensamentos e ações, como a de comer hamburgueres em segredo. O Mestre explicou:
“Conheço cada um de seus pensamentos”.

Tulsi Bose: "Ele foi um Conquistador da Morte"


Tulsi Bose, amigo de infância de Yogananda, revela que esteve presente quando o Mestre
trouxe de volta à vida um homem que estava morto, certificado por médicos.

Peggy Deitz: "Ele Comandava os Elementos"


Peggy Deitz, a motorista de Yogananda, fala de quando testemunhou Yogananda levitar.

Kamala Silva: "Ele foi um Cristo"


Kamala conta que certa vez viu Yogananda aparecer com a pele azulada, como Krishna. O
azul, Yogananda explicou, é a cor da Consciência Crística.

Sananda Lal Ghosh: "Ele tinha Poder Cósmico"


Sananda Lal Ghosh, seu irmão, conta a história de como passou por uma miraculosa
experiência durante uma longa viagem de carro, que não tinha gasolina no tanque.

Swami Hariharananda: "Ele era Pleno de Luz"


Swami Hariharanada compartilha que durante uma cerimônia de iniciação, ele viu
Yogananda brilhando como um sol dentro dele.

Durga Mata: "Ele enviou o Consolador"


Durga Mata fala sobre como costumava sempre ouvir o som de OM quando Yogananda
estava a caminho da sede central, voltando de suas viagens.

Roy Eugene Davis: "Ele foi um Doador de Shakti"


Roy Eugene Davis recorda como experimentou uma forte torrente de kundalini fluindo em
sua coluna depois de ter estado com seu Mestre.

Hare Krishna Ghosh: "Ele tinha uma Força de Vontade Divina"


Hare Krishna Ghosh, seu sobrinho, presenciou Yogananda travar as mãos unidas de uma
enorme platéia, que não conseguiu abri-las enquanto ele não as soltasse.

Swami Satyananda: "Ele foi um Domador de Tigres"


Swami Satyananda compartilha a história de muitos anos atrás, quando Yogananda estava
em uma selva nas proximidades de Ranchi com seus alunos e outros professores. Era noite,
eles estavam dormindo em uma cabana, quando ouviram um selvagem tigre de Bengala se
aproximando para atacar suas vacas: a porta do estábulo tinha sido deixada aberta.
Destemidamente, Yogananda foi lá fora e encarou o tigre. O assassino aproximou-se
lentamente. O poder do amor emanava dos olhos de Yogananda. A fera, repentinamente, ao
invés de pular, ficou rolando carinhosamente aos pés do Mestre! O amor a tinha
conquistado.

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Dr. Lewis: "Ele foi um Dominador do Sono"
Dr. Lewis deixou todo mundo saber como descobriu que Yogananda jamais dormia, mesmo
quando roncava: ele estava plenamente consciente.

Mrinalini Mata: "Ele foi um Aniquilador do Tempo"


Mrinalini Mata conta que o Mestre tinha ciência de suas vidas passadas. Ela tinha sido uma
santa, ele disse, em mais de uma de suas vidas passadas.

Brother Bimalananda: "Ele tinha uma Poderosa Mão Invisível"


Brother Bimalananda compartilha a história de como estava no alto de uma escada, com um
pesado balde em seu ombro. De repente, pisou um degrau em falso, e o balde começou a
puxá-lo para trás. Ele teria caído para a morte, mas cantou “Om!” e alguma força invisível
o empurrou lentamente de volta na escada.

Norman Paulson: "Sim: Ele tinha uma Poderosa Mão Invisível"


Norman Paulson lembra de estar dirigindo um grande caminhão morro abaixo em Mount
Washington. No trecho mais inclinado da colina, os freios falham completamente, e
imediatamente ele soube que estava despencando para a morte rumo a beirada daquela
íngreme passagem. Desesperadamente, ele orou ao Mestre: “É isso que o senhor quer?” De
repente, o caminhão foi desacelerando até parar completamente. Os freios ainda não
estavam funcionando, mas ele conseguiu estacionar com segurança.

Shraddha Mata: "Ele foi um Encantador de Flores"


Shraddha Mata conta como certa vez observou uma “rosa devota”. A rosa estava sempre se
virando na direção em que o Mestre estava.

Oliver Black: "Ele Demonstrou uma Bondade Celestial"


Oliver Black lembra de um dia em que chovia fortemente, e ele iria tomar uma carona com
o Mestre. Quando Oliver pisou fora da porta, nenhuma gota o tocou. Ele permaneceu
completamente seco.
Yogananda, sorrindo, disse com amor, "Para você, Oliver!"

Brother Anandamoy: "Ele é Imutável"


Brother Anandamoy lembra do quanto ficou espantado quando o corpo de Yogananda, três
semanas após sua morte, estava completamente inalterável, parecendo suave como uma
rosa. Ele parecia estar simplesmente dormindo.

Tara Mata: "Ele Voltará"


Em sua próxima vida, Yogananda previu, ele viverá no Himalaia e reunirá novamente seus
discípulos próximos. E mais uma vez haverá muitas histórias milagrosas para contar às
gerações futuras.

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