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Versão βeta em desenvolvimento

Notas para a disciplina de

EAC 1026 - Caixas Acústicas

Autor:
Prof. William D’andrea Fonseca, Dr. Eng.

5 de outubro de 2022
Sumário
Sobre o documento 1

1 Introdução 2
1.1 Transdutores eletroacústicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Alto-falantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 Princípios 4
2.1 Um pouco de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Alguns problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3 Fundamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3.1 Propagação da onda sonora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3.2 Impedância mecânica e acústica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.4 O alto-falante a bobina e cone móvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4.1 A resposta combinada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4.2 Equivalentes mecânicos, analogia com a elétrica . . . . . . . . . . . . 15
2.5 Cargas resistivas, reativas e suas potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.6 Valor eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6.1 Circuito R–R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6.2 Circuito R–C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6.3 Circuito R–L . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.6.4 Analogia eletroacústica e o conceito de Fator de Intensidade . . . . . . 26
2.7 Reprodução sonora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Referências bibliográficas 29

i
Sobre o documento
Este é um documento em desenvolvimento pelo Professor William D’Andrea Fon-
seca para auxílio no estudo da disciplina de “EAC 1026 - Caixas Acústicas” do curso de
Engenharia Acústica da UFSM. Ele contém:

• Material original escrito pelo professor;

• Textos traduzidos do livro Loudspeaker and Headphone Handbook de J. Borwick [1];

• Textos adaptados da tese Beamforming Considering Acoustic Diffraction over


Cylindrical Surfaces de W. Fonseca [2] e

• Material adaptado da apostila de Eletroacústica I, desenvolvido pelo Professor Eric


Brandão, para a Engenharia Acústica da UFSM [3].

Por favor, use-o livremente durante a disciplina, porém NÃO o distribua.


Se encontrar erros de digitação ou outros, entre em contato.

1
1 Introdução
O estudo de caixas acústicas e alto-falantes é uma tarefa complexa devido a quantidade
de temas e princípios distintos envolvidos. Desde os fundamentos da equação da onda até
os sofisticados modelos numéricos.

1.1 Transdutores eletroacústicos


Um transdutor é um dispositivo cuja função é transferir energia, comumente
convertendo-a nesse processo. A natureza da conversão de energia é sugerida pela própria
designação do transdutor. Assim, um transdutor eletroacústico é um dispositivo que con-
verte energia elétrica em acústica (via mecânica) e vice-versa. Nesse tipo de transdutor
associam-se as grandezas elétricas tensão e corrente às acústicas de pressão e velocidade
de partícula. A conversão eletroacústica passa sempre por uma etapa intermediária do
tipo mecânica, e, por isso, na maioria dos transdutores existe um elemento móvel chamado
diafragma, que associam-se as grandezas mecânicas força e velocidade. Relativamente aos
transdutores eletromecânicos, os mais usados são os de bobina móvel, piezoelétricos e
eletrostáticos.
◦ Os de bobina móvel são os mais usados em microfones e alto-falantes designados

dinâmicos e consistem num diafragma preso a uma bobina que se move entre os polos de
um imã.
◦ Os transdutores piezoelétricos baseiam-se no efeito da piezoeletricidade, a qual é

resultante de uma propriedade dos cristais de quartzo. Ao sofrer uma tensão mecânica
geram-se cargas elétricas na superfície, sendo o sinal elétrico proporcional à força que
comprime o cristal. Os cristais de quartzo apresentam também o efeito piezoelétrico inverso:
aplicando um campo elétrico produzem-se deformações na sua superfície. Além dos
materiais existentes na natureza que apresentam esse efeito (cristais de quartzo e sal de
Rochelle), é possível também utilizar outros materiais na construção dos transdutores, por
exemplo, materiais cerâmicos e plásticos, que também apresentam o efeito da piezoelétrico
por terem sofrido um processo de pré-polarização na sua fabricação. Tais transdutores são
utilizados em acelerômetros, sonar, entre outros.
◦ Transdutores eletrostáticos são também chamados de condensadores pois são

construídos por duas placas metálicas em que uma é fixa e a outra é móvel, atuando como
diafragma (de forma simplificada, seria uma capacitor de placa variável).

1.2 Alto-falantes
Alto-falante1 é um transdutor que converte energia elétrica em energia mecânica, que
é convertida em energia acústica, que por sua vez, é radiada até atingir os sistema auditivo.

1 Em Portugal usa-se também o termo “altifalantes”.

2
1.2. Alto-falantes 3

Na cadeia eletroacústica, todos os componentes são importantes, todavia, o que se


ouve é o som difundido pelos alto-falantes. Seja gravação digital ou analógica, a apreci-
ação da qualidade sonora está fortemente condicionada a sua qualidade. As principais
características de um alto-falante estão interrelacionadas: tamanho, eficiência, resposta em
frequência, direcionalidade e tipo de montagem.
Na realidade, o que geralmente se adquire são sistemas de alto-falantes montados em
caixas acústicas. Os alto-falantes para sons agudos (alta frequência) designam-se tweeters e
os de sons de graves (baixas frequências) woofers.
2 Princípios
Nesta seção temos alguns princípios iniciais e um pequeno histórico.

2.1 Um pouco de história


Chester Williams Rice (1888–1951) e Edward W. Kellogg (1882–1960), veja Figura 2.1,
desenvolveram o conceito do alto-falante de cone móvel no começo dos anos de 1920–
1921, no entanto, foi somente em 1925 que eles puderam lançar o produto. Embora Sir
Oliver Joseph Lodge (1851–1940) patenteou o conceito em 1898 (seguindo a ideia de um
trabalho anterior de Ernst Wener von Siemens (1816–1892), nos anos de 1870, na Siemens da
Alemanha. Bem, foram Rice e Kellogg que deram o pontapé inicial para o desenvolvimento
de aparatos práticos. Sir Oliver não poderia ter usado amplificação elétrica, pois nem a
válvula termiônica, nem o transistor haviam sido inventados naquela época. O que Rice e
Kellog desenvolveram ainda continua sendo o princípio do alto-falante moderno, e, embora
não tivessem materiais modernos, eles tinham um bom conhecimento sobre os fenômenos
envolvidos. Seu projeto não objetivava resposta plana entre 20 Hz e 20 kHz, pois na época a
instrumentação ainda era de certa forma rudimentar. Foi somente durante os anos de 1940
que microfones capazes de captar a faixa completa de frequências audíveis apareceram (a
Segunda Guerra impulsionou a pesquisa, 1939–1945).
No começo de 1925, a máxima potência disponível para se ouvir um rádio era da
ordem de miliwatts. Assim, só se podia ouvi-lo por meio de fones, ou seja, ele só poderia
lidar com uma faixa de frequências limitadas e em baixos níveis de potência. O aparato de
seis polegadas, criado por Rice e Kellog, usava um poderoso eletroímã, e, como ele podia
falar (speak) para uma sala cheia de pessoas, ele ficou conhecido como “loud” speaker (sendo
que, loud significa aproximadamente “falante de maior volume”). Os inventores foram
contratados pela General Eletric (GE), nos Estados Unidos, e então começaram a trabalhar
em um amplificador de potência que pudesse suprir a “gigantesca” potência de um watt.
Com essa amplitude de potência, a resposta pode então se tornar “mais plana” e limpa,
visto que não mais só baseavam-se em ressonâncias e projetos rudimentares de cornetas,
que geravam resultados distorcidos e colorados. O resultado de seus desenvolvimentos
se tornou a Radiola Model 104 (veja a Figura 2.4) vendido juntamente ao amplificador
de potência e custando, na época, o enorme preço de US$250. As válvulas utilizadas no
projeto eram:

• dois retificadores UX-216B;

• regulador de tensão UX-874;

• regulador de linha UV-876; e

• amplificador de potência UX-210, veja Figura 2.3.

4
2.1. Um pouco de história 5

(a) Rice e Kellog (b) Rice (c) Kellog

(d) Ernst Wener von Siemens (e) Sir Oliver Joseph Lodge

Figura 2.1: Pioneiros do alto-falante: Rice e Kellog (acima); Ernst Wener von Siemens e Sir
Oliver Joseph Lodge (abaixo).

SPL (dB)
Gilbert Briggs, fundador da Wharfde-
dal Loudspeakers, escreveu em seu livro de
A
1955 que a construção de um alto-falante
para operação entre 80 Hz a 8 kHz é relati-
vamente simples, porém, ao estender essa
faixa de frequências para 30 Hz a 15 kHz,
problemas surgirão como: ineficiência em
baixas frequências devido à baixa resistên-
f [Hz]
cia radiação; enquanto que a massa do sis-
20 30 80 8k 15k 20k
tema vibrante reduz a eficiência em altas
Figura 2.2: Faixas de frequência discutidas frequências.
por Gilbert Briggs em 1955 (faixa O problema relativo às baixas foi (e
audível em amarelo). continua sendo) que como o cone está se
movendo relativamente devagar, o ar em
contato com ele se mantém em movimento
“fora do caminho” e retorna somente quando o sentido do cone é revertido. Desse modo,
ondas sonoras relativamente fracas e de baixa eficiência são propagadas. Os únicos modos
Capítulo 2. Princípios 6

eficientes de acoplar o ar a um cone em baixas frequências são: criando um cone muito


grande, e, assim o ar não “escapa” de seu caminho tão facilmente ou confinar o ar em uma
espécie de corneta, montada diretamente em frente ao diafragma. Infelizmente, ambos os
métodos trarão efeitos na resposta para altas-frequências. Para um cone vibrar em 20 kHz
ele deve mudar seu sentido 40 mil vezes por segundo. Se o cone tem massa de um diafragma
grande (necessário para baixas frequências), seu momento (efeitos inerciais) será muito
grande para responder a tantas acelerações e desacelerações sem uma enorme potência
elétrica de entrada (tendo assim, uma perda na eficiência). Lembrando que, superfícies
grandes são problemáticas no que diz respeito à direcionalidade em altas-frequências. O
comprimento de onda de um tom de 20 Hz é de aproximadamente 17 metros, enquanto
que o comprimento de onda de 20 kHz é somente 1,7 centímetros, uma razão de 1000 para
1, e para aplicações de áudio de alta fidelidade deseja-se que os alto-falantes reproduzam
todas as frequências dessa faixa de uma forma uniforme (ou plana) em relação aos níveis.
Para um único drive, ou falante, ainda não é possível se alcançar tal situação se a completa
faixa de frequências é requerida, qualquer que seja o NPS.

(a) UX216 (b) UX210

(c) UX874 (d) UV876 (e) UX210 em detalhe

Figura 2.3: Válvulas utilizadas no projeto do Radiola Model 104 (1925).


2.2. Alguns problemas 7

(a) (b) (c)

Figura 2.4: Radiola Model 104 (1925), um dos primeiros “alto-falantes” (ou loudspeaker).

2.2 Alguns problemas


Os sistemas de suspensão do diafragma de um alto-falante também se comportam
como uma mola, ou seja, eles devem tentar manter uma oposição consistente ao movimento
ou eles irão comprimir o resultado acústico. Por exemplo, se a primeira entrada de tensão
moveu o diafragma 1, 0x milímetros, e uma segunda entrada moveu somente 0, 8x mm
além, isso seria bom para “fidelidade alta”, visto que quando se dobra a tensão, espera-
se ver o mesmo aumento linear em movimento. Do contrário, o resultado acústico não
estaria seguindo linearmente o sinal de entrada elétrico, e o movimento não-linear estaria
introduzindo distorções. Desse modo, para manter o diafragma bem centralizado, mas
também permitindo que ele se mova linearmente de acordo com o sinal de entrada, o
sistema de suspensão deve ser usado de modo a não apresentar uma força restauradora
não-linear com o aumento do sinal de entrada (pelo menos até que o limite de excursão
seja atingido). Essa questão tende a se complicar quando o alto-falante é colocado em uma
caixa, visto que o ar dentro dela também se comporta como uma mola e também não é
inteiramente linear.
Eletricamente, problemas similares também podem surgir. Sempre que uma corrente
elétrica flui através de um fio, ele irá esquentar. Essa é também uma propriedade dos fios
da bobina, e, assim que eles esquentam, a resistência aumenta. Com esse aumento, o sinal
de tensão aplicado pelo amplificador irá, proporcionalmente, “suprir” menos corrente pela
bobina (ou enrolamento). Como a força depende do fluxo de corrente no fio imerso em um
campo magnético, com sua redução, o movimento do diafragma também irá diminuir. Desse
modo, mesmo o amplificador suprindo o sinal de tensão exato, a resposta do diafragma,
dependendo do nível, mudará com a temperatura da bobina e dependerá da resiliência
(habilidade de compressão elástica e retorno a sua forma original) de ambos, ar e sistema
de suspensão. Mesmo o campo magnético de um ímã permanente pode ser modulado
pelo campo magnético causado pelo sinal da bobina. Não obstante, considerando todos
esses efeitos, ainda deseja-se que o diafragma se mova exatamente como o sinal da tesão
Capítulo 2. Princípios 8

de entrada (considerando que amplificadores modernos são fontes de tensão). Além de


considerar que alto-falantes são comandados por corrente, e que a resistência e reatância
da bobina (juntos formam a impedância) não permanecerão constantes para toda a faixa
de frequências.
Alto-falantes típicos consistem em um ou mais diafragmas, seja em uma caixa ou
colocado em uma parede, que representam sistemas físicos de tal complexidade que a
predição de sua radiação é de difícil acesso. Visto que ainda há de se lidar com a habilidade
artística e a subjetividade, nas etapas de projeto e desenvolvimento deve-se manter sempre
perto os aspectos objetivos (e técnicos). Assim, para a melhor compreensão do mecanismo
de radiação, é necessário se estabelecer os meios pelos quais o sinal é transportado, da
fonte, através do ar, até as orelhas.

2.3 Fundamentos
Ondas acústicas são essencialmente pequenas mudanças no meio em que uma onda
se propaga a uma velocidade finita. No caso de alto-falantes, a fonte é o movimento do
diafragma e, desse modo, o estudo sobre a propagação sonora se inicia por um radiador
simples (ou diafragma simplificado).

2.3.1 Propagação da onda sonora


De forma simplificada, o processo de propagação sonora está ilustrado Figura 2.5. Ela
demonstra um diafragma montado no final de um tubo uniforme, sendo que suas paredes
restringem as ondas a propagarem em uma única direção.
Na Figura 2.5 tem-se:

a) A pressão é a mesma e todos os locais e é igual a pressão estática atmosférica P0 ;

b) O diafragma se move e força o ar em sua frente a se movimentar, comprimindo o ar


adjacente, e, trazendo um aumento da pressão e densidade; e

c) A diferença de pressão entre o ar com perturbação e o em repouso no resto do tubo


causa uma força que “empurra” o ar da região de alta pressão para a região de baixa
pressão. Esse processo continua e a “perturbação” propaga a partir da fonte em forma
de onda sonora. Visto que o ar tem massa, e por consequência, inércia, a perturbação
demora um tempo finito para propagar através do ar.

A taxa com que as perturbações se propagam por meio do ar é conhecida como


velocidade do som, cuja simbologia usada é “c”. Após um certo tempo de t segundos, a
onda se propagou por uma distância de x = c × t. Note que a velocidade de propagação
não está relacionada com a velocidade do diafragma.
Para a maioria dos casos, a velocidade do som pode ser considerada constante (des-
considerando efeitos viscotérmicos e/ou dispersão de fase) e independente da natureza da
perturbação (embora ela irá variar com a temperatura, umidade e pressão estática).
2.3. Fundamentos 9

Figura 2.5: Geração e propagação de onda sonora dentro de um tubo uniforme (retirado
de Borwick [1]).

2.3.2 Impedância mecânica e acústica


Como anteriormente foi mencionado que há uma movimentação do ar em resposta
a diferenças de pressões locais. Tal movimentação é comumente descrita em termos de
velocidade de partícula, em que o termo “partícula” refere-se a uma pequena porção de
ar em que se assume movimento contíguo. Embora tende-se a relacionar o campo sonoro
como uma distribuição de flutuações de pressão, um campo sonoro pode ser descrito em
termos da distribuição da velocidade de partícula, e há uma relação entre a distribuição de
pressão e a velocidade de partícula. Em uma dada frequência, a razão entre a pressão e a
velocidade de partícula em um ponto (e direção) qualquer no campo sonoro é chamada
de impedância acústica específica, Za-e = p̃/ũ, que é importante quando a potência sonora
de uma fonte é considerada. A impedância acústica pode ser vista como uma quantidade
Capítulo 2. Princípios 10

que expressa a dificuldade do ar para ser movimentado. Logo,

I. Baixo valor de impedância significa que o ar se move facilmente em resposta a pressão


aplicada:
⇒ Baixa pressão ⇒ alta velocidade.
II. Alto valor de impedância significa que é difícil para o ar se mover:
⇒ Alta pressão ⇒ baixa velocidade.

A impedância mecânica é diretamente equivalente a impedância acústica, todavia, a


pressão é substituída pela força (lembre-se que pressão é força sobre área) e a velocidade
de partícula pela velocidade, assim, tem-se a relação Zm = f˜/ṽ.

2.4 O alto-falante a bobina e cone móvel


Uma grande porção dos alto-falantes são baseados em bobinas móveis, as quais
radiam energia através de um diafragma em forma de cone. Entretanto, os mecanismos
de radiação não são intuitivos como pode-se parecer no inicio do estudo. Esse tipo de
alto-falante é essencialmente uma fonte de velocidade de volume. Em outras palavras, ele
cria uma onda de pressão equivalente ao ar injetado por uma fonte pontual (a uma taxa de
injeção dada em metros cúbicos por segundo), observe o pistão da Figura 2.6.

Pistão Vibrante a

Figura 2.6: Pistão circular e vibrante de raio a (Ponto A no eixo e Ponto B fora do eixo).

Considere a Figura 2.6, o som das diferentes partes do pistão chegam substancial-
mente em fase no Ponto A (no eixo). No Ponto B, fora do eixo, o caminho de propagação
difere consideravelmente, logo obtendo um espectro diferente do Ponto A. Os efeitos de in-
terferência fora do eixo dão origem as direcionalidades na Figura 2.7. No entanto, diferente
do pistão da Figura 2.6, alto-falantes montados em caixas, diretamente radiando em um
recinto (isto é, sem a utilização de cornetas), não acoplam efetivamente com o ar. O cone
encontra “empurrando” o ar, com grande parte de sua carga potencial sendo perdida em
2.4. O alto-falante a bobina e cone móvel 11

decorrência do ar adjacente a ele simplesmente se mover para “fora do caminho”, retor-


nando somente então quando o sentido do movimento do cone é revertido. A eficiência é
comumente muito baixa, sendo que menos de 1% da energia que supri a bobina resulta em
radiação sonora (isso significa que a cada 100 W elétricos, obtém-se apenas 1 W acústico,
por exemplo). O restante da energia ou é perdida por atrito no movimento do sistema,
ou é perdida pelo aquecimento da bobina, ou ainda por ser refletida a etapa de saída do
amplificador de potência.
Para tornar ainda mais complicado, muitos desses efeitos são dependentes da frequên-
cia, desse modo, não é de se admirar que várias coisas devem ser consideradas e ponderadas
antes que se diga que tal dispositivo possa ter uma resposta plana de frequências. Enquanto
a circunferência do diafragma permanecer pequena em relação ao comprimento de onda, a
radiação será omnidirecional, porém quando o comprimento de onda começa a ser pequeno
se comparado a circunferência da fonte, a radiação começa a se aglutinar como feixes a sua
frente. Esse é o resultado do campo sonoro de interferência em que diferentes partes do
diafragma (radiando em fase) tornam-se significantemente diferentes no que concerne aos
comprimentos de seus caminhos em relação a uma posição de receptor fora do eixo (como
mostrado nas Figuras 2.6 e 2.7). Os valores de ka são derivados do número de onda k, que
é simplesmente 2π dividido pelo comprimento de onda λ em metros, e a que é o raio da
superfície radiante. Na prática, ka é o número de comprimentos de onda dentro da circunferência
do diafragma, de modo que
2πa (m)
ka = ( adimensional ) . (2.1)
λ (m)

Observe que na Figura 2.7 a direcionalidade de um pistão circular vibrante devido aos
efeitos de interferência fora do eixo (off-axis) em diferentes frequências. Note que o lóbulo
principal fica mais delgado com o aumento da frequência.

Lembre-se: o comprimento de onda, em metros, pode ser calculado por:


c (m/s)
λ= (m) . (2.2)
f (1 /s)

Tende-se a considerar o diafragma completo como uma superfície radiadora, no


entanto, isso geralmente não ocorre. Um diafragma grande não se movimentará unifor-
memente, especialmente em altas frequências. As partes periféricas terão uma atraso em
relação a parte interna, o acarretará numa diferença de fase com relação a radiação da
porção central. Desse modo, a radiação não corresponderá à simulação numérica (e bem
comportada) obtida para um certo valor de ka.
Através dos anos, “várias soluções” têm sido propostas na busca de um perfeito
movimento de pistão um diafragma, tais como: uso de materiais de rigidez alta no cone (ou
mesmo sólidos); sistemas cônicos como diafragma; todavia, perdas internas e velocidades
do som diferenciais nos distintos materiais atrapalham todos os esforços. Vários tipos de
materiais sólidos propagam altas frequências mais rápido do que as baixas, efeito conhecido
como dispersão de fase, eles também têm velocidades do som muito diferentes da do ar.
Lembre-se, o ar tem uma característica atípica em relação a outros materiais em termos
de velocidade do som. O som se propaga através dele a mesma velocidade para todas as
frequências se os efeitos viscotérmicos são neglicenciados.
Capítulo 2. Princípios 12

Figura 2.7: Direcionalidade de um pistão circular vibrante para diferentes valores de ka.

Quando o som propaga da bobina através do material do cone (de forma radial a
sua frente), as diferentes velocidades do som podem causar interferências entre as ondas
sonoras trafegando até a borda do cone e a radiação frontal no ar (gerada pelo movimento
de pistão do cone alimentado pela bobina). Ressonâncias também podem aparecer dentro
do próprio cone. Uma das tarefas da suspensão na borda do cone é absorver ondas que se
propagam radialmente no material do cone, de modo a prevenir que elas sejam refletidas
de volta e causem mais interferência.

2.4.1 A resposta combinada


Como previamente apresentado, o alto-falante é um transdutor eletro-mecano-
acústico. Assim, as discussões a respeito das partes elétrica e mecânica também devem ser
desenvolvidas. A bobina (voice coil) é uma mescla de resistência e indutância, nesse caso,
a impedância será Z = R + XL , ou seja, ela é composta de resistência R e reatância XL . A
reatância (em Ohms) de um indutor é dada por XL = 2π f L, sendo que f é a frequência
em Hertz (Hz) e L é a indutância em Henry (H). Uma bobina de de “8 ohms” é na verdade
somente nominalmente 8 Ω, pois esse valor é encontrado apenas para uma banda limitada
de frequências. A parte indutiva da impedância cresce com a frequência, enquanto que
qualquer efeito de reatância capacitiva diminuirá com a frequência. A reatância (em ohms)
2.4. O alto-falante a bobina e cone móvel 13

de um capacitor é dada por XC = 1/2π f C, assim, considerando que a frequência está no


denominador, a reatância diminui com o seu aumento. Como exemplo, a impedância típica
de um alto-falante (de baixas frequências), pode ser verificada na Figura 2.8 .
Felizmente, há efeitos que contrabalançam outros. A Figura 2.9 mostra como uma
resposta plana pode ser obtida acima da frequência de ressonância do cone, montado
teoricamente em um sonofletor infinito (baffle), para o Ponto A no eixo. Nesse caso, o
decaimento de velocidade do diafragma compensa sua crescente relação com a pressão
radiada em um ponto distante do cone em seu eixo. Diferentemente, para distâncias muito
curtas existem outras relações complexas se manifestando. Essa região curta é conhecida
como campo próximo (ou near-field), porém não deve-se confundir esse termo com o homô-
nimo coloquialmente usado em áudio. Tais profissionais geralmente referem-se a distância
“próxima” dos monitores (de áudio) de referência para mixagem.

Figura 2.8: Magnitude da impedância elétrica típica de um alto-falante [1].

Diagramas de circuitos elétricos podem ser criados para representar as propriedades


elétrica, mecânica e acústica de um alto-falante em um circuito comum. Tal representação
é muito utilizada em livros de eletroacústica. Nesses circuitos, os componentes mecânicos
e acústicos, como molas e massas, são substituídos por equivalentes elétricos. Um modo
de como isso pode ser feito é trocando forças mecânicas e pressões acústicas por correntes
elétricas; e velocidades mecânicas e de acústica de partícula por tesões. Em consequência,
as molas mecânicas são substituídas por indutores elétricos, massas por capacitores e re-
sistências mecânicas por resistores; esse arranjo é conhecido como analogia da mobilidade1 .
Há também a analogia da impedância, igualmente válida, em que tensões são substituídas
por forças e correntes por velocidades, isto é, grandezas de potencial e fluxo são manti-
das quando a traslação ocorre. Cada uma dessas analogias têm pontos fortes e fracos, e
podem servir para diferentes aspectos na análise de alto-falantes. O circuito equivalente,
considerando a analogia da mobilidade, para uma alto-falante típico de bobina móvel é mos-
trado na Figura 2.10. Observe na figura que βl (ou Bl) é o produto da densidade de fluxo
magnético e o comprimento do fio no campo magnético (conhecido como fator de força em

1A dica é lembrar que nessa analogia, no desenho, “molas mecânicas” são como “molas indutores” (lem-
brando que o indutor parece uma mola, quando desenhado).
Capítulo 2. Princípios 14

Velocidade do diafragma

Pressão no eixo por


unidade de velocidade

Pressão total no eixo

Frequência fundamental
de ressonância

Figura 2.9: Demostração gráfica da resposta plana acima da frequência de ressonância para
um pistão idealizado no sonofletor infinito (para o Ponto A no eixo).

Tm , Tesla · metro) e S é a área do cone. Consulte o material extra sobre transformadores


(elétricos) desta disciplina.

bobina
corrente força pressão

resistência reatância

rigidez massa
fonte de
tensão Bl:1 1:S
1
resist. carga de
radiação

Domínio Domínio Domínio


elétrico mecânico acústico
Figura 2.10: Circuito equivalente, considerando a analogia da mobilidade, para uma alto-
falante típico de bobina móvel.
2.4. O alto-falante a bobina e cone móvel 15

Os transformadores representam acoplamentos entre os domínios elétrico, mecânico


e acústico. Esse tipo de circuito é o que um amplificador realmente “vê” quando conectado
a um alto-falante típico de bobina móvel.
A obtenção de uma saída acústica independente da frequência para tal combinação
de elementos não é uma tarefa fácil. Isso só pode ser conquistado com um cuidadoso
balanço de valores entre elementos, e, mesmo assim, o balanço ótimo somente é obtido para
uma limitada banda de frequências. Qualquer resistência série extra que seja adicionada
adicionará, e qualquer paralela reduzirá, à resistência equivalente. Todavia, em ambos
os casos a potência suprida será reduzida (para uma dada potência de entrada), e, em
consequência, a eficiência do sistema será reduzida. Com um sistema finamente ajustado,
qualquer mudança em componentes irá requerer uma outra mudança para contrabalancear
a mudança inicial. A perfeição nunca será alcançada, o que se tem é um infinito número
de aproximações possíveis, e esse fato contribui para a diversidade de projetos e tipos
de alto-falantes disponíveis para compra. A recomendação é sempre buscar entender a
aplicação (ou vocação) do alto-falante para que seu projeto seja contemplado, ao final, é
importante pensar sobre o compromisso (trade-off ) de cada aspecto.

2.4.2 Equivalentes mecânicos, analogia com a elétrica


Os circuitos das Figuras 2.12 (b) e 2.12 (c) são similares, a diferença é que a defasagem
de fase do indutor em relação ao capacitor está em sentido oposto. Isso leva à diferença de
180◦ graus entre indutores e capacitores, o que pode ocasionar ressonâncias em circuitos.
Um capacitor e um indutor em série são equivalentes a uma massa e uma mola
conectadas, vide Figura 2.11. Ambos são circuitos harmônicos que funcionam do mesmo
modo, transferindo energia de um lado para outro (campo elétrico em campo magnético
e/ou energia potencial em cinética) e dissipando uma pequena parte (quando existe o
elemento que consome energia) — esse tipo de alternância de energia pode ser encontrada
como gangorra. A massa obtém energia quando uma força tenta movê-la, e a devolve quando
é solta. Basicamente a massa “quer” ficar livre de acelerações e desacelerações. A mola, por
sua vez, “não quer” que seu comprimento seja alterado. Assim, os dois elementos (dada
suas distintas relações de fase) adquirem e liberam energia alternadamente, e se mantém
em oscilação até que forças friccionais tornam a energia em calor.
Considere a Figura 2.11 (a), em que há a massa e a mola em equilíbrio, a mola está
“feliz” porque está em seu comprimento de equilíbrio, dada as forças que incidem nela. A
massa também está “feliz” pois está em repouso, não está acelerando e nem desacelerando.
Se alguém puxa a massa e a segura, a massa continua “feliz”, porém a mola não, por estar
esticada (Figura 2.11 (b)). Se a massa é solta, a mola irá atuar para superar a inércia da
massa de modo a tentar restituir seu comprimento de equilíbrio. Quando a mola atinge o
equilíbrio, a massa está em movimento, e então, massa vezes velocidade gera momento, o
qual irá tirar a mola de sua posição de equilíbrio, e comprimi-la como na Figura 2.11 (c). A
mola “infeliz” desacelerará a massa, de modo a trazê-la para seu comprimento de equilíbrio
novamente, e assim a oscilação continua. Esse é um sistema reativo, como em um indutor
e um capacitor, e a única perda de energia é devido às imperfeições. No caso mecânico é
a fricção e resistência do ar, e para o caso elétrico é a resistência elétrica (a bobina de um
indutor não é perfeita e sempre contém alguma resistência).
Se uma resistência mecânica é adicionada, como na Figura 2.11 (d), o trabalho gasta
a energia e a oscilação será reduzida mais rapidamente, ela será amortecida. O circuito
Capítulo 2. Princípios 16

equivalente é um resistor em série com o indutor e o capacitor, desse modo, a corrente que
flui produzirá calor e amortecerá a oscilação.

Figura 2.11: Circuitos equivalentes mecânicos para LC e RLC (a seta indica a troca de
energia) [1].

R t2
Lembrete: o Efeito Joule é dado por Q = R t1 i2 dt, em que Q é o calor gerado por uma
corrente i. Para corrente constante tem-se que Q = R ∗ I 2 ∗ t, em que t representa o tempo.

Quando o diafragma de um alto-falante é conectado a uma corneta, o ar em sua


frente não consegue escapar para os lados do diafragma, e a pressão elástica devido a
componente lateral da onda é restrita. As condições são então minimizadas, e a carga de ar
na corneta provê uma carga substancialmente resistiva, com a velocidade de partícula e a
pressão menos fora de fase (ou mais em fase). Em conseguinte, mais trabalho útil é extraído
do diafragma na geração do som, em vez de somente movimentar o ar “para frente e para
trás” (recirculação).
2.5. Cargas resistivas, reativas e suas potências 17

2.5 Cargas resistivas, reativas e suas potências


Aqui iremos rever os seguintes conceitos (veja Figura 2.12):

1. Cargas resistiva e reativas;

2. Valor eficaz ou RMS como equivalente em CC;

3. Circuito AC e fonte senoidal;

4. Amplitude, fase e fasor;

5. Potências elétricas (P, Q, S e |S|);

6. O conceito de Fator de Intensidade (acústica) FI; e

7. Introdução à impedância no tempo.


Capítulo 2. Princípios 18

(a) R–R

(b) R–C

(c) R–L

Figura 2.12: Circuitos RR, RC e RL em regime AC (simulação numérica).


2.6. Valor eficaz 19

2.6 Valor eficaz


Nesta seção revisaremos o cálculo de três circuitos clássicos, conjuntamente com o
contexto de alto-falantes, acústica e PDS.

2.6.1 Circuito R–R


Observe a Figura 2.13.

Figura 2.13: Circuito R–R.

1. Estima-se as correntes e tensões do circuito. Lembre que neste caso a impedância do


resistor é ZR = R. Assim,

i
 = iR1 = iR2
0 = −VAC + VAB + VBC (2.3)

VAC = VAB + VBC

2. Condições iniciais 
f
 = 1 kHz

 R1 = R2 = 100Ω




v(t) = (10 2 ) cos(2π f t + 0◦ ) (2.4)

Vpk ≈ 14, 14 0◦





Vrms = 10 0◦

3. Domínio fasorial, tensões nos resistores

VR1 = R1 · Irms θi = R1 · Irms


( )
(2.5)
VR2 = R2 · Irms θi = R2 · Irms
Capítulo 2. Princípios 20

O termo θi é zero pois não há elemento reativo.


√ √
Observação 1: lembrar que Vpk / 2 = Vrms para senoide, assim como 1/ 2 ≈ 0, 707,
então Vrms ≈ 0, 707 Vpk . Se Vrms = 10 V então Vpk ≈ 10/0, 707 ≈ 14, 14 V.
Com isso,
(
10 = R1 · Irms + R2 · Irms
(2.6)
Irms = 10/( R1 + R2) = 10/(100 + 100) = 0, 05 A(rms) .

Observação 2: o valor eficaz (ou RMS) é o equivalente em corrente contínua para


circuitos de corrente alternada.

• P é Potência “média” ou Potência “RMS” ou Potência eficaz.

• P = Irms
2 ·Z = I 2
rms · Vrms = Vrms /Z

• Voltando ao problema...
Se Irms = 0, 05 0◦ A e Irms = 10 0◦ V, logo

= 100 · 0, 05 = 5 V(rms) e

VAB

VBC = 100 · 0, 05 = 5 V(rms) ou (2.7)
= R2 · R1V+ACR2 (divisor de tensão) .

VBC

Assim,

(VAB-rms )2 52

25
P = · cos(θ = 0◦ ) = ·1 = = 0, 25 watt

 1


 R1 100 100
(2.8)
)2 52

 (VBC-rms 25
· cos(θ = 0◦ ) = = 0, 25 watt

 P2 = ·1 =

R2 100 100
e também
2 · R = (0, 05)2 · 100 = 0, 25 watt

 P1 = Irms
(2.9)
P2 = Irms · Vrms = (0, 05) · (5) = 0, 25 watts .

Observação 3: como o valor RMS é o equivalente em CC (ou DC) a resolução do


circuito com uma bateria de 10 V renderá os mesmos valores.
2.6. Valor eficaz 21

2.6.2 Circuito R–C


Observe a Figura 2.14.

Figura 2.14: Circuito R–C.

A reatância capacitiva é
1 1
Xc = = ≈ 99, 47 Ω ≈ 100 Ω . (2.10)
2π f c 2π · 1000 · 1, 6 · 10−6

Logo, a impedância do capacitor é


1 −1
Zc = = j ≈ − j 100 Ω . (2.11)
j ωc ωc

Assim,



 Ztotal = ZR + Zc ≈ 100 − j 100 Ω




VAC-rms


 = VAB-rms + VBC-rms
(2.12)


 VAB-rms = VR = R · Irms



= Vc = Zc · Irms

VBC-rms


então

10 = Ztotal · Irms
(2.13)
Irms = 10/(100 − j 100) .

Lembrete: o módulo ou norma é



Z = | Z | e j arg(Z) .
p
| Z | = R2 + X 2 = Z · Z ∗ e (2.14)
Capítulo 2. Princípios 22

p
√ Logo, o valor exato seria | Z | = 1002 + 99, 472 ≈ 141, 05 Ω ou ainda aproximado
1002 + 1002 ≈ 141, 42 Ω. O ângulo é então

  −0, 7828 rad
X
θ = arg ( Z ) = arctan ≈ . (2.15)
R −44, 85◦

Assim, tem-se que a corrente é



10 10
 Irms = ≈ ≈ 0, 0709 45◦ A


100 − j 100 141, 05 −44, 85◦
, (2.16)

rms ≈ 0, 05 + 0, 05 j A

I

logo, a tensão no resistor é



VR-rms = R · Irms = 100(0, 05 + 0, 05 j)

(2.17)
45◦ V

VR-rms ≈ 5 + 5 j ≈ 7, 07

e a tensão no capacitor é

VC-rms = Zc · Irms = (− j 100)(0, 05 + 0, 05 j)
. (2.18)
VC-rms ≈ 5 − 5 j ≈ 7, 07 −45◦ V

Conferindo a tensão VAC-rms

VAC-rms = VR + VC ≈ (5 + 5 j) + (5 − 5 j) = 10 V . (2.19)

Para entendermos de uma outra forma, podemos também fazer a decomposição


vetorial, nesse caso

VR-rms-horizontal ≈ 7, 01 · cos(45◦ ) ≈ 5

(2.20)

VR-rms-vertical ◦
≈ 7, 01 · sen(45 ) ≈ 5
e

≈ 7, 01 · cos(−45◦ ) ≈ 5

VC-rms-horizontal
. (2.21)
VC-rms-vertical ≈ 7, 01 · sen(−45◦ ) ≈ −5

Assim, somando-se a parte real e imaginária

Parte real = 5 + 5 = 10






Parte imaginária = 5 − 5 = 0 . (2.22)



VAC-rms = 10 V


2.6. Valor eficaz 23

Lembrete sobre potências elétricas:




 P Potência ativa ou real (W)



Potência reativa (VAr)

Q


S = P+ jQ . (2.23)
S Potência complexa (VA)







Potência aparente (VA)

|S|

Vamos observar as unidades

J E (energia) J Q (carga) C
     
W= , V= , A= , (2.24)
s Q (carga) C t (tempo) s

logo

J C J
   
VA = · = (2.25)
C s s

assim como em W. Observação: o SI não reconhece o VA, mas ele é comumente usado.

Fator de potência elétrico (FP):


Pot. real P
FP = = , (2.26)
Pot. aparente |S|
então 


 ϕ Ângulo entre V e I (rad ou graus)



ϕ = 0◦ ⇒ cos(0◦ ) = 1 . V e I em fase








Potência puramente real (P)

FP = cos(ϕ) = . (2.27)


ϕ = 90◦ ⇒ cos(90◦ ) = 0 . V e I em quadratura de fase








Potência puramente reativa (Q)




Logo, relembramos as relações de potências



 S 2 ·Z
= Irms





 Q = Irms

 2 · X = V · I · sen( ϕ )

. (2.28)


 P 2 · R = V · I · cos( ϕ )
= Irms




 p
|S| = P2 + Q2

Voltando ao problema, temos então no resistor


Capítulo 2. Princípios 24

(VAB-rms )2 (7, 07)2


PR = · cos(45[VR ] − 45[ I ]) ≈ · 1 ≈ 0, 5 W , (2.29)
R 100
ou de forma alternativa

ϕR = 45[VR ] − 45[ I ] = 0◦






= Vrms · Irms · cos(ϕ) ≈ 7, 07 · 0, 0709 · cos(0◦ ) ≈ 0, 5 W

P

 R



2 · R · cos( ϕ ) ≈ (0, 0709)2 · 100 · cos(0◦ ) ≈ 0, 5 W . (2.30)

 PR = Irms



= Vrms · Irms · sen(ϕ) ≈ 7, 07 · 0, 0709 · sen(0◦ ) = 0 VAr

Q

 R


 | {z }
=0

No capacitor temos


 ϕC = (−45[VC ]) − 45[ I ] = −90◦



 PC = Vrms · Irms · cos(ϕ) ≈ 7, 07 · 0, 0709 · cos(−90◦ ) = 0 W



, (2.31)


 PC 2 · R · cos( ϕ ) ≈ (0, 0709)2 · 100 · cos(−90◦ ) = 0 W
= Irms




2 /X · cos( ϕ ) ≈ (7, 07)2 /100 · cos(−90◦ ) = 0 W

PC = Vrms

C

ou seja, toda potência real é dissipada no resistor. No entanto, vamos ver a potência reativa

 QC = Vrms · Irms · sen(ϕ) ≈ 7, 07 · 0, 0709 · sen
 (−90◦ ) ≈ −0, 5 VAr
. (2.32)
| {z }
=−1
C = Irms · R · sen( ϕ ) ≈ (0, 0709) · 100 · sen(−90 ) = −0, 5 VAr
2 2 ◦

Q

Nesse circuito simples, toda a potência reativa está no capacitor (elemento reativo). Ainda,
se fizermos

2
S = Irms · ZT ≈ (0, 0709)2 · (100 − 100 j) ≈ 0, 5[W] − j 0, 5[VAr] ≈ 0, 707 −45◦ VA .
(2.33)
Logo, FP= 0, 5/0, 707 ≈ 0, 707.
2.6. Valor eficaz 25

2.6.3 Circuito R–L


Observe a Figura 2.15.

Figura 2.15: Circuito R–L.

A reatância indutiva é

XL = 2π f L = 2π · 1000 · 16 · 10−3 ≈ 100, 53 Ω ≈ 100 Ω . (2.34)

Logo, a impedância do indutor é

ZL ≈ j 100 Ω . (2.35)

Assim,



 Ztotal = ZR + ZL ≈ 100 + j 100 Ω




VAC-rms = VAB-rms + VBC-rms (2.36)



I


 = IR = IL

então

10 = Ztotal · Irms = (100 + j 100) · Irms
(2.37)
Irms = 10/(100 + j 100) ≈ 0, 05 − 0, 05 j A ≈ 0, 0707 −45◦ .

Logo, as tensões serão

VR-rms = R · Irms = 100(0, 05 − 0, 05 j) ≈ 5 − 5 j ≈ 7, 07 −45◦ V


(2.38)
VL-rms = XL · Irms = (100 j)(0, 05 − 0, 05 j) ≈ 5 − 5 j ≈ 7, 07 +45◦ .

Capítulo 2. Princípios 26

As potências ativas, reativas e complexa são, respectivamente,

(VAB-rms )2 (7, 07)2



PR = · cos(−45 − (−45)) ≈ · 1 ≈ 0, 5 W





 R | {z } 100
=1




)2

 (VBC-rms
· cos(−45 − 45) = 0 W


 PL =
XL



 | {z }

 =0


 QR = VAB-rms · Irms · sen(−45 − (−45)) = 0 VAr
 | {z }
0◦ ⇒ 0





= VL-rms · Irms · sen(+45 − (−45)) = 0, 5 VAr




 QL
 | {z }
90◦ ⇒ 1





= Irms · ZT = (0, 0707)2 · (100 + j 100) ≈ 0, 5 + 0, 5 j VA = 0, 707 +45◦ VA ,

S
(2.39)
o sinal positivo em Q indica circuito indutivo.

Até aqui relembramos como calcular circuitos!

2.6.4 Analogia eletroacústica e o conceito de Fator de Intensidade


Usando a analogia eletroacústica da impedância temos

V (tensão) =⇒ P (pressão)





 I (corrente) =⇒ U ou Q (vel. de part. ou volume*)



, (2.40)


 Ze (impedância) =⇒ Za (impedância)


 P (potência) =⇒ I (intensidade acústica)

com isso, podemos usar e adaptar as ferramentas já estudadas. O Fator de Potência (elé-
trico, FP) seria Fator de Intensidade (acústico, FI= cos(ϕ)), veja a Figura 2.16 . Assim, na
acústica ϕ é a diferença de fase entre pressão e velocidade de partícula. Logo, tem-se que a
intensidade complexa é

Icpx = Iativa + j Ireativa . (2.41)

Aumentar FI significa colocar a pressão e a velocidade de partícula em fase, pode


significar que

1. Aumenta a parte resistiva de Zacústico (ou Za, específica ).

2. Há algum tipo de mecanismo que faz a compensação das componentes reativas ou


que força um casamento de impedâncias.

3. O FI quanto mais perto de UM mais teremos a parte ativa (ou real) da intensidade
sonora complexa, e, em consequência, possivelmente estaremos no campo distante.
2.6. Valor eficaz 27

Elétrica Acústica

|S| Q |S| |Icpx|

Potência aparente
P

Pot. ativa

Int. ativa
P IRe

Figura 2.16: Relação entre potência parente e potência ativa (elétricas) e intensidade acús-
tica complexa e ativa (em analogia com a Ruffles).

Podemos ainda conectar alguns conhecimentos de PDS nesse contexto. Para um SLIT
(Sistema Linear Invariante no Tempo) temos que

p(t) = r• (t) ∗ q(t) ou p(t) = z(t) ∗ q(t) , (2.42)

em que p(t) é pressão, r• e z são a “resistência/impedância acústica” e q é a velocidade


de volume, todos no domínio do tempo (∗ representa a convolução). Se aplicarmos a
Transformada de Fourier obtemos

P( f ) = Z ( f ) · Q( f ) , (2.43)

e, em conseguinte, a conhecida expressão da impedância acústica

Pa· s Rayl
 
P( f )
Z( f ) = em = . (2.44)
Q( f ) m3 m2

Note que Z ( f ) = R( f ) + j X ( f ), sendo que a parte resistiva da impedância é R( f ) e


a reatância X ( f ).
CUIDADO! A parte resistiva de Z ( f ), R( f ), NÃO é a TF da resistência acústica no
tempo r• (t)ou z(t), ou seja

F{ z ( t ) ou r• (t)} = Z ( f ) = R( f ) + j X ( f ) (2.45)

logo

F−1 { Z ( f )} = z(t) ou r• (t) . (2.46)


Capítulo 2. Princípios 28

Se deseja-se apenas a relação entre pressão acústica e a consequente velocidade de


partícula em uma direção específica, pode-se redefinir as relações supracitadas de forma
análoga. A saber

 p(t) = re • (t) ∗ u(t) ou p(t) = ze (t) ∗ u(t)
(2.47)
 P( f ) = Z · U ( f ) ,
a,e

assim,

Pa· s
 
P( f )
Za,e ( f ) = em = Rayl · (2.48)
U( f ) m

De modo semelhante

F{ ze ( t ) ou re • (t)} = Ze ( f ) = Re ( f ) + j Xe ( f )
(2.49)
F−1 { Z ( f )} = z (t)
e e ou re • ( t ) .

2.7 Reprodução sonora


Faça a leitura Capítulo 1 do livro Sound Reproduction: Loudspeakers and Rooms de
Floyd E. Toole.
Referências Bibliográficas
[1] John Borwick. Loudspeaker and Headphone Handbook. Focal Press, 3 edition, Mar. 2001.
(Citado nas páginas 1, 9, 13 e 16)

[2] William D’Andrea Fonseca. Beamforming Considering Acoustic Diffraction over Cylin-
drical Surfaces. Dissertação de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC, Brasil, Maio 2013. ISBN 978-8591677405.
(Citado na página 1)

[3] Eric Brandão. Notas de Eletroacústica I. Engenharia Acústica, Universidade Federal de


Santa Maria, 2014.
(Citado na página 1)

29

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