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educo comino CRMY·SP I Continuous Education Journa/ CRMY-SP, ISSN 1516-3326


São Pau/o, volume 4, fascfcu/o 2, p. 73 - 85. 2001.

Abate humanitário de bovinos


Humane slaughter of cattte
Robertode Oliveira Roça-CRMV-sP-n° 2840
Professor Adjunto da Disciplina de Tecnologia dos Produtos de Origem Animal
UNESPlBotucatulSP.

Abate humanitário pode ser definido como o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que
garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade rural até a operação de sangria
no matadouro-frigorífico. O abate de animais deve ser realizado sem sofrimentos desnecessários. As
condições humanitárias devem prevalecer em todos os momentos precedentes ao abate. A insensibi-
lização de animais é considerada a operação mais crítica durante o abate de bovinos. Tem por obje-
tivo colocar o animal em estado de inconsciência, que perdure até o fim da sangria, não causando
sofrimento desnecessário e promovendo uma sangria tão completa quanto possível. Neste artigo são
abordados os temas referentes às operações ante-mortem, como transporte, manejo nos currais e
operações de insensibilização e sangria e seus efeitos no bem-estar animal e na qualidade da carne.

Palavras-cbave: abate de bovinos, bem-estar animal, manejo ante-mortem, transporte, insensibiliza-


ção, sangria.

Introdução eficiente. As condições humanitárias não devem preva-


lecer somente no ato de abater e, sim, nos momentos
á algumas décadas, o abate de animais era consi- precedentes ao abate (GRACEY e COLLINS, 1992).

H_
derado uma operação tecnológica de baixo nível
científico e não se constituía em um tema pesqui-
sado seriamente por universidades, institutos de
Há vários critérios que definem um bom método
de abate (SWATLAND, 2000):
a) os animais não devem ser tratados com crueldade;
pesquisa e indústrias. A tecnologia do abate de animais b) os animais "não podem ser estressados desnecessari-
destinado ao consumo somente assumiu importância ci- amente;
entífica quando se observou que os eventos que se suce- c) a sangria deve ser a mais rápida e completa possível;
dem desde a propriedade rural até o abate do animal ti- d) as contusões na carcaça devem ser mínimas;
nham grande influência na qualidade da carne (SWA- e) o método de abate deve ser higiênico, econômico e
TLAND, 2000). seguro para os operadores.
Nos países desenvolvidos há uma demanda cres- Os métodos convencionais de abate de bovinos
cente por processos denominados abates humanitários com envolvem a operação de insensibilização antes da san-
o objetivo de reduzir sofrimentos inúteis ao animal a ser gria, com exceção dos abates realizados conforme os ri-
abatido (pICCm e AJZENTAL, 1993; CORTESI, 1994). tuaisjudaicos ou islâmicos (CORTESI, 1994).
Abate humanitário pode ser definido como o conjunto de É dever moral do homem, o respeito a todos os
procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem- animais e evitar os sofrimentos inúteis àqueles destina-
estar dos animais desde o embarque na propriedade rural dos ao abate. Cada país deve estabelecer regulamentos
até a operação de sangria no matadouro-frigorífico. em frigoríficos, com o objetivo de garantir condições para
O essencial é que o abate de animais seja realiza- a proteção humanitária a diferentes espécies (CORTE-
do sem sofrimentos desnecessários e que a sangria seja SI, 1994; LAVRENT, 1997).

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ROÇA. R. O. Abate humanitário de bovinos! Humane slaughter of canle.! Rev. educo contin. CRMV-SP! Continuous Education Journal CRMV-SP, São Paulo. volume
4. fascfculo 2. p. 73 - 85. 2001.

o manejo do gado no frigorífico é extremamente II % do peso vi vo nas primeiras 24 horas de pri vação de
importante para a segurança dos operadores, a qualidade água e alimento (WARRlSS, 1990; KNOWLES, 1999).
da carne e o bem-estar animal. As instalações dos mata- A perda de peso dos animais tem razão direta com o
douros-frigoríficos bem delineadas também minimizam os tempo de transporte, variando de 4,6% para 5 horas a
efeitos do estresse e melhoram as condições do abate 7% para 15 horas, recuperada somente após 5 dias (WAR-
(G~UN, 1996, 2000a, 2000b,2000d,2000e, 2000fj. RlSS et aI., 1995). A perda de peso é motivada inicial-
As etapas de transporte, descarga, descanso, mo- mente pela perda do conteúdo gastrointestinal, e o aces-
vimentação, insensibilização e sangria dos animais são so à água durante a privação de alimento reduz as per-
importantes para o processo de abate dos animais, de- das. A perda de peso da carcaça também é variável, de
vendo-se evitar todo o sofrimento desnecessário. Assim, valores inferiores a I% a valores de 8% após 48 horas
o treinamento, a capacitação e a sensibilidade dos maga- de privação de alimento e água (WARRlSS, 1990). O
refes são fundamentais (CORTESI, 1994). peso do fígado tende a diminuir rapidamente da mesma
Os problemas de bem-estar animal estão sempre forma que o volume do rúmen, cujo conteúdo toma-se
relacionados com instalações e equipamentos inadequa- mais fluido (WARRlSS, 1990).
dos, "distrações" que impedem o movimento do animal, Algumas propostas são recomendadas para a re-
falta de treinamento de pessoal, falta de manutenção dos dução da perda de peso do animal e da carcaça que ocor-
equipamentos e manejo inadequado (GRANDUN, 1996). re durante o transporte, como a utilização de soluções
eletrolíticas via oral (SCHAEFER et ai., 1997); no en-
Transporte de animais tanto, a administração de soluções injetáveis de vitami-
nas A, D e E não apresentam efeito na redução da perda
O transporte rodoviário é o meio mais comum de de peso (JUBB et ai., 1993b).
condução de animais de corte para o abate (TARRANT O principal aspecto a ser considerado durante o
et aI., 1988). No Brasil, o transporte também é realizado transporte de bovinos, é o espaço ocupado por animal, ou
principalmente por via rodoviária, nos chamados "cami- seja, a densidade de carga, que pode ser classificada em
nhões boiadeiros", tipo truque, com carroçaria medindo alta (600Kg/m2), média (400Kg/m 2) e baixa (200Kgim 2)
10,60 x 2,40 metros, com três divisões: anterior com 2,65 (TARRANT et ai., 1988). A Farm Animal Welfare Con-
x 2,40 metros, intermediária com 5,30 x 2,40 metros e cil - FAWC (KNOWLES, 1999) dá uma fórmula para
posterior com 2,65 x 2,40 metros. A capacidade de carga cálculo da área mínima a ser ocupada por animal, basea-
média é de 5 animais na parte anterior e posterior e de 10 da no peso vivo: A = 0,021 pO,67 , onde A é a área em
animais na parte intermediária, totalizando 20 bovinos. metros quadrados e P o peso vivo do animal em quilos,
O transporte rodoviário, em condições desfavorá- recomendando a média de 360kg/m 2 . Randall, citado por
veis, pode provocar a morte dos animais ou conduzir a KNOWLES (1999) preconiza outra equação: A = 0,0 I
contusões, perda de peso e estresse dos animais (KNO- P= 0,78, e a "The Animal Welfare Advisory Commit-
WLES, 1999). tee", da Nova Zelândia, adota a equação de Randall como
A mortalidade de bovinos durante o transporte é o mínimo espaço e a equação da FAWC como o máximo
extremamente baixa. Novilhos são mais susceptíveis que espaço (KNOWLES, 1999).
animais adultos (KNOWLES, 1995). Na África do Sul Teoricamente, do ponto de vista econômico, pro-
foi relatado 0,0 I% de mortalidade de bovinos em 1980, e cura-se transportar os animais empregando alta densi-
0%, de um total de 22 mil animais transportados em 1990. dade de carga, no entanto esse procedimento tem sido
Não há registro de mortalidade no transporte de bovinos responsável pelo aumento das contusões e do estresse
no Reino Unido. Publicações mais antigas relatam que o dos animais, sendo inadmissível densidade superior a
transporte ferroviário é mais problemático que o trans- 550Kg/m 2 (TARRANT et ai., 1988, 1992). No Brasil,
porte rodoviário (KNOWLES, 1999). a densidade de carga utilizada é em média de 390 a
Os animais gordos são mais susceptíveis que os 410Kg/m 2 .
animais magros. As altas temperaturas, as maiores dis- O aumento do estresse durante o transporte é pro-
tâncias de transporte e a diminuição do espaço ocupado porcionado pelas condições desfavoráveis como priva-
por animal também contribuem para que ocorram pro- ção de alimento e água, alta umidade, alta velocidade do
blemas de transporte (THORNTON, 1969). ar e densidade de carga. (SCHARAMA et ai., 1996).
A privação de alimento e água conduz à perda de As respostas fisiológicas ao estresse, são traduzidas por
peso do animal. A razão da perda de peso relatada na hipertermia e aumento da freqüência respiratória e car-
literatura científica é extremamente variável, de 0,75% a díaca. Com o estímulo da hipófise e adrenal, estão asso-

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ciados OS aumentos do níveis de cortisol, glicose e ácidos Descanso e dieta hídrica


graxos livres no plasma. Pode ocorrer ainda aumento de
neutrófilos e diminuição de linfócitos, eosinófilos e monó- O período de descanso ou dieta hídrica no mata-
citos (GRIGOR et al., 1999; KNOWLES, 1999; GRAN- douro é o tempo necessário para que os animais se recu-
DIN,2000d). perem totalmente das perturbações surgidas pelo deslo-
Essas respostas fisiológicas aumentam nos animais camento desde o local de origem até ao estabelecimen-
transportados no terço final do veículo (TARRANT et to de abate (GIL e DURÃO, 1985).
al., 1988), na razão direta com a movimentação dos ani- De acordo com o artigo n° 110 do RIISPOA - Re-
mais durante a viagem em estradas precárias (KENNY gulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos
e TARRANT 1987) e em alta densidade de carga (TAR- de Origem Animal (BRASIL, 1968), os animais devem
RANT et al., 1992). O cortisol também sofre aumento permanecer em descanso, jejum e dieta hídrica nos cur-
na fase inicial, restabelecendo-se no decorrer do trans- rais por 24 horas, podendo esse período ser reduzido em
porte (WARRISS, et al., 1995). função de menor distância percorrida. A Argentina tam-
As operações de embarque e desembarque dos bém adota esse procedimento (ARGENTINA, 1971). As
animais, se bem conduzidas, não produzem reações es- disposições oficiais portuguesas determinam também um
tressantes importantes (KENNY e TARRANT 1987). mínimo de 24 horas para descanso dos animais nos cur-
O ângulo formado pela rampa de acesso ao veículo em rais (GIL e DURÃO, 1985). Na Austrália tem sido em-
relação ao solo não deve ser superior a 20°, sendo dese- pregado o tempo de retenção de 48 horas, das quais 24
jável um ângulo de ISO (CORTESI, 1994). horas com alimentação e 24 horas em dieta hídrica
A extensão das contusões nas carcaças represen- (SHORTHOSE, 1991). No Canadá, o tempo de descan-
ta uma forma de avaliação da qualidade do transporte, so é de 48 horas, com alimentação (GRANDIN e RE-
afetando diretamente a qualidade da carcaça, conside- GENSTEIN, 1994). De maneira geral, é necessário um
rando que as áreas afetadas são aparadas da carcaça, período mínimo de 12 a 24 horas de retenção e descanso
com auxilio de faca, resultando em perda econômica e para que o gado que foi submetido a condições desfavo-
sendo indicativo de problemas com o bem-estar animal ráveis durante o transporte por um curto período, recu-
(JARVIS e COCKRAM, 1994). A extensão das contu- pere-se rapidamente. Os animais submetidos a essas
sões aumenta com o aumento da densidade de carga, mesmas condições, mas por período prolongado, exigirão
principalmente com vl\lores superiores a 600kgJm 2 (TAR- vários dias para readquirirem sua normalidade fisiológica
RANT et al., 1992). (THORNTON, 1969).
A maior influência do transporte na qualidade da O descanso tem como objetivo principal reduzir o
carne é a depleção do glicogênio muscular por atividade conteúdo gástrico para facilitar a evisceração da carca-
física ou estresse físico, promovendo uma queda anôma- ça (THORNTON, 1969) e também restabelecer as re-
la do pH post-mortem, originando a carne D.F.D. ("dark, servas de glicogênio muscular (THORNTON, 1969;
fum, dry"). Essas condições estressantes são causadas BARTELS, 1980; SHORTHOSE, 1991), tendo em vista
pelo transporte prolongado (KNOWLES, 1999). Trans- que as condições de estresse reduzem as reservas de
porte por tempo superior a 15 horas é inaceitável do pon- glicogênio antes do abate (BRAY et aI., 1989).
to de vista de comportamento e bem-estar animal (WAR- Durante o período em que os animais permane-
RISS, et al., 1995). cem em descanso e em dieta hídrica, é realizada a inspe-
Um novo conceito de monitoramento on-line do ção ante-mortem com as seguintes finalidades: a) exigir
transporte de animais é apresentado por GEERS et alo e verificar os certificados de vacinação e sanidade do
(1998) com o objetivo de verificar o bem-estar animal e gado; b) identificar o estado higiênico-sanitário dos ani-
melhorar a prevenção e o controle de doenças animais. mais para auxiliar, com os dados informativos, a tarefa
O sistema, denominado de TETRAD - "Transport Ani- de inspeção post-mortem; c) identificar e isolar os ani-
mal Disease Prevention", é constituído de um sistema de mais doentes ou suspeitos, antes do abate, bem como
telemetria e envio dos dados via satélite. O animal dispõe vacas com gestação adiantada e recém-paridas; d) veri-
de um dispositivo eletrônico ("transponders") que forne- ficar as condições higiênicas dos currais e anexos (BRA-
ce sua identificação, temperatura corporal e sua posição SIL, 1968; STEINER, 1983; GIL e DURÃO, 1985; SNI-
geográfica no veículo. O veículo possui um microcompu- JDERS, 1988).
tador (Iaptop) que transmite os dados do animal, via saté- Basicamente há cinco causas de problemas do
Lite, para uma central de controle, onde é realizado o mo- bem-estar animal nos matadouros-frigoríficos (GRAN-
nitoramento do transporte. DIN, 1996, 1996b): a) estresse provocado por equipa-

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mentos e métodos impróprios que proporcionam excita- tituía-se em fator de disseminação e extensão de conta-
ção, estresse e contusões; b) transtornos que impedem o minações (MUCCIOLO, 1985).
movimento natural do animal, como reflexo da água no O objetivo do banho do animal antes do abate é
piso, brilho de metais e ruídos de alta freqüência; c) falta limpar a pele para assegurar uma esfola higiênica, redu-
de treinamento de pessoal; d) falta de manutenção de zir a poeira, tendo em vista que a pele fica úmida e, por-
equipamentos, como conservação de pisos e corredores; tanto, diminuiria a sujeira na sala de abate (STEINER,
e) condições precárias pelas quais os animais chegam no 1983). O banho de aspersão antes do abate não afeta a
estabelecimento, principalmente devido ao transporte. O eficiência da sangria nem o teor de hemoglobina retido
bem-estar também é afetado pela espécie, raça, linha- nos músculos (ROÇA e SERRANO, 1995).
gem genética (GRANDIN, 1996) e pelo manejo inade- Para STEINER (1983), a limpeza de bovinos,
quado como reagrupamento ou mistura de lotes de ani- particularmente suas extremidades, cascos e região
mais de origem diferente, promovendo brigas entre eles anal, deve ser realizada nos currais, nas rampas ou
(ABATE, 1997; KNOWLES, 1999). nas seringas, utilizando mangueiras ou aspersão de água
A retenção dos animais, o manejo adotado e as sob pressão. É recomendável que os animais perma-
inovações que o animal recebe são causas de estresse neçam um pequeno espaço de tempo na rampa de aces-
psicológico, enquanto que os extremos de temperatura, so para secar a pele, tendo em vista que é impossível
fome, sede, fadiga e injúrias, são as principais causas do realizar uma esfola higiênica se o couro estiver úmido.
estresse físico (GRANDIN, 1997). O autor recomenda que dos bovinos que ainda apre-
Os estudos para a determinação do nível de es- sentarem sujeiras aderidas, nessa fase do abate, so-
tresse em que o animal é submetido durante as opera- mente as patas e os cascos devem ser aspergidos após
ções ante-mortem apresentam resultados variáveis e de o atordoamento.
difícil interpretação para definição do bem-estar animal Na rampa de acesso ao boxe de atordoamento,
(G RANDIN, 1997, 1998, 2000g). As avaliações do es- devem ser realizadas as avaliações do estresse provoca-
tresse provocado no período ante-mortem devem ser re- do no período ante-mortem. GRANDIN (2000g) propõe
alizadas na rampa de acesso ao boxe de insensibilização, avaliação dos deslizamentos e das quedas dos animais
ou no espaço reservado para o banho de aspersão. bem como das vocalizações ou mugidos dos animais na
rampa de acesso ao boxe de insensibilização. A avalia-
Banho de aspersão ção dos deslizamentos e das quedas (quando o animal
toca com o corpo no piso) deve ser realizada, no mínimo,
No Brasil, os animais após o descanso regulamen- em 50 animais com a seguinte pontuação:
tar seguem comumente por uma rampa de acesso ao boxe
de atordoamento dotado de comportas tipo guilhotina. ~ excelente: sem deslizamento ou quedas;
Nessa rampa é realizado o banho de aspersão. O local
~ aceitável: deslizamentos em menos de 3% dos
deve dispor, segundo o Ministério da Agricultura (BRA-
animais;
SIL, 1968, 1971), de um sistema tubular de chuveiros dis-
postos transversal, longitudinal e lateralmente, orientan- ~ não aceitável: I% de quedas;
do os jatos para o centro da rampa. A água deve ter a
pressão não inferior a 3 atmosferas (3,03 Kgf/cm 2) e
recomenda-se hipercloração a 15ppm de cloro disponi-
vel. A Argentina adota método análogo (pIBOUL, 1973). Com um manejo tranqüilo que proporcione bem-
No Brasil, o afunilamento final da rampa de aces- estar dos animais toma-se quase impossível que eles es-
so é denominado "seringa", onde também há canos per- correguem ou sofram quedas. Todas as áreas por onde
furados ou borrifadores, conforme artigo 146 do RIIS- os animais caminham devem, obrigatoriamente, possuir
POA (BRASIL, 1968). A seringa simples ou dupla, até o pisos não derrapantes (GRANDIN, 2000g).
boxe de atordoamento, deve ter, transversalmente, a for- As vocalizações ou mugidos são indicativos de dor
ma "V", com a finalidade de permitir a passagem de ape- nos bovinos. O número de vezes que o bovino vocaliza
nas um animal por vez. durante o manejo estressante tem relação com o nivel de
O banho de aspersão foi adotado em substituição cortisol plasmático. A utilização do bastão elétrico para
ao banho de imersão, o qual, levando em conta a grande conduzir os animais é um dos motivos do alto índice de
quantidade de sujeira que se depositava no tanque e a mugidos. A avaliação deve ser realizada, no mínimo, em
impossibilidade material de troca freqüente da água, cons- 100 animais, também na rampa de acesso ao boxe de

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ROÇA. R. O. Abate humanitário de bovinos / Humane slaughter of catlle./ Rev. educo contin. CRMV·SP / ContiDuous Education Journal CRMV-SP. São Paulo. volume
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insensibilização. O critério para avaliação, segundo ser realizado mediante a degola cruenta (método "ka-
GRANDIN (2000g) é: sher" ou "kosher") sem atordoamento prévio.
A marreta de insensibilização é largamente utiliza-
da no Brasil, principalmente em estabelecimentos clan-
~ excelente: até 0,5% dos bovinos vocalizam;
destinos. Há escassez de publicações sobre trabalhos ex-
~ aceitável: 3% dos bovinos vocalizam; perimentais com o uso da marreta em bovinos (LEACH,
~ inaceitável: 4 a 10% vocalizam; 1985). A utilização de marreta como método de abate
promove grave lesão do tecido ósseo, com afundamento
~ problema sério: mais de 10% vocalizam.
da região atingida. No encéfalo produz um processo de
contusão cranioencefálica e não concussão, como rela-
A necessidade da utilização do bastão elétrico para tado por vários pesquisadores. Apresentam também uma
conduzir os animais também constitui um sinal de que o grande incidência de hemorragias macroscópicas e mi-
manejo está inadequado. O bastão elétrico não deve ser croscópicas na ponte e bulbo, podendo ser considerada
utilizado nas partes sensitivas dos animais como olhos, lesão indireta, ou seja, uma hemorragia no ponto opositor
orelhas e mucosas. Os bastões não devem ter mais que do golpe no cérebro, promovida pelo contragolpe da por-
50 volts. Ao reduzir o uso do bastão elétrico, melhorará o ção basilar do osso occipital (ROÇA, 1999).
bem-estar animal. Os critérios para avaliar a utilização O martelo pneumático não penetrante leva a uma
do bastão elétrico em bovinos, segundo GRANDIN lesão encefálica ou injúria cerebral difusa provocada pela
(2000g) são (em % de bovinos conduzidos com a utiliza- pancada súbita e pelas alterações da pressão intracraru-
ção do bastão): ana, resultando na deformação rotacional do cérebro,
promovendo incoordenação motora, porém
mantém atividade cardíaca e respiratória
(LEACH, 1985; BAGER el al., 1990). O
martelo pneumático, segundo LAMBOOY
et al. (1981), não deve ser aceito como mé-
Excelente 0"10 < 5% < 5%
todo de insensibilização em razão de sua bai-
Aceitável < 5% <20% < 25% xa eficiência, que pode ser avaliada pela fre-
problema sério >50% qüência cardíaca, pela pressão sangüínea,
pela respiração, pela presença de reflexos,
pela eletroencefalografia e pela eletrocorti-
cografia (FRlCKER e RIEK, 1981; LAMBOOY el al.,
Métodos de insensibilização 1981; LEACH, 1985; BAGER elal., 1990,1992). A efi-
ciência do atordoamento com martelo pneumático só foi
O atordoamento ou a insensibilização pode ser observada por LAMBOOY el alo (1981) em 50% dos
considerado a primeira operação do abate propriamen- aillmais abatidos, ou seja, quando o atordoamento provo-
te dito. Determinado pelo processo adequado, o atordo- cava uma hemorragia cerebral difusa.
amento consiste em colocar o animal em um estado de As publicações sobre a utilização de armas de
inconsciência, que perdure até o fim da sangria, não fogo ou pistolas pneumáticas também são escassas. A
causando sofrimento desnecessário e promovendo uma utilização de armas de fogo deve ser considerada uma
sangria tão completa quanto possível (GIL e DURÃO, operação de alto risco em matadouros-frigoríficos (LE-
1985). ACH,1985).
Os instrumentos ou métodos de insensibilização As pistolas pneumáticas de penetração fabrica-
que podem ser utilizados são: marreta, martelo pneu- das no Brasil possuem terminal em bastão de 1lmm de
mático não penetrante (cash knocker), ármas de fogo diâmetro com extremidade convexa e força de impacto
(firearm-gunshot), pistola pneumática de penetração de 8 a 12 Kg/cm 2 . Não possuem injeção direta de ar
("pneumatic-powered stunners"), pistola pneumática de com o objetivo de laceração do tecido cerebral. A saída
penetração com injeção de ar ("pneumatic-powered air de ar no terminal do bastão tem como objetivo apenas
injections stunners"), pistola de dardo cativo acionada auxiliar o retorno do dardo. O uso da pistola pneumática
por cartucho de explosão ("cartridge-fired captive bolt produz uma grave laceração encefálica, promovendo in-
stunners"), corte da medula ou choupeamento, eletro- consciência rápida do animal e pode ser considerado
narcose e processos químicos. O abate também pode um método eficiente de abate de bovinos (ROÇA, 1999).

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RoçA, R. O. Abate humanitário de bovinos I Humane slaughter of caule. I Rev. educo contin. CRMV-SP I Continuous Education Journal CRMV-SP, São Paulo. volume
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A pistola de dardo cativo acionada por cartucho membros dianteiros. GRANDIN (2000) adota o se-
de explosão é o método que tem recebido mais destaque guinte critério para análise do processo de insensibili-
nas publicações científicas. O dardo atravessa o crânio zação em bovinos:
em alta velocidade (100 a 300m/s) e força (50 Kg/mm 2),
produzindo uma cavidade temporária no cérebro. A injú-
~ excelente: menos que I por 1000 de animais
ria cerebral é provocada pelo aumento da pressão inter-
insensibilizados parcialmente;
na e pelo efeito dilacerante do dardo. Esse método é con-
siderado o mais eficiente e humano para a insensibiliza- )- aceitável: menos que 1 por 500 de animais in-
ção de bovinos, eqüinos e ovinos, (FRlCKER e RIEK, sensibilizados parciaImcnte.
1981; GRACEY e COLLINS, 1992; LEACH, 1985;
WORMUTH e SCHUTI-ABRAHAM, 1986; DALY et Os únicos processos de atordoamento de animais
aI., 1988), adotados também para suínos (DEPARTA- previstos na Convenção Européia sobre Proteção dos
MENT OF AGRlCULTURE, USA, 1999) e aves (LAM- Animais são:
BOOU et aI., 1999). a) meios mecânicos com a utilização de instrumentos
A utilização de pistolas de dardo cativo (pneumáti- com percussão ou perfuração do cérebro;
ca ou de explosão) provoca lesões do tecido do sistema b) eletronarcose;
nervoso central, disseminando-o pelo organismo animal. c) anestesia por gás.
SCHMIDT et aI. (1999) encontraram segmentos de te-
cido cerebral no ventrículo direito, em 33% dos animais Foram abolidas as técnicas da choupa, do pre-
abatido por pistola pneumática com injeção de ar; 12% go ou estilete, do martelo de cavilha, da máscara de
dos animais abatidos por pistola pneumática sem injeção cavilha e armas de fogo. São exceções o abate se-
de ar e em I% dos animais abatidos por pistola de dardo gundo rituais religiosos e o abate de emergência (GIL
cativo acionada por explosão. e DURÃO, 1985). A concussão cerebral é permitida
O corte da medula era utilizado para o abate de búfa- na Bélgica, França e Luxemburgo, porém proibida
los, em razão da alta resistência da calota craniana, o que desde 1920 na Holanda (LAMBOOY et ai., 1981;
impede a inconscientização por outros processos mecânicos. LEACH, 1985).
A eletronarcose e o dióxido de carbono são em- No Estado de São Paulo, foi aprovado, na Assem-
pregados somente para suínos, sendo inviável para bovi- bléia Legislativa, o Projeto de Lei n° 297, de 1990 (SÃO
nos (TROEGER, 1991; WOTION et ai., 1992). PAULO, 1990), e, na Câmara dos Deputados, tramitou o
Com exceção da eletronarcose e da insensibiliza- Projeto de Lei n° 3929, de 1989 (BRASIL, 1989), que
ção por dióxido de carbono, o sucesso de aplicação de dispõem sobre os métodos de abate de animais destina-
uma técnica depende da habilidade do magarefe, que deve dos ao consumo. Por eles, é permitido somente a utiliza-
ser especialmente treinado para executar o atordoamen- ção de métodos mecânicos por meio de pistolas de pene-
to (LEACH, 1985). tração ou pistolas de concussão, eletronarcose e méto-
O boxe de atordoamento é de construção metáli- dos químicos com o emprego do dióxido de carbono, proi-
ca. O fundo e o flanco que confina com a área de vômito bindo o uso da marreta ou choupa. O Projeto de Lei n°
são móveis, possuindo, o primeiro, movimento basculante 297 foi sancionado pelo Governador do Estado e publica-
lateral, e o segundo, movimento de guilhotina, acionados do como Lei n° 7705 (SÃO PAULO, 1992) de 19 de
mecanicamente e em sincronia, depois de abatido o ani- fevereiro de 1992, e foi regulamentado através do De-
mal. Assim ocasionam a ejeção desse animal para a área creto n.O 39.972, de 17 de fevereiro de 1995 (SÃO PAU-
de vômito (BRASIL, 1971). LO, 1995); já o Projeto de Lei nO 3929 foi vetado na Co-
Após a insensibilização, o animal desliza sobre a missão de Agricultura da Câmara Federal, em 29 de ou-
grade tubular da área de vômito e é suspenso ao trilho tubro de 1991.
aéreo por um membro posterior, com o auxílio de um Em 1999, a Secretaria de Defesa Agropecuária do
gancho e uma roldana. Nesse momento, pode ocorrer Ministério da Agricultura (BRASIL, 1999) apresentou a
regurgitação, devendo o local ter água em abundância Instrução Normativa n.o 17, de 16 de julho de 1999, sobre
para lavagem (MUCC10LO, 1985). regulamento técnico de métodos de insensibilização para o
Na canaleta de sangria deve ser observada a abate humanitário de animais de açougue, estabelecendo
eficiência da insensibilização. Os sinais de uma insen- o prazo de 90 dias para sugestões ou críticas sobre a pro-
sibilização deficiente são: vocalizações, reflexos ocu- posta apresentada. Após as sugestões realizadas pela co-
lares presentes, movimentos oculares, contração dos munidade científica, houve uma reunião na qual foi defini-

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ROÇA, R. O. Abale humanitário de bovinos / Humane slaughter or caule./ Rev. educo contin. CRMV-SP / Continuous Education Journal CRMV-SP. São Paulo, volume
4, rascfculo 2. p. 73 - 85. 200 I.

do O Regulamento, sendo publicado em janeiro de 2000 simplesmente consideram subjetivamente o alimento


(BRASIL, 2(00). "kasher" como de alta qualidade. São alimentos "ka-
sher" a carne, o frango, o peixe com escamas, os lati-
Ritual"Kasher" cínios, as frutas, os legumes e os produtos de confei-
taria. Não são considerados "kasher" a carne suína,
A religião judaica é a mais exigente quanto às nor- as misturas de carne e laticíruos, o camarão, a lagosta
mas de alimentação, que envolve seleção da matéria pri- e os frutos do mar (KHOLMEINI, 1979; LÜCK, 1994,
ma, abate de animais, preparo e consumo de alimentos, 1995; IBEN, 1995; KOSHER, 1997; BARKMEIER,
uso de determinados utensílios e também regras de ali- 1998). Problemas com Trichinella spiralis e Taenia
mentação em certos dias como "sabbath" ou dias de fes- solium provavelmente tenham sido responsáveis pela
tas (LÜCK, 1994, 1995). Em contraste com a exigência proibição judaica do consumo da carne suína (THORN-
religiosa, estes métodos têm sido criticados, tanto pela TON, 1969), porém REGENSTEIN e REGENSTEIN
crueldade (REVISTA NACIONAL DA CARNE, 1995), (1979) afirmam que as leis que regem o ritual "ka-
como também pela falta de cuidados quanto aos aspectos sher" não são "leis de saúde". As restrições alimenta-
higiênico-sanitários (LÜCK, 1994). res, como a designação de aillmais puros e impuros; a
O abate "kasher" ou "schechita" envolve a con- proibição do consumo de misturas com carne e leite e
tenção do animal, estiramento da cabeça por um gan- consumo de sangue, são citadas na Bíblia (LEVÍTI-
cho e uma incisão, sem movimentos bruscos, entre a CO, 11: 1-19; ÊXODO, 22: 31,23: 19; DEUTERO-
cartilagem cricóide e a laringe (PICCHI e AJZEN- NÔMIO, 12: 21-25; 14: 1-21).
TAL, 1993), cortando a pele, músculos, traquéia, esô- "Schechita" é o ritual de abate dos animais para
fago, veias jugulares e artérias carótidas (REGENS- o preparo da carne "kasher". Ele é realizado por um
TEIN e REGENSTEIN, 1988) e às vezes chegando magarefe denomjnado "schochet" que recebe treina-
próximo às vértebras cervicais (SANZ EGANA, mento por um longo período. A proposta do ritual é o
1967). Essa operação tem como objetivo, segundo RE- corte das artérias carótidas e veias jugulares rapida-
GENSTEIN e REGENSTEIN (1988), permitir a má- mente, proporcionando rápida inconsciência e insensi-
xima remoção de sangue. bilidade. O instrumento cortante utilizado para essa
O termo "kosher" ou "kasher" é utilizado para de- operação é chamado de "chalaf", o qual é afiado de
fmir os alimentos preparados de acordo com as leis judai- forma eficiente e examinado após cada utilização.
cas de alimentação (REGENSTEIN e REGENSTEIN, Cada seção de "schechita" é precedida por uma pre-
1979, 1988; BARKMEIER, 1998; CHANIN e HOF- ce especial denominada "beracha". Quando são utili-
MAN, 1998; KOF-K KOSHER SUPERVISION, 1998). zados animais não domésticos, o sangue deve ser co-
As leis da aljmentação judaica, denominada de "kashrut", berto por areia ou terra. A inspeção dos animais é rea-
são seguidas pelos membros da religião judaica (RE- lizada pelo "shochet", para verificação de moléstias,
GENSTEINeREGENSTEIN, 1979, 1991; LÜCK, 1994, injúrias e, principalmente, a presença de aderências
1995), que atinge mais de seis milhões de pessoas nos ou malformações, que condenarão o animal para o
Estados Urudos da América. Somente no Estado de Nova consumo (HOROVITZ, 1998; SmSLER, 2000). Os
Iorque, EUA, com mais de dois milhões de judeus, o pulmões são inflados para verificação de aderências.
Departamento de Agricultura possui uma seção especial No Brasil, os animais também são inspecionados pelo
("New York Agricultural and Market Law", parágrafo Serviço de Inspeção Federal.
20 l-a) responsável pela segurança e legitimidade dos ali- Para a realização da degola, o animal é encami-
mentos comercializados como "kasher" ou "kosher". Os nhado ao boxe que é utilizado para atordoamento do
alimentos "kasher" representam nos Estados Unidos um abate não destinado à produção de carne "kasher",
mercado de US$ 35 bilhões/ano, incluindo mais de 38 mil expõe uma das patas traseiras em um espaço de aber-
alimentos certificados como "kasher", produzidos por tura, a qual é presa por uma corrente com roldana, o
9600 empresas do ramo de alimentos (STERN, 1990; boxe é aberto, permitindo a saída do animal enquanto
SOJKA, 1995; KOSHER, 1997; AMERICAN MEAT a corrente é suspensa por um guincho. O animal é
INSTITUTE, 2000). baixado até seu dorso tocar o solo, mantendo seu pos-
Os alimentos "kasher" não são somente adqui- terior suspenso. Um gancho, na forma de "V" é colo-
ridos por judeus, mas também por muçulmanos, ad- cado sobre a mandíbula e o pescoço é tensionado. O
ventistas, vegetarianos, pessoas com alergias a certos "shochet" apóia uma das mãos sobre o pescoço do
alimentos e ingredientes e outros consumidores que animal, e por um movimento realizado com a "chalaf',

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ROÇA. R. O. Abate humanitário de bovinos! Humanc slaughter or caule.! Rev. educo contin. CRMV·SP! Continuous Education Journal CRMV-SP, São Paulo. volume
4. fascículo 2. p. 73 - 85. 2001.

corta, entre o primeiro e o segundo anel da traquéia, a


pele, as veias jugulares, as artérias carótidas, o esôfa-
go e a traquéia, não podendo encostar o fio da faca
nas vértebras cervicais. A incisão deve ser executada
sem interrupção, sem movimentos bruscos, sem per-
furação, sem dilacerações e nem sobre a laringe. Após
a incisão, o animal é suspenso ao trilho, seguindo para
o término da sangria e esfola (PICCHI e AJZENTAL,
1993; PICCHI, 1996).
O grande problema do ritual judaico de abate
de bovinos no Brasil é o sistema de contenção dos
animais, que é ineficiente e não considera que o gado
abatido é principalmente o zebuíno, mais agitado que
o taurino. A contenção e a degola cruenta provocam
sérios efeitos estressantes nos animais abatidos pelo
método "kasher". Nos momentos após a degola e sus-
pensão, os animais abatidos por este ritual apresen-
tam flexão dos membros anteriores e contração dos
músculos da face, sinais evidentes de dor (ROÇA,
1999).
Figura 1. Esquema do boxe de contenção ASPCA.
Analisando-se as alterações cranioencefálicas, o
abate "kasher" não provoca lesão de tegumento e no crâ-
nio; nas meninges, ocorrem algumas hemorragias na arac-
nóide e pia-máter. No encéfalo podem ser encontradas
congestão e algumas lesões microscópicas de hemorra-
gia. A injúria cerebral provocada por esse método de abate
é extremamente pequena e inferiores aos abates com a
utilização da marreta ou pistola pneumática (ROÇA,
1999).
Tanto por razões humanitárias como de seguran-
ça, os frigoríficos que executam abate judaico devem ins-
talar equipamentos modernos de contenção vertical. A
prática de suspender os bovinos ou ovinos vivos deve ser
eliminada. Vários esquemas e aparelhos de contenção
são preconizados pela "Arnerican Society for the Pre-
vention of Cruelty to Animais" (ASPCA) (GRANDIN,
2oo0b). A Figura I mostra o esquema de contenção de
bovinos, e a Figura 2, o modelo ASPCA de boxe de con-
tenção.
O aparelho consiste em um boxe estreito com
abertura na frente para a cabeça do animal. Após a
entrada do animal no boxe, um portão empurra-o para
frente e um levantador abdominal é encostado debai-
xo do peito. A cabeça é contida por um levantador
facial de maneira que o rabino possa executar a dego-
la. O movimento do levantador abdominal deve ser
restrito a 70 centímetros, de forma que não levante o
animal do piso. O portão que empurra o traseiro deve
estar equipado com um regulador de pressão separa-
do, que permita ao operador regular a pressão exerci-
Figura 2. Modelo do boxe de contenção ASPCA.
da sobre o animal. O operador deve evitar o movimen-

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ROÇA, R. O. Abate humanitário de bovinos / Humane slaughter ar caUle./ Rev. educo contin. CRMV-SP / Continuous Education Journal CRM-V-SP, São Paulo. volume
4, rascículo 2, p. 73 - 85. 2001.

to brusco dos controles. Na maior parte dos casos o obtida na sangria com o animal deitado é aproximada-
animal manter-se-á quieto e o boxe fecha-se devagar mente de 3,96 litros/I 00 Kg de peso vivo e com a utiliza-
e, assim, menos pressão deverá ser exercida para a ção do trilho aéreo é de 4,421itros1l00 Kg de peso vivo.
contenção perfeita (GRANDIN e REGENSTEIN, Numa boa sangria, necessária para a obtenção de uma
1994; GRANDIN, 2000a). carne com adequada capacidade de conservação, é re-
Segundo a ASPCA (GRANDIN, 2000a), o boxe movido cerca de 60% do volume total de sangue, e o
ASPCA pode ser instalado com facilidade, em um fim restante fica retido nos músculos (10%) e vísceras (20-
de semana, sem maior interrupção no frigorífico. Tem 25%) (PISKE, 1982; HEDRICK et al., 1994; SWA-
capacidade máxima de 100 cabeças de bovinos por TLAND, 2000).
hora e funciona eficientemente na razão de 75 ani- O sangue tem pH alto (7,35 -7,45) (KOLB, 1984)
mais/hora. e, em virtude do grande teor protéico, tem uma rápida pu-
A carne "kasher" destinada ao consumo, deve trefação (MUCCIOLO, 1985). Logo, a capacidade de
ter poucos vasos sangüíneos e nervos. Os quartos conservação da carne mal sangrada é muito l.imitada. Além
dianteiros, carne de cabeça e costela são as partes disso, constitui um problema de aspecto para o consumi-
mais consumidas entre os judeus. Há também proibi- dor (BARTELS, 1980; HEDRICK et al., 1994). Portanto,
ção de consumo do nervo ciático (PICCHI e AJZEN- a eficiência da sangria pode ser considerada uma exigên-
TAL, 1993). O preparo da carne, segundo o ritual cia importante das operações de abate para obtenção de
"kasher", tem como objetivo eliminar o máximo de um produto de alta qualidade (WARRISS, 1977).
sangue. Consiste na imersão da carne em água por No entanto, existem controvérsias a respeito da
30 minutos, seguida por salga a seco, com sal grosso, relação entre sangria, higiene e aparência da carne. Sabe-
durante uma hora, seguida por três imersões conse- se que o sangue de animais sãos é praticamente estéril e
cutivas em água, cada uma, durante um período de possui no plasma fatores com atividade antimicrobiana.
uma hora (FOLHA DE SÃO PAULO 1992, 1992a; Assim, a interrupção da sangria por hemostasia foi suge-
SHISLER, 2000). rida como um caminho para meLhorar as propriedades
sensoriais da carne como maciez, sabor, suculência e
Sangria aparência (WILLIAMS, 1971, apud WARRISS, 1984).
Vários fatores são responsáveis pela eficiência da
A sangria é realizada pela abertura sagital da bar- sangria. Podem ser citados o estado físico do animal an-
beIa através da linha alba e pela secção da aorta anterior tes do abate, o método de atordoamento e o intervalo
e veia cava anterior, no início das artérias carótidas e entre o atordoamento e a sangria. Todas as enfermida-
final das veias jugulares. O sangue é então recolhido pela des que debilitam o sistema circulatório afetam a san-
canaleta de sangria (BRASIL, 1971). Deve-se cuidar para gria. As enfermidades febris, agudas, provocam vasodi-
que a faca não avance muito em direção ao peito, porque latação generalizada o que impede uma sangria eficien-
o sangue poderá entrar na cavidade torácica e aderir à te. O mesmo é observado em animais abatidos em esta-
pleura parietal e às extremidades das costelas (THORN- do agônico, tendo em vista que o sistema circulatório
TON,1969). está notadamente alterado (BARTELS, 1980; PETTY
É conveniente a utilização de duas facas de san- elal.,1994).
gria: uma para a incisão da barbeIa e outra para o corte O banho de aspersão tem sido apontado como um
dos vasos. As facas devem ser mergulhadas na caixa de procedimento capaz de melhorar a sangria pela vaso-
esterilização após a sangria de cada animal, tendo em cronstricção periférica que ele possa provocar (BAR-
vista que microrganismos da faca já foram encontrados BOSA DA SILVA, 1995), porém, de acordo com ROÇA
nos músculos e medula óssea (MUCCIOLO, 1985). e SERRANO (1995), essa etapa do abate de bovinos
Algumas vezes, entretanto, há necessidade de uti- não afeta a eficiência da sangria ou o teor de hemoglobi-
lização do sangue para fins comestíveis e este líquido na retido nos músculos.
deve ser colhido com facas especiais (tipo vampiro) co- Com relação aos efeitos dos métodos de insensibi-
nectadas diretamente nas artérias. Elas dispõem de um lização na eficiência da sangria, os trabalhos científicos
tubo conectado ao cabo da faca que, higienicamente, leva têm sido direcionados principalmente para o abate de
o sangue para recipientes esterilizados (PISKE, 1982). ovinos, com o emprego de eletronarcose, degola, pistola
O volume de sangue de bovinos é estimado em 6,4 de dardo cativo e choupa.
a 8,2litrosll00Kg de peso vivo (BARTELS, 1980; KOLB, Os resultados obtidos por diferentes autores são
1984). Para BARTELS (1980), a quantidade de sangue conflitantes em virtude do emprego de diferentes méto-

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RoçA, R. Q. Abale humanilário de bovinos I Humane slaughter of caule. I Rev. educo contin. CRM-V-SP I Continuous Educatioo Jouroal CRMV-SP. São Paulo, volume
4, fascículo 2, p. 73 - 85. 2001.

dos para avaliação da eficiência da sangria. O emprego pressão sangüínea começa a cair (THORNTON, 1969).
em ovinos da eletronarcose em contraste com degola Na Argentina, o intervalo máximo permitido é de
cruenta, avaliada por CHRYSTALL et ai. (1981) e ele- dois minutos para bovinos (ARGENTINA, 1971) e, na
tronarcose com pistola de dardo cativo ou choupa, estu- Holanda, 30 segundos após eletronarcose em ovinos (LE-
dada por WARRlSS e LEACH (1978), não apresenta- ACH, 1985). No Brasil, o Serviço de Inspeção Federal
ram variações nos valores de hemoglobina residual na recomenda um intervalo máximo de I minuto (BRASil..,
carne, porém PAULICK et ai. (1989) encontraram uma 2000).
menor quantidade de sangue colhido durante a sangria Um problema relacionado com a sangria é o apa-
de ovinos submetidos à eletronarcose, quando compara- recimento de hemorragias musculares caracterizadas por
dos com animais submetidos ao atordoamento por pistola petéquias, listras ou equimoses em várias partes da mus-
de dardo cativo. culatura, provocadas por aumento da pressão sangüínea
Para bovinos, o método de abate afeta sensi- e ruptura capilar (THORNTON, 1969; LEACH, 1985).
velmente o processo de sangria, sendo a eficiência Vários fatores são responsáveis por essas alterações
maior no abate "kasher" e menor no abate realizado como o aumento do intervalo entre o atordoamento e a
mediante a insensibilização por pistola pneumática, sangria (THORNTON, 1969), o estado de tensão dos
seguida imediatamente pela estimulação elétrica animais no momento do abate (Gil.. e DURÃO, 1985),
(ROÇA, 1999). os traumatismos, as infecções e a ingestão de substân-
O atordoamento do animal, por qualquer método, cias tóxicas (SMULDERS et ai., 1989).
produz uma elevação da pressão sangüínea no sistema A eficiência da sangria pode ser definida como
arterial, venoso e capilares, e dá um aumento transitório o volume de sangue residual ou retido nos músculos
nos batimentos cardíacos (THORNTON, 1969), fatores após o abate. A literatura sobre métodos de avaliação
que favorecem a sangria. O volume de sangue colhido da eficiência da sangria é escassa. Talvez a dificulda-
também é maior se a sangria é realizada imediatamente de técnica para avaliar o sangue residual seja o fator
após a insensibilização. A esse respeito, VIMINI et alo principal dessa escassez de trabalhos científicos
(1983, 1983a) estabeleceram que o volume de sangue (WARRlSS, 1977). Considerando uma variação indi-
colhido é inversamente proporcional ao intervalo entre o vidual muito acentuada no teor de hemoglobina san-
atordoamento e a sangria. güínea, ROÇA (1993) empregou a relação entre a he-
A importância da sangria imediata é evidente quan- moglobina sangüínea e a hemoglobina residual no mús-
do se verifica que a velocidade de um fluxo de um vaso culo para estabelecer a eficiência da sangria, cujos
cortado é 5 a 10 vezes mais rápida do que no vaso ínte- resultados foram expressos em ml de sangue retido no
gro e somente depois de perder-se muito sangue é que a músculo por 100g de músculo.

;:'UIV1.~ •••• _ .

Humane slaughter can be defined as the set of technical and scientific procedures that assure the
animais welfare from loading the trucks in the farm until the exsanguination in the slaughterhouse.
Animais should be slaughtered without unecessary suffering and humane conditions should prevail at
alI times during the pre-slaughter management. Animal stunning is considered to be the most criticai
operation during slaughter as animais should be unconscious until the end of exsanguination, preven-
ting suffering and assuring an efficient blood loss. This article presents aspects related to ante-mor-
tem processing such as transport, pen management, stunning and exsanguination methods and their
effect on animal welfare and meat quality.

Key words: cattle slaughter, animal welfare, handling, transport, stunning, exsanguination.

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ROÇA, R. O. Abate humanitário de bovinos! Humane slaughter of caule.! Rev. educo contin. CRMV-SP ! Continuous Education Journal CRMV-SP, São Paulo. volume
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