Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
força ou resistência (endurance) insu- e QL na estabilização, assim como possíveis causas de desordens agudas
ficientes, ou fraco controle muscular10. suas disfunções em episódios de lom- e crônicas44. McDonald et al.45 ques-
Instabilidade pode ser definida como balgia, sugere-se focar a atenção nes- tionam a falta de evidências da co-
diminuição na capacidade de estabi- ses músculos8. O desenvolvimento de contração do TA e do ML durante ati-
lizar os sistemas da coluna para man- testes e exercícios reprodutíveis na vidades abdominais.
ter as zonas neutras dentro de limites clínica estabeleceu a ESL como práti-
fisiológicos, sem deformidade, sem ca no tratamento de disfunções lomba-
deficit neurológico ou sem dor incapa-
citante.
res37. O treino de estabilização local tem EXERCÍCIOS
A instabilidade lombar tem sido
sido aplicado também na reabilitação
do ombro por meio de exercícios para
ESTABILIZADORES
sugerida como causa de desordens os músculos da bainha rotatória e Em virtude das diferenças funcionais
funcionais e tensões, assim como dor. escápula 39 , bem como dos flexores entre os músculos locais e globais, os
A força de deformação dos ligamen- profundos do pescoço40. exercícios devem ser feitos de formas
tos e dos discos induzida por cargas
passivas da coluna dessensibiliza os O papel dos estabilizadores seg- diferentes quando se objetiva o trata-
mecanoceptores teciduais, diminuin- mentares consiste em fornecer prote- mento das disfunções e das dores. Há
do ou eliminando a força estabiliza- ção e suporte às articulações por meio pacientes em que os globais mais ati-
dora muscular reflexa no ML34. Panjabi do controle fisiológico e translacional vos predominam nos exercícios gerais.
propôs que a disfunção muscular ao excessivo do movimento 41. Os mús- É difícil detectar se a ativação dos
longo do tempo pode levar à lom- culos globais atuam encurtando-se ou locais ocorre durante esses exercícios.
balgia crônica via lesão adicional de alongando-se e gerando torque e mo- Por isso, são propostos exercícios es-
mecanoceptores e inflamação do te- vimento às articulações. Os locais li- pecíficos que isolam os músculos lo-
cido neural35. gam-se de vértebra a vértebra e são cais dos globais. A ESL não coloca a
responsáveis pela manutenção da po- estrutura lesada em risco, principal-
Exercícios específicos para os sição dos segmentos lombares durante mente no início da reabilitação, re-
movimentos funcionais. Essas deman- duzindo a carga externa e mantendo
estabilizadores lombares das indicam que exercícios isométricos a coluna em posição neutra. Os exer-
Há evidências de que os exercícios são mais benéficos por atuarem na re- cícios são sutis, específicos e preci-
tradicionais prescritos para a lombalgia educação dos músculos profundos. Em sos, reduzindo a chance de dor ou re-
tenham um importante componente um estágio mais avançado de treino, flexo de inibição. Para um máximo
lesivo 34. Um exemplo é a realização a isometria pode ser combinada com benefício, precisam ser repetidos tan-
de retroversão da pelve durante exer- exercícios dinâmicos para outras par- tas vezes quantas forem necessárias8.
cícios para a coluna lombar, que au- tes do corpo8. A progressão pode ser realizada em
menta o risco de lesão por comprimir inúmeros estágios. As séries podem ser
as articulações e aumentar a carga nas A co-contração e a estabilidade progredidas de cargas baixas com peso
estruturas passivas. McGill6 concluiu mínimo até posições mais funcionais
que exercícios em série para a lom- A co-contração é outro mecanismo
com aumento gradual de carga.
bar, realizados em aparelhos com car- que pode fornecer rigidez por meio de
ga, podem produzir herniações. músculos antagonistas e, assim, man- Para pacientes com disfunção local,
ter a estabilidade na presença de car- o isolamento do ML e TA não é uma
Músculos mais fortes parecem não gas externas e internas nas articula- tarefa fácil. Em virtude disso, Richardson
ter valor profilático na redução de pro- ções42. e Jull8 desenvolveram estratégias in-
blemas lombares. Os músculos de re-
Há posições em que a co-contra- cluindo palpação, observação de mu-
sistência (endurance) têm sido eviden-
ção dos músculos profundos pode ser danças na forma do corpo e retroali-
ciados como protetores. Maior mobi-
realizada enquanto se mantêm os glo- mentação (biofeedback).
lidade da coluna lombar, ao contrário
bais relaxados e a coluna em posição
do que se pensava, aumenta as chan- Comerford e Mottram46 propuseram
neutra8. A co-ativação pode ser alcan-
ces de problemas no segmento 36 . um guia clínico para o re-treino dos
çada pela inibição ativa dos interneu-
McGill 6 sugeriu que o mais seguro estabilizadores. Segundo eles, a pal-
rônios em vias recíprocas43. A co-con-
modelo de estabilização lombar não pação deve estimular a correta ativa-
tração dos antagonistas do tronco é
seria o exercício de força, mas sim o ção. É necessário observar o padrão
necessária para manter o equilíbrio
de resistência, que manteria a coluna de controle correto e o recrutamento
mecânico estável4. O controle do equi-
em uma posição neutra, enquanto tônico das fibras, sem que se note fa-
líbrio e estabilidade mecânica requer
encorajaria o paciente a co-contrações diga. O paciente não deve sentir dor
recrutamento muscular apropriado e tem-
dos estabilizadores.
po ótimo de recrutamento muscular e a respiração deve ser normal. A con-
Em virtude das evidências da im- (timing). Disfunção muscular e erros no tração deve se manter por 10 segun-
portância dos músculos locais TA, ML controle motor têm sido sugeridos como dos e ser repetida 10 vezes.
a b c
Figura 3 Ponte lateral avançada: após a manutenção da ponte lateral (a), girar de um cotovelo a outro (b, c) com o
abdome em contração, mantendo a estabilidade da pelve e da caixa torácica
palpada medialmente à espinha ilíaca
ântero-superior e inferiormente à cica-
a b
triz umbilical.
Treinamento do quadrado lombar: a
ponte lateral é a técnica escolhida para
ativação do estabilizador lateral, qua-
drado lombar, em virtude de otimizar
a ativação e de minimizar a sobrecar-
ga na coluna lombar (Figura 2). Na
Figura 4 Co-contração dos multífidos e do transverso do abdome: em a, nota-se a ponte inicial, o apoio inferior é reali-
parede abdominal relaxada; em b, observa-se a co-contração zado com o joelho, evoluindo para os
pés. Em um exercício mais avançado, mantém por 10 segundos. Repete-se pode ser palpada medialmente à es-
ponte lateral avançada (Figura 3), o 10 vezes. O terapeuta deve sentir com pinha ilíaca ântero-superior (Figura 4).
paciente começa da posição lateral da seus polegares a contração no local
ponte, isto é, com apoio inferior dos
pés e gira sobre os cotovelos enquanto
palpado e verificar a capacidade de
execução de uma contração simétri-
CONCLUSÃO
o abdome realiza o suporte segmentar ca e bilateral por parte do paciente, A revisão permitiu constatar a efi-
“travando” a pelve e a caixa torácica. assim como a intensidade e a capaci- cácia da estabilização segmentar nas
dade da manutenção de forma homo- lombalgias e, principalmente, na pre-
Exercícios para o multífido lombar: venção de sua recidiva, por atuar dire-
gênea, sem compensações 47.
deita-se em prono, com os joelhos es- tamente no controle motor, devolven-
tendidos e os braços ao longo do cor- A co-contração dos músculos TA e do a função protetora dos músculos pro-
po. O terapeuta toca com seus pole- ML começa preferencialmente nas fundos. Os exercícios propostos, por se-
gares os ML adjacentes ao processo posições em pé e sentada. Em ambas, rem sutis, específicos e em posição
espinhoso. Solicita então que o paci- o paciente realiza exatamente os mes- neutra, são adequados para o início da
ente realize uma contração leve como mos exercícios para o TA e o ML ao terapia, por submeterem as estruturas
se quisesse empurrar os dedos, e a mesmo tempo. A contração do TA articulares lesadas a sobrecarga leve.
REFERÊNCIAS
1 Danneels LA, Cools AM, Vanderstraeten GC, 10 Panjabi MM. The stabilizing system of the spine, part
Cambier DC, Witvrouw EE, Bourgois J, et al. The 1: function, dysfunction, adaption and enhancement.
effects of three different training modalities on the J Spinal Disord. 1992;5:383-9.
cross-sectional area of the paravertebral muscles.
11 Barr KP, Griggs M, Cadby T. Lumbar stabilization:
Scand J Med Sci Sports. 2001;11:335-41.
core concepts and current literature, part 1. Am J
2 Deyo RA, Cherkin D, Conrad D, Volinn E. Cost, Phys Med Rehabil. 2005;84:473-80.
controversy, crisis: low-back pain and the health of
12 Bergmark A. Stability of the lumbar spine: a study in
the public. Annu Rev Public Health. 1991;12:141-56.
mechanical engineering. Acta Orthop Scand.
3 De Vitta A. A lombalgia e suas relações com o tipo 1989;230(Suppl 60):20-4.
de ocupação, com a idade e o sexo. Rev Bras
13 Steffen R, Nolte LP, Pingel TH. Rehabilitation of the
Fisioter. 1996;1:67-72.
post-operative segmental lumbar instability: a
4 Ebenbichler GR, Oddsson LIE, Kollmitzer J, Erim Z. biomechanical analysis of the rank of the back
Sensory-motor control of the lower back: implications muscles. Rehabilitation. 1994;33:164-70.
for rehabilitation. Med Sci Sports Exerc.
14 Marques AP. Cadeias musculares: um programa para
2001;33(11):1889-98.
ensinar avaliação fisioterapêutica global. 2a ed. São
5 Blanda J, Bethem D, Moats W, Lew M. Defects of the Paulo: Manole; 2005.
pars interarticularis in athletes: a protocol for non-
15 Wilke HJ, Wolf S, Claes LE, Arand M, Weisend A.
operative treatment. J Spinal Disord. 1993;6:406-11.
Stability increase of the lumbar spine with different
6 McGill SM. Low-back stability: from formal muscle groups: a biomechanical in vitro study. Spine.
description to issues for performance and 1995;20:192-8.
rehabilitation. Exer Sport Sci. 2001;29(1):26-31.
16 Hides JA, Richardson CA, Jull GA. Multifidus muscle
7 Carpenter DM, Nelson BW. Low back strengthening recovery is not automatic following resolution of
for the prevention and treatment of low-back pain. acute first-episode low back pain. Spine.
Med Sci Sports Exerc. 1999;31(1):18-24. 1996;21(23):2763-9.
8 Richardson C, Jull G. Muscle control, pain control: 17 Rantanen J, Hurme M, Falck B, Alaranta F, Nykvist
What exercises would you prescribe? Man Ther. F. The lumbar multifidus muscle five years after
1995;1:2-10. surgery for a lumbar intervertebral disc herniation.
Spine. 1993;18:568-74.
9 O'Sullivan PB, Twomey LT, Allison GT. Evaluation of
specific stabilizing exercise in the treatment of 18 Hides JA, Stokes MJ, Saide M, Jull GA, Cooper DH.
chronic low-back pain with radiologic diagnosis of Evidence of lumbar multifidus muscle wasting
spondylolysis or spondylolisthesis. Spine. ipsilateral to symptoms in patients with acute/
1997;22:2959-67. subacute low back pain. Spine. 1994;19:165-72.
19 Stokes M, Young A. Investigations of quadriceps 33 Mueller G, Morlock MM, Vollmer M, Honl M, Hille
inhibition: implications for clinical practice. E, Schneider E. Intramuscular pressure in the erector
Physiotherapy. 1984;70:425-8. spinae and intra-abdominal pressure related to
posture and load. Spine. 1998;23(23):2580-90.
20 Hides JA, Jull GA, Richardson CA. Long-term effects
of specific stabilizing exercises for first-episode low 34 Solomonow M, Zhou BH, Baratta RV, Lu Y, Harris M.
back pain. Spine. 2001;26(11):243-8. Biomechanics of increased exposure to lumbar injury
caused by cyclic loading, Part 1: loss of reflexive
21 Cresswell A, Thorstenssom A. Changes in intra-
muscular stabilization. Spine. 1999;24:2426-34.
abdominal pressure, trunk muscle activation and
force during isokinetic lifting and lowering. Eur J 35 Panjabi MM. A hypothesis of chronic back pain:
Appl Physiol. 1994;68:315-21. ligament subfailure injuries lead to muscle control
dysfunction. Eur Spine J. 2006;15:668-76.
22 Williams PL, Warwick R, Dyson M, Bannister LH,
editors. Grays’ Anatomy. 37th ed. London: Churchill 36 McGill SM. Low back exercises: evidence for improving
Livingstone; 1989. exercise regimens. Phys Ther. 1998;78:754-65.
23 Gracovetsky S, Farfan H, Helleur C. The abdominal 37 Biering-Sorensen F. Physical measurements as risk
mechanism. Spine. 1985;10:317-24. indicators for low-back trouble over a one year
24 Tesh KM, ShawDunn J, Evans JH. The abdominal period. Spine. 1984;9:106-19.
muscles and vertebral stability. Spine. 1987;12:501-8. 38 Richardson C, Jull G, Hodges PW, Hides JA.
25 McGill SM, Norman RW. Low back biomechanics in Therapeutic exercise for spinal segmental
industry: the prevention of injury through safer lifting. In: stabilization in low-back pain. London: Churchill
Grabiner MD, editor. Current issues in biomechanics. Livingstone; 1999.
Champaign, IL: Human Kinetics Publs; 1993. p.69-120. 39 Hess SA. Functional stability of the glenohumeral
26 Aspden RM. The spine as an arch: a new joint. Man Ther. 2000;5(2):63-71.
mathematical model. Spine. 1989;14:266-74. 40 Jull GA. Deep cervical flexor muscle dysfunction in
27 Hodges PW, Richardson CA, Jull GA. Evaluation of whiplash. J Musculoskel Pain. 2000;8(1/2):143-54.
the relationship between laboratory and clinical tests 41 Comerford MJ, Mottram SL Movement and stability
of transversus abdominis function. Physiother Res Int. dysfunction: contemporary developments. Man Ther.
1996;1:30-40. 2001;6(1):15-26.
28 Lindgren K, Sihvonen T, Leino E, Pitkanen M. Exercise 42 Lavender SA, Tsuang YH, Anderson GB, Hafezi A,
therapy effects on functional radiographic findings and Shin CC. Trunk muscle cocontraction: the effects of
segmental electromyographic activity in lumbar spine moment direction and moment magnitude. J Orthop
instability. Arch Phys Med Reabil. 1993;74:933-9. Res. 1992;10:691-700.
29 Hodges PW, Richardson CA. Inefficient muscular 43 Nielsen J, Kagamihara Y. The regulation of presynaptic
stabilization of the lumbar spine associated with low inhibition during co-contraction of antagonistic muscle
back pain: a motor control evaluation of transversus in man. J Physiol. 1993;464:575-93.
abdominis. Spine. 1996;21(22):2640-50.
44 Oddsson L, Persson T, Cresswell A, Thorstensson A.
30 Hides J, Wilson S, Stanton W, McMahon S, Keto H, Interaction between voluntary and postural commands
McMahon K, et al. An MRI investigation into the during perturbed lifting. Spine. 1999;24:545-52.
function of the transversus abdominis muscle during
“drawing-in” of the abdominal wall. Spine. 45 MacDonald DA, Moseley GL, Hodges PW. The
2006;31(6):175-8. lumbar multifidus: does the evidence support clinical
beliefs? Man Ther. 2006;11(4):254-63.
31 Richardson CA, Snijders CJ, Hides JA, Damen L, Pas
MS, Storm J. The relation between the transversus 46 Comerford MJ, Mottram SL. Functional stability re-
abdominis muscle, sacroiliac joint mechanics, and training: principles and strategies for managing
low back pain. Spine. 2002;27(4):399-405. mechanical dysfunction. Man Ther. 2001;6(1):3-14.
32 Hodges PW. Abdominal mechanism and support of 47 Richardson C, Hodges P, Hides J. Therapeutic
the lumbar spine and pelvis. In: Richardson CA, exercise for lumbopelvic stabilization: a motor
editor. Therapeutic exercise for lumbopelvic control approach for the treatment and prevention of
stabilization. 2nd ed. Edinburg: Churchill low back pain. 2nd ed. London: Churchill
Livingstone; 2004. p.31-58. Livingstone; 2004.