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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

FLAVIO PINHEIRO DOS SANTOS


HUDSON RODRIGO ARAÚJO DA SILVA
JOSEPH MENDES GARRÉ
MARCILIO CESAR SILVA DE ALMEIDA
VAGNER SOARES DOS SANTOS

CATOLICISMO DA AMÉRICA LATINA: Do início da conquista à Cristera


Mexicana

ANANINDEUA – PA
2022
FLAVIO PINHEIRO DOS SANTOS
HUDSON RODRIGO ARAÚJO DA SILVA
JOSEPH MENDES GARRÉ
MARCILIO CESAR SILVA DE ALMEIDA
VAGNER SOARES DOS SANTOS

CATOLICISMO DA AMÉRICA LATINA: Do início da conquista à Cristera


Mexicana

Trabalho apresentado à Faculdade Católica de


Belém, como requisito de avaliação na
disciplina História da Igreja no Brasil e
América Latina do Curso de Teologia,
orientado pelo Prof. Dr. João Antônio Lima.

ANANINDEUA – PA
2022
BIOGRAFIA

José Alves de Freitas Neto Professor Livre Docente do Departamento de História da


Unicamp, com graduação em Filosofia (USF), mestrado em Filosofia (PUC-SP), Doutorado
em História (USP) e visiting scholar no Institute of Latin American Studies da Columbia
University (New York). Autor de livros como “Bartolomé de las Casas: a narrativa trágica, o
amor cristão e a memória americana”, “História Geral e do Brasil” (Harbra, 2004, 206, 2010).
Tem diversas publicações nas áreas de cultura, política, história e ensino. Suas áreas de
pesquisa concentram-se na História da América contemporânea, história intelectual, cultura,
política e ensino. Orienta pesquisas de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado e
supervisiona pós-doutorados. Foi coordenador de graduação (2007-2011), de pós-graduação
(2016-2017), chefe de Departamento de História (2014-2015), coordenador do Espaço de
Apoio ao Ensino e Aprendizagem (ea2), vinculado à Pró-Reitoria de Graduação (2010-2013),
e atualmente é Diretor da Comissão de Vestibulares da Unicamp (COMVEST). Foi consultor
da área de Humanas para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e coordenou diversos
cursos de formação de professores.

1. INTRODUÇÃO

Segundo Freitas Neto, acerca do catolicismo na América latina podemos constatar a


influência cultural que direcionou e direciona os costumes e práticas que se sucederam da
aplicação colonizadora ao longo do tempo, mascas estas deixadas pelos espanhóis com o
intuito de cristianizar esta parte do continente americano. Como parte desta influência
podemos destacar o esforço da coroa espanhola em deixar marcas com templos monumentais
a fim de suprimir a práticas indígenas, as quais que mesmo diante da nova aplicação cultural
preserva influências de suas raízes autóctones. Dessa forma, pode-se pensar a pluralidade dos
mecanismos que poder ser estudados da influência desta colonização dos povos da América
Latina. O autor aponta que pesquisas históricas alegam aspectos políticos e culturais da Igreja,
bem como sua ação na independência e consolidação dos estados nacionais.

2. CRISTIANIZAÇÃO E COLONIZAÇÃO
Sendo a portadora da maior quantidade de católicos no mundo, a América Latina é
cenário da religião que desembarcou com os primeiros colonizadores que a conquistaram
militarmente, físico e espiritualmente que se comunicam com as práticas e tradições atuais.
De acordo com Freitas Neto, havia muitos projetos para a colonização do Novo
Mundo. Sistematizado por Giménez Fernández, podemos destacar algum destes interesses,
sendo eles quatro tendencias. A primeira delas é a economicista que tem por ideia de que os
índios são animais sem dignidade, idolatras corrompidos, sujeitos à escravidão. Já na segunda,
tendencia imperialista, que viam os índios como uma raça inferior aos cristãos. Já a terceira,
paternalista, via nos indígenas essa possibilidade de se aperfeiçoarem por intermédio dos
colonizadores. Por fim, tinha-se a tendencia radical humanista, que defendia a igualdade entre
os homens independente da raça ou cultura, pois todos eram criaturas divinas.

3. PRINCIPIOS DA TRADIÇÃO CATÓLICA

Tradição – Sendo detentora de poder a Igreja católica é hierárquica, e preservadora


de suas informações, conhecimento e cultura que modelaram o mundo ocidental.
Magistério – Por ele a Igreja interpreta e ensina tendo por base determinados cânones
que articulam a tradição e o ensinamento.
Sistematização – Por meio de órgãos e jurisdições a Igreja tem um alto nível
sistematização e controle sobre os ensinamentos que emanam da logica hierárquica.
Unidade – Seus ensinamentos expressam um ponto de vista geral e conceitual que
formam a doutrina católica a ser preservada, porém neste ponto o autor enfatiza que não há
garantias sobre a mesma ação, dado que vozes dissonantes no interior da hierarquia
expressam pluralidades enquanto a unidade. Bem como grupos progressistas e conservadores,
ao qual no século XX, na América Latina, apresentavam ensinamentos desentoados do
Concilio Vaticano II.

3.1 A CONCEPÇÃO DO DEUS CRIADOR E SUAS REPRESENTAÇÕES NA


AMÉRICA

Segundo a tradição católica a existência de um Deus criador e criatura implicam em


um superior e o outro inferior, diferentemente das religiões greco-romanas ao qual os deuses
eram ordenadores, não o princípio e o fim de tudo. Sendo este ser supremo o Deus da tradição
Judaico-Cristã é abstrato e que para ser difundido precisa ser materializado nas outras
culturas. Dentro dessa manifestação, somente a Igreja Católica é detentora da interpretação
pelo Magistério da Igreja que aponta um caminho ortodoxo.
Revelado na História, o Deus Cristão é o ponto de partida e a chegada, paraíso e
promessa. Outra característica dessa divindade cristã é ser amoroso, não intrínseco, mas uma
perspectiva redentora de perdão periódico, apontado pelo autor como um aspecto na américa
latina de não confiar muito nas leis, mas nos vínculos sociais. Outro ponto do catolicismo na
América é o missionário, ao qual é necessário converter o outro, partindo de princípios
evangélicos, assumindo assim essa dimensão missionariam, dimensão esta ao qual os
espanhóis acreditavam ter assumido na ação de conquista e colonização do Novo Mundo.

4. A APARIÇÃO MARIANA E A EVANGELIZAÇÃO NO MEXICO

No ano de 1542 a Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora de Guadalupe apareceu
ao índio Juan Diego, essa aparição também marca notadamente o catolicismo na américa
Latina, pois com a aparição da Virgem sobrepõe-se o culto cristão ao culto asteca, tendo
características mestiças, com a sua cor morena Nossa Senhora é acolhida pelos indígenas e
com isso eles se sentiram pertencentes ao mundo cristão. Vale ressaltar, que as autoridades
religiosas logo de início rejeitaram o episódio da aparição, porém, logo depois reconheceram
e difundiram a devoção entre os indígenas.
Segundo o historiador, os espanhóis também acreditaram na história da aparição,
como se sabe na Europa já havia cultos consolidados e com o evento de Guadalupe se viu um
sinal de que a cristianização daquele povo estava acontecendo e chegaram à compreensão de
que eles eram todos abençoados, dessa forma, elegeram a Virgem como sua padroeira, assim
como também os indígenas viram em Maria uma mãe que apareceu a eles. É notório como em
todo o continente Latino-Americano há fortemente o culto mariano, uma das características
do catolicismo mais forte na América.
Como a evangelização era comandada pela coroa, os reis estabeleceram regras para a
catequização, então, a cada encomienda, exigia-se do colonizador que investisse na
evangelização dos índios daquela área. Com a chegada dos religiosos, em especial, frei
Bartolomé de Las Casas e Frei Toribio Bonavente, o Motolinía, ficaram bastante conhecidos
por suas ações religiosas, políticas e por terem escrito crônicas sobre histórias vividas na
época e sobre o povo, essas crônicas serviram como fontes de informações sobre a época,
principalmente sobre os costumes indígenas, é importante ressaltar, que toda informação
perpassava sobre a ótica religiosa dos padres.
Nesse período colonial o que ficou marcado também foi a dissenção teológica entre
Bartolomé e de Las Casas e os religiosos franciscanos, de Las Casas defendia que o
cumprimento da missão estava ligado a uma conversão de fato, e para tal feito era preciso a
evangelização dos indígenas e ensiná-los as crenças cristãs, já pelos franciscanos que eram
influenciados pelo milenarismo e acreditavam na iminência do fim do mundo, queriam que se
administrasse o sacramento do batismo ao maior número de pessoas, onde ocorreu uma
disputa teológica para saber se um batismo foi válido sem a cerimônia e sem os rituais
prescritos pela Igreja.
Bartolomé nasceu em Sevilha entre 1484 e 1485, ficou bastante conhecido por suas
obras e pela sua luta em favor dos indígenas, era chamado de “o grande apóstolo das
Américas”, por Simón Bolívar. Ao chegar na América em 1502, de Las Casas era
encomendero, possuía índios que trabalhavam em suas terras, mas depois de ouvir o discurso
do frei Antonio de Montesinos em defesa dos índios, ele passou a defender o povo indígena
ferrenhamente, renunciou sua encomienda em 1514. Vale ressaltar, que a luta do religioso por
meio de denúncias gerou várias contendas, havia ganhado uma área para praticar uma
conversão pacífica, mas o processo foi fracassado, pois os espanhóis sabotaram esse projeto
por medo de perderem suas encomiendas.
Bartolomé depois dos seus fracassos ingressou na ordem dos dominicanos, com o
apoio da instituição conseguiu ganhar uma causa pelos indígenas no ano de 1540 quando
retornou para Espanha, criou algumas leis, em 1542 aplicou-se a lei que proibia as
encomiendas na América, mas não foram obedecidas adequadamente, então ele reivindicou
novamente para que a lei fosse cumprida, com isso, foi nomeado bispo de chiaps, mas seu
bispado durou por pouco tempo devido algumas orientações que ele fez não foram acolhidas
pelo povo local, renunciou o bispado em 1547, retornou para a Espanha e em 1550 e 1551
participou de um debate teológico sobre a justiça ou não da guerra contra os indígenas na
América, em Valladolid.
O frei Toríbio de Benavente, o Montolinía, era da ordem dos franciscanso, escreveu
muitas cartas, a mais famosa é a carta al emperador, endereçada a Carlos V, ele manifestou na
carta suas divergências com de Las Casas, pois ele não concordava com as denúncias de Las
Casas, a preocupação de Motolinía era com a idolatria dos indígenas, então, sua intenção era
extirpar os costumes indígenas para que o catolicismo prosperasse na América. Segundo o
autor seria anacrônico cobrar do frei Toríbio que naquela época tivesse o princípio de
tolerância e liberdade religiosas que se defende atualmente.
Percebe-se que não há como dissociar a colonização da América Latina da religião
católica, sabe-se que além de uma conquista militar e material, houve uma conquista
espiritual, onde houveram várias formas de conversão ao cristianismo, pois foram vários os
sujeitos e diferentes ordens que atuaram nesse processo, cada um ao seu modo, no entanto,
não se pode falar em conversão absoluta, porque quando os europeus chegaram nas américas
o povo já tinha seus costumes e crenças, se percebe que do ponto de vista histórico houve sim
uma troca e assimilação de cultura tanto dos clérigos, quanto dos fiéis.

5. O CATOLICISMO NOS SECULOS XIX E XX: Análises da Argentina e do


Mexico

Os agentes religiosos dos séculos XIX, tiveram papel importante no contexto de


independência das colônias hispânicas. O padre Miguel Hidalgo (1753-1811) e José Morelos
(1765-1815) são exemplos em meio a independência do México. Padre Hidalgo liderou um
movimento de mais de 60 mil indígenas em Guanajuato, durante o Grito dos Dolores. O
marco inicial da independência mexicana aos 16 de setembro de 1810, como lema “Viva
Nossa Senhora de Guadalupe e morte aos guachupines!”. O Grito dos Dolores dá ênfase na
divisão “religião e pátria”, que indica procedimentos de clérigos católicos na vida cotidiana,
não somente restrita aos espaços religiosos. A participação de clérigos nos processos de
educação e figuras carismáticas, não eram passados despercebidos, mas estes tiverem
importantes contribuições nos processos de independência e consolidação dos estados
independentes na América.
Mas, apesar disso, havia unidade no discurso católico, o próprio padre Hidalgo foi
chamado e “precursor do anticristo” pelo arcebispo do México, Francisco Javier de Lizana,
por supostamente estabelecer sedição na Nova Espanha, também suspeitar e comprometer a
legitimidade e responsabilidade religiosa aos reis. Já o padre Merelos, foi acusado pela
Inquisição mexicana (1815) de ser um herege, “inimigo do cristianismo”, apóstata da sagrada
religião e traidor do Rei e da Pátria.
Ao final do período colonial (segunda metade do séc. XVIII) a Coroa espanhola
bourbônica implementou medidas “ilustradas” e “modernizadoras”, que desagradaram boa
parte do clero, tais como a inserção de ensino de novas filosofias e ciências nas universidades,
ou seja, novas formas de pensamento para aquele contexto. Buenos Aires recebeu essas ideais
laicas de forma muito mais veloz, graças a letrados e advogados, mas no vice-reino do Prata,
as mudanças ocorrem devido a atuação de religiosos.
Poderíamos destacar dentro do clero duas correntes, uma que reconhecia as
reivindicações de 1810, dos exemplos é o padre Manuel Alberti (1763-1811), que integrou as
primeiras juntas instituídas do processo revolucionário. Em 1830, há um predomínio de outra
corrente, a do pensamento conservador entre o clero, o receio aí era que o estado diminuiria o
poder e a influência da Igreja em nome do princípio da laicidade.
A Argentina do século XIX foi marcada por enfretamentos e divisões internas, a
consolidação territorial ocorreu apenas pouco mais de cinco décadas da Revolução de Maio.
Entre questões historiográficas, os aspectos religiosos não tiveram tantos destaques, mas sabe-
se que os temas como liberdade de culto e padroado eram tópicos que mobilizavam a Igreja
Católica argentina e seus fiéis. As tensões em torno do padroado, que tinha o poder de nomear
bispos, e sustentar as igrejas, era explosiva, pois a permanência do padroado era, de algum,
modo a subsistência do modelo colonial. Embates de Gregório Funes, deão da Catedral de
Córdoba e o jurista Juan Luis Aguirre, questionava se o padroado era algo ligado à soberania
do Estado ou à obediência aos antigos monarcas espanhóis. A esse respeito, a Constituição de
1826 definiu que o Poder Executivo agora teria o poder de nomear bispos, para a manutenção
do padroado. Como resposta platina, se resistiu a Igreja de Roma, pois desde de 1813, as
Províncias Unidas proclamaram-se independentes de toda autoridade eclesiástica fora de seu
território.
Nos anos 1900 Igreja na Argentina foi articuladora de diversos grupos sociais,
aproximando-se das forças armadas, preservou sua influência como formadora de opinião
atuando na educação de multidões em escolas (reflexo que se percebe em atuais 92% da
população que se declara católica). Em 1640, a Igreja ampliou sua atuação na vida pública
argentina, pois a urbanização veloz, a expansão de empregos industriais e movimentos
sindicais, ela se fez mais presente, preocupada com a ameaça comunista e com a expansão de
ideias socialistas que poderiam trazer à tona pensamentos ateístas e críticas à Instituição.
A era Perón (1946-1955) evidenciou desafio, nota-se ambiguidades no discurso
religioso, ao mesmo tempo que se estabeleciam medidas contra a doutrina moral católica
(aprovação do divórcio em 1954, por exemplo), mas com a queda de Peron, em 1955, essa lei
foi revogada (restabelecida apenas em 1987). Um ponto de divergência de Eva Perón (esposa
de Perón) era suas políticas assistencialistas, isto é, a caridade agora era bandeira do governo,
esvaziando assim a importância da Igreja naqueles trabalhos assistenciais.
Durante os anos 1970, vésperas do fracasso do governo de Isabelita Perón e da
ditadura militar, a ação dos católicos era divergente, porque de um lado, os grupos sob
influência da esquerda católica, adotavam as ideias da Teologia da Libertação, militando em
movimentos sociais, como os montoneros (grupo guerrilheiro), de outro lado, grupos
conservadores que foram complacentes com os abusos políticos e violação de direitos
humanos da Argentina daquela época. Isso demonstra a situação ambígua que faz parte da
dinâmica relacional da Igreja como o mundo.
No México do século XX, adotou-se medidas mais radicais ainda do que na Argentina.
Depois da Revolução Mexicana (1910), houve um rebelde movimento católico conhecido
como Crismera ou Cristiada (1926-1929). Organizações católicas e camponeses lutaram
contra as posições anticlericais do Estado mexicano. A Revolução entendeu a Igreja associada
ao regime de Porfírio Díaz, por isso, padres estrangeiros foram expulsos do México e durante
o governo de Venustiano Carranza, igrejas viraram quarteis.
O intuito era, em prol de uma face “moderna” do México, abolir antigas instituições.
Em meio a isso a encíclica Rerum Novarum (1891) estimulou a Igreja a participar dos debates
políticos sociais, o que possibilitou ao desenvolvimento de sindicatos católicos. O
anticlericalismo no México era uma minoria que exercia o poder político e isto fez resultar na
Constituição de 1917. Além da separação de Igreja e Estado (já existente desde 1857), havia
mecanismo de restrições religiosa, como objetivo de supostamente liberta os cidadãos do
obscurantismo, e fazer surgir a nova ordem social e cultural. A liberdade de culta estava
assegurada, mas restritas aos templos. O anticlericalismo revolucionário não era voltado a
negação do cristianismo propriamente, mas à hierarquia eclesial, à primazia do clero católico
na vida nacional.
Com a figura de Plutarco Elias Calles (1924-1928) as tensões entre Estado do México
e Igreja Católica se intensificaram, Calles apoiou uma espécie de cisma que resultou na
fundação, por um ex-padre espanhol, Manuel L. Monge, a Igreja Católica Apostólica
Mexicana, que entre outras coisas divergia de Roma na questão do celibato, contudo a questão
política de ênfase era o nacionalismo (acabou não obtendo resultado esperado, como se
afirmou de um político da época: “uma Igreja não se funda como um sindicato”. Mora y Del
Rio, arcebispo do México, em 1926 afirmou que a Igreja resistiria à aplicação dos artigos
anticlericais da Constituição. O presidente Calles, querendo mostrar repressão, fechou igrejas,
conventos e expulsou religiosos do país. A LNDLR (Liga Nacional para la Defensa de la
Libertad Religiosa), fundada por leigos, foi importante na contestação dos atos do governante
mexicano.
Posteriormente, a LNDLR na tentativa de boicotes de serviços público do governo,
serviram para endurecer o anticlericalismo de Calles que em 2 de julho de 1926, alterando o
Código Penal, restringe ainda mais as ações públicas dos clérigos ao criminalizá-las. Mas, no
dia 14, os bispos aprovaram o programa de boicote econômico ao governo proposto pela Liga
e a viabilidade da suspensão do culto, pois para eles a prática do catolicismo tornara-se
inviável no México. Roma, em 24 de julho, aprova suspender as cerimônias nas Igrejas
mexicanas.
Essa ação da hierarquia católica balançou os ânimos dos fiéis mexicanos, quebrando o
costume de ir à missa, por exemplo. A população revoltou-se contra o governo, que relutou
negociar e desafiou os bispos a proporem uma mudança na legislação ou recorressem às
armas. Os bispos apresentaram ao Legislativo mexicano uma petição com mais de 2 milhões
de assinaturas, para retirada dos artigos anticlericais da Constituição e revogação da polêmica
do Código Penal, ela foi rejeitada praticamente por unanimidade, diante disso, os fiéis
partiram para as armas, como sugeriu Calles. Era o início da Cristera.
A não foi, de maneira formal, nem condenada nem apoiada pela cúpula da Igreja. Os
políticos a viam como fanatismo religioso. O movimento não foi uniforme em todo o México,
mas a proeminência dos camponeses garantia a vitória dos “Soldados de Cristo Rei”, com se
designavam os lutadores; as principais disputas ocorreram nas regiões central e noroeste
mexicano. Ao lado dessa defesa da liberdade religiosa vieram questões que a Revolução de
1910 não deu atenção, tais como a agrária.

CONCLUSÃO

Fica-nos evidente como a presença católica na cultura mexicana foi capaz de


evidenciar questões latentes da história daquele país. A violência causou, dos dois lados
somados, por volta de 90 mil mortos, o que fica marcado no histórico católico na América
Latina. Igreja e Estado chegaram a um acordo em 1929. O governo abrandou o discurso
anticlerical e as legislações punitivas. A educação religiosa primária foi permitida nas igrejas
e todos os cidadãos, incluindo clérigos, podiam efetuar petições para reformar as leis.
Diante de tudo, ao se falar na tradição da Igreja Católica na América Latina, estamos
falando mais do que um fenômeno religioso, mas, também, de aspectos culturais e políticos.
Esta presença, evidentemente, só foi possível graças à atuação constante e sistemática de uma
religião que chegou à América com os espanhóis e que soube usar de mecanismos de
preservação social e política dos povos latinos-americanos; mesmo as tensões vividas pela
Igreja, incluindo guerra e laicização demonstram os rastros da historicidade da Igreja
Católica.
REFERENCIAS

FREITAS NETO in SILVA; BELLOTTI & CAMPOS. Matrizes da tradição católica na


América Hispânica: apontamentos históricos: in RELIGIÃO E SOCIEDADE NA
AMÉRICA LATINA. UMESP: São Paulo. 2010. p. 33 – 54. Disponível em:
http://editora.metodista.br/livros-gratis/religiao-e-sociedade-na-america-latina#:~:text=Depois
%20de%20quase%20400%20anos,o%20campo%20religioso%20latino%2Damericano.
Acesso em: 19 set. 2022.

UNICAMP. BIOGRAFIA. Disponível em:


https://www.ifch.unicamp.br/ifch/colaboradores/historia/14846/Jos%C3%A9-Alves-de-
Freitas-Neto#:~:text=Professor%20Livre%20Docente%20do%20Departamento,Columbia
%20University%20(New%20York). Acesso em: 19 set. 2022.

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