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A interpretação histórica do Brasil, refle.

tindo as marcas do processo de da


nossa sociedade — cujo maior tem sido a da massa do da cena sócio-
política caracterizou-se por ser uma interpreação A dominação de classe
entrecruzou* com dados étnicos.raciais e o reqlltado é conhecido: o nego só saiu do
porão da história quando se "branqueou" ou Eja, quando perdeu a sua identidade.
Recentemente, alguns reagindo naturalmente à historiogafia oficial branca,
começaram a propor uma históru negra. Como se a pura negação equivalesse a uma
supe. ração. . .
Para os que recuem a mistificação oficial e se negam ao simplismo de crer que a
verdade está no avesso, Rebeliões da é obra de conqflta obrigatória. Clóvis Moura
proa.l. rou e em larga medida com um »cesso pioneiro. pois a edição
livro é de 1959 — o pmblen-¼ na formação brasileira a partir da
concreta intervenção prático-social do ao longo da colônía
e do império. até o compromisso abolicionista.
Armado de um conhecimento gráfico
(obtido através de. investigaçöes originais) e enquadrando os eventos pertinentes
ao escraw na moldura macros. do sistema social emergente no Brasil, Clóvis
Moura oferece ao tanto uma brilhante descriçñ das condições das lutas negms no
interior da nossa sociedadè esczavocrata quanto uma convincente explicação do
seu papel nas lutas brasileiras até finais do século XIX.
Na escala em que foi capaz de aportar elementos para esclarecer "a participação do escravo como força dinâmica, como contribuinte ativo no processo
histórico" da formaçäo da sociedade brasileira, Clóvis Moura elaborou uma obra de leitura compulsórü para todos aqueles que, com Mário de Andrade, acreditam que a
história não é exemplo Rebeliões da Senzala é lição.
S
u
m
á
de: Características gerais . . 21
Yvonne Saruê
Os escravos nos movimentos políticos . 53

Quilombos e guerrilhas . 85

r
i
o
Insurreições baianas129

Durante o domínio holandês .


163

O Quilombo dos Palmares . 183


Revoltas em São Paulo197

O Quilombo do Jabaquara .

O escravo negro e o sertão .


225
O LECH LIVRARIA EDITORA CIÊNCIAS HUMANAS LTDA.Tática de luta dos escravos239 Rua 7 de Abril, 264 - Subsolo B - sala 5 - CEP 01044 -
São Paulo - SP.
Impresso no Brasil Ented InConclusões247

Bibliografia 255
Às minhas origens, Francisco de Assis Mouta
e Elvira Moura, lembrança de filho.

À minha continuidade, Sraya, lembrança de pai.


"Um negro é um negro. Apenas dentro de
determinadas condições ele se torna um escravo".
K. Marx

"Os escravos, em geral, não sabem ler; não


precisam, porém, soletrar a palavra liberdade para
sentir a dureza da sua condição".
Joaquim Nabuco

Duas Palavras Necessárias

Esta terœira edição de "Rebeliões da Senzala" sai com o texto da segunda.


Depois de reflexão sobre a ou não de ampliá-lo acordo com novas
fontes que possuímos, resolvemos que o trabalho, como foi feito. não deve ser
mais alterado. Isto não quer dizer que o consideremcx perfeito, mas da nossa
parte não desejamos mais modificá•lo.
O livro surgu levantando a temática e a problemática dos cmflitos entre
senhores e escravos num rrwmento em que os setores mais categorizados da
nosa historiografia afirmavam o contrário. Surgu solitário e pioneiro numa época
em que, por exemplo o próprio Fernando Henrique Cardoso, apesar da sua
contribuiçäo à análise do sistema escravista no Brasil, afirmava que os escravos
foram ''testemunhos mudos de uma história para a qual não existem senão
cómo uma espécie de instrumento pasivo" Este discurso que leva a se encarar o
escravo como coiø renete-se, por extenuo, em muitos historiadores, sociólogos,
antropólogos e economistas que estudaram 0 nosso escravismo colonial. O
escravo praticamente não existia. Era como fose uma abstraçäo ql.æ funcionava
de acordo com aqueles mecanismos que asseguravam a normalidade da
estrutura.
Em face do da Senzala" o asunto foi
reposicionado e a discussão sobre o tema/problema adquiriu nova dimensão.
Vários trabalhos e surgirarn procurando ver o nego escravo não apenas
como objeto histórico também, como seu agente As discusöes aumentaram
em face de Outro compŒ1ente da realidade: a conscientização progressiva da
comunidade negra, especial• mente nas gandes cidades e que iniciou a
questionar o problema da história oficial do Brasil especialmente no que diz
respeito ao papel do negro escravo näo apenas na construçüo riqueza comum,
mas como contestador da construção desse tipo de riqueza, da qual ele foi
sistemática e totalmente excluído.
O núito do noso trabalho poderá ser centrado apenas neste aspecto:
haver despertado não apenas a Inteligência, mas a comunidade nega para o
debate de um assunto/problema que era considerado tabu pelos historiadores e
sociólogos acadêmicos, especialrnente em conseqüência da herança da obra de
Gilberto Freyre que apontava o Brasil como o paraíso da mcii, fruto e
decorrência da —idade inicial do noso escravismo e, depois, d• inter4tnicas
democráticas sur11
idas apa 0 13 de maia. Esta deformada levava a que chavões,
muitos ddes ainda hoje no senüdo de se escamotear o conteúdo altanwnte violento
das relaçöes entre senhores e escravos.
Na esteira do apareci.nwnto de "Rebeliões da Senzala" outros trabalhos
surgra.m o*tivando dexnitificar o problema. Podemœ atar, neste sentido, os
trabalhos de Décio Freitas, Joé Alípio Ariosvaldo de Figueiredo, Suely Robles
Reis de Queiroz, Marüniano J. da Silva, Luís L»na e alguns outros. Desta forrna, a
reposição do problema contribuiu para um novo no qual a pasividade do escravo
pode ser vista como um mito criado pelas classes dominantes para justificar os
seus critérios de represäo. O problema continua em e esta reedição vem
novamente dialo-Br com os leitores no sentido de tentar restabelecer a verdade dos
fatu.

Introdução
Finalmente, depois de alguns anos, estamos entregando ao público a segunda
edição de "Rebeli&s da Senzala". Aparecido em 1959, so:tEnte agora terminamos a
SJa revisão, que foi substancial, para reapresentá•lo. Nio apenas foi revisto, mas
conside• ravelmente confom•E havíamos prometido.
Livro escrito na juventude, tinha uma série de &ficiências, muitas das quais
nos esforçamos em corriý. O assunto, outro lado, era porque poucos foram os
lútoriadores que procuraram estudá-lo de forma sistemática. Pelo contrário. Quando
iniciamos as nossas pesquisas, em 1948 — o livro saiu bem depois, pois ficou
engavetado vários anos por falta de editor — frente uma de que nos dificultavam
enor11Emente o uabalho. Uma delas, talvez a mais arraigada e difundida entre
empenhados em conhecer a nossa verdade e sociólogos era a de que os escravos
negos, por série de razoes psicológe•, não lutaram contra a escravidão. O processo de
foi prolTWvido, por eses estudiosos, à categoria fator central da dinâmica social no
Brasil. Ao invés os arquivos, muito cômodos, frutos da ilércia e outras vezes produtos
deliberados daqueles deformadores da nosa As fontes históricas, além do mais, não se
apresentam facilmente ao pesquisador de •unto como o q1.E abordamos, fato que
explica muitos equívocos bem intenciŒudos. É preciso que haja um como acostumar-
se à penumbra que existe para ver melhor. Foi que tentamos fazer: estudar as de que
reœstiram contradiçöes entre Enhoœs e escravos. Essas eram as que, na época. mais
influíam na formaçä•o e caracterização da sociedade brasileira. Os universos
comportamento, quer da clase senhoria], quer dos escravos, uma forma de outra, isto
é, positiva ou negativamente, refletiam esta dicotomia.
E mais ainda: as reaq6esJ mecanismos de defesa, tanto de um lado como de
outro, estavam vinculados, através de subordinação e ligaçäo, à existência do trabalho
escravo no Brasil. Contradição que durou até a Abolição,
O proceso social que no abolicionismo não estava cortado
ou extinto, no entanto, com ese acontecimento. Pelo contrário. A própria
Abolição, como foi feita, mais um compromiso qiE uma sduçgo.
problemas não solvidos
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com 0 13 Maio dãxaram aderências e canalizaram forças negativas que até remédio para poder honradamente sustentar Nia família porque um lhe pesca e outro
continua-n influindo na nossa história social. lhe caça, os outros a.lltivam e gangeiam suas roças e desta maneira não fazem os
homens nem desFsa em manömentos com seus escravos, nem com suas pessoas. Pois
Noso trabalho nio tem em mira estudar as lutas dos escravos do ponto de vista
de simpatia Ou piedade para com os oprirnidos, vistos através de uma ótica daqui se pode inferir quanto serão acrescentadas as fazendas daqueles que tiverem
paternalista ou filantrópica. pelo contrário, fazer uma análise mais profunda duzentos, trezentos escravos, como há muitos moradores na terra que não têm menœ
e, na medida do posivel, científica do processo histórico que as gerou. Fugmos, desta quantia, e dai para
portanto, das românticas, procurando restaurar a verdade histórica, desfigurada Mas, as relações escrayist8 também produziam movimentos de reaçäo que se
por inúmeros estudiosos. Algumas vezes deliberadamente desfigurada. vinculavam à dinâmica de uma sociedade de capilaridade sociai quase inexistente,
como costumam ser as sociedades de castas. Os diversos os variados degaus de reação
O escravo, como classe social, constituía um dos pólos da contradiç50 mais
contra o status do escravo defluíam em uma constelaçäo de desajustes na economia
importante do Brasil durante a vigência do regime servil. Toda a nosa estrutura escravista. Do ponto de vista do próprio escravo esas reaçöes iam desde os suicídios,
econômica, todos os elementos condicionantes da nosa formação tinham de inserir nos fugas individuais ou coletivas, até à formação de quilombos, às às insurreiçöes
seus poros, diversos problemas que advinham disto. Senhores e escravos constituíam a atadinas e a sua participação em movimentos organizados por outras classes e camadas
dicotomia básica brasileira, conw já dissemos. Outras que surgiam e que — em sodais. O escravo, desta forma, nas suas bases as relaç&s escravistas, criando uma
determinados apareciam como fundamentais à superfície, eram apenas reflexas galáxia de desajustes desconhecida peicB dirigentes políticos da época. É verdade que o
ou constituíam em supknwntases. O escravo. afirmaram ülúmelos escravo, ao se rebelar contra a ordem que o subjuga, não possui elementos
sociólogos, contamiMva a sociedade da época. Mas, não era isto o que acontecia. O de fazê-lo um horrærn autoconsciente, Sua posição de membro de
escravo era o esqueleto que sustentava os músculos e a carne da escravista, uma ciasse colocada como entrave ao desenvolvi.1T*nto das produ. tivas, de dominar
porque era o produtor da riqueza geral, através do seu trabalho. Gandavo tinha razão técnicas mais avançadas do que as rudimentares do seu labor
quando dizia que os moradores das Capitaniu "a primeira que pretendem adquirir, são
os escravos para nelas fazerem s.nas fazendas e se uma pessoa chega na terra a
alcançar dois pares, ou meia dúzia ddes (ainda que outra não tenha de seu) logo tem
(1) Gandavo, Pedro — "História da provínäa Santa é, livres. Para que assumisse tal significado, seria preciso que o comportamento da
da Terra do S. Paulo, 1964, p. 34-35. coletividade cativa fosse organizado em funçäo de uma elaboração consciente da
condição escrava: seria necesário que se atribuísse à casta dos cativos a possibilidade
de apreender, ainda que fragmentarianknte, a situação alienada em que encontrava.
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rotineiro, jungido a um reøme de trabalho que o insulava do processo dinâmico de E isto na própria negaçäo da natureza da condição escrava, que traz em si,
modificações e técnicos, não podia ter elementos ideológicos porque é de sua essência a impossibilidade de consciencialização da total alienação da
capazes de transformá-lo na classe que, através de Suas lutas, conseguiria o poder do pessoa, do mancipio, do instnzmentum-vocale. O próprio cativo, pois, estava
Estado. A alienação que o envolvia deixava•o corrw o peru no círculo de carvio. Tal impossibilitado de romE*t o circulo fechado em que se encontrava. (. . . ) Por
papel estava destinado a outra classe social. Isto verificou quer na escravidäo no seu conseguinte, ainda que forneœndo ingredientes políticos para•o movimento, apesar
sentido clásico, do mundo antigo, quer na escravidão ressuscitada expansão das naçöes de q1_E todas as formas assumidas pelas tensões sociais, expresas no comportarnento
n-ærcantis, na era moderna. de escravo. propiciaram o substrato social para a açäo dos abolicionistas, é inegável
que a atuaçäo daquele não teve nem pode adquirir imediatamente caráter político.
Com exceçäo da experiência de conteúdo controvertido do Haiti, nenhum movi•
mento de escravos conseguiu estabelecer Estado próprio. O dessas lutas foi sempre Nota-se, contudo, que não teve, mas assumiu política. Por intermédio de
outro: solapar as bases materiais e congqüentemente as relações de trabalho homens livres que organizam ou lideram o abo\icionismo, o comportamento do cativo
existentes entre senhor e escravo. Diz Otávio Ianni: "Apesar de toda sua atividade acaba adquirindo uma significação política notável." (
'divergente', manifesta em revoltas individuais ou grupais, atos 'delinqüentes' etc., não Política não no sentido da conscientização por parte do sujeito do fato histórico,
é possível afirmar* que ele tivesse desenvolvido uma açäo social qual se possa atribuir neste caso o escravo, mas no sentido de ser ele o elerrmto material, a massa humana
tal significação política. A sua atuaçäo não era diretamente abolicionista, nem deve ser capaz de impulsionar, embora sem autoconsciência, o proceso histórico-social no que
encarada interpretativamente como tal, pois os fins que a orientavam não foram diz respeito à sua contradiçäo fundamental, o q1.E foi aproveitado
caracterizados necessidade de destruição do regme. Ela era definida pela necessidade
individual de evadir•se da situaçäo escrava, onde a sobrevivência reduzia•se aos
mínimos físicos e não exigência coletiva de abolir o (. . . ) Exatamente porque não foi
(2) [anni, Otávio: — • 'As MetamŒfoses do São Paulo, 1962, p. 243•45.
nem podia ser formulado nem estruturado como um movimento coletivo, da casta dos
escravos, o comportamento individual "desajustado" do cativo não teve o caráter
revolucionário que necessarian*nte impreglava a açäo dos abolicionistas b[ancos, isto 15
talvez, pelos A documentação fatuai que iremos apresentar em eguida Levamos em consideração, também, para melhor compreensão do assunto, a tem sentido Omo elemento comprobatório de um processus.
Fora disto, perder-noy influência das organizaçöes tribais africanas e o processo de destribalização que ocorreu emos em sem vigo öacrönica, ficaremos emaranhados em detalhes e questiún- no Brasil.

cuias realidade sem de maior um sodedade de O castas fato só é podem que, de ser qualquer compreendidos maneira, se os atentarmos elementos dena Quando os os diverws africanos elementos vinham, de na
sua qualidade organização cativos, e os padiöes conservavam, de valores ainda, corres-a sua

sua dinâmica dintömica, no seu proceso bipolar de transformação. Na formação da hierarquia, pondentes. Tanto que muitos dos que tinham títulos de mando conservavam aqui so&dade brasildra o escravo o
elemento que durante grande tempo conEguiu esses atributos. De um lado, a destribalização violentava o mundo mental do africano, estabilizar nos tópicos uma economia latifundiária e colonial, baseada na
exportação abrindo a perspectiva de analisa a sua situação, não do ponto de vista das estruturas gêneros para o mercado mundial.
tradicionais africanas nas quais ele se inseria, mas inserido já no conjunto de uma Mas,
ao mesmo tempo, foi o quilombola, o nego fugido nas Suas variadas formas sociedade estratificada que o colocava coercitivamente com um status definido e de comportamento, isto é, o escravo que se 'Egava,
que se transformou em uma das inferior.
forças que dinanizaram a pasaFxn de uma forma de trabalho para a outra, ou, em O seu universo psíquico e o seu comportamento social tinham de sofrer, portanto, outras palavras, passagem da escravidão para
o trabalho livre. O escravo visto na com tal fato. Já não eram mais homens que procuravam a sua evoluçØ dentro de perspectiva de um devir.
compartimentos de normas estabelecidas pelas tribos respectivas. O seu
comportamento Carlos M. Roma que estudou os movimentos sociais na América Latina durante tradicional era substituído por outro.
o século XIX, c•cava em primeiro plano no Brasil, "as rebeliöes típicas dos escravos O fato foi visto pelas autoridades ao tempo. O Conde dos Arcos, por exemplo,
ao defender os batuques das negros, pondera que esses batuques serviam para que os Como
podemos ver, o processo contraditório da abolição do trabalho escravo no escravos conservasem as diferenças que os desuniam, pois seria perigoso que eles se Brasil, muitas vezes estudado como sendo fruto
da maglanimidade da Princesa esquecessem delas "ante a desgraça comum" (O O Marquês de Aguiar é da mesma do Parlamento, do ou de racionais no pensamento das elites, opinião do
Conde ( s) Tal fato foi visto igualmente pelos estudiosos modernos que tem raízes muito mais profundas, Cabe ao historiador descobri-las. Analisá-las criterio. abordavam os diversos caminhos da formação
das africanas no seu processo de sanEnte, voltado apenas para a verdade histórica. Fora deste plano cairemos na história independência. Stonequist mostrou como uma das preocupações das autoridades
apologética de ou idéus, maior dimensão para a ciência
Nosso trabalho procura estudar a participação do escravo como força dinâmica, como contribuinte ativo no proceso histórico. A outra parte, do escravo como ele- (4) Compreendendo muito bem o o Conde dos Arcos
escrevia: "batuques olhados ITEnto dócil, masoquista, conservador do regme, termo passivo do processo social já pelo Governo uma e olhados pelos Particulares da Bahia são outra. Estes olham para os foi por demais esmdada. Há ITEsmo
uma verdadeira indúst7¾ em tal *ntido. Por tudo batuques para um Acto offensivo dos Direitos dominicaes huns porque querem empregar seus isto, procuramos ver 0 escravo, no presente livro, como negação de um sistema que, Escravos
em Erviço útil no Domingo também, e outros porque os querem ter naqueles dias ociosos para afirmar-se em sua amplitude, tinha de toda uma mecânica de s*iNo. à sua poita, O Governo, para assim porém fazer olha parada para os de
batuques sua Eiqueza.como para um ato que obriga os Negros, insensível èkste Entido procuramos trazer elementos alguns não muito novos mw despre. e machinalmente de oito em oito dias, a renovar as Ideas de aversão recíproca que lhes
eram naturaes udos, para melhor se compreender a essência do processo que teve inicio com o des& que nasceram, e que todavia se vão apagando pouco a pouco com a desgraça commum; estabelecimento da escravidão e
desaguou na Abolição. i&as que podem considerar-se como o Garante mais poderoso da das Grandes cidades do Brasil, pois se une vez differentes Nações da ÃfEica se esqueœram totalmente da raiva com Esta
segunda edição sai acrescida de inúmeros capítulos no que diz que a natureza as desuniu, e então os de Agomés vierem a ser irmãos com os Nagôs, os Gêges, com respeito às lutas dos escravos
em São Paulo. Destacamos, igualmente, a participação os Aussás, os Tapas os Sentys, e assim os demais; grandíssimo e inevitável perigo desde então dos elementos cativos durante a ocupação holandesa. Entre a primeira edição do nosso
assombrará e desolará o Brasil. E quem haverá que duvide que a desgraça tem o poder de fraternizar trabalho e o aparedmento desta segunda, muitos trabalhos valiosos apareceram e foram os degraçados?'•. (Citado por Nina Rodrigues: "Os
Africanos no Brasil", S. Paulo, 1945, p. 253/4). por nós largamente aproveitados. Todos eles nos ajudaram. O plano da obra, por isto, (5) MS da Biblioteca Nacionaf, — 33,2429. — A mesma proibia política tais verificou-E batuques era em
sempreoutras do Brasil. Quando uma autoridade zelosa foi l*iramente modificado. Inserimos alguns capítulos da primeira edição no segundo chamada à realidade su¥riores como aconteœu com o Governador de Santos que os
proibira, a fim de dar-lhe maior unidade. O método interpretativo, porém, continua o em 1818. O Governador Inlerino da Capitania de São Paulo intei.ava de que "não hé dezacertado como os leitores poderão ver no
decorrer da sua leitura. o permittir-œ aos mizeraveis pretos o seu divertimento nos suburbios dessa Villa, naquel]es dias próprios isso suavizando assim o captiveiro fazendo-os observar pelas rondas necessárias para que não hajão
desordens, e hé isto mesmo o que se pratica nesta Cidade" (Ofício do Governador
(3) Roma, Carlos M. — "Os Movimentos Sociais Amériœ Latina durante o Século XIX" Interino da Capitania de São Paulo D. Mateus de Abreu Pereira ao Governador de Santos", In — In "Revista
Hist&ia", Ano VIII, n? 30, abril de 1948. p. 87 s. Documentos Interessantes para a História dos Costumes de São Paulo, vol. 88, 1963, p. 18).

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coloniais era manter oraniz"es tribais, pois a destribalização corresponde æmpre a autoridades. Procuravam, por isto, como vimos nos exemplos do Conde dos Arcos e do
normas de conduta mão controladas. Marquês de Aguiar, estimular fricçöes intertribais para que n'O criada uma
Diz o conhecido sociólogo: "a destribalização rompe as idéias tradicionais e consciência da nova situação em que estavam erutadøs; pelo contrário: procuravam
introduz ala_lmas do Ocidente; a exploraçäo aguça o desassossego resultante que Se manter as formas tribais de comportamento.
torna descontentamento; a educaçäo missionária provê líderes e inconscientemente As reminiscências dos traços tribais em alguns casos conservavam e serviam para
fornece muito da de expressão porque as revoltas africanas são que os escravos se organizassem visando a minorar sua situaçäo. Podemos citar, no
muitas vezes um misto de fanatismo reliõoso e sentimento antieuropeu (. . .) Surgem particular, a hierarquia conservada nos "cantos", nos batuques, nas festas religosas, nas
profetas e operadores de milagres que atiram os nativos em novos movinwntos e organi irmandades e confrarias. nos próprios quilornb0$.
hostis à hegemonia Em conseqüência, os governos Eram filamentos que se interpunham entre a organização tribal e a situação de
têm procurado e mais evitar a tribal e controlar os esforços ) escravos na sociedade brasileira. Houve inclusive uma organização como o Ogboni que
No Brasil embora o fenômeno se tenha verificado, confornw já acentuamos, e sobreviveu no Brasil e influiu em lutas que os escravos travaram contra o instituto que
ser levado em a»nsideração na análise que empreendemos, devemos, contudo, os oprimia.
acentuar certas pnderçöes supåernentares a fim de destacarmos alguns dados Até hoje podemos verificar, em algumas recreativas, elementos
especfficos. O de destribalização ao sofrer o impacto do sistema escravocrata não foi
sobreviventes da organização tribal africana. A própria organizaçäo política da República
uniforme. Podemos dizer que para os componentes de certas üibos a destribalização
dos Palmares foi um reflexo das muitas existentes no continente nego.
serviu para "ante a desgraça comum". Elementos de outras tribos porém, os seus
traços tribais deixando-se destribalizar em bem menor escala e, ao mesmo tempo,
usaram ases vínculos tribais como ideologa organizadora de levantes, como é o caso (6) Stonequist, ERrett V. "O Homem Maœi_naP, S. Paulo, 1948, p. 8'.
dos ausás cujas revoltas, por isto meno, sio estudadas, enganosamente, alguns (7) O fenômeno a que estamos aludindo foi estudado em relação aos
historiadores, como reJ01ns religøsas. O proceso de não foi uniforme e po« Florestan Fernandes: Tupi e a bibal à Conquista". in • 'Mudanps Sociais no
os seus efeitos variaram muito.(') A hierarquia tribal funcionou em certas revoltas de no Brasil", S. Paulo, 1960, pp. 287•97 e Social dos Tupinambás", S. Paub (N ed.). 1963,
Bra§l numa constelação nova. Mas o caso que estamos citando — o dos aussás — não
invalida o fato de que, no fundurEntal, a destribalização era peri. gosa para as
18 na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; ao Luiz Henrique pelas indicaçöes
Msso trabalho padece de todos os defeitos um trabalho artesão. Isto é expki• suplementares de fontes e fornecimento publicaçöes do Arquivo Público da Bahia, do
cável em país como o nosso em que a historiografia científica inicia os seus primeiros qual é Diretor; ao professor Vivaldo Costa Lima por várias ponderaçöes válidas e aceitas
passos. As próprias sob as quais trabalham nossos historiadores propiciam como, por exemplo, a influência das tribais nos movimentos de revoltados
este clima aleatório que caracteriza a maioria dos estudos e da atividade dos escravos brasileiros; ao escritor L Borges pelas informaç5es de fontes sobre a
historiadores brasileiros debruçados sobre assuntos *cundários mas aos quais estão dos homens de cor na revolta de 1817; ao escritor Nélson Werneck Sodré,
ligados por diversas formas de até por interesses genealógcos . . . Das centenas de pelo empenho de ver terminada esta segunda ediç50; socióloga Sílvia Maria Schor pelas
cartas que escrevemos a historiadores ou pesoas ligadas aos problemas estudados opiniöes e sugestöes, e, finalmente, ao C]óvis Meira pela revisão das oriönais e das
neste livro, solicitando dados, informaçöes ou fontes, recebemŒ resposta de menos de provas.
dez. Isto é uma pena, porque História é ciência de equipe, de colaboração, de
intercâmbio de opiniOes. Mas a culpa não é dos homens que estudam História: é da
situaçäo global em que nos encontramos, todos nós inseridos no mesmo processo.
co•partícipes de um universo de comportamento que não nos foi dado escolher, mas
foi imposto por causas diversas. Isto não quer dizer que nos eximimos dos erros ou
insufi'*ncias cometidos por nós. Mo. Se não fomos suficientemente providos dos dados
que solicitamos nio nos cabe criticar a quem, como nós, deve trabalhar enfrentando as
dificuldades. Dificuldades que aumentam ao invés de diminuirem para todos
quantos desejam fazer História verdadeira e não amontoado apologético de datas e
atos. Toda ciência tem dificuldades. as Ciências Sociais. Daí o nosso empenho em
trabalhar tentando fazÆr 0 melhor e, ao mesmo tempo, agadeçendo àqueles que nos
ajudaram com o seu estímulo ou a sua cooperação. Agradecemos especialmente ao
professor José Honório Rodrigues pela indicação de fontes indispensáveis à ampliação
do presente trabalho; ao senhor Waldir da Cunha por haver copiado com eficiência e
probidade, documentos. manuscritos e trechœ de obras de difícil para nós, existentes
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Características Gerais
A escravidão no Brasil surgiu de dois fenômenog distintos, mas convergenus. De um lado, foi a continuação do desenvolvimento interno da sociedade colonial
nos moldes em que se vinha realizando a gua evo. luçäo nas primeiras décadas que, de simples aglœ•nerado de feitorias atomizadas no vasto território,
transformou-se em donatárias com sistema de estratificação social fechado em estrutura praticamente feudal. A aparente anomalia de instituições feudais trazerem
o ressurgimento da escravidão no mundo Inierá ser explicada por urna série de fatores que particularizam essa aparição, conforme veremos mais tarde. Do outro
lado, foi conseqüência dos interesses das nações colonizadoras em fase de expansão comercial e mercantil. Portugal participará desse procesgo expansivo
desempenhando o papel de intermediário dos fortes países europeus, depois de um perfodo em que teve atuação relevante como nação marítima, na das grandes
descobertas.
Foi, assim, cortado o processo de desenvolvimento tribal dos grupos indígenas que nos habitavam, com o aparecimento dos primeiros colonos, e solapada em
raízes a estrutura em que os fndi08 baseavam suas instituições, seus costuma. finalmente a sua cultura, no sentido sociológico da palavra. A nação
colonizadora, no caso específico, Portugal, que através de elementos de dominação ocupava terra e subjugava os seus primitivos garroteava o to
autônomo culturas através de um tampão compressor contra o qual não era possível os nativoa lutarem com o instrumental de que dispunham. A expansão
mercantil de Portugual, que no presente desempenhou o papel de nação dominadora, já era fruto e resulta&» de todo um processo anterior de subversão
econômica, verificado no Velho Continente, através de uma série de acontecimentos conhecidos e retra. tad08, com maior ou menor profundidade, por
todos quantos se ocuparam da economia dessa época. 1
(1) Sobre a conjuntura de e as causas da sua expensio bem como o das que ali % pmcessatam, vesa..æ lúckio ensaø de Ant6nlo — Sobre Revoluçao de 1383-85, "Enzatos", VI, LiSb-
oa, 1946. p. 155 88.
23
Os primeiros colonizadores portugueses, ao entrarem em Nem podia ser outra a sua orientaçåo de bons e severoe soldados da Igreja: tocados
contacto com os indígenas, iniciaram o sistema de escambo, dando as malg que quaisquer outros da vocacio catequista e imperialista. O imperialismo
econåmico da Europa burguesa antecipou-se no æiigioso doe padres da S. J. ; no ardor
populações nativas o seu trabalho na derrubada e condução do pau- europetzante dos grandes missionários católicos dos séculos XVI e XVII ( _ a
brasil — as primeiras atividades lusas no Brasil foram meramente segregaçäo dos Indígenas em grandes aldeias paæce•nos terem os jesuita8
extrativas seus produtos naturais etc., em troca de miçangas, desatvolvido uma das influências letais mais profundas _ Era todo o ritmo da vida social
espelhos, pentes, fazendas, animais nativos, utensílios. demarcando a que se alterava nos (ndfos. Os povos acostumados à vld& dispersa e nåmade sempre Se
degradam quando forçados grande concentraçä.o e sedentariedade absolu• (Caga
fase que Calógeras com propriedade chamou de "ciclo do Grande & Senzala". Rio, 1943. 10 vol., pp 214.215 a _
intercambiq". Esse sistema exigia do índio o seu trabalho e nada lhe A existência (ou näo) de um comunismo agrário primitivo é problema que vem
dava em troca. Degradava-o social e culturalmente. sendo discutido apaixonadamente. Enquanto a corrente antievolucionista sustenta a
iru?xisténcia dessa fase. historiadores e etnólogos se filiam às diversas correntes
Cristalizando posteriormente tal processo de degradação evolucionistas apresentam razöea que Sustificam a tese da existência desse perfodo.
econômica, social e cultural, os Jesuítas subordinaram os indios a uma Etnólogos como Lowle ( História de Ia Etnol%ia, Méxleo. 1946) atém de néo analisarem
semi•servidão disfarçada que não correspondia ao que a servidão tem na sua complexidade o problema, num pregos a esquemas ditados em maior ou menor
de especí. fico, mas ao mesmo tempo não era o trabalho livre ou a escala pcr preconceitos políticos Cf. op. cit. p. 72 gumdo analisam a escola m organista.
t t&mb-ém o que fazem outros antropólogos so24
escravidão na sua pureza conceptual.
e etnólogos sem, no m.tanto, verem com que elasticidade fage comunalprimitiva
Contrihuíram ainda os homens da S. J. para o abastardamento deve ger encarada. uma análise do. livro. •Traté de soetologie PrtmlUve" (Paris. 1035),
cultural do índia, destruindo os seus padrõeg de valores. Esses de Robert l.owle; L'Economle Pdmltlve (Par", 1987), de Richard Thurnwdd e "Etat Saelal
—.zpk-s (Paria, ISSO, de Paul Deschamps, L. Xavier Teles anrma, tmpIWtamente o mo
padrões eram fruto de experiência adquiriu através de longo processo primitivo que "sociedades áruca.. Korlkø, Tchuktches) a dois principio-8 : — partn_ba
de adap. tacão ao meio, processo que criava a empírica a.kru_fAca ".ø produto. aumentaræ; 2' nec•ui• dade um emprego efetivo dos meios de
necessária para que eles solucionassem os problemas surgidos na produçao ecmåmlcan ( . . . ekmentos individualistas, ainda esbatidos, »emtdilu1Õ•.
comunidade. Os jesuítas substituíram esses padrões por outros, n.50 deixam de existir. R.aø•s 8upeK8ticíoaaa certo. individuais" ( . . . HA poque
r•conheeem direltc• nåa e Mreditá.riq Ebre certa. tra. ç5es do território tribn.l.
aquilatados e impostos segundo estereótipos e julgamentos morais
Thumwald ensina que a propriedade abrange todo o terrltório de onde a horda. o clä
que eram inteiramente estranhos aos indígenas. Esta defasagem ou a aldeia tiram os meloa de vida e subsistência. recusando.æ em geral os povos
levou a que a população indígena se fosse marginalizando primitivos a aceitar a pretensao um indivíduo de poagulr pessoalmente. In•na parcela
progressivamente do processo produtivo. Do ponto de vista do território comum". (CF. "A Propriedade tre os povoe Primitivos", "Soclologia". vol. r,
meramente econômico, foi substituído o conceito de propriedade das p. 81 se. ) Em outro Thurn• wald. cujo pensamento o sociólogo brasildro tentou
afirma que constituiçSo da propriedade privada móvel repousa numa estrutura
diversas tribos, que era comunal-primitivo por outro,
social decorrente de certa.' ".on8teLaç5es e desewolvlmento descrito no quarto volume
desta obra. a quebra laços clini.cœ, autonomia das famílias e a mulNpUeaçåo de
( I.A Calageraz. P. "A poliuca Monetária no Brasil". in "Revista do Ldvro" n' 9, Rio. famfltas senhortals com escravos e criadagem, abriram eamln.ho para a introduçäo da
març•c de '958, p. Cf. Marchgnt: "'Do Escravidio••, S _ PaLùo. 1943 _ Aliás, proprie dade privada de terras. ou l*banhos entre a-q1.Ela. (Cf. "Origem.
os primeiros cronistas que se reterem às rælaçö.es iniciais entre colonos Indios que a Forma• cio e Transformacio do Direito", ia "Sociologia". Vol. III, n' 8, a.goato de 1941)
escravidho näo era praticada Inicial, mente pelos colonos, motivo pelo qual os Vê-se Þrtn.ntn que nio há rigidez da parte de Thumwald contra a existên. cf.
indfgenas cooperavam a flm de que se extraísse o pau•brasil_ do comunismo primitivo. Partindo de posicöes metodológicas Mo de um etnô. logo que
procura gua documentaçåo entre os chamados "primitfvœ" das poside que tem o
(1 -B) Escreve com muito acerto Gilberto Freyre que "'o que se salvou dos
equlpamento conkwclmento voltado pam épocas mal. auxílio na e na paleontologia. o
fndlgenas no Brasil foi a despe;to da influência jesuftica: pelo gos¿o dos padres não
proteæor V. Gordon C*tlde a hipótese de urna fase comunal-primitiva. (Cf. que Sucedló
teria subsistido à conquista portuguesa senio aquela parte mole e vaga de cultura
en Ia Historia". Afru, s/d) téudc.a que vem servindo também aos soviéticos entre os
amerindia por eles inteligentemente adaptada à teologia de Roma e à moral européia.
quais muitos, através de um esquematismo injustificável deixam o assunto mais no sobre o tema. Maxime Rodinson apresentou trabalho onde mostra que mesmo aqueles
Ambito da Economia política. Aliás, Gilberto Freyre dá-nos noticias de pesquisas autores gue põem em dúvida o sentido universal dewe comunismo, como R. Thurnwald
realizadas pelos "Antropologistas da Academia de Ciências da URSS. a um doe quais, o e A. Goldenwelser nio deixam admitir de certa forma a validez do conceito de modo
p."ofeæor KaganoW, deve.% estudo histórLco sobre os trabalhos de antropologia na relativo. O ciudo pelo do trabaJho, afirma que "Ia qui regarde le commu. nigme primitif
pós-revolucionária". "Nem todos continua Gilberto Freyre — aeredStam ter sido o comme ayant précédé propriété pdmiuv-e de l'bistDire ultéMeure doit par 'tre rejete,
comunismo. de modo absoluto. aquela "primeira Cage de duenvdvimento que au moins sous torme reoureuse (draAc). Elle cmUent um geæ de vérité dana cette
etaria.mo• próximos 8 voltar "O forma mais alta"; o professor p. Kushner, por exemplo, muure: dana Ia occidentale ia propr"U individuelk nous acquis une gignifl.*ton et rae
nAo vê evidencia da principio de dis• tzibutçåo comunista de alimento entre dépu—.nt d. Ilmportanoe de cette chez primitifs". Goldenweiser por seu lado, eserevc
comuitdn&a da AustráNa (Cf. "SociQogia". I, Rio, 1645, 208) . que os autores que "Laes conceptions qui soat à Ia base des droits de propriété sont de meme ordre.
WvféUcos, (Exa. o problemu mais ligado à Economia do à Etnologia. O professor Des o*ts purement pe:sonnels, tels que i'ha. biD-emen% K.wü. tetineau, les armes de
Mauro Olmeda, num alentado e importantíssimo sobre as sociedades précapitalistas. chaæe, etc. sont propriété, et tous qu_l ont ave. •quimoux savent comme ce.tte régie
sustenta a existência desse comunismo primitivo. baæado em observa. çöes locais e em est il meme les de vendre run quelconque des jouets de. enfRnts sans s'assurer
dados da pré—história ( œ. "Sociedades Pré-capitalista: I dxxáÓn a Ias Sociedades pre- préalaNement de Ia permission
capitalistss", México, pp. 197, 203, 268. 269. 271). franceæs também inteæssantes
25
no qual a propriedade privada existia, mas não para os produtores, exa. O sistema de controle sobre egos populações subjugadas era, portanto, temente aqueles
que eram os habitantes da terra e que tinham o seu dos mais rígidos.

conceito entre não cabem 08 de próprios ser propriedade analisadas produtores, comunal de acordo vinculado com à diversas distribuiçåo normas da tribais
produçäoque agricultura, Mas, os a setores mineração que posteriormente) se desenvolviam exigiam como elementos material dinâmicos humano mais(a

nuidade taram criar um o que coletivismo existira aqui. nas que diversas Nos não aldeamentos tinha tribos, nenhuma os padres conexão da S. J. conti-ten. adaptável,
E mais predisposto motivo do ponto e por de vista cultural talvez mais ao seu poderososdesem-
penho. o colono, por este

e putadores ridade regulavam com teológicos, o consumo.da Companhia mas em autoridades que se arvoraram que mas distribufam não se baseava
apenas a em produçãona mani-auto- como o colonial.africano veremos — para depois, possibilitar teve de recorrer o pœterior a um desenvolvimento braço muito
mais da sociedadecaro —

Somente, de fato, com o desenvolvimento dos primeiros


núcleos de Antes disto, com o aparecimento das Capitanias Hereditárias ten. plantação de cana-de-açúcar o colono verificará a necessidade de aplitou.se a
exploração da terra através do colono reinol exportando-se car a escravidão não apenas como solução doméstica (nos moldes em para o Brasil og braços necessários
ao trabalho. Paralelamente — é que vinha sendo feita em Portugal), mas corm solução para todo regime verdade — processavam•æ tentativas violentas de
escravização do índio : de trabalho que brotava e posteriormente se estratificaria na Colônia. na sua maioria improdutivas pois o índio apresado mostrou-se mau tra-
Mas, somada a essa necessidade, para se compreender a substituição do balhador dentro dos quadms de relações de trabalho a que o queria indígena pelo negro na
escravidão brasileira, não podemos deixar de submeter o colonizador. Ainda não bastavam essas relações contudo, analisar um dos aspectos mais importantes,
senão o fundamental: a para que se caracterizasse a sociedade existente como escravista. Fal. transformação do tráfico de simples atividade de pirata'¾ em
atividade tava ao labor escravo preponderância no bojo dag relações de trabalho, mercantil, com o emprego de grancks somas de dinheiro na aquisição já que o
o reino* pobre, o colono, eram, no fundamental, aque- de veleiros, equipagens, portos e contratação de material humano para les que constituíam o que
de mais estável se possuía na colônia, pois o o comércio de carne humana. Tal transformação exigiu e determinou colonizador, até o momento, "arranhava a costa
como caranguejo", na que o preador de índios fosse esmagado pelo traficante que vinha com expressão feliz de um cronista da época. A escravidão indígena tinha

uma desvantagem: peio próprio material humano que a compunha, vindo 2B) Dizer que o índio toi mau trabalhador dentro dos quadros da escravidio de um estágio
cultural muito mais primitivo do que o existænte para as nio Implica absolutan»nte nenhum julgamento que D incapacite para o trabalho talæfas 8 que o
predispunham, era uma peça subsidiária, que desem- por questöes biológicas, inatas. O que há no problema, allág já muito debatido entre

penhavae não qualificado. — do ponto A de faina vista do econômicoprimeiro — ciclo um da trabalho colonização complementardesempe. nós, foi que é um ele e fato cultural.
manifestou de ordem Sob as psicológica mau condiç5es trabalhador. que
de trabalho por A aua prova que vez do o toi colonizador que afirmamos
Impôs de é um ao que, Indiofatoen. econömico
nhada pelos índios era, incontestavelmente, a mais dura e rudimentar. quanto vigorou o sistema de naz rela*' entre colonos e Indios. se mostraram trabalhadores eficientes.
Alexander Marchant, no seu trabalho sobre as relaçOes entre IndEs e portugueæs de 1500 a 1580 tatos Lmgrandes deB 'eunes maisons posseurs. qui est les en pierres
usage érigées au bénéfice pour de Ia plusieurs chasse au familles,saumen et te. nhar portantes. tavam-na alguma Afirma bugiganga navios. o professor a ou
uma enfeite distAncia. norte•americano os próprios às vezes, índios que. de segundo três cortavam ou quatro Tevet a madeira e Eéguas•' Lery e "paratranspor-Em se.

ao homem

ehasse à tente Ia un Stuation Ia propriété: et entre au un oaribou. individu est oumiak un ceLk•ci: etc.homme ne — pouvaft Ia appa.rtlennent qui plaær; —.eaion ne se au encore Bert
Groeland, personel_le pas La en communauté de sa est trappe homme oondiuorbée par globatment. à qui renard héritage. poesédat par &Jit En car permettredéjaprincipeétaitrel
guida nhos migas, no afirma: chapéus. paEs fazer os n'O "como facas o trabalho. nio e cortavam, outros havia Nao artigos. carregar cavalos serravam, fora a e ou um ajuda com
falquejavam outros simples ferramentas dos animais fndlos. navio e toravam por de portanto, de meta! traçåO ano. o queEm e pau-brasil. ou aqueles troca carga de estra-eabfa(Cf.ca-

reus entendu objets".que personne ne pouvait réciamer et utiliser prus d'un exempÞfre de Pa. lhes Alexander davam. da Marchant: questio índios é "Do Escambo a Escravidào", S.
Paulo, biologicamente 1943. p. inadequaào54.55). O

tiong lant Finalmente de chez communisme cette catégorie prlmitft. RodLnson de penples. nous exprime ne comme niona a nous sua nullament própria en aecusent Ia opiniäo. complexité les ethnographes
Para desele bour•Par- é A de outro que eseravidäo. comentar os indigenaa. — Sho não ainda puderam EøloS querer.8e na tase do
mesmo apresaitar comunal-primitivaadaptar estereótipo. .. à o escravidão, indio — como O como principalmente que já acontece, tivemos no oportunidadequando particular.apli-

geoig. Nous dlsons geulement gu'il n'y a pea propriété privée de. moyens de produc- cada de modo exclusivo à agricultura sedentária. dentro de pertentions ou de Ia en règle g6néra1e et drolt
qungl.absolu d'user et d'&buserx en de- centes a senhores estranhos ao processo de trabalho. A base da economia das tribos hors de autre oonsidératlon que le droit claasique a mts en rellef."
indigenas era Todo o equipamento psicológico dos Índios, portanto, foi ( Rodins.¾l, M. — L'etude des sociétés "primsuves" a Ia hznlere de rouvmge d'En- atingido quando o tentaram escravizar. Dai a sua
reaçao, coisa nio acontø,æu in "La pensée". n. 66, 1956. pp. Z, com o negro que. oriundo de culturaz em estágio superior, conhecendo a agricultu. O certo é que. mesmo colocando-se em dúvida o
valor universal desta categoria, ra e eseravfdäo, pÖde alcançar nivel técnico exigido pelo colonizador para os trano caso particular dos indlos brasileiros. sua economia estava enquadrada balh•os
agricolaa. No que. também, nAo val nenhuma Infeü*idade do negm de ordem de coordenadas que a colocam enn•e os povos que nio conheSam a propriedade pri- biológim, mas, pelo contrá.r¾o. maior
evoluçåo social. A no entantO, de que veda dos meios de produção nem um direito estratificado, garantfgse esse tipo o negro também nio foi elemento dócil ou adaptável à escravidAo, veremos no decorrer
de proprfedade. deste trabalho.

26
todo um equipamento de domfnio econômico pacientemente condicionada pelo seu mercado, em grande parte também o condicionava. O
estruturado e penetrava na cartilagens da economia da época com uma mercado era a agri• cultura dos generos tropicais, que se desenvolveu a partir do
série de 8tividades coneìatas altamente compensadoras. O tráfico de século XVI como parte integrante do sistema colonial da fase do capitalismo
escravos, como Sornbart já demonstrou, contribuiu enormemente para a manufatureiro. vaie dizer como um outro fator da acumulação primitiva. Tude
uma Séne de ao n'vel de desenvolvimento das força. produtivas,
acumulação capitalista. No momento, o que convém destacar é que
condicöe8 geográfica... a certas condiçöes ideológicas. etc. (motivos gue nio será
essas causas internas foram superadas por uma bem mais importante: os poxível analisar aqui) oculonaram essa ligaçåo histórica entre a agricultura dos
traficantes estavan economicamente em condições de dominar o generos troptca3s e o tráfico de africanos, e o tato é que onde vicejou a pHmelra
mercado escravo brasileiro. Aqui fincou pé o comércio negreiro verificou-se a penetraçåo comercial do segundo; coisa fácil de no
amparado por toda uma litezùra protetora dos índios; por toda uma caao com exceçao do surto minerador (há af razoes partlculares), o
campanha humanitari8ta de defesa das populações indígenas. Essa afluxo dos escravos negros correspondeu no Brasil — geográfica e historicamente
campanha surgia exatarnente como corolário ideológico dessa mudança — às vicissitudes da agricultura dos generos tmpicais (o açúcar, o algodäo, o
de situação que já era previsível não en decorrência dag apóstrofes do café). Foram portanto esses inureasee mcr. cantig externos, ligados agricultura
Padre Bartholomeu de Las Casas, mas porque a organizaeäo superior dos colonial e ao tráfico de arrtcanog uma outra grande razåo da predominancla da
traficantes não podia permitir que se vendesse mercadoria muito mais escravidão negra no Brasil" (Tancredo Alves : "Sobre Escravos, Indios e Negros no
Brasil", in "Para Todos", Rio de Janeiro n' 17, julho, 1952, p.
barata — o índio — nas áreas gob seu domínio. As grandes empregas de
navegação que posteriormente se sucederam ou tiveram vida 28
simultânea ao tráfico no seu esplendor, que vai do século XVII aos Inicialmente os ingleses, depois os portugueses e brasileiros
primeiros quarenta anos do XIX, têm como elemento de colaboração o entraram no comércio negreiro e dele usufruíam lucros incalculáveis.
traficante. O capital comercial in. vertido nesgas empresas, as vastas Muitos deles influíam poderosamente nas decisões do governo, tendo
áreag sob seu domínio, os grandes interesses nelas comprometidos e, em algu• mas ocasiões subornado autoridades e figurões da política e da
80bretudo, a sua organização interna. cional, exigiam que qualquer Justiça. A figura do traficante em determinado a de Martim momento
concorrente ao então rendoso comércio fosse dele alijado. (2-c, Francisco era todo-poderosa.(em 1837), o Não adiantavam denúncias
As grandes companhias navegadoras. das quais as empresas de como qual mostrou que somente uma dessas embarcações. acossada por
traficantes de escravos são dag mais importantes, com sede nas ventos contrários, lançava ao mar 250 africanos para não sentir fato de
metrópoles, as granda plantações nas colonizadas e o monopólio gêneros. Navios dos Estados Unidos também eram usados no tráfico
comercial são o tripé no qual se apoiam a economia e a política das negreiro. Como diz José Honório Rodrigues: "Os traficantes daqui ou da
metrópoles da época. Esses três elementos constituem uma unidade costa africana foram sempre homens ricos e poderosos,
contraditória que só poderá ser compreendida se analisarmos capazes de improvisar novos meios de burlar a vigilância inglesa
objetivamente o estágio de desenvolvimento dessa fase da História. e de inventar recursos legais como ese da compra de navios americanos,
ou ilegais, já que o tráfico foi um dos maiores negócios do Brasil, durante
og primei. rog cinqüenta anos do século dezenove".
s" dos ( 2. C) grupos "Uma segunda grande no tráfico razão de que africanos tem sido no
geralmente sentido de imporem-se esquecida. foi a B: pres-asil
À medida que o entrelaçamento das economias nacionais criava 8
necessidade de um mercado universal; que novas rotas marítimas eram
abertas por essas nações (impulsionadas pelas suas burguesias comer.
(como às demais colOnias tropicais) os escravos negros, tonte de polpudos ciais) ; que as populações dos diversos pontos geográficos da terra
O tráfico de africanos, ensina-nos Marx, desenvolveu* na histórica da estabeleciam relações até então inéditas na história da humanidade e
acumu. lacåo primitiva que precedeu ao surto do capita]ismo industrial (se'. XVII que, por outro lado e em conseqüência desse fenômeno, um punhado de
a XVIII), como uma empresa comerciai, um fator a mais daquela pai. ses altamente desenvolvidos na Europa tomava liderança desse
acumulaçäo. Tratava.se de uma emprega de certo modo autonoma que, estava
comércio e por ele lutava encarniçadamente, seu reflexo se fará sentir na
Colônia ela própria uma conseqüência desse processo de expansão — Essa transformação se processará em todas aa formas de manifestações da
através da procura cada vez maior dos gênerog destinados a suprir um vida social. Demograficamente aumentou em ritmo acelerado e
mercado que se ampliava em proporções insuspeitas. Assim, "em lugar ininterrupto a população da Colónia; do ponto de vista sociológico cindiu a
das antigas necessidades, satisfeitas produtos nacionais, nascem novas sociedade colonial em duas classes fundamentais e antagônicas : uma
necessidades que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões constituída pelos senhores de escravos, ligados economicamente, em face
mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo do monopólio comercial metrópole, outra constituída pela escrava,
isolamento das que se bastam a si próprias, desenvolve-se o tráfico inteiramente despojada de bens materiais, que formava a maioria da po
universal, uma interdependência de nações". pulação do Brasil Colônia e era quem produzia toda a riqueza social que
O apelo à escravidão africana — que já se realizara com êxito na circulava nos seus poros.
Europa desde tempos imemoriais — será uma solução lógica a que A subversão do proce.o de formação inicial dos primeiros núcleos
recorrerá o colono a fim de conseguir estabelecer nos trópicos uma colonizadores, produzida pela introdução em escala sistemática do
sociedade PQra a qual o humano autóctone era de pouca trabalho escravo, veio isolar quase totalmente as populações indígenas do
rentabili• dade (embora mais barato) e o braço europeu que para aqui trabalho agrícola. onde se condensava a atividade produ.
vinha não podia ser arrolado no sntux de trabalhador que interessava ao tiva naquela época: os engenhos de açúcar. Isto porque a estrutura so cial
colono: o de escravo. dos indígenas se encontrava ainda, conu» já afirmamos, em um estágio
Em São Vicente, segundo alguns historiadores, no ano de 1549, o comunabprimitivo. Viviam quase exclusivamente da caça e da pesca, com
uma economia recoletora. Na América, somente na região andina e no
primeiro stock de africanos a fim era de desembarcado. que cada colono México os nativos se ergueram em culturas ponder¾veis e dificil• mente se
Para pudesse isso importar D. João IIIaté adaptavam ao trabalho agrícola nas grandes plantações, lutando deMie o
primeiro momento contra as tentivas de submissäo. Será por isso que
concedera autorização somente nas fainas mais ajustadas ao seu modo de vida que o seu trabalho
120 escravos para as suas plantações, fato que provocou protestos por se apmveitará. Na expansão da pecuária, principalmente nas zonas do
centm-norte e centro•leste, o elemento humano indígena será
(BD) Rodrigues. José Honório: "Brasil e África: outro horizonte": Rio, 1 P", 2 aproveitado e até hoje prepondera através de cruzamentos com
vol. IP vol., p. 181. grupos étnicos, estabelecendo nessas zonas um tipo antropológico
(3) Marx, K. e Engels, F.: "Manifesto Comunista". Rio s/d., p. 25. uniforme. O escravo negro não teve papel saliente nesse tipo
29
de atividade. Pelo contrário: quando penetrava nessas zonas era como
perturbador, como quilomboia. À agricultura já estavam acostu• madas,
acharem alguns ser lúmero insuficiente. A data exata da entrada dos
no entanto, africanas, inclusive com o instituto da
escravos não está, porém, aceita pacificamente e não nos
interessa de modo direto averiguar minudências que nenhum significado
essencial têm no conjunto do processo social que analisamos. Sabemos (4) Em 1829. Walsh dava entrados no Bza.s\l, son*nte porto do Rio de
que em diante, em face do desenvolvimento da Colônia e, Janeiro, 52.600 escravos, número que decresce, em 1842, em conseqOCncia de maior
consequentemente, das grandes levag que chegavam no bojo navios repressio ao trátieo, pan 17.435. acordo com cálculos feitos por Pelti_ra Pinto,
baseado em dadOs do "Forelgn Office" e citados por Osório Duque EstraM no
negreiros, o número de escravos importadœ crescerá até pouco de 1850
livrU "Da Regência à Queda de Rosas", no capitulo dedicado a "Tráfico,
quando, através da Lei Eusébio de Queirós, entrará em colapso o tráfico Colonizaem IR51 para 3.287 escravos Ainda sobre o tráfico, pandfú Calógeras,
que logo depois se extinguirá. (0 dispondo de documentos do Itamaratl. dados interessantes no livro "A Aboliçao•'
O estabelecimento da escravidão sistemática veio subverter em suas (Rio, 1918) . Este total cresceria, para 60.000 em 1848 e cairia, Finanças", p.
bases o regime de trabalho até então dominante na sociedade brasileira. 321 ss .
30 (5) No próprio Quilombo de Palmares. para manter as bases de uma
escravidäo, existente em tribos. s Além disto o domínio por economia que se assentava quase exclusivamente na agricultura, os
parte de grandes grupos africanos de uma técnica agrícola ex.e$cravos tiveram de estabelecer a escravidão interna na república. Os
negros feitos prisioneiros torça eram transformados em escravos trabalhavam
relativamente adiantada, o conhecimento da fundiçäo de metais, o seu
para aqueles que voluntariamcntc haviam fugido para o quitombo.
uso, e outros hábitos da África, davam aos elementos negros particularizavemos os aspectos mais importantes do fato no capitulo sobre o
possibilidades de maior rentabilidade no trabalho de que aos assunto. Ern muitas tribos africanas o instituto da esc."Bvidúo já era conhecido
indígenas. e algumas levas enviadas para o Brasil eram constituídas de negros que. na
própria África. eram escravos.
As antigas feitorias, os primitivos núcleos colonizadores
( 5-A) "Houvessem chegade ao Brasil imigrantes eom experiencia ma.nu.
esparsos no litoral, foram substituídos — com a presença do escravo fatureira, e o mais possível é que as iniciat'vas surgissem no momento
negro — pelos engenhos, pelos latifúndios agrários e surgiu em lugar, adequado, capacidade de organização e técn"ca que a
já estratificada e com os seus contornos gerais definidos, uma nSo Che. gou a cuthecer. Exemplo c-la.lx» disso é o ocorrida com o metalurgia
sociedade cheia de contradições internas. Essas contradições chegarão do femo. Sendo grande a procura deBe metal numa regiåo onde os animais
à tona da sociedade através dos movimentos que agitarão todo o ferrados existiam por dezenas de milhares — para citar o cago de zó artigo — e
período colonial, entrando pelo primeiro e 8egundo reinados. sendo tSo abundantes o minério de ferro e o carväo vegetal, o
desenvolvimento que teve a siderurgia foi o possibilitado pelos conhecimentos
As levas sucessivas de escravos que entravam pelos diversos técnicos dos escravos africanos" (Cebo Fur• tudo: "Formaçåo Econåmiea do
portos eram, de um lado, o elemento fundamental da expansão Brasil", Rio, 1959. p. 98) .
econômica da Colônia, criando a renda global que era canalizada para
31
fora e, de outro, a argamassa principal da expansão demográfica
te de negros entrados pelos diversos portos durante a escravidão,
verificada então. Para avaliarmos o crescimento demográfico verificado
ro que Taunay acha exageradíssimo. Renato cifra-o em
com o desembarque ininterrupto de escravos, basta dizer que, no ano
quatro milhões oitocentos e mil. Outros números são ainda arrolap dos
de 1583, as estimativas davam à Colônia uma população de cerca de pelo conhecido historiador paulista. 6
57.000 habitantes. Deste total, 25.000 eram brancos, 18.000 índios e
14.000 negros. Segundo cálculos de Santa Apolônia, em 1798, para No século XVIII que — segundo Calógeras — foi o de maior
uma população de 3.250.000 habitantes havia um total de 1.582.000 impor. tação negreira, a média chegou a 55.000 entradas anualmente.
escravos quais 221.000 eram pardos e 1.361.000 negros, sem Essa imensa massa escrava é que irá impulsionar a nossa economia
contarmos os negros li• que ascendiam a 406.000. Para o biênio e esmagará quase inteiramente o trabalho livre que existia antes do seu
de 1817-1818 as estimativas de Velou) davam, para um total de em diversas faixas da economia brasileira. O trabalho manual
3.817.000 habitantes, a cifra de 1.930.000 escravos dos quais 202.000 passa, por isto, a ser considerado infamante. Somente praticável por
eram pardos e 1.361.000 ne. gros. Havia também uma população de escravos A ecm-aornia brasileira irá assentar as suas bases na grande
negros e pardos livres que chegavam a 585.000. Há quem estime em agricultura mmocultora, no trabalho escravo produzindo para os
50.000 0 número de negros impor. tados anualmente. Foi quando o senhores de terras e engenhos, sob o monopólio político e
escravo africano passou a ser chamado "pés e mãos dos senhores" e comercial da Metrópole. 8
Angola "nervo das fábricas do Brasil". O historiador Afonso de E. Portugal canalizará para si o resultado de quase toda a renda através
Taunay teve oportunidade de estudar o assunto, analisando da exportação. Nossa produção era completamente desvinculada do
criticamente as principais fontes dos historiadores que se ocupam do mercado interno: existia como parte do mercado mundial e somente
tráfico. Rocha Pombo estima em quinze milhões o montan- circurava fora de nossas fronteiras, afora o setor de subsistência. Aqui
era imobilizada nas fontes de pmdução ou nog portœ para embarque. O
seu valor de uso ficava além das fronteiras. Por isto mesmo o seu
dinamismo só existia na medida em que essa produção era solicitada
pelos mercados europeus. Outros gêneros ou produtos que os não exterminando-os sem dó ou piedade, arrancando-lhes as ri.
destinados à exportação para a Metrópole têm o seu plantio ou fabrico quezas, explorandc-lhes o trabalho quando se deixavam dominar re tirando
proi. bidos, através de alvarás e avisos. A plantação de tabaco será parte de sua própria população para ser vendida como merca. no
impedida. Atividades como as de ourives e outras. eram perseguidas e mercado mundial, como escrava. A Holanda era, então, assinalara
os seus praticantes punidos. Estava, assim, constituída e estabilizada Marx, a República burguesa típica da Europa e competia com a Inglaterra
rnŒ mentaneamente nossa sociedade em moldes destinados na posse daquelas rotas e colôniag. A Inglaterra, por seu turno, após
exclusivamente a produzir gêneros exportáveis no caso particular o encarniçada refrega, saiu vitoriosa, tornando-se senhora absoluta dog mares,
açúcar — apoiada socialmente nos de terras, os grandes latifundiários a dominadora do tráfico negreiro. Pela Ata de Navegaç•äo de 1651 impunha
agrários. que as mercadorias procedentes da Asia, África e América só fossem
transportadas por navios britânicos, assestando um golpe mortal na
Holanda, sua principal competidora. Um diplomata exclamaria: "É meu
(6) Taunay. A. de — para a História do 'fráfieo Africano no
Brasil", dever dizer•vos que agora estamos tanto nós como o mar em poder da
S. Paulo. 1941. pp. 245 ss. Inglaterra". O tráfico de escravos africanos foi um dos motivos mais
( 7 ) As estatisticas — se é que podemos chamar o que dispomos sobre o importantes no aguçamento das A burguesia comercial auferia lucros
to de estatistieas — referentes ao nomero de entrados todas discutiveis. mércio de carne humana. thmo disse Marx : os comerciantes ingleses
A de Ca16geras que citamos acima — extraída do livro •'Formaçåo Históriea transformaram a África no "lugar onde eram caçados os homens negros".
do Brasil" é muito contestada. Há inûmera8 OIRras. todas, porém. em maior No começo do século XVIII a Inglaterra assegurou o n»nopólio do tráfico
ou menor número sujeitas a crfticas. Existe um trabalho de Artur Ramos com negreiro para a Espanha e colônias da América do Sul. 10
detalhes sobre o assunto para o qual rern&moa o leitor: "Introduçåo
Antropologia Brasi. leira", 1' vol., Rio, 1943. o governador D. Anthnio Nœon_ha sem espanto e o aumA1to
Sobre o tráfico a bibliografia é extensa, mas nåo muito exata e, para o rável das fábricas e a diversidade dos generos de suas manufaturas a ponto de lhe
caráter do nosso trabalho, uma fdéia aproximada das guas proporçöes é afigurar que em pouco tempo ficariam os habitantes da capitania inteiramente
suficiente para a interpretaçäo dos fatos subseqüêntes. Independaites das fábricas da Reino ) Proibindo-as, foi o seu expe. diente adotado
pelo da Matrópole que néo o sancionou c•Xno a proibiçäo a todas capitanias do
(8) Para o caráter colonial de economia na época: Cf: — Brasil. Completou o facho dos esbirros incendi'. rios por do a obra de destruicåo —
"Cultura e Opulencia do Brasil", André João Antonil. Bahia. 1950. os teares desapareceram (J. N. Souza e Silva: "Hlst6ri8 da Conjuraçäo Min&a", 19
(9) J. Norberto de Souza e Silva æferindo.*2 B Minas Gerais, mas vol., R. de Janeiro, p. 63). O que D autor narra nio é uma atitude esporádica mas a
pintando um quadro que podemos à ColOnia no seu conjunto. que "os povos da da polftiea Meù•ópote em relaçåo ao Brasil.
riza indústria da eapitania viviam no maior descontentamento possivel pela (9.A) "Já. em 1621 uma N•denanca real havia à V}rgínia exportar os seus produtos para o
proteçåo que se dava indústria manufatureira da mãe-pátri& em detrimento dc estrangeiro, sem os previamente &gembarcado Ing18• berra» mu aquela ordenança fica letra
pais. Para verificar e animar os do reino e da saída fácil às suas imperfeitas morta, graças ao tráfico holande. ses que levavam. para o seu país parte do de Virgfnla e, no
manlúaturas aniquilar as fábricas brasileiras. O sopro, que era vivificante e no retomo, 8 torneciam de nærc.adorias eumpélu.
Reino, torna.se mortffero na Colónia. Não vi LI Bem mals importante e geral é o Ato de navegaçao de 1651. ætabelecendo em
substância: 1' que as mercadorias provenientes d' Asia. Africa ou Amériea nio po•
32
derlam ær tranaportadas para a Inglaterra senho navios a Ingleses e cuja equipagem
Dando moldura geral ao quadro do tempo quando as grandes na maioria também inglesa; 2•: as pmvenlente da Europa nSo poderiam ser
nações no fastígio, travava.se no mundo renhida luta entre elas, que transportadas para a Inglaterm ou suas dependências senão por navios ingleses ou
marchavam na senda do desenvolvimento capitalista, por vias comerciais e pertencentes pais (Henri See: "As Origens do Capitalismo Moderno", RIO. 1959, p.
fontes de e novos mercados. Portugal decadente tinha de contentar-se com 136-37).
as que ele próprio descobrisse, já que não podia disputar a partilha com (IO) Efimovl A : e Freiberg, N. : "Hist6na da *poca do Capitali.no Indus. trial",
Rio, 1945, 1 vol., p. 10
paíæs como Inglaterra, Holanda e França. Isto não quer dizer que og países
citados não se interessassem pelas novas terras descobertas. Também 33
participaram desses acontecimentos, apenas com características diferenteg. Em 1776 tinha quinhentos mil escravos em suas colônias da América do
Essas nações dominavam os nativos de área8 geográficas recém. Norte. Em 1792 existiam mais de 182 embarcações para esga mesma
finalidade. O tráfico negreiro viria contribuir em escala ponderável para comércio. O arrendamento do asiento será concedido à "Companhia de
a acumulação primitiva do capital que serviu de alicerce à socie. dade Guiné" que se comprometerá a fornecer quatro mil e oitocentas "pe-
atual.
Obtida a supremacia do tráfico de escravos, a Inglaterra dele se (11) œ. Artur Ramo•: "Az Negra. no Nðvo Mundo". R. de 1937. p. 81
u.
be• neficiará enormemente durante dilatado período. O Porto de
Liverpool nasceu de um entreposto de escravos. A África tornou-se — 34
em conseqüência — um campo de pilhagens e grande parte do seu ça8" anualmente, durante dez anos (1702-1712). Já muito porém,
devassamento geográfico está subordinado aos interesses dog inúmeras outras companhias haviam sido fundadas com o fim de explorar
traficantes de escravos. Desde muito cedo, por isto, o Continente Negro o comércio negreiro. Em 1625 a "Compagnie de Iles de l'Amérique"
foi vítima das em fase de expansão capitalista. As abarrotava os portos antilhanos de escravos. Luis XIV ofereceu um premio
africanas passaram a ser mercadoria de exportação já que o mercado de dez libras por cabeça de negro desembarcado nas ilhas da França, mais
africano não existia de um lado e, ao mesmo tempo, abriam-se áreas uma gratificação especial às dos navios
novas de exploração que 80]icitavam, no trabalho das plantações, mão- Em 1679 a "Companhia de África ou do Senegal" conseguirá o
de-obra barata, de vez que os exploradores locaig do trabalho, embora monopólio do tráfico. Pelo tratado firmado com o governo francês,
aparentemente fôssem topq-poderosos nas colônias, tinham de comprometeu.se a desembarcar nos portos das Antilhas francesas 15.000
produzir mercadorias a ínfimo para suprir as solicitações das escravos em oito meses, além de fornecer o número solicitado pelo mo.
metrópoles. Para isto, necessita. vam da mão-de-obra escrava. Como as para as suas galeras. Como diz Rodolfo Ghioldi "a acumulação
principais nações haviam trangformado o tráfico em empresa comercial primitiva do capitalismo fez a escravidão na América depois de
supridora da mäc-de-obra, os produtores das colônjas tinham de estar séculos extinta a escravidão antiga".
subordinados, direta on indire. tamente, ao supridor de escravos. O problema apontado por Ghiold.i de modo genérico pode ser com.
preendido em termos de análise objetiva somente através de um
As nações mais importantes digladiavam•se no cenário apanhado histórico, mostrando-se as diferenças entre o surgimento da
internaciona]. A França havia precedido 8 Inglaterra na política de escravidão clássica, decorrência da decadência da sociedade gentilica
subordinação da África. Pelo célebre Tratado de Utrecht a Inglaterra antiga e o aparecimento da escravidão moderna que surgiu como um
obtinha, por trinta anos (1913-1743) o contrato dos asientos e por ele elemento constitutivo inicial do capitalismo. A segunda escravidão surgiu
se comprometia a introduzir na América Espanhola 4.800 O quando, em determinado momento histórico, 08 setores detentores do
soberano da Espanha recebeu, como recompensa, da "thmpanhia poder econômico aplicavam os seus excedentes, as suas reservas mone
Inglesa de Guiné", a quantia de 200.000 coroas pela transação. tárias, numa empresa comercial que se expandia através do domínio de
Muito antes deste fato, porém, (em 1662), era fundada a uma área — África — na qual buscava a mercadoria para venda; e da
"Company of Royal Adventures of England", destinada a explorar o exploração de outras áreas — Brasil, Antilhas, países outros da Amé-
comércio negreiro. O incremento à pilhagem foi de tal monta que um
historiador chegou a avaliar em mais de vinte mi] almas o número de (12) Sobre o conceito de •'peça" escreve Mauricio Gmnart: "Em mlnaciaa, po-
escra. arrancados anualmente da África. Cresciam rém. o que era peça de ludias'
aa pmporções do comércio negreiro com a política de Carlos II. O sadio. aparentando 30 a 35 anos. de 7 quartas de altura. até ai eståo todos
politica de pilhagem por parte da Inglaterra, cedo entrará em de acordo. De 7 quartas de vara, 1,75 mt8.. estatura regular negro adulto. escreve
choque oom as outras nações que igualmente desejavam a posse dos João Lúcio de Azevedo, nas 'ISpoCa.* de Ecmt6mico». De quartas. a cerca
mercados negreiros. A França entrará em antagonismo aberto com os de 26 eb"-.. diz Scelte, na Thüee. idêntico ao de Rinchon para o qua], Igualmente, a
ingleses e já muito antes iniciará um processo de dominação dos portos medida padråo seria de 1,82 mtg.
africanos objetivando a proporcionar os escravos necessários ao seu
Corresponde porém a vara, medida antiga de comprimento a 5 palmos craveiros ou. determinados setores, especial. mente no setor fundiário, por
linguagem mais familiar a 110 cm. pergunta — acho que razio — onde Joio Lúcio foi buscar outras que representavam a estratificação do
sua vara 1. metro da qual sete quartas somavam 1.75? Onde a encontraram, os de 104 cms.?
Por outro no entanto, se atribuSmos à quarta 27,5 cm. teriamos desde logo 1,925 m como capitalismo industrial. Inicialmente teve necæsidade do tráfico de
sendo a estatuta regular do negro adulto, o que é um despropósito. escravos para que o capitalismo se consolidasse.
Mas, de qualquer forma, aceito um ou outro padND, o mais alto. ou o mais Mas, a continuação longada da escravidão,
bai• xo, é evidente que a maioria dos negros näo podia satisfazer às exigências quando o capitalismo industrial já se havia
requeri. das para a peça da tndfa O mais comum. ao consolidado em toda a sua plenitude, cedo se transformou em entrave ao
necessáriosum
contrário, era e meio. ou dois pretos, para a peça. desenvolvimento da economia inglesa. A África não era apenas uma
Contrariando. exemplo, com assentfsta Marin, em 1698, de região onde se preava o negro. Era para a "altiva
Cachau e Cabo Verde. ela própria, d.a.5 a concessionária do a úlga.se Albion" um mercado em potencial para as suas
fornecer anualmente 4 negros diversas categorias, de maneira a completar 2 . 500 peças manufaturas. Lança-se, então, a Inglaterra —
India. Previgåo de mals de 60% pretos que de pecas.
No ramerrão do trá.fi&' adotara•E. prétfea valores: 2 dos 35 aos 40 anos, valiam
depois de ter sido a campeã do tráfico durante —
i peca. como as crianças entre 4 e 8 anos. 3 molecö.es. 6 a 18 anos. 2 pecas. As crianças dé na campanha por todos conhecida de extinguir o
peito. pelas måes. nao entravam no cômputo. tráfico negreiro e a escravidão. Os países que
continuam realizando eso espécie de comércio
Com o tempo, — de tal modo se comercializa esta Indústria a expæs.
sofrerão imediatamente e de maneira frontal as conseqüências da
sho é de Joio Lacio de Azevedo — a conta das importaçöes pa.oou a ser feita nåo
mudança de atitude da Inglaterra frente ao problema da
mais por peças da rndiœ, mas por (Maurício Goulart; '"A Escravidão Africana no
escravidão. Afirma, por isto, um scholar
Brasil", S. Paulo, 1950 (2a ed), pp. 102-10a. brasileiro: "O tod(Þpoderoso Gladstone ameaçava o
(13 j Ghioldi, R. — FYeyre, um atrás no pensamento BraSleiro". in "Para Brasil ao cumprimento dos tratados a de espada. e
Todos", n' 11 (segunda fase) .
peb guerra até o extermínio." E pode-se acreditar que isto
35 significaria alguma coisa mais que simples figura de
rica do Sul — que consumiam a mercadoria que elas levavam: o escravo. retórica. . .
Isto é, 8 escravidão moderna surgiu no momento em O xovêrno brasileiro, vendo a ineficácia dos seus platônicos
que o escravo não era mais um homem alienado protestos, apoiados embora nos mais "sólidos princípios dos direitos das
dentro da sua própria estrutura local, mas se gentes", como eruditamente proclamava nas suas
alienava por forçaa exterior¾ por um notas 8 chancelaria do Império, mas que não
exógeno de circungtância.s. Em outmg palavras, a traziam a sanção dos canhões e das baionetas,
escravidão era explorada pelas metó poles sem que, nos teve afinal de ceder.
seus sistemas de estratificação social locais se veri esse tipo de trabalho. A lei promulgada em 4 de setembro de 1850 seguida de outras
O que se verificou foi exatamente o contrário: vidências e da enérgica atitude do Ministro Eusébio de Queirós, estancou
a existência da escravidão nas colônias proporcimou o por completo, em menos de dois anos, o tráfico
desenvcivimento do capitalismo trial nas metrópoles. africano. Efetua, ram-se depois de 1852 apenas dois
Podemos dizer, portanto, que, como cimento dos alicerces da desembarques, sendo contudo endidog os negros
sociedade capitalista, a escravidão durante um contrabandeados. Estavam satisfeitas, as
período de tempo relativamente longo, foi um dos seus exigênciag da Inglaterra. . . "-A
elementos mais importanta.
Com a revolução burguesa da Inglaterra (1642- (13-A) prado Júnior, caio "EvoluçåO Pobtica do Brasil e Outros
1653) a economia britânica sofreu uma evolução no sentido de ver Ensaios", Paulo, 19" p. 85.
substituídas as relações pré-capitalistas que ainda subsistiam em 36
Objetivando executar essa política ditada pelos As Províncias do Norte, foram sendo
seus nômicœ, a Inglaterra tomará atitudes que despovoadas par do braço escravo e viram-se na
muitas vezes parecerão contraditóriag mas que, no contingência de pelo trabalho livre. As
seu conteúdo mais profundo, refletem o de fazendas de café de São Paulo e do Estado do Rio
desenvolver suas indústrias, seu comércio, finalmente defender aquilo que escancaravam as bocas ávidas de material humano.
exprime o capitalismo — o No caso específico da Tavares Bastos analisava no seu tanpo a questão:
escravidão podemos citar o exemplo da posição assumida pela mostrava que o comércio interior de seguia a
diplomacia inglesa ao regime servil em nosso país e direçåo Norte-Sul e, de janeiro de 1850 abril de
Estados Unidos. Enquanto combatia o tráfico e a 1862 — durante 08 doze ar»s, portanto, que se seguiram extinção do
escravidão no Brasil, a Inglaterra apoiava 08 tráfico — havia alcançado a cifra de 37.408.
Confederados na guerra civil Analisando a questão desOcava o fato de "já estarem
em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e Paraíba, os
A Inglaterra necessitava do algodão produzido homens livra admitidos por salário ao trabalho dog
no Sul dos Estados Unidos para alimentar a sua
pó prios e plantações de açúcar.
indústria têxtil, uma vez que, com a aplicaçäo do
algodão nesse setor em substituição à lã, os industriais ingleses tiveram
de depender dos mercados produtores do "ouro (14) Marx, K e Eng« F.: "IA Guu•r8 em IOS Estados
branco". Mais de quatro miliús de pessoas viviam, ou Unidœ". B. Aires. 8/d., p, 110.ao.
(15) Tavares Bastos, A C — "Carta. do S. pau10,
dessa indúg• tria. Os Estados Unidos tinham o monopólio p.
do algodão, fato que já provocara uma luta sub-
reptícia entre as duas nações. Em 1850 a In. 37
glaterra tentou comprar algodão de fontes
asiáticas, sem êxito. Exata no ano em que
conseguia com a IÆi Eusébio de Queirós a extinçäo
do tráfico no Brasil. . .
Na guerra civil estadunidense o bloqueio por
parte das forças da União Os portos dos
Confederados ameaçava seriamente o to das
fábricas inglesas. A crise já se fazia sentir nas
Ilhas Britânicas e algumas fábricas da região de
passaram a trabalhar ape nas três dias na
semana. Nessa conjuntura os ingleses tinham de
apoiar os escravistas do Sul.
A extinção total e efetiva do tráfico no Brasil
— verificada a partir de 1850 com a kÆi Eusébio de
Queirós — além das corueqüêneias econômicaa que
veremos mais adiante — contribuiu para um afluxo
mográfico, desta vez as Províncias do
Norte em face da necessidade de braços para a
lavoura cafeeira, como antes — embora por outros motivos
e em condições diversas — idêntico movimento se tenha verificado
para o centro da Colônia.
O mesmo fenômeno Tavares em relação à lavoura gens do segundo Banco do Brasil, "se viram repentinamente deslocados do café no Ceará. Em outro
local, ainda afirmava, analisando o mesmo do seu ilícito comércio." problema o autor das "Cartas do Solitáriœ, que o Amazonas, "onde o Viria, por outro lado, a
extinção do tráfico incrementar a imigração indio é o trabalhador do campo, o barqueiro e o criado, apenas possui de colonos Foram criadas 4 companhias
de colonização, como
851 escrav08 sobre uma população de 89.408 almas". (10 No Ceará, acres- vimos — datando m.8i8 ou menos dessa época o estabelecimento de uma "a população é
de um escravo para 14 homens livres". Em se- corrente migratória contínua estável no país. guida apontava as Províncias do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas
onde o trabalho escravo já não era preponderante na agricultura. Antes disto, porém, já como sintoma de decomposição da escravidão, as Colónias de ætrangeiros
eram instaladas em algung pontos do O latifúndio escravista do Nordeste e do Norte entrava em deca- território nacional. salientar, contudo, que ag primeiras
tendência e surgia em linha ascendente na economia nacional — o café. E atativas de associar o trabalho æcravo e o livre fracasara.rñ. As cob fazenda de café
tinha outras características que não se coadunavam commias, por isto, na sua grande maioria estiolaram-se de maneira lamena manutenção do trabalho
escravo.tável. O fato aliás era notado por viajantes que nos visitavam na época, Burton, que aqui esteve em 1868 e assim se expressou sobre o A extinção
do tráfico negreiro, de um lado, criou condições propí- assunü): "todos estão do fabo que a imigração e a escravicias para que os coronéis
decadentes, para quem o escravo já era umdão dificilmente podem coexistir". 18 ônus mais do que fonte de receita, pudessem vendê-lo às áreas do café; de
mentos outro lado, de capitais permitiu que urna eram fase anteriormente de especulação aplicados em larga escala pelos traficantescom movi-a'gumas De
fazendas fato Burton de café tinha de São carradas Paulo de não razão. lograram As tentativas êxito. Aumentava,feitas em

do comércio de carne humana e foram transferidog para outros ramos economia nacional. Inúmeras sociedades anônimas forag criadas. Em (ITA) Mauá
escreve textualmente; "Acompanhei com vivo interesse a soluçåo desse grave problema; compreendi que o contrabando _nåD podia reerguer-se desde que 1851
funda-se o segundo Banco do Brasil. A primeira linha telegráfica a vontade estava ao lado do Ministério que decretava a suspensäo do trá. é
inaugurada em 1852 e um ano após, funda-se o Banco Rural Hipote- fico. Reunir os capitais que viam deslocados do ilícito comércio cário, que
chegou a distribuir dividendos superiores aos do Bmco do fazê-los convergir a um centro donde Sr alimentar forças
Brasil. Em 1854 a primeira linha de 8trada de ferro li- do paLs, foi o pensamento que me surgiu na mente ao ter certeza que aquele o porto de Mauá à estação de Fragoso (14
quilômetros) . em fato nomes era da irrevogável como ( é . ) eabido. Consegui formar que uma dtretoria pequena composta Oteraçä_o dos memelhores ano mais tarde teremos outra estrada de ferro
funcionando: a que li- nhou durante vida curta do primitivo Banco do Brasil" (Visconde de Mauá: "Augará o Rio de Janeiro a São Paulo. De 1850 a 1860, esmæve um econo- tobiografia" com prefácio e
anotaç5ea de Cláudio Canna, R. de Janeiro. 1942. pp.
mista — se concederam 71 privilégios industriais, para a incorporação 126-27) (18) . Burton, R. F.: aos Planaltos do Brasil" (1888), S. Paulo, Tomo de 14 bancos de
depósitos e descontos e alguns de emissão; criaram-se I. p. 02. Zaluar também afirma, em æu livro de viagem que, em município paul.LSta 3 caixas econômic88,
organizaram-se 20 companhias de navegação a encontrou um representante mais conhecldos da lavoura que Own ele vapor, 23 companhias de seguros, 4 de
colonização, 8 de estradas de meios de "suprir de braços livres o» da tornando os escmvos hoferro, 2 de rodagem, 4 de carris urbanos com tração animal, 8 de
mine• mens Paulo. morigerados". 1945. p. 12 — CX Tavares : E. Zaluar: Bastos "Peregrinaçáo discutiu também Província o assunto de escrevendo:S. Paulty•.
S. raçäo, 3 de transportes e 2 de gás. As primeiras linhas de navegaçãovez de promover reformas recentemente kmbre.e um ministro de renovar
transoceânicas também época. Para a realização de muitosa impytacåo de Fornecer braços 18voura é o pretexto eom se Invoca empreendimentos
— e não incluímos neles os que podem ser facil- a intervenç50 do govelmo ta' fim vivamente condenamos. este mente identificáveis como sendo de capitais
— contribuiu o desvio da optniåo mal esclarecida: não é imigracäo de que capital dos antigos traficantes que, como disse Mauá ao explicar as ori-para ela é
o acanpanhoda aumento da de um triste cortejo bárbara de como o próprio As tráfico de negms.
esparñolas e ing'esa.s tun de sobra expiado o erro de importarem índios e ehtns•. nin
nos aproveitará a sua longa experiência? A do mundo este f 16 ) Tavares Bastos. A . C. "Jornal do Comércio". n' 239. de 1865. apud novo tráfico: haveremos de afrontá-la ? Demais, se
vamos emancipar o
PerdigSo Malheiro: "A no Brasil", S. Paulo. 1944, 29 vol.. pp. 356 prindo um dever de humanidade. como é que operamos ao trabalhador o '-manda, S. B. : "Rafzes do Brasil", R. de Janeiro, 19-48, p. 190 as.
asHtieo insuperável pela modalidade de 8aRú•io? E quem
Inúmeros outros fatos importantes poderiam ser aduzidos aos menEionados por despeas dessa importacäo hostil ao liberto? O povo inteim e, portanto. o Sérgio Buarque de Holanda.
O impulso da economia nacional poderá ser verificado próprio liberto rs20 é insusto e impolfUco; é aumentar através do seguinte: "De 18SO a 1860 RI príviléglog
industriais. para e chins do trabalho, abaixo do ao extremo limite; é a incorporaçao de 14 baneos de depósitos e descontos e alguns de emissäo; criaram- ergar e dirigir contra o negro
indfgena. contra 0 nacional. concorrência do 3 econthnica.s, oraganinram-se 20 companhias de navegacio a 23 adStico. NåD substituiremos a escravidåo pelo dissimulado trabalho servil
dos chins companhtaz de seguma. 4 de colonizaçåo, 8 de estrada. de ferro, 2 de rodagem, de embrutecidos ou de negros red1zid(B mlséria. FormaçSo da propriedade, carris com tracio
anlmal. 8 m(neraçåo. 3 de transparta e 2 de gás." trúpendência do povo, irxlependência do sufrágio tudo Isso viri (Cf. Castro Carreira: "Histórii mnancefra", zit8do por Gilberto Amado:
Mar- verdadeiro trabalho livre remunerado por justo . (A. C. Tavares gem da História da República", Rio de Janeiro, 1924, pp. 59.60). usto.: "A Provinda". Rio dv Janeiro, 1937 pp. .

38
por outro lado, de imigrantes que para cá quando os bmit8 cmtditio sine pam 0 da Mucuri. Prooeguimos a viagem e,
vinham apa a abdição, não como membros de colônias, mas como depore uma hora, &paramos fila de ehlne. se8, guiados por um feitor munido
imigrantes qæ tinham a sua viagem financiada, vendiam de cacete. que, do descanso do meto-dla. iam conttnuar o iniciado pelos negros
( ) Podiam ser SO a 60 chineses, na maioria moços. fortes. de menos de 30
antecipadamente a sua for* de trabalho e eram engajados no processo anos e bem parecidos. Ibdos vestiam apen8 as calças curtas chinæ.as e muitos
produtivo como trabalhadores lives. De 54.990 em 1887 passou a ser nem estas, de maneira que mœtravam bem os corpos musculosos. deixando
160 .OOO em 1889. Antes da Iboliçäo com a extinção do tráfico adivinhar uma raça de homens fortes. admiraçäo a cor da maLm• parte deles.
negreiro, houve quem pensasse em *nportar coolieg chineses para tlo que podiam tMnar.se por mulatos escuros mesmo por parb.-eEums.
trabalhar na nossa agricultura. naturalmente. a cabeça ( . Quase Impossivel ver algo mais miserável do que —
e acampamento dog Certo número de tendas estragadas exposiçAo ao tempo,
Algu1E chegaram a vir para o Brasil, não se adaptando, porém, ao ama• das em dois grupos, pemeávels ao sol e chuva, Igualmente para Bios e
sistana de trabalho vigorante. Teófilo Otôni chegou a levar muitos chi. doentes, espetáculo revoltante. repugnante. que a desumanidade aausaria nao
neseg para trabalharem na construção de estradas, mas depois de terem produziu a na fis'onomta do feitor." (Robert Avé LAnemant: "Viagem pelo
sido impŒtados pelo Ministro do Interior em 1855, ficaram morrendo Norte do BresiP• (no ano de 1859). R. de Janeiro. 2 vols. 1.0 vol.. pp. 184, 185,
à míngua. Teófilo Otôni empregou-os naquele mister, no que foi 186).
infeliz pois "os tratavam dum modo por demais duro", conta uma (19) Ainda a Imigraçao como tentativa de substitutçSo do trabalho es.
testemunha de vista. cravo pela m5n-de—obra livre. devemos nos referir às experiencias pelo
Vergueiro na sua ColônEa de Ibicaba e As paulistas. No ticular um documento
Vejamos, agora, o ritmo em que surgiram as colônias de Indispensável ao conhecimento do a.—unto é o livro DRvatz de um
imigrantes: em 1812 (antes, portanto. da Independência) é fundada no Brasil" (Trad. de Sérgio Buarque HaaDd8).
uma em Espírito Santo. Outra — a chamada D. Leopoldina — é
instalada, em 1817, no Sul da Bahia. Seguem-se inúmeras outras; 40
Nova Friburgo, em 1819. Forquilhas e Torres. no Rio Grande do Sul, experimental do que mesmo de participação direta na produção
já a independência, em 1826; São Laopoldo. na mesma Província, em global, vindo efetivamente o imigrante entrar como injeçäo pon.
1824. derável na vida econômica após a abolição do tráfico, na área de
Em Santa -Catarina a primeira tentativa de estabelecimento de dução cafeeira.
imigrantes dá-se no mo de 1827. Todas porém tinham am caråter mais As conseqüènciag diretas na economia trazidas com a extinção do
deæmbarque de não serio tão profundas como à primeira vista
( 18A ) •'Para iniciar nova em no demnvolvimento do Brasil, o Ministro
poderão parecer. Houve mæmo na agricultura como no setor do
do Interior. em 1855, anunciara importaç50 de chine*s e. de fatn, logo depas comércio e das finanças um equilíbrio que não se esperava. Perdigão
entra. ram algumas centenas de de rabLcbo do Celeste Imp&lo no Império de Malheiro mostra como o café. já principal gênero de exportação — o
S. Cruz. Mas ninguém sabia o que fazer eles e os pobres.diabos r" tardu•arn a açúcar, o algodão, o fumo, a goma-elástica, a erva-mate e o camu
verem.se numa sitnacäo premente ( ) Teófilo Otôni lembrou.æ entäo de levar o mantiveram-se em nível ascendente de produção, tendo (Bcilado apenas
maior número posfvel desses homens para o Mucuri, tomou a cargo número a de couro e diminuído a de aguardente, por haver desaparecido um dos
deles e na constrocao de estrada. Mas (kram.se muito ma' uma vez. porque os principais mercados consumidores do produto, que era a África.
tratavam de um modo por demais duro. Que fazem esses chineses hoje — o
Dr. português. E ele respondeu com toda franqueza. que só trabalhavam bem,
A extinção do tráfico foi uma etapa na marcha da Abolição. Extinto Luís Gama chegou mesmo a travar luta dentro do Partido Reptlb'i.
o corúcio negreiro — e esse fato todos já previam a abolição tornou-se cano Paulista em face da opœiçäo da agremiação a que pertencia
uma simples questão de tempo e oportunidade. O movimento frente problema. Não foi outra, aliás, a de Silva Jardim que, em
abolicionista passou para a ordem do dia até 3888, quando será defini. documento publicado ano de 1889, fez vigorosa análise da situação em
tivamente derrogada a escravidão nós. Inicia-se, com a extinção do que se encontrava o Partido Republicano, situação que, às vésperas da
tráfico, uma nova etapa na luta sustentada pelos abolicionistas em várias República, refletia bdo um processo anterior de manobras oportunistas
frentes, tendo de enfrentar ainda um período de árduas labutas. e acomodatícia.
A extinção do tráfico garroteou as forças escravocratas, lhes A prineira ala abolicionistas tinha colm método de reivindicação não a organi'açäo
as raízes econômicas, deixando-as de prolongar por
escravos, mas o trabalho de mostrar às ses dominantæ do Império os prejuízos morais da
muitas gerações a escravidão. Isto é, sem o tráfico negreiro, a es•
Diziam que somente com a persuasão, através do choque de idéias e da raciona.
cravidão não podia sobreviver por muito tempo, porque sem as levas de
escravos que vinham substituir aqueles que morriam ou servir à lização da opinião era possível fazer triunfar o abolicionismo. Esta camada, ou nelhor, esta
solicitacão de novas áreas de cedo haveria o encarecimento ala era a que incorporava no seu bojo elementos legais di campanha, que pugnavam por
proibitivo do escravo. Fato que logo se verificaria. uma simples modificação jurídica, sem abentarem na vinculaçäo social profunda do
movimenta Joaquim Nabuco, que liderou a corrente moderada, afirma em um dos seus livros
mais conhecidos e onde conta a história do movimento: "A propaganda abolicionista, com
S. Paulo, s/d.. onde relaçöez trabalho ectabelecidag no chamado "sistema de parceria" 850
analisadas com cuidado e A obra traz. ainda. em apêndi. vários documentos importante efeito, não se dirige aos escravos. Seria uma cobardia, inepta e criminosa, e além disso, um
a do problana. Ali", o livro de Davatz n50 somente neste particular é interessante, ma8 suicídio político para o partido abolicionista, incitar à insurreição ou ao crime homens sem
tamMm como (Epoimen. to que renebe a situaçio do pú época, a decomposiçäo da defesa e que a LÆi de Linch, ou a justiça pública imediatamente haveria de esmagar" . Mais
escravldäo e tenta• Uvas de eoexistêncla trabalho livre e escravo. As do chamado ''Siste.
ma de parceria" e suas irwuftciências säo também R»calizadas num enquadramento Nali" adiante esclareæ as razões de sua atitude: "Suicídio político porque a nação inteira vendo
e algumas vezes surpreendente. O autor, øna.i, no æt.a. belecimento do Senador Vergueiro urna classe, e essa a mais influente e poderosa do exposta à vingança bárbara e selvagem de
e liderou uma revolta de cmtra a situaçio em que se encontravam, movimento que grande uma população mantida até hoje ao nível dos animais cujas paixões, quebrando o freio do
alarma na épœa. A ex. periétreia foi analisada, ainda, em números sucessivos da revista "O
Auxiliar da Indústria Nacional" Nessa publicação egerevfa entre outras coisas o Sr. Carlos
medo, não conheceriam limites no modo de satisfazer-se, pensaria que a necessidade
Perral Gentil que "os proprietários etc.. etc., habituados 8 86 veEæm empregar.e bra urgente era Salvar a sociedade a todo custo por um exemplo tremendo e este seria o sinal de
escravos nos trabalhos agricolas, congideravam 08 brancos. cultivadores peagoaf8. como morte abolicionismo".
uma raça que apenas a cor diferençava daquela: e ba&ando seu racioclnio nes. te
pHnc1pio erróneo. n'O tinham para 08 colonos nem tratamento com costumes
eumpeuz, nem opinio favorável em razo do valor e considera• cåo que toda a parte merece Isto é, Nabuco desejava, no processo das lutas pela abolição,
o (NO 9. março de 1852. p. 3-30) A mesma publicaçSo inseN em números artigos excluir o escravo, exatamente aquele que representava um dos pólos
focalizando o problema. Há um traban10 assinado por F. L. C. Burlama-qut Livre", onde o
autor a necessidade da gub8tituiçi0 da escrav1dSO, nio baseado em corBide. raç5es da contra•
filantrópica', à bazo de uma em que monra a maior rentotii. dade da måo•.obra livre. (N' 1,
pp. 6 —J . Nos diversos números do "Auxiliar da Indústria Nacional"
encontram-se trabaThos abordando o probkm• fato que demonstra o (ISA) A divi_gSo que fazemos do movimento abolidonista em duas alas fun.
Interase que o usunto vinha despertando na sequência das próprias nece—idRdes da damentais nio significa que desconheçamos ou não levemos em conta as várias
agricuRura. gra-
41
Desde 0 seu início o movimento abolicionista trazia no seu bôjo, dag5es ideológicas de que revestiu, ou queiramos impermeabilfzi•la.s quaisquer Inter-relações. Pw• quest6es
metodológleas, slmplifien.moe o sem, no entan. to, de que dlvisäo significa apenas um corte à
de modo geral, dtng alas: de um lado militavam aqueles que perten. distancia de um problema histórfco muito mais complexo. Como, no entanto. neste capitulo, deseja. mos apenas
ciam als modenda do movimento, chefiada por Joaquim Nabuco; do fazer um apanhado sintético dos que vio do início da à abollçio. terminando com um ideolefea do
outro, atavam os mais radicais, como Silva Jardim, Luís Gama, Antônio abolictoN1mo, achamos que a diviso justiflca de quaiquer maneira, eram que, arestas dos
Bento, Raul Pompiia e inúmeros mais. detalhe-a» imprimiam dinamismo às idéia8 que formavam contr& o trabalho servil.
(20) Cf. Vinhas de Queirós, M - : "Uma Garganta e Alguns Niqueis", R. de
Jar*lro. 1947
(20A) Nabuco, J. : "O Abolicionismo", R. de Janeiro — S. pau10, 1938, p. 25. desfraldado as •ælag por "um oceano onde voga também, o navio
42 pirata denominado "A Internacional". . Meu•no depois da
diç.§o fundamental da sociedade brasileira da época. Toda a sua Abolição, os con-
atitude este pensamento expresso em 1889 .
A outra ala abolicionista — que poderemos chamar de radical (21) Cena que Sud Menucci dá ecmo no Júri da cidade de
dirigia por sua vez as visus e atividades cotidianas mais para os Ar..ra• quara_ Cf. "O Precursor do AboUcfonismo no Brasil", R de Janeiro,
próprios escravos do que para os jurídicos, organizando— 1938 e •'Retrato do Poeta Lufa Gama", ClóvfB Moura, in "Fundamentos", n'
os para que lutassem com as próprias forças contra o cativeiro. Luís 41, 1956. p. 7 SB— Raul Pompéfa escrevia. também, em artigo de jornal: "A
Gama será o mais notável dos seus líderes. Sendo ex-escravo e humanidade só tem a felicitar-se. quando um pensamento de revolta pa-sa
tendo experimentado ega situação, tornou-se o porta-voz de peto cérebro oprimido dos rebanhos operários das fazendas. A idé'a da
centenas de escravos que, de várias formas, através dag fugas, indica que a natureza huma• na ainda vive. Todas as violências em
compra de alforria etc. se conformavam com o status que estavam prol da liberdade — violentamente acabrunhada devem ser como vinditu
untas. A maior tristeza doa abolicioni*as é gue estas violências nåo sejam
submetidos. Embora não querendo diminuir o papel de Joaquim
frequentes e a conflagracäo nân seja geral". Enéiaa GaavSo, Alberto Torres,
Nabuco — uma das figu. mais ativas e respeitáveis do — Raimundo Correia e Augusto de Uma de acor. do com termos do
desejamos dizer, no entanto, que enquanto ele tomava posição artigo do de 'IO Ateneu" .
tímida e de urrB prudência que hoje a História não justifica, (22) Vinhas de Queirós, M. : cp. cit.. p. 108.
combatendo a "vingança bárbara e selvagem" dos escravos, Luís (23) Pereira, A. : "Interpretacö•", R. de Janeiro, 1944, nota pigin•
Gama tomava posição oposta. Dizia, em pleno que o 201Ainda segundo Astrojildo Pereira no voto de Souaa Carneiro projO de 15
acusava de acoitar negros fugidos, que o escravo ofendido no œu de Jlkl_ho lê-se que o mesmo nio passava de "pNtexto para a agitagåo,
direito, que assassinava o seu senhor, praticava um ato de legítima reva:uçäo e
Posição que reflete de maneira lapidar a forma de ação de duas alas 43
do abolicionismo. Silva Jardim foi outro po. lítico atacado pelas suas versas Províncias. Em 1883 funda-se a "Confederação Abolicionista"
posiç3es "muito radicais". O wnhecido tribuno visitava, em que dirigirá o movimento em todo o território nacional. 26
companhia de outros abolicionisus, os quilombos que existiam na
No Ceará houve greve histórica dos jangadeiros contra o
periferia de Santos, é o que afirma Maurício Vinhas de Quei• rós, embarque de escravos, liderada pelo práticc-mor de Fortaleza,
um dos seus biógrafos. (22) Francisco José do Nascimento, cognominado "O Dragão do Mar".
Contra a idéia abolicionista, porém, levanta-se a opinião Francisco José do Nascimento foi trazido depois para o Rio de Janeiro
conserva. dora que os interesses dos grandes fazendeiros onde provocou incidente entre elementos escravistas e antiescravistas
do Nordeste e donos de fazendas de café em São Paulo do
— postados nos æug pontos de vista de classe. Qualquer tentativa Por outro lado, o incremento das atividades industriais nas últimas
de reforma, mesmo de urra timidez que hoje nos faz rir, era recebiu décadas que precedem à Abolição iria formar uma classe operária que,
no Parlamento com violentos ataques da maioria escravista. embora pequena, tormu posição contra o escravismo.
Inúmeros projetos não foram objeto de discussão. A I_£i do Ventre 27
Livre (1871) encontrou no Parlamento a oposição mais cerrada. O Os tipógrafos de Fortaleza negaram-se a executar qualquer
Gabinete Rio Branco era azuodo de "Governo comunista, governo impresso que defendesse a escravidão. A Imperial Associação
de morticínio e de roubo". Segundo Rui Barbosa, certo deputado Tipográfica Fluminense, ao ter conhecimento de que entre os seus
dissera então que o Gabinete Rio Branco havia associados havia um escravo, designou uma comissão para libertá.lo. E
Luís Gama, no Centro Operário Italiano, em Sio Paulo, pronunciou
muitas conferências abolicionistas. Inúmeras outras manifestações
operárias contra o escravismo podem ser citadas. Antônio Bento, ao
organizar a ordem dos "Caifazes". destinada a dar fuga aos escravos, como dos senhores de engaiho e faaer•g. Assim, famílias ante a
conseguiu criar urna verdadeira rede, ligando-se aos ferroviários de São desagregação das relações institucionais que os graus de hie• rarquia
Paulo. "Não havia trem de passageiro — afirma um historiador — no no campo, não mais podendo eúbelecer aquele sistema de barragem
qual um negro fujão não encontrasse meios de esconder-se, como não social que era inerente à sociedade escravista e sem o qual as relações
havia estação onde direta. mente alguém o não recebesse e orientasse". senhor-escravo entravam em de deterioração, retiram• se
2
8 para as cidades, vão compor o setor populacional urbano, com receio
Numa situação como a que apresentamos, o tmbalho escravo das fugas, das revoltas e de outras formas de reaçäo do escravo. Um
estava em decomposição; os escravos na sua maioria já estavam autor insuspeito no particular, como Oliveira Viana, pinta desta
convencidos de sua situação de explorados e, em maior ou menor grau, maneira o quadro da época que antecede ao "Os escravos se
desobedeciam às ordens dos seus senhores formando quistos que não levantavam, e passavam a desconhecer a autoridade dos senhores.
era mais circunscritos aos quilombos mas se manifestavam dentro das Desertavam dag senzalas; partiam em massa; cerca de dez mil
próprias senzalas. Mesmo dentro do baixo nfve] de produtividade desœram aa encostas de Cubatão para o asilo de Santos. Outros
médio, a faina dos escravos não tinha mais aquela rentabilidade dos fizeram.se cons. piradores em conjurações perigosas. Outros,
primeiros tempos, já pela æbelando•se, assassinavam os senhores". Era portanto o fim de um
sistema de trabalho que não mais correspondia às exigências do
dinamismo da sociedade brasileira.
I
AndN Re(26) Compunha sua O trabalho escravo cai ainda mais de rendimento. E note-se: a
comisséo os 8<11 ntes abolicioniF.tas.• Joäo Clapp. bouças, Bittencourt
Sampaio, João Paulo Gomes de Matos. Júlio de Læmos, Alberto Vítor, Tenente
sua média de rentabilidade já era uma das' mais baixas do mundo em
do Exército Manuel Joaquim Ferreira, Eduardo Nogueira. Dr. Pau Brasil, José con. seqüência do desinteresse pelo produto do seu trabalho e da
dos Santos Oliveira, Jarbas S. dag Chagas e Domingos Gomes dos San. tos. O rudimentaridade dos meios de produção empregados, já que o escravo
Conselho Deliberativa era formado por Aristides Lobo Frederico Júnior, JOIO era, para os produtores da época, um animal de carga como outro
Augusto do Pinho Batista, Evaristo Rodrigues da Costa, Lóis Pires, Joio qualquer. A Ia, voura arruína-se, especialmente no Leste e Nordeste
Ferreira Serpa Júnior. Procópio Russel. Dr. Leonet Jaguaribe. Adolfo Ebstein onde a escravaria Já era um peso morto em uma economia não apenas
Júnior. Capitio Emiliano Rosa de Sena. Abel Trindade. Tenente do Exército em decadência, mas em franco processo de decomposição. Os
Nabuco de Araújo, José de Artmatéa e Silva, Luis Rodrigues da Silva, Eugênio escravos fluminenses incendiavam canaviais e fugiam-
Bittencourt, Antônio S. Brasil.
José Maria da Cœta, J. Campos porto, José Maria Barreiro, José do Patrocínio, Nestas circunstâncias, o povo — já bastante trabalhado pelas
Dr. José dos Santos e Miguei Dias. idéias abolicionistas — acoitava os escravos contra perseguições de
(27) Sobre primeirag manifestacöes da classe operária ver: Astro'ildo senhores e autoridades; as leis contra esses atos, por seu turno, não
Pereira: "Lutas Operárias que Antecederam a Fundaçåo da Partido Comunista eram aplicadas. Juízes recusavam-se a aplicar a pena de açoite no fim
do Brasil" in "Problemas", n• 39. março-abrfl de 1952 — Everaldo Diag "Lutas do período em que perdurou essa forma de castigo. Autoridades
Operárias no Estado de 8, Paulo" i" "Rev18tA Brasiliense" e "História das Lutas
Sociais no Brasil" (S. Paulo, 1962) — H. unhares: eAs Greves Operárias no
negavam-se muitas vezes, a receber nas cadeias escravos fugitivos.
Brasil Durante o Primeiro Quartel do Século XX", Sociais", 1958 tendo o Clube Militar, que no momento con tava com elementos
— Va. democráticos na sua diretoria, respondido ao Trono em 25 de outubro
ntlreh Chacon: "História das socialistas no Brasil", RIO, 19-65 — Jover de 1887 salientando a repugnância de grande número de seus
"O Movimento Sindical no Brazi_l'•, Rio, 1962. associados em servir de capitão-do-mato.
(28) Mana doa santos, J.: "Os Republicanos paulistas e a Ab01iGi0". S.
Paulo. 1942. p. 179. Dentro desse conjunto de razões havia outras também
importantes impulsionando a marcha do abolicionismo : era, como já
46 dissemos, a pouca rentabilidade do trabalho escravo frente ao
tomada de consciência dos mesmos da sua situação de oprimidos, o salariato. Em alguns ramos da produção nacional o trabalho servil já
que levava a posição de revolta e oposição aos senhores, já por havia sido abolido pareia' ou inteiramente. Especialmente na indústria
econômicas que escapavam ao seu controle e conhecimento, bem têxtil E outra: o escravo quase não consumia. A
burguesia nascente e os industriais inglêses que dominavam o 28 -A ) Simonsen, Roberto C. "História Económica do Brasil",
mercado interno brasileiro, cada um por motivos diferentes, ou S. Paulo. 1937, tomo I, p. 202.
melhor, antagônicog, tinham interesse, naquela época, em ampliar 29 Comentando 8 decadência da produçäo açucareira. Luig Amaral
"Os engenhos æntrais 86 podiam os mercados vßsto como os internos se contentavam
egse mercado para que fosse proporcionada a absorção dos seus com a dos bangue e, sobretudo, iam se arranjando com a rapadura, que cada reglSo
produtos. A economia baseada na escravidão acenava com essa agrfeola produz para o próprio consumo, 86 se apelando para o açOcar no temporo
perspectiva. Por outro lado, em consequência da decadên:cia do dos remédios; sendo exigentes os externos e nio sendo da melhor qualidade produção,
Nordeste, debatia-se a agricultura daque!a área — até então começou crescer no exterior 8 indaztri_a de sucedâneos, e a cair noaxa exportaçäo
paralelamente ao aumento da pro• åuçåo." (Lufa AmaraR: — •'História Geral da
Agrfeultura Brasileira". 29 tomo. S.
47
Devemœ ponderar, porém, que entre Os livres havia milhares de
a mais importante do pafs — em pmfunda criæ, agravada com a pessoas que viviam em condições de escravos. Os libertos
extin• cão do tráfico, crise que era profligada por Perdigão não eram outra coisa senão escravos disfarçados. Mesmo assim, não se
Malheiro, na Ca. mara, quando afirmava: "as dívidas ficavam e com pode negar a queda vertical da população escrava no conjunto da so.
elas 08 terrenos aos especuladores que compravam os aos ciedade Nas cinco principais Províncias do país, 1882, (São
traficantes para revendê-los aos lavradores. Assim a nossa Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro)
propriedade terri. torial ia mãos dos agricultores para os segundo depoimento de Joaquim de Godoy, citado por Jovelino M. de
especuladores e traficantes". Por outro lado a média de vida do Camargo Jr. era essa a populaçüÞ:
escravo era muito exígua : sete e dez segundo época.
28-A Tudo contribuía, como veróos, para que o trabalho escravo
fosse, na fase em que se encontrava a economia do país, um sistema (29. A) "O Africano livre, entregue ao serviço de particulares ou de estabeleci.
obsoleto para a época. mentos públicos. nao de um verdadelro escravo: os que desfrutam seus serviços náD caem
na asneira dc facilitar-lhe a emancipação. e. como es .ravo que é dc fato. não pode adquirir
Como agravante crise que já tinha ag suas causas meios pecuniários com que pague a advogados e procuradores para tratarem de sua
fatores internacionais entravam em jogo e contribufam para que a emancipaçao.
*ue.se, portanto, que estes infelizes devem resignar-se ecm a falha da lei, ou espcrar
duçåo do açúcar entrasse em decadência: o trabalho escravo, que o acaso lhes depare um protetor deslnteressado e que, revestido da mais evangélica
rotineiro, de fraco rendimento e rudimentar, não estava em caldiçöes paciência. se prepare 8 sofrer e acompanhar todas as seguintes provas desta nova
de produzir artigo em nível de preço qualidade que pudessem inquisiçao moral:
1') — Pedir ao escrivåo doa africanos a certidão demonstrativa de que é passado o
competir com o Havaí, Antilhas, etc., que o produziam por métodos lapso de tempo.
mais racionais, usando o trabaiho livæ em suas Além Requerer ao governo imperial por intermédio da secretaria da justiça.
disso, a produção do açúcar beterraba, que entrava na balança
— O ministro da justiça manda ouvir o Juiz de órfåos.
comercial da Europa. influía ainda mais para a decadência de nossa
— O juiz de órtúos informa e faz volver a petiçåo ao ministro.
produção açucarûa. O café, que já era nosso principal produto de
5') O ministro manda ouvir o chefe de policia.
exportação, passará a ser o eixo em torno do qual girará a economia
nacional. 29 — O chefe de policia manda ouvir o curador geral.
O curador geral dá a sua informação e faz voltar a petição ao Chefe de
A escravidão decompunha-se. externos e internos
8') — O chefe de policia manda ouvir o administrador da casa de correçäo;
levariml o uaba.lho escravo ao impasse cuja solução foi a Abolição. 90 O administrador da casa de eorreçAo informa e faz voltar à gect•ctåria da
Nos anos que precederam ao 18 de Maio, o númerö de escravos e justica.
sua proporção dentro do conjunto da população do país diminuíra IO') — O chefe de policia informa e faz voltar secretaria da justiça.
consideravelmente. Vejamos : 110 A secretaria faz uma resenha de todas as para o minlstro despachar.
120) O ministro despacha afinal, mandando passar a carta de liberdade.
Anos População População % da populaçõo Este quer
esouva 80bre o 13') — Volta a petlcåo ao juiz de órfãos.
eemva 14•) — E expede-se um aviso ao chefe de policia.
total
1850 5.520.000 2.500.000 31
1852 8.429.672 1.510.000 15
1887 13.278.616 723.419 5
150) — O juiz de remete a petiç-ÄD ao escrivåo Q faz passar a carta, que
este demora em seu poder até que a parte vá pagar os emolumentos.
— Remete-se a carta ao chefe de polícia. (30) Camargo Jr. J. M. : "A Abolicio e suas Causas", in "Estudos Afro-
— O chefe de policia oficia ao administrador da Casa de correcåo mandando vir o Brasi1ei. ros", R. de Janeiro, 1935, p.i6B.
africano. 50
— O administrador manda-o. e o chefe de polícia designut o termo ou município CAUSAS PRINCIPAIS QUE DETERMINARAM A
em que há 'de residir.
19?) O chefe de polEcIa d. corte oficia ao da provincia, a que pertence o termo ABOLIÇÃO DO
d&ignado. e remete-lhe o africano acompanhado de carta _ TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL
209) — O chefe de pollcia da provincia oficia, remetendo o infe!iz e a sua carta à
autoridade policial lugar para onde o Chefe de poTfcia da corte aprouve designar D
degredo do homem livre c Mo cmtdenado crime
E depois de todo o trabalho. de despesas feitas corn procuradores ou veiculos para que
8 peticäo nto ticasæ sepultada no mare magnum de nossas repartiçöes. o misero consegue
ser bwnüio do lugar em quæ residiu por dez, qwEnze, e vinte «utas, em que adquiriu Causas Externas Causas Internas
PaU10. 1940, p. 79). tereS3e8!" (Artigo do Diário do Rio Janeiro. 1863).

48 49
raizes, Em que a o seu 'ut.cro, seus in-

1) Pressão política e militar da 1) Abolição do tráfico de escravos


Trabalhadores livres . . 1.433.170 Inglaterra ; africanos com a Lei Eusébio de
Trabalhadores escravos . 656.540 2) Formação de um mercado Queirós ;
dutor de açúcar em outras 2) Queda da produção e crise es-
Desocupados 2. .588 áreas, especialmente as Anti- truturai da área açucareira
lhas ; nordestina e consequente deca-
Os desocupados eram ex-escravos marginalizados que depois
iriam ingressar na faixa dos servos que aumentariam progressivamente 3) Aparecimento de um sucedâneo ciência do trabalho escravo;
no Brasil. A qualificação do trabalhador só podia ser feita à medida que do açúcar de cana e gua aceita. 3) Aparecimento das primeiras
ele ingressasse naquela nova classe que surgia: a classe operária. Na cão no mercado europeu ; indústrias de transfonnação
capital baiana, pouco depois de extinta a escravidão, existia a "União 4) Política migratória ofensiva que exigiam mão-de-obra livre;
Fabril" que englobava seis fábricas de tecidos com um total de 805
dos países europeus em face 4) Mínima rentabilidade do traba-
operários trabalhando an 358 teares.
dos seus excedentes populacio- lho escravo em comparação
Era toda uma conjuntura econômico-política delicada e complexa
que se apresentava ante os olhos da Regente: uma economia em com
decomposição e uma opinião pública que, na sua quase totalidade, naig ; o livre;
condenava o sistema de trabalho que predominava ainda na agricultura. 5) Interesse das nações capitalis- 5) Surto do café, cuja unidade
Certamente, sentindo-se forçada ante o império das circunstâncias — tag, especialmente a Inglaterra, produtora — a fazenda — não
um ano antes mandara espingardear os escravos fugidos — deveria de criarem um mercado consu- se adaptava ao trabalho escra-
raciocina. do como, tempos depois, fænte ao problema da revolução
que se aproximava, exprimiu•se um Þlítico brasileiro, exclamando: midor interno fato vo e se desenvolvia com uma
"Façamos a abolição antes que os escravos 8 façam. . Era o medo da que motivou, anteriormente, a dinâmica interna capaz de ab-
"vinmnça bárbara e selvagem", de Nabuco, tomando forma juridica : a extinção do tráfico de escravos sorver a mñc-de-obra livre, in.
Lai Áurea. . . no Brasil ; clusive a importada;
6) Necessidade, por parte dos 6) Chegada de imigrantes estran-
manufatureiros ingleses de am. para os trabalhos agrí-
pliar o mercado consumidor colas ;
brasileiro. 7) Campanha abolicionista com a
participação da intelectualidade
e da classe média;
8) Lutas dos próprios escravos.

As causas acima não foram enumeradas de acordo com o seu grau


de importância, pois elas tiveram maior ou menor influência de acordo
com os elementos circunstanciais de tempo e espaço. de vê-las,
portanto, como um conjunto dinâmico que se interpenetrava, muitas
vezes gerando coxúiitos agudos, outras vezes impulsionando movimento
Escravos nos Movimentos
"legais" dentro dos quadros institucionais vigentes.
Políticos

participação dos escravos nos movimentos políticos que ocorreram durante a Colônia e
o Império foi decorrencia lógica da øiff.åaçäo em que se encontravam. Na base da
pirâmide social, a classe escrava constituía a força produtiva mais importante. Se,
demograficamente, pesava de maneira esmagadora, tinha, no entanto, contra si, a
alienacäo em que se encontrava, alienação que — no caso particular do escravo — tem
especffieas que devem ser analisadas.
ùn primeiro lugar, dentro do conjunto da sociedade, não era B classe que estava
ligada aos meios de produção mais Pelo contrário. Era fator de atraso
do próprio processo de desenvolvimento meios. Por outro lado, ele não
produzia mercadorias dentro de um sistema que dificultava o desenvolvimento
dag produtiWs, mas se constituía, também, em mercadoria, em objeto de tzoca.
Era, portanto, força produtiva no seu sentido dentro da sociedade mas,
ao
mesmo tempo, do ponto de vista do senhor de escravœ, simples meio de produção;
equiparao aos animais de traçäo que eram utilizados no funcionamento dos engenhos e
em outros setorea de atividade econômica. (1) Não por era considerado simples coisa,
pois, dentro do regime não pasava, de um instrumento. Não vendia a sua
força de trabalho, mas era considerado pelo ænhor de escravos um simples instrumento
de trabalho, de vez que o direito propriedade se egtendia å própria pessoa do escravo.
tava mercadoria, já que "a compra e venda dos escravos é, tam• bém. quanto à sua
forma, compra e venda de mercadorias". (2)

(1 ) "0 escravo No venda a sua força de trabalho 80 de escravos, assim


como o bot vende o produto do seu trabalho ao u.mponu. O escravo é vendido, com
sua força de trabalho de uma vez para sempre a seu proprietário uma mercadoria
que pode mh08 de proprietário para as de outro.
Ele mesmo é uma mercadoria, mas sua força de trabalho nio sua
— (Marx, R.: "Trabalho Assaža.rtado e Capitar', Rio p. 22) — "A força se com a
pessoa do no transcurso de toda zua existência futura. NSO pode assim computar
nela. menos com rigor suficiente, o caot•ço na das diferentes mercadoMas, cada
uma per ai. (Prado Jr. calo: "Esboço doe Fundamentos da Teoria Econ•smiea", S.
Puno, 1957. p. 41).
(2) Marx. K. "El Capital", tomo 2 p. 41.
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Sem falan•nos na situação material em que viviam e a que @aixeiros de casas comerciais, enfim juntamente com todas as
estavam subn•etidoa através de diversos métodos de coerção social, pessoas que tinham rendimentos líquidos inferiores ao valor de 150
temos de atentar — para compreendermos a sua participação em alqueires de farinha de mandioca. Para os eleitores de segundo grau,
movimentos que surgiram conduzidos por elen-Entos das outras que escolhiam os deputados e senadores, exigia-se um de
classes sociais — nas restri. ções politicas totais a que estavam 250 alqueires e, para que o cidadão fosse candidato a
sujeit08. A economia escravista, montada no Brasil desde os deputado se exigia a soma de 500 alqueires (1.000 para senadores),
primórdios da colonização. considerou, como não podia deixar de ser, além da qualidade de proprietário, foreiro ou rendeiro por longo
o escravo um simples objeto. Havia, nas Ordena. prazo, de bens de raiz ou fábrica de qualquer in•
Manoelinas, um título regulando "De como se podem rejeitar
Escravos ou Bestas por Doença ou Manqueira". Dizia Perdigão (3) Malheiro, P. •'A Escravidåo no Brasil", p. 17. Ainda para Ilustração de
Malheiro no seu insubstituível trabalho sobre a escravidão no Brasil, como vlvia o escravo durante o regime escravista, transcrevemo. este trecho
que "nem lei alguma contemplava o escravo no número de cidadöes de Ro. drigues de Carvalho sobEE o assunto: "Agora vejamos o que
ainda nascidos no Império, para qualquer efeito em relação à vida cancrettzava em no Brasil. deste Brasil já separado da Metrópole, portanto à
social, poif• tica ou pública. Apenas os libertos quando cidadöes sombra do •'pendåo auriverde".
brasileiros gozam de certos direitos políticos e podem exercer alguns "Os juiæs de Paz Mo podem acoitar escravo algum, sem que primeiramente o
cargos públicos". ( 3 ' tenham devidamente e sentenciado com audiência do senho?' (Aviso de
16.6.1837).
Na Constituinte de 1823 são sumariamente excluídos do direito •'Näo pode o escravo dar queixa contra pessoa alguma, ainda que seja
de voto, juntamente com os criados de servir, os jornaleiros, os contra aquele que o quer conduzir escravidade" (Acórdäo da Re'açao do Rio
de 1-4.1879).
"Nio pode o escravo ser considerado pessoa miserável para que em seu amiudavam e aprofundavam à medida que certos setores dessas
lugar o Promotor público poesa agir contra quem o ofenda criminalmente" camadas adquiriam relativo poder econômico. Tal diferenciação era
(Aviao de 2-4.1853). Suprema irrisåo! decorrência do desenvolvimento
Sem termos gue citar as üsposiçöes do C"-d. Penal de 1830, peog*gue o autor que
estamos citando — para se uma idé'a do conceito em gue era tido o escravo perante a
lei. transcrtver 0 seguinte pam Instrulr uma condenacåo: (3A) Prado Júnior, C. : "Evolugäo Politica do Brasil e outros ensaios" S.
"Na sentença em que for o condenado a açoites, deve o juiz que a pauto. 1%7, p. 53.
proferir, também a trazer um ferro pelo tempo e maneira que for desgnado (SB) "Se esSravos fossem caadœ8 braailoiros, a lei particular do Brasil
conforme o artigo 60 do Cód. Criminal" (Paula Sou_m, Cód. do Proc. Criminal) . poderia talvez, e em tese, aplicar-se a eles; de fato nio porque. pela
"A mancebia entre senhor e escrava nao lhe minora a condiçäo de escravo, Constituieäo. os cidadöeB brasileiros nåo podem ser reduzldos condiçåo de
nem os pr6prlos filhos do senhor Elo libertos" (Acórdão do Trib. de Ouro Preto, escravos. Mas os escravos não såo brasileiros. desde que a
"Direito". Constttuiçåo só clama tais os ingenuos e os libertos. NSO sendo cidades
"Se for condenado a açoites, libertando-se näo sofre aquele castigo mas fica pte brasileiros eles ou 850 es ou nao tem pátria. e a lei do Brasil nio pode
("Direito" vol. 7). Autorizar a ung e de outros que nio estio sujeitos a ela pelo Direito
"Por ter morto um administrador fol o escravo de menor idade condenado Internacional no que respeita liberdade peaaoaL A Ilegalidade da escravidäo
à morte" (Acórdåo do Tribunal de porto Alegre, em 1876. vol. 7) . é assim insanável. se a con. sidere no texto e da lei quer nas forças e na
"O escravo fugido nAo pode pleitear a sue liberda&. alna. mesmo com competência da mesma lei". (Nabuco, J.: "0 Rto-Säo Paulo. 1938. 111).
indeni (Aviso do Ministro da Agricultura — "Direito". vol. 25. (Carvalho (4) Portaria do Chefe de Poucia da de Salvador. MS do Arquivo Pû.
Rodrigues de: "Aspectos da Influência Africana na Formaçåo Social do Brasil", do Esta&o da Bahla. — E mais: escravo ainda é uma propriedade como
"Novos Estudo, Afro.BraSleiT0S", Rio, 1937, p. 27. qualquer outra, na qual o senhor de um cavalo ou de um móvel".
(Nabuco. J.: "0 Ab011clomsmo••, RiO..Sao Paulo, 1938, p. 39) —
56 "Assim como se dá algum aos boiz, e cavalos, assim dC, e ma.lor
dústria. Os escravos, carno é óbvio e já ficou dito linhas acima, não razåo por ocuaos escravos" . ( Antonil. André Joio: "Cultura e Opulência do
eram considerados brasileiros; passamm a ser brasilei. Brasil", Bania, 1950, p. 39).
ros, mas não cidadãos, fato que levou Joaquim Nabuco, na análise "No Brasil costumam diur. que para o escravo são necessários três PPP a
que fez do regime, a mostrar a sua ilegalidade dentro do próprio sa. ber. pau, p" e pano. E posto que comecem mal. principia no castigo, que é
formalismo do Direito da o pau: contudo prouvera a Deus, que tão abundante o comer, e o vesurt
como muitas vezes o castigo dado por qualquer coisa pouco provada, ou
Os de defesa da sociedade escravista um sistema levantada; e com instrumentos muito rlgor, ainda quando os crimes 'ao
de peneiramento social no processo eleitoral capaz de preservar as certos de se MO nem com os brutos animais, fazendo algum senhor maia
suas de qualquer possível abalo. O Estado era uma sólida cara• Caso de um cavalo, que de meia dúzia de escravos: pois o cavalo é servido e
paça que — através de elementos d12 pressão — mantinha 0 8taús tem quem lhe busque capim, pano para o suor. e sela, e freio dourado"
quo, escudado em um conjunto de leis completamente reflexas do (Ibid.. p. 65) ,
regime cravista. "O escravo era apenas um instrumento de trabaaho, uma máquina; nio
Segundo depoimento datado de 1835 — documento aliás que é passivel de qualquer educaçåo intelectual e morEt ( . ) condfçio de co-iea
peça do processo de repressäo à insurreição de escravos ocorrida como os Irracionais aos quais eram equiparaW' P.: "A Escravi. då0 no Bra.au",
naquele ano. em Salvador — não "gozávam de direito de cidadão, t. II, Sio puno, p. 27).
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nem privilégio de estrangeiro". (4)
do comércio e do de algumas indústriag de transformagio,
Tal situação levou a que os elementos cativos desde muito cedo que, por seu turno, tinham o seu desenvolvimento impedido
par. ticipassem como aliados e muitas vezes como elementos pela Metrópole, durante a Colônia, e pelos setores que represenuvam
destacados e até decisivos nas lutas, levantamentos e tentativas de a agricultura latifundiária-escravista, durante o Império. A contradição
sedição que diversas camadas sociais realizaram ou organizaram era bem clara e foi notada por muitos estudiosos do tempo: o
durante o nosso desenvolvi. mento histórico. Esses movimentos se
latifúndio escravista impedia o surgimento de uma burguesia que se (6) Ver o trabalho de Afonso Arinos de Melo Franco "As Idéias Políticas
formava como camo seu elemento subsidiário e muitas vezes da InconfidAncia", in "Terra do Brasil". Rio. 1939.
inici81mente complementar, mas que, paulatinamente, cristalizava (1) Silva, J. Norberto: "História da Conjuraçäo Mineira", Rio, 1948. P. 79.
interes. ses próprios e entrava em choque se não pelo menos de (8) Rev. do Inst. Hist. e Geog. de Minas Gerais. vol. III, 1959,
flanco, com tai sistema. "Requerimento de D. Antônla Marfa do Espirito Santo pedindo devotuçä.o da
escrava Maria que lhe fôra doada por Joaquim José da Silva Xavier (O
No bojo de tal contradição o escravo se encontrava, de um lado, '"radentes) p. 426 ss.
como força de trabalho decisiva das formas tradicionais de economia,
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mas. de outro, transformava-se progressivamente em negação dessa
Voltando à nossa análise, temos de constatar que os Autos de
economia. E à medida que se integrava no processo de transformação
Devassa são o único documento que conhecemos capaz de explicar,
dessa fon•na de trabalho, integração que muitas vezes, ou melhor,
em certo sentido, este aspecto de um movinænto já por si mesmo
quase sempre, não tinha caráter consciente, criava os elementos para
confuso; capaz de explicar como aqueles "duros braços ao trabalho
que o processo de alienação passasse a se desenvolver no outro póto,
feitos" se compor. taram ao saber que na Capitania se tramava um
na classe que, divorciada do processo de produção, era quem auferia
movimento que tinha, entre outros objetivos, acabar com o instituto
todos os seus proventos: os senhoreg de. escravos.
da escravidão.
Na malograda revolta de Filipe dos Santos, em Minas Gerais, José Alvares Maciel, filho de um capitão-mor de Vila Rica, ao de.
temos notícias da palticipaçäo no movimento de "pottugueses com os por nos autos afirmou que "sendo o número de homens pretos e
seus negros", que foram pæsos. No dia 28 de junho de 1720, sete escravatura do paíg muito superior aos homens brancos, toda c
rados, juntamente com muitos pretos, armados, derivaram do qualquer revolução que aqueles pressentiam nestes, seria motivo
morro onde se encontravam, invadindo e depredando diversas casas. para que eles mesmos se rebelassem". O receio do filho do capitão-
Em seguida, intimaram o governador a não abrir novas casas de mor era endossado por Alvarenga Peixoto. Outros inconfidentes
fundição. viram na escravaria de Minas Gerais àquele tempo organizada em
quilombos em diversas zonas da Capitania, material humano e social
Em outro movimento, a Inconfidência Mineira — como na revolta muito importante. O Sargento Luís Vaz de Toledo propunha que os
de Filipe dos Santos — o papel do escravo como reserva social do
escravos participassem atlvamente da luta juntamente com eles,
acontecimento ainda não foi suficientemente estudado e esclarecido.
pois "um negro com uma carta de alforria à testa se deixava a
Que os inconfidentes, de um modo geral, eram abolicionistas, não há
morrer".
muitas dúvidas. (6) Mas, até que ponto esperavam que os escravos
Como já dissemos, em Minas Gerais, ao tempo em que os
aderissem e participassem da revolta é que não está bem claro.
inconfidentes se reuniam para discutir o movimento, os escravos
embora fosse Minas, na época, um dos maiores focos de quilombos do
estavam em franca ebulição. Tinham-se ligado os da cidade aos
Brasil.
quilombos do intcrior da Capitania. Daí porque, em Sabará, segundo
Tiradentes, segundo Norberto de Souza Silva, chegou a possuir depoimento de Brito "se puseram uns pasquins que dizem que
três escravos nas suas malogradas tentativas de mineração. O certo é tudo o que fosse ho• mem do Reino havia de morrer e que só ficaria
que pelo menos uma escrava ter pertencido ao Alferes algum velho clérigo e que isto foi posto enl nomc dos quilombolas".
Inconfidente: a que foi doada por ele a D. Maria do Espírito Santo, órfã Em seguida afirmava que "já se ouvia das pessoas da última classe de
menor a quem Tiradentes deixara grávida .com prorræssas gente nesta terra, como são os negros e mulatos, que está para
esponsalícias" e de quem tivera uma filha. (8) haver um levante" e "que os nacionais desta terra o desejavam".
Podemos ligar estes fatos ao detalhe dos pardos, mesmo
aqueles 'mestres do oficio", "músicos" e "afazendados com
(5) calman, P.: "História do Brasil". vol. Rio. p. 1019. 1020.
escravaturas", até 1753 não poderem andar de espada à cinta,
somente conseguindo naquele ano permissão pata tal. É que a insurreição. Na capilaridade quase inexistente da sociedade da
simples cor parda já constituía ameaça para os senhores de escravos. época, transpiravam para a superfície esses movimen. tos,
movimentos que tinham como desiderato modificar ou pelo
Mas na Inconfidência Mineira, qual a posição de Tiradentes em
relação não somente à abolição mas também à participação dos menos atenuar as condições que eram impostas pelo estatuto
escravos no movimento de que ele foi incontestavelmente o líder? colonial. Por isto, muitos dos elementos que formavam o
Até que ponto vislumbrou no escravo um elemento aproveitável à entourage de dominaçäo lusa que aqui se encastelou, sentiram as
vitória das idéias dos inconfidentes? É possível que tenha visto mæstas que a defasagem existente entre a Metrópole e a Colônia
também, como o Sargento Luís Vaz de Toledo, nos escravos, uma criava. Ao mesmo tempo compreendiam que aqueles elementos
reserva de grande importância para a vitória do movimento. Mas, at•rolados na categoria de patuléia e que, por isto mesmo, se
tudo não passa de mera suposição, como, aliás, a maioria das encontravam nas camadas mais baixas, eram a estrutura humana
conclusões sobre a Inconfidência Mineira, mo. vimento 'mis dessQs movimentos. Pandiá Calógevas, a seu modo, assinalou o
estudado pelo seu simbolismo do que pelos fatos que apre. senta ao fato quando escreveu que "nesse assalto contra o instituto servi),
historiador. Tanto assim que é apresentado como o ponto desempe. nhavam papel os eternos ódios dos que nada possuem
culminante das lutas pela nossa independência política, quando a contra os que têm riqueza; a revolta dos pobres, ou do popolo
chamada minuto. contra os potentados, ou o popolo grosso. das Repúblicas
italianas da Renascença. E sobre os herdeiros de uma situação
velha já de séculos, recaía o espírito de vindita de um santo furor,
(9) Melo Franco, Afonso Arinos de — "Terra do Brasil", Rio. 1939, p. 78. ( ansioso por destruir a instituição."
10) "Petição dos Homens Pardos livres da Capitania pedindo para usarem José Venâncio de Seixas, quando chegou à Bahia na
Espada à Cinta" — Revista do Inst. Hist. e Geog. de Minas Gerias. vol. VII.
qualidade de provedor da Casa da Moeda, constatou "o perigo em
1959. p. 425 ss.
que estiveram os habitantes ( . ) com uma asociaçäo sediosa de
59 mulatos, que não podia deixar de ter perniciosas conseqüências,
revolta dos alfaiates, na Bahia, tem um significado muito mais sem embargo de ser projetada por pessoas insignificantes; porque
profundo nio apenas do ponto de vista de organização dos para se fortificarem lhes bastavam os escravas domésticos
insurgentes mas, também, pelo seu programa, pelas suas metas a inimigos irreconcliáves dos seus senhores, cujo julgo por mais leve
alcançar. Foi a maisavan. cada tentativa de quantas foram que seja lhes é insuportável." Prosseguindo dizia : "Foi Deus
realizadas, antes de obtermos a nossa emancipação de Portugal, servido descobrir por um modo bem singular a ponta desta
Por isto mesmo é atacada por muitos histth riadores, como é o meada, ao fim da qual julgo se tem chegado, sem que nela se
caso de Varnhagen. O autnr da História Gerd do Brusil, ao analisar ache embaraçada pessoa de estado decente". ( 12)
a Inconfidência Baiana, depois de cham.á.la "um arre. medo das De outro lado, as idéias liberais da França encontravam fácil
cenas de horror que Franga e principalmente a São Domingos guarida na Bahia, conseqüencia dag condições da Capitania que
acabavam de presenciar", conclui que "os conspiradores que se vinha pag-
chegaram a descobrir não subiram a quarenta: nenhum talento,
nem de consideração; e quase todos libertos ou escravos, pela
maior parte pardos". (11) Varnhagen: "História Geral do tomo V. S. Paulo. p. 25-26.
(II.A) ca:qeras. J. P. — Formaçao Histórica do Brasil S. Paulo, 1945, P. 836.
Og homens de avalia, de fato, n50 participavam desse
(12) Anais da Biblioteca Nacional: vol. 37 — p. 460-61.
movimento, que foi mais da patuléia e dos homens de poucas
posses, homens que, muitas vezes, tinham o seu status social 60
ligados à sua cor. Os mulatos, os pardos que participaram da sando por um longo processo dé efervescência política, como
Inconfidência Baiana foram o elemento que formou o grosso da decorrência da crise crânica da agricultura atrasada da região e cedo se
trans. formaria em arma ideológica, manejada pe!os intelectuais, c
aglutinadora das carnadas mais empobrecidas da população. Mas, se é (12.A) "Anais do Ptbtico dB Bahia". vols. XXXV. xxxvi: "Autog de Devassa do
exato que essas idéias se difundiram muito mais entre os o IÆvantamento Sedlçåo Intentados na Bahia em 1798", Enprensu da
certo é que, de qualquer forma, deixaram ressonâncias — pelo menos Bahia, 1959,
indiretas entre as camadas mais oprimidas, conforme se pode (13) "Cartas do Senado ( 1673 — 1683). 20 vol. Bahia sn, p. 30 -
verificar nos Autos da Devassa, (14) Idem, Idem, p. 54.
(15) Sampalo, A. : "Ineonf\dêneia Baiana de 1798", in "Seiva" n' 4,
Já em 1678, nas "Cartas do Senado", remetidas para Portugal, setembro de 1951, salvador, Bahia.
lêse que "fazemos manifesto a Vossa Alteza do miserável estado deste (18) Anais
povo petas muitas cargas e opressões que em tempo tão cansado
carregam sôbre a fraqueza de seus tenuíssimos cabedais. Em 61
conseqüência de tal situação — säo ainda as "Cartas do Senado" que franceses. ((18) (17) Näo era outra, também. a posição de
nos os moradores da Bahia, algumas vezes faziam Hermógenes de Aguiar,
"tumultos", como ocorreu quando da nomeação de Bartolomeu Se é verdade que esses intelectuais desejavam acabar com o
Fragoso para assistente de Luis Gomes de Mata Correia. (IO estatuto colonial ou supunham fosse possível atenuar a situação em
A situação foi.se agravando progressivamente com o passar do que se encontrava a Capitania — e neste particular exerceram papel
tempo, até a época da Revolta dos Alfaiates. Os membros da que deve ser destacado — o certo, porém, é que recuaram,
intelectuatidaüž reuniam-se, segundo Aluysio Sampaio, enm a tergiversaram, vacilaram à medida que os acontecimentos se
finalidade de "propagar os livros dos encicJopeclistas e os êxitos da precipitavam e tomavam caráter mais radical e a ele aderiram os
Revolução Francesa". artesãos, alfaiates, sapateiros, exegcravog e escravos. Enquanto
A sociedade agrupou no seu seio os elementos que desejavam lutar intelectuais teorizavam sobre um possível papel libertador dos
conti•a a dominação portuguesa, desenvolvendo atividade clandestina franceses, a ala mais popular do movimento, sem muito teorizar,
no sentido de conduzir o povo a combater o estado do coisas existente. apresentava uma posição programática para a açäo imediata contra o
ESSCS intelectuais, dentre os quais vale destacar os nomes de estatuto colonial. Será por tudo isto, entre ag camadas mais
Agostinho Gomes, Cipriano Barata. os tenentes José de Oliveira Borges empobrecidas da populaçäO de Salvador que o movimento
e Hermógenes de Aguiar (que foi absolvido e morreu como Marquês de encontrará base social e irá consolidar-se política e militarmente.
Aguiar) propagavarn, nog quadros daquela sociedade literária, idéias Queriam a emancipação do Brasil do jugo português, um regime de
libertárias. Mas não foi tal organização que impulsionou o movimento. igualdade para todos, onde não mais houvesse preconceito de classe
O pensamento de uma saída revolucionária para a situaçåo surgiu ou raça e cada um fosse julgado pelo seu merecimento. Manuel
exatamente de outro componente da conjuraçäo: artesãos, soldados, Faustino dos Santos, ao ser perguntado sobre os objetivos do levante,
alfaiates, sapateiros. cx. e escravos. A posição de Cipriano Barata, não teve dúvidas em afirmar que "era para reduzir o continente do
que participava da sociedade literária, foi cética e reticente quanto à Brasil a um governo de igualdade, entrando nele brancos, pardos e
possibilidade de uma solução violenta. Ao ser procurado por Manuel pretos sem distinção de cores, somente de capacidade de governar,
Faustino dos Santos para participar do levante, afirmou que "deixasse saqueando os cofres mmicos e zindo todos a um só para dele se
de semelhante projeto porque a maior parte dos habitantes vivia pagar as tropas e assistir as necessá. rias despesas do Estados."
debaixo da disciplina de um cativeiro e não tinha capacidade para tal
açño; e o melhor era esperar que viessem os franceses os quais (17) Muitos histoMadores, entre eles Caio Prado Júnior, exageraram a posl. de
andavam nessa mesma diligência na Europa e logo cá chegavam. Clpriano Barata na Conspiraçåo dos Alfaiates. Afirma o conhectdo hlstorla. dor "ao lado
"Francisco Moniz Barreto, a quem se atribui a letra do hino dos destes setoreg populares, aparæc-em alguns intelectuais. Entre eles. Ctpriano Barata".
inconfidentes, também optava pela vinda (Evoluç&o Politica do Brasa e outros ensaios. (2a edicao). S. Paulo, 1957. no Barata p.
210). foi Os implicado fatos se nos encarregam acontecimentos de desmen•ti1que "Homens, o tempo é chegado Para a vossa ressurreição, sim
estamos L o que analisando, foi escrito acima. quando Cipria.o te- para ressuscitareis (sic) do abismo da escravidão, para levantareis
mor das autoridades via olhos e atividade8 subverBivas por toda parte, Mas nele nio se (sic) a Sagrada bandeira da Liberdade."
envolveu. Näo mostrou. mesmo. grande simpatia pelo movimento dos artæaos
"A Liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do
abatimento; a liberdade é a doçura da vida, o descanso do homem
Os seus depoimentos perente as autoridades e 01Rros documentos apreendidos des. com igual paralelo de uns para outros, a Liberdade é o repouso, a
mentem cabalmente a sua particlpaçäo.
Durante a Devassa. 80 ser inquirido, declarou. sobre a distribuição de papéfs bem-aventurança do mundo." (22)
sedicioso. que "em certa ocasiåo depois que se espalharam OR papef8 *diciosos e
A açäo revolucionária prosseguia a sua marcha, enquanto os
libertinos no mês de agasto ( . ) ele se lembra de haver justamente indignado contra
todos aqueles que em senEhante aKefato, fstn na casa do dito Gonçalo Gonçalves intelectuais na sua maioria discutiam teoria política ou aguardavam
onde tinha ido saber de uma obra que lhe encomendara, já quando se que a França viesse em socorro do Brasil.
despedia Estado Polftico dele". da . Europa, ) "A opinião sem aplicasåo que costumava Isto, porém, não quer dizer que a componente popular dos
inconfidentes baianos não procurasse penosamente estabelecer
aa continente com facilidade do Brasil, formar, mal ouvidos sobre oe resultado pior uma base teórica para o movimento. Sendo quase todos da condição
chamada humilde, tinham dificultadeg em apreender o ideário que
interpretados nas imputações por alguns que desses têm pardos, feito". Mas, vinha expresso numa lingua para êles degconhecida: a francesa. Por
isto mesmo, sempre que possível, diligenciavam a tradução de obrag
intcressados dando xeque.mate. na revoluç•ao. é que temtre- que lhes vinham do estrangeiro. Por esta razão, mantinham ligações
estreitas com a França, dali recebendo livros, folhetos e
possivelmente apoio para o movimento. Oficiais de navios franceses
que aportavam, comunicavam•se com os conspiradoreg. Tal
caute•a fatos, grande cho se nao da desastre com carta si essa sós de da visto canalha movimento político clandestino não cra desconhecido pelas- autŒ
muito Cipriano ræbelläo o conclusiMos africana. . . Barata de escravos, a que a ridades da Metrópole. Em 1792 recomendavam ao governo da
desmentem temos um (Anais mulatos amigo. andada _ a I e sua onde vol. negros; Colônia vigilância severa ao navio francês Le Diligent, que vinha à
expostog•. p. palticfpacao diz: 184) ainda "Temos — ( . o Não _ . sangue na ) "Meu
apenas escapado revolta. de amigo.esteatodoOsde procura do explorador desaparecido La Pérouse, mas — segundo
votos de fidelldade • 'que æmpre prestou e presta a sua Real Majestade", conforme pensavam as autoridades lusas — tinha o objetivo real de disseminar
declarou, sao provas irrefutáveis de que a sua atuaçäo nesses eventos nåQ ficou entre nós "o espf• rito de que reinava na França." Otávio
comprovada. Pelo contrário. Tarquínio de Souza afirma que a mesma Carta Régia que denunciava
18) Anais.
as intenções do Le Diligent informava que a Constituição Francesa de
( 19) Anais.
(20 ) Anais.
1791 já havia sido traduzida para o espanhol e o português. (23) A
aludida sociedade secreta — Cavaleiros da Luz — que se reunia
62 provavelmente em casa de João Ladislau de Figueiredo e Melo como
A coisa diziam os papéis que foram colocados na cidade. (21) inúmeras outras, pregava as obras de Voltaire e os seus membrog
Em um dos rnanuscritos apreendidos pelas autoridades, lê•se: "ó tinham entre os seus livros os de Mably, Reynal, Condorcet, liam
vós povo (ilegível) sereis livres para gozares (sic) dos lÆng e efeitos Adam Smith e discutiam as idéias dos pedistas.
da liberdade; ó vós Povos que flagelados com o pleno poder do
Inimigo coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei Inúmeros "papéis libertinos" chegavam para os conspiradores
tirano é quem se firma no trono para vos vexar, para vos roubar e baia. nos como chegavam, também, para o Rio de Janeiro, onde, em
para vos maltratar. 1794, o padre José de Oliveira dizia que "meio Rio de Janeiro estava
perdido e
(28) Tarqu5nio de Souza, O. : "O Intelectual na Época da independência"
"Literatura". n' 1, Rio, Setembro de 1946, p. 4 se.
(21) Anua.
(22) Anais. 63
S
lidertino ' Os intelectuais que eram ligados às idéias liberais eram Que os líderes populares do movimento contavam com os escravos chamados "franceses. " como
força atuante, não há dúvida. Cedo reconheceram a importância desse elemento como aliado. Dirigiram, por isto, suas vistas para aquela A conspiração, porém, não
ganhava a amplitude exigida para ven- classe com muito empenho. Especial.nænte os batalhões de pardos e cer, pois a intelectualidade que a ela engajara não se sentia
encora- pretos eram constantemente trabalhados pelos insurgentes na fase prejada e decidida a se apoiar nas camadas sociais mais descontentes, em paratória. Lucas
Dantas declarou: "temos os regimentos de pardos e conseqüência da posição econômjca que esses letrados ocupavam na eg- pretos a nosso favor", aos quais se juntariam
a "escravatura dos enge• trutura da sociedade colonial. Vacilavam em dar base mais à nhog de Fernão e revolta. Em conseqäência dessa posição expectante a
Inconfidência Baia.
na como que estaciona, surgindo, em seguida, ag primeiras delações O conteúdo francamente abolicionista do movimento é colocado com acompanhadas de prisões.
Diante moldura conturbada é que come- ênfase nos documentos e nas declarações dos principais implicados. A çam a se projetar os seus líderes populares. Luís Gonzaga
das Virgens grande participação de pardos e escravos, depois indiciados, por isto é o primeiro que se destaca com invulgar mérito. Descontente com a mesmo, marca a
sua origam João Nascimento era pardo; Maorientação que vinham dando à revolta, inicia um amplo movimento de nuel Faustino dos Santos, pardo livre; Inácio
da Silva Pimentel, pardo agitação e difusão dos manuscritos que continham o programa incon- livre; Luís Gama de França Pires, pardo escravo; Vicente Mina, negro
fidente. Aluysio Sampaio informa — e os manuscritos apreendidos pe- escravo; Inácio dos Santos, pardo escravo; José, escravo de D. Maria Ias autoridades confirmam
— que o programa do movimento era: 1. 0 ) Francisca da Conceição; Cosme Damião, pardo escravo; José do SacraIndependência da Capitania; 2. 0 ) governo republicano;
3.0 ) liberdade de mento, pardo alfaiate; José Félix, pardo escravo; Filipe e Luís, escravos comércio e abertura de todos os portos "mormente à França", 4. 0 ) de Manuel
Vilela de Car•/alho; Joaquim Machado Pessanha, pardo livre ; cada soldado terá soldo de 200 réis por dia; 5.0) libertação dos Luís Leal, escravo pardo; Inácio Pires,
Manuel José e João Pires, parescravos. dos escravos; José de Freitas Sacoto, pardo livre; José Roberto de San• ta-Ana, pardo livre; Vicente, escravo; Fortunato da
Veiga Sampaio, Já haviam sido tomadas, porém, logo após as primeiras delações, pardo forro; Domingos Pedro Ribeiro, pardo; o preto gege Vicente, esas providências
necessárias para que a revolta fosse sufocada e os seus cravo; Gonçalo Gonçalves de Oliveira, pardo forro; José Francisco de cabeças encarcerados. O autor dos
manuscritos — Lufs Gonzaga dag Vir- Paulo, pardo livre; Félix Martins dos Santos, pardo; tambor.mor do gens — é caçado pela polícia, sendo preso finalmente a 24 de
agosto. Regimento Auxiliar, além de brancos como Cipriano Barata e outros. Isto vem precipitar os acontecimentos e obriga os inconfidentes a medi.
das de emergência. (25). Tentam os seus companheiros um ato desespe- Recolhidos à prisão na sua quase totalidade, ali permaneceram até rado a fim de arrancá-lo do
cárcere. Fracassada a tentativa, seguem.se que, em 22 de dezembro, foi enviada carta ao Governador determinando novas delações. Afastam-se os intelectuais
praticamente do movimento. fosse realizado julgamento dos implicados. Em novembro de 1799 terSua direçäo passa a ser exercida pelos líderes saídos dag camada. mais
minava o julgamento com as seguintes sentenças: Luís Gonzaga das Vir. baixas e oprimidas da população da Capitania: artesã,os, ex-escravos, es- gens era condenado a
morrer na forca e ter pés e mãos decepados e ex. cravos. O governo iniciou em seguida brutal repressão contra os impli- postos em praça pública; João de Deus do
Nascimento, Lucas Dantas, cados conspiração. Detém inúmeros dos seus participantes ou simples Manuel Faustino dos Santos Lira também foram sentenciados à forca e
suspeitos. Todos passam pela peneira fina das autoridades, como é o esquartejamento, ficando os seus corpos expostos em lugares públicos. caso de Cipriano Barata.
Igual sentença foi proferida contra Romão Pinheiro, com a agra.
Mas, o que nos interessa aqui não é fazer uma história da Inconfi. vante de serem os seus parentes considerados infames. (Posteriormentefoi

dência é ver o Baiana. grau de Nosso participação objetivo, dos dentro escravos dos planos nos eventos.do presente trabalho, a seguira banido sua pena para fugir, seria a
foi África. atenuada condenado O pardo para à escravo morte, degredo). dando Luís O escravo da a França Justiça Cosme Pires, direito Dam.iäo que de con-ma-

tá.lo a qualquer pessoa que o encontrasse. de


Souza, O: "Libetunos do Rio de Janeiro", "Folha nhW', S. Paulo, 19-2-52.
(25) "Determ'aando o ajuntamento no campo do dique do Desterro, para a( 26) Anais.
noite de vinte e cinco de agosto passado ele declarante ao dito José Rai-(27) Os "preg5e8 reais" lidos no momento em que 05 condenados subiram ao mundo Barata, com quem tinha amizade por lhe ter feito obras
do oficio de alfaia.patíbulo diziam bem do ódio que era contra os pelo governo por. te e a seus Irmaos e pela prática, já expressada gue com ele Uvera a respeito da 11.tuguea. Sobre Luis das Vlrgats afirmava que
levado até o lugar berdade lhe expos o projetado levantamento com todas as circunstäncfas, que ele de-torea erigida para este suplicio, e que nela morra morte natural para sempre, senclarante sabla e as mesmas
que 'ó expressou dizendo-lhe mais que por se ter presodo*he depola de morto separadas as mhos, e cortada a cabeça, que ficerio postadas um dos cabeças do dito levante. que era o soldado Luls Gonzaga. se
pretendia na- no dito lugar da execuçäo, até que o tempo consuma. no que foi condenado e quela noite a gente. que havia do partido, a fim de desencadear o na confiscaçao dos seu bens para o
Sobre Lucas Dantas, Joäo de Deus do levante que estava destinado parn mais vagar. (Anais, vol. p. Nascimento, e Manuel Faustino dos Santos Lira, dffla: "homens pardos forros a que

64 65
Finalmente, no dia 8 de novembro de 1799 foram executados na conduzida a do réu Lucas Dantas ao Sião mais descoberto, e alto levan._ tado,
Praça da Piedade. Lucas Dantas e Manuel Faustino nio aœitaram a até que 0 tempo o e da mesma sorte os quatro quartos ficando em dis. tancia
extrema-unção que um padre franciscano lhes ofereczra. Foram os desde a casa, que foi de habitação até 0 8fåo, por ær pródutinado pam o infame
e *dicloso ajuntamento da noite de 25 de Agosto do ano passado. sendo
qua. tro depois de ter saído o cortejo do Aljube, onde se igualmente posta a cabeça do réu Joio de Deus defronte da casa, que lhe servia
encon. travam os mártires, para a Praça da Piedade. de morada, e os quartos nos eaig de ma!or frequência e oomérclo desta dade,
Impressionante é a pouca idade desses heróis: Lucas Dantas tinha até que uns e outros sejam consumidos pelo tempo para Scr assim patente a
todos a enoEmdade do seu delito a correspondente punição: c a cabeça do réu
24 anos; João de Deus do Nascirrænto tinha a mesma idade; Manuel Manuel Faustino por nå0 ter habitaçäo certa seja posta defronte da cag do
Faustino dos Santos Lira contava apenas 23 anos e Lufs Gonzaga das primäro réu, Lucas Dantas, onde fazia a sua maior assistência". F'nallzando
Virgens, o mais velho de todos, 36 anos. afirmavam os pregoes qLW Isso se daria por terem tentado oa réus o
Segundo depoimento da época, os quatro condenados portaram-se continente do Bragii a um Governo e substituiren Suavíssimo e
ante o carrasco com uma altivez que chegou a irritar os seus algozes. Humanfsglmo 00. verm da dita senhora". (Documento transcrito por Afonso
(28) Estava — com a execução dos cabeças da sedição — sufocado Rui. op. clt.. p. 155) _
(28) Ainda para se ter una 'déla dos últimos Instantes dos condenados vide
um episódio das lutas travadas pela independência da Colônia, com o Afonso Rui, op. cit., p. 115 ss...
derramamento de sangue de escravos que também participaram dos
acontecimentos, juntamente com os demais componentes das camadas 66
popu• lares de Salvador.
A Revolução dos Alfaiates foi, do ponto de vista do conteúdo poli.
De 1799, quando foram executados, a 1817, medeiam 18 anos, tico e definição programática, o mais profundo acontecimento que
tem. po que serviu para que, em Pernambuco, com ramificações em antecedeu a Independência. A participação do escravo tinha, por isto
outras Províncias, houvesse possibilidade de que novamente se mesmo, um grau de coerência que advinha da coincidência de
organizasse uma revolta com objetivo idêntico aos dos inconfidentes interesses das camadas artesãs que o estruturaram e a classe escrava.
baianos — a independência — embora com as diferenças inerentes às Se a Inconfidência Mineira foi um movimento de letrados e surgiu
particularidades de composição social de cada uma. Se. na Revolta dos de um dæcontentamento verificado em camadas que já tinham, dentro
Alfaiabes, tudo não passou de projetos, na revolução pernambucana, da estratifioaçäo da sociedade colonial, um status médio, a Revolta dos
em 1817, a coisa muda substancialmente de figura. Alfaiates, pela sua composição social, teve outro significado;
Em Pernambuco, os insurgentes passaram da palavra à ação e organizada e desenvolvida basicamente por elementos das camadas que
maram o poder político. Tiveram de enfrentar, portanto, todas as se encontravam asfixiadas dentro da capilaridade quase inexistente da
vicissitudes que a organização de um novo poder acarreta; tiveram de sociedade colonial, projetou-se, por isto mesmo, como um movimento
organizar um programa de governo, uma fraçäo de administradores e de homens dc "pouca valia", como quer Varnhagen, isto é, foi o
uma força militar que garantisse as conquistas da revolução. transbordamento de uma sedimentação de problemas que se
acumulavam no seio (18 sociedade colonial em detrimento dos
interesses daqueles que sofriam a pressao esmagadora de toda a
com baraço e pregåo pelas desta cidade, sejam levados à Praca da Piedade por pirâmide social do Brasil, por se encontrarem exatamente na sua base.
ser também uma das mais públicas dela, onde na fôrca, que para este suplicio Os escravos, com a sua participação, deram à revolta um conteúdo
se levantará mais alta do gue a ordinária. morram morte natural para sempre,
depoin do que lhes aerao cabeças e os cRrpos os dos feitos em quar. tos. endo
preciso, já que a abolição se inseria como um dos seus postulados alfaiates baianos. Sua composição wcial será bem distinta, seu programa
fundamentais. bem menos avançado e os seus objetivos muito mais acanhados. No
particular da abolição do trabalho escravo, embora inicialmente fosse
Daí por diante, porém, a composição das forças que se organiza.
favorável à medida, logo após a vitória precária da o Governo
vam a favor da Independência muda substancialmente. A classe senho.
Provisório apressava-se em esclarecer o assunto à classe senhorial com o
rial — possuidora de escravos — entra na composição dessas forças e seguinte documento : "Patriotas Pernambucanos! A suspeita insinuado
influi cada vez mais poderosamente. fato que determina a mudança nos proprietários rurai8: eles crêem que a benéfica tendência da presente
concomitante de objetivo dos movimentos subseqüentes. Joaquim liberal revoluçäo tem por fim a emancipação indistinta dos hOmens de
Nabuco "depois veio o período da agitação pela Independência. cor escravos. O Governo lhes perdoa uma suspeita que o honra. Nutrido
Nessa formação geral dos espíritos os escravos enxergavam uma em sen genemsos podem jamais acreditar que os homens, por
perspectiva maig favorável de liberdade. Todos eles desejavam mais ou menos tostados degenerassem do original tipo de igualdade;
instintivamente a Independência. A sua própria cor 08 fazia aderir com mas está igualmente convencido de que a base de toda sociedade regular
todas as forças, ao Brasil como Pátria ( . . . ). Daf a conspiração é a inviolabilidade de qualquer espécie de propriedade. Impelido destas
perpétua pela formacão de uma pátria que fosse também sua. Esse duas forças opostas, deseja uma emancipação que não permita mais
elemento poderoso de desagregaçäo foi o fator anônimo da lavrä• entre eles o cancro dB escravidão; mas deseja-a lenta, regular,
Independência. As relações entre os cativos, libertos, e os homens de legal. O Governo não engana ninguém; o coração se lhe sangra ao ver
cor, entre estes e os repreæntantes conhecidos do movimento, foi a longínqua uma época tão mas não a quer prepóstera.
cadeia de esperanças e simpatias pela qual o pensamento político dos Patriotas: vosgas propriedades ainda as mais opugnantes ao ideal da
últimos infiltrou-se até as camadas sociais constituídas pelos primeiros. justiça serão sagra• das: o Governo porá meios de diminuir o mal, näo o
"Uma prova de que no espírito não só desses infelizes como fará cessar pela fôrça. Crede na palavra do Governo, ela é inviolável, ela
também dos senhores, no dos inimigos da Independência, a idéia desta é santa.) " (30)
estava associada com a da emancipação, é o documento dirigido ao Para salvarem a pele tentaram uma aliança com o latifúndio
povo de Pernambuco, depois da revolução de 1817, pelo Governo escravista. Levantando a bandeira da inviolabilidade da propriedade
Provisório." ( 28 ) Nabuco tinha toda razão ao pintar o quadro de tal privada — um dos postulados teóricos do liberalismo — estenderam
modo. A própria revolução de 1817 já é um sintoma da compromissada esse direito até a posse de outros seres (uma das características das
para o da Independência. Somente a classe que tinha base econômica escravistas) servindo, assim, à defesa da propriedade dos
sólida podia dirigir o movimento que desaguaria na Independência. Daí senhores de escravos que cra reconhecida no nosso país. As idéias
liberais serviram, na sua forma, neste caso particular, para defender uma
(29) N8bueo. J. "0 Abolicionismo", Rio.Såo Paulo, 1988, p. 50.
formação eco. nômico.social que na Europa elas ajudaram a esfacelar.
67
as contradições entre as camadas letradas e populares e o núcleo básico
dos senhores de escravos em todos os movimentos que se seguiram. Mesmo assim, os escravos participaram da luta. No trabalho de
Contradições que espelhavam exatamente a passagem do bastão de aliciamento foi visível o interesæ. que os organizadores do movimento
comando político das núos das camadas populares para as dos senhores tiveram pelo elemento servil ou pelas camadas a ele diretamente
ligadas. Antônio Henrique Rebelo, 2.0 tenente do Regimento da
de ter• ras e escravos. Aquilo que Joaquim Nabuco com precisão
Artilharia, tinha
chamou de "ilusão até à Independência" irá adquirindo conota•s
diferæntes nos movimentos seguintes.
(80) Docuneato atado por Joaquim Nabuto, Op. Cit., p. 51.
Da pernambucana de 1817 0 escravo tanbém participará.
Embora a sua atuaçäo seja bem menos importante do que na 68
Inconfidência Baiana, iremos encontrá-lo, contudo, contribuindo para a grande familiaridade com os Henriques, fato que levou o Alferes
instalação de uma República independente dos vínculos coloniais. A Tomás Pereira da Silva a inquiri-lo sobre aquele comportamento,
revolução de 1817 não terá, conforme a análise que fizemos obtendo a seguinte resposta: "Deixa estar, é preciso tratá-los bem para
anteriornwnte, um sentido e um conteúdo tão radicais como a dos nos ajudarem algum dia a ser livres." (SI'
Quando o Conde dos Arcos iniciou a repressão contra o escravos na, quele movimento: "Os negros ameaçando revoltar-se foram
movimento pernambucano, ordenou o fuzilamento sumário de alguns deles enforcados e; 86 no dia 29, toram presas mais 60 pessoas. .
inúmeros escravos que lutaram ao lado dos republicanos. Na Parafba. (32) Apud Freyre, Gilberto: "Nordeste", RIO. 1937, p. 243
ao ser Amaro Gomes Coutinho enforcado por haver tomado parte na (33) Borges, L: Partfcfpauo dos Homens de Cor na Revolução de
1817" "Estudos sociais", n. abrtl de 1962, p. 490.
revolta, juntamente com ele subiram ao patíbulo, por crime idêntico, (34) Idem, idem.
23 escravos. (35) Idem,
Em manuscrito transcrito por Gilberto Freyre, afirma Luís do (36) Idem, idem.
Rego Barreto em correspondência para a Metrópole que "não foram 69
todos os negros, nem todos os mulatos os que tomaram o partido dos
rebeldes e se uniram a eles; porém dos homens destas cores aqueles Ascendino Carneiro da Cunha depõe que, em Itabaiana (Parafba)
que abraçaram 8 causa dos rebeldes, a abraçaram de um modo , foi organizado "um exército de escravos e mestiços indisciplinados,
pessimamente armados e equipados", que levantaram "uma bandeira
excessivo, e insultante, e fizeram lembrar com freqüência aos
bran• ca, símbolo da liberdade, e desceram em demanda da sede do
moradores as cenas de S. Domingos. Os homens mais abjet08 desta
governo realista". Na do dia 12 de março (viam-se) negros armados,
classe, os mesmos mendigos. insultaram seus antigos benfeitores, seus
nataralmentc escravos dos patriotas e não povo".
senhores ou senhoras e se prometiam. como todo despojo, a Iljsse de
uma Senhora, como acontecimento infalível: este grau de orgulho já Tais fatos aconteceram amiudamente no início da revolta, ante o
era temível quando o Governador Intc• rino Rodrigo José Ferreira impulso que as populares imprimiram no sentido de radicalizá-la. No
Lobo entrou nesta Capitania, e uma das medidas mais eficazes que cle entanto, conforme já dissemos, a composição social do movimento
tomou foi punir prontamente com açoites a todos taque[es de que se não permitia mais a posição hegemånica dessas camadas. Oliveira
sabia fato notásæl desta espécie. ou que tinham cometido algum Lima escreverá que "a 8 de abril os armados no começo da
atentado a coberto da Rebelião." revolta, tinham restituído as armas e retomado a canga". (38) Pelos
fins de abril a revolta estava quase circunscrita a Pernambuco. A
Convém notar, ainda, que a participação do escravo na revolta de
situação não era nada lisonäeira, quase desesperadora. Daí, entre
1817 era, de uma parte, espontânea, em face dc razões que já outras medidas, terem sido libertos mil escravos que foram postes em
apresentamos e, de outra parte, uma obrigação imposta pelos seus armas.
senhores que estavam envolvidos na luta. Por isto mesmo escreveu A medida, porém, deixou — em face das circunstâncias em que
com razão L. Borges: "Os escravos que passaram a figurar entre as foi tornada — de ser uma atitude política, para converter-se medida
tropas, que asseguravam a vitória inicial da revolução, eram mi• linr de emergência, pois, na ocasião, decretou-se o
incm•porados a elas por inieiativa daqueles que dirigiam o movimento geral, declarando-se que todo capaz era obrigado, sob pena de morte,
pela independência, sendo trazidos para a luta diretamente dos a defender a República. (39)
engenhos onde trabalhavam". (331 O mesmo autor esclarece que Mas a República já estava perdida. Sufocada pelas tropas
"quando da ocupação da Fortaleza do Brum, já figuravam entiæ a coloniais, são em seguida os seus líderes encarcerados ou execu os.
tropa 600 escravos do Cabo." Francisco de Paula Cavalcanti de Vejamos, porém, o saldo apurado através das listas dos implicad , da
Albuquerque "acudiu com todos os seus escravos armados". O Padre participacão dos homens de cor nos acontecimentos de Pernambuco: 4
Pedro de Souza Tenório solicitou auxílio de Jerônimo Albuquerque do Regimento dos Henriques e 4 dos pardos; Paraíba: 2 escravos, 2 do
Maranhão, que "veio com os seus escravos". Regimento dos Henriques e 1 cabra; 1 membro do Regimento dos
Henriques, 4 cabras; e Rio Grande do Norte: apenas um cabra.
(31) varahagen. F. Gera' do Brasil. S. Parulo. 5' p. Com referência à cor, escreve ainda Luís Borges: "dezoito
wr. livres, isto é, sete do Regimento dos Henriques, quatro do Regimento
(31A) Sebastiåo Pagano no seu livro apologético "O Conde dos Arcos, e dos Pardos e sete cabras e, finalmente, dois são escravos".
a Revoluçao de 1817" (S. Paulo, 1938) escreve sobre particlpaçåo dos
Devemos anotar, finalmente, que esses implicados são apenas os Pouco depois do malogro da revolução de 1817 temos notfcias de
que da devassa mandada abrir pelas autoridades. Cremos, no en• outro acontecimento interessantfssimo que se entrosa no longo e tor•
com sólidos argumentos, que a do escravo foi bem tuoso rosário das lutas dos escravos contra o da escravidão e
maior do que refletem tais documentos, pois apenas os mais importan- que demonstra, também, como os estavam longe de entender,
como era óbvio, a essência dos acontecimentos políticos. Segundo o in.
forme que estamos acompanhando, os negros cativos organizaram-se
(37) Idem, Idem. para impor, nada mais, nada menos, que a Constituição que fora
(38) Citado por L. Borges. loc. CSE.
(39) pombo, R. "História ao Brasil", 1 VOI_, Rio, 1953, p. 388.
promulgada em Portugal através da chamada revolução liberal daquele
(40) "Os chefes procuraram disfarçados e em fugo evitar o país. Os escravos mineiros, dirigidog por um negro de fartas poses
castigo. O Padre Joio Ribeiro suicidou-ne. Dos Domingœ Tec*ônio chamado Argoins, proclamaram a Constituicäo lusa em toda a zona onde
Borges e oito dos companhelros subiram ao patibulo. Indignado com atuavam: Guaraciaba, Sabará, Santa Rita etc — travando combates de
tantas execuc6es, das pëla comisså-o militar, o fez suspendê-las. e envergadura com os habitantes do Paraibuna e os pretos do Arraial de
Instituiu uma •lcada para prosseguir no processo. Mas esta, alnda mais Santa Bárbara, que se colocaram contra o movimento.
sanguinolenta. excitou a animadver85.o pública e o de entåo, Como diz Miguel Costa Filho, "o ideal cvnstitucionalista avançara
Luis da Rego Barreto, e o da do Recife representaram ao prtncipe-regente
pelo interior do Brasil convencendo-se os pretos de que eram iguais aos
implorando anfstta" ( . . . ) Se as origens da re— Voluçäo foram
czlmlnozas, o termo de!a, a realistas tol tao execrável e hedionda que brancos. Em Minas, todos os portugueses (abrangeria esse gentílico,
basta.rta para 'ustiflcar a simpatia que ainda despertam as suaz Vlu• mas". além dos reinói8, os mazombog, os descendentes brancos, ou quase
(Jou Ribd.ro: "H'st6t¾ do Brasr•. RIO. løoo, p. 264) . L. : brancos, daqueles?) desde o Rio Canizana (Carinhanha) até a Serra da
loc. cit. Man• tiqueira eram "constitucionais". A Constituição já fora jurada na
70 Comarca de Serro Frio".
tes foram responsabilizados, especialmente os que faziam parte da Miguel Costa Filho, com 8 sua costumeira probidade intelectual,
intelectualidade e da Maçonaria. O lastro popular da revolta não podia discute as fontes que amparam a exlaten•d8 desse acontecimento. Lavant8
ser envolvido na rede da Justiça por ser muito mais difícil identificá-lo, dúvidas quanto à autene'dade do "Notida.s de entra Pretos
ou dêle se ocupar, quando havia muito figurão a ser detido e julgado. de 1821, em Minas Gerais" — que é apenas c6p1a de um "diário" — número 2'
Como vemos, duas foram as formas fundamentais de participação do D". da de 19 de agœto de 1821, do qual No bá exemplar no Arquivo Públim
dos escravos na revolução de 1817 : a primeira como elemento que agia aegundo do citado historiador. Diz Migu-ä Costa
por ordens do seu senhor, sem consciência, portanto, da essência, do •'Devemos. to.&vla, d_iær• que Mo rejeiumos a 8utenucfd.g& do
significado da sua participação; a segunda, como elemento consciente 71
que ge rebehva contra o status em que se encontrava e que engrossava as O ardor e entusiasmo desses negros inúmeros deles escravos
fileiras dos insurgentes sabendo que eles tinham como objetivo extinguir chegaram quase ao fanatismo. Algum tempo depois de ter Argoins
a escravidão. A primeira forma de participação mostra o escravo iniciado o aliciamento dos adeptos desse movimento, contava nas suas
alienado, ainda ideologicamente estruturado nos quadros institucionais fileiras cerca de quinze mil negros e escravos da região de Ouro Preto.
que vigoravam, isto é, participando sem se transformar em elemento de A eles haviam aderido dois regimentos de Cavalaria Auxiliar da
negação do sistema escravista, mas, pelo contrário, através da sua Comarca de Serro Frio. Iniciaram, então, ataques continuados aos
obediência às ordens senhoriais, dando (paradoxalmente) substância ao negros da região que não haviam aderido ao movimento
regime. A outra forma de participação leva o escravo a se negar como tal constitucionali§ta, matando.os sem compaixão. Criaram uma bandeira,
— ao transformar-se em quilombola — e se inserir como elemento de usavam distintivos nas ruas e muitos deleg festejavam antecipadamente
negação da ordem escravista. a liberdade. Uma das proclamações dos seus chefes diz: "Em Portugal
proclamou-se a Constituição que nos iguala aos brancos: esta mesma
Constituição jurou.se aqui no Brasil. Morte ou Constituição decretamos
contra pretos e brancos: morte aos que nos oprimiram, pretos
miseráveis! No campo da honm derramai a última gota de sangue pela bem acentuou, no desligamento do Brasil da Metrópole a oportunidade
Constituição que fizeram os nossos irmãos de Portugal." de con*guir a extinção do estatutn da escravidão e,
Voltando a falar do documento que serve de base ao que estamos concomitantemente, a sua liberdade. fato que o iria integrar no
escrevendo, Miguel Costa Filho diz que "insiste o documento em pintá- conjunto da sociedade civil brasileira como homem livre;
la (a situação de Minas Gerais) em corcs severas, asseverando que og oportunidade, em outros termos, de anular, dentro da estratificação
pretos haviam jurado exterminar e matar os inimigos da Constituição. social existente, o status de escravo. Na medida, portanto, em que
Cita alguns lugares em que se usavam seus trajes: Caeté, Pitangui, 8upõe estar a independência indissoluvelmente vinculada à abolição do
Queluz (Lafaiete) e Baependi; conta que em Paracatu mil negros, com trabalho servi], é um engajado nesse movimen. to. Os escravos
os mais habitantes, fizeram festas públicas e que em Campanha se continuam vendo uma "ilusão de liberdade" 'no processo de lutas que
praticaram horrores e houve mortes, tendo aparecido "espíritos desembocaria na Independência. Daf a sua participação ser uma
revolucionários que se apoderaram dos negros". ( 44 ) constante. Ao se aproximar a data da nossa Independência,
movimentos desordenados como o de Argoins, em Minas Gerais, são
Como se pode constatar muito esforço ou exibição de inteligência, sintomas que bem demonstram como o chamado elemento servil já
havia muita confusão, muita contradição e muitas limitações na mente aspirava e transpirava politicamente, embora dentro das limitações
desses escravos e dos seus líderes, fato que, aliado à pròpria dinâmica da estruturais que a sua situação econômicc-social estabelecia.
sociedade escravista, facilitou gua dissolução. Depois de alguns Proclamada a Independência política do Brasil, em 7 de setembro,
combates, muitos deles, ao que se diz, de alguma importância e cumpria consolidá-la e garanti-la nf]itarmente, já que as tropas lusas,
violência — como os de Diamantina e Mariana — foram-se separando, aquarteladas na Bahia, não estavam dispostas a depor as suas armas. A
dispersando-se na região até quando veio a Independência, fato que os batalha que se iria travar, portanto, entre lusos de um lado e brasileiros
levou a se julgarem livres. E o movimento, sem maiores consequências, de outro, era decisiva porque não representava simplesmente um duelo
extingue-se. militar, mas configurava a soluçåo de todo o movimento político que se
havia iniciado e desenvolvido ainda no seio da Colônia e agora entrava
Entra, assim, o Brasil, em plena embocadura da sua independência em choque direto com a Metrópole, Havia um significado político
política, com os escrav08 em efervescência, reserva social e muitas muito mais vasto do que um duelo de forças no seu sentido
vezes estritamente militar.
Na Bahia o ambiente era tumultuoso desde 1821, com
documento em que se teria baseado a noticia divulgada pelo Dório constitucionaliz*o de Portugal. Diversos incidentes surgiram. É nesta
Extraordinário da Eu7þpŒ. possivel que tenha sido lançada em parte do conjun. tura delicada que chega a Independência. Era governador das o
território mineiro, entre os escravos e Os negros e mestiços libertos de inferior
condlçåo por esse misterioso Argo[ns ou Arguim qualquer forma. parece.nos
General Madeira de Melo que — não aceitando a proclamação da
que o assunto comporta maiores indagações, uma pesquisa documental mais Independência e rejeitando as solicitações de sua rendição inicia as
demorada acaso não desejada pelos escritores que colocam os seus operações militares na Província. Se de um lado os lusos lançam na
præconceitos de classe e as suas idélas retro• gradas adma da verdade refrega os seus contingentes militares ali aquartelados, a população
histórica". Filho, M. : "Um Enigma Histórico". in "Eatudoa Sociais", n' 19. baiana apela para os filhos da Província.
fevereiro de 1964. p. 312 ss) .
Ainda neste capítulo os escravos tiveram papel ativo. Era a última
(43) Citado por Joao Dornas Filho: "A Escravidão no Brasil". Rio, 1939.
vez que entravam na composição de forças sociais que desejavam a
FUho, M. , loc. cit. independência e mais uma vez, conseguido o objetivo daqueles setoreg
(45) Domas Fi'.ho, J. : op. Cit., p. 122. que se empenhavma dentro dos quadros institucionais do latifúndio
72 escravista, ficavam marginalizados após a vitória.
militar dos movimentos que eclodiram para dar substantivação ao Devemos salientar, agora, para melhor compreensão, quais as for.
nosso da Metrópole. estamos vendo, no rastilho de ças escravas que participaram dessas lutas e o seu comportamento
lutas que se sucedem, o escravo é uma constante. Tal posição nascia do global em face dos aconteciThÞhtos políticos e militara que ge
fato de vislumbrar, com maior ou menor clareza, conforme Nabuco tão desenrola. vam. Quai8 as formas de que se revestiu tal participação? O
elemento escravo durante as luas azaladas teve quatro formas básicas grande. Escravos formaram massa compacta ao lado do exército
de cornportamento: 1) aproveitou-se da confusão reinante e fugiu para libertador, tendo destacado papel militar. ( 47 )
as
Aliás, quando os cativos lutavam com tal objetivo, não escolhiam
73 de que lado deviam ficar. Os portugueses também não se descuidaram
matas, debandando dos seus senhores; 2) aderiu ao movimento liberta. em aliciar escravos para as suas hostes com promessas de alforria. Em
dor para congeguir a sua alforria; 3) lutou por simples obediência aos resposta à pkM)clamaçäo de Labatut, que convida os soldados da
seus senhores e 4) participou ao lado das forças portuguesas. cidade a desertarem em troca de um "lote de terra e uma sesmaria", os
Quanto à primeira forma de reaçâo, os documentos da época mos. lusos conseguiram levantar 200 escravos africanos que atacaram os
tram como as autoridades não se descuidaram e traçaram as normas nacionais
necegsárias para reprimi-la. O Governo Provisório que se instalara, que.
rendo "acautelar", "como é do seu dever, os graves prejuízos que (46) Apud Brás do Amaral; •'História da Independência da Bahia" .
resultarão, a particulares como geralmente a tôda a Província, da (47) raem, idem.
dispersão dos escravos que andam vagando fora da companhia dos 88us
74
senhores pelas povoações, lugares e matas do Recôncavo e alguns
em Maca Escura e Saboeiro, causando às tropas nativas. Depoi8 da
retidos em poder estranho, ordena o seguinte:
luta, que nio foi de pouca monta, os escravos foram vencidos, tendo
1) Que toda e qualquer pessoa que tiver em seu poder algum Labafilt mandado fuzilar "cerca de 50, sendo os outros açoitados". Ao
escra• vo que por legítimo título lhe não pertença, o entregue a seu tempo em que punia tão severamente que se colocaram a serviço dos
verdadeiro senhor; e ignorando quem ele seja, vá logo recolher à cadeia adversários, pensou em "formar batalhões de escravos libertos, como
mais vizinha, entregando-o ao Juiz respectivo; isto no prazo de 15 dias aconteceu na antiga Roma" .(0) O Conselho Interino do Governo,
depois da publicação deste, abaixo das penas estabelecidas contra os acatando as ponderaçöeg de Labatut, que era a de "ge proceder a urna
receptores de escravos alheios. presta• cão voluntária de escravos que mais parecerão para formar
2) Que todos os Juízes e Capitäes.mores façam a mais exata inda. corpos de primeira linha" determinou que os proprietários fossem
gaçäo para descobrirem tais escravos e fazê-los prender. que ouvidos e convocados "os rræncionados pessoas do
sejam à cadeia, darão conta pela Secretaria deste Governo, remetendo Clero, empregados públicos e mais homens bons" para deliberarem
uma lista circunstanciada, na qual se declare 08 nomes, nação e sinais sobre o assunto, sendo a favorável à solicitação de Labatut.
dos sobreditos escravos e a quem pertencem, sendo que eles o O certo é que os Henriques já estavam, a esta altura dos
contassem; outrossim declarem os vencimentos que tiveram os Capitães- acontecimentos, combatendo ao lado dos nacionais, sob o comando
de-mato ou quem os for prender, os quais deverão se regular pela do Major Manuel Gonçalves da Silva, que tinha sob as suas ordens
distância em que foram presos com relação morada dos referidos 1100
Capitães-de-mato, na conformidade do seu regimento; e o dia em que IRbBtut, por outro lado, que tão severamente os escravos que se
forem recolhidos à cadeia a fim de saber.se o quanto tem despendido o encontravam do lado adversário, propunha 8 formação de um eorpo
carcereiro em comedorias, o que tudo se faz público peta folha que de primeira linha de cativos "visto que estes indivíduos se tornam
chegue à notícia de seus donos. soldados conseguindo a liberdade como me convenço
experimentalmente com a conduta dos libertog do que
3) Que todos os proprietários de Engenhos e Fazendas indaguem disciplinei e instrui."
se nas suas terras se acolhem alguns destes escravos e og farão prender e O Batalhão dos Libertos adquiriu, mesmo, durante ag operações,
remeter à cadeia vizinha; e não os podendo prender, se recolherem às um cartel de heroismo ponderável, em conseqüência do seu
matas, dêem logo parte aos Capitães-mores e Juízes, declarando o lugar procedimento nas inúmeras vezes que foi chamado a atuar.
onde lhes conste que existem". (46)
Com a viWria dos libertadores, veja.nws como entraram na
Quanto à adesão dos escravos ao movin*nto para conquistar a sua capital baiana as tropas nacionais e como formaram as que eram
alforria, os fatos e documentos demonstram que foi relativamente constituídas de escravos e de elementos a eles afins. Na vanguarda ia
um corpo de exploradores sob as ordens do Coronel Antero José Quando do esmagamento da revolta de 1817, foi o mesmo
Ferreira de Brito, o Coronel Lima e Silva, comandante-chefe e Pedroso quem acompanhou com mais dois mil soldados o Padre João
seu estado-maior, um batalhão do Imperador, o batalhão de Ribeiro na sua retirada para o norte.
Pernambuco, ag tropas baianas e logo em seguida o batalhão dos Após a Constituição de Portugal, Pedroso toma posição radical e
pretos, comandado por Manuel Goncalves da Silva, tendo ficado na dias depois da Independência depõe a Junta Provisória presidida por
retaguarda parte deste grupo, de guarda no acampamento. Gervásio Pires Ferreira. "Aos 18 de setembro (1822) ; apresentou.sc
Conforme estamos vendo de forma muito sumária, no episódio ante a Câmara do Recife o comandante da força armada, Capitão
militar que redundou na consolidagäo definitiva da nossa Pedro da Silva Pedroso. depois de haver feito pegar em armas os
independência política, o escravo dele participou, dando o seu labor e corpos da guarnição e mandar alguns oficiais aos membros da Junta
o seu sangue ao procurar abrir e alargar as trilhas da nossa formação intimar que se demitissem, o que eles fizeram: e declarou que a força
como nação. armada e o povo ati reunidos depunham a Junta, por ter esta, no
ofício que dirigiu ao Príncipe-Regente, tratado de facciosos os autores
Após o fracasso dB zævoluçio pernambucana de 1817, ainda em do pronunciamento de 1.0 de julho, isto é, o mesmo povo do Recife e
Pernambuco iremos encontrar os escravos em novo levante a tropa, e acrescentou que requeriam 8 eleição de um governo
juntamente com outros elementos e camadas da população, fato que temporário de cinco membros, para proceder à eleição de uma nova
se verificou no ano de 1823. junta."
Sua exigência foi aceita. Foram eleitos: presidente, Francisco de
(48) Idem, Paula Gomes dos Santos; secretário, José Mariano de Albuquerquc ;
Idem. membros, o padre Inácio e Filipe Néri Ferreira." 150
Idem, Pedroso, que além da participação na revolução de 1817 e no
idem. movi. mento que estamos relatando, ainda tomará parte na
(50) Idem,idem. Confederação do Equador, de 1824, foi o ]fder incontestável desses
(51) Idem, idem fatos. Em conseqüência do levante, o comércio fechou as portas
como medida de cautela e durante vários dias a cidade foi
Se na revolução de 1817 a participação dos escravos foi parcial, praticamente dominada pelos insurretog.
no levante a que nos estamos reportando agora foi decisiva, Enquanto durou a ocupação, os escravos e pardos que Se haviam
funàamental. Nele quase que só tomaram parte escravos e engajado revolta, cantavam nas ruas do Recife:
ex.escravos. Seu lider foi Pedro da Silva Pedroso, que declarava sua
pela gente de cor: ele próprio era mulato. Convém notar Marinheiros e caiados
que esse famoso Capitão Pedroso vinha das lutas de 1817, nas quais todos devem se acabar
tivera atuação destacada e violenta. Pertencente à 3.a Companhia do porque só pardos e
Regimento de Artilharia, amotinou-se naquele movimento. Do seu pretos no país hão de
ato resultou matarem o Brigadeiro Antônio Joaquim e o seu habitar. Pois só pretos
ajudante-de-ordens Alexandre Tomás. Foi o mesmo que tEntou dc e mulatos no país hão
espada desembainhada matar José Luís de Mendonça quando esse de habitar.
elemonto procurou, no mesmo movimento, um acordo
contemporizador, "conservando na fortaleza o estandarte real, como
(52) Calmon, P. "História do Brasil", R. de Janeiro, 1959, 4, p. 1431.
convite à negociação..'
(53) Op. eit.
(54) Op. cit.
76
A esse movimento ingurrecional aderiu a quase totalidade das (55) Calmon. P. : op. cit.
forcas da e 2.2 linhas e as companhias Mvnta Brechas e Intrépidos, (50 Citado por Gilberto Freyre: "Regiåo e Rio. 1941. p. 189.
compostas de mestiços e negros e sobre as quais Pedroso exercia (51) Vide sobre o assuntœ"O B8ta'häo dos Libertos". dc edison CAI-neiro, in
"Antologia do Negro Brasllefro". Porto Alegre, 1950, p. Ig7 ss. Interessante é o
grande influência, que já vinha capitalizada dos movimentos
trabalho do escritor Aidano do Couto Ferraz no qual apre*nta composiçäo social das
anteriores, quando ele se transformou num verdadeiro condutor forças libertadoras na Bahia: "não foram apenas os senhores de engenho. co.
das camadas mais radicais. Seu proselitismo, que já se havia mercíantes e letrados que estiveram frente dag aç6es de massag c da 'uta armada
manifestado nitidamente em 1817, continuou em 1823, para que culminou com 8 derrota e expulsäD dos eolonimdores portugueses do nosso
solo. mas fundamentalmente 08 homens do povo. as das camadas pobres da
desembocar, finalmente, em 1824, na Confederação do Equador. população, pequenos proprietários de terras. de roças. ferreiros. cala. fates,
Durante a fase na qual o xnovimento se considerou pescadores. empregados da indústria de cat. empregados nas "armações" de baleia,
virtualrrænte vitizioso, as ruas da capital pernambucana estiveram escravos dos "contratos" e escravos empregados nas plantaçbes de fumo e açúcar,
que eram destemidos combatentes ou eram utilizados na tarefa de trane. portar
cheias de "grupos ruidosos da ínfima de cor e seminua." tropas a remo para abordagens silenciosas da noite. O Batalhão Henrique
Pedroso, aliás, parece que gostava dessa "gentalha", sendo ela, 77
um dos seus alicerces políticos e caldo de cultura do seu prestígio.
Ao refe• rir-se a ele, Pedro Calmon escreve que "a patuléia (pretos, até depois da Independência o escravo participava de outros tos
mulatos, dizem os papéis) seguia os mata-marinheiros com o que ainda lhe ofereciam aquela "ilusão de liberdade" que 0 7 de
Coronel Pedro da Silva Pedroso." Setembro não lhe deu.
Alarmados com tal situação, que se apresentava
Enquanto no Nordeste movimentos como a Confederação do
inesperadamente, e tendo em vista os acontecimentos anteriores Equador apareciam como sintomas insofismáveis da disposição
que conturbaram a Província, pondo em perigo a ordem tradicional, nist8 de diversas camadas da o que decorria
os senhores de engenho logo se organizaram para liquidar aquêle de uma série de fatores que, na sua essência, afirmava a formação da
movimento que punha em perigo a estabilidade do regime. No nossa consciência nacional, no Sul a efervescência não era menor a
Engenho do Cabo formou-se um verdadeiro exército recrutado Independência. Certos problemas políticos que eram do desigual das
pelos donos dos engenhos e fazendas de Pernambuco que, economias regionais, traduziam a conscientização das contradições
comandado por Pais de Barros, seguiu para esmagar a revolta. emergentes na brasileira que diversificava
Segundo Alfredo Carvalho, c,stavam "armados de grossos economicamente, criando novas e mais complexas formas de divisão
bacamartes de boca-de-sino, pesadas granadeiras reiúnas, do trabalho e de acumulação de riquezas. Houve, por este motivo,
compridas lazarinas de fuzil, monstruosas pistolas de coldres, uma interligação sub-reptícia mas constante entre as
chuços de todos os formatos. ferrugentos espadões de gala, facões rebeldes das regiões, interligação que refletia a coincidência de
dc rabo-de-galo, recurvos como cimitarras". ( SC ) intereBes desses novos que mas se encontravam
Essas tropas, aliadas às que a elas se juntaram, conseguiram geograficamente separados. Exempio disto é o contacto havido entre
csmagar, com relativa facilidade. a "revolta de Pcdrogo". os homens que fizeram a Confedera. cão do Equador, no Nordeste. e
os que dirigiam a Revotuçäo Farroupilha no Sul. O fato é muito visível
Em 1824 participará o escravo, embora de forma mais diluida. e explicável. Bento Gonçalves esteve preso em Salvador durante
algum tempo, conseguindo fugir em conseqüência da cooperação de
Assim, também, na República de Sabino Vieira. instalada na Bahia
oficiais e elementos ligados aos sediciosos locais. Para o Rio Grande
em 1837. Os escravos negros dela participaram ativamente,
do Sul, por seu turno eguiu o Padre José Antônia Caldas, que foi um
formando um corpo de tropa constituído de cativos: o Batalhão dos
dos organizadores da Confederação do Equador em Alagoas;
"Leais à Pátria" que operou sob o comando do Major Santa Eufrásia.
geguiram da Bahia o Coronel Rocha. o Professor João Rios Ferreira
Como vemos, Firmino Teles, todos eles elementos ativos durante o tem. po que
durou a República de Piratini. (57-A)
Era, por conseguinte, a conscientização de vastas áreas e que se escorava toda a economia regional. O Rio Grande do Sul
camadas sociais que se configuravam nesses movimentos. tinha a seguinte população
Não tendo surgido a Aboliçäo em 1822, como esperavam, os negra :
escravos não perderam a esperança. Continuaram, como já vimos, se
engajando nos movimentos subseqüentes. Na Revolução Farroupilha
eles se sentirão à vontade porque, afora a insurreição dos alfaiates, 1.439
na Bahia, nenhum outro movimento foi tão enfática e 22 000 100 . 000 O total da população da Província
ostensivamente antiescravista como o chefiado por Bento era o seguinte :
A participação do escravo tinha um caráter racional, lógico. Não havia 1814 .
a contradição existente nos demais acontecimentos quando eles
participavam das lutas por ordem dos seus senhores, conforme já
vimos. Além mais, como não pesava muito fortemente na economia 79 . 137
da região conflagrada, o escravo se transformou em soldado 106. 196
rapidamente, adaptando as suas técnicas de combate 360.000
(58) "As Provincia8 do Amazonas, Pará, Mato Grosso. Rio Grande do
Diaz compunha.æ de mil e cem crioulos. Naa cidades do e ilha. nAo Sul, S. Catarina e Paraná. limitadas pelos (Guianas Inglesa e
era menor o contingente de homena de cor, filhos leais de nosso povo que siavam
Holandesa, Venezuela, Nova Granada. Peru, BOUvle. Paraguai. Repúblfca
pe'a emancipação e o de viver". (O Guerrilheiro da Independência," in "Voz Operária",
Rio) .
Argentina e Üru. guai). em nenhum dos quais permite a escravldäo, sio
(57A) "Quinze dias apenas esteve Bento Gonçalves preso no Forte do Desde a sua chegada entrou justamente por isco, Pe. rigos permanentes para a trangüilidade interna e
em confabulaçöes com os republicanos da capital. NåO corróinou com elea apenas o plano da sua fuga. mas para a defesa do Estado. Na Oluma guerra com o governo de Montevidéo, e
ainda o da suMevacåo tNlana. Tinha o prisioneiro a praça de por menagem. Conversava com onei8ås e vs. atuai com o Paraguai, os cheteg das forças inimigas traziam a missio de
lia•se diariamente da permtssäo de tomar banho de mar" (Collor, L. Garibaldi e a Guerra doa Farrapos, Porto sublevar os escravos do Rio Grande; ninguém ignora que este recurso.
Alegre. 1958, p. 105) . posto que bárbaro, se fosse eficaz. cansar-nos.[a grandes desastres. A
escravidåo nas fronteires é. pois, na realidade. gravissimo elemento de
78 fraqueza miütar. "Além em tempo de paz. a fuga de para os
aprendidas no Continente Negro às lutas da campanha. As próprias territ6rlos vizinhos e outros tatos promovem conflitos e amarguram
autoridades farroupilhas se encarregavam de emancipá-lo. algumas de nossas questões internacionais. Anda há pouco. noticia-se do
norte a fuga de escravos do Alto Amazonas paxa o território do Peru, e uma
De fato, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná não consi. derável evasão do Pará para a Goiana Francesa. As discuss5e8 que
receberam um contingente demográfico africano considerável, provoca 8 ex• tradiç50 de escravos evadidos da fronteira do Rio Grande do
embora, o seu cœfieiente fosse bem maior do que muitos O Sul, as questöes que têm originado, a série de do governo oriental contra o
tipo da economia pastoril prescindia do escravo africano, Os brasileiro, re• novadas ainda recentemente em 1864, a dificuldade de se
trabalhos agrícolas, espeeialmente o da erva-mate, também não cumprirem tratados dc extradicäo. o constrangimento que sua execuqåo
produz, e os abl£os dos rio-grandenses que nas suas estancias do Estado
eram de molde a exigir uma con. centraçäo de braços escravos a
Oriental a escravidäo ainda que dissimulada sob a forma de contratos de
que a economia dos engenhos ou da mineração impunha. Além engajamento com enor. mes (IO. 15 e 20 anos): tudo isso wnspira pam
disto, devemos salientar que, nas regiões frvn• teiriças, havia abolir a æcravidäo na grø.n. provfncfa fronteira do Sul" (Bastos, Tavares:
sempre o perigo de o escravo fugir para outros países. Houve ('A Província", Sio Paulo, iÐ37, p. 243/244) .
mesmo alguns atritos de caráter internacional em conseqüência (59) Sobre a composicio demográfica do RIO Grande do Sul e o seu coe". ciente
desses fatos. (58) Daí não terem as camadas dirigentes da região negro relcaionado com outra* regiões, Dante de Laytano nos apreænta oa se. guintes
dados esclarecedores; "A percentagem dos brancos na populacio é de somente
conflagrada interesse em manter o estatuto da escravidäo. tio ultrapassada por Santa œtarina que tem quando tem Estados. como o de Alagoas,
acirradamente como aconteceu no Nordeste. onde era o esteio em com 31.08 A de é, entre nós, de 5.35%, ultrapassada por Santa Catarina 3.25% e
Distrito Federal com 3.23%, chegando à maig alta percentagem no Amazonas. entusiasmo diante da vontade férrea do negro que conduzir os navios de guen•a pan l_n-
48.38%, no Pará, 39.94% e no ceará, 37.12%" ru vitória certa." (Op. cit.t p. 150).
(64) "Contava-se que depois de interrompida a fuga de Laje. recebera
79 Bento Gonçalves aviso de que as autoridade. militares iam ordenar uma busca em sua
Como muito bem diz Dante de Laytano, as estatísticas revelam pessoa e bagagem, e que todo o dinheiro encontrado seria entregue em depósito ao
da fortaleza. a fim de dificultar•lhe novas tentativas de evasäoAcompanhava-o
que a revolução de 35 encontrou a Província com 1/3 de escravos no
desde a Cisplatina um escravo tugido, o Congo. Temendo fiear privado dos Ncürsos
total da população". E acrescenta o mesmo autor: . . cs Farrapos gue trazia consigo, resolveu fosse o negro à cidade levá-20s à custódia de de
encontraram nos negros, não o soldado mercenário e passivo, mas um confiança. Respondeu o preto que pr2ferfvel• lhe parecia guardasse ele próprio a
aliado, numa campanha armada pela libertação de seu estado pelas soma. Não gostou a amo da resposta, e com alguma irrl. tacäo reiterou. peremptório. a
bolsas avaras de Portugal." ordem. Congo não ousou e foi à cidade. De volta, afirmou que fizera a entrega de
acordo com as instruçöes do senhor.
O escravo negro, portanto, participa neste quadro como aliado livre, 'IA busca, entretanto, näo se efetuava. E um belo dia fol o prisioneiro surpreendido
criando zonas de fricção rnilitar em diversos e áreas de combate. Desde o com a ordem de embarcar imediatamente num brigue de guerra pronto a
começo, isto é, desde a tomada de Porto Alegre que o escravo negro está
papsente, comandada por Bento Gonçalves. Uma testemunha afirmará que
"de diversas insurreições de Escravatura agentes fizeram armar e reunir 80
em diversos pontos da Provincia e na cidade de Pelotas onde ainda pazões de sobra para combater ao lado dos Farrapos. O
conservam, para mais de trezentos a quatrocentos armados contra a escravista dos seus líderes. como já assinalamos,
causa da I_Ægalidade. . O próprio Bento Gonçalves tinha um ex-escravo justificava esse engajamento. Bento Gonçalves e Domingos de
que o acompanhava, tendo prestado bons serviços causa republicana. Almeida, ministro da Justiça e Interior da jovem República,
Outros depoimentos ainda mostram que o escravo foi um aliado assinavam, a 11 de maio de 1839, documento no qual afirmavam: •
dos mais importantes da República de Piratini. Ainda segundo Dante 'o Presidente da República para reivindicar Direitos inalienáveis da
de Laytano "foram eles elementos de colaboracio, entraram com cs humanidade. não conseguindo que o livre rio-grandense de qualquer
primeiros insurretos, estiveram a par dos segredos e das senhas cor que os acidentes da Natureza os tenham distinguido, sofra
revolucionárias e tomaram parte na primeira avalancha que sc jogou impune e não vingado o indigno, bárbaro, aviltante e afrontoso
contra o Império." O Major João Manuel de Lima assumiu o tratamento que lhe o infame Governo Imperial, em
comando da l.a Icgiäo de escravos que entrou na cidade de Pelotas. E, represália, a que lhe é provocado, Decreta:
convenhamos, os escravos tinham Artigo Único: Desde o momento em que houver sido açoitado
um homem-de-cor a soldo da República pelas autoridades do
A proporcionalidade quanto ao negro, é a seguinte: Governo do Brasil, o General Comandante.Chefe do Exército, ou
Rio Grande do Sul. 8.68%. Paraiba 7.08% e Ceará 8.65% Comandante das diversas divisões do mesmo, tirará a sorte aos
As estatfstícas revelam que a revoluçáo de 35 encontrou a Província com Oficiais de qualquer grau que sejam das tropas Imperiais
1/3 de escravos negros no total da popli!acäo" (Laytano. Dante de "História da nossos prisioneiros e fará passar pelas armas aquele que a mesma
Repúbli. ca Rio•Grandense", P. Alegre, 1936, p. 147) sorte designar. '
{80) LAYtano, D de — Op. cit.. p. 147 Compare-se este documento com D 'ançado peio governo
(61) op. cit. revolucionário de 1817. A diferença é flagrante e o saldo é todo a
(62) op. cit. favor dos farroupilhas.
(63) Diz ainda Dante de Laytano " - - . um Antonio Joaquim da Silva por
alcunha "Menino Diabo" porgLæ este nio só andava hostilizando carno comandando E havia mais: a jovem República comprava centenas de
os 18_n e armados de escravatura _ . depunha o funcionário da escravos aos seus senhores, todas as vezes que eles assim o exigiam,
tesou. rara geral Pedro Azevedo e Souza no Juizo de paz. para que pudessem combater como soldados livres nas fileiras dos
Os escravos retomana.m — prossegue Dante de Laytano — nessa armada de espe Farrapos.
gue era como bem se poderia chamar a espécie de esquadra revolucionária, guag
qualidades de energia e bravura. O próprio Garibáldi näo pode esconder o seu
Não foi apenas como lanceiro, soldado de infantaria ou nas marcharam para o Sítio Timbaúba em busca do presidante do
cargas de cavalaria que o negro se destacou pela importância do Conselho Municipal, Bento Gomes Pereira. Cercada a casa, aparece
papel, mas na Marinha também. 8 figura do prTsidente da Câmara. visivelmente nervoso e
Lanchões armados, tripulados por ex-escravos faziam parte da temeroso, sendo, na ocasião, interpelado pelos escravos que
pequena frota farroupilha. Em várias oportunidades tiveram de exigiam "0 livro de fundo 'ta emancipação ondc estavam pintados
provar a sua bravura, conforme testemunho de outros participantes os escravos novos".
dessas refregas. Rafael e Procópio, negros, participaram
O movimento já tinha assumido proporções inteiramente novas
com Garibaldi, do combate que as tropas farroupilhas mantiveram
e dramáticas ; os escravos haviam aproveitado o desccmtentamento
em Camaquã contra Moringue. Muito da resistência que foi
oferecida àquele chefe legalista deve-se à disposiçã.o escravos que dos habi. tantes da cidade para exigirem a sua liberdade. Gomes
estavam ao seu lado. O próprio Garibaldi, que tão ativa e participou Pereira, maliciosamente, entregou um livro aos escravos sediciosos
ao lado das tropas de Bento Gonçalves, criando mesmo uma auréola que não sabiam ler, afirmando ser o do "fundo". Ludibriados dessa
de herói de dois mundos, nas suas memórias, declarou: "Quisera um maneira, retiraram-se e levaram consigo, como reféns, todos os que
lugar para escrever, gravar cm bronze os nomes destes valentes se encontravam no sítio.
companheiros, que em Quando chegaram em Campina Grande, de regresso, säo
procurados pelo Padre Calixto Nóbrega, vigário local, que tenta
sair para a Bahia. sendo•lhe ao mesmo tempo comunteado que n'O podla levar con. sigo o dissuadi-los do seu intento. Já haviam og escravos, a essa altura,
escravo. compreendido o logro de que foram vítimas. Sem uma orientação
Desesperava." Bento Gonçalves ccrn a impossibilldade de mandar busca.- o
dinheiro, quando dele se aproxima o "Conguinho" e lhe segreda, desapertando o
clara, apesar das contínuas levas de escravos que vinham de todos
cinto : os pontos engrossar as fileiras de Manuel do Carmo, os escravos
— O dinheiro está aqui!" resolveram internar-se nas matas próximas. Por outro lado,
(Collor. Lindolfo: "Garibaldi e e Guerra dos Farrapos". Porto Alegre. 1958. marchava para Campina Grande um forte con. tingente chefiado por
Laytanq Dante de. op. cit. Belarmino Ferreira da Silva. Compreendendo a sua inferioridade
numérica e a desvantagem tática de permanecerem na cidade,
81
embrenharam-se nas matas transformando•se em quilombotas.
número de quatorze se me reuniram, combatendo durante cinco
horas Cin. inimigos". Com a saída dos escravos de Campina Grande, o movimento do
"Quebra.Quilos", como ficou sendo conhecido, logo seria abafado e
O abolicionismo dos chefes da República de Piratini não
os seus principais dirigentes aprisionados.
arrefeceu mesmo nos momentos mais críticos. Depois de
reconhecidamente derro não abdicaram das suas posições
antiescravistas. (66) — Garib&ldt: "Ml Lucha por 1a Ubertad" B. Aires, 1944, p. 86.
(87) — A pcgiçäo antiescravlsta dos Farrapos foi mantida até o fim. Quan. do rol
Nas condições de rendigäo não abandonaram à sua própria discutido o Tratado de Paz com o Império, estando já. portanto, os farroupfihas
sorte aqueles que, sendo escravos, lutaram ao seu lado. (67) derrotados pois era o documento de sua rendição. impuseram uma cláusula, a
Na Paraíba, em 1874, quando foi adotado no país o novo quarta, que unha a seguinte redaçåo: '"Sio 'ivæs e como tais reconhecidos os cativos
que Revoluçho". Como vemos, os escravos que se engajararn no movimento de
sistema de medidas (métrico decimal), o povo da cidade de
Bento Gonçalves. mesmo com a sua derrota, eonseguixam a Iberdade por que
Campina Grande saiu às ruas para protestar, supondo tratar-se de lutaram de mios.
novos e mais elevados impostos. Aos descontentes, juntar-se-à uma (68) Jutema, A _ "Insula•eiçaes Negras no Brasil", 1935, p. 13.
parcela de escravos daquela cida• de que, comandados por um
82
negro chamado Manuel do Carmo, assumiu praticamente a direçäo
do levante. O escravo Manuel do Carmo e seus companheiros
Conforme catamos vendo, não foram lutas esporádicas — c o 83
quadro que acabamos de apresentar está longe de ser completo quer
na sua extensão. quer na sua profundidade — mas uma seqüência
decorrente da própria estrutura econômicc-social da Colônia e do
Império, o que vale dizer. decorrência da estratificação quase
impermeável de urna sociedade estra, vista.

Além lutas em que o escravo negro participou, juntamente com


as demais camadas e da sociedade, há as revoltas de escravos nas
quais ele lutou isolado, por objetivos próprios. É o que veremos
adiante.

Quilombos e Guerrilhas
O quilombo foi, incontestavelmente, a unidade básica de resistência do escravo. Pequeno ou grande, estável ou de vida precária, em qualquer região
em que existia a escravidão, lá se encontrava ele como elemento de desgaste do regime servil. O fenômeno não era atomizado, circunscrito a determinada
área geográfica, como a dizer que somente em determinados locais, por circunstâncias mesológicas favoráveis, ele podia afirmar-se. Não. O quilombo
aparecia onde quer que a escravidão surgisse. Não era simples manifestação tópica. Muitas vezes surpreende pela capa, cidade de organização, pela
resistência que oferece; destruído parcialmente dezenas de vezes e novamente aparecendo, em outros locais, plantando a sua roça, constituindo suas casas,
reorganizando a sua vida social e estabelecendo novos sistemas de defesa. O quilombo não foi, portanto, apenas um fenômeno esporádico. em fato
normal dentro da sociedade escravista. Era reação organizada de combate a uma forma de trabalho contra a qual se voltava o próprio sujeito que a sustentava.
Em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Maranhão, onde quer que o trabalho escravo se estratificava, ali estava o quilombo, o
mocambo de negros fugidos, oferecendo resistência. Lutando. Desgastando as forças produtivas, quer pela ação militar, quer pelo rapto de escravos, fato que
constituía, do ponto de vista econômico, uma subtração ao conjunto das forças produtivas dos senhores (le engenho. Sua organização interna tinha como elemento
importante as instituições tribais que os negros traziam da África e que aqui deixavam de ser meros elementos supérstites à medida que o escravo se rebelava,
tornando-se elementos de negação do sistema escravista. A hierarquia que se estabelecia nos quilombos exprimia um novo sistema de valores criado pelos
rebeldes, isto é, significava que a dicotomia senhor• cscravo deixava de existir
para se estabelecer outra que funcionava «len. tro dos padrões de controle dos
próprios elementos do quilombo.

(1) — As autoridades entendiam por quilombo "toda habitacio de negros fugidDs gue de cinco,
em parte desprovida, ainda que Mo tenham ranchos levantados nem se achem pilöes neles"
(Resposta do Rei de Portugal consulta do Conselho Ultramarino, datada de 2 de dezembro de 1740)
.
87
Como dissemos, era portanto o quilombo uma instituição natural Elemento complementar do quilombo, muitas vezes independente
na sociedade escravista. As fugag sucessivas que decorriam da própria de estrutura, foi a guerrilha, que proliferou em diversos locais nos
situação do escravo, exigiam que se organizassem núcleos capazes de quais os quilombos apareciam. Menos numerosa, a guerrilha tinha
receber o elemento rebelde que necessitava, como é natural, de outros objetivos: o quilombo aglutinava os elementos que fugiam e
conviver com semelhantes para sobreviver. procurava dar-lhes uma estrutura organizativa estável e permanente.
Daí funcionar aquela hierarquia de valores tribais a que nos referimos,
além dos seus traços de cultura que funcionavam no desenvolvimento Incluímos a luta dos escravos (Io Preto Cosme neste capitulo por
da agricultura local, na fabricação dc armas, ria forma de governo. motivos óbvios : se aparentemente ela se assemelha a uma insurrciçä.o
A guerrilha era extremamente móvel. Por isto mesmo pouco pela tomada do poder, e em determinados momentos afigura-se com
numerosa. Atacava as estradas. roubando mantimentos e objetos que to, nalidadeg nitidamente voltadas para este fim, foi, no entanto, no
os qui. lombos não produziam. Eram seus componentes também seio de um quilombo que fermentou inicialmente, pelo menos no
sentinelas avançadas dos quilombos, refregando com as tropas legais, aspecto que nos interessa mais diretamente. Além do mais, foi apenas
os capitães. do-mato e os moradores das vizinhanças. o coroamento dc todo um longo processo de lutas dos quilombolas
maranhenses, como veremos adiante. Como, por questões
Édison Carneiro, estudando as formas de luta dos escravos, metodológicas, separamos este núcleo mais radical do conjunto de
caracteriza.as da seguinte maneira: a) 8 revolta organizada, pela forças políticas que desencadearam oficialmente o movimento,
tomada do poder, que encontrou a sua expressão nos levantes dos achamos que a ênfase quc damos ao aspecto justifica a sua inclusäo
negros males (muçulmanos), na Bahia, entre 1807 e 1835; b) a neste capítulo: saíram dos quilombos para as guerrilhas. Poderão
insurreição armada, especialmente no cago de Manuel Balaio (1839) no pensar que a participação (IC Manuel Balaio c do Preto Cosme em
Maranhão; c) a fuga para o mato, de que resultaram (N quilombos, tão aliança com os bem-te-vis obrigar-nos-ia a apresentar esses fatos
bem exemplifi• cados no de Palmares. (2) De fato, estas tres formas enquadrados nas linhas do capítulo "Participação (10s Escravos nos
fundamentaig de luta caracterizaram, de um modo geral, os Movimentos Políticos". Quem estuda, porém, detidamente, as forças
movimentos dos escravos contra o instituto da escravidão. Devemo-nos sociais que desencadearam o movimento, vê. facilmente que os
lembrar, porém, para que não fique o panorama inwmpleto, de duas escravos sempre tiveram objetivos independentes dos políticos bem-te-
outras formas de resistência usar das pelos escravos: 1) as guerrilhas, vis e por eles sempre foram alijados de posições mais importantes, se
como já foi dito acima e 2) a participaçäo — como vimos no capítulo podendo portanto falar em uma aliança entre essas duas forças.
anterior do escravo em movi. mentos que, embora não sendo seus, Quando a luta chegou à sua derradeira fase, com a derrota das forças
adquirirão novo conteúdo com a sua participação. No presente capítulo rebel. des, essa diferenciação poderá ser mais facilmente verificada
estudarelms especialmente os quilombos e as guerrilhas. com a participação dos elementos bem-te-vis na caça aos
remanescentes dos homens do Preto Cosme e do Balaio. Essa ala,
(2) — Carneiro, Edison — O Quilombo dos Palmares. Sio Paulo. 1947, p. 18. porém, continuou a luta até ser definitivamente esmagada, depois que
í 2•A) — Algumas vezes o quilombola terminava em esses políticos capitularam c passaram a agir como aliados do inimigo
bandolei. ro- o caso do célebre Lucas da Feira, na Bahia. "Lucas era um negro de çntcm.
crioulo escravo. Em 1828, ele tugiu do seu senhor e organizou com a ajuda de
alguns outroe fugitivos, chamados Flaviano, Nicolau. Bernardino. Januário, O processo de luta dos escravos no Maranhão, é bom insistir, con.
José e Joaquim. um bando que desde æse tempo até 1848; Infestou as grandes tinuará após o esmagamento da Balaiada como já existia antes da sua
estrada8 que conduziam eidade de Feira de Santana, entåo simples vila. cclosão. O mesmo podemos afirmar em relação aos "Papa-Méis" de
Durante vinte anos estes bandidos cometeram crimes de toda espécie. Manti. Alagoas, também estudados no presente capitulo.
nham a p4dflca população da vila presa de tal terror que, quando em 1844, o ban. dido
Nicolau foi morto pelos policiais que o perseguiam e Bua cabeça trazida cida. de. se Os quilombos proliferaram inicialmente como forma Cundamental
celebrou o acontecimento testas públicas, que foram renovadas e dc resistência. Em todas as partes da Colônia ele surgia logo surgisse o
duyaram treg dias, quando Lucas foi aprisionado." ( . ) mesmo sem instduç50 fez-se sistema escravista e o seu modo de estratificação. Enchiam as matas e
chefe do bando. NAO agiu absolutamente como os negros Quc se suicidavam: ele
tomou a ofensiva. ) Interrogado muito habilmente neste sentido. tomou todo cuidado
punham em polvorosa os senhores de terras e vidas humanas. Por isto
em nho comprometer seus cúmplices. Negou todos os ta. tos que pudessem denunciá- mesmo, no decorrer da escravidño, vemos tumultos constantes e lutas
los. Premido ao extremo acabou por deciarar que nio denunciaria 'amai8 sous amigos. dc quilombolas se sucederem, conforme já acentuamos: ataques às
eabia. que seus dias contados. mas jamais fazen. das, de feitores e capitães-do-mato, lutas de guerrilhas. Eserevé
88
Afonso Arinos de Melo Franco, aos escravos do Rio de
Janeiro: "Atacam os seus próprios senhores. Assim, em Rio Bonito, o naquele — estabelecerão um agrupamento de quilombolas em
fazendeiro José Martins da Rocha Portela foi morto pelos seus negros. Cumbe, hoje usina Santa Rita. Iniciarão, rogo depois de estabelecidos
Tentativas de morte contra senhores também havia, como a que se deu no local, uma série de ataques que os deixará temidos. Investiam contra
com o fazendeiro Miguel Teixeira Mendonça, de Barra Mansa, ou fazendas para

trairia aqueles que outrora n haviam ajudado." (Rodrigues. Nina: "As Coletividades (3) Mello Franco, A. A. "Agitação dos Escravos do Rio de Janeiro", in "Antologia do
Anormais", Ri. de Janeiro. 1939, p. 153 — Luca. da Feira depois de con. ressar todos os Negro Brasileiro. Porto Alegre. 1950. — Aliás, em todo o Brasil as mortes ou tentativas de
seus crimes foi condenado à morte e enforcado na cidade de Feira de Santana (então vila) assassinio dos senhores pelos escravos eram multo frequentes e enchem todo o periodo
a 25 de setembro de 1849. Ver a respeito: "Lucas, o De. monio Negõ' de Sab'no de escravista. Em 1831. em Pernambuco, os escravos do Engenho Genlpapo levantaram.se.
Campos (Pongettl, 1957), que apesar de ter como sub. titulo, "Romance Folclórico assassinaram o fettor e para as matas. Em correspondêneia para a Corte comunicava na
Baiano". um documentário valioso, contendo pesquisas Inéditas sobre Lucas da Feira. época uma autoridade o "funesto acontecimento havido no dito engenho no dia 22 do
mes próximo passado" (MS trans. erito Gilberto Freyre "Nordeste", R. de Janeiro. 1938).
89 Pandiá Calógeras. abordando o mesmo escreveu que "começavam os escravos a ser
consideradog como um perigo social, pela freq0êncfA dog assassinatog praticados em
com o sinhô-moço. filho do Josö Joaquim Machado, do
seus senhores. A 26 de fevereiro de 1834, Aureliano declarava em aviso ao Juiz de Di•
Murundu, em Camp(xs". reito da 4• comarea de S. Paulo, que näo deferira a Regência o recurso de graça de um
réu escravo condenado à pena última pois tais crimes. por sua repetiçäo. ameaçavam a
Mas a revolta coletiva — conforme já tivemos ocasião de salientar ordem social "e deve a sentença dar.se pronta execuçäo. e que para o futuro assim se
— será a forma característica de luta entre os escravos. deverá praticar em quaisquer réus de igual independente de subirem à
presenca da mesma Regência as sentenças na conformidade do cita. do Decreto de li de
Os quilombotas criarão vários focos de açäo nas margens do Rio abril de 1829". ("Da Regência à Queda de Rosas", S. Paulo. 1933, p. 333) .
Pa. raíba, (IQ onde incursionarão para atacar as fazendas mais (O — Coaracy, Vivaldo: "Quilombolas no Rio de Janeiro", in "Antologia do
próximas. Ali juntar-se-ão aos índios que também lutavam contra a Negro Brasileiro", P. Alegre, 1950.
escravidäo, constituindo força capaz de atacar inesperadamente os 90
senh01æs de engeIlho que, alarmados e temerosos de suas atividades, conseguirem viveres, armas e novos elementos que iriam engrossar o
várias vezes solicitarño providências à Câmara contra tais atas. corpo dos insurretos. (s)
As providências surgirão. Isso, porém, não impedirá que os
Os fazendeirŒ solicitarão imediatas providências contra os
quilom• bolas continuem atacando até vilas e povoados.
"roubos que experimentavam os do Sertåo Cariri, Tapuá e
Em conseqüência desses fatos, grupos de Taipu do mocambo Cumbi". A Carta Régia que comunica o fato diz
percorre• rio o interior dando caça aos escravos fugidos. A Câmara ainda que naquele mocambo se encontravam índios, orçando em
instituirá prêmios para os captores dos quilombolas. Em 1669, apesar cerca de setenta o número de indígenas e negros ali aglomerados. As
das inúmeras medirias repressivas, são vistos refugiados na Serra dos medidas repressoras serão imediatamente postas em prática, sendo
órgãos, onde continuam suas investidas contra os seus senhores. A enviado Jerô. nimo Tovar de Macedo com quarenta para fazer frente
audácia desses quilombolns aumenta com o passar do tempo, ao de quilombolas, no que nio lograram êxito. Com a derrota
chegando mesmo a atacar a estrada de São Cristóvão. sofrida pelas tropas enviadas, a situação se agravou para os senhores
da ata. cados constantemente pelos escravos fugidos. Novas
Os escravos paraibanos lançaram•sc muito cedo à luta por sua providências serão tomadas P, tempos depois, Joio Tavares de Castro,
libertaqño. Foi, inicialmente, o quilombo, a forma adotada. Fugiam para eam um corpo de mercenári(N, marchará contra o quilombo, travando
as matas, tornando-se um perigo constante ao sossego dos senhores de combate cerrado com os seus componentes. "suprimindo muitos",
terras e de engenhos daquela área, fato que não passará despercebido aprisionando vinte e cinco, arrasando, finalmente, o reduto. Muitos
ao Governo de Portugal, que enviará, logo depois de ser cientificado, anos depois, em 1851, será dissolvido outro foco de quil(xnb0'as que
ins pata que fossem impiedosamente destruídos. Muitos dos constituía "sério perigo" e vinha resistindo tenazmente às investidas
escravos vindos de Palmares — com a experiência de luta adquirida das autoridades. (6)
A Metrópole, ante o agravamento de situação tão vexatória, Certas particularidades da sociedade mineira propiciavam a fuga
tomará novas providências contra tal estado de coisas e, em 1741, dos escravos. Havia uma cisão profunda entre as duas partes
mandará que seja cumprido o Alvará de 7 de margo fundamentais da sociedade urna ligada à Metrópole e outra
daquele ano, que estatuía fosse ferrado — ferro em brasa — com um discordante da si• tuação em que se encontrava (era eomposta de
"F" na testa todo cativo que fugisse e fosse encontrado em quilombo e contratadores, faiscado res, artesãos, pequenos comerciantes,
cortada uma orelha em caso de reincidência. Egas porém, não militares de baixa patente, etc) . Isto sem falarmos na própria massa
conseguirão detpr a marcha da luta dos escravos paraibanos contra o escrava inteiramente destituída de bens materiais e direitos políticos.
estatuto da escravidão. Pelo contrário : as cadeias públicas se Criou-se, portanto, o caldo de cultura onde fermentaram. desde o
encherão de escravos zæbeldes. Assassínios de feitores, de senhores século XVII, sucessivas revoltas.
de engenho, de capitães-do-mato serão fatos comuns na região
paraibana durante a vigência da escravidão. Em 1865 a da Capital foi Os quilombolas sc aliavam aos ccntrabandistas de diamantes e
palco de uma cena que bem ilustra o grau de rebeldia escravos. Um serão uma constante: muito trabalho darão aos
negro que ali fora recolhido se rebelou contra os maus tratos a que dirigentes da Ca. pitania. Segundo um historiador dessa região M. M.
vinha sendo submetido. Em conseqüência foi condenado a reæber de Barros Latif — em conseqüöncia das facilidades que os escravos
quatro dúzias de palmatoadas. Encontravam-se também presos na encontravam para a fuga na mineração, a repressño se processará
ocasião, na mesma ca• deia, inúmeros outros escravos. com mais vigilância em Minas Gerais (le que nas demais capitanias.
Imediatamente a solidariedade dos demais prisioneiros se fez sentir tendo, mesmo, as cadeias, públicas se transformado nos edifícios
para com o que seria castigado e, na ocaSião em que o condenado — mais importantes das cidades, vilas povoados mineiros; importância
chamava-se Francisco — era retirado da prisão para sofrer o castigo, que advinha da vigilância repressiva movida pelo governo. repressão
os demais atiraram-se sobre a guarda, originando.se em seguida tanto mais acentuada quanto era o interesse da Metrópole cm
violenta luta corporal. No conflito foram mortos os escravos arrancar as riquezas do subsolo mineiro.
"Ildefonso, condenado à morte pelo júri de Sousa; Félix, con• denado
Durante muito tempo viveu no distrito diamantino um
às galés perpétuas pelo júri de Pilar; Tomás, pertencente a Joaquim
tegendário negro chamado Isidoro. conhecido posteriormente por "O
Moreira Lima, que se achava recolhido à requisição do seu senhor; o
Mártir", que durante anos atuou à frente de 50 quilombolas,
guarda naciønal Manuel do Prazeres, que fazia parte da guarda da
praticamente invencivel até a morte, no ano de 1809.

(5) — Ver o capitulo sobre Palmares no qual procuramos resumir o que Io' o (7) — MS transcrito por Ademar Vidal. loc. cit., p. 126.
reduto da Serra da Barriga, baseados em alguns autores e documentos antigœ e no (8)
Joaquim Felicio dos Santos descreve atividades de Isidoro da se.
trabalho de Carneiro. evidentemente a melhor obra aparecida até o mo. mento sobre o
guinte forma: ••rsfdoro era um pardo que fora escravo de um frei Rangel,
assunto, trabalho clássico.
gue vivia da mineraçåo. Processado como contrabandista foi confiscado a seu
(6) — Vida', Ademar: — "Dois na paratb8", 'tastu. do,
senhor em be• neficlo da fazenda Real, e condenado a trabalhar nos servlcos
Afro.Brasneiros•', 1985.
da Extracäo como galé _ De caráter altivo e nåo podendo suportar a pena,
91 que o obrigava a trabalhar de calceta. um dia limou os ferros. conseguiu
cadeia; e foram feridos gravemente os presos José, escravo iludir a vigilancia dos guardas, fugiu do serviço e atirou-se à vida de
pronunciado por ferimentos graves em Pedra de Fogo; Joaquim, garimpeiro. Sucedeu que outros escnvos, também condenados. imitassem
escravo fugido e 0 guarda nacional João Francisco do Nascimento; seu exemplo. Reuniram.se e Isidoro constituiu-se o chefe de uma tropa de
levemente feridos os escravos Raimundo, condenado às galés pelo garimpeiros escravos" entretinha freqUentes comunica. çöez
júri de Mamanguape; dois soldados de linha — Luís Fernandes com pessoas importantes da Tijuca que lhe compravam os diamantes que
extraia" ( "Câmara toi o mais acérrimo perseguidor de Isidoro: ainda mais
Duarte e Telésforo Pereira da Sil — e 3 guardas nacionais:"
que Joäo Inácio. Declarou-lhe uma guerra encarniçada; dissimulou patrulhas
Pelas conseqüéncias podemos avaliar as proporções da luta. por toda parte; bateu.o em diferentes lugares; empregou os meios seduçäo.
de ameaças. de violência as pessoas supunha protege. 10. Isidoro. porém, despovoando, pois os moradores se retiravam à medida que eles
sempre eonse. guiu pôr-se a salvo de suas perseguiçöes, Sá resistindo com a investiam, com medo de novos ataques, coisa que se repetia
força. já por traças freqüentemente. Mas se os moradores da região fugiam apavorados,
elementos de outras regiões estabeleciam com esses um
contaminando•lhe grande número de os pedestres planos bem da intendência,
combinados" resistiu ( ) (Isidoro) "Assaltado só de e improviso valorosamentepor
verdadéiro mércio clandestino. "Tinham mesmo em povoados, e até
vilas, agentes
92
De todos os quilombos existentes em Minas Gerais, possivelmente,
embora não seja certo, o mais importante — pela duração e número de por muito tempo até cair ferido com três balas. Então o prenderam, e ainda o
'Maltrataram. espancaram. feriram como se se tratasse de um an[mal brávio" _
quilombolas reunidos — foi o de Campo Grande, ajuntamento quê mui. Isidoro. cam as carnes rasgadas. e mal podendo suster-se, é levado tortura.
to trabalho deu às autoridades mineiras, antes de ser destruído,
Em público. defronte da porta da cadela. foi amarrado a uma escada. com 08
embora outros, cnrno o de Ambrósio, fossem apontados como mais estirados e movimentos tolhidos _ Dois IMIestres começaram a açoltá.lo
numerosos. Em 1741 já se tinha notícias desse reduto como sendo de baca'haus. Logo as carnes se rasgam. o Eangue salpica e abrem-se feridas ainda
alta periculosidade. Partiu, em conseqüência disto, para dar-lhe n50 cicatrizadas". ( ) "FOI recolhido prlsåo••. "Isidoro alguns dias depois,
combate, um grupo de carijós, negros forros e mulatos sem ofício, sentindo aproximarem-se os seus últimos momentos, declarou que queria falar
comandado pelo Sargento. mor João da Silva Ferreira. Em 1746 0 com o intendente para uma revelaçäo" - ) "Quis talar. tentou se; ma* já
Governador Gomes Freire refere-se a esse quilombo como já existindo era chegada a sua hora e caiu morto" ) "Isidoro, depo's de morte foi
"há mais de 20 anos", o que bem demonstra a sua antigöidade na veærado como um santo. Hoje ainda se diz: "Isidoro. o martir." lielo dos
região. Santos: "Mem6rias do D58trito Diamantino", R. de Janeiro, 1924. p. 308
(9) — Diogo L- A. p. de: "História Média de Minas G-erajs", B.
O Quilombo de Campo Grande estendia-se numa superfície Horizonte, 1918, p. 169.
consideráve], entre as capitanias de Minas Gerais c Goiás, e estava
93
localizado num espaço compreendido entre rios, e certamente, pelo
que depreendemos da leitura de diversos documentos e informações secretos que com eles especulavam, comprando-lhes o ouro, peles,
de historia não era apenas um quilombo, mas uma série deles, poma e mais coisas que podiam enviar, fornecendo-lhes em troca
interligados por diversos escalões de intÆresse, tendo em vista o bem muniçäo e géneros. Entre os objetos desse comércio ilícito vinham 08
comum. A segurança dos seus moradores era, incontestavelmente, um que pi. lhavam na picada de Goiás, e nos mais caminhos como nos
dos aspectos mais importantes e o seu sistema organizativo interno povoados e fazendas que assaltavam, sobretudo nas comarcas do Rio
estava vinculado, como não podia deixar de ser, à segurança dos das Mortes e Sabará."
mesmos, tendo-se em mira as contantes incursões contra ele. O
interesse que os unia era, sem sombra de dúvida, a defesa contra essas de era O número considerável, de negros embora fugidos não possa
expedições enviadas para destruí-los. Segundo informaçõs que temos, reunidos ser precisado no quilombo com de exatidão. Campo Gran-
possuíam um e uma rainha, embora documenots se refiram ao Sabemos, contudo, que naquela região se elevava a mais de vinte mil
quilombo corno sendo dirigido por uma repúbticyz. É o mesmo o total de negros aquilombados. Por aí podemos fazer uma dedução
problema do Quilombo dos Palmares, já definivamente esclarecido com da poten-
o trabalho dc Édison Carneiro. Segundo Diogo de Vasconcelos, cada
quilombo "tinha o seu rei com oficiais e ministros regendo-se pelo eiaiidade pelo menos, e da formavam quantidade o seu populacional
despotismo africano ( . . . ) imitação quase dos Palmares." Usavam exército, que desse atacava reduto. os Mais moradores de
também um sistema defensivo parecido com o de Palmares. com seiscentos,locais.
paliçadas protetoras. Além dc se defenderem, faziam surtidas, sendo as
suas atividades predatórias tão temidas que a região se foi
Em 17-18 houve uma expedição contra esses quilombolas, quilorrbdessas ligações com elementos que comerciavam com eles, os
comandada pelo Capitão Antônio José de Oliveira, deixando-os
"escarmentos." Um ano depois o Dr. Marcos Freire de Carvalho foi quilombÀas
enviado com poderes de vigário "pelos sertões do Piauí, Rio das
Abelhas e Cabeceiras do São Francisco, para abrir novas igrejas." "No
entanto, ao invés de saivador de almas, o que o Dr. Marcos desejava, (101 — op. cit.. p. 167.
na verdade, era explorar o ouro da região. O aparato bélico dc que ge
(11) — op. cit.. p.
revestiu a sua expedição deixou os quilombolas de sobreaviso. O de
tudo isto não foi favopável ao Dr. Marcos, Pelo contrário. "A comitiva 94
do Padre Marcos — de um modo geral mantinham relacöes amistosas com os garimpeiros
contrabandistas de diamantes. Ambos marginalizados pela sociedade
sair narra da cronista picada de da Goiás regiãoe — entrava dando no estratificada de Minas Gerais, procuravam, através dessa aliança,
de Campo rasto e Grande suspeitas, e eis não que acabava foi defender as suas posições. Daí afirmar Aires da Mata Machado Filho;
assa].de tada. Caíram*he os negros cm cima matando-lhe 42 "Ao garimpeiro se aliou o quilombola, pois um e outro fora da lei,
companheiros dos quais 19 escravos seus móprios, sendo-lhe tomada ainda que por motivos diversos. não tardou que se encontrassem
toda a bagagem. ar. mas, munições, víveres e instrumentos que solidários, bus. cando a subsistência nas minerações furtivas." Era todo
levava a mineração e de carpintaria : um dospojo de guerra átimo." um complexo econômieo, portanto, que se formava, dentro de
Esse ataque produziu viva revolta e imediata das autoridades. categorias extralegais e eonferia possibilidades de sobrevivência ao
Como os "pequenos remédios" enviados contra o reduto rebelde não quilombo. O "Bateeiro", que comandou o quilombo na sua última fase,
surtiam os efeitos almejados, Gomes Freire apelou para outro recurso como o próprio nome indica, devia ser um escravo intimamente ligado
muito mais eficiente: formou companhia de cabos "levando reguladas à vida do garimpo.
companhias comandante mui capaz e a que todos obedecessem." O Mas, prosseguindo nas suas batidas repressivas contra os
corpo quilombos em geral e do Campo Grande em particular, temos notícias
de um ofício de 1750, no qual sabemos que Diogo Bueno
seria cursos de materiais para homens. as diligências. Após essa Os "representou, que são precisas vinte canoas para expedição ao
decisão, senados providenciaram•se das Câmaras de os Vilare• Quilombo Grande na forma que está determinado, como se deve
Rica, Mariana, S. João der Rei e Vila Nova da Rainha contribuíram com cuidar desta diligência para o tem. po próprio, Vmcg., vendo pouco
2.750 oitavas de ouro. Além das incursões maciças como as que foram mais ou menos o que elas podem importar para dar ordem ao
noticiadas e que eram realizadas por cerca de setecentos negros, os Tesoureiro para que entregue ao dito Diogo Bueno o dinheiro que
qui. lombolas a esta altura atacavam com pequenos destacamentos Vmcs. votarem para ser preciso para se fazerem ditas vinte canoas, e o
móveis de vinte e trinta negros que se aproximavam dos povoados; tesoureiro tenha livro em que se assente estas despesas." O processo
atacavam-nos de surpresa e maticavam "crudelíssimas mortes." Com repressivo continuava a sua marcha através da mobilização de
essas atividades levavam cada vez mais escravos para o reduto, o que recursos para esse fim.
fazia aumentar progressivamente o seu número. Com esta tática Esses componentes do quilombo do Campo Grande
chegaram a atacar um provavelmente foram aqueles que mantiveram contatos com os
organizadores da chamada revolta malograda dos escravos mineiros,
quartel, bo era comandado possivelmente por em negro maio que Xavier da Veiga afirma ter sido arquitetada em 1756 0 que Nina
Rodrigues e Diogo de Vasconcelos põem em dúvida. O "levantamento
conhecido de 1755. Na como sua "Bateeiro." última fase, Além o geral dos negros" que as autoridades temiam, pode estar entrosado às
atividades constantes do Quilombo de Campo Grande, como afirma
Miguel Costa Filho, um dos estudiosos modernos mais probos e todos os anos se observam," A delação, porém, fez abortar o
competentes. O certo é que mesmo levando em conta o alarma geral movimento e os escravos, ao que parece, foram punidos, depois de o
em que viviam as Câmaras — que já é um sintoma da amplitude do governo haver tomado todas as providências para o seu fracasso, o
movimento dos quilombolas — não podemos aceitar como efeito de que se verificou. A ligacäo désses insurretos citadinos com os
pânico infundado a circular que a Câ• mara de Vila Rica distribuiu às quilombolas de Campo Grande, pelo visto, não foi possível. O que não
demais infmmando da confcdemçäo que estava sendo urdida pelos quer dizer que eleg recuassem ou amainas. sem suas incursões. Pelo
negros aquilombadosõ Diz a circular que "as notícias que temos de se contrário. Continuaram, fato que determinou em contrapartida
haverem confederado os negros aquilombadog com os que existem sucessivas das autoridades.
nesta e nessa Capitania para a noite de 15 do corrente darem um geral
Como, porém, essas medidas fossam infrutíferas e servissem
assalto em todas as povoações, privando de vida a tudo que fossem
apenas para desgastar militar e politicamente as autoridades,
brancos e mulatos, determinando morte a seu Senhor cada escravo
recorreu-se, a exemplo do que se fizera em Palmares, a um
que lhe for mais familiar. É a ordem desta execranda determinação
bandeirante para a em. preitada. O contratado desta vez foi
cometerem aos brancos, ao tempo em que dispersos se ocuparem em
Bartolomeu Bueno do Prado. Depois de partir da Vita do Príncipe, com
correr as Igrejas sem perdoarem qualquer pessoa que seja. não sendo
um corpo de quatrocentos homens na sua marcha destruiu os
mulher". A circular continuava dando detalhes do plano dizendo "Esta
quilombos das Serras de Marcília, da Canastra, o do Paraíba, o do
notícia que, a princípio com voz vaga foi sò-
Andaial, os de Andaí e Bambuí, chegando finalmente ao famoso
Quilombo de Campo Grande. Como o paulista realizou uma verdadeira
(12) — op. cit.. p. 173. "razzia" contra os negros sublevados. Finalmente, em 1759 destruiu o
(13) — costa Filho. Miguel: — "Quilombos" in '"Estudos Sociais" n•s- 7, famoso quilombo do Campo Grande. Pedro Tacques afirma, ao referir-
9. IO, Rio de Janeiro, 1960-61. Aliás devemos destacar aqui a grande contribuição que se a ésta expedição vitoriosa de Bartolomeu Bueno do Prado, que
esse estudioso trouxe com os artigos citados que sio atua'mente de consulta Lndis.
pensável do assunto e do quaa nos valemos largamente.
"desempenhou tanto o conceito que se formava de seu valor e
disciplina de guerra cantr.a os índios e pretos fugidos, que depois de
95 organizar e atacar o quilombo voltou cm poucos meses apresentando
atendida, tem chegado a manifestar indícios, que requerem 3.900 pares de orelhas dos negros que destruiu, sem mais premio que
toda atençño por se assinalarem escravos gue se dizem prepostos a honra de ser ocupado no Real Serviço."
para regerem as Minas, régulos além de patentearem em muitas Não davam tréguas os escravos sublevados. Outro ajuntamento
práticas tendentes a tal conspiração; e ser certo que em anos diversos que muito trabalho deu foi o Quilombo do Ambrósio. Foi dos
se tinha percebido andarem de semelhantes intentos sem que se mais famosos de Minas Gerais e resistiu durante muitos anos às
chegasse a se experimentar seus cruéis efeitos, não parece desacerto investidas lança• das contra ele. O primeiro ataque que lhe foi feito
acautelar uma mina que pode com lastimoso sucesso desenganar de (em 1746 ou 1747)
sua posibilidade".
Concluindo, dizia o documento: "Å grande capacidade de Vmcs., 14) — Ofício da Camara de Vila Rice, transcrito por Diogo de Vasconeeios.
compete dar providências necessárias em um tão factível op. Cit.. p. 170.
acontecimento comunicando também aos senados mais distantes o (15) — Taeques. P. "O Quilombo do Rio das MortEg", i" "Antologia do
justo receio de um golpe, que a todos ameaça, ao que nós ficamos Negro Brasileiro", P. Alegre, p. 220.
aplicando nosso cuidado, pela obrigação, que nos corre, e serviço de CtBta M. LA>c. cit.
— Vaaconoelos. cit.
Sua Majestade, dando justamente conta ao Ilmo. Sr. Governador e a
redundou em nada. O reduto continuou 8 cræscer, recebendo novas
Excia. Reverendíssima para que naquela noite determine se nio abram
levas de fugitivos. Dez anos depois, em consequência das proporções
as igrejas por melhor evitarem os grandes concursos de negros, que
que adquirira, nova expedição punitiva foi organizada, visando
exterminá-lo. A esta altura "o quilombo grandd chamado Ambrósio" Mas, não foi somente o quilombo a forma de resistência usada
constituíra•xe em perigo permanente. Foram traçados novos planog pelos escravos mineiros. Procuraram também insistentemente
e outra expedição determinada. Os planos que as autoridades organizar su. blevaçöes nas cidades c vilas, aliando-se nesse intento
traçaram, porém, parece que excederam às possibilidades da aos quilombolas das matas próximas. Várias dessag
execução da Câmara de Vila Nova da Rainha, mesmo com auxílio real. foram registradas e notificadas pelas autoridades do tempo que, nas
Gomes Freire agradeca a remessa de 168 oitavas de ouro, mas acha suas informações à Me. trópole, destacavam sempre a periculosidade
insignificante a quantia enviada. de que elas se revestiam. Eram revoltas que nŽÄo significavam uni
Outros quilombos serão organizados durante o transcurso da protesto passivo como os quilombolas, mas criavam áreas
escravidão em Minas Gerais. Com eles as autoridades travam conflitantes mais profundas de vez quc, apro. veitando•se do
batalhas e esca• ramuçag ininterruptas: é o de Sapucai, que alguns quilombola das matas, transformava-o em clemento ativo, dando
acreditavam ser o mais populoso de Minas Gerais, inacessível às com isto um conteúdo dinâmico ao movimento. Os escravos
tropas de capitães.do mato, pois os negros que eram contratados citadinos, desta forma, ao envolverem os quilombolas na sua trama,
para servir de guias ludibriavam as tropas sobre o seu verdadeiro elevavam o nível de compreensão do fugitivo, inculcando-lhe na
local e sobre o qual. infelizmente, pou. cos elementos para sua mente a necessi. dade de destruir os brancos, membros da classe
reconstrução histórica. É o de Paraibuna, contido por tropas, senhorial .
capitães-do.mato e pedestres. É o do Inficionado, também
Em 1720 0 Governador e Capitão-Geral de São paulo c Ninas
perseguido capitães-do-mato. É o de Pitangui, que foi localizado por
dava conta de um movimento desse tipo que ameaçou a região
acaso e em seguida atacado e destruído depois de séria resistência,
mineira. Reportava-se a cartas de 20 de abril e 21 de junho de 1719
tendo as suas quatorze casas demolidas ou incendiadas pelos
do Conde de Asstpmar onde os acontecimentos eram relatados.
assaltantes e suas roças de milho, feijão, algodão, melancia e outras
Relatava a "sublevação que os negros intentaram fazer fiando-se "na
frutas destruídas.
sua multidão e na néscia con•
Os quilombolas, porém, não se deram por vencidos. Refugiaram-
se nas matas próximas e voltaram à carga atacando a fazenda do (18) — Machado Filho, Atres da Mata: "O Negro e o Garimpo em Minas Gerais", R.
chefe assaltante com flechas, destruindo a sua roça e o seu gado. de Janeiro, 1943, p _ 54.

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fiança dos seus senhores, por lhe fiarem nio só todo o ganero de armas, estava ocorrendo e pela maneira como se portou durante 8 repressåo mas
lhe encobrirem a sua insolência as seus delitos". ao Quanto às sentenças capitais, deveriam ser "executadas Refere-se o mesrm
documento às cartas escritas pelos oficiais dasaté 8 morte natural, fazendo-se execução ge possível nos lugares onde Câmaras de Vila Rica e São José ao
povo de São João d'el Rei, quefor mais conveniente para terror e exemplo, e os mais negros cabendo davam conta do fato. Diziam essas com o que estava
de plenona forma do seu delito o castigo de galés, sejam condenados a elas e acordo o Governador, que o "bom sucesso" não se consumou em face da
mandados para o Rio de Janeiro, para servirem naquela praça na obra "grande atividade do Conde Governador." de suas amarrados
de dois em dois "
Para ele, a tentativa de sublevação dos escravos, se "certarnente se acabariam as Minas e pereceriam todos os brancos que
asFervilhava, como vendo, a escravatura mineira. Se a rehabitam." A "malícia servil", de acordo com a linguagem pitorescavolta de 1756 pode ser contestada,
temos notícia de outra organizada do documento, somente não vingou, portanto, pela pranta diligência doem 1864, continuando o processo lutas; esta já
muito mais bem Conde de Assumar. Mas, achamos gue deve haver boa dose de exageroorganizada do que a malograda de 1756. Segundo o depoimento de no
relato, pois a insistência do missivista em fazer louvaçoes c solicitaralgumas testemunhas e pessoas implicadas, ficou mais ou menos escla• é
visível e flagrante. Dizia mais que "pareceu ao Con-recida sua estrutura. Tinham marcado a data e esperavam para êxito selho de Vossa Majestade mande
agradecer ao Conde de Assumar, Domdo movimento o apoio dos quilombolas, ou, como eles diziam, "a rapa. Pedro D'Almeida, Governador Minas, o zelo e
prudência, com queziada sujeita das matas". O levante tinha como objetivo "a liberdade acudiu a impedir o da sublevação dos negroa de que dá conta,dos
cativos", segundo depoimento do escravo Adão, um dos seus líderes. devendo-se à sua diligência o não conseguirem a sua deliberação a qualObjetivando isto
iniciaram o aliciamento de adeptos para aquela emprei. seria de mui prejudiciais conseqüências se tivesse efeito, pois se viramtada. Nesse trabalho destacou o escravo
Adão, que foi depois eonde• totalmente a perder as mesmas Minas, e os seus moradores sentiremnado. A cidade do Serro foi o palco dessas articulações. Entrosaram-
se aquele horrftæl a que os ameaçava esta fabricada conjuração". essas parcelas de escravos insubmissos com os de Diamantina, além de fazerem repetidos eontatos
com os das fazendas e lavras vizinhas. O Depois, como é óbvio, solicitam-se medidas repressoras. Pede-seplano seria o seguinte: lançariam fogo em algumas casas e,
quando os que nenhum escravo ou livre possa usar arma ofensiva ou defensiva.brancos estivessem distraídos na tarefa de extinguir as chamas, assas. A medida não se
prendia apenas ao seu porte em lugares públicos masBinariam "todos quantos chegassem e por meio dessa insurreição obteexigia que não fossem permitidas também
nas suas habitações. Casoriam a liberdade." O trabalho de aliciamento e 08 preparativos que a proibição fosse desrespeitada o infrator incorreria em "pena de
morteesses escravos certamente faziam. sem muita cautela e discrição, no natural o que entenderá ainda no caso que acompanhe o seu senhor, salvomomento, logo
chamaram a atenção us autoridades, principalmente do em jornada e a caminho." (23) Os próprios senhores que escondessem da cidade, Jacinto Pereira de
Magalhäes A delaçúo, escravos passíveis de punição também não ficariam imunes às sanções:como aconteceu com a maioria dos levantes de escravos, não se fará
pagariam de multa "o trarrsdobro do valor do escravo. "demorar e Vicente, cabra escravo de Francisco Cornélio Ribeiro, cientificou às autoridades o que estava
acontecendo. São tomadag imediata. As medidas solicitadas, porém, iam mais longe: os negros demente as providências de praxe nesses casos e aprisionados os
principais Minas que usavam trajes de seda "e vestidos como brancos" ficavamcabeças. Com essas prisões ficou-se sabendo da organização e finalidades
terminantemente proibidos de procederem, devendo contentar-sedo levante. com "pano da terra, e só aquilo que for bastante para cobrir e livrar da inclemência do
tempo porque asim perderiam os brios e entenderiamHaviam-se associado aos quilombolas que atuavam nas matas adjaque nasceram para escravos dos brancos."
(25)centes para uma açäo conjunta e coordenada' Estabeleceram para isto, O delator da conjura, Tenente.Geræral João Ferreira Tavares, eraum sista-na de senhas para
que ambos os lados que participavam da elogiado pela sua prœ)ta decisão arn cientificar às autoridades o querevolta (quilombolas e escravos da cidade) atacassem
simultaneamente. A senha era dizer no dia, que: "a gente de João Batista Vieira estava pronta e que 08 de cá ainda estavam à toa, que a galinha estava
morta
(W) vol. — de MS 1718 do Arqú'0 1720, fls. do 232(»nselho — In Ultramarino Documentos "Consultas do para RIO de a His-Ja-e pronta e só
faltava assar-æ. " Isto significaria — segundo depoimento tória e de Sio Paulo", vol. LIII, 1931, Imprensa Oficial, p. 191 ss.de um dos implicados — "fugirem para o
sertão mas ao mesmo tempo
— Idem,fazer-se uma porcaria na cidade do Serro com a rapaziada." A rapa•
(21) — idem
(22) — Idem. Idem
(23) — Idem, idem. (26) — nem.
(24) — Idan, sum (27) — carvalho Neto. p. de: — de Escravos" (ApresentaçAo de (25) — Idem, idem.um documento inédito) —
"Resenha Literária", Recite.
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ziada obviamente eram os quilombolas. Dado início à revolta seriam determinou ser até hoje um dos Estados Brasil com maior percentaqueimadas as cagas do
Tenente£oronel Sebastião e de José Bento de gem de sangue negro essa região foi palco de inúmeras revoltas, alguMelo. A delação, porém, pôs por terra o plano
desses escravos. mas muito violentas. Repetia-se nas terras fluminenses o mesmo drama de todas as áreas onde o trabalho escravo se ætmtifieava: as revoltas Após as
prisões que foram muitas Imaam.se os surgiam num verdadeiro rosário. Quando não eram revoltas eram as contra os implicados. Um dos mais destacados
organizadores da revolta, simples fugas para o mato, subtraindo.se o negro do conjunto dos trao escravo Adão, será considerado "incurso no artigo cento e treze do
balhadores ativos. Muitas foram de envergadura e deram muito traCódigo Penal", "combinado com o artigo trinta e quatro do mesmo Có- balho ao aparelho repressor
da classe senhorial.
digo" e condenado às galés por vinte anos. Outro acusado, o branco Her- Justamente na época em que, na Provincia baiana, verificavam-se culano de
Barros, foi absolvido por falta de provas contra a sua pessoa :as revoltas dos nagôs (1826-1844) ; no ano em que os escravos maratndas as testemunhas arroladas
no processo acharam-no incapaz de nhenses de armas nas mãos, os escravos da Fazenda Freter-se "em súcias de escravos" ou de "aconselhar
escravos para seme-guesia (1838), de propriedade do Capitão-mor Manuel Francisco Xavier, ihante fim." A sentença foi : "soltura a favor de Herculano dc
Barros,liderados pelo escravo Manuel Congo, assassinaram um lavrador branco, visto que contra ele -não há provi" e mandado de prisão contra oexpulsaram os
feitôres e dirigiram-se armados para a Fazenda Maraviescravo Adão. lha, proprieda& do mesmo senhor, que foi invadida e
Peto que se infere dos manuscritos, duas eram as tendências dosEm seguida fizeram aquilo que sempre acontecia como segunda etaescravos no movimento. A
primeira era a de, logo depois de vitoriosospa dessas revoltas: retiraram-se para as matas. Refugiaram-se nas de ou mesmo antes, internarem-se no sertão,
transformando-se em quilom-Santa Catarina e organizaram um quilombo, no molde dos muitos que bolas. Outra tendência era a de continuarem na cidade e ali
liquidaremformn criados durante a escravidão. O escravo Manuel Congo, incon. completamente os seus senhores. Uma das testemunhas declara textual. estavelmente
o líder do movimento, foi aclamado Depois disto, inimente : "o plano foi combinado no lugar denominado Escola, na ciaram uma série de violentos ataques às
fazendas e engenhos das viziFazenda Sesmaria, entre José Cabrinha, Nuno e Demétrio e ajustaramnhanças. As autoridades, porém, nio estavam inativag.
Organizaram que José Cabrinha viesse entender-se com Adão e do resultado mandas-a primeira expedição para dar-lhes combate. Essa tropa, composta de
se avisar Nuno na Fazenda de Magalhães (denominada Liberdade)pragas e comandada por um oficial da Guarda Nacional, foi fragorosao este depois de
entender-se com Adão mandou dizer a Nuno que istomente derrotada e seus componentes retrocederam praticamente em de• por cá estava tudo pronto e
muito bom que ele lhe mandasse notícias Fazendadebandada, classe senhorial completamente de forma altamente desmoralizados, negativa. tendo De o outro fato
lado, repercutido despertouna lá. Declarou mais que quando Nuno declarou que tinha ido à da Sesmaria e propôs a Jogé Cabrinha o plano de fuga, este lhe respon- um
sentimento de euforia nos escravos, que lhes foi desfavorável. O deu que tinha coisa melhor, e era o plano da insurreição, e então eleexcesso de otimismo a
não se prepararem para novas refregas Nuno, que tinha conversado com Adão sobre a fuga, e que ele Josémais difíceis.
Cabrinha viesse se entender com Adão que é um rapaz ativo, e astucioso, sobre a insurreição pois que ele Nuno estava pronto, e que ele só arran-Animados com esse
feito prosseguiram nas suas atividades, atajava uma boa porção de escravos por estas oito léguas em redor" cando e levá-los-á e depredando, a solicitarem fato
repetida que porá e em desesperadamente pânico os fazendeiros providências da regiãoao
No final, presumivelmente haviam chegado a um acordo que en-Governo Imperial. Este não se fará de rogado. Os pedidos dos fazendeiros volvia as duas titicas
— tanto a de Nuno, que era a da insurreição nofluminenses que tinham as suas propriedades ameaçadas pelos constantes Serro, como a dos escravos José e Demétrio,
que defendiam a fuga paraataques dos quilombolag serão imediatamente atendidos. O governo en. o sertão; pelo menos a leitura dos manuscritos nos induz a assim
con-via para a região ameaçada um destacamento de tropas regulares que, cluir. Não chegaram, porém, a pôr o plano em execução, como vimos.no dia 11 de dezembro
de 1838, dá ao quilombo, fazendo A delação e a falta de organização poriam por terra mais essa tenta-os e8Cravos pavorosa matança. Verdadeira carnificina, pois
os quilomtiva dos escravos mineiros contra a escravidão.bolas não dispunham de armas capazes de enfrentar, em pé de imialda. de, os pelo
Governo. Foram piedade pelas tro-
O desenvolvimento da agricultura no Estado do Rio e a concentra-pas Imperiais. Os principais dirigentes de mais essa tentativa de læção de grande
número de escravos trabalhando nas plantações de açúcar contribuíram para que a área fluminense tivesse sido um foco dos mais(28) Apesar da imptugsåo das
estatiatlcas a percenl%em exata e o
importantes de revoltas. Com apreciável índice demográfico de fato negrosquenúmero de cação Veloso da de de estat¼tlca, escravos Oìveira. na.' um dá, diversas para total o de provim*a.s.
Rio 146.060 de Janeiro Artur escravos, e Corte. Ramos, quantidade em transcrevendo 1819, que época representavaestati*1c8da publi-
na sua população, trabalhando na agricultura como escravos,
da (Vide Arthur Rarnw. "Introducåo Antropologia Brasileira", — Idem. Idem .R- de Janeiro, 1943, vol., 822 A) .
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si8tência ao regime escravo, caíram prisioneiros. Caxias foi o comandante Tates Corongos deviam ser elementos armados com atributos de mando das
tropas repressoras. Submetidos a julgamento sumário c rigoroso como e em conseqüêneia do tribal de que estavam investidos. costumavam ser quando
julgados escravos sofreram penas quo As tribais, agindo em um contexto social inteiramente oscilaram entre o enforcamento e o açoite público.
O principal dos cabe- diferente — uma sociedade estratificada — mudaram a sua função. Pas. ças, Manuel Congo, foi condenado a morrer na forca, sendo a
sentença saram a atuar como casulos dos quais surgiriam formas de resistência executada no dia 6 de sebembro de 1839. Outros líderes como Miguél contra a
nova 8ituaçäo em que se encontravam. Os diversos níveis de Crioulo, Justiniano Benguela, Antônio Magro e Pedro Dias sofreram a hierarquia tribal
que, dentro daquele tipo de organização, teriam valor pena de seiscentos açoites cada um. EstÆ feito do jovem oficial, talvez apenas interno, isto é,
para a tribo, passaram a desempenhar um papel tenha contribuído para que fosse escolhido pelo governo Imperial para diverso, dentro de uma nova constelação
sociológica. Esses valores hieser enviado ao Maranhão a fim de esmagar a Balaiada, especialmenterárquicos organizavam os escravos contra a escravidão. Conv&n
acresos quilomholas do Negro Cosme.centar que, do ponto de vista do senhor, esses escravos eram iguais a máquinas de trabalho. Entre eles, porém, a hierarquia tribal
funcionava Durante a devassa que se processou do movimento, constatou-se quecom um objetivo: restabelecer os valôres da tribo e extinguir o estado havia um
embrião de estrutura orgadizativa, porém ainda muito débil.de sujeição a que se encontravam submetidos. Qtæriam, portanto, fazer Haviam. como os da Bahia,
formado uma associação secreta e tudo levacom que, extinta a escravidão, os diversos valores sociais da tribo vol. crer que tivessem alguns dos seus membros
ligações com os insurretos tassem 8 ter validez. daquele Estado, pois em outros levantes de escravos fluminenses tal ligação foi (nistatada. Mais uma prova de que
esgas revoltas não eramÉ interesonte notar, também, como os escravos se aproveitavam de atomizadas mas se interligavam numa rede subversiva que se
espalhavadatas religiosas cristä8 para deflagrarem movimentos sediciosos. Em por tôda a área do trabalho escravo Da mesma forma como a OgboniMinas, na Bahia,
no Estado do Rio, eles não respeitavam aquelas datas ajudou os escravos na sua luta contra o instituto que os oprimia, essa mas, pelo contrário, aproveitavam-nas para
mais facilmente iniciarem organização secreta de Vassouras foi elemento aglutinador dos escravos os levantes. Fato que bem demonstra como aquela "ilusão da
catequese" fluminenses. Depois da derrota de Manuel Congo essa organização se- de que nos falou Nina Rodrigues é um fato incontestável. Os escravos creta
continuou. Prosseguia com o mesmo objetivo: lutar contra o cati- negros não foram aculturados, como pretendem certos sociólogos, de for. veiro. Isto levou a que em
1847 os escravos fluminenses novamente se ma mecânica. Pelo contrário. A sua situação dentro da sociedade estraarticulassem contra o instituto da escravidão. Com a
experiência da der. tificada da época, o seu status, era o que determinava o seu comporta. rota sofrida, procuraram se rearticular de forma mais organizada. A mento
fundamentai. estrutura era bem mais sólida do que a anterior, embora ainda incapaz de derrotar os senhores de escravos. Formaram grupos de cinco indi- A aceitação
da religião da classe senhorial pelos escravos, muitas víduos que se reuniam para discutir os detalhes da revolta, a sua data,vêzes apontada como o segmento
psicossocial explicador da sua docilidaos seus objetivos, finalmente tudo aquilo que os levaria à vitória, segun-de, é, portanto, mais um estereótipo a ser desmontado e
reanalisado do a expectativa dog mesmos. O chefe chamava-se Estevão Pimenta,pelos estudiosos que desejam não apenas justificar conservadoum pardo livre.ras mas
captar o processo de desenvolvimento da sociedade brasileira na
O movimento, porém, abortou ainda no seu início, sem sequer ha•decessos sua dinâmica. fisiológicog Querer secundários subordinar ou esse — através processo de de
um transformacäo culturalismo exage-a pro-
ver-se configurado mais nitidamente. Era para Vassouras. ter começo Descobertano dia rado — subordinar a situação global das classes na sociedade a um proSão
João, 24 de junho de 1847, no Município de então acesso de assimi!açäo de valores chamados espirituais é mera escamoa conspiração foi logo sufocada pelas
autoridades. intitulavam-se Devassou-se de "Tates "maçonariaCoron-teaçäo. Quem de critérios analisa objetivos. os fat08 pode que se ver sucederam isto com muita
durante facilidade.a escravidão,
organizaçäo dessa sociedade secreta que já foi chamada através negra", fundada pelos escravos. Os chefes gos" e organizavam os escravos visando a emancipá-los da
escravidão.serviuMas, após as revoltas a que nos referimos, no Estado do Rio de JaAssim como a Ogbani, com suas evidentes reminiscências tribais, neiro, outras se
sucederão. A exemplo do que aconteceu em São Paulo, para dar estrutura orgânica aos dos escravos baianos, osquando a campanha abolicionista se havia
manifestado como um movimento do qual participavam amplos setores da opinião pública, como

(30) — Esses escravos tinham liiga#s com os de outros Estados. numa provasintoma da decomposição do escravismo, os escravos fugidos, os quilomde que essas
revoltas nio eram tópicas, contltuiam uma verdadeira rede. Quan•bolas, receberam apoio de inúmeros políticos lilkrais e antiescravistas. Em do em Sho Salvador dos
Campos, Pmvfncia do Rio foram escra-or.Campas, os escravos incendiavam os canaviais e fugiam. Em 1887 esses vos sediciosos "usando tope no um deles declarou
tinham recebido deng da Bahia. BS08 ordens consistiam em se subkvarem na quarta-feira de incêndios adquiriram maior vulto do que os executados em anos
anteseguinte (Padre Euenne Brazn: "Os Malês — Revista do Instituto Histérico e Geo-rioreg. Segundo Evaristo de Morais "no decurso dos meses de janeiro, gráfico
Brasne.ro, l.x»ar, 11 pane, 1909) .fevereiro e março arderam canaviais em quase todo o município, nas
102103
principais fazendas e usinas." O abolicionista Carlos de Lacerda era Tern.se também notícias de um levante de cativos na vila de
considerado pelœ s£•nhores como responsável pela ação dos Sobral, naquele Estado. Houve, igualmente, vários assassínios de
escravcw, tanto assim que tentaram assassiná-lo, não conseguindo. senhores, praticados por escravos que, muitas vêzes, pagaram o seu
em seu lugar Luís Fernandes da Silva, ao sair de um teatro onde se crime na forca.
tentara realizar um ato em prol da manumissão dos escravos. Para O conhecido episódio da barca "Laura Segunda", ocorrido em
pôr cobro aos incêndios que se sucediam, D Barão de Cotegipe 1839, (ano em que os quilombolas do preto Cosme empunhavam
expediu aviso ao da Província do Rio de Janeiro ordenando armas no Maranhão contra a escravidão, anotemos de passagem) é
que fossem dadas providências para a punição dos incendiários. característico e bem como o Ceará não ficou imune aos
Punha, para isto. uma verba de Rs. 4:000$000, destinada a obter atos de rebeldia do escravo negro. Os tripulantes dessa embarcação,
testemunhas e "gratificar as pes. soas livres e libertar os escravos, todos escravos, amoti•
delatores dos verdadeiros cu!pados.•
O mesmo Carlos dc Lacerda, estimulava a foymaçño de (81) — Morais. Evaristo de: — "A Campanha Abolicionista", Rio. 1924, p.
bastilhas (quilombos) da mesma forma que Antônio Bento em Sio 248.
Paulo, fato que detÆrminou reação das autoridades. Daí a Câmara (32) — Glråo, Raimundo: "A Aboliçäo no Ceará", Fortaleza, 1956, p. 43.
Municipal pedir imediatas providências cuntra a anarquia, insurreição
104
e. sedição praticadas pelos abolicionistas juntamente com os
quilombolas. naram.ge desejando conseguir melhor tratamento a bordo.
Compunha-se a tripulação de vinte e três pessoas assim distribuídas:
Por tudo isto solicitaram os senhores dc escravos a permanência o lusitano Fran. cisco Ferreira, um ajudante de cozinha e mais um
de uma tropa do Exército naquela localidade a fim de resguardar os contramestre; um prático e dois marinheiros. O resto —
seus interesses ameaçados pelos escravos instigados pelos compunha.se a tripula<ão de vinte e três homens — era formado de
abolicionistas. Ao chegar a Lei de 13 dc maio — segundo Evaristo de escravos de Luís Ferreira da Silva, dono também da embareaçäo. O
Morais — não exns. tia em Campos metade dos escravos que existiam escravo Constantino fez-se o porta.voz {188 reivindicações dos seus
em 1887. (31) companheiros de tripulação e solicitou do contramestre melhor
No Ceará, apesar do fraco índice demográfico de escravos negros, tratamento do que o que vinha sendo dispensado aos escravos da
revoltas também se registraram. Temos referências de quilombos de "Laura Segunda". Para se ter uma idéia de Como eram tratados,
ne. gros. Sobre o assunto escreve Raimundo Girão, evidentemente o basta dizer-se que nem água potável conseguiam para beber. Em
estudioso que melhor abordou D tema naquele Estado: "Deixa claro a consequência do seu procedimento aquele escravo foi
existência desses ajuntamentos (mocambos) a carta que Jerônimo de barbaramente espancado. Certamente tomaram.no como cabeça de
Paz, Intendente das Minas dos Cariris, dirigiu ao Tenente-General motim e aplicaramlhe as penas que tal ato exigia. Segundo trechos
Correia de Sá, Governador de Pernambuco: "O Padre Antônio Corrêa do diário de Manuel do Nascimento, transcritos por Edmar no seu
Vaz pede uma ordem para um ceioulo chamado José Cardigo servir de livro O Dragão do Mar, revoltados com o espancamento ao
Capitão-do. Campo nestes lugares e eu lhe dei em nome de V. Exa. companheiro, os demais negros "começaram a maldizer; e sempre
pela necessidade que julgo de que haja quem se empregue nas foi de mau agouro nos ergástu10s o cativo resmungar. Constantino,
prisões dos negros fugidos e criminosos que se acham nestes matos que era de grande resolução, afni. L ou-se a dizer na roda dos seus
amocambados: me consta que para parte d.xs Correntes têm saído parceiros que em muitas outras partes já tinham acontecido
negros dos mocambos e a algumas pessoas roubar, e é preciso cuidar desordens por motivos de falta de comer,
muito em destruir estes mocambos e outros que possam ir fazendo."
.Com efeito, dava-se muita farinha e pouca carne. E tudo
quanto um desgraçado podia auferir do trabalho, que para terceiros
produzia opíparos jantares, palácios c sono largo era, tiveram ressonância no Brasil entre os escravos que lutavam pelo
exclusivamente, um pouco mais de farinha e menos de carne." mesmo objetivo dos daquela ilha.
"A conspiração toma corpo. Vingança é a idéia ao deixarem as Em 1824 um batalhão de pardos levantava-se em armas para
águas de Fortaleza. Constantino é o chefe da rú"iäo, tramada no tomar a cidade de Recife de assalto. A ele aderem centenas de
porão da masmorra flutuante." escravos dos engenhos. Seu líder é Emiliano Manducuru que lançou
No dia 10 de julho, às 9 horas, Constantino com seus aos pardos, pretos ao poro em geral um manifesto originalíssimo,
companheiros se amotinam e o líder do movimento assume o em versos, onde nhece R inspiração haitiana do seu movimento.
comando da embarcação. O contramestre e os demais tripulantes Afirma :
brancos sñu lançados ao mar. com exceçäo de um marinheiro de "Qual eu imito
nome Bernardo, que se coloca ao lado dos amotinados. Encalham Cristóvão. F.sse
posteriormente o barco c desembarcam para a jornada de fuga, que imortal haitiano, Eia!
empreendem imediatamente. Seguem rumo a Aracati mas, antes de Imitar o seu povo. ó
chegarem à cidade são cercados pe'a polícia, travandose combate meu povo soberano!
entre as autoridades e os amotinados. São, finalmente capturados. Imediatamente após esse levante o Major Agostinho Bezerra
Na refrega, Constantino fora ferido. Ao serem inquiridos confcssam enviou, a fim de dar combate àqueles escravos sublevados, um
tudo, afirmando que nada mais fizeram do que reivindicar um batalhão que frush•ou pelas armas og intentos de Emiliano
direito. João Brígido, citado por Edmar Morel, afirma que "presos os Manducuru e seus seguidores. 08 versos que formam a
negros desmentiram o medo com que fugiram e confessaram, com originalíssima proclamação pertencem hoje ao folclore da região.
assombrosa lealdade, o que havia feito cada um, dando sou
testemunho da inocência dos demais. O que havia na consciência
deles era a melhor noção de diltito; entendiam que deviam partir ao
11
meio todo senhor que os tolhesse."

Conforme afirmamos anteriormente, os movimentos de


133) — Morel E. "O Dragão do Mar. o Jangaden•o oa Aboliçäo". R. de Janeiro, rebeldia contra a escravidão manifestavam.se onde quer que o
1949, p. 37 ss. SobÞe a percentagem de escravos negros no Ceará convém trabalho servil se apresentasse. Na Bahia, em 1629, no Rio Vermelho,
consultar Djacir "O Outro Nordeste", R. de Janeiro, 1937, p. 145
(34) E. — Op. cit., p. 40. havia noticias da existência de um agrupamento de escravos
rebeldes, destruído três anos depois pelo governo. Em }tapicuru, no
105 ano de 1636, surgirá outro, também esmagado pelas autoridades. E
Submetidos a rigoroso julgamento a sentença não se fez continuarão aparecendo na Bahia os negros adestrados e aguerridos,
esperar : Constantino e mais cinco escravos são condenados à forca com armas de fogo, atacando as "entradas", os engenhos, destruindo
e executados na Praça dos Mártires, em Fortaleza, no dia 22 de roças e vidas. Como veremos adiante, os quilombos de Jacuípe,
outubro, tendo Constantino se portado altivaxnente no momento Jaguaripe, Maragogipe, Campos da Cachoeira. Orobó, Tupim,
da execução. O exemplo da barca "Laura Segunda" é um dos Andaraí, Xiquexique, além dos que se localizavam na própria Capital,
inúmeros que — como vimos nas linhas precedentes — encheram o muito trabalho deram às autoridades. Nas zonas rurais ou mesmo no
período da escravidão de lutas sangrentas. perímetro urbano os negros se aquilombavam, transformando-se em
Og levantes (log escravos haitianos, que eliminaram constante perigo para as populações. Não havia trégua possível.
praticamente os habitantes brancos daquele país antilhano e Borges de Barros afirma por isto que o Nordeste se transformou no
causaram pânico na Europa pela extensão das suas conseqüências. centro de convergência das vistas do governo não somente para a
"repressão aos índios que assaltavam os estabelecimentos
106 O próprio von Martius, numa generalização que tem muito de ver.
e povoações. como para destruição de quilombos e mocambos de dadeira, afirmou ser rara a tribo indígena brasileira que escapou de ter
negros fugidos, os quais se tornavam temerosos nos das estradas,"
Em todo o interior do Nordeste e na Bahia em particular os
(1) — Barros, Borges de: "Bandeirantes e Sertanistas Bahianos",
quilombos proliferavam: em Papagaio, Tucano, Rio do Peixe,
Bahia,
Gameleira e Jacobina, segundo aquele historiador, os negrtB se 1919, p. 177 _
organizaram em quilombos, sendo destruídos pelas forças de Manuel (2) — Idem idem
Boteiho de Oliveira. (2) Isto sem falarmos nas insurre*s citadinas que (3) Acioli, Inácio "Memórias Históricas da Bahia" 2' vol., Salvador, 1925.
serão motivo de uma análise especial na presente obra e que se p. 345.
soma todo este conjunto de vimentog antiescravistas. (4) — Barros, Borges de: Op. cit.. p. 188. Este autor, referindc—se à
Temos notícias de que em 1726 Vasco César de Meneses dava aliança entre escravos, negros e indigenas, afirma que "os aboriglnes da
regimento ao Coronel Joäo Exoto Viegas para mover guerra contra o regiho central da Bahia, aliados aos negros dos mocambos que a infestavam,
gentio. No mesmo documento mandava-o destruir os quil(Ÿnbos traçaram naquela época remota 8 diretriz a ser ægulda pelos descendentes.
derivados doa inúmeros cruzamento das três raças que au se encontraram."
existentes entre Cachoeira, Jacobina e Rio de Contas autorizando-o a
"prizioná.los e extinguir o dito Mocambo, arrazando as estacadas que 107
tiver para que não haja mais memoria d'elle, fazendo toda a diligencia contatos com os africanos. Na Serra Negra os escravos fugidos se
por descobrir e conquistar o de Camisam, em que ha muitos homiziaram, o que deu motivo a constantes atos repressivos do
annos se falla e porque pode haver n'estes alguns negros Governo. Em 1653, visando extinguir esses núcleos de rebeldia,
ou negras que fugissem para elles sendo boçaes e não criou-se na Bahia o
conheçäo a seus senhores, nem lhe saibäo os nomes, com
estes se praticará o que S. Magestade tem resoluto, e assy da tomada cargo Rio São de Francisco capitão-mor a Jacuípe. das entradas Em
de hug corno de outros negros se pagará desta a quantia que 1704 aos mocambos. será provido Tinha de patente jurisdição de Ca-
repartirão por todos os officiaes e soldados." do pitão.mor Francisco Soares de Moura a fim de estabelecer o
Aliados aos índios na região central da Bahia os quilombolas "sossego dos circunvizinhos à Serra Negra e residentes nos
criariam sérios embaraços às entradas e bandeiras do ciclo baiano. distritos de Vila Nova até o Canindé, capital de Sergipe dei-Rei" e
Fernão Carrilho, em 1655, auxiliado pelag Companhias de Ordenanças evitar que os ditos moradores continuassem sofrendo os "roubos,
da Torre de Garcia d'Avila e Campos do Rio Real destruiu os desinquietações e escândalos" que, segundo estava o governo
mocambos de Geremoabo. Ao que parece, em tôdas as lutas dos
"índios brabos" contra os bandeirantes havia negros fugidos aliados informado, eram praticados constantemente por um quilombo
aos indígenas. Os índiog Mon. goiós ou Nogoiós que lutavam contra o composto de uns sessenta negros "providos de grande provenção de
domínio dos bandeirantes eram orientados por escravos fugidos, João armas de fogo". Eram remanescentes do Quilombo dos Palmares e
Goncalves da Costa aptæen. dido dos mesmos, em entrada que certamente conseguiam essa "provenção' através de escravos com
efetuou em 1783, "um arco de guerra e de caça do gentio homem; o cles solidários.
mesmo do gentio mancet»; o mesmo do gentio menino; doze flechas,
um colar, um pandeiro de suas folganças, uma tanga de mulher, uma Espalhavam.se na Bahia as revoltas de escravos a tai ponto que
cinta das mesmas, uma compostura de guerreiro, um idolo, imagem Borges de Barros afirmou que "eram uma praga espalhada por todos
do fogo ou do sol, sobre que havia ainda uma machadinha ou acha de os cantos c sem remédio. Eram como irmãos coligados todos em se
tratan.
peara com que os índios cartam os paus donde tiram mel e um surräo
contendo fragmentos de algum vaso de barro" . do de defender o sertão, de sorte que não pudessem penetrar nem mais
aventureiros nem descobridores."
Em 1688, Pascoal Rodrigues de Brito era promovido de negroz c pelo pouco fructo que delles setem ainda que seoz donoz
patente para combater os negros fugidos e levantados "desde o Rio de]les os hajam aseopodc•r como getem experimento." Reportam-se
Real da banda da Bahia até a tôrre de Garcia d'Ávila" isto porque as depois a considera, çöes (le ordem prática. com contra base um na
autoridades sabiam da "honrada satisfação que sempre teve de seu mocambo, experiência dii'igida adquirida, pelo Coronel referindo-
zelo e pontuali- seBel•
a uma c.xpedição anterior chiož• Brandão que, havendo capturado
muitos dos quilombolas, rosti. luiu-os aos seus donos. Os resultados
scgundo opiniño dos Oficiais da Câmara foram desastrosos. Isto
Em novembro de 1640 a Câmara de Salvador discutia o meio pargue "selevaram para Suas Cazas lhetožmaram afogir levando em
de terminar um mocambo na região do Rio Real, mocambo esse que, Companhia muitos denovo". E resolvia a Câmara que os negros
pelas notícias que colhemos, . muito trabalho deu às autoridades, O aquilombados deviam ser conquistados e os homnns enviados às
Vice-rei D. Jorge de Mascarenhas achava que se devia enviar um galés. Estabelecia ainda a Câmara, cautelosa. mante, que por negro de
batalhão dc negros Henriques, juntamente com um capelão que quilombo se devia entender aqueles que esta• vam voluntariamente no
falasse a língua dos negros a fim de reconduzi-los, prometendo-lhes reduto e não os que eram levados ii força para lá. Como vemos, os
que, se isto acontecesse, isto é, se reconhecessem que estavam quilombolas baianos, como os das demais regiões do Brasil,
errados e se entregassem, seriam engajados nas fileiras dos aprisionavam aqueles que não desejavam a liÈn•dade, levando.os para
Henriques. Esta proposta foi, no entanto, rejeitada pelos oficiais da os seus redutos, colocando•os no processo de trabalho o quilombo
Câmara. Acharam que "por nenhum modo convinha tratar tinha de possuir produçüo para sobreviver praticamente no mesmo
desconcertos, nem dar logar aos Escravos que conciliassem sobre este status: em que se encontravam antes.
negocio e o que convinha somente hera extinguilloz e conquis.
Em 1709, Dias (Ia Costa era provido da patente de Capitäo.mor
"a fim de extinguir os mocambos, aprisionar os ncgros e reduzir os in•
"As guet•rilhas continua Borges de os levantes GS dios Maracazes, Cacurus c Caboclos" ; em 1700, Pedro Barbosa Leal,
morticínios e sangueiras tão comuns nas regiöes compreendidas entre Conquista,
Maracás. Condeúbas. Ilhéus, cabeceiras dos rios de Contas, Jequitinhonha. Pardo.
que explorava os sertões do Salitre, recebia urn regimento para ' 'fazer
Grongogi. Canavieiras, Belmonte, Macaúbas, Lavras Diamantinas e toda a margem do enIradas nos mocambos dos negros fugidos."
Francisco, encontram as suas origens no banditismo que assolou essas regiöes durante
o período citado" (Op. cit., p. 177). A alianca de índios a negros escra_ vos, pelo Fatos como estes refletcm muito a extensão (Ia rede de qui•
menos nessa regiäo baiana. toi uma constante. lombos na Bahia, pois abrangem desde o litoral região do Rio São
(5) — Barrcn, Borges de: op. cit., p. 217. Francisco em plena área de sertão e mostram o equívoco daqueles que
(6) — Barros, Borges de: — Op- cit.. p. 216. supõem haver o negro circulado quer como escravo,
quer como qui. apenas rua faixa litorânea. O mapa da
(7' Acioli, Inácio: op. Cit., 2.0 p. 289. Província estava todo respingado de manchas de quilombos. Houve às
108 levas mesmo migratórias o fato de que quilombo.vinham Ias ou
talloz para os que estaváo domesticos danoz.não " fossem Ciosos para negros fugidos servirem de guias de Minas Gerais para a Bahia e
de suas ellez posições c os Icvan.de tadoz não aspirassem maiores Piauí.
classe, dentro da rígida estrutura da sociedade da época, achavam os O Quilombo do Orobó, em 1796, preocupava as autoridades em
membros da Câmara que nenhum acôrdo devia ser negociado com os conscqiiéncia das repetidas queixas dos moradores da região. No ano
quilomboias. Seria abrir frinchas na rigida carapaça do aparelho de scguinte, um relatório sôbre as providências que foram tomadas pelas
estado escravocrata. au.
Nas considerações que os representantes da Câmara de Salvador
fizeram posteriormente ao Viee•rei, as causas pelas
quais deviam extinguir inapelàvelmente os quilombo]as sem com eles
parlamentarem, dizem que "o mais proveitoso hera conquistar estes
"Termo que fez sobre os negros do Mascarenhas. e entradas e assento lombolas dios, uma conhecedores ao das saberem características
que que se sobrelhe da da região, aproximação mais serviam constantes de para
tropas.localizar era a mobilidade os quilombolas, dos qui.já
'tio por Ordem do tomou". Marquez Livro Visse de Rey Atag Dom do Senado Jorge da
que
Camara de Salvador apud eslo negócio se
Luis Viana Filho, "O Negro na Bahia", Rio. 1946. p. 153.
109 que Já determinou em 1706 que é em o Jaguaribe que Luís se
toridades dava conhecimento de que os escravos fugidos, aquilombam César de Meneses 08 escravos, ao tomarfato
pertencentes a um quilombo muito antigo, destruíam e assolavam
plantações vizinhas. Depois bom êxito de serem da expedição do mesmo, depois de informar que se havia
enumeradas que as estava precauções sendo organizada, e cientificado da situação em que se encontrava a população daquela
vila,
medidas tomadas o referido para do.o
cumento nos conta que o Capitõmor Severino Pereira, juntamente tá.los. dasse que No o caso sargento-mor de não existir partisse
com outros capitães•mores, marchou contra o reduto que foi
destruído em dezembro pelas fôrças contra êle enviadas. No sargento-mor em demanda na das vila, matas deviam para ser
mocambo — narra ainda o relatório havia plantações de mandioca,
conquis-contra. tados capitães-do-mato.
inhame, arroz, cana-deaçúcar, frutas e outras culturas e "se
prenderão treze escravos entre pretos, pretas e crias" que• foram Depois vêm os quilombos de Maragogipe e Muritiba, em 1713.
entregues aos seus respectivos senhores." Por esta mesma época O de Cachoeira era um dos maiores da época. Mais exatamente em
era destruído o do Andaraí. Cachoeira — veremos oportunamente, em capítulo
especial — havia uma série deles e durante todo o transcurso da
A Câmara de Cachoeira, por seu turno, anunciava em 1705 a
escravidão aparecerão de vez em quando. Em 1714 houve uma
existêneia Segundo de carta um ajuntamento que foi enviada de batida contra os mesmos ordenada pelo Capitão-genevat Pedro de
Vasconcelos. Segundo os oficiais da Carnara daquela vila, os
escravos a' D. Rodrigo fugidos da nas Costa, matas capitäo-
moradores encontravam-se em constante sobressalto, ou melhor,
generalde Jacuipe. da Bahia, estavam praticando e "recebendo de dia e de noite irreparáveis prejuízos", conforme se
expressa o D. Pedro de Vasconcelos. Ordenava que
roubos" Imediatamente medidas eram tomadas pelo aparelho
o Coronel Bernardino Cavalcanti de Albuquerque comunicasse ao
repressor senhorial. O mesmo D. sem Rodrigo êsses da capitäomor da vila gue se preparasse uma expedição "sem a
mínima demora e dilação" ( . ) e .com poder bastante" pusesse
quilombolas, Costa ordenava enviando-os aos capitães em seguida
cerco e prendesse os "negros, negras e crias."
e mais à oficiais cadeia que de Salvador.capturas. Além dos índios
disto, na indicava ex1Mliçäo, aquela a fim autoridade de (9) — Carta aos oficiais da Cnmara da Vila de Cachoeira sobre
Quilcmb08 Documentos Históricos Bib'iote-•a Nacional — LOC, cit.
"rastejarem" a necessidade os ex-escravos. de serem Esses engaja-
Carta para o Coronel Bernardino Cavalcanti de Albuquerque
ín- sobre os de Jacuípe. — Documentos Históricos — Biblioteca Nacional. vol.
XLI apud. "Os Qunomb08 Baianos", de Pedro Tomás Pedreira, in ' 'Revista
Brasileira de Geografia", ano 1962. 4.
110 No local foram feitos prisioneiros 61 quilombolas "entre pretos e
Em outras áreas mais afastadas do litoral os quilœnbos se pretas, que foram recolhidos à cadeia". Og chefes do reduto foram
multiplicavam. Em Xiquexique. documento datado de 1801 dá-nos julgados posteriormente. Na sentença condenatória dos mesmos lê.se:
notícias da existência de dois, ao mesmo tempo que informa a "fo. rio por officiaes e soldados, expurgados varios Quilombos de negrœ
formação uma expedição para destruí-los. A Província vivia inquieta que haviäo nas vizinhanças desta Cidade, com grande damno dos
com as atividadeg dos quilombolas. A classe senhorial da Bahia armava- moradores d'ella e dos seos contornos, de cujos quilombos vieräo
se para enfrentar, quer no sertão, quer no litoral, quer na periferia da prezos para
Capital, as atividades desses escravos fugidos.
III) — Pedreira, Pedib Tomás; Loc. cit.
(12) Idem.
Além das insurreições citadianas, que serão estudadas em (13) Oficio do Governo Intet'ino da Bahfa a Francisco Xavier de Mendon.
momento próprio, ainda podemos nos referir 8 quilombos que existiam ça Furtado Arquivo de Marinha e Ultramar — Lisbca. Doc. 6.449 — Loc. Cit.
na periferia da cidade do Salvador. O do Cabula. O de Nossa Senhora 111
dos Mares O chamado Quilombo do Buraco do Tatu. a Cadêa, grande numero de negros e negras; e procedendo. em
Pedro Tomás Pedreira situa esse último ajuntamento "nas devas. sa do cazo por este Juízo se pronunciarão os cabeças
cercanias da cidade do Salvador, e a cerca de duas léguas de distância d'aquelles facinorozos e outras Ikssoas com as quaes mantinhäo
da mesma, nas margens da rodovia que liga Campinas e a vila de Santo communicaçäo; e os negrog que não tinhäo mais delicto que o de
Amaro do Ipitanga" . segundo historiador o quilombo teve início no ano calhambolas depois de marcados com a lettra F, se mandarão
de 1744. Esses quilombolas, apesar da proximidade da Capital, não se entregar aos seos senhores, pagando cada um d'elles, por huma
postavam em uma posição passiva. Pelo contrário. Atacavam e rateação, o que lhe coubesse para fazer a quantia da despeza que
roubavam os moradores da vizinhança. Para se de. fenderem das havia supprido a Fazenda Real com o sustento dos dictos officiaes c
tropas, punham "estrepes" nas matas, à maneira dos de Palmares, fato soldados." ao Quanto ao destino dos cabeças nada se sabe.
que, ainda œgundo o mesmo historiador, "dificultava grandemente a
aproximação de elementos estranhos e das tropas das milícias." Os Não foi apenas esse quilombo que existiu na periferia da Cidade
arredores da cidade do Salvador ficaram perigosos para todos os que do Salvador. Como dissemos, além do acima descrito existiam o de
entravam ou saíam; também os proprietários de pequenos sítios viam- Nossa Senhora dos Mares e o do Cabula. Em 1807 0 gmærnador e
se constantemente atacados. O mais interessante, no entanto, é que neral da Bahia convocou o capitão-mor dag entradas e
esses escravos, à noite. penetravam na cidade a fim de " prover-se de assaltos de Sal. vador — Severino da Silva Lessa — e determinou
pólvora, chumbo e das mais bagatelas que precisavam para a sua fossem os dois agrupamentos de negros destruídos imediatamente.
defesa." É óbvio, portanto, que tinham cúmplices no interior da cidade. O sossego público estava em risco enquanto aqueles quilombos
Aliás, quase sempre os quilombolas dispunham de aliados quer nas continuassem. No dia seguinte já era requerida uma tropa composta
senzalas quer nos centros urbanos. Parece que as constantes incursões de 80 homens para o assalto aqueles dois redutos. Além desses
dos escravos ali homisiados contra os moradores irritaram as soldados de linha participavam da expedição punitiva "oficiais do
autoridades. O governo interino da Bahia ordena a sua destruição. mato e cabos de polícia." O resultado não ge fez esperar. Como
Forma.se, então, uma expedição de mais de duzentas pessoas, com sempre acontecia, a superioridade de homeng e armas (lava a vitória
soldados, índios e voluntários para destruí-lo. E. de fato, conseguem às tropas legais. Depois de cercar diversas "casas e arraiais", destruiu
reduzir a zero o que era um grande quilombo. no dia 2 de setembro de os redutos. Parece que esses quilombolas não esperavam qualquer
1763. repressão, pois, além de não oferecerem resistência de monta, foram
aprisionados em massa, quando podiam ter-se retirado para as
matas próximas. Tudo leva a crer, pela carta que o Conde da Ponte fazer um cálculo da escrava que nio raldia
escreveu ao Ministro da Marinha de ultramar, dando conta dos aos seus senhores por se encontrar nas matas. Tal cálculo
eventos, que havia interesses de terceiros envolvidos, pois ali se lê demonstraria como, durante todo o transcurso da escravidão, o
que esses escravos eram dirigidos por mãos de "industriozos quilombola diminuía a margem de lucros que o sistema escravo
importadores" que "aliciavam os creoulos, cs vadios, os proporcionava à classe senhorial. Esse desgaste, em certas regiões do
supersticiozos, os roubadores, os criminosos e os adoentados e eom Brasil e determinados mentos deve ter contribuído para a
huma liberdade absoluta, vestuários caprichozos, remédios decadência do regime servil, eufc• mismo sob o qual a escravidão era
fingidos, benção e oraçoens.phantasti• cas e fanáticas, folgavão, disfarçada em nosso País.
eomião e se regalaväo com a mais escandaloza offensa de todos os
direitos, leis, ordens e publica quietação."
Em outras regiões do País a tética de luta dog quilombos variará de
É possível que importadores, objetivando tirar de circulação acordo com certas circunstâncias e No Maranhão,
escravos dos engenhos para substituí.los por outros, isto é. vendê- conseguiräo transformar sua luta, que anteg se realizava isoladamente,
los aos proprietários rurais, tenham, em alguns momentos, através em uma luta em torno da qual se aglutinaräo diversas camadas da
de terceiros, estimulado a fuga dos ladinos, para a venda de boçais. popuLa• ç50 maranhense, especialmente a grande massa componesa.
Os quilom• bos que existiam desde há muito sairão da posição
Na mesma carta aquela autoridade dá conta da destruição de atomizada em que se encontravam para formarem urna força de ex-
outro quilombos no Rio das Contas. Comarca de Ilhéus, no Sítio escravos unificada e ativa. Tal fato se verificará em face da situação
Oitizeiro. O ajuntamento já tinha inclusive roças e plantações. Esse econômico-social da. quela região, que sofria, talvez como em
chamado "gran. de quilombo" foi destruído, mas havia outros, na nenhuma outra época, uma crise generalizada decorrente dos males
mesma região, "de consideracäo", que aquela autoridade esperava crônicos das nossas de produção.
arrasar. Dizia ainda o Conde
Após a expulsão dos franceses, entrava em decadência acelerada a
i14) Loe. cit. economia mara•nhense. O sistema de aldeamentos dos jesuítas
- Idem, idem. mostrava-se altamente desvantajoso. Abastardava o indígena e não
dinamizava economicamente a região. O índio, por outro lado, quase
112
não mais pesava demograficamente, dizimado que fora quase
da Ponte: "nascendo destas doutrinas o convidarem-se escravos dos inteiramente pela brutalidade dos colonizadores que a tudo recorreram
enganhos a Coroneis e Tenentes-Coroneis com festejos, a fim de subjugá-lo. Em 1637 0 flamengo Gedeon de Moris dava um
cantorias e uniformes, o que ouço contar aos senhores com total de 40.000 indígenas na Capitania do Maranhão. Pouco mais de um
indifferença, e merece bem a penna de eu tomar cautelozas medidas, século depois — segundo J. F. Lisboa — não será possível ao
e com prudencia dispersal-os visto que lhe dificultozo he fazel-os Governador André Vidal de Negreirog juntar mais de oitocentos índios
recuar em hum momento todo o caminho que com tanta indulgencia para a guerra. Houve mesmo casos
se lhes tolerou
Doc. cit.
Um verdadeiro rosário de quilombos se espalhava pela Província. 113
Ainda em Rio de Contas existiu um loca' que hoje se denomina "Arraial de índios que eram colocadog boca dos canhões e feitos em postas com
dos Crioulos." Em Camisäo, Jeremoabo, Salitre, Tucano, e em muitos O tiro. A Capitania estava em decadência franca. Pombal viu no Mara.
outros lugares os negros se organizavam em quilombos. Isto sem nog Ilhão uma fonte de rendas de inestimável valor. Sua visão de estadista
referirmos aos pequenos ajuntamentos efêmeros de dez e doze dos mais avançados para a sua época dentro da estrutura de uma nação
cativos fugitivos, pois seria um nunca acabar. Infelizmente não se pode colonizadora, não podia deixar de perceber a fonte de rendas que a
Metrópole tinha nas suas mãos. Dará nessa circunstância o monopólio porque exigia, entre outras coisas, a queda do monopólio e a -liberdade
do comércio de escravos à Companhia do Grão-Pará e Maranhão, que de comércio.
introduzirá a moeda metálica em substituição ao escambo e à troca em No Maranhão, em face disto, grande era o coeficiente demográfico
espécie. Ainda circulavam — antes do monopólio da Companhia — negro. Veloso de Oliveira dava para 1819 um total de 200.000 habitan-
nove. 10s de fios ou rolos de pano como meios de troca.
114
A Companhia iniciará um processo sistemático de domínio eecy tes, dos quais 133.332 eram escravog e 66,668 livres, com porcen.
nômjco completo do Maranhão, emprestando capitais aos senhores de tagem de 66,6% de escravos sobre a população total. Como se vê, a
terras em dificuldades, vendendo-lhes escravos e recebendo em massa escrava preponderava sobre a população livre. Essa escravaria
pagamento og produtos da lavoura, que eram em seguida drenados para se localizará na zona agrícola da Província. especialmente nas regiões
Portugal. situadas às margens dos rios Mearim e Pindaré. Como veremos, logo
Nesta conjuntura é que o escravo negro entrará como elemento se revoltarão contra o instituto da escravidão. Os quilombos surgirão,
mantenedor das bases da economia maranhense. Transformou-se na em conseqüência. O primeiro quilombo foi destruído em 3709. No
mercadoria mais solicitada. Somente em 1783 foram para o oeste maranhense as rebentinas de negros continuaram. Em
Ma. ranhão 1.602 escravos. De 1812 a 1820 entrarão, em levag Maracaçumé os cscravos descobriram ouro e negociavam com
sucessivas, 36.356 diretamente dos diversos portos da África, sem aventureiros. Outros quilombos, como o de Jaquarequara, localizado
incluirmos no cômputo aqueles que, através de entre o Gurupi e o Sincatñ, serão aniquilados. O Governador Franklin
penetravam vindos através da Bahia até Caxias. Na base dv exploração Dória destruirá o Quilombo de S. Benedito do Céu, cm 1867. Os
cada vez maior e mais sistemática do trabalho escravo, as classes ataques desses quilombolas chegario ao conhecimento das autoridades
dominantes locais goza. rio de um período de relativa prosperidade que tomarño medidas repressoras. Em 1772 estou raram as
econômica. A exportação do algodão subirá de 651 arrobas para 25.437! insurreições de S, Tomé, que foram terríveis. Os quilombolas, aliados
O movimento do porto de São Luis crescerá de 3 para 10 navios, em aos índios, atacaram o povoado de S. José c só foram derrotadog
1769. No ano de 1788 exportar-se-á, em 25 navios, a importância de Rs. depois de sérias lutas.
687.748$788, ou seja : cerca de £ 790.000. O algodão figurará nesse
bloco de exportação com 11831 sacos, num total de 67,510 arrobas. Segundo Ribeiro do Amaral "a escravaria não poucas vezes
Caio Prado Júnior dirá por isto que o algodão sendo alvo tornará o ameaqava o sossego público, subtraindo.se parte dela ao jugo do
Maranhão negro. De fato: todo o trabalho agrícola será mantido pelo senhorio e aquilombando•se nas matas donde, em surtidas, iam roubar
braço do escravo africano. ritmo seguirá a marcha da economia as fazendas circunvizinhas, sendo necessária força armada para
maranhense até o ano de 1817, quando, em 155 navios, exportará £ capturá-los.'
1.000,000, ultrapassando a exporta. cão de Pernambuco e igualando a da Dos quilombos, um gue maiores vestígios deixou, foi Q dc
Bahia, ambas no auge da expor. taçño açucareira. Turiaçu, que durou cerca dc quarenta anos, sendo constantemente
Essa exportação toda não irá, porém, proporcionar ao povo no seu atacado, nus semppe se refazendo até que finalmente foi destruído.
conjunto, condições de vida mais favoráveis. Mais uma vez a essência Esse quilombo situava-se numa vasta região que se estendia entre o
coIonial de nossa economia se manifestará na penúria da esmagadora Pará c o Maranhão. Apesar de ter sido atacado constantemente quer
maioria da população e na abastança fáustica da minoria que vivia da pelas autoridades da primeira quer da segunda Província, conseguiu
exportação dos gênerog necessários às nações dag quais dependíamos resistir por quase meio século. Para que esse quilombo fossc destruído
através do contro!e total de Portugal. Todos os gêneros aqui produzidos as autoridades tiveram de criar uma de*cgacia de polícia com
eram canalizados para a Metrópole através do monopólio da jurisdição nos municípios dc Pa• ruã e Maracaçumé, enviar uma força
Companhia do Gräc-Pará e Maranhão. Lavrava nas camadas sociais armada para o último 110s muni. cípios mencionados e fundar tuna
desfavorecidas pela situação um sentimento de revolta pronunciado colônia militar no Gurupi. Os componentes da força militar
contra tal estado do coisas, sentimento que virá à tona da sociedade pela região dos negeos aquilombados de ponta a ponta.
primeira vez com a revolta de Bequimão (1684) que subiu à forca destruindo-os completamente. Como nos outros quilombos, os
fugitivos mantinham contato com elementos de fora, inclusive no falta (le elementos para ser estudado presentemente, será ainda possívcl
sentido dc intercambiar out") das minas que esses quilombolag ex. uma reconstituição científica de camo sc formou e desenvolveu
ploravam, por outros artigos. internamen• te, Será difícil a reconstituição da vida social e cconômica
naquele (luto. A própria personalidade do líder quilombola é
Em muitos outros locais a escravm•ia se revoltava. Mas, o líder in. apresentada apenas como a (Ic um assassino vulgar, quando de um
contestável desses negros foi o preto Cosmo. Estava condenado à forca megafômano ou para. nóico. Caxias refere-se ele como "o infame
• preso na cadeia de S. Luís. No entanto conseguiu evadir•se, embre• Cosme". O que podemos
nhar-se no sertão e dirigir um quilombo. Nas cabeceiras do Rio Preto
organizará um quilombo de mais de 3.000 negros sob a sua (lireqüo. 115
ESSC k•cduto ainda nio teve o seu historiador nem sabemos se, com a

afirmar, porém, sobre as atividades do preto Cosme no seu é nadamente — continuarão a luta, até seu esmagamento total, Aliás, os que, sob a
sua liderança, foi fundada uma escola e estabelecido um sis- realizaram, se para aproveitaram conseguirem do movimento proveito de político massas que
imediato, os líderes obtendobanim tema de de onde piquetes tiravam de guerrilheiros víveres e traziam que incursionavam novos insurretos às fazendas Isto
tinhavizi• posições e facilidades. Contribuíram, por outro lado, para prejudi• de lombo acontecer não permitia pois o número que se estabelecesse de no
escravos reduto que uma aderiam economiaao qui. car pululava a união nas total fazendas dos camponeses de algodão do sublevados Maranhão. com A luta, a
massa de qualquer escrava for-que

suficiente. ma, prosseguia. Ao chegar Caxias ao Maranhão a coisa que mais lhe interessou foi esmagar os quilombolas. Em agosto de 1840 assistiu pes• Mas não
era somente o preto Cosme que se rebelava contra o insti- saalmente um ataque à concentração de escravos do preto Cosme. Outros tuto da escravidão. Em 1838 0
subprefeito da vila da Manga terá por líderes, ao verem o em declínio e a perspectiva de uma anistia cautela uma força de vinte e tantos horrvns por
causa dos quilunbolaspor parte do presidente da Província, passaram a combater os quilom. do Itapicuru. Ao estourar o movimento da Baiaiada, em 1838, o
pretobolas, seus antigos aliados. O caudilho Poderosa, por exemplo, aceitou Cosme será um dos seus chefes mais ativos, ærn nunca ser aceitoa condição
imposta por Caxias: combater os quilombolas para consepelos políticos bem-te-vis, nem aceitar a linha oportunista dos mesmos. guirem o perdão. " Aceita a
condição narra um historiador Tal posição independente foi reconhecida pelo próprio Caxias, que, ao in-derosa lançava-se contra os negros fugidos, nas
florestas, e os reduzia formar haver pacificado Província, escreve: "Se a estes (os efetivos dosmais ainda como força organizada, e assim, jogando os balaios
brancos balaios) adicionarmos três mil negros aquilombados sob a direção do in•e mestiços contra os escravos negros, já ao raiar de 1841 podia anunciar
fame Cosme, os quais só de rapina vivem, assolando e despovoando asem ordem do dia que a rebelião estava terminada, com a rendição, em fazendas,
temos onze mil bandidos, que com as nossas tropas lutaram."Miritiba e Icatu, na sua presença, dos últimos caudilhos em armas, RaiMesmo o chefe
pacificador separou as duas forças no seu relatório.mundo Gomes inclusive, com aproximadamente 3.000 homens. Só o "infame Cosme" ficava restando,
"vivendo de rapina e assolando fazendas", Outro dos seus chefes — também de cor — será o mulato Manuelperseguido pelas forças legais e por muitos balaios
que com eles já colaFrancisco, que se intitulará "tenente dos pretos" e (segundo ofício envia-horavam beneficiados todos ele — menos o capitão
quilombola — pelo do denunciando o inicio da revolta) "é o que mais tem seduzido a gente Decreto de anistia.•" I de cor, porque essa gente muito acredita no
seu semelhante."
feito prisioneiro,

que O lutavam certo é nas quematas — com — a os experiência quilombolas adquirida do preto durante o juntamentetempo emleado bolas Finalmente, que na
estavam perna. Cosme Juntamente sob seu foi comando. derrotado com ele Levado e foram para capturados São Luís. 2.400 depois foi julgadoquilom-de ba-

com os de "Manuel Balaio", aplicarão a tética de guerrilhas que tantos e c enforcado. tão profundos danos causarão às tropaš legais. No dia 7 de março de 1839 as
tropas das diversas colunas dos balaios farão sua junção na vila daApesar da repressão sangrenta de Caxias contra os quilombolas, as Manga, região já
tradicionalmente conhecida como foco de quilombos.lutas dos escravos continuam. Em 1840 vê-se obrigado a baixar a I.Æi 98, O preto Cosme chefiará três mil
escravos. iniciando a marcha, depois vi-criando o Corpo de Guardas Campestres, cuja finalidade era esmagar os topiosa, sobre a cidade de Caxias. No dia 1.0 de
julho daquele ano, aquilombolas. Diz a Lei no seu artigo 6. 0 : "O Cmt de guarda ou guardas cidade, sitiada, cairá ante o impacto das forças rebeldes. Ali instau-que
prenderem escravos fugidos recebeu-to do senhor do escravo a grati• rará uma junta governativa que tomará a si a respønsabilidade de pre-ficaçüo de 2$000, e
quando am quilombo, dez mil réis, pagos premios parar a defesa da cidade e entender-se com as autoridades.antes da entrega do mesmo escnavo, e dividido entre
os que concorreram
Os quilombolas do preto Cosme cantavam nas ruas ocupadas da ci-para a prisão" E no seu artigo 7.0 • "quando o ataque dos quilomdade de Caxias :bos foi
feito a requerimento de interessados, pagarão estes, vencimentos diários dos guardas que forem empregados no mesmo ataque, se este O Balaio chegou !porém
for ordenado sem proceder requerimento de interessados. e nele O Balaio chegou !forem apreendidos escravos, pagarão seus senhores pro-rata conforme o Cadê
branco?número dos que pertencerem a cada um, o vencimento diário dos ditos Não há mais branco !guardas, não excedendo em caso algum, vinte mil réis, o que o
senhor Não há mais sinhô!houver de pagar por cada escravo apreendido." Como se vê o "Código Negro" que Teixeira de Freitas se recusou a escrever, nem por isto
deixou Após a capitLflaçáo da ala menog radical da Balaiada. constituídade existir, através de uma série infindável de leis como esta. de elementos vacilantes
aglutinados no chamado partido Bem-te-vi. se räo os líderes como Cosme e Manuel Francisco que — mesmo desorde•(17.A) — Gérson. Brasn: "GaribáJdi
e Anita", R. de Janeim, 1953, p. 85.
(18) — Documento transcrito por AstcSfo Serra no seu livro "Caxias e o "A Balalada", R. de Janeiro, p _
220.seu Governo Civil na Provincia dc Maranhão". R. de Janeiro. 1942.
116117
diminuição das rondas públicas c o que mais é, o derramamento de
gue e a perda da vida de muitos bravos dofensores da Lei."
Em Alagoas podemos citar o exemplo dos papa-méis. Esses negros fugidos, de lendária fama na região onde atuaram, engrossarão subsfan.
Manuel Correia de Andrade agrega: "Compreende-se que fossem os cialmente as fileiras do caudilho Vicente de Paula, um dos chefes do escravos, por
medo de voltar ao cativeiro, os que se conduzissem com mais movimento Cabano, naquela área. Convém destacar, para melhor escla- dedicação a
Vicentk Ferreira de Paula. Os que lutaram até o fim. Nerecor o assunto, que a participação desses quilombolas em um movimen- nhurn.a esperança lhes
trazia a paz e, temerosos da conclusão da luta, to nitidamente restaurador, modificará o seu conteúdo, pelo menos na sua passaram a fiscalizar os que
queriam depor as armas, Por isto, à pro. fase derradeira, pois o leque de forcas populares se abrirí enquanto porção que se tornava mais difícil a
situação dos rebeldes, era dos escraaquelas forças conservadoras, ligadas à economia tradicional — os gran.vos que Vicente dc Paula recebia as
maiores provas de dedicaçao c fide• des donos dc terras dele sc desligarão. As causas (Io movimento, istolidade e era neles, que nada tinham a lucrar com
a paz, que o chefe mais é, a sua configuração politica restauradora para sermos mais preciosos.confiava. Por isto, iam.se tornando o grupo mais
influentc nas hostes serão levadas de roldão ante as modificações que se processarão na suarebeldes. Dai uma revolução, iniciada por políticos
absolutistas sequiocomposição (le forças sociais. A participação dos quilombolas da regiãosos de poder, iv.se tornando, gradativamente, uma
verdadeira luta de e o prestigio que lhes deu Vicente de Paula são fatos que virão modifi-negros contra a escravidão. Tomava, assim, pouco a pouco, a Guerra car
substanciahyente os objetivos da luta. É que os articuladores do mœdos Cabanos, um sentido bem diverso daquele sob cujo signo se iniciara, vimento, ao verem
que o mesmo não se iria resolver rapidamente, pro,e só não sofreu certamente tal transformação em seus objetivos porque curaram entrar em entendimentos com
as autoridades. O melhor histo•não possuiu líderes mais esclarecidos, melhor conhecedores dos problemas riador desses acontecimentos escreve a respeito: .Com
Antônio Timóteo,das massas que conduziam." ( 21 ) pequeno proprietário Q homem humilde de Panelas do Miranda, e com os índios do Jacuípe, ganhou a rebelião
o apoio das massas, das camadasDentro das próprias forças de Vicente de Paula chegou mesmo a mais pobres da população, que a continuaram por muitos anos,
enfren-haver certa divergência entre a gente livre "e os escravos que compöerù tando as maiores dificuldades, ao mesmo tempo em que os homens podc-a força
dos Sa]tiadoreg, por serem estes mais promptos em suas execuções rosos que a tramaram, que a organizayam, ou foram presos. ou depu-e por isso merecem
maiores elogios dos seus Chefes." O Presidente seram as armas. É que iniciaram uma simples quartelada, uma revolu-Manuel de Carvalho resolveu estimular R
captura desses escravos, obrigançäo para ser vitoriosa em poucos dias. mas a plebe, os índios o depoisdo os seus proprietários a pagarem vinte mil réis por escravo,
a quem os escravos, iniciada a luta, fugiram ao seu comando, ao seu controle,08 prendesse. Um chefe cabano, em carta apreendida pelas autoridades de chefes
humildes como eles, saídos da relatando ag dificuldades em que ge encontravam, dizia que "não ha gente c se colocaram sob as para o piquete, e Sentinella, e se
não fosgem os negros estavamos desamprópria plebe, como Vicente Ferreira de Paula, que meihor consultava
aos seus interesses." parados". Muitos dos que não estavam engajados nas tropas cabanas encarregavam-se de levar cartuchos para eles.
Depois dessa primeira etapa, Vicente de Paula contará apenas com
Quando o Bispo D. João Marques da Purificação Perdigão resolveu os papa-méis no prosseguimento da luta. O da Província nair
parlamentar com homens de Vicente de Paula, foram os papa-méis sua Fala de 1.0 de dezembro dc 1833 afirmava que "homens que maisque permaneceram fiéig
ao movimento, ao lado do chefe. se assemelhavam a uma horda de antropófagos do que cidadãos, sem princípios, sem moral, e sem Religião, levados pelo único
instinto imitadorEm 1835 Vicente de Paula ainda conseguiu reunir uma tropa de 300 das bestas ferozes, entre as quais vivem, e favorecidos da posição quehomens,
na maioria negros escravos e índios, e atacou o ponto Roçadinho. habitam de matas impenetráveis (Jacuípe e suas imediações) taig sãoEm Japaranduba, no mesmo
ano, contava apenas com cativos. Fugiu os revoltosos e são as tropas com que temos empenhado uma luta tãocom 50 desses homens deixando o restante para se
apresentar àg autŒ ridadeg. Pacificada a região, a ordem era a de prender os quilombolag. porfiada, debalde o Governo tenha dado todas as providências ao
seuComo houvesse resistência de militares que foram destacados para essa alcance para os chamar à ordem." Em seguida enumerava os danos cau-tarefa, o
Presidente Francisco de Paulo Cavalcanti de Albuquerque ressados por esses rebeldes que praticavam, entræ outros, "a dissolução de umpondeu que "Indecorozo
não he a tropa, como diz ger o Commandante-emterreno imenso nos subúrbios de Porto Calvo, a destruição de muitos

engenhos, o definhamento da agricultura, a papalisaçäo do comércio, a(20) — Revista do Instituto ArqueoWgico e Geográfico Alagoano. no 14. 4? vol.,
2 de dezembro de 1881. citado por Carlos Pontes: "Tavares Bastos", S. Paulo, 1939.
(21) — Orreja de Andrade, Manuel: — Op. cit., p. 92.
(19) — Correia de Andrade, Manuel: "A Guerra dog (22) — Cit. por Manuel Correia de Andrade, op. cit., p. 130-31.
Janeiro. 1965. p. 49.23) — Idem, idem, p. 139
1 18119
Chefe perseguir e aprehcnder esses escravos, o que julga elle serviço de Jucuípe e Panellas contra os quaes se faz mister o emprego da
proprio de Estes capitåes-de•campo procurão e Força Publica."
prendem hum ou outro negro fugido a sco Sr., que anda izolado sem
Apesar de as autoridades considerarem a região pacificada,
cometter roubos, e assassinos, como foräo os que se conseguirão em
Vicente dc Paula nem sc rendeu nem parou de atacar. Depois, vendo-se
corpo, que a tranquillidade publica, como tem acontecido em os
irremediavelmente derrotado, recuou para o Oeste, fundando um
quilombos das mattas de Catucá, e com esses que ora se formäo nas
misto de pŒ voaçäo e quilombo onde permaneceu até 1841, sem ter
nenhuma ligação com o mundo exterior. O certo é que, quando
naquele ano foi encontyar-se com o frade José Plácido de Messina, fez- dários. Conseguiam desses aliados informações e víveres,
se acompanhar de mais de quatrocentas pessoas, Estava terminada, estabelecendo-se um verdadei ro serviço de ligação entre os primeiros
finalmente, a luta dos pa- e os últimos. O Chefe de Polícia não estava alheio a esses fatos e
verberará constant£mente contra os mesmos. No relatório citado dirá
claramente o grau de desgaste a que chegaram as forças do governo.
Em Sergipe os escravos marcarão todo o período em que vigorou o Porque — usando a tática de guerrilhas — esses quilomboLas jamais se
regime escravista de contínuos levantes. Esses levantes de escravos empenharao em batalhas de envergadura. Atrairão habilmente as
sergipanos revestiram-se de características particulares: neles predomi. tropas para o t•ecesso das matas e lá, com movimentos rápidos, as jräo
nou, com grande eficiência, a tática (IQ guerrilhas. Desde bem cedo submetendo a um desgaste de energias, munições e homens,
(muito antes da destruiçãn do Quilombo de Palmares), Fernão Carrilho desesperador. Como elemento auxiliar dessa tética funcionava o
será convidado a destroçar quilombos na Capitania dc Sergipe. E desde sistema de ligação com os escravos dag senza!as dos engenhos e
então. não mais deixarão sossegados os proprietários de e fazendas, muito eficaz e que os auxiliará muito na luta. (27)
fazendas. Será esse sistema de guerrilhas certamente o mais indicado para as
As autoridades da Capitania reconhecerão a audácia desses condições da época, a região e os ohjetivos da 'uta e o que maiores frua
negros, subestimando suas forças. Pelo contrário: estarão em tos produzirá. Muitas vezes o governo organizará expedições de
constante vi. gilância através de sucessivas medidas, quase todas envergadura, principalmente nos fins do século XIX, contando esmagar
inúteis porque os qui. lombo'as prosseguiam a tuta em outro local e defi. nitivamcnte os esceavos sublevados. Sempre regressarão,
ccm formas de comportamento. No relatório apresentado pelo contudo, sem conseguirem o abjetivo que desejam alcançar. No dia 8
Chefe de Polícia Manuel Spínola Júnior, publicado no "Jornal de de fevereiro dc 1872 uma grande expedicäo partirá para dar combate a
Sergipe", em 1873, lê-se que reunidos em grupos nos termos de um grupo que agia ativamente em Rosário. Sob o comando do próprio
Laranjeiras, Divina Pastora, Rosário, Capæla e Japaratuba, os quilombos Chefe de Policia e a um plano discutido no mais completo
são "uma constante ameaça à segurança individual e da propriedade.' sigilo com o pró. prio Pt•esidentc da Pi•ovíncia, marchou a tropa ao
encontro dos quilombolas. Oitenta praças da Guarda Nacional
" Desde que entrei em exercicio nesta repartição — continua o reforçavam a tropa e mais destacamentos de outras localidades .
rela. tório — chegando ao meu conhecimento os fatos praticados por Tinham estabelecido no plano, de antemño discutido, que uma daria
tais escravos, e a maneira aterradora por que assaltavam os lugares batida nas matas dos engenhos onde supunham se encontrassem os
mencionados, tenho me empenhado sèriamente para que sejam êles escravos fugidos, ficando o grosso da tropa na retaguarda da mata. Os
capturados, curando tranquilizar os proprietários daqueles quilombo'as, ao screm atacados, se veriam compelidos a fugir e
municípios circunvizinhos." ficariam então, sob dois fogos; seriam fàcilmente cercados e liquidados.
Os quilombolas sergipanos homiziavam-se com muita frequência
em alguns engenhos onde obtinham facilmente ligações com os Orientado por este plano foi enviado o Alferes João Batista da
escravos que lá se encontravam. As senzalas eram ponto de encontro Rocha para dar uma batida nos engenhos de Capim-Açu, Varzea Grande
entre 08 escravos fugidos e os dos engenhos e fazendas que com eles e Jurema. Na batida entäo realizada descobriu aquela autoridade
estavam soli- repressora, dez ranchos abandonados, primitivas residências dos
quilombolas, que foram destruídos. Os escravos haviam batido em
retirada para mais longe. "Avisados a tempo — diz um jornal da época
(24) — Doe. citado por Manuel Correia de Andrade, op. clt_. p. 183 _
(25) Op. cit., p _ 190 ss _ apenas perderam grande "porção de sebo de gado, cordas, alimentos
"Jornal de Sergim AraeaJu. 19 de de 1873. etc. A amizade e a proteção que quase todos os escravos dos engenhos
120
votam aos são sérios obstáculos: dão não só aviso como guarida
no caso de qualquer emergência, mesmo dentro das senzalas", No dia 23 de março do mesmo ano será realizada uma batida nas
afirmava o mesmo órgão. (29) matas do Engenho Batinga, onde havia um quilombo de onze escravos.
A expedição, como as anteriores, fracassou, diz o "Jornal de Aracaju" de
O Chefe de Polícia cercou as senzalas do Engenho Capim•Açu, 3 de abril — "por inércia de algumas praças, senão pusilanimidade".
na esperança de que os quilombolas gue lhe escaparam estivessem ali Conseguiram apenas prender uma escrava e tornar quatro cavalos com
homiziados em aliança com os escravos daquele engenho: nada, mais duas armag de fogo e muitos "objetos de alojamento."
porém, foi
As batidas continuavam ininterruptarnente. Os sítios Baracho e Fa.
Cf- Sampalo. Aluys:o: "Apontamentcs sobre R Hstória de Sergipe" çáo, entre a vila de Rosário e o Pé do Banco, serão cercados Sem
'N "Fundamentos", 36, 1954. p. 61 ss. regultado; a mesma coisa acontecerá no Engenho Floresta.
Jorna] Aracaju, marco de 1972
(29) — Diz textualment£ a noticia do jornal: o. resultados nio
121 correspondem ainda aos esforços empregados. por isso que em diversas diligências
procedidaa depois que estou em exercicio, nas quais se tem distinguldo o tenente do corpo
encontrarlo. Apenas quatro cativos tidos como suspeitos dc de polí-ia Joho Batista da Rocha auxiliado pelas autoridades policiais encarregadas de
cumplicidade forarn presos e fizeram "importantes declarações. " promove-las. nåo se pode passar além das seguintes capturas: 8 em Rosário, 4 em Divina
PastOra e 2 em Laranjeiras.
No domingo seguinte rumaram sessenta e duas praças, sob o co• Para isso não pouco concorrem alguns proprietários dos referidos municípios, os
quais por um desleixo criminoso não só deixam que se acoutem em suas
mando do Capitão João Estêves de Freitas, para Divina Pastora, acom. terras. como também No impedem que se rælaeionem com os que nos seus
panhados pelo Chefe de Polícia, além de contarem com a colaboração do engenhos, o que é de grande proveito àqueles que näo podem ser apreendidos sem grande
delegado daquela localidade e do Major Félix Zeferino Cardoso. dificuldade" ("Jornal de Sergipe", 19 de muco de 1873) .
Cercaram em seguida as senzalas dos engenhos Limeira, Piedade e (30) — Idem, idem.
Quidongá. Os proprietários daqueles engenhos que segundo afirmativa 122
do "Jornal de Aracaju" — viviam "aterrados e com razão", exultaram Em agostn (IC 1872, cam a aproximação do invcrno, os escravos r
com o aparecimento dessa força e dessas autoridades. Os escravos u, girlos se acercarão {10s povoados para conseguirem "a proteçño dos
rebeldes, porém, não ofereceram combate. Retiraram-se para as matas, par. coiros dos engenhos." Aproveitando essa particularidade a proximi
tendo a tropa recuado para a vila de Rosário. Apenas duas prisões foram dos qui}ombolas — as autoridades reforçarão o combato. Na vila de
efetuadas nessa diligência, da qual tanto esperavam as autoridades. Des: Japaratuba realizaram uma diligência que fracassou pelo auxílio que os
tacaram•se na missão, ainda segundo depoimento do jornal, o "Alferes quilombolas conseguiram receber dos escravos dos engenhos. Foram
Rocha na arxiscada missão em que se acha e devemos louvar o auxílio avisados, deixaram os seus ranchos e refugiaram-se nas próprias scn•
prestado pelos como bem o Tenente-Coronel João zalas, onde foratn escondidos pelos escravos que ali se encontravam. É
Gonçalves dc Siqueira Maciel, pela prontidão com que dispõe a fôrça da de se destacar o fato de serem apreendidos entre os quilombolas
Guarda Nacional da Vila de Rosário" . inúmevos animais dc montayia, o que explica a espantosa mobilidade
No dia 16 nova investida será feita contra os quilombolas nas mar. que sutam .
gens do Engenho Floresta, com auxílio do seu proprietário. Homens a
cavalo e a pé reforçaram a tropa regular. Os escravcs do engenho, no N.•io viviam. porém. esses escravos, em simptes passividade de
entanto, avisaram em tempo os quilomboias que fugiram "deixando jöes. Pelo contrário: tinham um espirito ofensivo sut•prcendente,
vestígios da precipitação com que o fizeram." atacanrlo estradas, assassinando capitães-do-mato, feitores etc.
recolhendose em seguida para o pecos.so das matas que tão bem
conheciam. Disto c ncoutramns testemunho nos jornais tempo.

O Chefe de ralava con formc vimas no perigo que quilombolas


reprcsentavatn para a "segurança individual e da propeicdade"
mostrando também o cuidado que a Polícia vinha tendo com a captura
desses negros fugidos. Lamentava o pouco resultado obtido em respeito. É a primeira não ter-se um número suficiQnte de praças para
conseqüência dos precários recursos de que dispunha, mas, por outžl) destinar-se ao menos vintc para cada termo cm que os quilombolas mais
lado, apresentava alguns resultados obtidos em Rosário e Divina se aprescntam, ou então para formar-se um destacamento volante de não
Pastora. Comentava ainda c deplorava o pouco caso (le a\guns menos 50 praças, sob o comando de um oficial brioso, que se cncar•
proprietários que não impediam as relações estabelecidas entre os rogasse de 'bater aqueles malfeitores cm todos os pcntos que os
quilombolas e os escravos dos engenhos. o "que é de grande proveito encontrasse." Como vemos, se tratava apenas de contratar capitãesdc.-
àqueles que não ser apreendidos sem grande dificuldade." mato para prear escravos fugidos, mas sugestão para uma verdadeira
operação militar permanente contra os insurrctos. Prova do grau de
No dia 24 de dezembro de 1873 organizou-se uma grande batida eficiência da luta de guerrilhas praticada por eles. Outro elemento
contra os quilombolas. Os detalhes do plano foram traçados sigilosamen. importante na eficiência da resistência dos quilombolas estava no
te, como da vez precedente, para maior segurança da operação. As sistema de ligação mantido entre eles e os escravos dos engenhos. Dos
tropas legais marchariam para extinguir um grupo que agia entre Capcia últimos recebiam näo somente acolhida nas situações difíceis, mas
e Rosário. na certeza de que iriam destruí-los e vê-los "capturados sem o informações constantes, víveres. armas e solidariedade. O "Jornal de
menor desastre", segundo o relatório dc Antônio Passos Miranda, Aracaju" de 3 de abril de 1872 reconhecerá esse fato e estampará sem
abrindo a Assembléia Provincial. No entanto, ao contrário do que se rodeios: "A experiência tem mostrado o grau de relação que entretém cs
esperava, os quilombolas dc tudo foram avisados e bateram em retirada Ias com os escravos dos engenhos: acham aqueles apoio e proteçäo;
a tempo de impedir o choque com ag tropas 'Io governo. A expedição, trocam estes farinha e agasalho pela partilha nos roubos dos primeiros e
comandada pelo próprio Chefe dc Polícia, voltou inteiramente cm caso de perigo invadem as senzalas". E acreseentará: "desdé que
(lesmovalizada, pois os escravos, "apegar de todas as reservas, foram proprietários situados nos lugares mais percorridos pelos quilombolas
sabedo- exerçam assídua fiscalização na sua escravatura, cortando quando for
possível a camunicação protetora que tanto tem embaraçado as diligên.
Ê o lemož por exenap!o. no "Jnrnat Aracaju" "A audácia linha chegado ao cias. os quilombolas, entregues aos próprios recursos, não oporão
ponto de entrarem nas vilas e povoados. 10 e 12. armados e bem disparando as armas na resistência à estratégia e serão capturados" .
porta de algumas autoridades." No mesmo ór• gio de 8 de tevereiro de 1872: sabe-se tev
sido assassinado Manoel de Sousa. mestre de açúcar do engenho do sr_ Bardo de Pmprii, Os quilombolas continuavam atacando ou se escondendo nas matas.
por um fugido a quem aquele indjvíduo procurava p.ender." Ainda o "Jornal de Aracaju" Houve mesmo uma quilombola que, ao ser presa, declarou haver
de 15 marco do mesmo ano estampava: "na noite de 23 de feveveiro, no engenho depositado a sua filha, nascida nas matas, em casa de uma mulher
denominado Cruzeiro. distrito da alapada. o escravo do Coronel Joaquim Curvelo as.
sassinotl barbaramente o feitor do mesmo engenho"
conhecida pelo nome de Maria Cabocla, residente em Laranjeiras. O
delegado de Capela promoverá uma batida nas matas do Engenho lagoa
123 Funda. Ali conseguiu capturar os quilombolas Luís c Antônio Dias
res da diligência que se combinava." Continuava a atividade dos qui• Ferreira da Cruz e Tomásia, além de cinco cavalos e um burro. Como
lombolas que chegaram muitas vezes a, em grupos de dez e doze, por. estratégia de com• bate, em conseqüência da solidariedade dos escravos
tando armas de fogo e bem montados, entrar em vilas e povoados, dos engenhos, sugeria aquela autoridade verba para a formação de um
disparando as suas armas às portas das autoridades. Em seguida corpo de espioes, .
retiravam.se rapidamente, sem darem ensejo a que se organizasse
qualquer veação a esses atos. Usavam a surpresa como aliada e "Jornal de Aracaju", de 5 de março de 1874.
obtinham assim não apenas vitória do ponto estritamente militar mas "Jornal de Aracaju", 3 de abril de 2872.
psicológica também.
Aili(la operavam no ano seguinte: na abct•tura da Assembiéia Pro 124
Antônio dos Passos Miranda referia-se amargamente ao assunto. Em Sergipe, segundo podemos ver de inÓmeros fatos, os
Ao informar as providências tomadas, anahsava as dificuldades e dizia; quilombo. Ias conseguiram lutar até, praticamente, a extinção do
"Asseguro-vos que não permanecerei inativo nessc serviço, se bem que escravismo. Usando uma tática inteligente, albergando-se em
mais dc uma dificuldade existam contra os meus melhores desejos a pequenos núcleos de oito a dez casas que podiam ser facilmente
abandonadas à aproximação das tropas repressoras, e, além disto, (34) — Doc. do Arquivo do Conselho Ultramarino
mantendo um sistema de ligação eficientíssimo com os escravos dos Correspondenela do go. vernador de Mato Grosso. 1777.1805. Código 246 p.
engenhos, escravos que cs supriam de mantimentos indispensáveis à 165. por Rowette pinto: "Rondônia". S. Paulo. 1950, p. 33 's.
subsistência, não tendo, portanto. necessidade de plantarem roças e se (35) — Idem. idem.
fixarem definitivamente, esses quilombolas desgastaram enormemente 125
o aparelho repressor montado pelas autoridades daquela Província. a utilidade pública." A bandeira, comandada por Francisco
O pessimismo das autoridades ao se referirem a esses quilombolas Pedro de Melo, composta de quarenta e cinco membpos "municiados e
é uma constante. Sempre se referem à agilidade dos mesmos. à armados pela Real Fazenda", partiu (le Vila Bela no dia "7 de maio dc
solidariedade dos escravos dos engenh08 ou à falta de recursos 1795. Acompanhando o Diário dessa bandeira ficamos sabendo que,
suficientes como causas dos sucessivos fracassos. Mas, o certo é que no dia 19 de junho, os seus componentes encontraram de repente três
os escra• vos sergipanos, negaceando combates nos quais estavam índios, um negro e um caburé (mestiço de negro e índio) que foram
inferiorizados, fugindo para as matas ou refugiando.se próprios aprisionados, tendo fugido um índio que conseguiu avisar os
engenhos, organizaram uma tática de luta que não foi derrotada até o componentes do quilombo da aproximaçãžo dos inimigos. Apesar
fim. disso, a bandeira conseguiu ainda nesse dia aprisiunar mais 32
quilombolas sendo que "uns eram índios, cutros caburés" . No dia
seguinte conseguiu prender mais doze pessoas. A bandeira estacionou
Alguns documentos, especialmente correspondência do ali até o dia 5 de agosto. esperando prender o restante dos membros do
governador de Mato Groso e do Conselho Ultramarino däcH10s quilombo que se encontravam "pelos matos vizinhog."
notícias da existência de quilombos na região mato-grosense. Esses Após 8 "diligência" a bandeira prosseguiu percorrendo "ranchos
negros fugidœ, aliados aos índios daquela área, durante muito tempo que mostravam serem de pretos fugidos" em direção ao Arraial de São
viveram aquilombados. Um dog mais famosos deles foi o Quilombo Vicente, onde um total de 54 quilombolas aprisionados foi entregue a
do Piolho, que depois passou a ser chamado "Quilombo da Carlota." Geral. do Urtjz.de Camargo a fim de que o mesmo os conduzisse a
Teve início aproximadamente em 1770 sendo atacado no mesmo Vila Bela. Esses quilomboèas foram enviados depois pelo governador
ano pelo sertanista João lame do Prado, que capturou "numerosa "para o mesmo lugar em que foram apreendidos", a trinta léguas de
escravatura." Apesar disso, os escravos continuaram no quilombo que Vila Bela, onde formaram a aldeia Carlota.
se localizava na Serra dog Parecis, vizinhança de Guaporé e do arraial
de Vila Bela. à margem do rio que lhe deu o nome. Sua base Prosseguindo nas suas batidas, a bandeira dirigiu.sc para a região
econômica era a agricultura, principalmente plantaçöeg de milho, do Rio Sararé onde, segundo informações de dois escravos que se
feijão, fava, amendoim, mandioca, batata, cará e outras raízes, além de agregaram à mesma, havia um outro quilombo, o de Pindaituba. No
banana, ananás, abóbora, fumo, algodão — de que faziam tecidos dia 2 de outubro, finalmente, alcançaram o quilombo que procuravam.
grossos com que se vestiam — além de possuírem criação de galinhas. Os quilombolas haviam-no, porém, abandonado, ao serem informados
da apro• ximação da bandeira. Refugiaram-se em outro reduto — o do
Segundo a descrição que os documentos que estamos Motuca perto do córrego do mesmo nome. A bandeira encontrou o
acompanhando fazem, o governo do Quilombo do Piolho era Quilombo de Pindaituba formado de "dois quartéis, um composto de
constituído por um conselho de seis membros, escolhidos entre 08 11 casas e o outro de IO, a 50 passos de distância do primeiro." Ali só
mais velhos, sobreviventes da primeira investida contra o reduto, "os conseguiu aprisionar três negros que vinham buscar mantimentos para
quais eram os regentes, padres, médicos, pais e avós do pequeno a sua nova mo• rada. Brn vista disto, a bandeira prosseguiu viagem em
povo." direçäo ao Quilombo do Motuca onde chegaram no 3 de outubro,
Vinte e cinco anos depois da primeira expediçäo é organizada a eneontrando.o também abandonando "pelo aviso dos negros fugidos. "
segunda para "pôr fim à fuga de muitos escravos" e "aliviar estes danos O Quilombo do Motuca era "também dividido em dois arraiais
e três léguas distantes um do outro" . Do primeiro era chefe o ex-
escravo Antônio Brandão, com quatorze negros, e o segundo era
chefiado pelo ex-escravo Joaquim Félix, com treze negros e sete
negras. Em consequência do mau êxito obtido, a expedição marchou
para o quilombo de Joaquim Teles, também abandonado aproximação
(36) — Pinto. RoqtRte : "Seixos Rolados", Rio de Janeln:ö 1927 128.
da bandeira, que regressou, em seguida, com 18 escravos
aprisionados.
127
Com vemos, Mato Grosso teve os seus quilombolas. Vale
assinalar aqui que Vila Bela, posteriormente, eom a mudança da
capital para outro local, transformou-se em um reduto de negros
fugidos que, certamente saídos dag mato-grossenses, ali se
homiziaram. Diz Roquete Pinto : "Vila Bela, antigo centro de
mineração mui pujante; hoje não passa de simples logradouro de uma
centena de pretos. As últimas informações
t26
que nos foram prestadas, por testemunhas insuspeitas e seguras, sobre
essa curiosa cidade, cujos palacetes oficiais já se acham escondidos
pela floresta que a vai avassalando, dizem que 'á núo existe
domicilia&o um aó habitante branco.
Reduto de antigos escravos, cujos descedente8 vivem em
sociedade original, em mais de um ponto semelhante a certas cabildas
africanas. é um caso de segregação espontânea, promovida
pelas condições de insalubridade a que só os negros, parece,
conseguem resistir: mesmo assim ela é perniciosa à colônia, que já se
vai extinguindo."

Insurreições
Baianas
A Bahia no Tempo das Recoltas — A Bahia, no século XIX, era uma
Província cuja economia se baseava quase exclusivamente na exportaçäo de
produtos agrícolas para o exterior, especialmente açúcar. Talvez como em
nenhum grande outro Estado as relações sociais pré-capitalistas se conservem
até hoje de forma tão visível como lá. Imagine-se a situação na época. A
carestia de vida era alarmante. Os víveres faltavam no mercado e seus preços
eram elevadíssimos. O plantio exclusivo dos gêneros destinados à exportação
era uma das causas fundamentais desse estado de coisas. Um economista da
época dirá que og donos da terra não queriam perder os "preciosos torrões do
massapê" com a "mesquinha plantaçäo de mandioca." Os poucos alvarás e
assentos existentes no sentido de se plantar quinhentas covas de mandioca por
escravo de serviço não eram respeitados. A carne era outro gênero cnríssimo.
Ninguém podia criar o gado numa distância inferior a dez léguas do litoral.
Além disso, o comércio abatedor era monopolizado, o que concorria ainda
mais para o encarecimento do preço da carne. A falta de estradas contribuía
para dificultar o transporte do gado para o corte em Salvador.

( 1 ) Sobre a situaçä.o atual da baiana o Prof. Milton Santos, em seminålio internacional


sobre resistencia a mudanças, primeiro lugar cita o rato de que, "por ser capita] do Estado —
Salvador dotada um Darque fabril dhbil. ocorre o que favorece do êxodo da
popuLuqüo para o sul do Brasil. Por outro ledo. a fraqueza do parque industrial de Salvador fnz
eom que nio esteja ele em condlçöes de competir com os centros industria!8 do Sul, de modo que
a tendência é para um enfraquecimento progressivo.
Além o baixo poder aquisitivo das cidades nio provoca a introduçåo dc melhorias
técnicas na agricultura.
A análise das importaçöes do Estado da Bahia reveta serem estas ccnstituídas
preponderantemente de bens de consumo e n'O de bens de capital, fato que demonstra uma
descapitalizaçáo progressiva, com a canalizaçäo das poupanças para outros centros.
Mas, internamente a balança comerciai é desfavorável, no comércio externo apresenta um
grande saldo positivo. Entretanto esse saldo, devido política cambial, val servir aos centros
industrias de outros Estados. dele nhD se beneficiando a Bahia" IN "Resistência a Mudanças"
( Anais do Seminário Internecionu æunido no Rio de Janeiro. em Outubro de 1959). Rio. 1960, p.
211/12) Ver também: John Friedmann e José Leal: "População e Mäo.de.obra na Bahia".
Salvador. si d, passim.)
(2) Brito, R. de: "A Eeonomia Braslleira no Alvorecer do Século XIX" Bahia.

131
Vejamos como uma testemunha ocular pinta a situação da época:
"Os miseráveis lavradores de farinhas, grãos, e legumes, que pela gua Piauí, pela estrada de Juizeiro, enfrentando as péssimas estradas da pobreza
mereciam até comiseração, não têm liberdade de vender seus região e as secas. Era proibida a instalação de fábricas, armações, enfrutœ onde eles têm
melhor saída, apegar das razões de justiça, genhos, sem licenças e formalidades abusivas que anulavam, na prática, e interesse público acirna
ponderadas, e de Leis expregsas, que não esse direito. Para a moagem da cana o pequeno plantador pagava metade só lhes facultam aquela liberdade,
mas até franqueza de direitos, tais da safra aos donos dos engenhos, mais a renda da terra. Por outro lado. como a Lei dc 4 de fevereiro de 1773, e Assento
de 24 de abril que sobre acelerava-se em ritmo ininterrupto a produção de gêneros de exportação. ela tomou; Avisog de 1. 0 de julho de 1794, e de 17 de
agosto de 1798; O açúcar — gênero que ocupava o primeiro lugar no conjunto da eco• o Foral desta Capitania etc. Umas vezes são inibidos de exportá-los
ao nomia — atingiu, em 1817, segundo dados fornecidos poWFelisberto CalCeleiro desta Cidade, ainda que às vezes o consumidor, que os há de gas-deira
Brant a von Martius, a 1.200.000 arrobas, produzidas nos 511 entar, more lá bem perto do lavrador, que a produziu, e ainda que elesgenhos que existiam.
Esses dados, aliás, segundo o próprio Martius. venham já ensacados para a Europa; e uma vez dada a entrada não tem estän em com os citados
por St. Hilaire e von Humboldt, que mais de os levar para fora, posto que lhes venha à noticia haver emsão muito mais elevados. Os ingleses
procuravam cada vez mais algodão, outras partes maior preçq, e falta do mesmo gênero. Eles sofrem pois.tendo subido a exportação desse produto para
40.000 sacos. O número a despesa de uma viagem, ou menos de um rodeio escusado, o empa-anual de navios que entravam no porto da Bahia era
calculado em mais te do seu capital, e da embarcação, a perda do seu tempo (que às vezesde 2.000, sem contar as embarcações costeiras. só no porto
passa de mês para obterem descarga, pois as tulhas não cabem nem quanto gasta em uma semana) retenção forçada do seu gênero Essa produção era
toda baseada no trabalho escravo. As retaç5cs para riäo poderem aproveitar o justo preço dele, a contribuição que seescravistas determinavam todo o
conjunto da sociedade baiana na época. lhes exige atilulo de benefício da tulha." ('iPelo simpEes peso específico dos escravos no conjunto da população
poderemos deduzir isso. Vejamos :
E prossegue o mesmo historiador pintando o quadro da situação da

Gente livre
Escravos
Negros escravos
Negros forros
Bahia : "entre nós para estabelecê-lo na própria casa (um engenho deDe acordo com os cálculos de Baldi, a população da Bahia (incluincana) cumpre beijolar ao
Governador, peitar o Ouvidor, e o Escrivãodo a de Sergipe der Rei) seria 8 seguinte em 1824 : da Comarca, os quais sem exorbitantes salários não vão fazer a indi9
pensável vistoria que deve proceder a informação. Míseros lavradores,Brancos . 192.000 em Aue mãos estais metidos! Os que só devem empenhar a espada, e
aÍndios . 13 .000 pena para proteger vossa liberdade, são os que vo-la tiram ou vo-la80 .000 vendem."35 .000 489.000
Em conseqüêneia do "monopólio nxtura! que logram os senhores49 . 000. atuais" a situação era das mais opressivas na Bahia. Continua Rodrigues de Brito,
na mesma obra: "Se lançarmos os olhos para outros dis-Ou seja: numa população de 858 .OOO habitantes havia 524.000 tritos dx Capitania, o quadro não será
menos triste; por toda parte nãoescravos. Isso sem falarmos dos índios, que viviam num regime de se. se vê senão monopólios, subsídios, taxas e impostos de
toda a casta, esta.mi•escravidäo, e dos "forros", que tinham uma vida quase idêntica à dos belecidos sem legítima autoridade. nem reconhecimento de S.A.R. ; e
secativos. Como vemos, era urna enorme massa que constituía n base da alguém vai de fora estorvar a aqueles régulos os seus monopólios, con-pirâmide social
baiana e cuja efervescência exigia da parte dos senhores correndo com sua indústria, um tiro, ou pelo menos uma denúncia dede escravos uma vigilância
constante e enérgica. Por este motivo a Bahia armas curtas é o meio por que eles se desembaraçam de sua concor-era fortemente policiada. A força militar de
que dispunha a Província, rência." Segundo Martius, que percorreu a Bahia na época, "a admi-voltada de maneira aguda contra os escravos dos engenhos, das
plantanistração da casa está sob a direçäo de uma comissão nomeada pelo con- e das cidades, contava com 23.070 homens. Desse total, 3.138 consgelho
municipal. Esga autoridade arrenda. ao arrematante, o abasteci.tituíam a força de linha (2.169 de infantaria, 747 de artilharia, 222 mento da cidade em carne
fresca, peixe e outros mantimentos; e, emde cavalaria) e 19.932 a milícia, tropa auxiliar com a seguinte distri• virtude de não haver concorrência, a Bahia sofre,
por vezes, a falta dobuicäo: 16.687 pertenciam à infantara, 659 à artilharia e 2.586 à cavafornecimento de boa carne verde." Como vimos, o gado não podia
ær'aria. A milícia era organizada com "a gente melhor e mais rica da socriado no litoral; vinha dos campos de Rio Pardo e principalmente do

(6) Sobre a populacho apenas da provincia ba!ana temos, também, os cálculos (3) Op. cit. p. 60 de Warden e Veloso- Para eles a populaçao n'O chegava a 500.000 habitantes. Pe.
(4) Op. cit. p. 81-Ias estimativas do Padre Pompeu populaçäo da Bahia seria. no ano de 1864, de
(5) Von Spix e von Martins "Através da Bahia", Bahia, 1928. p. 1.400.000 sendo livres e 300.000 escravos. Em 1872 seria de 1.380.870 e em 1892 pout» depots de Aboliçåo — de 1.870.093.
132
133

ciedade", quantidade em de consequência negros, que da podiam "falta ser de meios contratados e pela para existência todas de as grandeaçöes Ribeiro
Cabral contra os cumpriu Moreira senhores sentença que de tentara escravos. na Fortaleza chicoteá-lo Fortunato do por Barbalho de rnotivos Freitas pelos
políticos. foi seus demitido Guedesartigosdo

lugar que ocupava e agredido; Domingos de Faria Machado, outro


jorComo vemos, se de um lado a Província produzia uma considerável naligta da oposição, morreu subitamente, de maneira misteriosa; o livro soma de
produtos, do outro lado a quase totalidade dessa produção era de Lindolfo Medrado "Os Cortesãos e a Viagem do Imperador" foi queienviada aos
portos europeus, que a consumiam. Os escravos, os pequenos mado num verdadeiro auto-de-fé; inúmeras outras arbitrariedades ainda lavradores,
sitiantes, pecuarigtas, intelectuais e artesãos viviam asfixia- poderiam ser arroladas em longa lista com testemunho da efervescência dos pelos
senhores de engenho e de escravos, que usufruíam vantagens política desse período da história baiana. Além disso, ag idéiag liberais desse sistema de economia
colonial.da França continuavam conseguindo cada dia maior número de proséEsse ambiente quase irrespirável não podia deixar de influenciarlitos; vapores
aportavam trazendo ligações para os oposicionistas baia. seriamente a política da Província. O descontentamento que vinha denos, livros, panfletos. jornais e
revistas. Apesar de serem poucas as longe (como vimos com a revolução de 1798) era geral e sintoma de quelivrarias — em 1835 inaugurou-se a do italiano
Pongetti — essas idéias a crise já havia atingido camadas muito Largas da população. Os jornaistinham ampla circulação. Em 1809, a Carta Régia de 17 de
novembro refletiam esse descontentamento. A imprensa baiana, com uma equipedizia que "na Bahia há um grande número secreto de pessoas vendidas das mais
valentes e capazes, verberava a situação, exigindo providên.ao Partido Francês" . Como consequência pululavam clubes secretos, cias do governo. Entre os anos
de 1831 e 1837 circularam na Bahiaas lojas maçónicas, os grupos de intelectuais que, na Faculdade de Me. sessenta jornais. Jornalistas de talento e coragem como
Cipriano Ba.dicina, no Liceu Provincial e em outros locais discutiam as idéias avanrata, Antônio Pereira Rebouças, Inácio Acioli e inúmeros outros toma-çadas da
época e pregavam a república, o federalismo e muitas vezes vam posição radical contra o governo. Cipriano Barata, com seus "Sentinela da Liberdade" e "A Nova
Sentinela da Liberdade"; Gonçalveso separatismo. No seio da tropa reinava em alguns momentos o desconMartins com o "Diário da Bahia"; Próspero Dinis com "A
Marmota",tentamento e o espírito de revolta. As manifestações de desagrado e cujo lema era :quarteladas eram freqüentes. O Batalhão Piauf exigiu a expulsão
dos "Sou pequeninaportugueses. A soldadesca da Capital reivindicou melhor tratamento. No porém sou forte.Recôncavo baiano a situação não era muito
diferente: em 16 de fevereiro Digo a verdade de 1832 rebentou um motim em um dog ali aquartelados. não temo a morte"
É nesse conjunto de circunstâncias que se gera na Bahia uma lite. agitavam os problemas do sou tempo com destemor, coisa que se repetiaratura
combativa e popular, até hoje pouco estudada, mas que funda. em outros órgãos como "O Guaicuru", redigido por Guedes Cabral que, emmente influiu nos
acontecimentos do tempo. A poesia, através da sátira 1836, dirigiu também "O Democrata" e que, além de jornalista, era cien-e da poesia conscientemente
política, ocupa uma posição de destaque tista avançadissimo para sua época, tendo, em 1876, sustentado tese mé.nesses eventos. Como exemplo desse tipo de
poesia podemos citar dica sobæ "Funções do Cérebro", rejeitada pela Faculdade como intein-a de João Nepomuceno da Silva, conhecido na época como "o poeta
mente materialista. (8)graxeiro" que, quando da visita do segundo Imperador à Bahia, fez uma Sabino Vieira, também jornalista, era obrigado a assassinar à en-
espécie de relatório em versos, em que dizia: trada da Câmara Municipal, em legítima defesa, o alferes do Exército
"Senhor meu, toda a Bahia
(7) Vcm Spix e von Martius, op. cit., 84.Nada aqui em porcaria.
(8) "A orientaçho materialista da filosofia do século XIX pertence ainda no
História das escreve Idéias o no Proe. Brasil"Cruz Costa o trabalho na sua de interessante Domingos Guedes abra "Contribu!cäoCabral — AsEu vos afirmo, eu vos juro:
Funções do Cérebro (Imprensa Economica, Bahia, 1876). 2. XXXVIII — 226 pago _Se não fose a vossa vinda Domingos Guedes Cabral (1852•1883) escrevera esse trabRlhD para
apresentá•lo co.Oh ! existiria ainda mo tese de em Medicina à Facu¼ade da Bahia. A congrege-çao dessaEm cada canto um monturo" . escola, porém, recusou-o por achá-lo
religiäo do Estado (Cf: Sacramento Blake, ob. cit. vol. pág. 207). Em vista de tal atitude og colegas de GuedeB
Cabral, como pmtesto contra "coartaçäo da liberdade de pensamento que. por tôdapertado por leituras de literatura médica, encaminhei meus estudos para assuntos parte, n&ß, vemos limitada.
inclusive nos estatutos da nossa Faculdade"de uma delicada. que nos oferece a filosofia positiva, que nio (D. G. Cabral ob. cit. pág. VII) publicaram-lhe o trabalho, Nos agradecimentogde outra filoscma
livro. Guedes Cabral explica alguma cc.fsae é outm que tem, muls ao do Invés que a dela, lógica como aplicada base as aos ciências tatos e naturais que diverge e a experimentaçäo" aos colegas, nas
primeiras páginas do seu

que tem certe importAnci8 para a história das vicissitudes das correntes fitosófleas(Contribuiçäo Hiat6ria das _ldéias no Brasil". R. de Janeiro. 1956. p. 442). no Brasil daquele tempo. "Vai para dois
anos — escreve Guedes Cabral que, des-

134135
e terminava;
Eu, João, poeta novo, Que visitou nossa grei, Ser defensor de seu povo, Que sobre o povo atirei.' Faço ciente
Graxeiro denominado, Recebeu meu que o rei,
relatório,
Que não tarda proclamado Este folheto noWrio
Em outra oportunidade, João Nepomuceno da Silva escrevia : que estu• daremos em seguida, (a de 1835), pegará em armas e, sob a
"O rico além da riqueza tem logo e logo o perdão, que nem à liderança de Sabino Vieira, instaurará uma república independente
força do burro recebe absolvição não escreve um nome inteiro; (1837) de vida efêmera qûe é uma prova do descontentamento geral
de pena. culpa e agravo. chamam.lhe douto, eloqüente, Filho de da época.
rico é talento chamam-lhe belo, excelente, que escreve em breve
Nessa situação — pois as condições não iriam se transformar no
momento acho razão, tem dinheiro. sobre o céu e pinta a Cintra;
a Província exportará 17.142.260 quilos de açúcar e
nome de pobre não soa, porque mesmo. ora, esta é boa O rico,
26.400.880 quilos de fumo. As riquezas estavarn nas mão da minoria
além da riqueza tudo que é pobre é pelintra por vênia feita à
detentora dog setores básicos da economia e esse montante de
tem na mão fechada as leis tcm exportaçäo não iria melhorar a sorte do povo: era precária a situaçäo
mais de quarenta achegos, de grande parte da população da Província. Em 1893, poucos anos após
porque, tendo dois empregos, O rico, só por ser rico, a Abolição, o Estado da Bahia possuía "pouco mais de mil rn&os
de estrada de ferro." Nesse mesmo ano trabalhavam na indústria têxtil
terá quatro, cinco ou seis. . porque dá pra melhor bico
805 operários. (9'
dos outros o seu dinheiro,
Se ele é senhor de engenho, porque tem leite e tem vaca, Além dessas causas particulares e específicas da Bahia,
agravava-se a crise geral do País. Havia uma conjuntura que favorecia
e no maior desempenho traz suspenso na casaca
as lutas contra o governo. Os "Farrapos" levantavam-se no Rio Grande
do furor mata um escravo, a medalha do Cruzeiro,
do Sul (1835) ; em Pernambuco os escravos nas fazendas,
assassinando feitores; no Pará, em 1833, os Cabanos revoltaram-se
contra a prepotência imperial. Na época em que se verificaram as
Outro poeta que no seu tempo imprimia às suas poesias o tom crí Nvoltag dos es• cravog baianos, no I_Æão do Norte já estavam sendo
tico e satírico da época era Manuel Pessoa da Silva, falecido em 1878. aglutinadas as forças que liderariam a Revolução Praieira. A Balaiada,
Além de poeta era jornalista — como a maioria dos poetas de seu no Maranhão, em 1838, será uma continuação desse estado geral de
tempo — c combateu o govêrno do Gen. Andréa. Publicou o poema "A coisas. A situação era francamente favorável às e og escravos
Esca. puia do Diabo", atacando a subida dos conservadores em souberam aproveitá-]a. As lutas a tal nível que o governo imperial, ame
Pernambuco, em consequência da parcialidade do Imperador. Políticos drontado e vendo o que significaria o aumento ininterrupto do
da época, como Gonçalves Martins e o Padre Joaquim Cajueiro de nú.næro de escravos, proibiu, em 1850, definitivamente, a entrada de
Campos, são atacados ferinamente pelo poeta. Chamado à africanos no País, extinguindo o tráfico.
afirmou: "Meus senhores, sou chamado à barra deste
tribunal, apenas por ter usado da liberdade de pensamento",
defendendo-se altivamente das acusações que lhe haviam sido Primeiras Insurreiçõeg (1807-1813) — O capítulo das revoltas de
imputadas. escravos da Capital baiana abrange quase toda a primeira metade do
século XIX e marca de maneira funda esse período da história da
Província.
Economicamente, a Província baiana vinha sofrendo de um estado crônico de
Começará com a revolta dos aussás, que delimitará o início do
crise. Desde a transferência da Capital do País para o Rio de Janeiro que o seu eixo
primeiro ciclo de lutas, no ano de 1808, e será dirigida por escravoe
eco«ômico sofrera um sério abalo. Sua agricultura continuava monopolizada, havia
maometanos. É verdade que — como acentua com acerto Nina
crise de transportes e penúria. Rodrigues — essa primeira escaramuça — como também a de 1809 —
136 foi apenas um ensaio parcial e ainda vacilante da que eclodirá no ano
O povo sofria enormemente com esse estado de coisas e, pouco de 1813, de proporções já bem maiores.
tem. po depois de uma das últimas insurreições de escravos da série
Na noite do dia 26 de maio de 1807 a primeira delação sobre o — para, reunidos, liquidarem seus senhores. Haviam estruturado o
levante chega ao conhecimento do Governador que, imediatamente, movimento
toma as providências que o fato requeria. Os escravos da Capital,
unidos aos do Recôncavo, juntar-se-iam segundo o plano estabelecido
(9) Viana. F. V. : sobre o Estado da Bahia", Bahia, 1898. 137

com certa experiência, se atentarmos no fato de ser essa a primeiya vos: pretendiam estender a luta por todo o Recôncavo baiano, especial. revolta. Designaram um
Capitão em cada bairro e nomearanl "um agen. mente distritos de Jaguaribe e Nazaré onde a Polícia foi prender 23 te a que chamavam Embaixador". Aproveitaram o dia
da procissão de impli(Zdos na insurreição. Para êxito do movimento, haviam estruturado Corpus Christi para, durante 8 distraçäo dos seus senhores, entretidos uma
associação secreta que tinha por objetivo aliciar os escravos e dirino ato, levantarem-se em armas e assumirem o poder. A denúncia, gi.los na luta contra o cativeiro
— a OGBONI de poderosissima in. rém, chegada ao conhecimento das autoridades antes do levante. poria fluência e que desempenhou importante papel nessa luta, o
que explica por terra esses planos. O Governador conseguiu saber o nome dos Ca- D relativo sigilo com que se processou sua preparação.

tomou Sabedor piães que todas de operavam que, as medidas no dia nos 27, dentro bairros às 7 do horas e maior o da principal sigilo, noite, seria distribuindo local
iniciado de suas oedens o reuniõps,levante,ans implicados: Não sabemos nada encontramos das punições nos a arquivos gue foram ou nos condenados livros quo os se
principaisreferem

comandantes das patrulhas para que tomassem as portas principais de ao assunto.


acesso à cidade, sem nenhum ruído que despertasse suspeita, além de Quatro anos depois dessa nova revolta, estourará outra com mais enviar grupos de capitães-do.mato
para fora da cidade. O local em que violência e dc maiores conseqüências. se reuniam os escravog foi invadido pela polícia, sendo presos, na oca-
Sião, sete dos seus capitães que se encontravam reunidos e apreendido Ascendia n nível luta daqueles que estavam sujeitos ao cativeiro. vasto material : perto de quarenta
flechas, um molho de varas para arcos, Os escravos de algumas armações levantaram-se, em número de 600, e "meadas de cordel, facas, pistolas um tambor." Além
dessas prisões marcharam na madrugada do dia 28 de fevereiro de 1813, para ocupar a — ainda informa Nina Rodrigues, a quem estamos acompanhando neste Capital. O
forte contingente cedo iniciou suas atividades, atacando as capítulo — os capitãcs-do.mato efetuaram as de mais quatro cabeças senzalas de suas armações, incendiando-
as, tendo igual procedimento com fora da cidade. Outras dete*s se sucederam; foi aberta devassa e to, as casas dos seus senhores. Investiram, em seguida, contra a família
madas severas medidas contra os escravos em gera', em conseqüência de um feitor, mataram-no e seguiram depois para atacar Itapoã. Ali da insurreição abortada ;
nenhuma referência encontramos sobre esse incendiaram algumas casas. Os escravos de Itapoã aderiram imediata• movimento nos manuscritos do Arquivo Público do
Estado da Bahia que mente à luta, engrossando ainda mais o contingente. Depois de ata. pudemos consultar. earem e matarem alguns brancos naquela localidade,
travaram combate com as forças legais, enviadas para sufocar o levante, demonstrando Continuando, no entanto, a luta contra o cativeiro, os escravos, lon- heróica
bravura no fogo sustentado. Em ação morreram cinqüenta ge de esmorecerem com o primeiro revés, recomeçaram a organizaçãoescravos, tendo outros se enforcado ao
pressentirem a derrota e alguns de outro movimento, que ainda será dirigido pelos escravos aussás, embo- se atirado ao Rio Joanes a fim de não caírem com vida nas
mãos dos ra já ligados aos nagôs, que dele participarão atiçamente. seus senhores e da Policia. O ba'anco (le mortos 'Ia parte dos brancos A
unidade dos escravos estava se processando: era o "esquecimento da foi de treze pessoas. aversão recíproca que lhes era natural" e a união com a "desgraça comum" que
tanto temor causava ao Conde Arcos. Assim, unidos e Esmagado o levante a ferro e fogo, os escravos não esmoreceram, já com a experiência do levante precedente,
puderam realizar um movi- contudo, e reiniciaram a organização «le um novo movimento para aquele mento de proporções muito maiores que o primeiro e de
repercussão mesmo ano. bastante ponderável em comparação ao de 1807.
Nos últimos dias do mês dc maio de 1813, um advogado de nome
Em 26 de dezembro de 1808 — antes de completar um ano que se Lasso denunciava ao Conde dos Areos um novo levante aussá dc granhaviam levantado — os
aussás e nagôs dog engenhos do Recôncavo em- des proporções, com a participação, desta vez, de ganhadores [10s brenham.se nas matas, fugindo dos seus senhores.
Ali ficarão aguar. "cantos" do cais de Cachoeira, cais Dourado e cais (Io Carpo Santo dando os escravos da Capital que cedo a eles irão se unir; no dia 28 de — e dos
negros do Terreiro o do Paço do Saldanha, além de elementos dezembro, fogem os de Salvador e fazem junção com os que se encon- de mais outras "nações" c de
escravos do Recôncavo. Era, como se vê, travam nas matas. Oito dias depois 4 de janeiro de 1809 — iniciam um movimento que englobava negros de diversas
l
'naçöes" africanas, juntos a ação com grande violência, atacando indistintamente a todos, liderados pelos aussás. Reuniam-se cm uma pequena capoeira que
destruindo, incendiando propriedades e matando. localizava por trás da Capela de N. S. de Nazaré, numa roça da Estrada do Matatu e nos matos do Sangradouro.
Nessas reuniões traçavam Seguem imediatamente forças da Capital para combatê-los, indo o plano geral da insurreição que seria o seguinte: aproveitando as festas
alcançá-los a nove léguas da cidade, entrincheirados junto a um riacho, de S. João, partiriam para atacar a guarda da Casa da Pólvora do Masendo aí cercados e
atacados. Iniciou-se o combate com grande violência, tatu de onde retirariam a pólvora necessária, molhando a que sobrasse tendo morrido grande de escravos
e sido aprisionados oitenta. para que não pudesse ser usada. Realizada essa primeira parte, contaSufocada com certa facilidade, ficou-se sabendo da organização
dos escra• vam os escravos quc as tropas legais marchariam para atacá-los, des138 139
guarnecendo a cidade, do que se aproveitariam os escravos do vimentos. O certo é que somente no ano de 1822 iremos encontrar
Terreiro, do Paço da Saldanha etc., para entrarem em açäo, atacando a outra insurreição, verificada na vila de São Mateus; depois virá o
cidade, degolando todos os brancos e tomando o poder. Era, como se ciclo de lutas, liderado pelos escravos nagôs, com a participação de
vê com facilidade, um plano urdido que, se posto em prática, iria grande parte dos escravos da Capital e de algumas localidades do
produzir conseqüências implævisfveis. Mais uma vez a delação fez Recôncavo. Será assunto dos capítulos que se
abortar essa insurreição como já fizera com quase todas as outras. Por
divergências quanto à data do início do levante, um escravo aussá
chamado João, que desejava fosse a mesma iniciada no dia 10 de ReùoltA em Cachœira (1814) — A efervescência social gerada pelo ré.
junho, denunciou seus companheiros, fazendo, com isso, ir por terra vime escravista não arrefecia. Os cativos continuavam lutando contra o
todo o plano arquitetado por eles. Os principais responsáveis pelo instituto que os oprimia.
levante, sabedores da traição de que foram vítimas, providenciaram O Recôncavo baiano, onde se estratificara uma nobreza agrária
imediatamente esconder todo o material que seria usado e que se das mais importantes da Província, foi, também, palco de rebentina de
encontrava nos locais apontados pelo delator. Nio encontrou a Polícia, ne. grog escravos. Região das mais fortes economicamente, com
ao dar busca, nada que denunciasse ou implicasse os suspeitos ou escravaria nos trabalhos dos seus engenhos, não podia ficar imune a
organizadores. esses que periodicamente eclodiam.
Continuando as diligências, ordenou o Conde dos Arcos fosse 140
proibida a festa de São João, o uso de foguetes, busca-pés, ronqueiras Já em 1798 José Venâncio de Seixas participava a D. Rodrigo dc
etc., com ordens contra os infratores. Essa Portaria proibindo a festa foi Sousa Coutinho a existência de um quilombo na vila de Cachoeira e a
lida, ao som de tambores, para que ninguém alegasse desconhe. cê-?a, formação de outro "ainda mais perigoso" a 5 ou 6 de distância da
nas principais artérias da Capital baiana. Em seguida, iniciou uma série Capital baiana. Por isto mesmo solicitava providências imediatas contra
de prisões. Depois de presos, os escravos revoltados foram processados o fato e conc:uia: "V. Excia. não ignora o que têm feito og negros
— em cumprimento à carta de 18 de março do ano seguinte — e marões nas calônias francesas e holandesas. O mesmo se pode recear
condenados 39 dos implicados. A Justiça foi de uma severidade vindo os Quilombos a crescer, se não forem destruídos antes dc
somente compreensível se atentarmos nas sociais da época: doze tomarem consistência,"
faleceram nas prisões, vítimas de maus tratos, certamente; quatro Em 20 de março de 1814 espocou uma revolta na atua] cidade
ram condenados à morte e executados na Praça da Piedade, no dia 18 (àquela época vila) de Cachoeira, quase que com as mesmas
de novembro, com assistência da tropa; foram açoitados. características das que se vinham sucedendo na Capital da Província
outros degredados para Angola, Moçambique e Bengala. desde o inicio do século. Às cinco horas da daquele dia o Juiz de Fora de
Fracassava, assim abafada em a primeira série de tivas dos Maragogipe era cientificado de que os escravos do distrito de Iguape,
escravos baianos contra o instituto da escravidäo. pertencente à vila de Cachoeira, se haviam sublevado e praticado
Ikí a próxima, haverá um lapso de tempo em que os escravos desordcns. Preparavam-se para marchar contra Maragogipe. Tinham
estiveram se agrupando para uma ofensiva maior, não levantando, em esses sublevados como plano reunirem-se aos escravos do Engenho do
consequência, nenhuma luta; ou os não lægistram Ponto.
Cachoeira, na época, como já dissemos, era local de grande impor. Engenho do Ponto" e por darem indícios de conluio com eles para a
tância para a Província inteira. Possuía orfanato, escola de latim e sublevação que se verificou em Cachoeira.
outros melhoramentos, além da grande produção dos seus engenhos.
O que foi feito dos prisioneiros certamente foram efetuadas outras
Martius comparou.a à Capital da Província pelag suas condições "sociais prisões além dos três auggás a que nos referimos — as proporçõcs do
de civilização". (3) Tio importante vila não podia, portanto, correr o incêndio dc Iguape denunciado pelo Major João Francisco Chobi c as
perigo de ser atacada por escravos sem que imediatamente todas as consequências judiciais contra os implicados na revolta não são
mcdidas acauteladoras fossem tomadas pelas autoridades. Foi o que narradas. O certo, no entanto, é que os escravos continuavam se
fez o Juiz de Fora da vila de Maragogipe, para onde os escravos revoltando no Recôncavo baiano, pondo em perigo a estabiiklade e
tinham de ir, numa ameaça evidente aos seus tranquilidade dos trabalhos nos engenhos e da classe senhorial. Muitos
moradores. NO ofício que aquela autoridade enviou ao Conde dos anos depois, como sintoma disto, desgastados por esses contínuos
cientificando-o do acontecimento, nota-se perfeitamente a apreensão levantes, os proprietários de engenhos, residentes no Recôncavo,
de que estava possuída. (4) dirigir-se às autoridadés solicitando maiores garantias para as
suas propriedades e vidas dos seus parentes. Diziam em abaixo-
Segundo depoimento do Juiz de Fora Antônio Augusto da Silva, assinado, que "considerando o perigo iminente que ameaça suas pessoas
para que os insurretos não conseguissem lograr o seu intento foram to, e benz, e em geral 8 todos os habitantes do Recôncavo e ainda mais.
as seguintes providências; colocaram-se guardas da Milícia "em talvez aos de toda a Província pelas frequentes revoltas de escravos, que
todos os pontos por onde os negros pudessem entrar"; foi mobilie. da, têm sido constantes a V . Exa. e que a cada momento põem em risco a
para igual fim, "toda a gente da Ordenança e da Justiça para vida e a fortuna de cada um deles, se vêem na indispensável obrigação
guarnecerem aquêles pontos juntamente com os milicianos." O de representar e pedir a V. Exa. R instauração dos Destacamentos que já
Sargento-mor das Milícias de Cachoeira, que se encontrava em foram mandados colocar por V. Exa. em diversos pontos do Recôncavo,
Maragogipe, partiu imediatamente para a vila ameaçada a fim de dar em virtude do plano policial de 10 de dezembro de 1828 0 que, sendo
combate aos negros sublevados. indicado na Proposta do Geral da Província, fora aprovado
com os demais artigos e mandado executar por oficio da Secretaria do
O Major João Francisco Chobi. comunicando-se no dia com Fora, Estado dos Negócios da Justiça em data de 20 de mayço de 1829."
informou que "vendo todo o Iguape
E continuam os proprietários: "Os Destacamentos, Exmo. Sr.,
incendiado e ata-
ainda que não sejam suficientes, gó de per si, para prevenir qualquer
insurreição dos escravos, que atualmente se têm acumulado na vasta
(1) Carta de José Venâncio de Seixas para D. Rodrigo de Sousa Coutinho — Anais extensão do Recôncavo, contudo impõem respeito, e estão prontos a
da Biblioteca Naciona!.. vol. 36 p. 42-48, verbete n. 18433. acudir imediatamente ao lugar em que a revolta apareça, sendo esta
(2) — DOC. cit. uma medida já sancionada pelo Governo de S.M. 1 . , que pelo fato de
(3) — Von Spix e von Martius — "Através da Bahia". ed., Salva"r. 1928 ter sido aprovada e mandada pôr em execução parece autorizar as des•
(4) Of. do Juiz de Fora da Vila de Marag%ipe, Antonio Augusto da que pela Fazenda Pública com ela se tenham a fazer"
Silva, ao Conde dos Arcos, 1814 — Ms. Biblioteca Nacional, — 83, 24, 22.
Concluíam dizendo que 'não sendo, porém, da intenção dos
141 Representantes gravarem a fazenda Pública com todo o peso daquela
cado pelos negros ( . , . ) passo as ordens necessáriag aos meus despesa, vão procurar por meio de uma suprir alguma parte
soldados a fim de acautelar as consequências que se podem esperar." dela"
Além dessas providências tomadas pelo major, o sargento-mor, que (5) Idem, Doc. 2.
se encontrava em Maragogipe passando revista às tropas, antes de partir (6) Idem, idem.
para efetuou a prisão de três negros aussás. Essas prisöeg Citado por Donald Pierson: "Brancos e Pretos na Bahia". São Paulo,
foram efetuadas por terem "contínua e efetiva comunicação com os do 1945, p. 94. nota
142 como porcos num chiqueiro ou, coisa pior, debaixo da coberta, onde o
Conforme vemos, a revolta de Cachoeira, em 1814, teve continui. seu próprio folego e catinga (que bastavam para corromper cem áreas e
dade nos anos subsequentes, levando o temor dos senhores de engenho tirá.los da vida) os matou. E houvera sido justo castigo de Deus
a recorrerem às autoridades, oferecendo-lhes, inclusive. meios morrerem justamente aqueles homens bestiais que os levaram. E não
financeiros para que as medidas repressivas autorizadas fossem postas parou nisso o negócio; antes de chegarr•rn ao México, morreram quase
em prítica. trezcntos.
"Contar o que se passa no tratamento dos que vivem seria um nunca
Revolta a Bordo (1823) Os escravos, ao serem tranportados para o acabar. E espantamo-nos com a crueldade dos turcos para com os
Brasil, algumas vezes se revoltavam durante a viagem, nos cri8tãos cativos, pondo-os à noite em suas masmorras.
navios que os conduziam. Não era fácil tal tipo de revolta, visto que as "Muito pior tratam estes mercadores cristãos aos pretos que já são
guarnições desses navios, sempre alertas, ao menor indício de também fiéis porque, na praia. ao mesmo tempo de embarcá-los batizam
sublevação puniam drasticamente os escravos. Mas, apesar de todas as todos juntos com um hissope, o que é outra barbaridade.
medidas acauteladoras tomadas pelos traficantes, muitas vezes a carga "Tinha razão Channing prossegue J. F. de Almeida Prado — para
dos navios negreiros se insurgia. Os sofrimentos eram tais que afirmar, num arroubo de eloqüência, que desde o século XV r o navio
preferiam, quando havia oportunidade, a morte a continuaiP.m nas negreiro era "o conjunto de maior número de crimes reunidos no
condições a que estavam submetidos.
J. F. Almeida Prado descreve a situação desses cativos durante a
viagem. Diz o conhecido historiador: "Terminado o embarque iam Podemos imaginar, por esta amostra, o que significava uma revolta
começar os horrores da viagem. Discorrendo sobre o tráfico, cerca de a bordo. Os negros enfmæcidos, quando conseguiam dominar as
1560, escrevia Frei Tomás de Macedo: "Amontoavam em um navio, às tripulações, faziam verdadeiras matanças. Por isto, os castigos aplicados
vezes pequeno, quatrocentos ou quinhentos (cativos), e já o fedor ou aos
catinga basta para matar os mais deles. . . E para que ninguém pense que
exagero, direi que não há quatro meses que dois mercadores. . — Almeida Prado, J. F. de: '"Pernambuco e as Capitanias do Norte do
caram para Nova Espanha de Cabo Verde, quinhentos em uma nau, e Brasil", tomo 1, p. 295/96, S. Paulo, 1939.
numa só noite amanheceram mortos cento e vinte, porque os meteram 143
escravos que se revoltavam ou tentavam amotinar-se durante a travessia rita afirmou que o levante "foi insinuado aos negros novos Macuas pelo eram terriveis.
Segundo Artur Ramos "citam-se casos de mutilação, de preto ladino José Toto", depoimento que coincide com o de um ladino decapitação, de deslXlaçamento.
Testemunhas de vista relatam•nos al• implicado — o escravo Lauriano — que também afirmou : "quem aconsegumas destas repressões às revoltas de escravos. Do
livro de bordo de um lhara aos negros novos para se levantarem fora o preto ladino de nome navio negreiro "L'Africain", em 1738, extrai-se esta passagem: Sábado,
José Pato." (0
29 de dezembro. Amarramos ontem os ncgros mais culpados, isto é, GS ne- Ainda pelos depoimentos verificamos que as únicas armas usadas gros autores da
revo;ta. pelos quatro membros e deitados de bruços em ci- ou, pelo menos, mencionadas — foram achas de lenha e outros objetcs ma [Ia ponte, fizemos-lhes
escarificações nas nádegas para que sentissem encontrados ocasionalmente a bordo. Na matança aos brancos destacamelhor suas faltas. Depois de ter posto as
nádegas em sangue pelos ram•se os pretos novos Macu e Mamatundu, afirma um dos implicados. açoites e escarificações, pusemos em cima pólvora, SUCO de
limão, sai- Os que mataram os brancos — depõe "foram os pretos novos Macu, moura c pimenta, tudo pilado. juntamente com outra droga posta peio Mamatandu e
Macutandu." cirurgião: e atiramos-lhes às nádegas para impedir que houqæsse gan- Esses pætos — todos da nação Macua, ao se levantarem contra os grena.
traficantes tinham como certo que "se assim não o fizessem, os brancos E Artur Ramos continua: "Por uma simples suspeita de rebeliões os comeriam na sua
terra." em outro navio negreiro, um capitão condenou dois negros å morte, em Após o motim, várias prisões foram feitas, embora não possamos 1724. Uma negra
escrava foi suspensa a um mastro e flagelada. Depois, estabelecer o seu número exato. Além disto, não conseguimos saber, com tesouras, arrancaram-lhe cem filetes
de carne até que os ossos apa- também, que fim tiveram os implicados ou qualquer indicação que nos recessem; o outro condenado foi estrangulado arrancaram-lhe
o fígado, facilitasse sabê-lo. Devem, p01ém, ter sido enforcados — pelo menos os o coração e os intestinos . Seu corpo foi cortado em pedaços que os outros seus
cabeças — pois, por crimes muito menores, costumava 8 Justiça da escravos foram obrigados a provar." época condenar os escravos a 500, 600 e mais açoites. Nos
processos

tes vavelmente do Pois barco. bem, à Bahia, em Vinha 1823 amotinaram-se a os embarcação escravos de e com um assassinaram tumbeiro um carregamento que
inúmeros se dirigia de tripulan-negrospro- sobre suspeita
rebeliões de participação de escravos, nos no
movimentos.terreno essas penas da simples eram
conjetura.comuns pela simples Aqui ficamos, porém,

Macuas, quando, inesperadamente, estourou a revolta, todos os uns com os outro' em um pequeno espaço, à luz incerta do luar, mais pareciam brancos
componentes da sua tripulação atirados ao mar com pancadas mont50 cwl_fuso de braços e pernas. do que corpos humanos.
desfechadas com achas de lenha. Certamente o motim foi sufocado, pois Pela 1 hora depois da meia-noite começou o céu a cobrlr.se de nuvens, e o ho. de
outra forma não se explica o fato de haver o navio negreiro chegadorizonte mas gotas escuæcia dagua na e de direção repente do vento. principiou Um uma
aguaceiro cena, corria cujos sobre horrores nós; nao catram é possivelalgu-
à Capital baiana.descrever. Obrigados a obedecer Imediatamente à voz 'errar o pasto, os mariAs prisões se sucederam e os implicados foram levados à barra dosnheirce como
convinha- embarcados "Façam pelos descer neglca os negros". ætendidos gritou no o convés. capitåo. nio e assim puderam se fez. manobrarMas o tribunais da
época.tempo utava pesado e quente e esses 400 infelizes, amontoados em um espaço de Como podemos deduzir dos documentos que compulsamos, existen-12 toesas de
longo e 7 de largo, com 3 pés e meio apenas de alto. em breve cometes no Arquivo Público da Bahia, a revolta foi inteiramente acidentalsegunda caram a tentativa. forcejar para Foi
preciso voltar ao fechar-lhes convés e as respirar escotilhas o ar de livre. ré, e colocar Repelidos, uma fizeramespécie e não teve nenhum caráter organizado, nascendo das própriag
circuns- de grade de madeira n. de proa. Entäo os negros principiaram a amontoar-se junto tâncias favoráveis que certamente, por algum motivo fortuito, se apre- desta escotilha por
ser a única abertura que deixava comunicar o ar. Sufocavam. e. sentaram durante a viagem. Tiveram a oportunidade que a muitos fal- ainda estimulados talvez por algum terror panico.
entraram de juntar-se por tal tava e se levantaram a bordo, o que era bastante difícil, como já vimos, encontrar forma, que uma impediram completamente faziam os
a maiores ventilação. esforços Por toda para a sair; parte e onde alguns pensavamsairam em face das condições em que esses cativos eram transportados para o
efetivamente por espaços que tinham cerca de 14 polegadas de longo e 6 de largo Brasil. Os traficantes sabiam que a revolta era um desejo latente na- No dia 13 de abril (1843),
quinta.eeira santa. acharam-se no poräo 54 cadáveres quela carga humana e por isto tomavam medidas como aquelas já rela.que foram lançados ao mar. Alguns desses
infelizes tinham perecido de moléstia; tadas. (3)porém muitos. dos cadáveres estavam machucados e cobertos de san31e. Antönio (um espanhol de bordo da presa) contou-
me que toram vistos alguns já prestes
Apesar da maneira improvisada, segundo os documentos citados, estrangulando-se ou apertando 8 garganta uns aos outros. Um por tal houve um líder
que se destacou, encorajou os companheiros e dirigiu amodo deles tinham tol comprimido sido calcados que as aos estranhas pés no lhe delírio galram e sofreguidão fora do com
corpo. que A buscavam maior partear rebelião. Foi o preto ladino José Toto ou José Pato. O escravo Niqui-que respirasse. Horroroso espetáeulo era ver arrojados ao mar, um após
outro,
corpos torcidos, inteiriçados, manchados de sangue e de
excTemento! . ( Vide
(2) — Ramos, A.: "A Aculturaçäo Negra no Brasil". S. Paulo. 19-42. p. 92- Cinquenta a bordo de um ygreiro, feita em pelo Sr.
(3) — "Durante o primeiro quarto, refere o Br. Hill, intérprete do navio ne.Hill, capeläo da fragata Cleópatra) — Apud: Augusto de Carvalho: Brasil greiro (escandal(Ba
a_ntlfrase) aprisionado cruzeiros ingleses na- Ionizaçåo e Emigraçao. Porto, 1876. p. 412).
vegando com mar tranqüilo. impelido por uma leve brisa que va--iava de rumo. Os (4) — MS existente no Arquivo Público da Bahia. negros dormiam ou estavam estendidos sobre 0
convés. De tal maneira se enlaçavam (5) — Idem. idem.

14-4

Insurreição da Vila de São MŒteu.8 (1822) — Na série de revottas de entraram em luta com os n•Bmos matas onde se encontravam aqui• escravos
que estamos estudando, encontramos vestígios de uma eclodi- lombados. Os escravos opuseram tenaz resistência ao ataque dos capida na vida de São
Mateus. Os documentos que conseguimos acerca datäes-do.mato e na refrega dois e pelo menos feriram um ter foram escassíssimos — apenas uma petição
de dois escravos pe-ceiro (l) A luta se travou ao meio-dia, tendo falecido os æguintes eapi. dindo liberdade às autoridades e os respectivos despachos mas
sufi-tãeg: Antônio Neves, cabra forro, e José Corrêa, branco. A Polícia já cientes para não termos dúvidas sobre sua veracidade.era sabedora da existência do
quilombo, esperando "o momento que havia designado" para atacá-lo; ante a precipitação dos acontecimentos, No ano de 1822 estouraria a rebeiiäo com o
objetivo de tomar otomara imediatæ providências. No meuno dia em que os capitães-dopoder e instalar um reinado nos moldes dos existentes no
Continentemato foram derrotados, marchará tropa de 20 praças do Batalhão Africano. Segundo lemos no documento citado, pretos, escravos e for-de Pirajá
— comandada pelo Coronel Francisco da Costa Branco — que ros, organizaram uma sediçäo contra todos os "brancos e pardos." AoSe juntará a outra composta
de 12 soldados e um cabo da Divisão Milí• que parece e tudo leva a o movimento foi sufocado no seutar, partidos da Capital, de onde saíram às IO
horas da manhã. início, Mas prisões se sucederam as autoridades, alarmadas com a série de revoltas dos escravos, estavam em constante vigilânciaEssas
tropas fimram junção na Baixa do Urubu. e alguns cabeças foram remetidos para a cadeia da capital. Ali aguar.
davam o resultado da devassa que as autoridades mandaram abrir sobreA tropa que marchava da Capital, sob o comando de José Baltasar insurreição,
cujo fim nio pudemos apurar. Os remetidos para a Cida-da Silveira, encontrou no caminho um capitão-do-mato e mais dois criou. de do Salvador foram os
escravos Claudino de Jesus e Luís Benguela,10s gravemente feridos em conseqüência do ataque. Ao chegarem, foram sendo que o último — reza o
manuscrito — seria aclamado rei, após apercebidos por vigias dos escravos que imediatamente puseram.sc em vitória do movimento.guarda, dando o alarme,
fazendo pára isso "uso de um corno de boi" que formava uma "espécie de corneta" Foi dada ordem de atacar pelo Em abril de 1822 faräo esses dois
escravos requerimento solicitan.comando da tropa. do liberdade por estarem presos "quarenta e quatro dias sem culpa",

doentes, rem bres sofrer e não alegando têm prisão meios em sem seu para culpa. .favor poderem o fato pediam tratar.se de serem liberdade.e pobres por
modo : "e nenhum como são deve-po-rinag, escravos A lanças essa "lançando- se aquilombados, tropa, e mais de outros furiosos" cerca usando instrumentos de
como trinta sobre armas os homens, soldados.curtos"; apenas opuseram-se aos "facas, gritos os facões. cinqüenta"Mata laza-!

sos se textualmente: estava por O despacho haverem "os foi encabeçado negativo. suplicantes a devassa a Dizia insurreição tinhäo para que apurar os sido
acusados da presos Vila as responsabilidades. de se como São
encontravam cabeças Mateus d'essee pre-Dizquemens cia,
matas abandonaram e próximas, uma mulheronde o campo —
pretendiam sobre e, aproveitando-se da os luta negros deixando
se reorganizar. que, da quatro depois noite, de
mortosinternaram-se Nessa alguma — ocasião resistên-três
nasho.foi A tropa abriu fogo
motim hum ser Rey". A data do despacho é 16 de abril de 1822 e nada mais encontramos que nos orientasse para saber mos as proporçõe€ da insurreição e o fim dos implicados.(1) — Nina
Rodrigues, erradamente, noticia que 08 eecrav08 do Urubu iniciaram suas atividades no Cabula após entrarem em com eapitaes.do•mato envfadog para capturá-los e animados com o êxito que obtiveram.
Engano: iniciaram anteg do. choque com os capitães-do-mato. Os ataque. feitos no Cabula toram no dia 13. quando raptaram menina. Talvez que, em conseqüencia disso. os capit&es-do. QuibNbo do Urubu
(1826) — No ano de 1826 formou-se um quilombomato tivessem resolvido atacá.'os, o que fot Leito na manha dia 17 de dezembro. na matas do Urubu, no Sítio Cajazeira, perto da Capital baiana. Come-
quando manha, foram um contingente derrotados da pelos Policia quilombolaa para dar.lhe. NO meamo combate. dia partiu. LÆmos às na 10 parte horas dadada çou a atuar atacando e realizando pequenas
escaramuças na cpor um dos comandantes do ataque: "Partlcipo que da Cidade ás IO preparando.se para um ataque de envergadura à Capital: "premedita-horas do dia como me foi por V. Sn.
ordenado. com doæ soldados e hum cabo. vão aprezentar hua revolução na Cidade." No dia 15 dezembro da-para reunidos o em um e lugar chegando denominado Estrada — do Orubt10 lugar — numero
tive noticia pouco que mais. os negms ou menos. estaväodc quele ano praticaram alguns ataques no Cabula contra lavradores, rap•cincoenta, e também algumas Negras e procurando para ver se os
descobria encontando uma menina que com sua família "se passava a uma roça no ditotrei com hum Capitäo de Assaltos. e ma.'8 dous Crioulos gravemente feridos, ahl sítio", e que, dois dias depois, foi
encontrada "muito maltratada" e re-soube terem sido aquelles ferimentos pelos que achavåo da Policia levantados".em eon. colhida ao Hospital da Misericórdia. Em conseqüência dos atentadossequêneia
usas de medidas ter sido avisado, foram no dia torn•daz anterior, pelo que os qullombolas "anteontem praticados pelos quilombolas e certamente solicitados por moradores dashaviåo ferido a var1a8 pesoas
no Caminho do Cabuna e raptado hua menina que circunvizinhanças, alguns capitães-do-mato partiram para prendê-los e sua famflie se a hua dito citio.— O documento esu datado do dia 17, o que nossa
afirmativa.

146147
aprisionada a escrava Zeferina, de arco e flecha nas mãos, que lutou de dança. No Maciel de Baixo a polícia aproveitou o pretexto para
bra. vamente antes de ser submetida à prisão. Além disso, a Policia invadir uma casa, efetuando inúmeras prisões. Em
apreendeu grande quantidad? do víveres: bolachas, sacos de farinha outra batida — comunica uma das parteg — foram presos
etc. cin(n pardos forros e dez negros escravos, além de
instrumentos de madeira e objetos de dança.
Depois do ataque — como não podia deixar de ser. . . a Polícia
iniciou a repressão. Ordens foram expedidas a diversos oficiais para O centro das batidas, porém, foram os casebres espalhados pelas
que, com suas respectivas tropas, marchassem aos "lugares suspeitos" matas que, segundo o pensamento das autoridades, eram locais perigo.
a fim dc prenderem "os revolucionários." Começaram as batidas nas sos de reuniões e conspiração dog escravos. No dia seguinte aodo
matas próximas, tendo sido varejadas inúmeras casas de negros e par. levante, em parte ao Chefe de Polícia, o Alferes Costa Veloso
dos e se efetuado grande número de prisões. Vasta quantidade de comunicava haver prendido nele "quinze negros e cito negras." Detalhe
material e instrumentos religiosos foi apreendida. curioso é que entre os quilombolas se encontrava o escravo Antônio,
que pertencia a Sa• bino Vieira.
É de se destacar, ainda, um fato interessante: a prisão de um sol.
dado entre os quilombolas. Era ele o soldado do 1. 0 Batalhão de Linha, O terror continuava e as prisões aumentavam: o escravo nagô João
CristóväD Vieira, preso em sua casa em companhia do negro Francisco foi feito prisioneiro no dia 21 de dezembro. No dia seguinte Davi foi
Romão. Além dessas prisões foram recolhidoS em outro local "um capturado juntamente com Hipólito e ambos internados no hospital por
tabaque e mais duas violas armadas com piaçabas". Alguém confessou se encontrarem "o primeim ferido e o segundo maltratado". Ordens de
à Polícia a existência de um agrupamento de escravos reunido na Rua prisão foram ainda expedidas contra os escravos Jonas, Paulo e outros.
da Oração, em um casebæ. Imediatamente as autoridades cercaram o Contra o pardo Antônio de Tal — provavelmente um dos organizadores
local ilidicado e aprisionaram nove escravos e um pardo. Nesse casebre, do levante ou dos mais influentes líderes do movimento — foi também
atém das prisões, a Polícia apreendeu um chapéu grande e coberto expedida ordem de prisão com data de 10 de janeiro de 1827. (2) Todos
diferentes cores, tendo em cirna uma figura com chifres, uma arma os presos foram remetidos ao Forte do Mar, com exceçao do soldado
com varetas, um ferro de ponta com quatro palmos e meio de Cristóvão, que foi recolhido ao quarte], aguardando julgamento.
comprido, uma faca de ponta, outras flamengas, uma poltrona de
couro, cartuchos feitos de paus cheios de pólvora e vários instrumentos
(2) — Näo conseguimos apurar quais as sentenças proferidas contra Tudo indica que esses quilombotas pretendiam realizar uma
Ant6nio, Jonas e os outros. Os menos Importantes foram aos senhores paxa insurreiçâo de maior envergadura, contando, para isso, com escravos
serem da cidade para, conjuntamente, iniciarem o ataque à Capital. Depondo
cast'gados.
no processo, o comandante de uma dag tropas que deram combate aos
148 cscrnvos — José Baltasar da Silveira — afirmará que sabia que "os ditos
O Governo exigirá rigorosa punição para os culpados de "negócios negros se achavam ali reunidos, e armados esperando por
de tanta monta." Mandará — através de Ofício endereçado ao Ouvidor negros nagôs que naquela mesma noite haviam de partir da Cidade e
Geral do Crime — que se processe imediatamente os culpados "em reunir-se-lhe" para depois marcharem "sobre a cidade c procurarem a
con. fonnidade com as leis contra os réus de tão pernicioso crime" e suu liberdade e matarem os brancos que encontrassem." Depoimento
que se agisse "procurando conhecer por meios de perguntas aos ditos que coincide com o de Paulino Santana que diz haver a escrava Zeferina
réus 0 fim que se dirigia tal projeto" e que "do que achar me dará afirmado estarem "ali reunidos à espera de outros que na noite do dia
conta, para que eu providencie como o exigir a segurança pública. E seguinte haviam (de juntar-se), os pretos da Cidade, para depois de
quanto aos in• divíduos que foram achados em casebres, meterá em juntos irem para matar seus senhores." Assim, a insurreição
processo aqueles que pela natureza de suas culpas o estouraria na noite do dia 18 e contaria com o apoio dos escravos da
merecerem segundo a parte que lhe será apresentada pelo sobredito Capital. Estavam, pois, unidos aos nagôg, que se organizavam já para as
Tenente•Coronel Comandante, e aos ou. fará castigar policialmente grandes lutas que sustentariam nos anos seguintes contra seus
conforme a maior ou menor gravidade de seus delitos, para depois senhores. Nina Rodrigues comenta acertadamente que os nagôs, com
entregues a seus senhores." seus planos de envolver nas insurreições todos os escravos dos
Em obediência a essas ordens a Polícia continuará as batidas, engenhos vizinhos "deviam naturalmente buscar apoio em um
aprisionando um escravo que se dizia Rei e que foi encontrado "em quilombo tão da proximidade da Capital."
trajes próprios", negando-se terminantemente a dizer como se
chamava "por ser novo' , apesar dos das autoridades. Sabe-se, (3) — MS do Arquivo de Bahia.
somente, que pertencia a um cidadão chamado Francisco Antônio (4) — Os quilombolas nio se 'Imitaram apenas a alguns ataques sem
Mascarenhas. impor• tancia. como à primeira vista poderá parecer. O Governador da ProvfhCia
mandou que o Desembargador Ouvidor-GeraJ do Crime tomasse providencias para
No dia 30 de maio de 1827 faleceram na prisão, vítimas punir og roubos, incêndios de casas" p:aucados por eles.
certamente de maus tratos 8 que foram submetidos, os escravos José (5) — MS do Arquivo Público da Bahia.
e Paulo. "Dou fé — declara o carcereiro — ter passado da vida presente
para a eterna.' 149
Tudo leva a crer que a organização desses escravos ainda era muito uma parcela dos catitos dos engenhos próximos a Cabrito aliava-se ii débil. Nao tinham estrutura
organizativa que os capacitasse a uma in• parte amotirmda dos escravos da Capital e se prepararam para vestida mais eficaz e ordenada contra as tropas legais.
Tudo — ao que um ataque contra a Cidade do Salvador, depois de reunidos na Annaparece — foi mais ou menos espontâneo, surgido de circunstâncias que ção. Plano
mais ou menos idêntico ao de 1826 e ao do movimento de eles não puderam controlar. O próprio fato de se empenharem em 1835, como veremos em seguida.
Antes, porém, de iniciarem o ataque, ramuças preliminares, meramente predatórias e que nada adiantaram foram surpreendidos pela Polícia que contra eles marchou,
encontranmas, pelo contrário, serviram apenas para denunciá-los, mostra como do-os próximo a Pirajá. Ali o corpo de Polícia e 0 29 Batalhão de Linha não estavam
capacitados para a empresa a que se destinavam. Além deram combate às forças escravos, saindo os últimos derrotados, disso, as armas desses negros eram bem pobres.
Não tinham armas de após sangrenta luta. Ainda segundo Nina Rodrigues, na luta "pereceram fogo; apenas armas curtas e brancas, embora num dos casebres
fossemmuitos, sendo os danais presos e punidos." encontrados cartuchos de pólvora.
Tinham como centro diretor do movimento, é fora de dúvida, uma1830 — do Quilombo do Urubu e das pequenas recasa chamada Casa de Candomblé,
localizada nas matas próximas aovoltas que surgiram nos anos de 1827 e 1828, encontraremos noticias de
um
1
o quilombo Governo e expedirá dirigida por ordem um de pardo prisão, chamado como Antônio vimos, logo de Tal, após contra a revolta.quem1830. novo ( ) Esse
movimento iniciado — ao no que dia tudo 10 de indica, abril pela surgiu manhã, mais no ou ano menosde

Da ao quilombo Casa de Candomblé e pela qual do se comunicavam. pardo estendia-se Além uma desse estrada centro que havia a ligavaumade improviso e teve uma
duragäo minima, apesar logo da violência arrefecido dos e des-movimentos iniciaig e seus primeiros êxitos, sendo cel¾ quantidade de casebres espalhados pelas matas,
focos de conspiração. Podemos dizer mesmo que o pardo Antônio era baratado pela repressão policial. o dirigente mais capaz do grupo e quem se comunicava com
os escravos da cidade. Sua casa foi varejada pelas autoridades e nela apreendidas O primeiro ataque que esses escravos realizaram, foi contra uma loja — atém de
instrumentos de culto africano — "roupag de pretos cheias localizada na Ladeira da Fonte das Pedras, pretendendo obter armas de sangue". Em outros casebres — as
autorida&s varejaram treze — para continuarærn a luta. Alcançaram em parte seu intento, pois após foram encontrados materiais que denunciavam ligações com os
escravos pequena resistência da parte do proprietário — Francisco José Tupi. do quilombo. Num deles descobriu-se "uma coroa de Capelão com nambá — arrecadaram
doze espadas de copos e cinco "parafbas", deialguns enfeites de búzios, contas de vidros de cores e o mais xando ferido o dono do estabelecimento, além do
caixeiro José Silvino que consta no termo de apreensão", além de "uma rræsa pintada de en- Rapôso, atingido por forte cutilada na cabeça e urna estocada na nácarnado
sobre a qual deviam ter uma colcha de damasco". dega.
Esmagado o movimento, continuaram as priús por algum tempo,O número de escravos em luta aumentou imediatamente. No início sem que tenhamos
descoberto, infelizmente, as sentenças a que foram da insurreição era esse número relativamente insignificante — uns condenados os principais implicados.
Certamente sofreram, como todoszoito a é a estimativa feita pelo Promotor Público, tempos depois, os que se levantaram contra a escravidão, ag penas severas da
legislaçãoem libelo contra um dos implicados. Já no fim. havia mais de cem. da época.

baiana, Depois Nina desse Rodrigues quilombo, refere-se aparecido a mais nas dois matas movimentos próximas insurrecio-à Capitalpara Conseguido atacar uma o
casa primeiro de ferragens objetivo, de gue propriedade era obter armas, de Manuel marcharamCoelho nais que se seguiram, aos quais, nas buscas que realizamos
arqui-Travessa. Ali, porém, encontraram tenaz resistência da parte do pronos não encontramos nenhuma referência. O primeiro foi de
escravos do Engenho Vitória — hoje Usina Vitória — perto de Cachoeira e que(1) Nine Rodrigues quanto à data do
levante, afirmando ter sido estourou no dia 22 de abril de 1827, ainda nem bem haviam terminadoa primeiro de abril. O registrou.se no dia dez Isso se comprova com as
repressões ao anterior. Os escravos desse Engenho, seguindo o exem- o seu tato advogado de um escravo com a alegaçáo acusado de de ter que participado o
suposto do insurreto movimento encontrava ser defendido foragidopelo plo dos seus companheiros que sucessivamente se vinham levantandodæde o dia eels, em
consequência de roubo praticado em uma caixa de acúcar de contra o instituto da escravidão, com certa violência, só seu senhor. Continuando,
pondera 0 advogado de defesa: no dia nove ele Já enRodrigues podendo. ser não debelada se refere a às insurreição propolTöes dois da dias luta depois ou às suas de
iniciada. consequênciasNinaeontrava violentamente cidade, acompanhado prego arrancado por um do capitåo•do-mato capitúo.do•mato. das mios de seu que Quando
captor o capturara estava e. depois no sendo dia de nove. esping•rdeado conduzido foi o escravopara por8
e nenhuma outra esclarecedora pudemos encontrar.um soldado que o feriu na pema e impiedosamente", aprisionado pela Policia. Se no d'a nove já estava preso — alega o advogado — como poderia partSPouco
menos de um ano depois — no dia 11 de marco de 1828 — cipar de um movimento no dia dez? Todos outms manuscritos referem-se ao dia novo levante de escravos será registrado. Na IMdrugada daquele diadez
como data do levante, contradizendo a afirmativa de Nina Rodrigues.
151
prictário e dos seus empregados. que reagiram armados de bacamarte e No trajeto, o número de escravos sublevados vai aumentando. Os
espadae. Ante a inesperada e dura resistência, os escravos resolveram "cabeças de motim" — como são chamados pelo promotor os líderes
prudentemente recuar, apenas retirando da loja uma "paraíba." que iniciaram o movimento — empunhando espadas e vestindo camisas
Marcharam em direção a outra casa comercial e, depois de rápido azuis e vermelhas, investem à frente dos amotinados rumo à Rua do
ataque, conseguiram apoderar-se de mais cinco.
Julião, atacando os armazéns de negros novos de Venceslau Miguel de 152
Almeida, de onde saem mais de cem que os acompanham. um certo nível organizativo e assimilado uma tradição de lula contra
Depois de "sublevarem os cativos daquela armação" (de Venceslau seus senhores, através do longo rosário de lutas que foi levantado
Miguel de Almeida), deixando gravemente ferido o cidadão Nicolau durante o transcurso da primeira metade do século XIX.
Antônio da Maia e contando já com "mais de cem cativos que puderam É verdade que aiada não possuíam — nem era logicamente
duzir", marcham para atacar a guarda da Polícia da Soledade, possível nas condições em que se encontravam — um programa
composta de sete soldados e um sargento. Conseguem, pelo peso político. A única consigna capaz de uni-los era, segundo pensamos, a
numérico, vencer a guarda. além de ferir e desarmar o soldado Francisco conquista da liberdade, o fim do cativeiro. Procuravam, deste modo,
r_Apes Carvalho. O certo é que, sem um plano preestabelecido, e um tirar das lutas passa. das que se sucederam na Província, o máximo de
tanto desorientados, êsses negros Icgo depois seriam atacados e cnsinamento "a fim de matarem todos os brancos, pardos e crioulos."
derrotados.
As forças da Polícia e mais alguns civis investem sobre eles, A revolta dos escravos baianos de 1835, em conseqüência, não
obrigandc-os, depois de sangrento choque em que morreram mais de será uma eclosão violenta e espetacular, apenas surgida de um
cinqüenta e ficaram prisioneiros quarenta e um, a ge retirarem para as incidente qualquer e sem preestabelecido, mas uma revolta planejada
matas de S. Gonçalo, onde tentam reagrupar as suas fdrças. A escolta nos seus detalhes, precedida de todo um período organizativo — fase
militar, porém, não lhes dá descanso e, ali, são cercados e obscura de aliciamento e preparação — sem a qual não se poderá
definitivamente batidos. O promotor pedirá que sejam punidos og que compreender as propol*s que alcançou em uma das principais
escaparam, para "conservação do sossêgo público e desagravo da Províncias do Império.
Sociedade ofendida" O período organizativo da revolta que precedeu sua eclosão ainda
A repressão — como de as vezes não se fez esperar. Veio drástica e n50 foi estudado com o interesse que o assunto merece. Nossos
violenta. Os pretos eram espancadw nas ruas, linchados, apedrejados. historiadores se interessam mais pela fase heróica do movimento, a
Os soldados prendiam todos os escravos que apareciam sob as suas luta de rua na gua parte dramática, desprezando o problema de como a
vistas. Depois disso as sentenças se sucederam: os escravos Nicolau e revolução foi preparada.
Francisco são condenados a quatrocentos açoites cada um, "dados Derrotada a última tentativa dos escravos, chefiada pelos nagôs
cinqüenta por dia cada vez", além das custas. O (1830), procuraram seus líderes se reorganizar e iniciar uma série de
advogado de defesa de um dos réus acusa abértamente a Polícia de pra. preparativos objetivando a reiniciar a luta, reagrupar seus membros e
ticar atentados violentos à pessoa dos escravos, dizendo que durante a dar início a nova revolta. Além das existentes,
fase da repressão matava a quantos encontram constituídas de grupos de escravos que reuniam regular e secretamente
dispersog, sejam ou não cúmplices" e que inúmeros escmvos foram em vários pontos da Cidade do Salvador, como veremos mais adiante,
mortos peros e povoe. criaram os escravos um Clube, também secreto, que funcionava na
Era a justiça dos senhores de escravos celebrando o seu jubileu de Barra (Vitória). Esse Clube ficava localizado nos fundos da casa do
sangue. inglês de nome Abrão e exerceu um papei dos mais importantes na
estrutura. ção e deflagração do movimento. Era uma casa de palha
construída pelos próprios escravos para suas reuniões. Seus cabecas
mais ativos eram os escravos nagôs: Diogo, Ramil, James, Cornélio,
A Grande Insurreição — A última grande revolta de escravos da Capital Tomás e outros. Reuniam-se regularmente para discutirem juntos os
baiana e a que obteve maior ressonância histórica foi, sem sombra de planos da insurreição, muitas vezes juntamente com elementos de
dúvida, a de 1835. Dirigida por escravos nagôs, englobará, contudo, grupos do centw da cidade, de negros dog saveiros de Santo Amaro e
entre seus dirigentes, negros de diversas outras "naçoes" africanas, Itape-• rica, com quem tinham contato e contavam para o êxito do
principalmente Tapa. Demonstrará que og escravos já haviam levante.
sedimentado
Esse Clube funcionava ativa e regularmente desde muito antes da escravo. — esclarece por fim — era conhecido "pelo norre que possuia
insurreição. No mês de novembro do ano anterior à deflagração da e que he Sanim por que he como el]e o trata por não saber o
revolta armada, já havia contra ele denúncia feita pelo Inspetor de nome que elle tem em terra de branco" e maig que og papéis
Quarteiräo Antônio Margues ao Juiz de Paz do Distrito. Dirá o apreendidos pela Polícia eram feitos "peIo mesmo mestre", o qual
Inspetor, negro quando está no brinquedo fala tambem lingua de Nagou e he
velho com alguns cabelløg brancos." Esse mestre não é outro senão
(1) — MS existente no Arquivo Público da Bah'. — Maço referente a Luís Sanim, um dos líderes mais destacados e diligentes do movimento.
revolu. øeg de escravos. Na casa do forro Belchior reuniam-se os principais cabeças do levante,
(2) — A casa de palha para reuni'o foi construfda pelos escravos Jaime e traçando planos e discutindo detalhes com elementos do Recôncavo e
Diogo, Dirá o emvo João, em depoimento, que a casa palha foi feita pelos de outras partes da cidade. Na delação da preta tapa Teresa,
pareei. ros Jaime e Diogo a fim reunirem do ANI. Pub. da Bah3a) . encontramos os nomes de alguns deles: Ivá, Ojou e inúmeros
153 Será ainda ponto de reunião a casa do alufá Pacífico Licutä que, no
em depoimento, que "no mês de novembro do ano passado conhecera cruzeiro de São Francisco, pregava abertamente aos demais escravos a
os escravos Diogo, Daniu, Jasmar e João, do inglês Abrão" e que por necessidade da insurreição. Esse negro um dos mais influentes
acaso a testemunha ali chegou como Inspetor "e que tudo tinha (3) MS existente no Arq. Púb Ba.
participado vocalmente ao Juiz de Paz". (3) Os membros do Clube
( Idem, idem.
possuíam um anel que os identificava e, pelo menos no dia do levante, (5- Talvez que ftws.e um dos chefes que eram aclamados •'capitåes••. Há, contudo,
vestiam-se de branco na sua maioria. Havia no Clube um escravo um documento Arquivo pública da Bahia que se retere a "um capitao escravo de Antôruo
chamado Tomás, que ensinava os demais a escrever (certamente em de Jesus residente no Largo da Vitória morava com •(alguns forr• que viviam de
caracteres arábicos) : "escravo de Vulcherer, cabeça do Clube, mestre carNgar cadeiras". Seria o mesrrK1?
que ensinava a escrever." (0 Havia também um capitão. Os (8) MS do At'. Púb. da BL
(7) Idem, Idem.
documentos mostram que esse "capitão" era o negro Sule,
pertencente ao grupo do centro da cidade — o de Bel• chior — mas, 154
provavelmente, tomando parte das discussöeg e deliberações do dentre os líderes da revolta — ler e escrever, alsinando aos demais
Clube. Os escravos, nos seus primeiros depoimentos, referem-se a os mistérios e rez88 mala. Tendo depositado por penhora na cadeia,
outro que "também chama-se capitão" e que "se sentava no canto da por dívida do seu senhor aos frades dali asistiu impotente o
Ladeira dD Largo da Vitória," sobre o qual nenhuma outra informaçäo desenrolar dos acontecimentos, tendo og escravos sublevados
encontramos. tentado libertá.lo durante a sem o conseguir. O carcereiro dirá que
"tendo sido Licutä recolhido em dias do mês de novembro, logo no
Outro lugar importante de reuniöes era a casa do preto forro dia seguinte teve muito negros e negras que o fossem visitar e visitas
Belchior da Silva Cunha, segundo depoimento da preta velha Teresa. Ali continuaram todos os dias e todas a8 horas." Prova incontestável de
se encontravam os elementos mais importantes para discutirem seu prestígio frente aos demais escravos que se preparavam para a
detalhes dos seug planos. Na casa de Belchior aparecia luta. Seus companheiros haviam mesmo reunido a quantia
freqüentemente, com outros negros, um que se chamava Gaspar da necessária para li• bertá•lo, não o fazendo em conseqüência da
Silva Cunha e que também trabalhava na organização do levante. recusa do seu senhor.
Nesse local faziam-se "ajuntaventos umas vezes de dia e outras de
noite." Recebiam os escravos que se reuniam na caga de Belchior — Manuel Calafate será outro líder do movimento. Sua casa será o
ainda segundo depoimento da escrava Teresa às autoridades — a visita centro de reunião dos importantes. Na "loja" do segundo prédio da
amiudada de um mestre que "é escravo de um homem que faz fumo" e Ladeira da Praça, onde morava, reunir-se•äo em conspirata todos os
"mora junto da egreja de Guadalupa e he de Nação Tappa". Esse escravos das De lá partirão os primeiros tiros da insurreição, após
denúncia feita contra êles. Além de Calafate, atuarão ao seu lado os Grelo onde eles se reuniam para deliberar secretamente. Lá serão
escravos Aprígio e Conrado. Depois de sufocado o movimento, ali presos alguns escravos logo depois de sufocada a revolta.
será e apreendida farta quantidade de material: livros, Outras organizações e pontos de reuniões existiam ainda em
tábuas etc. Idêntico movimento encontramos na casa do aussá diver. sos bairros da Capital baiana ou no Recôncavo. Do Recôncavo,
Elesbão Dandará. Esse preto morava no Gravatá mas, para melhor aliás, esperavam os escravos uma participação ativa dos seus
aliciar adeptos, alugou uma tenda no Beco dos Tanoeiros, onde companheiros que moravam naquela zona. Além disso,
reunia os discípulos e os Difundia papéis com rezas presumivelmente mantinham ligações com escravos pernambucanos.
muçulmanas, tábuas com inscriçöes sediciosas, rosários malês etc. No depoimento do escravo Joio, há referências a um outro chamado
Era, também como Luís Sanim, mestre em sua terra e enginava Aos Antônio, "vindo ultimamente Pernambuco" e que participou da revolta.
negros os preceitos e princípiog do Islå. Como no citado depoimento encontramos os nomes dœ senhores de
todos os outros, menos o de Antônio, podemos levantar a hipótese de
Ainda tinham os escravos outro local muito importante de que ele se encontrava como elemento de ligação entre os de
reuniões: era a porta do Convento das Mercês. Os negros que Pernambuco e Bahia.
pertenciam aquele Convento, dirigidos pelos escravos Agostinho e
Francisco, juntavam-se aos de outras procedências, discutindo os Podemos traçar, de um modo geral, o panorama, a rede
nútodos de se libertarem. Segundo depoimento da época, surgido organiætiva dos escravos: dois grupos principais orientavam e dirigiam
durante o processo contra um dos implicados, rer 'liam-se pela o movimento: o primeiro era o que se reunia na cidade, com
manhã. Também atrá8 da Rua do Juliano, na caga de um preto ramificações em diversos lugares — Ladeira da Praça, Guadelupe,
chamado Luís, os escravos faziam ponto de ajuntamento. Eram ainda Convento das Mercês, Largo da Vitória, Cruzeiro de São Francisco, Beco
locais concorridos dc reuniões: a casa do preto Ambrósio, de "nação" do Grelo, Beco dos Tanoeirog etc. dirigido por Dandará, Licutä., Sanim,
Nagô, residente ao Taboío, onde 8 Policia encontrará, nas buscas Belchior, Calafate e outros — e o segundo formado por escravos
realizadas após o movimento, "papéis com escritos em caracteres pertencentes ao Clube da Barra, gob a direção de Jamil, Diogo, James
arábicos"; a casa do crioulo José Saraiva e da preta Engrácia, onde etc., certamente com ligações com outros grupog que não
foram descobertos papéis escondidos dentro de urna caixa; a "loja" conseguimos identificar em sas pesquisas. Esses dois núcleos
da casa do ingla Togler, onde residiam negrœ em cujo locai foram principais, orientadores do movimento, mantinham.se em constante
achados manuscritos suspeitos; a cas8 do inglês Malon, onde a conoto. O escravo João, no depoimento a que já nos reportamos,
Polícia descobrirá "vestimentas, tábuas para escrever e particularæs afirma gue o de nome Sule (amásio de Guilher delatora da revolta
dos ditos pretos e uma faca de ponta". Havia, ainda, reuniões na e que pertencia ao grupo de Belchior) reuniase também no Clube da
casa do inglês Malror Russell, onde foram apreendidos inúmeros Barra. Diz o depoimento que houve certa vez um "jantar se ræuniío
objetos. Numa loja do Largo da Vitória eles também ge reuniam. todos os escravos nagôs dos inglezes e muitos de saveiros. . . da cidade
outrog de Brazileiros, os quaeg he impossivel declarar seus nomes
(8) "Loja" é termo como sinonimo de poräo, porem que se recorda de um escravo de nome "Diogo" e "outro de
como na Bahia. nome Suk que em sua terra he Capitão d'el]es."
(9) MS do Arq. Púb. da B8.
Esses dois grupos principais manterão, por outro lado, ligações
155 com os escravos do Recôncavo baiano. Os negros de Santo Amaro, de
Além desses lugares principais ou pelo menos mais vulneráveis à Itaparica e de outros pontos vinham reunir-se aos da Cidade do
repressão policial depois da insurreiçäo, e de inúmeros outros que Salvador para discutirem em conjunto os detalhes mais importantes do
certa. existiram mas que é dificílimo ou quase impowfvel movimento. Aliás, será por conversas e savereiros que se à
localizar, ha. via, provavelmente, em cada senzala ou reunião de presença, na cidade, de escravos vindos de Santo Amaro para uma
escravos. um desejo Latente de rebelião. Havia, ainda, uma no Beco do
conspiração, que a escrava Guilhermina conseguirá a pista e puderam contar com o fator surpresa, o que acarretou uma enorme
denunciará a insurreição . desvantagem para eles. A negra Guilhermina, inteirada através de
Ainda no plano organizativo, encontraremos uma particularidade conversas de alguns implicados na insurreiçäo, entre os quais o
importante: os escravos não se descuidarão do problema financeiro. próprio amásio — do que se tramava, apressou-se em denunciar o
plano dos escravos às autoridades. Fez chegar ao conhecimento do
Juiz de Paz do Distrito a notícia do levante e sua data, fato que foi
(IO) Idem, idan. imediatamente comunicado ao Presidente da Província. Sabedor de
156 fatos tão graves, tomou imediatamente todas ag medidas
Criaram um fundo para ag despesas do movimento. A idéia desse repressoras: reforçamento da guarda etc. A cidade ficou em pé de
fundo foi de Luís Sanim e, ao que parece, era executada por Belchior guerra. O Chefe de Polícia partiu imediatamente para o Bonfim, com
e Gaspar, porque, logo depois de suas prisões — foram recolhidos ao o fito de evitar a junção dos insurretos com os dos engenhos
Forte do Mar — ao dar a Polícia buscas em suas casas encontrou a próximos.
quantia de setenta e nove mil e quatrocentos e oitenta réis. A preta Vendo que tinham de antecipar a revolta, lançaram.se à carga
Agostinha, respondendo a perguntas de seus inquiridores, afirmou de qualquer maneira: a situação não comportava mais esperas e, na
que aquela importâncja pertencia a Belchior e "seus camaradas do altura em que o movimento se encontrava, não era mais possível
Forte do Mar." Como sabemos, esse fundo monetário era para recuar. As batidas se sucederam nas casas dos escravos.
"recolher meia pataca para dali retirarem vinte patacas para
comprar roupas, sendo o excc• dente destinado a pagar semana a idem.
seus senhores ou para se forrarem." (12) Rcdrigues, N. "Os Africanos no Brasil". Rio, 1945, p. 107.
157
O fundo monetário para o movimento parece que não nasceu
nos dias imediatamente anteriores ao levante: de há muito vinham Na noite de 24 de janeiro estourou o movimento armado.
os escra. vos amealhando penosamentp dinheiro para as despesas Os primeiros tiros partiram da casa de Manuel Calafate, na loja da
necessárias, Na revolta sufocada de 1844, ainda existirá esse fundo, segunda casa da Ladeira da Praça. "Sob a denúncia de que na loja da
certamente pela eficiência demonstrada durante o período da segunda casa da Ladeira da Praça estava reunido grande de africanos
presente luta. — comenta Nina Rodrigues — foi esta cercada e, apesar das evaaivas
coniventes do pardo Domingos Martinho de Sá, principal in. quilino do
O plano militar foi elaborado antecipadamente e suas prédio, as autoridades penetraram nele e dispunham-se já à8 11 horas
conclusões distribuídas entre os principais responsáveis por sua da noite a dar minuciœa busca, quando de súbito se entreabriu porta
execução. Seria o seguinte, em resumo: partiria um grupo da Vitória, da loja e dela partiu um tiro de bacamarte, seguido da irrupção de uns
60 negros armados de espadas, lanças, pistolas, espingardas etc., e aos
comandado pelos chefes do Clube, "tomando a terra e matando
gritos de mata soldado. "03)
toda a gente da terra de branco", rumando para a Água dos Meninos
e, em seguida, marchando para o Cabrito, "atrás de Itapagipe", onde De atacados, dentro da casa de Manuel Calafate, passarão à franca
se reuniriam às demais forças e se jtmtariam aos escravos dos ofensiva. Após isso, dirigem-se para a Ajuda, onde tentam arrombar a
engenhos. Essas ordens foram também transmitidas em cadeia a fim de libertar seus presos, principalmente Pacífico Licutä.
proclamações dirigidas pelos líderes aos demais negros com a Não conseguindo seu intento, o grupo de escravos Inarchou para o
assinatura de um que se intitulava Mala Abubaker. Largo do Teatro, onde travou combate com a Polícia, derrotando-a
mais uma vez. Tinham, com essa vitória, aberto o caminho para suas
Esse plano não foi rigorosamente executado, talvez em forçag até o Forte de Sio Pedro. Vendo ser impossível tomar o Forte
consegüência do rumo que tomaram os acontecimentos e (de artilharia) , os escravos vindos do Largo do Teatro tentarão
precipitação do início da luta em face da delação. Assim, não estabeleeer junção com outra coluna que vinha da Vitória, sob o
comando dos dirigentes do da Barra, que por sua vez já haviam Luísa Mahim, escrava gege, mãe de Luís Gama, participou do
conseguido unir-se ao grupo do Convento das Mercês. Os escravos da movimento. Sôbre sua atuaçäo, porém, näo encontramos referências
Vitória atravessarão o fogo do Forte e operarão a junção planejada. Em nos documentos que consultamos.
æguida a essa manobra abririo caminho para a Mouraria, empenhando-
os escravos no combate decisivo, iniciou o Governo
se novamente em combate com a Polícia. Perderão no combate dois
homens. Continuando, rumaräo para a Ajuda, provàveln•ænte com o brutal repressão. Uma série de prisões foi efetuada: 281 ao todo,
objetivo de libertar Pacifico Daí estabelecerão uma mudança de entre escravos e libertos. O Chefe de Polícia, o mesmo que
rumo na sua marcha: descerão para a Baixa dos Sapateiros, seguindo esmagara militarmente o levante — em ofício expedido no dia
pelos Coqueiros -Sairão na Água dos Meninos, na Cidade onde posterior ao movimento, ordenará uma devassa completa em todas
travarão o combate definitivo com a Polícia, de grandes as casas de lojas pertencentes a pretos africanos, dando rigorosa
busca para a de homens, .
De parte das torsas legais coube o comando ao próprio Chefe que nenhum delles goza Direito de Cidadio nem privilegio de
Polícia, que já havia recolhido as famílias à Igreja do Bonfin-i Nio Estrangeiro." A cidade ficou sendo patrulhada dia e noite. O Chefe
sabemos og nomes dos chefes da parte dos insurretos. de Polícia — Francisco Gonçalves Martins — Portaria no dia
seguinte, dizendo que "vossa senhoria chamará a turma (dirigia-se
Os escravos marchario em grande número para o ataque na ao Juiz de Paz do Primeiro Distrito da Vitória) os cidadãos seu
madrugada do dia 25. Investirão sobre o F01• (de cavalaria) com um distrito que julgar necessários forçando-os a obediência se o
hemísmo reconhecido pelos próprios adversários. Não lograram êxito, tismo ou o interesse da própria conservação os não convencer em se
con Logo na primeira investida foram àsperamente atacados pelas prestarem" e que "nas noites de hoje em diante deverão haver
tropas do Governo. O Chefe de Polícia ordena à cavalaria que carregue inúmeras patrulhas de Cidadãos e grande vigilância das autoridades
sobre os escravos, que caem vamdos tamb&n pelas balas de uma força policiais.'" 08 só sair à rua com ordem escrita dos seus senhores,
de infantaria, postada nag ameias do Forte. Verdadeira carnificina. As dizendo para onde iam. Tôdas as casas de negros escravos e forros
posi#s mais dos legais, além da superioridade de foram vasculhadas.
armamentos, fizeram com que os insurretoa fossem O Juiz de Paz do Distrito da Vitória entrará em atividade com
batidos. Perderam a vida cerca de quarenta escravos. Inúmeros foram uma eficiência que poderá ser demonstrada facilmente pelo número
feridos e outros pereceram afogados ao tentarem a fuga lançando-se ao de prisöes que efetuou. Os principais cabeças do Clube já se
mar encontravam no dia posterior ao movimento. Vinham notícias
em ofício remetido ao Chefe de Polícia em que dizia haver aplicado
(13) op. at. p. 95. "rrBior diligência" e capturado os insurgentes do seu Distrito,
158 principalmente os "cabeças de clubes que se juntavam na casa do
*imo. 04) sufocada a revolta de escravos da Inglês Abrão." Eram indicados como cabeças os escravos Diogo,
Capital baiana. Ramjl, James, João, Carlos, todos pre-
Os líderes, como a maioria dos participantes, portar•-io digna.
n•ænte. Pacífico Lieut.i já se encontrava preso quando a ordem de (14) Segundo aoåo D«nas Füho, participou da luta contra os escravos a
insurreição foi dada: estava recolhido na cadeia da Ajuda de onde, guarnáçio da "Fragata Baiana", que se encontrava no porto da adade
de Salvador. Se veridica 8 afirmaçåo, muito deve ter contr»uldo unidade
como vimos, seus companheiros tentaram arrancá-lo por duas
vezes. Ao saber do fracasso do movimento, mostrar.se-á abatido,
Marinha para o extermínio dos sublevados. (Ver Joåo Domas "lho:
vendo entrarem seus companheiros prisioneiros, após a revolta.
Além dele -houve, porém, inúmeros escravos que se "A Beravidåo no Brasil", Rio, 1939. p. 25).
(16) Idem, idem.
destacaram nas læfregas de rua: Higino, Cornélio, Tomás e muitos
outros. Os principais dirigentes do Clube Barra foram quase todos 159
pelas autori• dades, uns com "calças sujas de sangue", outros .com
uma bala atravessada na perna", segundo informação da época.
sos com "calças com sangue." Prendeu ainda Luís. que entrou em Da parte das forças do Governo as baixas foram muito menores.
casa somente na manhã do dia posterior ao do levante "sujo de A superioridade de armas dava-lhes maiores meios de ataque e
pólvora com anel no dedo" Tomás, "cabeça do clube, mestre que defesa. Nina Rodrigues assinala a morte dc (lois militares: um
ensinava a escrever", encontrado com "marca de sangue na calça sargento da
sem ter ferimento algum" e José, que se recolhera com uma bala na 17) Idem, idem.
perna, além de inúmeros outros detidos "para sendo ( 18) Idem. idem.
recolhidos uns na Fortaleza de São Pedro outros no Forte do Mar" . O escravo Pedro, Ao terminar o levante. foi encontrado com fraturas
em ambas ag pernas produzidas por balas. Pertencia 80 inglês Bender e era
do "Clube" da Barra.
Depois de julgados, quase todos foram condenados. Quanto aos (20) Inicialmente foram dezesseis condenados morte Depois de indultados alguns
lideres: de Elesbão Dandará nada conseguimos apurar. Segundo pelo Regente ficou reduzido a cinco o número dos que foram executados160
Nina Rodrigues, deve ter morrido em combate, idéia que Édison Guarda Nacional e um de artilharia que "lutou com raro valor, rrBtando
Carneiro endossa sem apresentar fatos novos. Manuel Calafate, ao antes de morrer um negro e ferindo diversos." Só encontramœ
que parece, nada sofreu. O mestre Luís Sanim foi condenado à referências, documentos que compulsamos, à morte de um: o gento
morte, mas teve a pena atenuada para seiscentos açoites. Pacífico Tito Joaquim da Silva Machado. Quanto aos feridos. no auto de exame
Licutä, apesar de preso quando estourou a revolta, foi condenado a de corpo de delito feito pelo cirurgião Manuel José Bahia nos sol. dados
seiscentos açoites, tamkún. Os líderes do Clube da Barra foram do Corpo de Artilharia, encontramos referências a três. Certa. mente que
rigorosametne punidos: Antônio, escravo aussá, foi condenado a nos autos feitos nos soldados da cavalaria que travaram o combate final
quinhentos açoites: Higino sofreu pena (le quatrocentos; Tomp a de deve haver um número bem maior. Infelizmente, não en• confrarnos
quinhentos: o nagô Luís foi castigado com duzentos açoites e Tomás ages autos. Além Os feridos e mortos, houve também civis que foram
"o mestre que ensinava a ler" a trezentos acoites em praça pública mortalmente. Aliás, o Promotor Público dirá em contra o escravo
"aplicados interpoladamente, como manda a lei," Cornélio, condenado a seiscentos açoites, estar ele implicado na
insurreição "do que resultou a morte e ferimentos de muitos cidadãos" .
Houve ainda os condenados à morte: cinco foram os que
pagaram com a vida, por não quererem viver no cativeiro. No dia 14
de maio de 1835 eram fuzilados. Foram eles: os libertos Jorge da Insurreição Esquecida (1844) — Finalizando o segundo ciclo de insur•
Cunha Barboo e José Francisco Gonçalves e os escravos, Gonçalo, reições citadinas da Capital baiana, encontramos documentos que se
Joaquim c Pedro. Condenados à forca, não encontrou D Governo reportam a uma que se verificou no ano de 1844, quando — pela última
carrascos que os executassem. Tiveram de ser fuzilados, com as vez, presumivelmente — os escravos daquela Provinci8 se levantaram
honras de soldados. tentando extinguir o regime servil. Og documentos que comprovam a
Uma coisa surpreendente é a posição dos escravos frente aos existência dessa revolta fazem dilatar ainda mais o ciclo de insurreições
seus acusadores. Quase ninguém se acovarda, delata, acusa. Negam baianas, até agora dado pelos historiadores que o estudaram como
conhecer os companheiros de insurreição. O nagô Joaquim diz encerrado em 1835.
desconhecer até o seu companheiro de residência. O nagô Henrique,
gravemente ferido e já sentindo os sintomas do tétano que o mataria Os documentos coligidos não gäo abundantes mae servem para que
horas depois, impossibilitado de sentar-se, já prêsa de convulsões, possamos — fora de qualquer dúvida — afirmar sua existência e gizar,
declarou que não conhecia os negros que o convidaram a tomar parte embora dando apenas uma idéia geral, og contornos do levante
na insurreição e que mais não dizia por não ser gente de dizer duas abortado. (1)
coisas. "O que disse está dito até morrer." Segundo esses mxnuscritos, liderança do movimento estava nas
O número de escravos mortos durante o levante foi bastante ele. mios de escravos aussás, tapas e nagôs. E será na base do proselitismo
vado. Talvez tenha chegado à casa dos cem; uns em combate ou afo• religioso que aglutinarão os escravos e 08 orientarão no sentido de luta.
gados, outros nas prisões, vítimas do tétano e dos maus tratos, além rem contra a escravidão.
dos que foram condenados à morte e executados.
Reuniam-se de preferência na casa de um preto forro, chamado A experiência da insurreição de 1835 mostrara a importância para o
Lisboa, localizada no Aljube, e, ali, tramavam aa diretivas da movimento que teria a existência de um fundo monetário que aten-
revolta. Este preto liberto ostentava a condição de velho lutador, vindo
da última grande insurreição de 1835, da qual — afirmavam as (1) — MS existente no Público da Bahia. maço sobre revoluçåo de
ridades — fora um dos organizadores e participantes ativos. As reuniões agcravos.
na do Aljube, eram muito animadas e concorridas, invariavelmente
começando às 6 horas da tarde e se prolongando pela noite. Ali ficavam 161
"conversando muito", "gritando às vezes e outras vezes rindo.se" até
tarde, certamente ajustando os últimos retoques para o levante,
desse às despesas da revolta, e instituíram um com os mesmos objetivos do
existente durante a última. Concorriam com a importância de ''dois mil réis
mensais, cuja aplicação eia ignora", dirá em depoimento uma escrava
testemunha. Quantia imensamente alta para a época.
Outro lugar de reuniões era a casa do preto Marcelino de Santa Escolástica,
cujo local não pudemos determinar, mas onde a Polícia, após abafar o levante,
apreendeu farto material, "diversos embrulhos, todos eles de cousas que se
dizem de feitiçarias e malifícios." Tudo leva a crer que o preto conseguiu fugir,
pois a Polícia foi obrigada a cercar a casa e arrombá-la.
Parece que tudo já encontrava preparado quando, havendo um
desentendimento entre o liberto Francisco e sua amásia Maria, aproveitou-se
ela do pretexto para delatar as atividades conspiratórias do amásio e dos
demais companheiros. Ag autoridades, ao saberem da ocorrëncia, tomaram as
providências requeridas caso, sendo a primeira pôr cerco às casas Francisco e
Marcelino, prendendo o primeiro. vavelmente, o segundo conseguiu
escapar em tempo.
No interrogatório, uma das testemunhas declarará: que eles eram rnales
que tentavam contra os brancos." A Polícia, justificando a prisão de Francisco,
dizia que (em sua casa) diarian•wnte muitos africanos de um e outro sexo
sem haver para isso hora determi. nada, nem saber o motivo para quê; disse
mais que desconfiava daquelas reuniões em consequência de ter o Acusado
se envolvido na insurreição próxima passada." O acusado contestou a
acusação de haver participado da revolta de 1835, pretextando inocência;
veio, porém, a informação positiva do Chefe de Policia, confirmando a
denúncia contra ele, dando-o como um dos implicados naquele movimento.
Depois dessas informações tudo é mistério. Nada mais conseguimos
apurar: näD sabemos que fim tiveram seus dirigentes, nem quais suas
proporções. Parece que o esquecimento caiu sobre essa revolta.
Durante o Domínio Holandês
162

Conforme pondera' com acerto Luis da Câmara Cascudo, referindo. se ao


comportamento do negro escravo durante a ocupação holandesa, "a escolha
legítima para o escravo seria o direito de escapar a ambos e fugir para os
quilombos. Ali encontraria força organizada, poder, coerçäo, mas com as cores
entendidas por sua mentalidade". Tal porém não aconteceu. O comportamento dos
escravos não foi uniforme e nïto podia sêlo. Uma opção seria negar o
próprio regime no qual estava engastado e que condicionava o seu pensamento.
Três foram as formas típicas de comportamento do escravo durante o período
de ocupação holandesa. A primeira delas foi a dos cativos que — aproveitando.ge
da situaçäo criada com as lutas entre sileiros e batavos — fugiram para as
matas e se estabeleceram em qui. lombos, dos quais o mais importante e famoso
foi Palmares. A segunda foi a dos que, ou por imposição dos próprios ou
por livre vontade, se incorporaram às tropas restauradoras que combatiam o

invasor. Finalmente, a terceira foi a dos escravos que ficaram ao lado dos
holandeses, contra os brasileiros e portugueses. Da primeira forma de com•
portamento o mais destacado líder foi incontestavelmente Zumbi: da se. gunda,
Henrique Dias poderá ser como o elemento mais representativo; a última teria seu
elemento em Calabar. (2)
Para o caráter do nœso estudo estas três formas de comportamento são
encaradas como atitudes divergentes dos cativos contra a escravidão. Tipificam
reações às contradições inerentes ao sistema escravista e será dentro desta
perspectiva que as iremos encarar. Do ponto de vista de luta de classes aqueles
escravos que fugiam ao cativeiro e fundavam comunidades independentes nas
eram os que atuavam tendo em

(1) — Cascudo, Luis da Cimara: "Geografia do Brasil Holandês", R. de JR.


1956, p. 59.
(2) — na primeira que empreendeu a dos holandeses, que foi o ataque à
Vila de Igaraçu, levava em aua companhia "trinta e tantos pretos" Aliás
Weerdenburgh trata Cuabar negro: "em todos estes estávamos da
ndeädadø ou infidelidade de um qt_E nos su-vfa de guia, e Mo devíamos por muita
confiança gente estúpida" (at. por Francisco Adolfo Varnhagen: — História das
Lutas com 08 no Brasil, 2• Ed. S. Paulo. 1945, p. 105).

165
vista a contradição mais importante. A segunda camada atuava sobre sendo feita. depois entraram no tráfico trazendo para a área con. uma contradição
intermediária: Henrique Dias, por exemplo, antes dc quistada milhares de escravos. Mais ainda: ocuparam Angola e Guiné, se unir pela segunda vez às tropas nativas,
estava com os SQUS homens pantog chaves para os traficantes. De 1636 a 1645 os holandeses impor-
combatendo sobre escravos a contradição aquilombados. que existia É que o entre líder uma dos nação "Henriques" em processoatua. 6.714.423 mam taram em 23.163
ativos florins. negros traficantes, Como que vemos, renderam trazendo inseridos à a Companhia mercadoria no processo das ano Índias logo após se
ano.Ocidentaistransfor•
va apenas de formação e o sistema colonial representado pelos ocupantes estrangeiros que impediam que ela se formasse e desenvolvesse. Daí ter sido
Obedeceu ao seguinte ritmo a importação dos batavos : um líder que atuou dentro dos limites
da estrutura escravista. Seu objetivo era tão-somente expulsar os holandeses do Brasil.
Ganga Zumba e posteriormente Zumbi representam por assim dizer os elementos da pró
pria casta de escravos que se voltam contra o regime, ou, em outras palavras. o tablado
radical da contradição. Atuavam por isto sobre a contradição mais profunda na época, que era a existente entre o
senhor e1640 .1. 188 1641 .1 .437
o escravo. O certo é que a participação do escravo negro durante a ocupação holandesa no sentido de expulsar os invasores foi muito im- 1642
2.312 portante. O que foi a República de Palmares veremos em capítulo
espe-1644 .5.565 1645 .2.589 (3, ciai. Cabe agora ver qual foi o comportamento global do 'escravo durante as lutas que se travaram entre portugueses e
brasileiros de um lado e
holandeses de outro.Esta posição "realista" dos holandeses frente à escravidão levou-os Convém destacar que por ger o grosso da escravaria propriedade inclusive a
estabelecer condições seletivas para os escravos que deviam de portugueses e brasileiros, muito maior será o número de escravos que ser importados. Dizia Adriam
van der Dussen que "os de Angola sio participarão nas lutas com os batavos ao lado dos Muitas os considerados mais trabalhadores; os de Ardra são
obstinados, maus, vezes, como aconteceu aliás em outras oportunidades, eles atuavam por preguiçosos, sem iniciativa e difíceis de adaptar-se ao trabalho, mas os
ordem dos seus senhores. Eram portanto escravos sem nenhuma parcela que, entre eles, são capazes, sobrepassam todos os demais em vivacidade de
conscientização. Pelo contrário, paradoxalmente serviam de pilastra e esforço, de tal modo que parece que os bons e os maus pertencem a ao regime. nações
diferentes. Por isto no tráfico em Ardra devem ser bem considerados, porque esse ramo mau faz os Ardrag pouco procurados. Além No início da ocupação, aliás,
'os holandeses apregoavam a desneces- disto revoltam-se contra os que os dirigem e muitos fogem para as ma• sidade da escravidño. Esta atitude inicial
chegou a envolver muitos es• tas e fazem muitas maldades; são audaciosos e valorosos, não respeitam cravos logo após a ocupação de Recife e Olinda. A
escravaria, ao saberninguém. Os Calabares ainda são menos estimados do que os Ardras, que estava livre, começou a se manifestar ruidosa e violentamente.
Mes-de vez que deles não se consegue nem interesse, nem coragem, nem tramo no meio das orgias que complementaram o saque das cidades con-balho. Os
negros da Guiné até Serra Laoa e do Cabo Verde não muito quistadas, Weerdenburgh viu imediatamente o perigo que corria. Southey,trabalhadores,
mas são limpos e vivazes. especialmente as mulheres, pelo apoiado em Callado, afirma que "no meio desta confusão (o saque) sal.que os portugueses os
compram para fazê40s trabalhar em suas casas. vou Weerdenburgh a cidade de ser queimada pelos escravos, que destaOs negros que até agora têm vindo de
Sonho têm sido muito bons e é forma queriam exprimir a alegria que sentiam, recuperada a naturalaconselhável incrementar o tráfico tanto quanto possívc], com
essa reliberdade. Ensinados pela experiência que bem lhes resultaria dos ser. viços dessa gente, em parte porque a ferocidade africana a levaria a cruéis
represálias, e em parte porque muitos dentre ela representavamComo vemos, os holandeses engajaram-se no comércio negreiro e os papel nobre para o que lhes
não faltariam em ocasião nem arte nem portugueses figuravam como seus clientes de carne humana. Daí essa coragem. Tanto peso se achou nestas razões que
deixados ficar mui pou- "concordata" entre os ocupantes estrangeiros e os latifundiários nativos cos apenas destes negros fugidos, se expulsaram todos os outros, que
até que 0$ últimos se viram asfixiados pelos primeiros.
fossem ter com seus antigos senhores, e obrar como inimigos declarados, Por outro lado, a formação do chamado "sentimento restaurador", se aoim lhes
aprouvesse.que levou os senhores de engenho de Pernambuco a se levantarem em
Muito cedo, no entanto, reconheceram que sem o escravo negro não seria possível a exploração da cana-de-açúcar nos moldes em que vinha
(3) — Meno Netto, J. A. de — "A SituaçSo do Negro sob o Dom'. nio Holandês", in "Novos Estudos Afro.Bras11eiros". R. de Janeiro. 1937. p. 204.
(4) — van der Dussen. Adrian — Relatório sabre as Capitanias Conquistadas — Southey. Roberto História do Brasil, 2• vol. Salvador. 1949, p _ 122.no Bra.il pelœ
Holandeses (1839) — R. de Janeiro, 1947. p. 92.

166167
armas contra os invasores, não caiu do céu. Ele se formou paulatina- blica e, segundo Artur Ramos "no lugar onde existia o jenipapeiro foi mente, à medida que os
interesses entre os elementos nativos e os bata. fundada a Fortaleza de S. Antônio em honra ao negro, que foi nomeavos se diversificaram. E as lutas sérias e
verdadeiramente de enverga. do da mesma Fortaleza". (0 Outros, porém, fugiam para as dura, a insurreiçäo, só teve início depois que a contradiçäo
entre os se- subtnindo-se ao domínio dos senhores.
nhores de engenho de um lado e as autoridades holandesas de outro che- Neste sentido é elucidativo o de Johann Gregor Aldengou ao seu ponto de
tensão máxima. Antes disto, porém, a resistência ao gurgk contido na sua "Relação da Conquista e Perda da Cidade do Sal. ocupante foi feita apenas por aqueles
elementos plebeus — mulatos, ín- vador pelos Holandeses", onde inúmeros fatos são relatados do ponto dios, negros forros ou escravos — que de uma forma ou de
outra, atra- de vista dos ocupantes. O voluntário de Coburgo no seu interessante re vés da violência armada, muitas vezes desorganizada, davam continui- lato mostra
como tanto Os holandeses como os portugueses se aproveitadade à luta. Os homens de logo viram o quanto seria difícil a ram militarmente dos escravos Logo à
chegada dos holandeses resistência e entraram num processo de colaboração com o inimigo, numa bandeiam-se para o seu lado inúmeros negros escravos de
portugueses. adaptação politica e econômica completa. Os holandeses estabeleceram.se "Foram alguns destinados a trabalhar e outros, armados de arcos, flecomo
empresários comerciais e inicialmente puderam entrar em acordo chas, velhas espadas espanholas, rodelas, piques e sabres de abordagem, com senhores de engenho
nativos. Diz muito bem uma equipe de estu- se organizaram numa companhia de negros, para capitão da qual foi diosos de nossa história: "À classe dominante dos
senhores de engenho escolhido um deles próprios, chamado e plantadores de cana, os mais prejudicados com os distúrbios na duçäo, colocava-se a opção:
resistir ao domfnio batavo, aceitá-lo, vol- Os portugueses revidavam com crueldade a essas'desergoes e, ainda tando às suas fazendas e engenhos, retomando as suas
tarefas, dividindo ægundo o depoimento do documento que estamos acompanhando, "mandessa forma os lucros com os holandeses. A segunda hipótese foi a esco-
dou o inimigo à Cidade do Salvador cerü:» velho, dos negros, ao lhida. Pouco a pouco foram retornando os senhores às guas propriedades qual haviam aprisionado,
decepando ambas as mãos e (satvŒ pevcrentia) e em contacto com a administração flamenga, visando medidas distendido as partes pudendas até 08
joelhos, pensando, com tão lasti• para dar continuidade à vida econômica nas capitanias. Para eles, tra• mável espetáculo, infundir terror à nossa gente; o referido
negro, po tava-se apenas de uma mudança de metrópole. Antes para rém, graças à perícia de um cirurgião português, ficou completamente Portugal; agora
para a Holanda. O que interessava era a manutenção restabelecido, e, como não tivesse mãos, foi designado para trabalhar no de seus e de sua na
sociedade." guindaste. (8) Numa das escaramuças feitas pelos portugueses para a reconquista da cidade, caíram sobre eles os mosqueteiros negros, que
fizeempréstimos Somente contraídos quando os com senhores-de-engenho a Companhia das viram-se Indias Ocidentais asfixiados é pelosque prisioneiros. armas. Um
Os deles próprios foi executado negros foram mas o encarregados outro perdoado de pas-por
ram alguns sá-log pelas
corræçaram a mobilizar.se, de para darem início àquilo que se natural da Zelândia." "ser denominou a
reconquista. E na mobilização geral colocaram como ma.
terial humano participante os seus escravos. Apelaram, por outro lado, Mas a participação dos escravos negros, tanto do lado dog que para elementos
das táticas de lutas no interior, a tática ocuparam a cidade como dos que se encontravam reconquistá-la, de guerrilhas, como Henrique Dias, que já havia
atuado com denodo -na primeira fase da resistência. E o escravo negro entrou em açäo mais Negro aviltzaçåo Brasileira", R. de Janeiro
(6) — Ramos. Artur
uma vez.
s/d p. 170.
— "A tomada da Bahia pelos holandeses (1624) e desorganizaçåo
consegüente da vida da cidade deram. ekementos mais entre a de escravos. & sugestio da Alguns deles se estabeleæram por conta Antes da reconquista, porém, que tem início
depois de Portugal pr6pria — e a Camara da Bahia. depois da restauração, decidiu — (1628) que "to. libertar-se vasão que do jugo holandeses espanhol em 1640, à ja o escravo negro
atuará. Na in. do negm que morar à escravidäo fora das casas anttga, de dentro seus senhore8. de seis dias, em "sob de BY lhe se derru-recoos fizeram Bahia em 1624, a sua participação
barem as ea.os" uma providência que estendia também forros. Outros já é nítida e marcante. Tanto ao lado dos brasileiros como dos holande- buscaram a segurança nas matas,
formando quilombo no Rio Vermelho (1629), esses há atividades militares por parte de cativos africanos. São escara. magado, tres anos depois, petos capitåes.do-campo Francisco Dias
de Ávila e Joåo muças de parte a parte, onde vemos negros atuando tanto de um lado Barbosa do o de Atmelda, e outro em Itapicuru (1636), multa de cuja liquidaçSo e experiência" foi
incumbi•. como do outro. Do lado dos brasileiros notabilizou-se um negro chama- Outros Coronel ainda, Belchior acredtando Brandäo mais "por na defesa ser pessoa individual. de
tugiram do cativeiro. mas fodo Antônio que, do alto de um jenipapeiro, com um saco cheio de pe- caçados fani'idaW'. Edison Carne(ro.• 'Ladinos e Criou)"". R. de Janeiro dras,
abateu vários holandeses que chegaram ao seu alcance. Apóg a 1964, p. 65).
expulsão dos batavos o escravo foi alforriado à eusta da Fazenda Pú- (7) — Aldengurgk, Johann Gregor — "Relacio da Conquista e Perda da Cl. dade ao salvador pelos em
1624.1625", S. Paulo, MCMLXI. p.
(8) — op. Cit. p, 190.
(5) — "HiBtótqa Nova do Braa.ll", S. Paulo, s,'d. p. 116. (9) — op. cit. p. 190.
168
prossegue ativamente. Os ocupantes da cidade continuam convulsionada para tirar proveito, supondo muitas vazes que os holandeses os iriam libertar;
arcabuzando negros gue caem prisioneiros e ao mesmo tempo outras vezes, ao lutarem ao lado dos almejavam a liberdade através de provas de
incorporando à sua Companhia de Pretos Armados, novos elementos, lealdade. Aldengurgk narra ainda outro fato curioso que deve ser reproduzido. Diz ele: "Várias
inclusive os componen de um navio que chegou da Africa e foi de nossos saíram em busca de raízes de farinha; mas, foram dispersados pelo inimigo, que
apresado. Um negro que se encontrava entre os portugueses aprisionou a um deleg, decepou-lhe ambas as mãos e o reenviou à cidade com uma carta
desertou e transmitiu uma série de informações importantes, como a dirigida ao capitão-tenente Senhor Francisco. o qual, inglês de nacão, servira na companhia do
pretensão de um ataque à cidade, no dia de Todos os Santos, por finado Sr. Varr Dort." Parece, portanto, que a prática de decepar as mãos dos negros que
parte dos lusos e brasileiros e da morte de D. Marcos, vítima de um caíam em poder do inimigo era generalizada. Como elemento plebeu da contenda, par»
"fluxo de sangue". ticipando de uma luta que não era especialmente a sua, sofria do apa repressor, quer do
Ainda em 1624, narra Aldengurgk: "vieram à cidade dois embai• lado dos holandeses, quer dos portugueses, o máximo rigor. Mas, quando havia a recíproca —
xadores dos portugueses e um negro, a tratar com o nosso coronel; ainda é Aldengurgk quem narra — usavam de rigor idêntico. Os escravos a serviço dos
admitidos à audiência, foram ato continuo banqueteados, oferecendo- landeses aprisionaram um português. "Os negros conduziram o prisioneiro para fora da porta
lhes nos. so comandante uma taça de v5nbo das Canárias para o do Sudoente, urrando de júbilo e dançando a
beberem à saúde do Príncipe de Orange, ao que anuíram de bom
grado; mas, quid fit? sucedeu cair a um deles o chapéu que, apanhado (10) — Op. cit. p. 187
pela ordenança do fiscal c por ela apalpado, pareceu conter algo de (11) — Op. p. 180
suspeito, pelo que chamou da mesa o seu oficial e lhe contou o caso. (12) — Op. p. 188.
Narrou o fiscal o ocorrido ao coronel e, examinado o chapéu do (18) — Op. p. 191.
embaixador, foram nele encontrad88 diversas cartas dirigidas aos
nossos negros; a vista disso, 08 dois emis• sários e seu escudeiro 170
foram presos e torturados. Fizeram então de tudo plena e franca seu modo, e, ati chegados, afiaram nas pedras as suas longas facas de
confissão perante o Conselho Secreto, declarando terem sido abordagem, mandaram que o português corresse e saíram no seu
induzidos a tal procedimento por influência dos padres de sua religião, encat. W, desfechando.lhe continuas cutiladas, ora na cabeça, ora em
os quais lhes haviam assegurado terem todos acesso ao céu, na outras partes do corpo, até que, de todo combalido, tombou em terra,
qualidade de mártires, e, como expiação do crime cometido, foram onde o crivaram de estocadas, e o acabaram como o gato ao rato." {'0
ambos, que se diziam mártires, e mais o escravo, condenados e Como estamos vendo, nas primeiras escaramuças entre o batavo e
enforca. dos. (12) os portugueses e brasileiros, o escravo negro já participava. Membro de
urna classe sem nenhum direito, agia apenas no sentido ilusório de
Como clemento auxiliar, durante a primeira ocupação holandesa, o negro escravo conseguir, através da sua atuação, a liberdade que não desfrutava. Mas
prestou relevantes serviços, quer de um lado quer de outro; aproveitava-se da situação
é no período da reconquista, quando há não apenas a tentativa dos 171
habi de uma cidade de resgatá-la, mag toda uma configuração o desertor Calabar estava orientando os batavos, em contrapartida
política e econômica já definida, que o papel do escravo, no setor aos locais se incorporava Henrique Dias com os seus homens. A adesão
militar, será mais acentuado, definindo muitas vezes posições a favor de Henrique Dias valia não apenas pelos homeng que foram
das tropas que lutavam para expulsar o ocupante holandês. mcorporados mas também pela grande experiência de guerrilhas no
sertão que ele trazia. E a guerrilha era a única forma de resistência que
no momento se podia oferecer aos holandeses.
Quando Henrique Dias — o Boca Negra — se apresentou pela Em julho de 1633 já tem notícias das atividadæ suas e dos seus
primeira vez, vindo não se sabe ao certo de onde. com a sua pequena negros. A 15 de julho os batavos atacarão o São Sebastião,
tropa de negros livres, para combater os batavos, a situação dos locais tendo o mesmo sido defendido por Henrique Dias e rrnis vinte
não era nada boa. (15) Peto contrário. Os holandeses. por uma série de companheiros seus. Foi nesse combate que o líder negro recebeu o seu
circunstâncias, est.a•mrn em franca ofensiva. Matias de Albuquerque primeiro ferimento. Logo em seguida é novamente ferido com dois tiros
carecia de forças e recursos para enfrentá-los e deve ter recebido de mos. quete. Como se vê, Henrique Dias não se poupava e dava
alegremente aquêle refôrço. "Naquele primeiro semestre de 1633 — exemplos de bravura aos que o acompanhavam. Mas, não parou ai: em
escreve José Antônio Gonsalves de Melo — em que Henrique Dias se 80 de março de 1634 é ferido ao repelir um ataque inimigo
apresentou com outros pretos também livres, dos quais foi feito contra D Arraial de Bom Jesus. Nas proximidades de Apipucos "matou
capitão, a situação começara a mudar 8 favor dos invasores". Uma série por sua mão" cinco holandeses. (18) Logo- depois foi outra vez ferido
de derrotas deixara as forças lugo•brasileiras em estado de flagrante ao defender uma posigä.o dos locais: a várzea do Engenho Santo
inferioridade. Henrique Dias veio, assim, como se fosse uma injeçäo Antônio.
alentadora. Se Em seguida, sob o comando de Andres Marin, participou do com.
bate que se travou pela defesa do Arraial Velho, em 1635. A luta foi
(14) — op. eit.p. 195- encarniçada, mas "a maior peleja era ccmtra a fome. que ia chegando a
15) — O Conde dos Arcos, em 3 de a•to de 1756. respondendo informa. Gio do
tal ponto que já de tudo se valiam os nossos. . . Nem o valor nem a
Ultramarino. afirma gue Henrique Dias "era natural da Bahia com tudo viveo em constância dos defensores do Arraial bastou para que ele não se
Pernambuco aonde tez os se08 maiores progressos". (Apud. "Memó• Has Históricas e da perdesse; porque afinal faltou tudo o que servia de sustento,
Bahia", Igacto Acloll. 20 vos. Salvador 1925, p. 424 — nota). Mas. de dizer que •'quase consumiram-se cavalos, couros, cães, gatos e ratos, com que se
nada se sabe, com documental, acerda pessoa de Dias". José Antanio Gonçalves de Mello
alimentavam. E quando ainda houvesse alguma destas imundas coisas,
o dá como ci&:» em Pernambuco, apoiado em diversas fontes. Varnhagen k-vanta
cautelosamen. te possibilidade de Henrique Dias ter vindo. com os seus homens. de não existia mais pólvora nem outra qualquer munição."
Palmares. Diz ele: '"Encontramos emrfto em papel nåo bastante autorizado, que estes Com a tomada do Arraial pelos holandeses, Henrique Dias caiu
safram, por trato pactuado precedentemente eom Matias d'Albuquerque, primeiro prisioneiro mas foi resgatado juntamente com os demais moradores do
organizados a principio em número de apenas. dos mnca_mbos dos
Palmares, onde ae achavam; porventura poderiam fazer inclinar a dar a isso algum local, permanecendo inativo por algum tempo. Somente em 1636 0
crédito as palavras com que o cranlsta desta campanha nos dá conta deste fato. "Bem capitão dos negros voltará à atividade. Conseguindo juntar-se
ptova. diz o mesmo cronigta, o apum em que nos unha posto a continuaçåo do que c- novamente às forças que resistiam ao invasor, partiu, juntamente com
(mstatávamos, peta acio que um preto chamado Henrique Dias nuta e fol parecer- Antônio Filipe Camarão, que comandava trezentos índios, para a
lhe que necessitávamos da sua pois veio ore. ao general, e —te aceitou-a para
servir com alguns de cor. "Se nio an• desse nesta apresentaçåo algum mfstério — campanha. Ele tinha sob suas ordens quarenta negros de Angola.
Varnhagan — não cremos que teria o crorüsta næessidade de dar tantas por maiores que Comandava essa tropa, por seu turno, composta de trezentos e
fossem as pævençöes contra os descendentes de africanos". (Hist. das Lutas com Os quarenta homens, o negro Paulo São FelichC, que pertencia ao Conde
Holande. no Brasn. S. pau10, 1945, p. 109-110). Bagnuolo.
(15.A) — Gonçalves Mello. Ant&nio; "Henrique Dias Governador dos PN. toa, e
mulato' da BraziY, Recife, 195', p. 7.
Depois disto, porém, parece que Henrique Dias tomou outros ru.
mos, indo para a Bahia, onde foi encarregado de combater negros
fugidos, possivelmente o Quilombo dos Palmares. Em 1640 0 Vice-rei O depoimento de um holandês — Watjan — é conclusivo: "Se na
Marquês de Montalvão "cogitou de encarregar a Henrique Dias a prin•æira metade do ano de 1637, o cultivo da cana-de-açúcar não
redução de um quilombo de negros na Bahia, mas a sugestão por ele pro• grediu, deve-se atribuir isso não só à devastação das plantações
apresentada à Câmara do Salvador não obteve o apoio dos vereadores. siste• maticamente levadas a efeito pelos depredadores inimigos, mag
Entretanto, se não foi realizada então, a tentativa de extinção do também à grande escassez de trabalhadores negros" pois a maioria "se
moeambo achava refugiada nas matas onde, entregue à rapinagem, se
congregava em bandos, que iam constantemente crescendo e, por
vezes, infligiam sensiveis perdas às tropas enviadas em sua
(16) — Gonçalves de Meno, José Antonio — •'Henrique Dias", Recite. 1954. p. 7.
perseguiçao.— (26) Se rique Dias estava na Bahia até 1640,
(17) — Op. cit. p. IO.
conclui* que a sua carta tinha sólidos fundamentos, pois bem antes os
(18) Op. cit.
escravos fugidos ou aquilombados já vinham desgastando
(19) — Op. cit.
continuamente a economia dos latifundiários ligados aos holandeses.
(20) — Doc. citado por José Antonid Gonçalves de Meno. op. 12.
(21) — Op. cit. p. 18. Eram as guerrilhas que martelavam as tropas regulares
(22) — op. cit. p. 25.26. holandesas. O Conselheiro Van Goch fala nessa dualidade de táticas
empregadas entre as suas tropas regulamg e os locais. Diz que "em
172 primeiro as tropas do inimigo, sainO do nnto e por detrás dos pantanos
de pretos, Henrique Dias foi posteriormente encarregado disto. Até e de certos lugares, com a vantagem da posição, atacam sem ordem e
1645 permaneceu na Bahia, e não há notícias de atividades de em completa persäo e aplicam.se a romper diferentes quadrados.
importância contra os holandeses afora alguns serviços de "espia" para Em segundo lugar
ver como estavam as tropas batavas.
O certo é que iremos encontrá-lo de novo no palco das
(22) — op. Cit. p. 25-26.
escaramuças, quer por solicitação de João Fernandes Vieira, quer por
um plano organizado pelo Governador•Geral — o detalhe é de (23) — Op. cit.
importância secundária — já na fase de restauração de Pernambuco e (24) — Apud Carneiro: "Antologia do Negro Brulleiro", P. Alegre,
p. 80.
demais capitanias, exatamente na Batalha das Tabocas. Nessa batalha,
(25) — Apud— op. cit. 79.
João Fernandes Vieira alforriou 50 escravos sób condiçü) de
continuarem lutando. Esses forros foram juntar-se às tropas de 173
Henrique Dias, que passaram! a ter, em 1647, 300 membros. (23) as tropas do inimigo são ligeiras e ágeis de natureza, para correrem
para diante ou se afastarem e por causa de 8ua crueldade inata são
Na conhecida carta que Henrique Dias enviou aos holandeses, lê-se também temíveis. Compöem•se de brasileiros, tapuias, negros,
que esses negros eram compostos de quatro nações: "minas, ardas, mulatos. mamelucos, nações todas do país, e também de portugueses
angolas e crioulos; estes são täo malcriados que não temem nem e ita!ianos que têm muita analogia com os naturais do país, quanto à
devem; os minas tão bravos que aonde não podem chegar com o braço
sua constituição, de modo que atravessam e cruzam os rrntos e
chegam com o nome; os ardas tão fogosos, que tudo querem cortar
brejos. sobem os morros, tão numerosos aqui, e descem, tudo isso
com um gol. pe; os angolas tão robustos, que nenhum trabalho os
com uma agilidade e rapidez notáveis". Ugando os métodos clássicos
cansa." Em outro depoimento do líder guerrilheiro, lê-se gue "havemos
de tática militar viamse assediaHos pelos restauradores. Muitos
de deixar a terra tão rasa como a palma da mão, e tão abrasada que em
desses negros que, segundo Watjan, andavam em bandos,
dois anos não dê fruto; e se vœsas mercês a tornarem a plantar (o que
não sabem nem podem) nós viremos em seus tempos a queimar-lhes constituíam elementos que atacavam as tropas regulares holandesas.
numa noite o que houverem plantado em um ano. Isso näo são fábulas Isto ainda é mais facilmente compreensivel se levarmos em conta que
nem palavras déitadas ao vento porque assim há de ser." E, de fato, era. proliferaram inúmeros quilombos e esses guerrilheiros tinham onde
se ocultar após as refregas. "O negro fugiu em bandos enormes
durante o governo holandês — escreve Luís da Câmara Cascudo — e Como vemos, não foram apenas os soldados negras de Henrique
os quilombos se tornaram grandes aldeias" ( Os negros, sempre Dias que se opuseram ao invasor. O pardo Domingos Fagundes foi
que podiam, procuravam seus irmãos quilombolas, aderindo aos outro homem que prestou serviços de muita valia. Foi encarregado de
reinos recém.formados. Foi possível ao holandês obter amizades atrair os holandeses para os tabacais "conduzindo após si o inimigo,
duradouras com a indiada. Um Antônio Paraopeba, um Pedro Poti, conforme lhe fora ordenado . ) para o local em que estavam preparadas
ficam como derradeiros fiéis, escondidos para não sujeitar-se ao as emboscadas.'
português ou batendo-se em Guararapes ao lado das bandeiras da As matas dc Pernambuco das outras capitanias ocupadas
Companhia. negros o holandês nada conseguiu." chiam.se de negyos fugidos numa verdadeira debandada coletiva.
Não é que não tentasse o batavo aliciá-lo para as suas fileiras; Por seu tuvno os holandeses aguçavam o aparelho repressor chegando
chegou mesmo a ir no Recife de casa em casa para recrutá-los. ao extremo de esquartejá-los ou queimá-los vivos como verdadeiras to.
Finalmente, conseguiu que um mulato, João de Andrade, em troca do chas humanas a fim de intimidar os demais. Os chamados
título de capitão — título que lhe foi concedido — reunisse uma "boschnegers" eram uma constante preocupação para os batavos.
companhia de negros. Foi infeliz e saiu ferido logo de infcio. mas "Atacavam as resiciências dos moradores, feriam, punham fogo às
mesmo assim "con. tinuou chefiando os seus negros e mulatos até a casas e levavam as escravos, sendo que de uma só freguesia levaram
rendição". Mas o certo é que os holandeses não conseguiram grande 140 negros" Somente no quilombo situado na "Mata Brasil"
colaboração do escravo negro. Este transformava-se nos homiziavam.se inúmeros negros que "corriam a região em bandos,
"boschnegers"; era o elemento re. belde que nas estradas e matas roubando e matando.'
atacava os flancos dag tropas regulares holandesas; era a parte mais Antônio Fernandes Vieiya Mina, escravo de João Fernandes Vieira,
radical da resistência, pois, embora desordenadamente, produzia comandava cento e cinqüenta negros minas que lutavam ao lado das
bolsões de desgaste não apenas militar mas eco. nômico também, de pas locais. Morreu combatendo na primeira Batalha de Guararapes.
vez que os engenhos se despovoaram a tal ponto que Nassau teve de Aliás, João Fernandes Vieira como Já vn•nos — apelava para os seus
organizar uma expedição militar para ocupar o Forte de Mina, a fim de escravos nos momentos mais dramáticos da campanha, prometendo-
garantir o suprimento de escravos, É que este tipo de atividade lhes alforria. Esses eram os escravos que se engajavam — como já (lis.
divergente era uma fricção constante que atingia a Com. panhia em scmos num tipo de luta intermediário, que não era especificamente a
face não apenas do decréscimo da produção como do encare• sua. Tanto isto era verdade que os mestres de campo brasileiros,
cimento do trabalho escravo. quando apreendiam cativos dos holandeses, dividiam-nos entre si, ao
invés
Houve mesmo reações de extrema violência que caracterizaram
essa contradição, como. por exemplo, a revolta de escravos verificada "Todos os negros aproveitaram a oportunidade fugir. Pela leitura
na ilha de Fernando de Noronha. A revolta foi sufocada. Os cativos dos documentos vê-se que parou quase completamente o trabalho dos
foram pre sos pelos holandeses. Seus líderes, em número de seis, para engenhos. Uma re'8ç50 dos engenhos existentes entre os rios das Jangadas e o
exemplo dos demais, foram esquartejados vivos. Una. feita pelo Conselheiro Schott. mostra-nos a verdadeira sltuaçäo dessas
propriedades. exatamente na zona mais rica da Capitania. a zona Sul. Eram
canaviais queimados. casas-grandes abrasadas, os cobres jogados aœs rios,
(26) — Apud Nélson Wenu:k sodN — "Hi8t6Na Militar do Brasil" açudes arrombados, os bois levados ou comidos, fugidos todos negros. Só não
—R, Ja. nefro, 1965. p. 43. haviam fugido os negros velhos e molequinhas. Assim. no Engenho
Maratapagipe só foram enconttados Joio, Manuel. Mulemba. Maria Esperanca,
(27) — Lufs da — Op. cEt. p. 59. Catarina. Suzana e Adriana. "trës negros e negras, todos velhos e
(28) — Meno Neto, J. A. G. de — Flamengos", R. de Janeiro, 1947, incapazes." Também no Engenho Sibiró de Riba o Conelheiro holandês
encontrou somente 2 negros velhos e 2 bois velhos. No Engenho Cocaú a
174
situação era melhor: encontraram-se 4 caldeiras grandes. 4 tachos novos dois
velhos. 8 bois, 2 vacas, 2 novilhas e, na senzala, Pedro Moleque mulher e dois
filhos. Joåo, mulher e filho, António Jacome com um moleque. Francisco
lv
Moleque com uma negra. a negra Manangona e mats 2 negros, 2 negras e dois Na última fase da reconquista os flamengos tiveram de enfrentar
moleques No N.S. da Palma foram encontrado. no roçado um negro velho e uma situação dag mais delicadas. Engenhos despovoados, caminhos
uma Todos os demais haviam fugido" ( Antonio Consalves de Mello. Neto: dos peri. gosamente ameaçados, canaviais a de incindios permanente. Nas
Flamengos", R de Janeiro, 1947. p. 206/7) . matas e nas estradas, os guerrilheiros ou os quilombolas nio davam
— José Ant6nio Gonçalves de Mello Neto: "Tempo dos FlamengW'. R. tréguas. Canaviais eram incendiados. Vidal de Negreiros viera do
de Janeiro. 1947, p. 207. norte Como uma verdadeira tocha. "Derramou-se a chama do incêndio
— Idem, idem, p. 218. de à Paraíba, como um vulcäo devorando tudo, levando
32) — Foi o que aconteceu Batalha das Tabocas. quando enviou a sua tudo em suas lavas sinistras ( . . . ). "Vidal, alucinado de patriotismo,
guarda com promessa de libertá-la. "Era ela composta pela sua maior parte de ateia fogo nos campos e nos canaviais, na sua passagem pela Vila do
Espírito Santo, na Paraíba, fogo que se iniciara nos próprios partidos
escravos æus. aos quais prometeu a liberdade ( . . ) Precipltaram•se elea pela
de cana do seu velho e querido pai."
en• costa abaixo tocando suas cornetas. e soltando os berros de que seus
selvag 'ns eon. terraneos usavam na Southey: "História do
Os holandeses tinham contra si praticamente a população das
capitanias ocupadas. Após a chegada de Schkoppe, sentindo-se fortes
Brasil". 39 vol., Salvador. 1949, p. 95).
militarmente, mandaram uma proclamação onde os membros do
175 Conselho
de dar-lhes a liberdade; em outras palavras, o status era transferido, o Supremo diziam que ofereciam anistia "a todos os que se
senhor mudava, mas 8 situação de escravo continuava. Somente em apresentassem dentro de dez dias, e declarando com arrogância que
casos excepcionais e em conseqüência de atividades altamente me. findo este prazo näo poupariam sexo ou idade, passando todos pelas
ritórias é que conseguiam 8 alforria. Houve mesmo — sem.mdo armas, soltando os Tapuias e Potíguares para realizarem a façanha".
depoimento de Soutžw — um detalhe que é ilustrativo desta Tudo inútil. O povo
contradição: a sentinela que avisou a chegada de Henrique Dias e os
seus homens, quando o mesmo foi•se juntar às tropas nativas, recebeu, (83) — canado, Manue•: "O Lueideno" 2 2.0 vol. S. Paulo,
de João Fernandes Vieira, dois escravos como prêmio por transmitir — PJ 144.

tão alvissareira nú•ia. (to vemos, o processo de luto era contraditório;


— Southw, R•erto: —"História dC Brasil", Salvador. 1949. 30 vol. P.
daí o bandeamento para um e para outm de fraçöes de escravos,
Enquanto mestiços como João Andrade se para os 85.
holandeses, comandando a sua tropa de "índios tupis, mulatos e (35) — Pinto, LU": •'Vidal de R. Janeiro, z/d, P, 91.
negros" escravos c.0J7M) Antônio Fernandes Vieira Mina lutavam ao 176
lado dos seus senhores locais. As matag, porém, estavam cheias de das capitanias ocupadas já não permitia nenhuma "concordau" com o
escravos fugidos que inimigo.
não se engajavam em nenhum das facções em luta. 08 cativos (quer
Os negros levantados no interior, além de Palmares que
aqueles que ao lado dos restauradores, quer os que combatiam de
continuava dando trabalho aos invasores, eram elementos de desgaste
forma independente pela sua liberdade nos quilombos e nas guerrilhas)
permanente. Praticamente sitiados, constantemente pelos
friccionavam os holandeses, causando-lhes sérios reveses, Durante as
negros de Henrique Dias, que havia construído um arraial bem
noites, og guerrilheiros de Henrique aucavam posições flamengas,
próximo ao Recife para dali hostilizar o inimigo, a situação dos
pois a ordem era para que se "picaue e inquietasse o inimigo",
flamengos não era nada boa. Henrique Dias estrategicamente colocado
à noite. Além disso, eges negros tocavam
no seu arraial, diariamente travava combates com eles. "As correrias de
fogo nos canaviais, destruíam roças e sítios dos ocupantes. suas tropas chegavam, em direçäo à cidade Maurícia, até o Rio
Capibaribe, isto é, à Boa Vista de hoje, menos a parte recente dos
aterros das ruas da Imperatriz e AUro. ra. Era, portanto, como bem
dizem 08 documentos, a estância maia chegada ao inimigo. Tão Por outro lado, o arraial de Henrique Dias e dos seus negros era
próxima que, às vezes, o duelo não era de bala mas simplesmente de um foco do qual saíam, quase diariamente, pequenos grupos armados
palavras de desafio" para travar escaramuças eom os holandeses. Estes sentiam os efeitos
No combate na casa fortc de D, Ana Pais vários holandeses foram dessas surtidas e, por isto mesmo, em 21 de maio de ano atacaram a
"mortos por mãos de negros; e houve uma negra crioula dos Apipuct*, estância procurando destrui-la. Näo o conseguiram, porém. tiram
fôrra, e cagada com outro crioulo chamado Araújo, que em a tentativa logo depois, sem obterem êxito. Derrotados nessas duas
encontrando a um Flamengo, com espada cinta, e uma clavina nas tentativas, continuaram recebendo o dog negros, que não os deixavam
mãos, arremeteu com ele, e com um bordão que levava o matou, e lhe em paz. "Eram tantas e cotidianas as pendências, que tanto
tomou as armas." encontro Henrique Dias foi ferido rnais uma
vez, atingido pelo inimigo na perna. Apesar disto continuou lutando "e (36) — A uni50 de camadas e setore8 da sociedade pernambucana nesta da luta
alcançada a vitória, então ele mesmo se curou os buracos da reneua, por turno. a compreensSo generalizada da necessidade de libertar a regfåo da
ferida com uma pequena pele de carneiro frita com azeite de peixe, e ocupacio inimiga. levando-se em conta primeiramente elementos economicos e soclats
em breves dias sem haver mister cirurgião." que já destacavam como o suporte de uma futura congefencta A rebeldø aasim para o
desentrave das força. eco, n6micas exlstenteg, das limitac&o eNoniais. O tato de a
Nas duas batalhas de Guararapes houve a participação de expulso dos no. tandeses este objettvo nao ter ddo alcançado. é outro problema.
contingentes negros. Somente o capitão-mor dos minas — como (37) — GonsalveB de José Antönio "Henrique Dias Governador dos pretos e
mandava 150 negros de sua nação, tendo perecido na batalha. Após a Mulato, do do Braai-r•, Recite, p. 34.
primeira batalha foram incumbidos de recuperar a vila de Olinda que (28) — canaao, Manuel: — op. cit. p. 53/4.
fora ocupada pelo inimigo. Dois dias depois expulsaram•1M) do local. (39) — de Mello. José Antanfo.• Op. cit. p. 36.

177
08 holandeses safam a buscar cajus e outras frutas do mato, os negros gos os resolveram enviá-los para a Ilha de Fernando de No. minas logo lhes caíam de
improviso e com as vidas lhes faziam largar; ronha, tendo sido possivelmente aqueles que se revoltaram e foram cruele eram tio bárbaros estes minas, que não lhes
queriam dar mas mente esquartejados. Os batavos temiam uma sublevação desses escra• antes cortavam as cabeças aos que matavam e vinham com instrumen- vos;
mandavam.nos, por isto, para a ilha distante. Mesmo assim suble• tos bélicos a seu modo e ao de sua terra com buzinas e atabaques, fa- varam-se e foram violentamente
exterminados. zendo muita festa, dizendo que aqueles os foram cativar às suas terras, sendo eles forros, e. feitas as cerimônias traziam as cabeças para as portas dos
moradores, donde se não iam sem lhes darem alguma coisa:" Henrique Dias participou da segunda Batalha de Guararapes, ten-
Nesta altura dos acontecimentos, como vemos, outros eram os meca- carregado do na ocasião de guarnecer recebido o com seu os último seus
ferimento homens uma em das campanha. alas, portando-seFicou ennismos de comportamento dos escravos do Recife para com os flamen-costumeira Depois
da batalha, não malg mals uma vez com a bravura.
Já gos, não que eram representavam mais aqueles já a elementos crosta opressora. que, contagiados isto é, o grupo emocionalmente,dominante.se seu empenhará
ar•raZ As em autoridades atividades nólitares lusas gratificaram-no de envergadura, com permanecendo um aumento node quiseram
até tocar fogo à cidade como expressão de alegria quando dadois escudos mensais e 24 anuais, mais ainda a casa e os terrenos onde chegada dos holN1deses, que
presumiam fossem libertá-los do cativeiro.
Pelo contrário. Depois de verificarem que a escravidão continuava paraciado com o sitio o título aos de flamengos mestre de teve campo. a sua Ao estância. que
parece, Além porém, disso foi os escra-agraeles, ou, em outras palavras, continuavam no status anterior, mudaramvos que lutaram ao seu lado não foram contemplados
com aquilo que
em tomarem, os seus decorrência pontos quase de sempre. do vista sistema posições e usaram repressor contra outra instalado, os linha batavos. de usavam
comportamento. Quando outras não podiam,formasDaíCampo Henriques, levara General a em participar 1650 Francisco queixava-se dos Barreto, eventos: do tratamento
que a liberdade. não o que tratava O recebia próprio mais do como Mestre chefe foradosde

de protesto; envenenavam a água das cisternas que eram usadas pelos anteriormente tratado pelos outros Governadores•Gerai8. Talvez por holandeses. Pelo depoimento
de dois negros que se evadiram do Recife, estas razões e outras semelhantes, Henrique Dias partia em marco dc ficou-se sabendo "que no Arrecife morriam
muitos de enfermidades con-1656 para Portugal a fim de ver se conseguia uma série de reivindi• tagiosas, assim Flamengos, como Judeus, e que os negros
Minas haviamsendo uma delas a alforria dos seus homens que depois de pele. deitado peçonha em uma cisterna donde os Holandeses bebiam e quejarem
cações, encontravam na condição de escra-
por si que çonha
o certamente de isso que com nenhum morriam lhes muito à morria orientação bebesse tantos, segrédo". tanta daquela e de que gente, alguma Êste os água, porque ditos
sigilo organização e que negros os da os negros parte Holandeses estavam tribal, haviam dos avisados pois Minas näo deitado de deve-sesabiamentreoutrape- mos
Henrique vos. ele bms assinado"méritos Além dos durante Henriques Dias de que — solicitar anos pede ele cujo e tivera o também anos acompanharam original uma na
ainda série para luta s perdeuse de contra os a seus favores Portugal o homens batavo. "representou pelos — —"Por serviços mercês aliás à um Rainha pelos dois
prestados.papel mem-mes-porque

forma rerem também não se explica envenenados fato de e nenhum todos serem delatar. avisados Recém-vindos a fim de da não Áfricamor-tendo dos de ela seu
em Terço consideração lhes fizesse os as muitos mercês serviços que estavam dos homens merecendo pretos por e seuspar• não se destribalizaram completamente
no Recife. Ao se voltarem contratrabalhos na guerra. E que a primeira fósse alforriar os soldados e aqueles que objetivamente representavam para eleg o
senhor e o ele-deoficiais escravos que havia na sua tropa" e que "vieräo para a guerra mento coator imediato, usaram os valores tribais, os seus universos por
editaes que se puseram pelos generaes e governadores que em nome comportamento ainda não violados, a hierarquia que devia haver para quede lhes
prometiam serem forros, e libertos, e com a tal todos o silêncio obedecessem mantido à ante decisão dos que executaram o envenenamento. Daiservira-o
sempre... porque se estes soldados sogeitog, não fo-

tende vasem como calados, esses silenciosos, escravos, a decisão pertencentes mudos, tomada. se não 8 diversos De houvesse outra senhores, a forma dominá-los não se
manti-se umaen-rem gos não lhe ficará forros, häo animo feito, e libertos n•elles, e tornarem por nem mercê em á sogeição outros de Vossa vontade, do coptiveiro
Magegtade, para que que pois havendo de antes tantos algumatinhio,servi-

constelação gencias pessoais.de vatóres ainda válida, capaz de anular as possíveis diver- occaziäo (o de que tudo, Deus esta não mercê permitta) da liberdade
tornem dos a pegar soldados." em armas. Pedia E que decida"se

Negros que chegaram da África — importados pelos flamengos à Rainha fosse servida manter em serviço o Terço', lhe concedessé os vindos de Angola. ao
serem em combate contra as tropas deprivilégios e liberdades de que gozavam os mais terços de brancos, pois Henrique Dias "viraram.se de costas e
deixaram aos Holandeses sós noseria de grande utilidade para a Fazenda Real "pois fazem menos gastos meio de caminho" . (42) Diante da inutilidade militar desses
negros Con-que os brancos e não deixäo n'aquellas partes de fazerem o mesmo que

Jou Antonio de Mello, op. cit. p. 36/1.


—C.a•lado,
Cit. Manuel: — Op. elt. p. 198.(43) — Gonçalves de Mello.. Jose Antonio: "Henrique Dias-Governsdor — op. CR. p, 199.dos Pretos Crioulos e Mulatos do Estado do
Brasil". 1%-4. p. '7/48.

178
O Conselho opinou que fosse conservado o Terço "emquanto não que através do seu sacrifício lhes concedida alforria. ouver pas firme cö Olanda" e "por
desta gente preta haver muita no O que nem sempre acontecia.
Brazil em que acha fidelidade e são temidos dos flamengos e muito wf• Tanto a classe senhorial nativa, como a máquina administrativa fredores dos trabalhos da
campanha.". E quando aos soldados ainda holandesa olhavam, por isto mesmo, de igual maneira para os escravos escravos, parecia "que o modo de premiar os que
servirão bem, he dar. que se rebelavam ou fugiam. Tinham as mãos decepadas, quando caíam lhe a liberdade cõ vontade e permissäb dos seus donos, o que sendo
ricos, prisioneiros, eram enforcados, queimados vivos, esquartejados vivos, fi. nä.o será difficultoso, e pagando aos que o não forem, hu preço moderado,
nalmente sofriam de ambas as facções o mesmo tipo de repressão. Os cö que huns fica-o satisfeitos e outros sem queixas." mecanismos de defesa quer dos
Benhores de engenho pernambucanos quer Como se vê, após a expulsão dos holandeses os escravos que se haviam dos membros da Companhia ou da administração
holandesa agiam da incorporado ao Terço dos Henriques, lutando ao lado dos restaurado- mesma forma contra aqueles que com a sua posição radical
solapavam res, continuavam com o seu status inalterado, dependendo da permissão8 economia existente. Os quilombolas eram, por isto mesmo, o
elemento dos seus donos ou de uma compra a baixo preço para obterem a liber- que, dentro da redoma da economia da época, negava-a e a enfraquecia . dade.
Isto, porém, nada tem de extraordinário. Pelo contrário. Corro-Por isto mesmo eram perseguidos por ambos os lados.
bora a essência do regime escravista. Tanto os portugueses como osQuando Schkoppe capitulou, em 26 de janeiro de 1654, deixava para
holandeses viam nos escravos uma simples mercadoria. Tanto isto ésenhores de engenho e o aparelho estatal aqui montado enfrentarem, verdade que após a
capitulação dos flamengos os índios e negros queaquilo que foi chamado •'o perigo de portag a dentro": o Quilombo lutaram ao lado dos derrotados foram
simplegmente incorporados às fi. leiras luso.bragileiras. Os escravos que lutavam ao lado dos seus senho.dos Palmares. . . res, quer de um lado, quer do outro, com a
ilusão de se verem livres do cativeiro, eram apenas objetos e a sua participação militar, enquanto escravos, era uma obrigaçáo inerente ao seu status, como carregar
cana dos engenhos ou qualquer outro serviço de eito. Obedeciam apenas às ordens da classe senhorial.
Por isto encontramos Henrique Dias tentando conseguir a
liberdade para aquêtes que se engajaram mediante promessas de
alforria. Dentro do conjunto de interesses contraditórios que se
entrechocavam na luta peia expulsão dos batavos foi esquecido
aquele que era para as demais camadas o menos importante: o do
escravo.
No entanto os escravos que não am•editavam em promessas, nem se
subordinavam à tutela militar de líderes negros que atuavam sob o carnando dos
senhores de engenho ou dos flamengos, foram enchendo as matas e os caminhos,
fugindo e procurando a solução independente, que era o quilombo. Esses não
tiveram necessidade de solicitar a liberdade pois a impuseram contra a vontade
das facções em luta. Aqueles escravos que abandonaram os engenhos e se
embrenharam nas matas, constituindo•ge em focos guerrilheiros autónomos ou
se organizando em quilombos, não agiam tendo em xira obter a liberdade através
da benignidade dos seus senhores; impuseram-na de forma radical contra a
vontade dos mesmos. (45) Os contingentes de cativos que cerraram fileiras ao
lado dos luso-brasileiros, entrando para o Batalhão dos "Henriques"
— Op. cat. p. 49-
"Correm ainda bandos pelo interior, que roubam tanto os Dorcomo os
holandeses, mas estes sio compostos de salteadores mulatos e negms
e nha de soldados do Rei. contudo grande prejuízo e desassossego ecs moradores.
Escondem-se também nas matas e sio difíceis de apanhar; quando os nossos soldados
os perseguem fogem para o mato e cada um para o seu lado" (Adrian van der
Dussen: "ReZat6rio sobre capitanias conquistadas no Brasn pe10s Holandeses" — R. de
Janeiro, 1947, p. 132}.
180181
O Quilombo dos
Palmares
Dos movimentos dos cativos contra a escravidüo, Palmares é, por
circunstâncias especiais, o mais conhecido e estudado. Foi o que mais
tempo durou; o que ocupou — e ocupou de fato — maior área
territoriai e o que rnaior trabalho deu às autoridades para ser
exterminado. De 1630 a 1695 os escravos palmarinos farão convergir
sobre seu re• duto as atividades, os esforços e as diligências dos
governantes da (b \ônia. Da história do que foi sua existência 65 anos
cm constantes e sangrentas lutas — até o folclore nos dá noticias. E dos
fatos passou à lenda.
De fato, aproveitando-se da ocupação batava, os escravos de
Pernambuea e de outras capitanias vizinhas começaram a fugir do
cativeiro, pelos "delitos e intratabilidade dos seus senhores", (l) em
pequenos bandos, esparsos — quase 40 negros da Guiné dos engenhos
da Vita do Porto Calvo no início, informa Rocha Pita — depois em
bandos e de forma constante, homiziando-se nas matas de Palmares.
Aproveitando-se da impenetrabilidade da floresta, da fertilidade das
terras, da abundância de madeira, caças, facilidade de água e meios de
defesa da regiüo, rarn.se aglomerando e reunindo gente, juntando
braços para a guerra e e formaram naquele lugar a maior
tentativa de autogoverno dos negros fora do Continente Africano.
A República ficava situada — gegundo documento com relação
das guerras feitas aos negros(" — numa superfície de 60 léguas, onde
se espalhavam suas cidades (mocambos) da seguinte forma: a 16 léguas
de Porto Calvo ficava o mocambo do Zambi; ao Norte deste, afastado

"Rdaçä-o das Guerras Feitas aos Palmares de Pernambuco no Tempo


do Governador D. Pedro de Almeida, de 1675 a 1678" — Apud Edison
Carneiro: "O Quilombo dos palmares", São Paulo. 1947, p _ 188 .
(2) — ROCh.a Pita. S. da: "História da América Portuguesa", 8alvador,
1950, p. 294. Apesar de citarmos aqui certos dados fornecidos por esse
historiador. sabemos perfeitamente com que os devemos utilizar. Apesar de
tudo, o raiato de Rochw Pita sobre Palmares é ainda uma fonte de consulta
obrigatória para os que desejam uma de conjunto do que foram essas lutas
"Relacao das auerras Feita. aos Palmares de Pernambuco no Tempo
dC Governador D. pedro de Almeida, de 1675 a 1679" Apud Êdison Carneiro:
op- cit., p. 197. ss.
185
5 léguas, o do Arotirene; a Leste, localizavam-se dois mocambos IM-ssou à História como líder e herói de Palmares. Além
cidos pelo nome de Tabocas. Ao Nordeste deste, distante 14 léguas, do rei, porém, a República era dirigida por um Conselho comp08to dos
ficava o de Dambraganga e a 6 léguas para o Norte o de Subupira, quar principais chefes dos quilombos espalhados pela região. Esse ConseEho
dos negros; ao Norte de Subupira, afastado 6 léguas, a cerca real do que constituía, ao que a mais importante instância deliberativa da
Macaco, capital da República, com .500 casas; 5 léguas para o Oeste da República, reunia-se periodicamente, quando havia assunto de interesæ
capital ficava localizado o moeambo de Osenga e 8 9 léguas de justificado e importado — a paz ou a guerra etc. — e funcionava na
Serinhaém a cêrca de Amaro. A 25 léguaš de Alagoas, para o Nordeste, capital de Palmares, sob a presidência do rei Ganga.Zumba. Eram
o mocambo de Andalaouituche, além de inúmeros outros menores que se 186
espalhavam pelas vizinhanças dos mais importantes. membros deste Conselho : o Ganga-Z0na (irmão do rei) , chefe do
EstabeleciÖs nas terras mais férteis da Capitania, começaram a macambo de Subupira, segunda cidade da República; Pedro Capacaça,
desenvolver-se e aumentar de número. Suas roças floresciam, dando Amaro, ACOritene, Oaenga, Andalaquituche e Zumbi. Nos seus
abundante colheita. Ali plantavam milho (que era a base da alimentacão) repectivos mocambos membros eram chefes absolutos.
banana, mandioca, batata-doce, feijão; aproveitavam-se do ceco
O aspecto material da República era mais ou menos idêntico ao de
abundante na região, criavam animais domésticos, aves etc. Assim
instalada começou a desenvolver-se a República palmarina. Em 1643 muitas aldeias de tribos africanas. As casas espalhadas, sem obedece.
eram cerca de seis mil em franca atividade no reduto. rem a nenhuma simetria, cobertas de palha ou outras matérias da
Necessitando de mantimentos, armas e mulheres, começaram a ata. regiäo. Praticavam além de agricultura, cerâmica : panelas e vasos de
car lavradores e estradas e exigir dos senhores de escravos, através de barro, cuias {te coco faziam cestos, trabalhavam em cabaças,
ameaças, o de que necessitavam, tendo sempre os colonos trocado " o fabricavam esteiras, abanos etc. Eram polígamos: o Rei Ganga-Zumba
dal pela honra." o número que crescia constantemente, aumentava o tinha três mulheres. Das suas atividades predatórias pela regiäo traziam
perigo para os moradores vizinhos de Palmares, que ameaçava inclua muitos escravos, uns voluntariamente, outros à força, e que
sive Ipojuca, Serinhaém, Alagoas, Una, Pôrto Calvo, São Miguel, povoa. engrossavam enormemente o número de da República. Os
Qões que forneciam provimentos para o litoral. Assim o Quilombo dos que vinham forçados eram transformados em escravos que trabalhavam
Palmares ameaçava com suas atividades não somente de morte e ataque na agricultura. Assim se foi desenvolvendo o escravismo dentro da
os moradores das redondezas do litoral. apossando-se de mantimentos própria "república", em conse. qö&ncia do desenvolvimento das
que, da região onde atuavam, seguiam para lá e que eram: peixe, farinha, atividades agrícolas.
gado, legumes, tabaco, madeiras etc. Para acudir à segurança de um número tão considerável de pessoas
Não foi sem motivo que Palmares chegou a ser comparado aos e um território tão grande, necessitavam desenvolver sua técnica
holandeseg. Eram os dois inimigos de Portugal: um — Palmares — "0 militar, estabelecer um sistema defensivo eficaz que assegurasse o
de portas a dentro"; outro, os holandeses, "näo sendo menorEa os danos sossego dos moradores. Seu exército aumentou consideravelmente.
destes do que tinham sido as hostilidades daquelas". Era uma ao Iniciaram a construção de fortificações» confiadas, segundo parece, a
trabalho dos colonos. um mouro que se encontrava entre eles. O exército era comandado pelo
Como decorrência do aumento incessante de quilombolas e do Ganga.Muíça e bem armado. Suas armas eram arcos, flechas, lanças e
aparecimento conseqüente da agricultura, surgiu o primeiro rudimento armas de fogo tomadas das expedicöes punitivas, dos moradores
de governo entre eles. Foi escolhido para dirigi-los Ganga•Zumba, pelos vizinhos, ou compra. das. O governo, em 1670, estava ciente das
méritos demonstrados na guerra. Era Palmares, como já foi acentuado "muita8 e contínuas mortes e assassinatœ que se comptem a espingarda
por Nina Rodrigues e Édison Carneiro, uma imitação dos muitos reinos nesta Capitania e anexas por escravos. mulatos, forros e cativos". Nos
na Áfriea, onde o chefe é escolhido entre os mais capazes na baluartes construídos. o exército do Ganga•Muíça vigiava a segurança
dos palmarinos. "Em tempo de paz — diz Rocha Pita — nas três
guerra e de maior prestígio eles. Esse rei governou o ano de 1678
plataformas que se localizavam sobre as três portas principais do
quando, havendo negociado a paz com os brancos. perdeu o prestfgio
mocambo do Macaco, havia uma constante vigilância: era "cada huma
entre seus pares e foi assassinado, tendo sido substituído por Zumbi. que
guardada por hum dos seus capitães de mayor supposiçño, e mais de
200 soldados " 0 quartel-general desse exército era o mocambo de Barra do Parúgavo". Continua penosamente a marcha da expedição até o dia 18, quando
Subupira, onde era dada instrução militar. Ese mocambo parece que era chega ao "Oiteiro dos Mundéus. ou monte de armadilhas, porquanto em cima dele havia
uma espécie de praça forte, toda cercada de madeira e pedra, com mais bem 50 ou 60" e a urm milha adiante topou com urna plantação dos negros com algumas
de 800 casas. Estava completamente cercado de fojos e estrepes que "pacovas verdes", atravessando daí por diante roças dos quilombolas : "um denso canavial na
quase tornavam impossível seu acesso. extensão de duas milhas". Foram ter em seguida ao chamado velho Palmazæs, sítio
Além do exército, o sistema defensivo de Palmares constituía o abandonado escravos fugidos. Os holandeses encontraram um mocambo com "meia milha
outm elo de sua segurança. Consistia em "huma estacada de duas de comprido e duas portas. A rua era da largura de uma braça, havendo no centro duas
ordens de paos lavrados em quatro faces, dos mais rijos, incorruptíveis
cisternas ; um pátio onde tinha estado a casa do seu rei fora transformado em um grande
e grossos " A defesa principal da capital era a famosa cerca que tinha
largo no qual o rei fazia exercím"o com sua gente." Acharam duas de paliçadas ligadas por
2.470 braças, três portas guarnecidas por plataformas, além de fojos —
enormes buracos contornando-a internamente — e estrepes de ferro que travesús, tudo abandonado e co• berto de mato. As tropas marcharam cerca de milha e meia
impediam a marcha dos exércitos atacantes. por entre roças abandonadas, acampando em uma delas onde ainda haviá quantidade de
Já havia Palmares assumido nessa altura grandes proporções. Sua bananas suficiente para matar-lhes a fome. Af descansaram e reiniciaram a marcha no outlÝ)
população foi calculada em 20.000 habitantes e seus domínios se dia (19) para outro Palmares, tarnbém abandonado, "onde estiveram os quatro holandeses,
estendiam por um paralelogramo de cerca de 27.000 quilômetros com brasilienses e tapuias" : certamente a expedição dc Baro. Esse quilombo também estava
quadrados. abandonado, pelo que 08 holandeses continuaram a marcha, andando mais três milhas.
pernoitando nas margens de um riacho. Seguiram no outro dia para a frente, encontrando
(4) — Pita, S.: — op. cit.. p. 299. daí por diante com freqüêneia mo. cambos de quilombolas. Finalmente, no dia 20 — depois
(5) — Rocha Pita, S. op. cit., p. 299. de 25 dias de marcha, portanto — chegaram à região habitada pelos ex-escravos,
187 arnanhecendo o dia 21 marco às portas do grande quilombo. Defronte da porta principal,
Ainda sob o domínio doa holandeses será organizada a primeira "dupla e cercada de duas ordens de paliçadas, grossas travessas entre ambas" postaram-
"en. trada" contra Palmares. Partirá em 1644 a expedição punitiva se os expedicionários, inveg-
que iniciou a série de combates aos quilombolas durante a ocupação 188
batava. Fbi cornarKlada por Rodolfo Baro. Depois de vários dias de tindo em seguida para arrombá.las violentamente. No lado interno da
viagem, chegaram os holandeses à região habitada pelos ex-escravos, cerca havia um fosso cheio de estrepes onde caíram dois homens da
travando combate. Durante a refrega safram feridos 4 homens da tropa. Quase não havia gente no quilombo: declararam os prisioneiros
expedição. Um foi morto pelos palmarinos. Os negros perderam estar o restante dos ex-escravos no mato caçando ou plantando. O
maior número de mens, tendo sido aprisionados 31, inclusive Rei, avisado da aproximação das tropas, havia também fugido. Os
alguns mulatos e índios. Os holandeses regressaram, pensando que holande• ses aprisionaram um ex-escravo com a mulher e o filho, e
com esse primeiro combate haviam destruído o que chamavam os mais uma negra, Outra encontrada no quilombo foi degolada por um
Palmares grandes. dos solda. dos da expedição. Ese mocambo possuia 220 casas. Erguia-
O certo é que em 1645 (26 de os holandeses viram-se na contingência de se uma igreja no meio, a casa do do Rei, além de qua!ro
enviar nova expedição punitiva comandada por João Blaer em face do recrudescimento das fojos, Foram encon. tradas ainda roças dc milho novo, azeite de
atividades dos negros. Não 8a. bemos ao certo o número de homens que a compunham, mas palmeira e objetos de utilidade quilombolawA população seria de
tudo leva a acreditar que era bem maior que a anterior. Partiram de Pilar e dirigiram-se para 1.500 habitantes, sendo 500 homens e o restante mulheres e crianças.
as matas onde se encontravam os negros. Andaram até o dia 28 de fevereim sem nenhum Imediatamente foi enviado um sargento com vinte homens para
acontecimento de monta. tendo nesse dia apenas encontrado grande número de mundéug, prender o Rei que, segundo informações obtidas, se encontrava em
denunciador da proximidade dos quilombolas. No dia 3 de marco os componentes da uma casa duas milhas distante do loca] em que se achava a expedição,
expedicão, a essa altura comandada por Reijmbach (Blaer retirou-se no dia 2 de marco dando A batida foi, porém, infrutífera, pois o Ganga%umba evadiu-se de lá
parte de doente), acamparam junto a um rio de nome Saboú. No dia 6 reencontraram os que também ao saber da aproximação das tropas. No outro dia, 22, ainda
foram levar o Capitão Blaer "a 5 milhas do engenho de Gabriel Soares, no lugar chamado
deram uma batida nas matas sem proveito algum. além de prenderem O certo é que afrouxaram os ataques aos quilombolas, fato que
uma negra coxa, que deixaram por não poderem transportá-la. Depois serviu para que os palmarinog se sentissem forteg e reiniciassem
disso, incendiaram todas as casas do mocambo e dos vizinhos, além de ataques contra propriedades dos senhores de escravos. Isso traria,
se apoderarem de grande quantidade de víveres. Excluindo-se alguns como conseqüência, um acordo entre as vilas de Porto Calvo e Alagoas
escravos desgarrados, nada mais encontraram. O resto, foi a longa (1668) para que pudessem exterminar Palmares, concorrendo ambas
viagem de volta. com as despe. sag da campanha. Apesar disso, as expedições enviadas
contra os escravos fugidos nada de definitivo conseguiram. Assim
Essa segunda expedição punitiva deve ter produzido uma foram as de Antônio Jácome (1672) e Cristóvão Lins (1673), apesar de
exacerbacão de ânimo nos ex-escravos. Parece que reiniciaram as haver o primeiro conseguido aprisionar 80 negros, número que
atividades na região, atacando fazendas. Contudo, somente depois da devemos avaliar, tornando em consideração o fato de existirem 20-
restauração é qtæ encontramos notícias de novas atitudes repressoras 000 escravos aquilombados, para vermos que não foi tão brilhante o
sob a direcão, portanto, de autoridades portuguesas. Várias investidas feito. Apenas repetiu o que já havia sido realizado pela expedição de
de pequena repercussão e efeito serão feitas contra Palmares. Ao todo Blaer; aumentou o resultado na porção do crescimento do número
— segundo Édison Carneiro que pesquisou exaustivamente o assunto de escravos fugidos.
— teriam sido 16: duas durante o domínio holandês e as restantes já
sob o tutela de autoridades portuguesas. (6) Se tomarmos como base Em seguida (1675) partiu uma expedição chefiada pelo
as pesquisas de Édison Carneiro, passaram-se vinte e dois anos até que Sargentomor Manuel Lopes "cuja experiência, zelo e valor prometeu
outra expedição seguisge para combater os quilombo]as, tempo que bom sucesso às esperanças que nele se fundaram." A expedição partiu
achamos excessivamente longo. O que devemos acreditar é que há um de Porto
período sobre o
(7) — op. cit. — que qualidades de Manuel Lopes como comba. tente
(6) — Edison Carneiro afirma ter sido em número de 18 as expediç5ee enviadas promovido contra Palmares •a mestre foram de declarando pelas o autoridades
contra Palmares. na sezuinte ordem: Rod(Mo Baro, 1844 e Joao Blaer. 1645. LIS0•
brasileiras: Zenóbio Accioly de Vasconcelos. 1967; Anttnio Jácome Bezerra. 1672; mmarca português de Portugal. que Foi Manuelpcc Lapes o serviu 'no estado do Brasil
Cr'stóvåo Lins. 1673: Manuel Q)pes. 1675; Fernão Carrilho, 1677: Gonçalo Mmæira. por espaço de cinquenta e tNs anos efetivos
1679; André Dias, 1680; Manuel Lopes. 1682; Fernão Carrilho, 1686; Domingos Jorge
Velho. 1692 e novamente em 1694. O documento "Relacio das Guerras Feitas aos de desde soldado, o de seiscentca cabo-de.esouadra, e trinta e e cinco urgento. até o
Palmares de Pernambuco no Tempo do Governador Pedro de Almeida. de 1675 a 1618" alferes, de seiscentos capitão e oitenta de infantaria. e em tenente.praça general da
tão citado neste capítulo. dá um total de 25 entradas até o ano de 1677. númc. ro Edison guerra doe palmares, e sargento.mor de um dæ terços da guarnição da praça de
Carneiro acha exagerado, reduzindo.o pare 16. Nina Rodrigues, ba• seado no mesmo
documento e no trabalho de Pedro Paulino da Fonseca, que por seu turno usara a Pernambuco, que atualmente está exerStando, achando-se no curso deste tempo nas
mesma fonte, consagra como reai o número que Édison Carneiro acha excesMvo por ocas\öes que lhe oferecem contra os holandeses nas da Mata sitio Redonda o Ccmde
diversas razões. O certo porém é que nenhum número pode considerado definitivo por da Barra de Nassau Grande, no cidade recontro da do Bahia, e nos Una, assaltos e Porto
falta de documentos capazes de dirimir as dúvidas de uma vez por tödaz e estabetecer
uma opiniåo definitiva sobre a queståo_ No presente capitulo referimo-nos às prindpais que Calvo, lhe deu;no
nas quatre batalhas que o Conde da Torre teve com a armada holandesa à vista de
Pernambuco; e saltando em terra com o Mestre-de—Ca.mpo Luís Barbalho
189 marchando pela campanha do inimigo para a Bahia mais de quatrocentas e quatro de
qual notícias, pois não é possível que os portugutses tivessem que houve com os holandeses se haver com 882istaçäo e com Igual procedimento nas
tomadas das fortalezas de Nazareth e Serinhaém, e no farte do Engaiana. na
deixadO og palmarinos durante tempo à vontade. Em 1667 seguiu a expu_rga.cu de duas casas fortes; nas ocasiöes da várzea do Capirabe, Topissou, e
pediçäo de Zenóbio Accioly de Vasconcelos, não obtendo, contudo, Salinas; no rencontro da Paraíba. nas duas batalhas dos Guatæ.rapes, em que se lhe
nenhum resultado prático. deram dois escudos de vantagem; na recuperacåo de todas as fortalezas do em que
procedeu oom tanto valor que lhe deram outros dois escudos de vantagem; e nas
Blerras dos Palmares se haver com bom procedimento, formando levantando gente, e
conduzindo mant[mentos com rmúto Euldado. e indo por vá-Nas vezes faær àqueles A primeira investida foi sobre a cerca de Aqualtune, mãe do Rei
negros considerável Mno, suportando o trabalho dos e fomes da Campanha. e sendo Ganga-Zumba, distante trinta léguas do ponto inicial da marcha.
encarregado do apresto dag frotas. dar-lhe grande expediente por haver na carga delas
com Imediatamente atacaram a cerca tendo matado muitos negros e
"surpreendido 9 ou 10", não encontrando, porém, a mie do Rei, que
se muito fez aos negms e da. mesma dos palmares, maneira se em haver que se na lhe conseguiu Apenas uma de guas escravas foi encontrada, morta.
vila matou da Alagoa o seu do governador Sul na Guerra Zumb( quee muita gente por
cuja caum t!camm livres agueles moradores: havendo.se na dÌg. posiçåo da guerra e Pelos prisioneiros soube Fernão Carrilho que o Rei se encontrava no
dos com grande caldado; e em todo o tempo que go. vernou Pernambuco Aires de mocambo
Sousa tchar em repetidos perigos. e encontros que teve Cöm os ditog negm-s indo por
cabo de duzentos e tantos homenn com que thes fez guerra em várias parte do
Recôncavo, gastando nela muitos meses e matando•lhes mus de otocenta.a pessoas; e ano e meio nesta operação; e indo em com cento e quarenta bomeng a
sucedendo naquele governo D. João de Sousa, na dite guelT8 eom a mesma buscar os ditos negros rebelde8 e pelejar com eles dæalo!ando-os do
zelo e valor gastaMlo estavam fortificados. e entrando nele lhe pôr fogo queimando mais de que nele tinham,
arrancando, talando. e destruindo todos 08 seus mantimentos, em que causou grande
190 dano; e no curso do tempo referido passar grande trabalho. e dæc-ömodo de sua dando
execuçåo de tudo quanto lhe foi ordenado do meu serviço; e no reparo da fortaleza de
Calvo a 23 de setembro, com 280 homens brancos, mulatos e índios c
Tamandaré na otasiåo, em que um corsário andou por aquela costa o fazer com
somente a 22 de dezembro encontrou o reduto principal dos negros: dispostçäo e brevidade: E por esperar êle Manuel que da mesma maneira me servirá
"uma grande cidade de mais de 2.000 casas, fortificada de estacada de daqui em diante em tudo o que for encarregado do meu ærviço. conforme à confiança
pau.a-piqne e defendida com três forçhs e com soma grande de de. que faço da sua Het por bem fazer-lhe mercê do posto de Mestre Campo em un dos
fensores. " O combate, parece, foi dos mais violentos de quantos fo• tercog da guarni*o da de Pernambuco". (Consulta do Conselho Ultramari. no de 18 de
novembro de 1699. — publicado por José Augusto in "Famílias Nor• destinas", Revista do
ram travados contra os palmarinos, tendo 08 ex-escravos resistido du• Histórico do Rio Grande do Norte, Vols. XXXV a xxxvii — 1938-1940. p. 100/103) .
rantz duas horas ao fogo dos atacantes. Finalmente vencidos, viram (8) — Relacso daa Guerras.. . loc. cit., p. 193.
suas casas queimadas, além de terem muitos mortos e feridos. Os
191
atacantes fizeram 70 prisioneiros. No dia seguinte os palmarinos
novamente travaram combate com as tropas de Manuel Lopes, tendo, Subupira, juntamente com seus lugares-tenentes, a fim de se defender
no final, batido em retirada para mais longe. Os expedicionários do ataque "em forma de batalha."
continuaram "campeando sempre aquelas espessuras:" Esses ataques No dia 9 de outubro partiu a expedição para o mocambo Subupira
fizeram com que muitos ex-escravos voltassem às casas dos seus onde travaria combate com as tropas palmarinas. Chegando defronte da
antigos senhores. Os quilombolas, na sua maioria, porém, continuaram cerca, Fernão Carrilho enviou 80 homens para um exame preliminar da
resistindo, tendo se refugiado para além 25 léguas do sitio atacado. O lægiäo e inteirar-se da verdadeira situaçño da cerca. Voltaram com a
sargento-mor não lhes deu descanso e partiu no seu encalço, notícia de que os quilombo!as haviam mais uma vez incendiado suas
encontrando-os e com eles pelejando, tendo nesse combate saído casas e que "só as cinzas eram demonstração de sua grandeza." Em
ferido a bata o Zumbi, "negro de sin• gular valor, grande ânimo e vista da fuga dos negros, deliberou Fernão Carrilho formar arraial no
constância rara." Teria aleijado, se gundo um documento da época. sítio, batizando.o com o nome de Bom Jesus da Cruz .
Depois da expedição de Manuel a luta contra Palmares passa a Em seguida enviou emissários solicitando reforços e destacou uma
uma nova etapa com a chegada de Fernão Carrilho, convidado para turma para dar batidas nas redondezas. As deserçöes, porém, Se Suce•
dizimar os escravos aquilombados. E se prepara para tentar exterminá- diam nas fileiras dos atacantes. Vinte e cinco membros fogem. Dias
los. depois o número de deserções cresce para cinquenta. Fernão Carrilho
viu-se reduzido a cento e vinte homens. No arraial permaneceu a expe•
No dia 21 de setembro de 1677 partiu Fernão Carrilho da Vila de
dição, aguardando os socorros que vieram pouco depois: vinte soldados
Porto Calvo para combater Palmares. Sua expedição contava apenas pagos. sob o comando do Sargento-mor Manuel Lopes, já conhecedor
185 homens "entre brancos e índios do Camarão", número bem menor da região em anteriores.
que os das expedições passadas.
As batidas se sucederam; Fernão Carrilho enviou 50 homens para Alves. Outras escaramucas se sucediam nas matas entre ex-cscyavos e
capturar cativos por perto "os quais seguindo uma trilha que senhores.
descobriram tiveram um famoso encontro com os negros que estavam
juntos." Travou-se o combate; foi uma grande derrota para os D. Pedro Almeida mudou dc tática e enviou am alferes ao local cm
palmarinos, que perderam considerável número de guerreiros, sendo que sc encontravam os palmarinos. industriado para dizer que todos cs
aprisionados 56 Nesse combate, travado quase que por acaso, caiu sobreviventes do quilombo seriam exterminados caso nio quisessem a
prisioneiro o Gangas Muíça "grande corsário soberbo e insolente", paz com os senhores de escravos da região e o governo; se se
chefe dos exércitos palma. rinos e mais os "capitães de guerra" do rei: submetessem, porém, veriam respeitados seus direitos, ser-lhes-iam
João Tapuia, Ambrósio e Gaspar. O rei conseguiu fugir fornecidas terras e devolvidas as mulheres apn»sadas pelos portugueses.
Animados com esse sucesso, prosseguiram os homens de Fernão Feito isso, ficaram aguardando os acontecimentos.
Carrilho dando batidas constantes nas matas. Tendo notícias de que o O Rei Ganga-Zumba parece que não aguentou, com o ânimo que as
Rei GangaZumba se encontrava com Amaro no seu quilombo a 9 léguas circunstâncias exigiram, os golpes e as derrotas. Via a maioria dos seus
de Serinhaém, marcharam, imediatamente para lá, atacando-o, principais capitães morta ou aprisønada; o Ganga.Muíça, seus filhos
realizando um "notável cstrago , aprisionando 47 negras forras, além de Zambi, Acaiene, Toculo, netos e sobrinhos aprisionados ou mortos em
uma mulatinha filha natural de um importante de Serinhaém, raptada combate; os cabos-de-guerra mais afamados iá vencidos pelo adversário;
pelos exescravos. Prendem ainda dessa vez inúmeros membros as principais cidades da República, destruidas pelas tropas invasoras ou
importantes do quilombo: dois filhos do rei (Zambi e Acaiene), além de incendiadas pelos próprios palmarinos; suas roças devastadas pelas
netos e sobrinhos que caíram em poder das tropas legais. Nesse expedições sucessivas tropas enviadas de Fernão contra Carrilho eles: o
combato o rei perdeu um filho (Toculo) que morreu, e um cabo de QG. efe da próprio República ferido arra-Cm
valimento entre eles; Pacassa. O rei fugiu mais uma vez, deixando no
sado em 1677 pelas
campo uma espada uma pistota dourada, Feriu-se durante a luta.
um dos combates.
Fernño Carrilho, porém, não descansou nem deu tréguas aos Nessa situação o Rei Ganga.Zumba, em face dos oferecimentos de
quilombolas e enviou ao seu encalço 50 homens e 4 capitães que tlño paz dos portugueses, achou vantajoso entender-se com eles. negocian•
encontram o rei. Apenas uma tropa de quilombotas atemorizada com os dCÞa. Resolveu enviar uma embaixada papa acordar a paz com o go•
re• veses, sem destino certo, foi encontrada, com ela travando combate: verno. Era composta dc três de seus filhos e mais doze palmarinos. Isso
uns outros caíram prisioneiros. A ofensiva de Fernão Carrilho não no ano de 1678.
esmorece: batidas constantes são dadas nas matas, negros aprisionados
Recebidos por D. Pedro dc Almeida, manifestaram seus desejos
freqüentemente. Tamanha foi a matança, incêndios e prisões, que
Fernão Carrilho deu por esmagado o Quilombo dos Palmares; pacifistas assim como do Rei Ganga-Zumba. O Governador Aires de
extermi192 Sousa, a quem foram regozijo, em seguida mandando remetidos, dar-
nados os quilombolas, retirou-se cheio cie glória para Porto Calvo, onde
lhes recebeu-os roupas com c "fitas manifestações várias." Osdc
foi recebido festivamente, assistindo missa solene em ação graças.
Entre os prisioneiros feitos por Fernão Carrilho, encontrava-se um
negro de nome Matias Dambi, sogro de um dos filhos do rei e uma benignidade do e Rei Ganga-Zumba foram à igreja, o Conselho
negra chamada Madalena, Os portugueses mandaram-nos, entño, de assistindo do Governador, missa solenefi-
volta a Palmares com ordens de rendição sob pena de perderem os enviados cm aç50 de graça. Reuniu-se estava aprovada em seguida "a
quilombolas "suas relíquias e rei". serem atacados e esmagados em peticao do rei dos Palmares, cando assentado que cm que pedia paz,
seguida. Ainda nem bem Fernão Carrilho havia terminado de liberdade, sitio, e entrega das mulheres", e estabelecido que "Lhes
comemorar a extin do reduto, chegavam informaqöes de que um dessem para e plantas; vivenda que o sítio se assentasse que eles
grupo havia entrado em choque com um destacamento dc Francisco apontassem, a paz; e que a o pazrei
para a sua habitação, se recolhesse a habitar o lugar determpnado; que
fossem livres os nascidos nos Palmares; que teriam comércio, e (9) — Idem, idem, 205.
trato com os moradores.
193

um dos Tudo filhos escrito, do rei, foi por entregue doente.aos palmarin.os que regressaram, ficandoegcrfpta a meu antecessor Dom João de Souza, em que lhe
pediäo huag
Patentes de Capitão Mor."
Imediatamente foi comunicado ao Conselho Ultramarino o pacto se-
lao com os ex-escravos tendo, porém, o acordo recebido daquele órgãoDomingos Jorge Velho, depois de acertar condições para investir

a despacho tica mais é sempre formal à comunicação um desaprovação. meio engano — "a Isso e experiência ainda porquepelo — tem que dizia toca mostrado aquele
a nossa que Conselho reputação"esta prá-em os contra giã.o índios dos os quilombolas, Jandoins ex-escravos, na por após Capitania volta desviar do do mês sua Rio d
marcha Grande dezembro uma do Norte, de vez, 1692 para chegou — combatersegundoà re-

e "à vista com eles com menos opinião pois isto são uns pretos Édison Carneiro e imediatamente iniciou o ataque. O primeiro fugidos e cativos. que, porém,
näo foi muito feliz para os paulistas, que sofreram revide à altura da parte dos comandados de Zumbi, ficando desamparados nas Reação de desaprovação
semelhante verificou.æ em
chefes militares de maior prestígio colocaram-se contra o Palmares. acôrdo e, de.Os margens, Calvo, onde sem iriam mantimentos. se reabastecer Tiveram e
descansar.de recuar para a Vi'a de Porto

e pois entregar de discutirem a direção o de assunto, Palmares resolveram ao Zumbi, desrespeitá-lo, sobrinho do executar rei, elementoo reiEnquanto isso
Zumbi e sua gente aproveitaram o descanso dos paunôvo e de "grande valimento." Assim, quando chegaram as ordens emlistas para se fortificarem
no cume da Serra da Barriga, dentro das contrário do Conselho Ultramarino, já a maior parte dos escravos se haviacercas, protegidos pelo seu sistema
defensivo.
colocado ao lado de Zumbi e reiniciado a luta contra os senhores. Re.Ali ficaram em posição de defesa, esperando as f0i'ças inimigas para sulta disso
seguirem tropas — sem grandes consegüências, aliáso combate final. mandadas por Gonçalo Moreira para esmagar os adeptos de Zumbi, que se
encontravam com seu comandante refugiado em Cucau (1679) .Diante dessas fortificações parou a segunda expedição de Domingos Jorge Velho (1694).
Surpreendido com as fortificações e recursos
Em 7 de novembro do ano de 1685 0 Governador de Pernambuco defensivos dos ex-escravos não ousou ordenar o ataque. solicitando refornarrava
para a Metrópole queixas fazendo das (os "Câmaras negros e de Povos Palmares) circunvizinhos"matando cos dos ao de infantaria Governador. e outros
Atendendo homens a seu da região, pedido, também foram enviados incorporados, 108 solda-para
das "tiranias que lhe estão moradores, saqueando-lhes casas". conjuntamente darem cerco e combate ao grande reduto. Vinha, coman-
seguiu. barrar-lhe que ianeim se Fernão colocou A de o 1686. avanço. Carrilho defensivamente travando continuou Foram, segue, logo finalmente, contudo, em entre
direçäo combate derrotados Palmares em com nova um e e entrada, a Fernão grupo expedição, de Carrilho no palmarinosdia tentando10 pros.de e do finalmente
dando a flechas. atacar outro as lado o tropas disparados reduto o ataque, das pernambucanas, dos tropas foram dos negros. do baluartes, recebidos paulista. que
Bernardo aparecia tomo e Ambas rechaçados Vieira de como não água inexpugnável. de se com Melo, fervendo, atreviam, "armas que se e contudo,Iniciadode
brasaspostoufogo

roçag teve de e a ser prisão marcha suspensa. de alguns Nada ex-escravos.adiantou de ao prática reduto senão até o inverno, a destruição quandodeconseguissem
acesas". continuava renhida Os vitória. primeiros e sem Os grandes ex.escravos combates progressos se resistiam sucederam para heroicamente. sem os paulistas. que
os atacantesA Os pelejaata-
sivas Palmares. tência a lho Joü) próxima e Somente da expedições, experimentado de Cunha Domingos derrota "Recebi com Souto sofrerão o dos Jorge aqui
aparecimento paulista. Maior. ex-escravos. agora carta Velho em
Brn um de carta e 7 de de Já ataque de Paulistas seu Domingos
severamente ao novembro Conselho oferecimento sistemático que
Jorge de castigados Ultramarino, andäo 1685 por Velho para já
parte nos exterminardelineia-seanunciavapor sertõesa do suces-
exis-ve.cerca açäo. ques a retirada. posicio eram Os construída ex-
escravos Notando era todos insustentável. rechaçados, pelos existir
começaram sitiantes a;nda muitos Zumbi, a um por sentir vão com
ordem então, de falta perdas sete aplica de de ou munição
Domingos entrou para oito o último de braças os e Palmares.
sitiantes. mantimentos artilharia Jorge IN¾nrSO: na contra-
Velho,Vá.emFi.a: rios soldados haviam ficado "estrepados" nas
defesas nalmente, por ordem de Domingos Jorge Velho, a

executa uma manobra cheia de audácia, evacuando durante a noite seus homens. aproveitando-se dessa saída, pelo vão que bordejava o preci-
Ernesto Ermes: "Consulta "As Guerras do Conselho Ultramarino de 8 de agosto de 1685" — Apud.pício. Somente no fim é que uma das sentinelas pressente a fuga.
dando

escravos "que em nenhuma revoltados maneira e as autoridades se nos lhes Palmares". admltam. coloniais porque p. 142.a experiência João Ainda de sobre Sousatem acordo
mostrado entreaalarma. piedadamente. Os atacantes matando investem cerca de sobre 200 e os aprisionando ex-escravos mais em retirada. de 500. Quan.desa-

com que as Intentam ændo em ordem contemporizar com o novotidade igual à dos mortos em combate se precipitou no abismo. Assim

Porto nador nhuma Calvo que se lhe ehega. (como PCde ou mais fazer quando expostas mals pela ofensiva às sua tnva.s6eg escandalosa Que conservar dos seus culpa as os capitania* ameaça dois das a arralais
guerra, Magoe nas3 ne.6mesmo Zumbi conseguiu escapar, com muitos dog seus soldados.
eminências nesto Ennes. gue cp. se cit., julguem p. 40).suficientes as Correrias que façam" (Transcrito por Er- Pita, s _ '"História d. Amér:ca portuguesa", Salvador. 1930
194
195
Estava ocupada a capital da República dos Palmares, após 22
dias de resistência.
Depois disso é uma caça que se realiza ao valoroso chefe dos
quilom• bolas. Transforma-se em guerrilheiro, ninguém mais o
consegue localizar com segurança: somente pela traição será
morto, tempos depois
Numa dag batidas contra os homens de Zumbi as tropas legais conu
seguem aprisionar um dos seus lugares.tenentes, mulato de "maior valimento."
Prometendo-lhe liberdade, pediram que denunciasse onde Zumbi se
encontrava. Foi assim conduzida a tropa até o líder quilombola que se
eneontrava oculto já "tendo lançado fora a pouca família gue o acompanhava",
ficando somente com 20 companheiros num "sumidouro que artificiosamente
havia fabricado" . Nesse local foi encontrá-lo a tropa, atacando-o de
Assim mesmo pelejou "valerosa ou desespera• (lamente" matando um homem
e ferindo alguns, sendo em seguida assassinado com seus companheiros.
O Governador Caetano (le Melo Meneses ordenca que sua cabeça fosse
pendurada em um pau e exposta "no lugar mais público desta Praça a
satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os Negros que
supersticiosamente julgavam esse imortal." Estava terminada a República de
Palmares.
No ano de 1697 havia 30 ex-escravos atuando no interior,
como reminiscência do poderio do antigo reduto da Serra da
Barriga. Em 1704, na Serra Negra, apenas sessenta quilombolas de
Palmares, com armas de fogo, enfrentavam o Capitão-mor
Francisco Soares de Moura.
(12) — Baseamo-nos aqui no documento "Consulta do Conselho Ultramarino
de IS de agosto de 1686, em que o governador da Capitania de Pernambuco dé
conta de se haver conseguido a morte de Zumbi e o perdüo que se deu ao mulato
que
o entregou", apud. Ernesto Ennes. op. cit., p. 142. Revoltas em São Paulo

196

O escravo negro entra tardiamente como fator determinante do di. namismo


económico de Mo Paulo. Enquanto outras áreas (Io território nacional já se
haviam abarrotado de màlÞde-obra escrava, importando diretamente do
continente africano milhares de negros, e haviam passado pelo ciclo da
prosperidade entrando em decadência, somente no sé. culo X LX a injeçäo do
trabalho escravo servirá de força impulsionadora da economia paulista de
maneira determinante. Desta forma, quando a grande procura da
escrava se faz sentir em São Paulo, não será fundamentalmente suprida pelo
Continente Negro, através de estoques diretos. Será abastecido por outras regiões
do Império onde a decadência da agricultura de exportaçüo fazia do braço
escravo excedente, ocioso, mais um ônug do que um lucro certo ou investimento
satisfatório. Nada rendia. Apenas consumia, onerando assim ainda mais a já
carcomida e decadente economia daquelas zonas. (D

• 'Náo havia a principio negros de Guiné. E só aos poucos viriam para cá. O negro
costava em média O paulista, paupérrimo, precisaria vender quarenta vacag para comprar um negro. !
Os ricos senhores de engenho de pernambuco e Bahia é que absorviam a carga do navio negreiro. Só
em aparece men• cionado num dos Inventários um negro de Guiné. E através de todo o século XVI! o
é Em inventários opulentos — o leitor mberá dar ao adjetivo. no o seu valor relativo — em que
entram centenas de escravos índiog. nio se menciona. àg vezes, um único . (Otoniel Mota: "Do
Rancho ao Palácio", São Paulo. 1941, p. 87) , Outro estudioso afirma: em 1607 que aparece pela
primeira vez um negro de Guiné. Estimam.no em quarenta mi2 réis. soma exorbitante para a época.
O vaaor das da rnd-ia, ou da Angola, Ou fôlegos vivos, 8u• menta de ta] sorte com Q decor:er dos
anos. que um tapanhuano ladino. ou educa. do, vale duzentos e cinquenta mil réis ao tempo de
Leonor de Siqueira. Mdeques, moiecŒ8, moieconas apeancam preços exagerados. Ao invés do que
sucede com os indígenas, a demasiado tenra ou avançada e a própria moléstia nio desvalorizam de
todo os africanos. Em oito mil réis é alvidrado um pretinho de dez meses, em trinta, um de dois anos;
em vinte e cinco um negro velho: em igual quantia uma moleca doente de gota coral, e assim também
uma negra maaoa pés. aleijada, cria de braço ( ) Tudo isto exptjca o número diminuto de
tapanhuan08 que fixu. ram nos acervos setecentistas. Cento e poucos. ao todo. Arrolam-nos muita
vez sob a genética de pecas de Guiné. Vários são nomeados corno pe;tencentes ao
gentio de Angola. Só "08 inventários do XVIII é que se eneontram individuados africanos de nação
benguela ou bangueia, moniolo ou munyollo, mina e cabo-verde". (Alcântara Machado: "Vida e
Morte do Bandeirante". S. Paulo, 1920, p. 187) Interpretando inventários seiscentistas, Florestan
Fernandes conetui: "Em _

199
Compreende-se. As áreas decadentes do Nordeste e I_Æst.e que As lutag de escravos em São Paulo têm, portanto, conotações
concentravam nas suas atividades o grosso da população escrava já não especfficas. Do ponto de vista da classe senhorial concordamos com
possuíam mais a taxa de rentabilidade antiga. A primeira dessas re• Celso Furtado quando diz que "desde o começo (da economia cafeeira),
giöes, em decorrência da queda da sua agricultura de exportação; a gua vanguarda estava formada por homens de experiência comercial.
segunda pela exaustão da produção aurífera e diamantífera que fora toda Em toda a etapa da gestação os interesses da produção e do comércio
drenada para Portugal. Minas Gerais e o Nordeste encontravam-se em estavam entrelaçados. A nova classe dirigente formou-se numa luta que
pleno processo de decadência quando explodiu o surto cafeeiro em São se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento da
Paulo, no Vale do Paraíba, exigindo mic-de•obra escrava. Os resultados mão-deobra, organização e direção da produção, transporte interno,
dessa demanda não se fizeram esperar. Em primeiro lugar através do comercializaçño nos portos, contatos oficiais, interferência na política
aproveitamento da mão-de-obra escrava excedente de Minas Gerais que financeira e econômica."
se encontrava em disponibilidade, em face dos fatos a que já nos referi. Como vemos, a complexidade da economia cafeeira se, de um lado,
mos. Em segundo lugar manifestou-se pela procura de parte da escrava• exigia a mão-de-obra escrava no setor da produção, pois de outra forma
ria do Nordeste. Minas Gerais logo depois entraria no ciclo do café. di. não se poderia realizar a empreitada, de outro lado, pelo seu dinamismo
ficultando o êxodo para São Paulo. Os escravos das outras províncias interno, criaria uma defasagem progressiva com esse tipo de trabalho,
seriam, por isto mesmo, o material humano de que lançariam mão os defasagæm que se acentuaria com o decorrer do tempo. Isto quer dizer
fazendeiros de café. que o trabalho escravo já era uma solução anacrônica para o problema
Do ponto de vista que nos interessa mais diretamente no presente da mão-de-obra na cafeicultura. Ele só foi aceito por imposição do re
ensaio, cabe salientar um detalhe: tal fato levou a que enorme parte dos gime global que existia no país e que tinha o trabalho escravo como so-
escravos que vieram para São Paulo fosse constituída de ladinos e bora n'O se p0"a afirmar seguramente nada, é knsta_nte provável, a julgar pela existente.
criou10s. Poucos eram boçais. Estes últimos penetraram em São Paulo que o número de negros. na populaçåo de Sio Paulo nos fins do "culo XVI, era. muito
em anterior ao surto cafeeiro e, embora não fosse insignificante o pequeno" (Florestan Fernandes: "Mudanças Sociais no Brasil", S. Paulo. 1960. p. 214).
seu número, não pesaram demograficamentæ — no conjunto da (2) — Furtado, Celso: — Formaçäo Econômica do Brasil, Rio de Janeiro, 1959,
população escrava — de forma absoluta, pelo menos no período que p. 139.40.
mais nos in. teressa. 200
luçäo permanente para a produção, pois estava subordinado à economia se encon. trava em disponibilidade se verificará, O impasse, ou melhor,
colonial da qual éramos a parte passiva. Desta forma, o escravo boçal a con. tradição faz-se sentir imediatamente e as primeiras levas de
não terá participação importante, mesmo porque, àquela altura, o tráfico imigrantes são contratadas. Faz-se uma política migratória deliberada
já estava extinto. Todos esses elementos devem ser levados em conta para suprir os bolsões de atividades não executadas, muitos dos quais
para que possamos ter uma visão objetiva do assunto. decorriam
Daí podermos afirmar que há uma diferença substancial nas for
de resistência dos escravos que se manifestaram antes e depois do surto Vi0tti da costa, ErrdUa: — Da Senzala COIOnia, 1966.
cafeeiro. Na primeira fase vemos o escravo reagir isoladamente, 201
algumas vezes de forma violenta, embora a fuga e o quilombo sejam as da própria complexidade do trabalho a ser feito. O sistema de
duas formas típicas de resistência nesse período; na segunda fase o parceria é introduzido em algumas fazendas. Coexistem aggim duas
escravo já participa do próprio processo abolicionista, compreendendo
formas de trabalho irreconciliáveis: o livre e o escravo. É desta
ou pelo menos intuindo os seus objetivos. Para que tal estado de espírito
contradição que surgirão os que irão particularizar as lutas
se manifestasse no elemento cativo, contribuiu a própria dccomposiçäo
dos escravos paulistas.
do trabalho escravo; o contato do cativo com colonos esn•augeiros; a
ligação de certas correntes abolicionistas radicais com os escravos nas Outro fator que irá influir no comportamento da classe senhorial
fazendas e a compreensão — por parte de uma camad:•, considerável da é que ao ser extinto o tráfico, muitos capitais disponíveis e que foram
burguesia paulista — da necessidade de se extinguir aquele tipo de em no comércio negreiro serão investidos na compra de
trabalho. Os grandes centros abastecedores de Sio Paulo eram as outras fazendas de café. O antigo traficante vê-se, paradoxalmente, ao se
províncias. Numa dessas muitas levas — os chamados comboios — virá integrar na economia agrícola cafeeira, como comprador de
da Bahia um menino chamado Luís Gama, que posteriormente será um escravos. Desta forma, a economia agrícola não apenas irá dinamizar
dos maiores abolicionistas. É essa massa deslocada das provincias que
o desenvolvimento da agricultura escravista pelas suas forças
constituirá o escravo típico de São Paulo fase cafeeira. Essa
transumância chegou a tal ponto que as demais províncias se alarmaram. internas, mas levará a que a apliragäo de capitais vindos de fora e
"Ê possível calcular o número de escravos que vieram de outras pr(h nela empregados também a impulsionem num verdadeiro
víncias para as regiões cafeeiras — escreve Emília Viotti da Costa — movimento em cadeia. Escreve, com razão, Maria Isaura Pe de
durante esse período. Os jornais da época registram, freqüentemente, na Queirós: "Extinto o tráfico escravo da África para o Brasil, houve
lista de passageiros dos navios recém.chegados, alarmante número de grande desemprego de capitais; nada de estranho que muitos deles
negros. Só no mês de marco de 1879, desembarcaram no Rio, pra. fossem empregados na compra e exploração de propriedades
cedentes das províncias do Norte, mil e oito cativos, o que faz supor um agrícolas; ora, nessa época era a cultura do café que estava em plena
número muito mais alto do que registrava Ferreira Soares, em 1860:" florescência na região do Vale; a fazenda de café era, portanto, o
O coeficiente demográfico negro aumenta portanto até o último emprego mais seguro e remunerador de capital." (0
quartel do século XIX, decaindo em seguida. É verdade que as
províncias que se viram despovoadas do braço escravo de maneira Como vemos, todos estes elementos diferenciadores formaram
excessiva tentaram alguns movimentos de autodefesa impedindo ou segmentos específicos, limitados à área do café, especialmente no
dificultando o negócio. É que as bocas escancaradas dos cafezais, Rio e em São Paulo. Àquelas considerações de Celso Furtado, que
quando da explosäo do surto dessa cultura em São Paulo, não queriam citamos ante• riormente, goma-se este outro detalhe: parte dos
mais apenas os excedentes das outras áreas. O seu ritmo de crescimento investidores na empresa cafeeira já vinha para esse setor de
exigia toda a mäode-obra disponível nas demais províncias decadentes. atividades aceitando tacitamente a extinção do tráfico e a
O certo, porém, é que enquanto a economia cafeeira exigiu o escravo ele necessidade de recorrer à transumância interprovincial para suprir de
foi recrutado de qualquer forma e a qualquer preço, nas demais regiões. braços as suas fazendas. A economia cafeeira que foi,
As fazendas do Vale do Paraíba absorviam essa mão-de-obra. Estancado incontestavelmentÆ, a pilastra que amparou o crescimento
por sua vez o tráfico africano, logo o aumento do prego do escravo que vertiginoso da escravidão em São Paulo, trazia, portanto, no seu bojo,
uma série de contradições, contradições que levarão a que o caudal português. O bandeirante aceitou a incumbência e perdeu muito
abolicionista se una às lutas dos próprios escravos. tempo nos campos de Vacaria tentando capturar dois negros que
Cassiano Ricardo mostra como "só com o advento do café fugiram, con• seguindo finalmente o intento.
recrudegee onda negra" e agrega dados colhidog em documentos Outras vezes os escravos negros juntavam-se aos índios para pra.
pelos quais ficamos sabendo que em 1797 havía em São Paulo 89.323 ticalem desordens. Uma delas era a destruição da forca. Várias vezes as
brancos, 33.540 pretos e 30.487 pardos, passando, em 1837 para autoridades verberaram as atividades dos "negros da terra e de Guiné"
326.902 almas das quais 42.930 na 5• comarca, que conæspondia ao que repetidamente destruíram aquele instrumento de morte. "O
atua] Estado do Paraná. Excluindo o total da 54 comarca, teremos termo de 24 de novembro de 1635 — escreve Afonso de Taunay
então 283.927 almas, sendo que do total figuraram 79.122 negros e refere.se com excepcional veemência às tropelias dos índios e
74.176 pardos para, finalmente, chegarmos ao ano de 1872 — vinte e gentio da terra e de Guiné, pelas estradas da vila e seu termo. Não Bó
dois anos, portanto, após a Lei Eusébio de Queirós — quando os faziam muito dano, exterminando.se mutuamente, como andavam a
negros e mulatos constituíam, no território paulista, 62% da ma. tar o gado pelos campos. Assim lhes fossem confiscados os arcos e
população. presos os moradores que consentissem trouxessem armas" . Se as
coisas andavam assim no termo da Vita de São Paulo, imagine-se o que
(4) pereira de Queirós, Maria Isaura: — A Estratificação e & Mobilidade não devia estar ocorrendo no interior. O negro fugido, depois de 1700,
Social nas Comunidades Agrélias do Vale do Paraiba entre 1850 a 1888. in "Revista de
Hitória" (S. Paulo", Ano I, n. 2. abril-junho, passa a ser uma constante na vida social de São Paulo. Encontramos
repetidamente notícias de ordens de prisão contra "pretos criminosos",
(5) — Ricardo, Cassiano: Marcha para Oeste (2 vols.) t Rio de Janeiro. 19-
12, vol., p. 43. ordens para prender escravos evadidos da Fazenda Santana e remessa
de escravos apadrinhados, ou recambiados aos donos. Esse noticiário
202 refere-se a diversos locais: Mogi-Guaçu, Atibaia, Santos, Itu. As
Este ritmo de crescimento demográfico atravég da penetração do autoridades não tinham descanso em perseguir e prender negros
negro é que caracteriza, do ponto de vista que nos interessa, a fase fugidos. Às vezes fugiam isoladamente, outras vezes em grupos
cafeeira. Dentro dessa economia o escravo paulista carregará nas pequenos. Em 1784 as autoridades conseguiram localizar vários negros
costas todo o peso do trabalho. Tal fato configurará e determinará no que se encontravam escondidos em uma casa no Taboão. O General
setor político conhecida posição de muitos republicanos que eram, ao Francisco da Cunha Meneses, então
mesmo tempo, contra a abolição. Justificavam tal estereótipo que
defendia as suas posições de elasse através de sžoga,n racista: "O Brasil
é o café e o café é o negro." A divisão das forças políticas em São Paulo, (6) — Tumay, A. — História Sei»centista da Vila de S. Paulo, tomo (1853-
1660), S. Paulo, 1927, p. 220.
no aspecto que nos interessa aqui, decorre deste fato: o escravo negro
(7) — Op. eåt. p. 203.
chegou para a Província num momento de pleno florescimento das
suas forças produtivas, entrando como injeção dinamizadora quando 203
outras áreas dos coronéis estavam em franca decomposição. vernador da Capitania, deu ordens ao Antônio de Sousa
para prendê-los. "Logo que vossa mercê receber esta mandará fuer
possíveis diligências para que sejam presos e remetidos a esta cidade
uns escravos que se acham em casa de Manuel de Faria na
Dissemos que ag fugas e os quilombos caracterizavam as primeiras chamada Lambari ao pé do Taboäo, uma légua de São Paulo;
formas de resistência do negro escravo em São Paulo. Nas bandeiras já dando o necessário auxílio ao soldado Francisco Pires que vai para
há negro fugido. Tapanhuanos que se aproveitaram das facilidades que esta diligência". Da mesma forma dirigia-se ao capit.äo-nu»r da Vila
apareciam durante o trajeto para se subtraírem do cativeiro. Em 1723, de Jacareí, apresentando um apresador de negros: "Desta cidade hão
Manuel da Costa pediu a Bartolomeu Pais que levasse às minas de fugido um mulato e um preto de Nação Banguela, que o portador a
Caxipó mercadorias e escravos pertencentes a um rico comerciante ambos conhece e vai em diligência de os prender; e porque poderiam
neso vila tomar diferente rumo, desviando.se da estrada geral, que tivaçöeg que os levavam a uma açäo comum. No recesso das matas
Vmce. tendo disto informação primeiro dará toda a ajuda ao criavam modos de convivência, uma espécie de relação comunitária
referido cursor 8 fim de que sejam pæsos e trazidos a esta cidade." contra o aparelho estatal que os oprimia. Mesmo em outras regiões —
Em Piracicaba encontramos ordem datada de 1782 para que como é o caso da Bahia, conforme já vimos — encontramos soldados e
destruídos os vestígios de um quilombo. O Governador da deser. tores unindo-se aos escravos rebeldes. É que muitas vezes os
Capitania, Francisco da Cunha Menezes, depois de dizer ter sido escravos eram militares. Um exemplo é o do preto escravo do Capitão
informado de que existiam vestígios de um quilombo "junto do morro André Correia de Lacerda, que era também tambor da Companhia de
Araraquara", de n-e• gros que andavam mineirando, solicitava fosse Auxilia, reg. Decretada a penhora desse cativo, foi alegado em seu favor
feito um levantamento das forças dos ditos negros para que pudessem o fato acima para que a mesma não fosse executada.
ser destruídos. No mo ano aquela autoridade pede providências Martim LObo Sardinha em 1776 mandava que o Sargento-mor
para que sejam presos negros fugidos em Itibaia, que praticavam Teotônio José Zuzarte sem perda de tempo convocasse os auxiliares
desordens. Ainda em Atibaia, três anos depois pedem providências nece.s. sírios para dar combate aos quilombolas que se encontravam na
para prender um escravo "junta. mente com todôs og outros que consta saida da cidade, na Aldeia Pinheiros e Sítio da Ponte. Esses negt•os
estarem fugidos." fugidos infestavam a região praticando "insultos e roubos escandalosos,
Em outros casos, aqueles que desertavam do serviço militar em não dendo viajar-se pelos ditos caminhos com segurança e sem
face das duras condiçöeg de vida, juntavam-se aos quilombolas. É o concurso de muitas pessoas, o que é intolerável em toda parte
caso do pardo José de Oliveira que, em Apiaí, auxiliado pelos especialmente na proximidade esta capital." Mandava aquela autoridade
quilombolas, re. sistia às autoridades. Foi expedida ordem de contra o que o Capitäo•mor providenciasse "Capitães-do-Matto e Certanejos"
para desinfestar os ca. minhos. (13)
A situação do desertnr, do marginal, do criminoso e do qunombola se Mas, ao que parece as coisas não iam muito bem. Os quilombolas
continuavam as autoridades. Daí ter sido organizado um
(8) — Documentos Interessantes para a Hist6ri8 e Costumes de
plano de proporções bem maiores para combatê.los. O Governador
S" Paulo. vol. u. p. 51.
Cunha Meneses enviou ofício aos capitães-mores dos bairros da Penha,
(9) — Doc. Int. para a Hist. e cost. de S. P•au10. vol. 85. p. 10.
Cotia, Sto. Amaro, Conceição Guarulhos, Cangussu e S. Bernardo. No
(10) — DOC. Int. para a Hist. e cost. de S. Paulo. 85. p. 68. documento dava para que fosse executado um plano de vasta
(11) — Doc. Intr para a Hist. e cost. de S. Paulo, vol. 85. p. 148. envergadura contra os escravos fugidos.
(12) — José de Oliveira é um dos muitos elementos marginalizados da Ponderava aquela autoridade não ser mais possível tolerar-se as
soc:edade colonial que uniam a sua situaçbo doe fugidos ou ròelde-s. "Desertor e "desordens, latrocínios e insultos" praticados pelos qui50mbo'as, Por
criminoso" fortificou.se na estrada de Apia', tendo a sua c. chela de buracos para
atirar através deles caso fossem prendê-lo. Era auxiliado por •'es. cravos fugidos"
isto mesmo achava que esses capitães deviam "ajuntar todos 08 soldados
gue abandonavam as fazendas das vizinhanças. Quando Ant&lio Caetano Alves de de suas ordenanças, por elles mandará bater todo o matto, e partes
(hgtro mandou grande número de pessoas buscar os seus escravos que No se exquizitas, aonde se possa conciderar esconderigio; continuando esta
encontravam nos ranchos. soube que os mesmos estavam na casa de José de dilligencia em direitura a esta cidade, não só ao que pertence ao seu
Oliveira. As pessoas os foram capturar nio tiveram porém coragem de ir buseá•loa
por serem aqueles "protegidos dele". As autoridades, deaejando •'atalhar eata
districto mas naquelles logares que lhe ficarem commodos para esta
Nbeldi• e insolência petas pesimas conseqtiênclas que ameaça o exemplo de averiguação que deve ser feita em cerco, prendendo não só a todos os
semeHiante escândalo" ordenavam A todos os capitåeg.moæs. especia2mente das negros e pessoas desconhecidas que escondidamente forem achadas,
vilas xine e Aplnt. que convocassem "homens de vator e desembaraço. além de mas todos. e quaesquer, que ainda sendo conhecidos tiverem contra si
diversos eapltåes-dõ•mato para prenderem o para isto deviam meiœ e estratagemas
de o prenderem eom e sem de parte parte: bem advertindo que na última
algumas das referidas suspeitas; remettendo—cs bem seguros á cadeia
extremidade da resistência e de nio entre. gar. lhe atirem para o dito fim. pela parte desta cidade". Infelizmente não tenu»s sobre o resultado
que for. de forma qLæ em todo 0 caw se prenda e Be me rem•a. cuja Ou a todos dessa diligência, mas tudo indica que deve ter sido considerável.
por multo recomendada" (Doc. lat. para a BIst. e Cost, de S. Paulo, Volv 84,
pareciam muito, dentro da sociedade colonial. Dai essas uniões, mais Parece que mesmo assim os tumultos prosseguiam, pois aparece em
1781 um homem "rebuçado" que em companhia de escravos negros
freqüentes do gue se presume. identificavam-se por uma série de
praticava desordens. Mais uma vez o negro fugido aliava.se aos êxito, não vacilou em ordenar a prisão dos pais dos escravos fugidos
elementos marginalizados da sociedade da época. Segundo o ofício que para "dar conta dos filhos." Isto é, aplicou o método de usar reféns
pedia a pri• para conseguir og seus objetivos. Quanto aos escravos, devem ser
restituídos à dita Fazenda "onde pertencem." A diligência era tida
(13) — DOC. Int. para a Hist. e cost. de S. vol. 84, p. 70/71. como "muito recomendada."
205 Mas não era somente da fazenda que pertencia ao Estado que os
são do misterioso indivíduo — dizia o General Martim Lopes Labo de escravos fugiam. Aqueles que eram propriedade dos conventŒ
Sardinha — que se houvesse resistência por parte do delinqüente também não aceitavam de bom grado o cativeiro. Em 1785 dois
atirassem-Lhe nas pernas a fim de que as autoridades captoras não escravos do Convento de S. Francisco escapam do controle dos
sofregsem nenhum dano. senhores e fogem para Atibaia. Ali foram presos. Do Convento do
No interior os quilombos continuavam dando trabalho também. Carmo os escravos fogem em 1779 levando as autoridades a exigirem
Em 1778 dizia-se que qualquer pessoa podia destruir de assalto um a sua captura. Os cativos dessa instituição católica depois de
quilombo no termo de Parnaíba, prendendo os ditos aquilombados escaparem formaram um quilombo, na freguesia de Nazaré. Neste
juntamente com um mulato chamado Antônio Pinto que ge mesmo ano mulatos e carijós praticavam
encontrava entre os mesmos. O mulato que se homiziara no
quilombo era "criminoso de delitos graves". (14) (14) — Doc. Int para a Hist. e cost, de S. puno, vol. 84, p. 51.
Em 1782 Sorocaba preocupa as autoridades, que mandam ordem (15) — Doc. nt. para coat. de S. Paulo, vol. 85, p. 92.
para que sejam pregos vários escravos daquela vila. Voltam as tumultos na Vila de Jundiaí. Esses insubordinados ocuparam o bairro
autoridades em 1785 a solicitar das autoridades sorocabanas a clo Cururu naquela vila e se encontravam "levantados sem obediência
remessa dos que foram presos ali. às Justiças". (16)
Os escravos da Fazenda Santana viviam em verdadeira
debandada. São constantes as ordens para prendê-los em diversos A condição de "boca do sertão" a princípio e, por todo o restante
locais. Fugiam para Mogi-Guaçu, Jacareí, Jundiaí e até para Minas. do período escravocrata, a fraca densidade de população
Evadiam• sempre em pequenos grupos de dois ou três. Durante anos característica das zonas de campos naturais — escreve Oracy
e anos fogem e são capturados. Tornam a fugir e tornam a ser Nogueira — bem como a extraordinária mobilidade que se associa ao
capturados. Chega a ser monocórdica a forma de fuga e captura. comércio de animais e à pecuária de caráter extensivo, tornariam a
Esses escravos à Real Fazenda talvez fugis.*m tanto região de Itapetininga alta. mente procurada por escravos em fuga, de
por encontrarem menos rigor na vigilância. Essas fugas, como vere. São Paulo, Itu, Sorocaba, Pôrto Feliz, Tietê e, mesmo do Sul, inclusive
mos no capítulo seguinte, se amiudam ainda mais no século XIX, fato Rio Grande. ( 1 7)
que levará as autoridades a uma série de medidas de segurança. Mas Em 1773 e 1774, escravos da Fazenda de Araçarjguama — ainda é
já em 1783 Francisco da Cunha Meneses começa a ordenar medidas Oracy Nogueira quem refugiam-se na região de
mais drásticas para a captura dos mesmos. Ordena naquele ano que Itapetininga ou a cruzam em demanda ao Sul. Aliás, as fugas fazenda
Manuel Lopes de Leão, capitão—mor de Taubaté, prænda o mulato pertencente a S. Majestade continuaram. Temos notícias de que, em
claro Jerônimo, de doze anos de idade, que fugira da Fazenda Santana 1779, vinte escravos fugiram. As autoridades mandaram a ælação dos
juntamente com dois irmãos, Segundo aquela autoridade os três quilombolas e deram poderes ec Capitão-do-mato Antônio Protázio
teriam se dirigido para Taubaté, onde tinham pai e mãe, ambos para capturá-los. Assim corrM' todos os mais que forem fugindo.
residentes em Piracuama. O pai dos evadidos — ficamos sabendo pelo Talvez por isto a Vila de Parnaíba era obrigada a sustentar a força
documento — chamava-se Manuel da Costa; a mãe chamava-se Marta destacada para permanecer na Fazenda Araçariguama, Um cabo e
de Oliveira. Aquela autoridade, para que a diligência tivesse pleno dois soldados foram destacados para policiarem o local.
Continuava o rosário ininterrupto de fugas. Em 1785 Francisco da Em Paranaguá, escravos fugidos de Santos são recambiados, inclusive "os velhct*, nesta
Cunha Menezes dirige-se ao arrendatário da Fazenda Araçariguama mesma cidade se podem forrar."
solicitando o envio de gente para levar os escravos que se Se no Taboäo os escravos encontraram quem os acoitasse, em
encontravam præsos pertencentes àquela fazenda, menos "o forro Paranaguá o governador mandava prender Joaquim Xavier Ferreira
Crasto que fica em ferros." de Oliveira e o seu irmão João, que andavam com três negros
escravos Joaquim, Salvador e Bento — praticando desordens,
Até um escravo do bispo, resolveu fugir, em 1777. As autoridades
sendo que se fosse preciso auxílio rnilitar o ouvidor daquela vila
tornaram a peito a captura desse insubordinado com todo o rigor.
podia requerê-lo a qualquer comandante; devia remeter presos com
Depois de particularizar vários sinais capazes de identificá.lo, exigem a
toda segurança para São Paulo. Os criminosos brancos eram filhog do
sua captura .com a maior segurança e brevidade", "bem advertindo
Sargento.mor Francisco Xavier Pinto.
que todo o que mostrar frouxidão no pronto cumprimento desta
Na fase do setecentos poucos são os movimentos ativos do
ordem ficará responsável para ser castigado como merecer."
escravo contra o cativeiro. O que caracteriza esse período é a fuga
individual ou em pequenos grupos.
(18) — Doc. Int. para a Hist. e cost. de S. Paulo, vol. 84, p. 169/70. Esse tipo de revolta, ainda rudimentar, decorre também da
(17) — Nogueira, Oracy: — Relaçöes Raciais no Municíplo de Itapetininga inexis• tência de grandes aglomerados de escravos. Por isto mesmo
Apud "RelaçC-es Raciais entre Negros e Brancos em SSD Paulo", S. Paulo, 1955. quase sem. pre eram recapturados e remetidos de volta aos
P. senhores, apesar de encontrarmos escravos que já estavam sendo
398. procurados há quatro anos. Somente no século XIX nós iremos
(18( — Nogueira, Oracy: Op. cit. p. 398. encontrar formas mais organizadas de lutas até que, -na última fase
(19) — Doc. Int. para a Hist. e cost de S. pau10, vol. 84, p. 152/153. da escravidão, os escravos unem as suas formas de rebeldia às
(20) para a Hist. e cogt. de S. vol. u, p. 170. atividades dos abolicionistas.
(21) — Devemos salientar que os escravos doa conventos muitas vezes
n'O se entregavam passivamente aos captores. Reagiam, foi o caso do escravo Lufg,
Não havendo grandes aglomerações de escravos como em
pertencente aos padres do Convento de Sta. Clara, de Taubaté. O General Francisco outras regiõeg, torna-se evidente que os vínculos tribais se diluíam
da Cunha Meneses oficiou ao Juiz OX11Mrio daguera vila dizatdo que "iogo que praticamente com muito mais facilidade do que nas áreas de grande
Vmc. receber esta, -me remeterá ærn demora pela SecNtaria deste Governo Autos densidade de população negra. Aquela hierarquia transplantada
de Devassa, delito, e todos os que nesse Julzo se houverem processado ex-oficio pelos escravos negros para o Brasil, e que nos quilombos se
criminalmente pelos ferimentos acontecidos na diligência de prisão que se executou
no mulato Luis. escravo dos Religiosos do Convento de S. Clara dessa vila, assim
conservara, deve ter tido rrwito pouca importância na época gue
como se acharem ao chegar desta, sem ficar cópia, nem documento algum a este estamos analisando, em São Paulo. Dai, talvez, a facilidade com que
respeito". (Doc. [nt. pua a Hist. e Cost. de S. Paulo. Vol. 85, p. 101). se juntavam com elementos brancos marginalizados. Se observarmos
o fato dentro deste critério, esclarecNo melhor. É inegável
207
que a base dessas uniões era a forma como a sociedade colonial
Outras vezes os cativos deslocavam-se para Santos. Em 1784 é expedida carta com
estava estratificada. Mas cabe salientar este detallw para que a
uma relação dos escravos que se haviam refugiado ali. Ainda no mesmo ano, um escravo
análise não fique incompleta.
que viera de Cubatão fugiu para Santos evadindc-se da Fazenda Santana. Outras vêzes
Urna população escrava rarefeita, sem grandes possibilidades de
acontecia o inverso: eram os escravos de Santos que fugiam para outras regiões. Em 1785
ajuntamento periódico para reavivar os laços tribais, cedo se
muitos deles fugiram e deslocaram-se para Paranaguá. Na ordem para que esses cativos
encontra.
que haviam fugido do "Cubatão de Santos", fossem presos, recomenda-se "exatissimas
diligências" e "depois de bem segurog os remeterá à vila de Santos". Esses escravos (22) — DOC. int. para a Hist. e cost. de S. pau10, vol. 85, p. 161/162. '(23) — DOC. Int. p.ra a e cost de S.
pau10, vol. 85, p. 182.
fugidos eram um mulato fusco, com sua mulher mulata mais clara que ele; dois filhos,
uma cunhada de nome Lucaria com uma filhinha. O escravo, segundo informa o 208
dccumento, para disfarçar-se melhor, havia passado por Itanhaém em trajes de mulher.
Devemos ponderar, porém, que entre os livres havia milhares de — O chefe de polícia manda ouvir o administrador da casa de correçäo;
pe80as que viviam em condições de escravos. 08 libertos nio eram O administrador da casa de corregäo informa e faz. voltar gecretá.•iR da
outra coisa genåo disfarçados. Mesmo assim, não se pode negar a justiça.
queda vertical da população escrava no conjunto da sociedade — O chefe de pollcia informa e faz voltar A secretaria da justiça_
brasileira. Nas cinco principai8 Províncias do país, em 1882, (São A secretaria faz uma resenha de todas as Informações para o ministro
Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco. Ceará e Rio de Janeiro) despachar.
Segundo de Joaquim de Godoy, citado por Jovelino M. de — O ministro despacha afinal, mandando passar a carta de liberdade.
este afinal quer
Camargo Jr. era essa a Þpulaçäo:
13') Volta a peticio ao juiz de órfios.
140) — E expede-se um aviso ao chefe de pol[cia.
Africano liere, entregue ao serviço particulares ou de
159) — O juiz de órtäos remete a petição ao escrivåo e faz passar a carta. que êgte
estabelecimentos públicos, nåo passa de um verdadeiro escravo; os que desfrutam seus
demora em seu poder até que e parte vá pagar os emolumentos.
serviços näo caem na asneira dc facilitar-lhe a emancipaçäo, e. como es_ravo que é de
fato. nåo pode adquirir meios pecuniários com que pague a advogados e procuradores — Remete-se a carta ao chefe de polícia.
para tratarem de sua emancipaçåo. 170) — O chefe de policia oficia ao administrador da casa de correqåo manda.rv do
Segu&se, portanto, que estes Infelizes devem resignar-se com a falha da lei. ou vir o africano.
esperar que o acaso lhes depare um protetor desinteressado e que, revestido da melg 180) — O administrador manda-o, e o chefe de policia dcsigrrttL o termo ou
evangélica paciência. ce prepare a sofrer e acompanhar todas as seguintes provas desta municfpto em que há 'de residir.
nova inquisiçio moral: 190) — O chefe de polícia d. corte oficia ao da provfncia, a que pertence o termo
I') — pedir ao escrivào dos africanos a certidão demonstrativa de que é passado o dæignado. e :æmete-the o africano acompanhado de carta.
lapso de tempo. 200) — O chefe de policia da província oficia, remetendo o infeliz e a sna cnr• ta à
20) — Requerer 80 governo imperial por intermédio da secretaria da autoridade policial do lugar para onde o chefe de pohcia da corte aprouve designar o
justiça.
— O ministro da justiça manda ouvir o juiz de órfAos.
40) O juiz de órfåos Informa e faz volver a petiçäo ao ministro. CŒUSŒ' Externas Causas Intemas
O ministro manda ouvir o chete de policia.
— O chefe de policia manda ouvir o curador geral.
l) Pressão política e militar da 1) Abolição do tráfico de escravos
O curador geral dá a sua Informação e voltar a pctiçüo no chefe de poli:ia; Inglaterra ; africanos com a I.Æi Eusébio de
2) Formação de um mercado pro. dutor Queirós;
Trabalhadores livres 1.433.170 de açúcar em outras 2) áreas, Queda da produção e crise
CAUSAS PRINCIPAIS QUE especialmente ag Antilhas ; estrutural da área açucareira
nordestina e conseqüente
DETERMINARAM A ABOLIÇÃO 3) Aparecimento de um sucedâneo do decadência do trabalho escravo;
DO Trabalhadores escravos . 656.540 açúcar de cana e sua aceita. 3) cão Aparecimento d as primeiras
Os desocupados no mercado europeu ; indústrias de transfonnaçäo que
TRABALHO ESCRAVO NO
BRASIL 4) Política migratória ofensiva dos exigiam mão-de-obra livre;
países europeus em face 4) dos seus Mínima rentabilidade do
Desocupados . 2.82.588 excedentes populacionais; trabalho escravo em
5) Interesse das nações capitalis- 5) tas, comparação com o livre;
que depois iriam especialmente a Inglaterra, de Surto do café, cuja unidade
criarem um mercado consu. midor produtora — 8 fazenda — não
interno africano, fato que motivou, se adaptava ao trabalho escravo
anteriormente, a extinção do tráfico e se desenvolvia com un-B
ingressar na faixa dos servos que aumentariam progressivamente no Brasil. A qualificação do de escravos no Brasil ; dinâmica interna capaz de
trabalhador só podia ser feita à medida que ele ingressasse naquela nova classe que surgia: a 6) Necessidade, por parte dos 6) absorver a mão-de—obra livre,
manufatureiros ingleses de arnpliar inclusive a importada;
o mercado consumidor brasileiro. Chegada de imigrantes
7) estranpara os trabalhos
agrícolas;
Campanha abolicionista com a
8) participação da intelectualida.
de e da classe média;
Lutas dos próprios escravos.
classe operária. Na capital baiana, pouco depois de extinta a escravidão, existia a "União Fabril" que englobava seis fábricas de tecidos com um total de 805 operários
trabalhando em 358 teares.
Era toda uma conjuntura cconômico-política delicada e complexa que se
apžesentava ante os olhos da Regente: uma economia em decomposição e uma
opinião pública que, na sua quase totalidade, condenava o sistema de trabalho que
predominava ainda na agricultura. Certamente, sentindo-se forçada ante o império
das circunstâncias — um ano an• tes mandara espingardear os escravos fugidos —
deveria ter raciocina. do como, tempos depois, frente ao problema da revolução
que se aproximava, exprimiu-se um politico brasileiro, exclamando: "Façamos a
abolição antes que os escravos a façam. . Era o medo da
bárbara e selvagem", de Nabuco, tomando forma juridica : a Lei

As causas acima não foram enumeradas de acordo com o seu grau de


importância, pois elas tiveram maior ou menor influência de acordo com os
elementos circunstanciais de tempo e espaço. de vê-las, portanto, como um conjunto
dinâmico que se interpenetrava, muitas vezes conflitos agudos, outras vezes
impulsionando movimento "legais" dentro dos quadros institucionais vigentes.

(30) Camargo Jr. J. M. : "A Abolição e suas Causas", in "Estudos Afro-BrasiIelros", R.


de Janeiro, 1936. N69.
5051
Escravos nos Movimentos
Políticos
A participação dos escravos nos movimentos políticos que ocorreram durante
a Colônic e o Império foi decorrência lógica da situação em que se encontravam.
Na base da piramide social, a classe escrava constitufa a força produtiva mais
importante. Se, demograficamente. pesava de maneira tinha, no
entanto, contra si, a alienação em que se encontrava, dienação que — no particular
do escravo — tem características especfticas que devem ser
primeiro lugar, dentro do conjunto da sociedade, nio era a classe que
estava ligada aos meios de produção mais Pelo contrário. Era de atraso
do próprio procæso de desenvolvimento desses Por outro lado, ele não apenas
produzia mercadorias dentro de um sistema que dificultava o desenvolvimento das
produ. mas se constituía, tambén, em em de Era, portanto, forca produtiva no
seu sentido dentro da sociedade ao tempo, do ponto de visu do
senhor de escravos, simples meio de produção; equipara-o aos animais traçäo que
eram utilizados no funcionamento dos engenhœ e em outros setores de atividade

econômica. (1) Não por acaso era considerado simples coisa, pois, dentro do
regime escravista, não efetivamente, de um instrumento. Näo vendia a sua
força de trabalho, mas era considerado pelo senhor de escravos um simpkz
instrumento de trabalho, de vez que o direito propriedade se estendia à própria
pessoa do escravo. Transiuva como mercadoria, já que 'ta compra e venda dos
escravos 6, também, quanto à gua forma, compra e venda de mercadorias". (2)
esuravo Mo vendia a força de trabalho ao de escravos, assim como
o boi n'O vende o produto do seu trabalho ao umponu. O é vendido. com sua
força de de uma vez para æmpre a seu proprietário uma mercadoria que pode
das mios de um proprietário para a. de outro. Ele mesmo é uma mercadoria.
mas sua forca de trabalho nio é sua merædoria." — (Marx. K: "Trabalho
Assalariado e capital", Rio 1954 p. 22) — "A forca se confunde com
a do escravo no de toda sua existência futura. Nio se pode assim computar
nela, pelo menos com rigor suficiente, o egorço na pro-&uçåo das diferentes
cada uma de p-« d. (Prado Jr.
Caio: Fundamentos da Econðmjea", S. Paulo, 1957, p. 41).
(2) Marx, K. "El capital", tomo 2 p. 41.
55
Sem falarmos na situação material em que viviam e a que (3) Malheiro, P.
estavam através de diversos métodos de coerção social, "A Escravidão no Brasil".
p. 17. Ainda para
temos de atentar — para compreendermos a sua participação em ilustraçåo de como v!via o
movimentos que surgiram conduzidos por elementos das outras escravo durante o regime
classes sociais — nas restrições políticas toUis a que estavam sujeitos. escravista, transcrevemos
A economia escravista, montada no Brasil desde os primórdios da este trecho de Rc. drigues
de Carvalho sobre o
colonização, considerou, carno não podia deixar de ser, o escravo um assunto: "Agora velamos
simples objeto. Havia, nas Ordena. çöes Manoelinas, um título o que concretizava em 'ei
regulando "De como se podem rejeitar Escravos ou Bestas por Doença no Brasil. deste Brasil já
ou Manqueira". Dizia Perdigão Malheiro no seu insubstituível trabalho *parado da Metrópole,
portanto sombra do
sobre a escravidão no Brasil, que "nem lei alguma contemplava o "pendåo auri• verde".
escravo no número de cidadõeg ainda quando nascidos no Império, "08 jufzee de Paz Mo podem açoitar escravo algum, sem que primeiramente o
para qualquer efeito em relação à vida social, política ou pública. tenham devidamente processado, e sentenciado com audiência do senhor" (Aviso de
Apenas os libertos quando cidadöes brasileiros gozam de certos 16.6.1837).
"Nio pode o escravo dar queixa contra pessoa alguma. ainda que seja
direitos políticos e podem exercer alguns cargos públicos". contra aquele que o quer eonduzir escravidade" (AcórdAo da Relaçao do Rio
Na Constituinte de 1823 são sumariamente excluídos do direito de de 1-4-1879).
•'Náo pode o escravo ser considerado pessoa miserável para que em seu lugar o
voto, juntamente com os criados de servir, os iornaleiros, os Caixeiros Promotor público possa agir contra quem o ofenda criminalmente" (AVISO de 2•4.1853).
de casas comerciais, enfim juntamente com todas as pessoas que Suprema irrisåo!
tinham rendimentos líquidos inferiores ao valor de 150 de Sem termos gue citar as disposiçöes do Cód. Penal de 1830, pros*g-ue o autor que
farinha de mandioca. Para os eleitores de segundo grau, que escolhiam estamos citando basta para se fazer uma idéia do coneelto em que era tido o escravo
os deputados e senadores, exigia-se um rendimento de 250 alqueires e, perante a rei. transcrever o seguinte pam instruir uma condenacåo:
"Na sentença em que tor o condenado a açoites, deve o juiz que a
finalmente, para que o cidadão fosse candidato a deputado se exigia a profeMr. também condená-lo a trazer um ferro pelo tempo e maneira que for deSgnadD
soma de 500 alqueires (1.000 para senadores), além da qualidade de conforme o artigo 60 do Cód. Criminal" (Pau'a Sou_m, do Proc. Criminal)
proprietário, foreiro ou rendeiro por longo prazo, de bens de raiz ou •'A mancebia entre enhor e æcrava nio lhe minora a condiçäo de escravo,
fábrica de qualquer in- nem os próprios filhos do senhor sio libertos" (Acórdåo do Trib. de Ouro Preto.
"Direito",
"Se for condenado a açoites, libertando-se nho sofre aquele castigo mas fica pre•
so" ( "Dimito" vol. 7) .
"Por ter morto um administrador foi o escravo de menor idade condenado à morte"
(Acórdão do Tribunai de Porto Alegre, em 18?6, vol. 7) .
"O escravo tugido no poda pleitear a sua liberda&, ainda mesmo com
indenizacSo". (Aviso do da Agricultura "Direito", vol. 25. (Carvalho
Rodrigues "Aspectos da Influencia Atrlcana Formação Social do Brasil", in
"Novos Estudos Afro-Bra4ileiroB", Rio, 1937, p. 27.
56
dústria. Os escravos, camo é óbvio e já ficou dito linhas acima, não
eram considerados brasileiros; posteriormente a ser
brasileiros, mas não cidadãos, fato que levou Joaquim Nabueo, na
análise que fez do regime, a mostrar a sua ilegalidade dentro do prouvera a Deus. que tão abundante tosse o comer, e o veztir. como muitas vezes o
próprio formalismo do Direito da époæ. '38) castigo dado por qualquer coisa pouco provada, ou levantada; e com Instrumentos de
muito rigor. ainda quando crimes sio certos de que se nio nem com os brutos
Os meanismos de defesa da sociedade escravista estabeleceram animais, fazendo algum senhor mais cago de um cavalo. que de meia dlizia de escravos:
um sistema de peneiramento social no processo eleitoral capaz de pois o cavalo *rvido e tem lhe busque capim. tem pano para o e sela, e freio dourado"
as suas bases de qualquer possível abalo. O Estado era uma sólida (Ibid., p. 55) ,
cara• paça que — através de e!ementos d l) pressão — mantinha o "O escravo era apenas um instrumento de trabalho, uma máquina; nåo
*tatua quo, escudado em um conjunto de leis completamente reflexas passfvel de qualquer educaçäo intelectual e morO ( . . . ) "Eram conduddos
do regime e9 cravista. condigao de como os Irracional' aos quais eram equipar•do-s" P. "A d'O
Brazil", t. Ir, sao puna p. 27).
Segundo depoimento datado de 1885 — documento aliás que é
peça do processo de repressão à insurreição de escravos ocorrida 57
naquele ano, em Salvador — não "gozavam de direito de cidadão, do comércio e do de algumas indústrias de transforma.
nem privilégio de estrangeiro". (4) ção, empresaa que, por seu turno, tinham o seu desenvolvimento
Tal situação levou a que os elementos cativos desde muito cedo impedido pela Metrópole, durante a Colônia, e pelos setores que
par. ticipassem como aliados e muitas vezes como elementos representavam a agricultura latifundiária-escravista, durante o
destacados e até decisivos nas lutas, levantamentos e tentativas de Império. A contradição era bem clara e foi notada por muitos
sedição que diversas carnadas sociais realizaram ou organizaram estudi0M)s do tunpo: o latifúndio impedia o surgimento de
durante o nosso desenvolvi histórico. Esses movimentos se uma burguesia que se formava como crosta, cœno seu elemento
amiudavam e aprofundavam à medida que certos setores dessas subsidiário e muitas vezes inicialmente complementar, mas que,
camadas adquiriam relativo poder econômico. Tal diferenciação era paulatinamente, cristalizava interesses próprios e entrava em choque
decorrência do desenvolvimento se não frontal pelo menos de flanco, com tal sistema.
No bojo de tal contradição o escravo se encontrava, de um lado,
(SA) Prado Júnior, C. : "Evoluçao Politfca do Brasil e outros ensaios" S. pau10, 1957, como força de trabalho decisiva das formas tradicionais de economia,
p. 58. mas, de outro, Oansformava.se progressivamente em negação dessa
(8B) "Se os eseravos fos.em brasileiros, a lei particular do Brasil economia. E à medida que se integrava no processo de transformação
poderia talvez, e em tese, aplicar-se a eles; de fato nio poderia. porque, pela dessa forma de trabalho, integração que muitas vezes, ou melhor,
Constttu1ç50, os cidadöes brasileiros nio podem ser cond'çåo de escravos. quase sempre, näo tinha caráter consciente, criava os elementos para
Mas os escravos 'do brasileiros. desde que a Constituiçåo z6 proclama tai' os que o processo de alienaçco passasse a se desenvolver no outro pólo,
ingenuos e libertos. NAO sendo cidad6.es brasileiros eles ou No e8. trangeirœ na classe que, divorciada do processo de produção, era quem auferia
ou nio têm pátria, e a 'ei do Brasil nio pode autorizar a de uns e de outros que todos os seus proventos: os se. nhores de. escravos.
nåo estio suseitos a ela Internacional no que respeita pessoal. A
ilegalidade da escravidAo é asslm Insanável, se a eon. sidere no texto e nas Na malograda revolta de Filipe dos Santos, em Minas Gerais,
d14posl#s da 'el quer nas forcas e na competência da meEma lei". (Nabuco, J.:
"0 Aborteiontamo", Rio.Såo Paulo, 1938. 111).
temos notícias da participação no movimento de "por tugueses com os
(4) portaria do Chefe de POUcia da Cidade de MS do Arquivo Pt. seus negros", que foram præsos. No dia 28 de junho de 1720, sete
blico do da Bahia- — E mais: "O escravo ainda é uma propriedade como mascarados, juntamente com muitos pretos, armados, derivaram do
qualquer outra. na qual o senhor dispöe de um cavalo ou de um móvel". morro onde se encontravam, invadindo e depredando diversas casas.
{Nabuco. J. : "0 Abolicionismo", pau10, 1938, p. 39) — "Assim como se dá Em segui. da, intimaram o governador a não abrir novas cagas de
algum descanso aos bola. e aos cavalos, a—im se dê. e maior razão por suas fundição.
ocupaçC•, aos escravos". (Antonil. André Joio: "Cultura e Opulência do Bradl H .
1950, p. 89). Em outro movimento, a Inconfidência Mineira — como na revolta
•'NO Brasil costumam dizer. que para o escravo necessários tres PPP u. ber. pau, de Filipe dos Santos — o papel do escravo como reserva social do acon
påo e pano. E posto que eomecem mal, prtne1pLa no castigo. que é o pau; cortudo
ainda não foi suficientemente estudado e esclarecido. Que os propunha que os escravos participassem ativamcnte da luta
inconfidentes, de um modo geral, eram abolicionistas, não há muitas juntamente com eles, pois "um negro com uma carta de alforeia à
dúvidas. (6) Mas, até que ponto esperavam que os escravos aderissem testa se deixava a morrer".
e participassem da revolta é que não está bem claro, embora fosse Como já dissemos, em Minas Gerais, ao tempo cm que os
Minas, na época, um dos maiores focos de quilombos do Brasil. inconfidentes se reuniam para discutir o movimento, os escravos
Tiradentes, segundo Norberto de Souza Silva, chegou a possuir estavam cm franca ebulição. Tinham-se ligado os da cidade aos
três escravos nas suas malogradas tentativas de mineração. (7) O quilombos do intorior da Capitania. Dai porque, em Sabará, scgundo
certo é que pelo nænos uma escrava sabemos ter pertencido ao depoimento de Brito Malheiro, "se puseram uns pasquins que dizem
Alferes Inconfidente: a que foi doada por ele a D. Maria do Espírito que tudo o que fosse homem do Reino havia de morrer e que só
Santo, órfã menor a quem Tiradentes deixara grávida .com ficaria algum velho clérigo e que isto foi posto em' nome dos
esponsalícias" e de quem tivera uma filha. (8) quilombolas". Em seguida afirmava que "já se ouvia das pessoas da
última classe de gente nesta terra, como são os negros e mulatos, que
está para haver um levante" e "que os nacionais desta terra o
(5) calman, P.: "História do Brasil", vol. 111. Rio. 1961, p. 1019. 1020. desejavam".
(6) Ver 0 trabalho de Afonso Arinos de Melo Franco "As Idéias potftlcas Podemos ligar estes fatos ao detalhe dos pardos, mesmo aqueles
da Lnconfid&'cia•', in "Terra do Brasil", Rio, 1939. "mestres do ofício", "músicos" e "afazendados com escravaturas", até
(7) Sou_R Silva, J. Norberto: "História da Conjuragäo Mineira", Rio, 1948, 1753 não poderem andar de espada à cinta, somente conseguindo
P. 79. naquele ano permissão para tal. É que R simples cor parda já
constituía ameaça para 08 senhores de escravos.
(8) RQV. do Inst. Hist. e Geog. de Minas Gerais. vol. nr, 1959,
"Requerimento de D. Antönia Mana do Espirito Santo pedindo devol*o da Mas na Inconfidência Mineira, qual a posição de Tiradentes em
Maria que Lhe fôra doada por Joaquim José da Silva Xavier (O Iyradentes) p. relação não somente à abolição mas também à participação dos
426 escravos no movimento de que ele foi incontestavelmente o lider? Até
58 que ponto vislumbrou no escravo um elemento aproveitável à vitória
Voltando nossa análise, temos de constatar que os Autos de De. das idéias dos inconfidentes? possível que tenha visto também, como
vassa são o único documento que conhecemos capaz de explicar, em o Luís Vaz de Toledo, nog escravos, uma reserva de grande
certo este aspecto de um movimento já por si mesmo confuso; capaz importância para a vitória do movimento. Mas, tudo não passa de
de explicar como aqueles "duros braços ao trabalho feitos" ge mera suposição, como, aliás, a maioria das conclusões sobre a
compor. taram ao saber que na Capitania se tramava um movimento Inconfidência Mineira, movimento mais estudado pelo seu simbolismo
que tinha, entre outros objetivos, acabar com o instituto da do que pelos fatos que apresenta ao historiador. Tanto assim que é
escravidão. apresentado como o ponto cutminante das lutas pela nossa
independência política, quando a chamada
José Álvares Maciel, filho de um capitão-mor de Vila Rica, ao de.
por nos autog afirmou que "sendo o nÚmero de homens pretos e
escravatura do país muito superior aos homens brancos, toda e ( 9) Melo Franco, Afonso Arinos de "Terra do Brasil". Rio, 1939, p. 78. ( IO)
qualquer re. voluçäo que aqueles pressentiam nestes, seria motivo "Petlçáo dos Homena pardos livres da Capitanla pedindo para usarem Espada
à Cinta" — Revista do Inst. Hist. e Geog. de Minas Gerias, vol. VII, 1959.
para que eles mes• mog se rebelassem". (9) O receio do filho do
capitão-mor era endossado por Alvarenga Peixoto. Outros
inconfidentes viram na escravaria de Minas Gerais àquele tempo 59
organizada em quilombos cm diversas zonas da Capitania, material
humano e social muito importante. O Sargento Luís Vaz de Toledo
revolta dos alfaiates, na Bahia, tem um significado muito mais senhores, cujo julgo por mais leve que seja lhes é insuportável."
do não apenas do ponto de vista de organização dos insurgentes mas, Prosseguindo dizia : "Foi Deus ser,'ido por um modo bem
também, pelo seu programa, pelas suas metas a alcançar. Foi a singular a ponta desta meada. ao fim da quai julgo se tem chegado,
rmisavan. cada tentativa de quantag foram realizadas, antes de sem que neta se ache em, baraçada pessoa de estado decente". (12)
obtermos a nossa emancipação de Portugal. Por isto mesmo é
atacada por muitos riadores, como é o caso de Varnhagen. O De outro lado, as idéias liberais da França encontravam fácil
autor da Históric Gerd do Brasil, ao analisar a Inconfidência Baiana, guarida na Bahia, conseqüeneia das condições da Capitania que vinha
depois de chamá.la "um arremedo das cenas de horror que a França e pas-
principalmente a bela São Domingos acabavam de presenciar",
conclui que "os conspiradores que se chegaram a descobrir não
(11) Varnhagen: ''História Geral do Breai?' , tomo V. S. Paulo, p. 25-26.
subiram a quarenta: nenhum homem de ta-. lento, nem de
(11-A) Ca:ógeras, J. P. — Formação Históriea do Brasil S. Paulo. 1945.
consideração; e quase todos libertos ou escravos, pela maior parte
p. 836.
pardos". 01)
(12) Anais da Biblioteca Naclonet: vol. 37 p. 460-61.
Os homens de valia, de fato, não participavam desse movimento,
60
que foi mais da patuléia e dos homens de poucas posses, homens que,
sando por um longo processo de efervescência política, como
muitas vezes, tinham o seu status social ligados à sua cor. Os mulatos,
decorrên. cia da crise crônica da agricultura atrasada da regi*o e cedo
os pardos que participaram da Inconfidência Baiana foram o elemento
se trans. formaria em arma ideológica, manejada pe!og intelectuais, o
que formou o grosso da insurreição. Na capilaridade quase inexistente
aglutinadora das camadas mais empobrecidas da população. Mas, se é
da sociedade da época, transpiravam para a superfície esses
exato que essas idéias se difundiram muito mais entre os letrados, o
movimentos, movimentos que tinham como desiderato modificar ou
certo é que. de qualquer forma, deixaram ressonânciag — pelo menos
pelo menos atenuar as condições que eram impostas pelo estatuto
indiretas entre as camadas mais oprimidas, conforme se pode
colonial. Por isto, muitos dos elementos que formavam o entourage de
verificar nos Autos da Devassa,
dominação lusa que aqui se encastelou, sentiram ag arestas que a
defasagem existente entre a Metrópole e a Colônia criava. Ao mesmo Já em 1678, nas "Cartas do Senado", remetidas para Portugal,
tempo compreendiam que aqueles elementos arrolados na categoria lê• se que "fazemos manifesto a Vossa Alteza do miserável estado
de patuléia e que, por isto mesmo, se encontravam nas camadas mais deste povo pelas rnuitas cargas e opressões que cm tempo tão
baixas, eram a estrutura humana desscs movimentos. Pandiá cansado carregam sôbre a fraqueza de seus tenuíssimos cabedais. Em
Calógeras, a seu modo, assinalou o fato quando escreveu que "nesse conseqüência de tal situaçäo — são ainda as "Cartas do Senado" que
assalto contra o instituto servil, desempe. nhavam papel os eternos nos informam — os moradores da Bahia, algumas vezes faziam
ódios dos que nada possuem contra os que têm riqueza; a revotta dos "tumultos", como ocorreu quando da nomeação de Bartolomeu
pobres, ou do popolo minuto. contra os potentados, ou o popolo Fragoso para assistente de Luís Gomes de Mata Correia.
gr0880. das Repúblicas italianas da Renascença. E sobre os herdeiros de A situação foi.se agravando progressivamente com o passar do
uma situação velha já de séculos, recaia o espírito de vindita de um tempo, até a época da Revolta dos Alfaiates. Os membros da
santo furor, ansioso por destruir a instituição." intelectualidade reuniam-se, segundo Aluysio Sampaio, com a
José Venâncio de Seixas, quando chegou à Bahia na qualidade de finalidade de "propagar os livros dos enciclopedistas e os êxitos da
provedor da Casa da Moeda, constatou "o perigo em que estiveram os Revolução Francesa".
habitantes ( . . ) com urna asociação sediosa de mulatos, que não A sociedade agrupou no seu seio os elementos que desejavam lutar
podia deixar de ter perniciosas congeqüênciag, sem embargo de ser contra a dominação portuguesa, desenvolvendo atividade clandestina
projetada por pessoas insignificantes; porque para se fortificarem lhes no sen. tido de conduzir o povo a combater o estado de coisas
bastavam os escravos domésticos inimigos irreconcliáveg dos seus
existente. ESSCS intelectuais, dentre os quais vale destacar os nomes apresentava uma posição programática para a açäo imediata contra
de Agostinho Gomes, Cipriano Barata, os tenentes José de Oliveira o estatuto colonial. Será por tudo isto, entre as camadas mais
Borges e Hermógenes de Aguiar (que foi absolvido e morreu como empobrecidas da população de Salvador que o movimento
Marquês de Aguiar) propagavam, nos quadros daquela sociedade encontrará base social e irá consolidar-se política e militarmente.
literária. idéias libertárias. Mas não foi tal organização que impulsionou Queriam a emaneipaçäo do Brasil do jugo português, um regime de
o movimento. O pensamento de uma saída revolucionária para a igualdade para todos, onde não mais houvesse preconceito de classe
situação surgiu exatamente de outro componente da conjuração: ou ra4a e cada um fosse julgado pelo seu merecimento. Manuel
artesãos, soldados, alfaiatcs, sapateiros, cxescravos e escravos. A Faustino dos Santos, ao ser perguntado sobre os objetivos do
posição de Cipriano Barata, que participava 'Ia sociedade literária, foi levante, não teve dúvidas em afirmar que "era para reduzir o
cética e reticente quanto à possibilidade de uma solução violenta. Ao continente do Brasil a um governo de igualda. de, entrando nele
ser procurado por Manuel Faustino dos Santos para participar do brancos, pardos e pretos sem distinção de cores, somente de
levante, afirmou que "deixasse de semelhante projeto porque a maior capacidade de governar, saqueando os cofres públicos e zindo
parte dos habitantes vivia debaixo da disciplina de um cativeiro e não todos a um só para dele se pagar ag tropas e assistir as necessá. rias
tinha capacidade para tal ação; e o melhor era esperar que viessem os despesas do Estados."
franceses os quais andavam nessa mesma {liligència na Europa e logo
cá chegavam. "Francisco Moniz Barreto, a quem se atribui a letra do ( 17) Muitos historiadores. entre eles Caio Prado Júnior. exageraram a posi• cão
hino dog inconfidentes, também optava pela vinda de Cipriano Barata na Consplraçåo dos Alfaiates. Aflrma o conhecido hlstoria. dor "ao
lado destes setores populares. aparecem alguns intelectuais. Entre eles. Cipriano
Barata". (Evolucio Política do Brasil e outros ensaios. (2a ediçåo). S. Paulo, 1957. p.
(12-A) "Anais do Arquivo Público da Bahia". vols. XXXV. xxxvi: 210). Os fatos se encarregam de desmentir o que foi escrito acima. Cipria. no Barata
fol implicado nos acontecimentos que estamos analisando, quando o temor das
de Devassa de Levantamento e Sedição Intentados na Bahia cm 1798". Imprensa
autoridades via olhos e atividades subversivas por toda parte. Mas nele näo se
da Bahia, 1959.
envolveu. Näo mostrou, mesmo. grande simpatia pelo movimento dos artæaos Os
(18) "Cartas do senado (1673 1683). 2' vol. Bahia p. 39- seus depoimentos perante as autoridades e outros documentos apreendidos des.
(14) Idem, Idem. p. 54. mentem cabalmente a sua particlpaçäo.
(15) Sampalo. A. : "Inconfidência Baiana de 1798", i" "Seiva", no Durante a Devassa. ao ser Inquirido. declarou. sobre a dlstribuiçåo de papéis
setembro Rediciox:8 que "em certa ocasião depois que se espalharam os papeis ediciosos e
liberunos no més de agosto ( _ . ) ele se lenura de se haver justamente indignado
1951. Salvador. Bahia. contra todos aqueles que estavam em genæ'hante artefato, Isto na caga do dito
16) Anais Gonçalo Gonçalves onde tinha ido saber de uma obra que lhe encomendara. quando
se despedia dele". ( . ) "A opiniäo que costumava com facilidade formar, sobre o
61 Estado Político da Europa, sem aplfcacåo ao continente do Brasil. mal ouvidos e pior
dos franceses. ((18) (17) Não era outra, também, a posição de interpretados por alguns desseg pardos. interessados na revotucäo, é que tem
resultado nas imputações que lhe têm felto" . Mas, dando xeque.mate,
Hermógenes de Aguiar. trecho da carta de Cipriano Barata a um amigo, onde diz: "Temos escapado de grande
desastre da rebelläo de escravos, mulatos e negros; ainda o sangue de todo nåo visto o
Se é verdade que esses intelectuais desejavam acabar com o pe:dgo a que temos andado expostog•. ( ) "Meu amigo, caute•a com canalha
estatuto colonial ou supunham fosse possível atenuar a situação em afr½ana... ) (Anais. . I vol. p. 184) — Näo apenas estes fatos. si sós muito conclusivos
que se encontrava a Capitania — e neste particular exerceram papel desmentem a sua participaQäo na revolta. Os votos de fidelidade •'que sempre
que deve ser destacado — o certo, porém, é que recuaram, prestou e presta a sua Real Majestade", conforme declarou. sio provas irrefutáveis de
que a sua atuaçAo nesses eventos nio fleou comprovada. Pelo conttáHo.
tergiversaram, vacilaram à medida que og acontecimentos se
precipitavam e caráter mais radical e a ele aderiram os ( 18) Anais.
artesãos, alfaiates, sapateiros, exacravos e escravos. Enquanto os (19) Anais.
intelectuais teorizavam sobre um possível papel libertador dos (20) Anais.

franceses, a ala mais popular do movimento, sem muito teorizar,


62 estreitas com a França, dali recebendo livros, folhetos e possiveln•knte
A coisa diziam os papéis que foram colocados na cidade. (29 Em apoio para o movimento. Oficiaig de navios franceseg que aportavam,
um dos manuscritos apreendidos pelas autoridades, lê-se: "ó vós povo comunicavam-se com os conspiradores. Tal movimento político
(ilegível) sereis livres para gozares (sic) dos bens e efei\os da clandestino não era desconhecido pelag ridades da Metrópole.
liberdade; ó vós Povos que viveis flagelados com o pleno poder do Em 1792 recomendavam 80 governo da Colônia vigilância severa ao
Inimigo co- navio francês Le Diligent, que vinha à procura do explorador
desaparecido La Pérouse, mag — segundo pensavam as autoridades
roado, esse mesmo rei que vós criastes; para vos esse roubar mesmo e lusas — tinha o objetivo real de disseminar entre nós "o espfrito de
para rei tirano vos maltratar.é quem se firma no trono para vos vexar, liberdade que reinava na França." Otávio Tarquínio de Souza afirma
"Homens, o tempo é chegado Para a vossa ressurreição, sim para que a mesma Carta Régia que denunciava as intenções do Le Diligent
ressuscitareis (&ic) do abisrru) da escravidão, para levantareis (sic) a informava que a Constituição Francesa de 1791 já havia sido traduzida
Sagrada bandeira da Liberdade." para o espanhol e o português. A aludida sociedade secreta —
"A Liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do Cavaleiros da Luz — que se reunia provavelmente em casa de João
abatimento; a liberdade é a doçura da vida, o descanso do homem Ladislau de Figueiredo e Melo como inúmeras outras, pregava as obras
com igual paralelo de uns para outros, a Liberdade é o repouso, a de Voltaire e os seus membros tinham entre os seus livros os de Mab]y,
bem-aventurança do mundo." (22) Reynal, Condorcet, liam Adam Smith e discutiam as idéias dos
pedistas.
A açäo revolucionária prosseguia a sua marcha, enquanto os
intelectuais na sua maioria discutiam teoria política ou aguardavam Inúmeros "papéis libertinos" chegavam para os conspiradores
que a Franga viesse em socorro do Brasil. baianos cano chegavam, também, para o Rio de Janeiro, onde, em
1794, o padre José de Oliveira dizia que "meio Rio de Janeiro estava
Isto, porém, não quer dizer que a componente popular dos perdido e
inconfidentes baianos não procuragse penosamente estabelecer uma
base teórica para o movimento. Sendo quase todos da condição
chamada humilde, tinham dificultades em o ideário que (21) Anais.
vinha expresso numa língua para êles desconhecida: a francesa. Por (22) Anais.
(23) Tarqufnio de Souza, 0.: "O Meio Intelectual na Epoca da 'ndependência".
isto mesmo, sempre que possivel, diligenciavam a traduçäo de obras "'Literatura". n' i, Rio, Setembro de 1948, p. 4 se.
que lhes vinham do estrangeiro. Por esta razão, mantinham ligações 63
lidertino" Os que eram ligados às idéias liberais eram chamados
"franceses. "
A conspiração, porém, não ganhava a amplitude exigida para
vencer, pois a intelectualidade que a ela se engajara não se sentia
encorajada e decidida a se apoiar nas camadas sociais mais
descontentes, em conseqüência da posição económica que esses
letrados ocupavam na es• trutura da sociedade colonial. Vacilavam
em dar base n•nis radical à revolta. Brn conseqiiência dessa posição
expectante a Inconfidência Baia• na como que estaciona, surgindo,
em seguida, as primeiras delações acompanhadas de prisões. Diante
desta moldura conturbada é que começam a se projetar os seus líderes
populares. Luís Gonzaga dag Virgens é o primeiro que se destaca
com invulgar mérito. Descontente com a orientação que vinham
dando à revolta, inicia um amplo movimento de agitação e difusäo
dos manuscritos que continham o programa inconfidente. Atuysio
Sampaio informa — e os manuscritos apreendidos peIas autoridades
confirmam — que o programa do movimento era: 1.0) Independência
da Capitania; 2.0) governo republicano; 3. 0 ) liberdade de comércio e
abertura de todos os portes "mormente à França", 4. 0 ) cada soldado
terá soldo de 200 réis por dia; 5.0 ) libertação dos escravos.
Já haviam sido tomadas, porém, logo após as primeiras delaçöeg,
az providências necessárias para que a revolta fosse sufocada e os
seus cabeças encarcerados. O autor dos manuscritos — Lufa
Gonzaga das Virgens — é caçado pela polícia, sendo preso
finalmente a 24 de agosto. Isto vem precipitar os e
obriga os inconfidentes a medi. das de emergência. (25). Tentam os
seus companheiros um ato desesperado a fim de arrancá-lo do
cárcere. Fracassada a tentativa, seguem-se novas delações. Afastam-
se os praticamente do movimento. Sua direção passa a ser
exercida pelos líderes saídos das camadas mais baixas e oprimidas da
população da Capitania: artesäœ, escravos. O governo
iniciou em seguida brutal repressäo contra os impli. ru
conspiração. Detém inúmeros dos seus participanteg ou simples
suspeitos. Todos passam pela peneira fina das autoridades, como é o
caso de Cipriano Barata.
Mas, o que nos aqui não é fazer uma história da
Inconfidência Baiana. Nosso objetivo, dentro dos planos do presente
trabalho, é ver o grau de participação dog escravos nos eventos.

(24) Tarquínio de Souza, 0.: ''Mbertlnos do RIO de Janeiro",


"Folha da Ma. S. Paulo, 19-2-52.
(25) "Determinando o ajuntamento no campo do dique do Desterro, para
a noite de vinte e cinco de agosta passado procurou ele declarante ao dito José Rai•
mundo Baratc, com quem tinha amizade por lhe ter feito obras do ofício de alfaia. te e
seus irmaos e pela prática, expressada que com ele Uvera a respeito da II. berdade lhe
expos o proietado levantamento com todas as circunstâncias. que ele declarante sabla e
ag mesmas que 'á express.0L\ dizendo-lhe mais que por se ter preso um dos cabeças do
dito ievante, que era o soldado Luis Gonzaga. se pretendia na• quela noite revista a
gente, gue havia do partido, a fim de desencadear o levante que estava destinado para
mais vagar _ _ (Anals. vol. p. 16) _

O Escravo Negro e o Sertão


64
"Cambondo,
Azueia engoma !
Quero vê couro zoá!
Omúlu vai pro sertão
bexiga vai espalhá"

(Canto de da Bahia y

Os estudiosos do problema do negro em nosso país estabeleceram um


estereótipo que vem sendo constantemente repetido sem que se faça uma
análise crítica do seu conteúdo: o da pouca ou nenhuma influência cultural e
étnica do negro nas áreas convencionalmente chamadas "de sertão" do r_æste,
Nordeste e Norte do Brasil. Excluindo-æ o caso de Minas Gerais, onde essa
influência foi visível a olho nu e não exigiu pesquisas que demandassem esforços

continuados e profundos, a maioria dos estudiosos que se ocupa de assunto tão


importante para a ensão de nossa formação histórica, cultural e etnográfica,
tem passado por cima de um problema que precisa ser reexaminado
criticamente a partir de sua base, pois esses estudiosos continuam confinando a
influência us culturas africanas e da raça negra ao debrum litorâneo.
Não que estejamos defendendo a tese de uma influência do negro nessas
regiões, idêntica à que existe no litoral, onde os maiores focos de trabalho
escravo se estratificaram; não que estejamos tentando criar um nôvo estereótipo
para substituir o primeiro. Acenamos apenas de modo cauteloso para a
importância do assunto a fim de que novos estudos, novas pesquisas venham
mostrar que tanto no campo da pologia como no da Etnografia, da História
e da Sociologia, há necessidade de uma revisão de conezitos capaz de repor o
problema em bases científicas. Existem na área chamada "de sertão", das regiões
a que nos referimos acima, uma parcela de reminiscências negras muito maior do
que a que foi inventariada até o momalto. O gue vamos apEæsentar, nas linhas
que se seguem, são simples notas, sujeitas a revisão posterior, a novas
interpretações, na medida em que um maior conhecimento do problema nos
fornecer os elementos conceptuais para tal. O cuidado
227
que temos, ao apresentar estag simples notas, poderá ser explicado se negros que habitavam a região. Segundo essa lenda, o "Negro D'Água" tomarmos em
consickraçao o fato de que quase nada foi feito, até o mo. possui "cabeça de cuia", é completamente glabro, tem "pés chatos" (de mento, no particular. e
corpo de atleta. Gosta de tabaco ao ponto de abrandar-se com a oferta de "fumo de corda". Costuma Plænder nog "fiapos" do rio e nos alagadiços as canoas dos
soltando-as quando a vítima joga funv» na margem. Segundo nog foi transmitido por um "barran-

ter em afirmar (na sobrevivido 1946, região O que época do "é Artur São nossível, em em Francisco) que Ramos é residíamos quase costumes. teve maior certo
oportunida(k, na inclusive do que cidade que a irrfluê.ncia se de em traços pensa, Juazeiro carta de negra podendo a cultura (Bahia), nós tenha dirigidamesmomate.sidode
queiro" o no deflora-as. preto, meio do o da vermelho Rio Quando testa. São. Assalta moça e Francisco, o barbado. solteira as moças há aparece Esse três que espécies
último tomam "Negro grávida possui de banho na "Negro um região nas olho . D'.Água"É, margens o somente.também,povo dize

certos entre irânico e crédulo: "Está grávida do D'Água"

rial". dade de uma De fato, dessas ninguém regiões, que deixou residiu de notar por algum a influência tempo cultural numa comuni-e étni- zundo muito vingativo.

acreditavam (2) os Em moradores Paratinga locaishá a "Cova ele mora. do Nêgo" Ainda ondeem Paraca sença. do negro, Quando embora estivemos de forma em

Juazeiro, diluída, tivemos mas denunciadora oportunidade de de sua assistirpre- tinga, o seguinte durante canto as : festas de "Reisados", um colaborador nosso

recolheu

a de inúmeras propriedade sessões de de conhecido candomblé. político. em dois conservava terreiros o locais, ritual um Gege-Nagô.dos quaismandioca
"Quem arranca
Além disso. o prestígio esses terreiros desfrutavam e os ataques que e nêgo nu algumas vezes sofriam do órgão da imprensa local "O
Juazeiro", Quem tinguija a lagoa tram o grau de importância que a oninião da comunidade dava a essas é jaburu". (8)
práticas. auando havia O próprio jogo de futebol maior local importância, refletia essa era contaminação comum encontrarem-secultural e Como vemos, o negro está
presente no folclore da região do São

se pugna anualmente repetia ou ver nas nas naquela anulados portas "receitas" cidade, dos na sua jogadores de a eficiência. influência medicina que popular. Nos o
africana adversário autos Até era do Congo, visível, queria na literatura realizadosalijar fato quededa Francisco. do zendas Bom ou Jesus entrou Isso da porque nas Lapa
matas, ele chegou foi nas introduzido ao caatingas local onde como e ele nos que escravo hoje morr(NI fundou se em encontra, com o algumas Santuáriofugitivo,divi-fa-
como quilombola. Quando o legendário monge

cordel Peito Só".encontramos essa influência como no folheto "A Negra de um sou alguns em portugueses Itaberaba currais e escravos de vastas da África." proporções
Ainda que eram na região cuidados do "porBom
Jesus da Lapa — informa o mesmo autor existiam distantes da gruta
Em outras regiões do interior da Bahia a influência do negro é uns quinhentos metros, umas quantas choças de índios e a uma légua também visfvel, não somente através
da pigmentação dos seus habitan- uns currais de gados do Conde da Ponte, aos cuidados de portugueses tes, mas estratificada em reminiscências folclóricas. Em Jacobina,
na- e africanos." A influência africana nessa região do São Francisco poquele Estado, há a "Festa do Quilombo" e uma povoação chamava-se derá ser mais claramente
compreendida através do fato que vem narrado até há pouco tempo "Quilombo dos Negros". Os "Encarnizados", no Mu-pelo Padre Turfbio Vilanova Segura, no
livro a que nós já nos repornicíoio de Paratinga. também Estado da Bahia. localizado às margens do Rio São Francisco, auto popular que se realiza durante
as festas do de Almeida
pelo Divino menos Espírito influênciado Santo e Santo pelos negros Antônio, da deve região. ser de A origem predominância africana de-ouNascimento pescador (2) Na voltava recolheu zona à de
noitinha a Paratinga seguinte para estória ( Bahia) casa sobre carregando o nosso a vingança colaborador uma do "Nego Expedito na D'ågua"¥ cabeça, quan-"Um

mográfica quase esmagadora de negros na Vila de Mangal, também do ouvia um gemido de uma moita de "atlcum (araticum) cagäo." Mu, atráa da

Municfpio tese de ter deverá de sido Paratinga, aquele ser assunto lugarejo poderá de pesquisas um ser mocambo compreendida especiais.de negros se partirmos fugidos; da isto, hipó-no moita, te pescador ser o

um "Nêgo porém, negro sua D' casa. sabendo Água" O pelos com "Nego da índole o pés D'Agua" dente de vingativa pato. inchado, deu Ai um que jogou O pescador uivo o "Nêgo a tremendo abóbora

reconheteu D'Agua" na e caiu cara imediatamen-na do água. negro mudouOe

para

Ainda na Zona do São Francisco, a lenda no Negro D'Água é uma de D'Ågua" aaminho, abriu nunca uma mais espécie de túnel o do mesmo rio até trejeto. a casa Muito do depois. Um dia, o quando"Nego
reminiscência folclórica de provável origem ou influência evidente dos o chegou em easa às mesmas horas de sempre, a terra afundou com e o "Nêgo D'Ågua" o carregou, devorando.o em seguida."
(1) A carta está datada de 15 marco de 1946. Aliás, é interessante notar (3) Tlngui'ar é encheu de ungui. a Elm de matar os Ëixes. interessante que quando O próprio Artur Ramos, na
qualidade de l*ist.a, peEa notar como. na quadra que transcrevemos. o negro está emuadrado no processo

Negra no do Brasid". S5.o Fraru:isco, S. Paulo, sobre 1942) cuja o a-samto viagem nio escreveu fol um eu.næy fato (in poste. dutivo. (4) Vilanova tos* Segura. o encarregado T. "Bom das
Jesus da Lapa"da regiäo.— Resenha Higwrtca, S. P. rtormenbe, peio próprio Artur Ra.rnoa, na mi—iva a que no. s/d,p.34 .
228229
tamos, sobre os festejos que os ex•cravos realizaram no Santuário do Descrevendo os líderes do movimento, aponta António Beato como Bom Jesus da Lapa, por
ocasiäo da assinatura da chamada I_Æi Áurea. mulato espigado, magríssimo, delgado" ; Pedrao era cafuz entroncado Segundo esse sacerdote, "vindos de todo o
sertão", em "imensa multi- c bruto"; Estêvão é descrito como "negro reforçado, disforme, corpo dão" reuniram-se ali "para dar graças ao Bom Jesus pelo benefício da
tatuado à bala e à faca." um dos combates descritos por Euclides alforria, demorando oito dias, cantando benditos religiosos, rezando, dan- da Cunha, tombou "um
curiboca de 12 ou 14 anos." Ainda descreve a do vivas ao Gabinete João Alfredo, tocando maracaxá8, tambores, pan- degola de um negro realizada pelo Exército.
nas fotogradeiros, cabaças com milho etc" . fias que ilustram o livro, pode ser notada a influência negróide entre
O autor que esternos acompanhando afirma, ainda, que os negros do as prisioneiras, sem muita dificuldade.
sertão conheciam o Bom Jesus da Lapa pelo nome de "Lenibé.Furáme", A descrição que Euclides da Cunha faz do conjunto dos jagunços segundo lhe foi transmitido
por Frei Tomás, franciscano que estudava a de Antônio Conselheiro coincide, em linhas gerais, com a que Teodoro influências das religiões negras na região.
Sampaio faz dos habitantes de um trecho da região säo•franciscana.
lação infor- o mulato, o branco tostado
mações a muito São influência Em Francisco, animadas. que Curaçá, nos africana apesar foram Município A toponímia se de transmitidas faz não que sentir. podermos
da se região situa Lá e se reproduzir também registra igua]mante extraviaram há um de Congadas, às riacho memória lamentavelmente,margens com por as o do
nomosinalRioo de tos Afirma curiboca, cabelos dos policrômica o seus escritor castanhos misto diversos de baiano: de c negro nossa cruzamentos às vezes "Vêem-se, e
terra. índio, ruivo; ali O o entre cabra, caboclo as estão raças eles, repre*nt-ados."legítimo, todos do continente os matizes o negro e os da crioulo,produ-popu-

de Quilombo e um povoado denominado Cacimba. Quando, em 1671, Frei A descrição poderá ser facilmente confirmada por uma simples Martin de Nantes esteve
naquele Município, teve de, por ordem de Gar- viagem através da região. E não apenas no São Francisco: em cidades cia D'Avila, marchar contra "o génio de corw"
que se havia "apossado tão distantes e isoladas como Amarante. no Piauí, até quando lí estide todos os currais dos dois lados do rio num cspaço de trinta léguas
vemos, realizavam-se congadag anualmente. E a povoação de Almas, no depois de terem massacrado os vaqueiros e negros num total de 85." ii'.terior de Goiás,
possui uma população quase exclusivamente constiAinda na mesma época esse religioso se refere à existência de um mulato, tuída de negros.
"homem bela aldeia, muito quatro espirituoso", léguas acima que morava de Pemba."com ns índios, possuindo "uma Neste sentido o trabalho do Prof. Alfonso Trujillo
Ferrari sobre

— pública embora Também esteve a decadência a convulsionada região de do Canudos, local com e o a que quase revolta nos extermínio de primeiros Antônio da anos
Conselheirosua da antigaRe• nistag. influência assunto, Potengi, (11)mostra no africana São que Francisco, é naquela bem maior pequena embora do que comunidade
não supõem verse os especificamente do sociólogos Rio São Francisco impressio-sobre ao

população façam com que, atualmente, não se possa aferir o grau de influências africanas existentes no pa8sado, não ficou imune à Nem sempre, porém, essas
informaçõcs nos vêm através de trabainfluência negra. Euclides da Cunha, com aquela acuidade invulgar lhos sistemáticos como o do Prof. Trujillo. Jornalistas também
que o caracterizava quando expunha fatos, teve oportunidade de, indire-

tamente, dizia: apontar "Via-se, essa influência. então, pela Ao primeira descrever vez, os em prisioneiros globo, a populaçãoque che-(10) Sampaio, T. "O Rio S.
Francisco e a Chapada Diamantina", Bahia, zavam,

suportado, de nômicag Canudos: mais sobressaía e, características. à parte um as traço variantes Raro de uniformidade um impressas branco pelo ou rara um sofrer
negro nas diversamentelinhas puro. fisio-Um -1938, quiabo, palavras cravada (II) p. chuchu. na 66.africanas" O regiäo Prof. mulungu. do Alfonso enumerando-as: Sio
gambá, Francisco Trujillo marimbondo. Ferrari e banana, por ete identificou ca]umbi. pesquisada. minhoca, dendê, em papagaio. "a potengi. presença inhame, bengala.
comunidade de inúmerasmaxixe.eacëte.en.

ar de família em todos, delatando, iniludível, a fusão perfeita das três cachimbo. cacimba, canga, coringa, mocambo. moringa, quitanda, tanga. angu, canraças." jicx, fubá, mocotó, pamonha. quitute. tutu,
vatapá. cachaça, fumo, maconha. berim.

"Predominava — continua Euclides da Cunha o pardo lídimo, eurnba bau, bambo, e várias zabumba, outras. cabaço, Aponta ainda caxumba. o ugo caçula. da palavra
quilombo catinga, coma cochilar, significandoma,
(lios misto ITtissimo e de duros cafre, recordando ou português anelados, o elemento troncos e tapuiasuperior deselegantes; faces de mestiçagembronzeadas, e aqui e ali cabelos perfil corro-cor- uma sado que,
dos quilombos lamentavelmente, até "representaçåø
o momento. está bastante folclórica Além o autor
disto. difundido, da o luta Professor muito dos
negros mais Trujillo do fugidos Ferrari demonstra se
corn dá pensa os a composicäo Indios", ou como foi o
pesqul.dançaAutode. nho descreve, mas fato que

Op. cit.cit nota à p- 19-9. mogråfica termos moradores da de de potengi Potengi saa pela produtos correspondem cor. da a miscigenaçäo seguinte à eor a parda, de proporçäo "branco" isto é.
cromática: aos com "morenos" "preto" "dos (mula•(em751 Op.

Juàzeiro(8) Mattos, op. (BA), Cit. 1926. J. p. 17-18.p. Descriçäo 23. Histórica e Geográfica do MuniciLio de Curaçá.
to), contingente frilb Ferrari, "branco" branco A. : com Poteng:-Encruzühada da população "índio" (mameluco), de Potengi no é e de de 18.7% do Indlo Sho e com o preto Francisco
"preto" é de (cafuzo). 10%. São Paulo,(Tru-O

(9) Cunha, E. d" "Os Sertöes". R. de Janeiro, 1933. p. 608. 1961. p. 174).

230231
brem de vez em quando, como elemento de notícia, restos de antigos de restos de um quilombo formado muito antes da Abolição, por
quilombos que existiram encravados no sertão. Ivaldo Falconi, por escravos fugidos de engenhos de Campina Grande, Alagoa Nova, Areia e
exemplo, em reportagem publicada em 1949, dava-nos notícias de uma Alag»a Grande. Vivendo em uma serra de acesso difícil e acidentado e
comunidade esquecida no Sudeste de Alagoa Grande, limites com os ao tempo coberta de densa vegetação, longe das estradas, permmeceram
Municípios de Campina Grande, Ingá e Alagoa Nova, em um dos ali ignorados." "Já depois da Abolição — ainda é Ivaido Falconi quem
da Serra de Borborema. Segundo aquele jornalista a região depõe — adquiriram os negros com o produto de seu trabalho uma vasta
é habitada por "negros que vivem em condições quase primitivas e em área de terra, que era explorada como propriedade coletiva da co•
estado de rela. tiva segregação racial e cultural." É R chamava munidade e que hoje se encontra reduzida a uns vinte hectares. Grande
comunidade negra de Caiana. Esses negros continuam em relativa parte de suas terras foram tomadas por proprietários vizinhos que, por
segregação, somente entrando em contacto com os brancos — e habitam meios violentos, as anexarem às fazendas:" ao
zona de predominância brancóide — quando na festa do Ano Bom
O da Serra do Talhado, na Paraíba, foi outro aglomeramen. to
mandam a sua orquestra "uma cutiada a que dão nome de tocar na
conhecido pelos moradores das vizinhanças, com os quais mantêm
cidade".
intercâmbio. Os negros da Serra do Talhado vivem em quase completa
segregação. Isto é favorecido pela quase total falta de comunicações que
'Caiana — prossegue o jornalista fica localizada em um planalto de cerca impera na regiäo. O jornalista que descreveu de
de quinhentos metros de altitude. Em uma área de seis quilóme• tros de antigo quilombo, refere-se a alguns outros existentes no sertäo, inclusi•
extensão vivem mais ou menos trezentos negros em cerca de cem ve ao que foi descrito por Ivaldo Falconi e a que já nos referimos. Diz o
habitações. Essas habitações, feitas de barro e cobertas de palha, com jornalista: "Os chamados negros do Talhado não apresentam sensíveis
apenas uma porta na frente e outra no fundo, não são aglomeradas em diferenças de outros tantos aglomerados do mesmo tipo que se
forma de arruamento." Depois de descrever os elementos musicais da encontram em Caiana, Alagoa Nova, na Quixaba, em Sousa, em Pombal
comunidade diz Ivaldo Falconi: "Não resta dúvida, pois. de que a e noutros pontos mesmo de Santa Luzia. Esses núcleos se formaram,
comunidade rural dos negros de Caiana tem mais de cem anos e de que provavelmente, com a fuga de antigos escravos à monocultura da cana,
muito antes da Aboiiçäo eia já existia. Tudo, por isso, leva a que se trata no
IvatdO: Quilombo "Correio das Artes", Joio Pessoa, constituindo a Ainda sua maior o autor felicidade de "Caminhos em
1849. merecer Antigos algum e Povoamento dia o nomedo
( I&m. idem.
de vaqueiro."
Idem, Idem.
Brasil" se refere à anomalia de no Ceará o negro ter sido mais
232 abundante no sertão do que no litoral.
Como destacou Capistrano de mesmo na rudimentar e rarefeita
brejo e faina da lavoura de algodão da zona sertaneja dos Cariris." economia pastoril a presença do negro não foi
Depois de algumas divagações disparatadas que falam do negro como nula como querem
membro "da escala inferior da espécie". volta o jornalista de "O Estado
é mais do que uma
de S. Paulo" ao aspecto descritivo informando: "o Talhado nao pode, de S. pauto", Longinqua Favela", in "O Estado Setembro de 1957.
assim, confinar-se a caracteres especialíssimos. Porque ele não é mais do
(16) Idem, idem.
que uma grande e longínqua favela, no seu sentido mais positivo, na
( 17) Idem. idem.
concepçäo mais original e física. Uma grande favela rural. onde a mor.
( 18) Abreu. Capistrano de: "Caminhos Antigos e Povoamento do RIO. 1960.
fologia, os costumes, os acidentes e o folclore negros se entremostram p. 259.
com variantes, apenas; das favÆžlas cariocas, Se há, porventura, uma (19) Abreu, Capistmno de: "Op. cit. p. 261-62"
diferença sensivel eñtre os dois "habitats", esta é, ainda, a da segregação fazer crer certos estudiosos cujo pensamento analisaremos mais
mais pronunciada nos sertões. Por aqui o grupo racial oposto adiante, embora não possamos, por outro lado, dizer que ele
nio foi receptivo à influência dos costumes negros, não preponderou naquela forma de economia sertaneja. Sua posição é
participou dos seus batuques, fez-se apenas mero observador do seu mais de sobra do que de elemento engajado no processo de trabalho.
folclore; ao passo que no Rio o atavio negro teve adeptos." A origem dewes mulatos e negros no sertão só poderá ser encontrada
Apesar dos laivos visivelmente racistas do correspondente de "O se analisarmos esses elementos como fugitivos. Achamos que Gilberto
Estado de S. Pauto" podemos ver, pela parte informativa do seu trabalho, Freyre se aproxima da razão quando vê nas constantes fugas de
que, de fato, os negros da Serra do Talhado sio resto de um antigo escravos para o sertão a causa desse pontilhar escuro no interior. Diz
quilombo. ele: "O negro fugido, este. às vezes, conseguia ganhar os gerlões, as
É toda uma pontuacño de influências das culturas africanas que está matas, os quilombos. Sobre tudo os que, por isto mesmo, parecem ter
solicitando equipes de pesquisadores. Equipes que coletem esse material sido marcados com a presença antes de negros altos e magros os que,
que se está perdendo lamentavelmente. segundo os anúncios de jornais, mais fugiam do que dos pretos baixos
e gordos: talvez os que melhor se acomodavam" ( . . . ) "Os negros altos
e magros — os "secos de corpo" dos anúncios de escravos fugidos —
Quem apontou com muita propriedade essa influência agora teriam levado consigo para os sertões e quilombos o ânimo de
analisada, embora a ela se tenha referido apenas circunstancialmente, foi aventura."
Capistrano de Abreu. Destacou ele, estudando a história do Ceará, um
trecho do Roteiro do Maranhão e Goyaz pela do Piauhv, de O Sr. Luís Viana Filho, em um dos seus trabalhos históricos,
autor desconhecido — provavelmente teria sido escrito por João Pereira afirmou que "o sertão não foi hostil ao negro. A sua organização
Caldas, segundo opinião do mesmo Capistrano — onde se lê que "nos econômica rudimentar das caatingas e dos campos de criação, foi um
sertões da Bahia, Pernambuco e Ceará, principalmente pelas vizinhanças elemento de passagem, transitando pelas estradas do interior como
do Rio São Francisco, abundam mulatos e pretos forros. Esta gente tropeiro ou carregador ou como parte mínima de alguma bandeira."
perversa, ociosa e inútil pela aversão que tem ao trabalho da agricultura, O esquema do Sr. Luís Viana Filho serve apenas para mostrar um
é nuito diferentemente empregada nas fazendas de gado. Tem a este lado da verdade, mag precisa ser complementado com o outro lado,
exercicio uma tal inclinação que procura com empenho ser nele ocupada,
talvez mais importante. É verdade incontestável que a economia
pastoril não podia arcar com o ônus do escravo, caro e de difícil
aquisição na zona sertaneja, principalmente a do São Francisco. Os sertão, por motivos particulares, ele não participe do processo de
estudiosos do assunto, partindo da premissa de que partiu o Sr. Luís trabalho.
Viana Filho, caem inevitàvelmente em conclusöa que não desnudam e
apreendem a verdade na sua totalidade. O esquema lógico, as hipóteses O quilombola, ao internar-se no sertão, aliava.se ao "indio brabo"
de trabalho désses estudiosos desejam encaixar o negro escravo na também revoltado. Os índigenas da Serra de Tiúha, afirma Borges de
economia sertaneja. E ele sobra. . . Partindo de atitudes mentais que Barros, uniram.se aos negros e assaltaram o Rio São Francisco,
foram sedimentadas nas pesquisas, trabalhos e conclusões realizados "encontrando resistência em Felizardo Ribeiro Lisboa." João Roiz Vieira
em relação ao negro da orla litorânea, onde se estratificou na sua mais foi, por seu turno, enviado para "reprimir os negros fugidos que se
completa forma o sistema escravista de trabalho, não conseguem ver o uniram aos bárbaros do Rio das Contas". Ainda segundo Borges de
elemento negro senão dentro dessa categoria (escravo), assim mesmo Barros, "(ÀS
deformada por uma série de racionalizações, como a da docilidade do
africano. do seu masoquismo, da sua passividade.
(22) Morais Rego, L. FY: "O Vale do Sio Francisco", S _ Paulo, s/d. p. ss( 22-A) Foi o
Não é no trabalho que se irá encontrar de forma fundamental o que aconteceu nas Lavras Diamantinas, na Bahia. A deseoberta de pedras prec¾sa.s fez
negro no sertão, especialmente na Bahia. e Sergipe. O negro ali com que se deslocassem para aquela regiäo inúmera. tami. lias que depois ali se fixaram.
aparece como perturbador da economia, como fugitivo, como levando "numerosa escravaria". •'Lanç-öis foi um dos focos da escravidäo. gerador de
uma populaçåo negra ponderável. Lá existe, até hoje. uma artéria que se chama Rua dog
quilombola. Se estudarmos a intensidade dos quilombos no interior Negro,q_ A Filarm6nica Såo Benedito é, como bem se observa, um espelho do
dessas regiões poderemos achar explicação para a influência preconceito racial que medrou na chapada durante o seu esplendor" (Valfrido Monis:
étnica e cultural do negro no sertão. A zona do sertão da Bahia foi um '•Jaxu.nç08 Heróis". Rio de Janeiro, 1963. p. 32. nota). Em outras regiöes baianas o
verdadeiro paraíso para os quilombolas. O Vale do São Francisco, escravo negro estava ligado ao trabalho. Na Fazenda Campo no sertäo baiano. o
patriarea Miguel possuiu inúmeros escravos, no XV 1 Ir Difícil é ge estRbelecer
isolado, era, por outro lado. uma região ideal para aqueles fugitivos. o número exato dos cativos pois ele se referiu aos mesmos apenas uma vez, quando
Morais deles fez registro no "livro de vacas." Já Ant6nio Pinheiro Pinto. genro e que o sucedeu
em Seco. "foi senhor de grande escravaria quo ser calcu]ada entre 80 a 100 indiv[duos
Gilberto: "O Escravo nœ Anúncios de Jornais Brasileiros do entre adultos e menores c machos e fêmeas" ( - - _ ) Quando passaram em 1818 pelo
Século XIX", Recite, 1963, p. 199. nordeste baiano. Spix e Martiug viram uma fazenda situa• da no caminho entre Caeteté
(21) Viana Filho, L. ••O Negro na BMC', R. de .ranejra, p. 128. e Rio Contas. "ondc haviam mais de 160 negros" O livro de anotaçöes de pmheiro Pinto
refere.se também a fugas de escravos de sua propriedade e 80 pagamento de
234 eap-.t.åes.do.mato para capturá-los. Está escrito ali: "Fogiome o Crioulo Joio a 14 de
Rego aproximou-se da verdade quando, descrevendo a origem do Junho era de 1795" e em seguida: dro. Pa. L.niz seguir aos negros fogfdos_ _ 1680".
povoamento da região, afirmou que •'a intromissão de elementos Parece que não SQ contentou com um eapltäo pois refere a outra importancia também
alienígenas na bacia média se efetuou de maneira obscura: elementos paga outro Capam de Mato". No ano de 1800. Ant6nio Pinheiro Pinto comprava "um
tžonco de pé e pescoço" c, em outro "tronco de pænder'• 'Licurgo Santos Fflho: "Uma
brancos, egressos do convívio social e negros fugidos. Comunidade lal no Brasil Antigo". Sio Paulo. 1956, pp. 117 ss). Ainda na regiio do São
Francisco os remeiros até hoje cantam. como reminiscência da escravidäo naquela zona:
"Formaram a população misturada e desordenada, vivendo ao
sabor de seus vícios e paixões, que o Dr. Diogo de Vasconcelos "Em casa de negro torro nao
se tala em cativo _ _ Quem
denominou as facinorosos" . tem defunto ladrao não fala
Em seguida acrescenta o mesmo autor: "Ressalvadas as lavras não em roubo de vivo. .
houve no Vale do São Francisco importação de escravos: o elemento
235
negro c(llsiste em egressos das zonas agrícolas e litorâneas
subalternas. aborígines da região central da Bahia, aliados negros 'dos mocambos
que a infestaram, traçaram, naquela época remota, a direcão a ser
"A contribuição do negro na formação da raça teve, portanto, seguida pelos seus descendentes, derivados dos inúmeros
duas origens: a escravidão nas lavras auríferas, confinada à parte alta e cruzamentos das três raças que ali encontraram.
os vadios e rebeldes". Isto não quer dizer que em algumas regiões do
"As guerrilhas — prossegue o mesmo historiador — os levantes (25) œ.2ado, m•. M. : "O Valeroso Lucideno e Triunfo da
inopinados, os lmrticínios e tão comuns nag regiões Liberdade", Såo Paulo, 19-45. VOI_, p. 324.
compreendidas entre Conquista, Macaég, Condeúba, Ilhéus, (26) op. cit. 323 ss.
cabeceiras do Rio das Contas, Jequitinhonha, Pardo. Grongogi, (21) Varnhagen, F. A. ; "Hiatória dag lutas com Holandeses no Brasil". Säo
Canavieiras, Belmonte, Macaubas, Lavras Dimantinas e tóda margem Paulo, 19-45. p. 233. A corroboraçåo parcial de Rocha Pita esté no seu "His.
São Francisco, encontraram as suag origens no banditismo que tória da América Portuguèsa", Bahia. 1950, p. 195 _
(28) MAttœ, Jr: op. Cit., p. 12.
assolou asses sertões durante o período acima citado."
O bandeirante FernÃo Carrilho. à frente de uma bandeira e 236
auxiliado pelas Companhias de Ordenanças da Torre de Garcia d'Åvila Enquanto estes fatos acvnteciam na Bahia, em Alagoas os negros
e Campos do Rio Real, venceu os mocambos de Geremoabo e os de PaEmares muito mais trabalho davam aos governantes. Expedições
índios de Agsuru e Itapecuru-Mirim. sucessivas, inicialmente sob o comando dos holandeses, depois sob a
Em 1700, Pedro Barbosa Laal, que explorava os sertões do salitre, direçäo dos representantes da corca lusa, et•arn derrotadas,
recebia um regimento especial comandado por João da Costa para verdadeiro panico em toda a região. A importância de Palmares, como
"fazer entradas nos mocambos de negros fugidos e agregar todo o foco de disseminação das culturas negras no sertão foi, contudo,
gentio que fora das missões." Antes disso, porém, em 1644, analisada devidamente. Um movimento que durou sessenta e cinco
quando João Fernandes Vieira reiniciou 8 luta contra og holandeses, ao anes e que fazia incursões, impunha hábitos, propagava costumes,
necessitar dos préstimos de Henrique Dias, teve notícias de que o precisa ser analisado mais detidamente e não apenas no seu aspecto
mesmo se encontrava" com sua tropa a buscar e prender um grande heróico. Pab mares, além de protesto do escravo contra o cativeiro,
número de negros que haviam fugido a seus senhores." O chefe dos produziu conseqüências muito profundas no seu aspecto cultural.
negros que lutavam contra os holandesestal a gravidade da situação — Tendo os negros palmarinos — como é sabido, o elemento banto — ao
colocado a serviço da repressão aos quilombolas. (26) Varnhagen acha se em. brenharem na floresta, levado sua cultura e permanecido
que Henrique Dias estava, àquela altura, negros de durante quase setenta anos na região, se transformaram num foco de
Palmares, o que o deixou .com sua tropa bastante destruída." A atir• propagação sua técnica, hábitos, religião, costumes. Esse foco
mativa de Varnhagen está, contudo, apoiada no livro do Padre Calado transformou-se posteriormente em uma constelação que depois se
que não se refere explicitamente a esses encontros de Henrique Dias dissolveu, integrmdo-se no amabouço da vida da região: no folclore, na
com os negros de Zumbi. Carmrão também se encontrava ao lado do ucnica de criação e domesticação de certos animais, transmitindo não
primeiro, combatendo os quilombolas. O certo, porém, é que o chefe apenas a experiência adquirida como trabalhadoræs de eito, como
dos "Henriques" estava fundamente empenhado em destruir os quer Édison Car neiro, mas, também "a experiência ainda mais larga
quilomboias, fato que Rocha Pita corrobora parcialmente afirmando que deles e dos seus ante. passados nas savanas e nag florestas
ele se encontrava no sertão, sem contudo, dizer no que se ocupava. '27) africanas", como afirma o Profesor Josué de Aliás, o livro de
O certo, porém, é que os ex-escravos se encvntravam em franca Édison Carneim, é no partitular uma contribuição que abre caminho a
rebelião, dificultando o desenvolvimento do povoamento da um estudo mais profundo, a região onde esses escravos se
hinterlândia, ao ponto de afirmar um cronista que Fernão Carrilho, como centro de referência, para pesquisas que apurem
conseguindo destroçar os mocambos, com as Companhias de o grau de influência dessas culturas africanas.
Ordenanças da Torre do Rio Real da Praia e Sertão e os de Assuru e Até hoje, há em Alagoas o Auto dos Quilombos, descrito por Artur
Itapecuru-Mirim, "muito concorreu para a colonização dessa região." Ramos. Na inicial cantam :
(23) Borges de Barros, F. "Bandeirantes e Sertanistas Baian08", Bahia. Folga, nêgo,
1919,
'24) MS Transcrito na obra citada. Branco não vem cá.
Se vié
O Diabo há de levá.
Folga, nêgo,
Branco nio vem cá.
Se vié
Pau há de levá.
Artur Ramos escreve com acerto que "não precisa esforço de
interpretaçäo para concluirmos que o auto alagoano dos
quilombos representa uma sobrevivência histórica da República dog
Palmares".

(29) (80) Ramos, Cutro. A. J%ué : "O ''Geografia Negro da no Fome",


Brasil". R. R de de Janeiro, Janeiro, 1846, "'d p. 135. ed.),
p. 63. Devanoe acrescentar do que Quilombo" Alfredo no Brandio seu trabalho
conseguiu "Viçosa uma de descricäo Alagoas" multo. Ali mafa "temática do
"Auto principais do Auto e utuda Inclusive aua área, gue se loca. na V•iç—, mu
se aos "out.ms luga.z•ea do caat.vo Ratado" in Carneiro, E. — Anto:ogia Negro
BraS1eiro••, P. Alegre, 1%0. p. 249,
237
Enquanto as combatiam os quilombos da Serra da
Rarriga, na Bahia a luta continuava e os ex-escravos ameaçavam as povoal
çöes de Piranhas, Rio do Peixe, Piancó, Sul do Piauí e Maranhão, o que
obrigou a Coroa a estacionar no Nordeste, além dos terços de baianos, os
terços paulistas comandados por Matias Cardoso de Almeida e Manuel
Alvares de Morais Navarro. Esses terços, no entanto, tiveram de acudir a
Domingos Jorge Velho, que combatia a República dos Palmares e que se
encontrava, naquele momento, reduzido a apenas cinco ho• mens. Mesmo
depois de destruído Palmares a luta prosseguia e, em 1704, Francisco
Soares de Moura era provido de patente de Capitão-mor das Estradas de
Mocambos e Negros Fugidos a fim de "manter o sossego dos moradores
circunvizinhos à Serra Negra e residentes nos distritos de Vila Nova até o
Canindé, Capital de Sergipe dC Eh Rei, "para evitar aos ditos moradores
os roubos, desinquietações, mortes e escândalos que. . . recebem há muitos
tempos dos negros fugidos dos Palmares e se acham situados em
Mocambo na dita serra, mais de sessenta com prevenção de armas de
fogo." 3
Outros ex-combatentes de fundaram um quilombo na
Parafba, no local denominado Cumbe, hoje Usina de Rita. Segun• do
Ademar Vidal 8e haviam aliado a outros da Capital e do interior. O
Capitão-mor Jerônimo Tovar de Macedo seguiu com quarenta homens
para destruir esse reduto. A luta foi furiosa e ele terminou completamente
derrotado. Em seguida indicaram João Tavares de Castro que .com
escravos e gente paga" conseguiu arrasar o quilombo.
No momento, ou melhor, no mesmo ano em que Francisco Soares de
Moura atacava os quilombos da Serra Negra (1704). Dias da Costa recebia
a patente de Capitão-mor das Estradas do Distrito do a fim de
"'extinguir os mocam.bos, apiisionar os negros e reduzir os indios
Maracases, Cacurus e Caboclos. Era, como acontecia freqüen-temente, na
Bahia, a aliança do quilombola com o índio rebelde. Essa aliança foi
apontada por Euclides dB Cunha que escreveu: Geremoabo aparece, em
1698, como julgado, D que permite admitir-se origem muito mais remota.
Aí o elemento indígena se mesclara ligeiramente ao africano, o
canhembora ao quilombola."
Corroborando a hipótese dessa aliança entre os índios e negros
encontramos, em 1783, João Gonçalves da Costa derrotando o gentio
Mongoió ou Nogoió que se havia juntado aos quilombo'as.

(81) BGqgeR de Barros, F. — Op. eit de MS de e Patentæ.


(32) Vidal, A. : Três S&ubs de Escravidão na Paraiba. "Estudos Afro.Bra.
sileirog, R. de Janeiro. 1938. p. 110.
(32•A) Mesmo no interior do Plauf se fixavam às vezes. Gurguäa "formou.se
aos entre 1710 e "Uns homens brancœ. Ve• teranos das entradas; alguns pretos
remanescentes do império negro de Palmares, e uma dúzia de índios Chegados ao
aprisca da religiäo. elementos hetemgêneog que a terra e o uniram" (Artur Passos:
"Lendas e Fatos" Cronicas do Rio Gurgusa), Rio Janeiro, 1958, p. 100) .
(38) Borges F. r Op. eit TN.rw:rf9So de MS de C»rtas e patentes.
(34) Cunha, Euclides da: Op. cit., p. 102 e nota página.

238

Tática de Luta dos Escravos


Do ponto de vista militar temos de ver que — na maioria das vezes
— a luta dos escravos no Brasil não foi um simples espocar
inwnsequente de u'a malta descontrolada de desordeiros que investia
contra tudo e todos a fim de satisfazer instintos baixos ou intenções
inconfes. sáveis. Tinham esses escravos um objetivo, que era
precisamente derrotar militarmente seus senhores; para isso
estabeleciam plænos de ataques, muitas vezes demonstrativos de
alguma perícia, e que somente por fatores que os escravos não
controlavam deixaram de surtir efeitos mais sérios. De fato: alguns dos
povos africanos que vieram para o Brasil principalmente Bah ia—
eram grandes guerreiros na África e para aqui trouxeram sua
experiência militar, aplicando-a em função da libertacão dos seus irmãos
de infortúnio. Isso talvez explique por que os nagôs e aussás foram
lídereg incontestáveis das lutas dos escravos na Capital baiana: eram
povos já experimentados militarmente no Continente Negro,
principalmente os últimos. Até em Palmares, movimento onde
predominou o elemento banto, encontramos um mouro de capacidade
militar superior aos demais, construindo o sistema de defesa palmarino
e industriando os ex-escravos na arte da guerra.
Suas armas eram de duas espécies: usavam as que já conheciam os
povos africanos e também armas de fogo. No Quilombo dos Palrrures
além das armag típicas dos africanos — arcos, flechas, lanças, etc., os
escravos da República negra alagoana já manejavam com pericia as de
fogo. Nas diversas investidas contra o reduto dos ex•escravos as armas
de fogo dos negros imporão derrotas aos colonizadores que desejavam
esmagá-los.
No início exercerão uma ativid8de predatória muito grande nas
vizinhanças, a fim de conseguirem víveres, armas e munições. Não
tinham ainda uma estrutura económica estratificada, eram
seminômades.
Com o crescimento do número de escravos e o conseqüente
surgimento da agricultura, a técnica militar dêses ex-escravos sofrerá
uma evolução, como veremcs. A agricultura ali praticada e a
consequente formação de relações escravistas dentro da própria
República palmaria na, a sedentariedade a que se viam obrigados, tudo
isso os levou à formação de um exército regular que garantisse a defesa
do território da
241
República. Daf o de uma espécie de casta militar entre nos campos cultivados de Palmares.
os palmarinos. A guerra de movimento, sustentada por inúmeros outros
quilombos, não pôde ser continuada em Palmares. As guerrilhas foram
transformadas em operações de envergadura que, depois de realizadag, ba» A territorial medida que e econômiea suas roças que eram havia
tinham um local fixo de regresso, local que era ccmhecido pelo destruídas transformado e suas terras os palmarmos ocupadas, ema
inimigo. O nomadismo inicial dos ex-escravos do quilombo foi
sedentários, vai derruindo, e suas tropas adotando uma tética mais de
substituído pelo sedentarismo e, à medida que as atividades agrícolas
se desenvolviam, iam transformando a técnica e tática militares que movimento, de guerrilhas. Apóg o último grande combate entre as
eles aplicavam. A flexibilidade inical que existia na força palmarina. forcas Jorge dos Velho colonos e Bernardo e dos palmarinos, Vieira
foi sendo substituida pelo peso numérico. Seu exército deverá ter de as Melo primeiras e as segundas chefiadas pelo por Zumbi,
crescido muito, embora não possamos avaliar até que número. O certo
Domingosem
é que, ocupando uma superffcie de cerca de 27.000 quilômetros
quadrados, tinham de manter uma tropa considerável que os garantisse. 1694, quando o último foi dado como morto, os palmarinos passaram a
Essa população — da qual partia cipavam inúmeras crianças, mulheres agir em grupos de guerrilheiros até ser o seu chefe assassinado.
e velhos, não podia sustentar-se de simples produtos de aventuras
venatórias ou de assaltos eventuais. O desenvolvimento da agricultura Debelado Palmares e morto seu chefe, seus antigos combatentes se
palmarina marcou o início de sua transformação militar. Assim, embrenharam nas matas do Nordeste e começaram a organizar os qui•
adestravam-se constantemente para a guerra. Tinham o 242
quartel-general localizado no mocambo de Subupira onde ficavam lombos, fato que motivou a denúncia de um em Cumbe, destruído
certamente instalùs os principais chefes militares. tempos depois, como vimos. Ainda os encontraremos na mesma
Palmares passou, assim. uma tática meramente defensiva. Ao invés época: na Patente de Capitão-mor concedida a Manuel Nogueira
dos ataques iniciais aos colonos, modificaram suas relaçöes com eles: Ferreira há referência a um mocambo que novamente se formava
cobravam uma espécie de tributo quando não mantinham comércio mais naquela Capitania, dos negros que fugiam dos Palmares de
ou menos pacífico "dando-lhes (os colonos) armas, pólvora e balas, Pernambuco, e que era preciso acudir-.* logo, antes que se
roupas, fazendas da Europa e regalos de Portugal, pelo ouro prata e fortificassem." Outros se aliarão aos índios. Estava extinto,
dinheiro que traziam dos que roubavam, e alguns víveres", (Rocha definitivamente, o exército dos ex-escravos palmarinos, que se
Pita) . transformou em grupos guerrilheiros, isolados nos diversos pontos do
Ainda em 1678, quando o Rei Ganga-Zumba aceitou a paz com Nordeste em que foram parar. E o capítulo de Palmares foi cerrado.
os senhores de escravos — razão peta qual foi morto pelo seu povo e A'iás, as guerrilhas serão constantes nas lutas dos escravos. Os
titufdo pela casta militar na pessoa do Zumbi, o mais capaz e qui. lombolas baianos, desde 1704, agiam nas estradas praticando
valente dentre todos — os palmarinos tinham algum poder ofensivo. c escândalos", providos de armas de fogo. Atacavam, também, as
Depois, passaram à completa defensiva, deixando a ofensiva nas mãos estradas de Satitre, Jacobina, Tucano etc., usando a tática de guerrilhas.
das forças legais. proporção que a expedição de Blaer, em 1645, Onde, porém, usando essa tática parece que os escravos obtiveram
avança, encontrará vastos campos cultivados, lavouras importantes. maior êxito, foi em Sergipe. Antes de Palmares já atuavam e, no ano
Posteriormente de 1874, ainda darão trabalho considerável ao governo, que não
consegue localizá.los para um ataque definitivo. Esga tática deixará em
desespero os dirigentes da Província. Unidos aos escravos das senzalas
os era nador atacantes destruir Aires descobrirão suas de Sousa roças. — com quem mantinham estreito contato — serão sempre bem
Castro. que Em o 1678 maior essa daí mal em observação que diante informados e nunca travarão combate de envergadura, mas desgastarão
podiam é feita destruição causar pelo aos ex-gover-negros,lavrará com ataques de flanco seus adversários até o fim. Nunca serão
derrotados. Usarão armas de fogo e não constituirão grupos muito
consideráveis, durante os ata. ques. Grupos de 10 ou 12. bem armados
e montados, serão suficientes para ocupar vilas e povoados, onde com as quando aguardavam em 1826, auxílio de maneira dos escravos
conseguiam víveres e de onde se retiravam em seguida. Várias
inversa dos os engenhos quilombolas próximos. do Urubufato que se
expedições foram enviadas contra eles, sem resultado. Jamais ocuparão
território. O movimento é sua salvação. repete, os da cidade. Os governantes sabiam
Será o movimento a salvação dos quilombolas. Todas as vezes que é que se revoltavam, esperando muito bem das tentativas desš?s
o abandonam são derrotados. Em Minas Gerais, sempre que os escravos, cujo desejo era justamente a junção de suas forças para um
escravos das cidades se preparam para os levantes. dentro delas
contarão com os escravos fugidos das estradas, a "rapaziada fugida das ataque comum, e tudo faziam para frustrá-la. Aos quilombolas,
matas" para a açao. Outras vezes. quando os escravos mineiros caem certamente adestrados nas guerrilhas, juntar. ge.ia a tátiea dos negrog
para o ajuntamento maciço, são facilmente derrotados. O maometamog, que já traziam da África uma lon• ga e bem assimilada
quilombo do Rio das Mortes foi facilmente destruído,
de vista experiência militar mas de do lutas. organizativo E delas
apesar de ser "um túo grande que já parecía um reino.
também. se aproveitariam Além de nãoinstruírem só do ponto os
Nas revoltas baianas os escravos da cidade combinarão com os ne•
escravos nos rudimentos de estratégia de que eram conhece.
gros refugiados de fora, nag para matas o próximas ataque. Essa a
união tática das já forças era usada de dentro desde da 1807,cidade
dores — sem o que não se explicam os êxitos conseguidos contra as for. 1840 ainda ag;.am, sendo Caxias obrigado a criar um Corpo de Guardas ças da Polícia em
lutas como a de 1835 — como criando associações se- Campestres para lhes dar combate. cretaa como a "Ogboni", que desempenhará papel muito saliente no de.
senrolar dos acontecimentos. O uso de armas de fogo nio será Quando o escravo Manuel Congo dirigiu a luta dos escravos aqui. nhecido por esses escravos. Já
muito antes das revoltas citadinas lombados no Estado do Rio, foi, com relativa facilidade, liquidado. Emcomo vimos — os quilombotas usarao essas armas e
atuarão no interior bora ameaçando por vezes a Cidade de Vassouras, esses escravos planda Província com relativo êxito. Nas revoltas da Cidade do Salvador
tmvse definitivamant.e em um lugar, estabelecem um reino. proclamam seus são derrotados. Caxias encontraog inteiramente desmuitos dos seus
participantes descendiam dos povos do Sudão ou de lá eram filhos, conhecedores profundos de trabalhos em metais, fundido. controladcg, por faltar-lhes uma
direçáo mais conseqüente. A derrota res exímios e, certamente. se empenharam em forjar armas — quando desses escravos foi tarefa muito fácil. Assim em
inúmeros lugares. Os não espingardas — pela sua complexidade — pelo menos facas. lanças escravos rismo, a tinham luta de como posiçãoaliado o movimento e
como adversário o sedenta-

etc. Além disso, encøntraremos rudimentos de uma indústria de


guerra na fabricaçäo de "cartuchos de pau cheios de pólvora".
descobertos na revolta de 1826, em um dos casebres próximos à
mata do quilombo. Os atufás baianos estabelecerão, mesmo,
rudimentos de um plano militar na revolta de 1835. Tudo isso
mostra como os escravos se deixaram dominar nas suas revoltas por
simples paixões momentâneas que vinham à tona em movimentos
inconseqüentes, nas planejavam seus movimentos detalhadamente.
Temos ainda a anotar que existiam rudimentos de uma hierarquia
militar entre esses negros, embora fundamente mesclada como
não podia deixar de ser — à hierarquia religiosa. Os "capitães"
teriam, certamente, uma função militar que não podemos subestimar
se atentarmos no fato de serem nossos escravos ciosos dessa
prerrogativa militar que só era concedida aos mais aptos na guerra.
Ainda devemos ponderar o fato de existirem até soldados entre os
quilombolas, ou orientando-os — como aconteceu em 1826, na
Bahia para vermos que seu potencial estratégico não era nulo. Na
revolta de 1835 os escravos usaräo armas de fogo em quantidade,
pelo menos no início da açäo. o que lhes valeu superoridade
evidente sobre a força da Polícia que com eles se bateu. Em 1813
tinham como plano atacar a casa da pólvora, rando•se do
necessário e inutilizando o resto.
Eram lutas, como vemos, em que os escravos ajustavam métodos
aprendidos no Continente Negro com outros adquiridos em contato com os
brancos.
Na Balaiada, porém, quase que não há diferença fundamental entre a
tática dos ex.escravos do preto e o grosso das tropas que participaram do
movimento. No início — antes de participarem da luta — quando ainda
aquilombados na Lagoa Amarela, podemos dizer que os negros de Cosme
tinham algumas características especiais de luta, caracterfsticas que
consistiam no estabelecimento de piquetes avançados, na invasão das roças
próximas, na defesa periférica do quilombo, digamos assim. Operações
meramente predatórias a fim de conseguirem, víveres. Ao engrossarem,
porém, o contingente da Balaiada, passaram a atuar como guerrilheiros,
correndo em tropelias o interior da Província, em rápidas lutas, até que a
espada repressora de Caxias esmagasse o movimento. Então. cairão na
formaçño de pequenos grupos que lutarão desorganizadamente na Província
maranhense. No ano de
245

Conclusões

Na introdução ao presente trabalho afirmamos que todos


fatos apresentadœ só sentido se fossem perspectivados dentro
de um proeesmw dinâmico, isto é, se fossem perspectivados
como componeltes de um todo que era 8 sociedade escravista e,
além disto, como conteúdo da dicotomia básica na qual eta se
asentava. As rævoltas doa escravos, como apresentamos neste
livro, formaram um dos termos de antinomia dessa sociedade.
Mag não formaram apenas um dos termos dessa antinomia:
foram um dos seus elementos dinâmicos, porque contribuíram
para solapar as bases econômicas desse tipo de sociedade.
Criaram as premissas para que, no seu lugar, surgisse outro. Em
termos diferentes: ag lutas dos escravos, ao invés de cœlsolidar.
enfraqueceram aquele regime de trabalho, fato que, aliado a
outros fatores, levou o mesmo a ser substituído pelo trabalho
livre.
O dinamismo da sociedade visto do ângulo de devir, teve a
grande do quilombo'a, dos escravos que se marginalizavam do
processo produtivo, e se hcorporaram às forçag negativas do sistema. Desta
forma o escravo fugido ou ativamente rebelde desempenhava um papel lhe
escapava completamente, mag que funcionava como fator de da sociedade.

As formas "extra legais" ou "patológicas" de comportamento do escravo,


segundo a sociokzia aeadêmica. serviram para impulsionar a sociedade
brasileira em direçäo a um estágio superior de organização do trabalho. O
quilombola era o ele. mento que, como sujeito do próprio regime
escravocrata, negava-o material e socialmente, sdapando o tipo de trabalho
que existia e dinamizava a estratificação social existente. Ao fazer isto, sem
conscientiza. çao embora, criava as premissas para 8 projeção de um regime
novo no qual o trabalho exercido pelo homem livre e que não era mais sim.
ples mercadoria, mas vendedor de uma: sua força de trabalho.
Ao mesmo tempo que assim procedia, o escravo rebelde
criava novos níveis desajustes, novos elementos de assimetria
social; pois, ao retardar o processo de produção, fazia com que,
no pólo inteŽmediário, se desenvolvessem elenæntos que
também impulsionavam a no seu sentido global para
novas de convivência. Isto quer dizer que defluíam, depois, como
reflexo da sua atividade túLde, outras formas
247
de comportamento "divergente" em camadas diversas que, por seu Esta interdependência dialética só poderá ser compreendida,
turno, influíam para que os escravos ainda passivos se insistimos, se tomarmos o quilombola não como termo morto ou
transformassem em elemento dinâmico, passando de escravo a negativo, mas como termo e dinâmico. A compreensão do processo
quitombola. ux.•ial, segundo esta forma de enquadramento, sofre uma
reviravolta. Porque o escravo que tem sido apresentado até aqui
como elemento positivo da sociedade escravista brasi]eira, é despesas, a perda do próprio escravo que se rebelava, durante todo
exatamente aquele que, conformado vsicologicamente com a sua o tempo da escravidão, pesava como fator negativo. Além disso, tal
situação, aceitava as formas tradicionais de trabalho que lhe eram fato, à medida que se agrava o problema com
impostas. Aceitando esse tipo de sujeição, ao desempenh.ar 248
passivamente aquilo que lhe exigia a classe senhorial. ele eontribuía a maior participação dos escravos nesse processo de reaçäo, influfa
poderosamente que, mo-sentido global, Õ trabahho escra vo fosse na produção total e na margem de lucros individuais da classe
apresentado como forma dé capaz de atender às soli da senhorial.
sociedade brasileira,- eternamente. A crítica (emborœ Inconsciente.
fazemos questão de insistir) dœ quilombola. por seu turno, É verdade que, em determinado momento no processo de
ao onerar o trabalho escravo no seu conjunto e ao formação da nossa sociedade, 8 escravidão era inevitável . Isto,
desinstitucionalizá•lo, mostrava, de um lado, as falhas intrínsecas do porém, não significa dizer que por compreendermos o fenômeno
escravismo e, ao mesmo tempo, mostrava aos outros escravos a devamos nos esquecer de que evolução de todas as sociedades se
possibilidade de um tipo de organizaçäo no qual tal forma de trabalho processa através de choques, de contradições e que, à medida que
não existia. A maioria dog ensaios de história e sociologia no Brasil essas contradições — denteo da socie• dade escravista — se
tem abordado esse processo dicotômicO de forma invertida: o azentuam e que os escravos, através de movimentos de rebeldia de
escravo passivo que aceitava o eito e o tronco e construía com o seu várias espécies, nela se inserem, contribuem juntamente com as
trabalho a riqueza da classe senhorial, é apre. sentado como normal, contradições que advêm de outras causas e se processam em outras
glorificado mesmo através de uma literatura de fundo camadas, para que o regime de trabalho imperante seja substituído
incontestavelmente masoquista e patológico. Mas o escravo que se por outro.
rebelava, o quilombola ou insurreto das cidades, que negava o seu Mas, não está somentc neste aspecto acima relatado o
status, não pôde ainda ær compreendido por esses historiadores c dinamismo dag reaçöes dos escravos. Ao se refugiarem nas matas,
sociólogos como elemento positivo e dinâmico. mostravam aos outros a possibilidade concreta de um tipo de
Nestes termos poderemos compreender com mais clareza o sociedade sem a existência do stntus degradante.
papel que os escravos rebeldes desempenharam. Não se trata de Quer no seu sentido económico quer na sua significação social, n
uma glorificação romântica. Trata-se de captar, dentro de um escravo fugido era um elemento de negação da ordem estabelecida. É
método sociológico dinâmico e não acadêmico, o sentido global de verdade que o processo social de nossa formação histórica, que
um processo: a passagem da escravidão para o trabalho livre. Nesse destruiria a esa•avidäo, deve ser encarado de diversos ângulos e não
processo é que afirmamos ter o quilombola desempenhado papel apenas deste cm que o estamos analisando agora. Numa camada
importante, não tanto pelas suas intançöes ou atitudes ideológicas, superior e conscientiarda a campanha abolicionista era conduzida
mas pelo desgaste econômico e assimetria social que produzia. Esses através de instituições legais. As sociedades abolicionistas, os
desajustes produziram-se em cadeia c refletiram-se, quer do ponto parlamentares favoráveis à ma. numis.são, ag ligag pela alforria do
de vista de criar necessidade de serem os escravos considerados cativo, evidentemente não anelavam sublevar a sociedade.
indesejáveis como máquinas de trabalho, quer pelo próprio ânus que Desejavam apenas conseguir parceladamente a substituição do
tai procedimento acarretava, abrindo bolsões negativos na economia trabalho escravo pelo livre. O papel que instituiçöes desempenharam
escravista e onerando conseqiiente1TE•nte o conjunto do trabalho estava acobertado por todos os elementos institucionalizados da
escravo. O sistema de controle social que por causa disto foram sociedade da época. Eram forma legais, canais normais de luta. Estas
obrigados a montar os senhores de escravos, isto é, os elementos camadas que organizavam contra a cmtinuidade do trabalho servil
repres. sores, as instituições de combate ao quilombola, a refletiam outras dicotomias, outras contradições e eram impelidas à
mobilização de recursos eeonômicos para combater o escravo participação do processo por motivos diversos dos dos escravos.
fugido, o pagamento aos capi e, além de outras
Enquanto o escravismo gerava no seu elemento humano básico cor&uidade do regime. Era o escravo considerado bom pelo
o escravo — uma atitude inconsciente mas dinâmica contra a sua senhor. Havia mesmo uma série de preceitos seletivos a fim de que
estrutura, gerava nas camadas que estavam também inseridas no fossem adquiridos elementos passivœ. Os minas, por exemplo, não
processo de dicotomia com a elasse senhorial, elementos de reaçäo eram muito recomendáveis por terem espírito alävo. Já os da costa
conscientes ou conscientizados. Esses dois processos independentes ocidental eram considerados bons, isto é, dóceis ao cativeiro.
se interpenetravam, no entanto, e produziam, conjugados, cada vez Escravo vindo da Bahia, para ser vendido nas outras Províncias, era
mais acentuadamente, e]ementos de assimetria wcial com a classe também considerado
dominante. Eram forças diferentes que somente em algumas áreas e perigoso. Daí vermos que o criurio usado para se fazer a seleção
já no fim da escravidão. como é o caso de S. Paulo, agiam em dos escravos bons ou maus, tinha como ponto de julgamento a
conjunto, mas refletiam a mesma contradição básica em diversos. passividade dos mesmos. Havia até princípios de urrn eugenia
arrevesada usada pelos compradores ao escolherem as "peças".
Do ponto de vigta da própria massa escrava temos de encarar o
seguinte: essa forma de agir do quilombola, com um universo de A dinâmica da sociedade brasileira no que diz respeito à
comportamento oposto à instituição servil, criou uma dicotomia passagem da escravidão para o trabalho livre teve, assim, no
entre ele e o es• cravo passivo. Embora essa dicotomia não fosse quilombola, no elemento rebelde e que por isto mesmo negava o
impermeável mas, pelo Eægime existente, um fator positivo; já o escravo engastado no
processo de pmduçäo, à medida que com ele se ccmformava e mais
249 produzia, era um elemento Daí toda essa simbologia que até
contrário, houvesse verdadeiro fluxo e refluxo nos seus diversos hoje é usada de glorificação do traba. lho escravo no Brasil, que vai
níveis, pois em determinado momento o escravo tradicional se desde a literatura da Mãe Preta, da mucama que se entregava ao
transformava em quilombola e algumas vezes o antigo quilombola senhor, dos moleques que apanhavam alegremente do
voltava à passivi dade depois de capturado, o certo é que, para "sinhozinho", aos trabalhos de sociologia que procuram mostrar
clareza da análise, deve. mos levar em consideração o seguinte: o como o escravo contribuía para o desenv'vimento da sociedade
processo antinômico da socie. dade escravista brasileira no seu bra-
sentido global gerou uma série de dicotornias complementares,
sendo uma delas a que passou a existir dentro da própria casta. dos (1) Quando dizenœ escravo refertmo.noe àqueles elemento. que lá
escravos. Uma parte desses elementos escravos, mesmo ærn unham uma noção, embora fragmentária, da sua situacao, isto é. IA
conscientização do processo e sem possibilidade de autocons. tomavam consideraç50 da diferença e da dista'tcüE, que existiam entre
ciência social era já para si, criava barreiras defensivas 80 sistema, eles e os seus senhoreg_ Por outro lado devemos insistir intu'do aqui não
ganizava-se contra o mesmo. Outra parte dos escravos. no signific•a nenhuma. torma de conhecimento mágico, introspectivo, que
entanto, vivia ainda prostrada sob o complexo escravista, não tinha estava desligado da mas tem a conota_cåo que Georg Lùaœ dá termo
óptica para ver sequer a sua situação imediata, o que o levaria à "zeuição, que ele "'nade mais é do que entrada brusca na consciência um
rebelião, era ainda componente de uma classe em si, simples de reflexio até entäo te" ("Exstencal.ismo ou Marxismo?", S. Paulo, p. 51) .
objeto do fato histórico. Enquanto os componentes da primeira 250
categoria compunham a parte dinâmica da escravidão — por sileira através do seu trabalho conformado. São formas sutis ou
negação ao regime — no sentido de a transfofmar em organização abertu de escamoteação do verdadeiro social,
superior de trabalho, extinguindo-a, a outra compunha parte que deformações que procuram inverter os termos do assunto
consolidava aquele regime de trabalho. O devir social e histórico através de estereótipos pelos interesses conservadores e que têm
estava portanto perspectivado intuitiva e fragnenta• riamente, mas ligação histórica eom os resses dos antigos senhores de escravos. A
de qualquer forma intuído, pelo quilombola. (1) O escravo escravaria passiva sustentava a escravidão. O quilomb018 solapava-
era o segmento material que contribuía para a manutalçäo e a.
No capítulo sobre quilombos e guerrilhas tivemos oportunidade justificativas políticas, usados pelos senhores para a e de
de mostrar as formas de que se revestiu o protesto do escravo. medidas de pacificação do escnvo através do uso da religião ou do
Aquelas for. mag fundamentais, se desdobradas em detalhes, em feitor, usados pela ciasse nhorial. O estado escravocrata recorreu a
microanálise, poderão ser enumeradas da seguinte maneira: inúmeras formas de controle
251
a) Formas mssivag: 1) o suicídio, a depressão psicológica que vão das medidas do Conde dos Arcos para incentivar as
(banzo) ; 2) o assassínio dos próprios filhos ou de outros fricções intertribais até a montagem de todo o aparelho repressor
elementos escravos; 3) a fuga individual; 4) 8 fuga coletiva; 5) que durante a Colônia e o Império foi usado contra os negros
a organização de quilonthog longe das cidades. fugidos; máquina que vai dos alvarás da Colônia, mandando ferrar
os fujões, até às leig da regência, contra cativos rebeldes.
b) Forneas ativas: 1) as revoltas citadinas pela tomada do poder
poEíticn•, 2) as guerrilhas nas mata8 e estradas; 3) a Nas camadas médias formou-se, especialmente nas camadas
participaç.ao em movimentos não escravos; 4) a resistência letradas, uma consciência antiescravista. Além dos letrados,
armada dos quilombos às invasões repressoras e 5) a elementos da burguesia comercial incipiente, artesãos (artesãos e
violência pessoal ou coletiva contra ou feitores. escravos participaram juntos da Inconfidência Baiana) e elementos
empobrecidos da sociedade também sentiam, não apenas pela
Essas diversas formas de reação pontilharam, lastrearam todo o literatura da época mas, também, pela a.ção dos quilombo'as. a
tempo em que existiu o trabalho escravo. E não apenas em deternúla. instabilidade do escravismo.
dos lugares mas em todas as onde predominava esse tipo de Finalmente na camada dos escravos que ainda não havia
trabalho. O padrão de comporomento dominante na classe senhorial, perspectivado o probluna, a luta da camada rebelde despertou
por seu turno, era também condicionado pela intermitência desses elementos de intuição capazes de fazê-los entrar no rol dos que,
diversos tipos de reaçáo, criando mecanismos de defesa quer através da praxis re• v05ueionária, negavam o sistema vigente.
ideológicos, quer institucionais através de apelos às autoridades para
manutenção de pas repressoras nos diversos locais onde havia Toda esta constelação sociológica de ao regime
perigo de sublevação de escravos ou orxle elas se estavam escravista, se não foi determinada pelo menos teve a contribuição
verificando. Como se vê, aquilo que se chamou "o constante perigo ativa do escravo rebelde A rebeldia era, portantn, uma categoria
que a escravaria representa", não apenas solapava o regime de sociológica dinâmica dentro daquele tipo de sociedade e servia não
trabalho, mas atingia o comportamento da classe senhorial. Os apenas para equaciønar, mas dinamizar a realidade.
exemplos poderiam ser citados às centenas, mas não é aqui, nesta Analisando o processo que desaguou na abolição do ângulo
fase conclusiva do nosso trabalho, o momento de fazê-lo, de vez que em que nos colocamos, ficam esclarecidas muitas "zonag
achamos suficientes os fatos que arrolamos antes. Podemos ver à luz perigosas" de análise histórica. Perigosas não pela predominância
de uma nova perspectiva histórica e sociológica qual o papel que o de uma metodologia diversa (Ia que empregamos. Perigosa em
quilombola desempenhou. As deformações que são feitas ou ag diversos outros sentidos. Ao terminarmos este trabalho, que não
romantizaçöes desnecessárias poderão ser, substituídas por uma teve nunca a pretensão de esgotar o assunto, pois o seu estudo
análiæ realística e científica do assunto. apenas se inicia, queremos dizer que sabemos não ser possivel de
ver que a posição do quilombola influenciou o chofre revisar toda a literatura que existe e que se coloca num
comportamento de toda a sociedade da época. Na classe senhorial e ponto de vista diametralmente oposto ao nosso, Isto não será
no estado monárquico que a representava, criou a necessidade de possivel porque "a questão de se se o pensamento pode conduzir a
mecanismos de defesa quer psicológicos quer institucionais. A uma verdade objetiva não é uma questão técnica. mas prática, É na
primeira forma de contmle social podemos ver nos diversos niveis prática que o homem precisa comprovar a verdade, isto é,
rea'idade e a força, o interior do seu pensamento. A discussão HISTORICA E SISTEMAS SOCIAIS GLOBAIS
sôbre a realidade ou a irrealidade do pensamento, isolada da
prática, é uma questão puramente escnlástica." Herscovits, (M. J.) — Antropologia Economsca — Fondo de Cultura Econom!
ca, México-Buenos Aires. 1954.
(1) Já havíamos terminado os originais desta edicio quando lemos o — Antropologia Cultural (2 'vols.) Edltöra Mestre Jou — S. Paulo.
traba. E_ho de Pessoa de Moral. "Sociologia da Revoluçåo Brasileira" (Ed. Leitura, 1983/4. Marx, (Karl) Trabalho Assalariado e Capital Editorial Vitória Ltda. R.
RIO, 1965) onde o autor, 811" baseado em documentaçio da primeira edição deste
Janeiro, 1954.
livro, a tese de que houve uma contínuld*de hist6rLc8 entre as lutas dos
escra. vos e os movimentos reivindicativos dos camponeses que se processam no — Capitar (4 tomos) — Fondo de Cultura Economica — México, s/d.
bojo da atual estrutura social brasileira. Depois de citar exemplos de sublevação de — Salário, Preço e Lucro — Editorial Vitória Ltda. — R. de Janeiro. 1963.
e*ravos Rio de Janeiro, Pernambuco. Paxa5ba. Mato Sergipe e outros locais. Engets LA Sagrada Familia — Editorial Claridad B. Aires. s/d.
deaa,ra o pmfessor "E um erro eno:me se pensar gue a tradiç50 no Brasil é uma ( F.) — Vldeologie Allemande Ed. — paris, 1963.
tradlcäo monótona de subserviência. Muito ao contrário, durante toda a fa» da Tonnles (Ferdinand) Comunidad y Sociedad Editorial Lasada SA,
escravidio o ajustamento submisso do negro é guebrado em diversas Aires, 1947
oportunidades, podendo-se mesmo dizer que 88 bases afetlvas da conduta do
variavam de um pólo a outro: d.n maia completa dedicação ao senhor, às atitudes
(Principios de Sociologia — Fondo de Cultura Económica — México, 1942:
de quando não de violêncie" Cita locafE onde atualmen. Enge18, (F.) — Anti-Düring — Ed. Calvino Ltda. — R. de 1945 _ —
Ludwig Feuerbach y el Fin de Ia Filosofia Clássica Alemana — Ediciones
252 en Linguas Estranjeras, Moscou. 1946.
te a massa camponesa reivindýea a posse da terra para concluir que hé uma conti. — Origem de Ia Familia de Ia Propriedad Privada y del Estado EdiCiones
nufdaÆe entre as primeiras e aa últimas. Aceita a tese de Pessoa de Morais ter-se-á de Frente Cultural — México, s/d.
concordar com a existencia de um segmento exploslvo qLR vem da escravid5.o e ge
solda às lutas atuais dœ homens do Campo no Brasil que exigem reformas estruturais
— As Guerras Camponesas na Alemanha Ed. Vitória Ltda.. R. de J•a.
nas relações de no setor agrário. Seria interessante um estudo ver. tico do neiro, 1946.
assunto, levando.se em consideraçåo que até hoje persfstem reminiscências e Costa Pinto, (L. A.) Sociologia e Desenvolvimento — Editora Civilização
aderências escravistas no campo brasileiro. Isto exigiria, porém. um trabalho es. Brasileira — R. de Janeiro, 1963.
pecializado. feito por uma equipe que aceitasse a obscrtx'cdo participante, Enton (Raph) — Estudio del Hombre — Fondo de Cultura Economica —
dD•se como sujeito no procesgo de transformacSo que se verifica e nåo simples re. México, 1942.
lat6rlos acadêmicos realizados paradou por entidades e instltuiçöes interessadas em Ginsberg (Morris) — Manual de Sociologia — Editorial Losada — B. Aires.
manter o atual estado de coisas. Mais uma vez o trecho de Marx corn o qual en.
1945. Freyer (Hans) Sociologia Ciencia de Ia Realidad — Editorial Losada
encerramos este ú'ttmo capitulo é válido e permanente
Aires, 1944.
253 (Adalf) — Introducción a Ia Sociologia — Fondo de Cultura Económica
MéXi-eo, 1944.
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Cuvillier, (Armandi — Introducción a Ia Sociologia — Editorial América —
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Maragogipe ao Cor*ie dos Arbos sobre revoltas e escravos de Carchoe'ra. — MS 33.
24, 22 da Biblioteca Nacional. Documentos
MS sobre revoltas de escravos em Pirajá. — 31, 13, 13 da Biblioteca
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Jornal "Fôlhn da Manhå" (S. pau10) de 19.2.1952.
Consulta do Conae'ho Ultramarino de 8 de ag09to de 1685. em que o Governador
Jornal "O Estado de S. Paulo" de 1 (9-1957.
João da CNnha Sotto Mayor da conta das pazes pedem os negro. dos Palmares;
Suplemento "Correio das Artes", Joo Pessoa, 29.9-1949.
Encapa.cua-de de alguns Capitöes; q-the feærao os 03 Alferes se
Nformarem e do prestimo de Agost¾8ho Cesar de Andrade.
VI DICIONARIOS E ANTOU)GIAS
JD" de Sousa (Bernardino) Dicionário da Terra e da Gente do BresA — Cia.
Editora Nacional, S. pau]o.
Editora Globo — Dicionário de Sociologia — Porto Alegre. "Snor. He justo que eu faça presente a V. Mag.e e o Estado em que achey a
Ba'dua (Herbert) e Willems (Emll'o) — de Etnologia e Sociologia Cia. Guerra dos Palmares. que foi terem pedido phs a meu Dom Joåo de
Editora Nacional, S. pau10, 1939. Souza. o qual me disse e-ataua disposto a Capitulala. porquanto n" tinha nenhuns
effeéto para se por em cumpanha, porque os que agui se tinbäo gastos nesta guerra.
Rogental (M.) e ludin (P.) — Pequeno Dicionário Filosófico Livrarla
e os moradores desta capitania, nio estauåo de contribuir para ena, peJIo
Exposiçho do Livro, S. Paulo, s/d. terem feito em muitas ocaztöes; e hoje se lhes junta o terriuel. anm que
Carneiro (Êdison) Antologia do Negro Braslleiro — Editora Globo Porto exprimentai¾ na falta de seus asacares, com que näo he possiuel podellos obrigar a
Alegre, 1950. algue contrtbutçao; e por todas estas rezois me forçozo pedindome este pazes
Willems (Emílio) e Barreto (Romano) — Leituras Sociolðgicas — Ed. da aæitRRag. fazendo todos 05 partidos conueniente ao sertl[co de V. Mag.e; e bem
Revista de socmogia, S. pauk', 1940. destes Pouos, até que V. Mag.e tome sobre esta materia a que for aeruido; porque
Cardoso (Fernando Henrique) e Ianni Otavio) — Homem e Sociedade — CcmpAnhia B.or se se ouuer de Guerra a estes negros insolentes. he necessario mandar V. Mage
Edftöre Nacional. Paulo. 1965. consfnar na parte que Eh. paæcer effeitos, para por hua ves se destruirem estes
Câmara Cascudo (Lufs da) — Antologia do Folclore Brasileiro. LIV. Martins barbaros: e nio terio estes Pousos tao continuas operçoi-t porque todas as horas me
fazem qlælxas das tiranias, lhe estio dan. dolhe agaltos, matando brancos,
Edito, ra — Sio Paulo, s/d.
leuandolhe escrauos, e guas cams; e boa testemunha he destes insultos meu
Roquete Pinta e Outros — Estudos Afro-Brasflelros Ed. Ariel — R. de Janeiro, 1935.
antecessor, pla ex-xrieneia que o seu Gouemo lhe .
Gliberto Freyre e Outros Novos Estudos Afro-Brasilefros — Civilizaçäo
Tambem dou conta a V. Mag_e da incapacidade com que se achin os capitais
Brazllei• ra, 1937. Francisco Tauares e Domingos Rebello de Carualho, do 3.0 do M.e de Campo Dom
ários Autores: O Negro no Brasn — Civilizaç'o Brasileira, 1940, Joho de Souza; e capitN8 Manuel Roiz Sanctarem; Gonçalb FIZ da Slyua; Antonio
Joho; e Manoel da Costa Itixelra; do terço do M.e de Campo Zenobio Achioly de
Vas.cos; que he tal o mais do tempo eguo em hún cama, por acharem
mut .:nrregados de annos e achaque. cauzadoa na Guerra, e detfensa estado. em que
Corio de Balas e outras varias feridas, com que todos estas cau• sas os yzentos do
exercicio de seus postos; de continuarem nenes. rezuRa ao serviço de V. Mag.e
grande •prejuizo; a.Mim pia pouca deæplina que exprimentäo soldados, como pela ponham editais para se proverem em sujeito. de toda a suficiencfa e no merecimento
falta q.ha de ofßcfaea, para hlrem Guerra referida, e aseatlrem nas guarnic&a das de Agostinho Cesar se tem feito a S. Mag.e consulta que até agora "50 fot servido
Fortalezas, que esta capitania proue. que me parece gue V. Mag.e por sua real mandar deferir. Lx.a 7 Feve. reiro de 1686.
grandeza, deue mandar dar a estes capi• t"' as reformaçöes. como he estillo neste
Reyno, pois estea sold8dœ empregar" com t_50 asinalado valor, e zello no real (Do livro "As Guerras Nos PaEmares•• de Ernesto Eanes, página 142) .
serviço. porque poucos serio os annos que logram esta m.ce, e mandar prouer estas
companhias, em que em melhor se possåo achar nas que offereçerem; e
nenag tacAo a V. Mag.e grandes seruigog. CONSULTA DO CONSELHO ULTRAMARINO. DE 18 DE AGOSTO DE
1696. EM QUE O GOVERNADOR DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO
Os soldados destes Terços, me fizerSo requerim.to paxa que eu representasse a DA CONTA DE SE HAUER CONCBGUIDO MORTE DO ZOMBY. E
V. Mag- a 'usta peticio que lhe tazfåo; Xdindo a V. Mag_ e lhe fizeg& m.ce ordenar, PERDÃO QUE SE DEU AO MULATO QUE O ENTREGOU.
se não obserue nesta capitania o serem os Alteres perpetuos, porquanto tinhäo
informado mal a V. Max. e sobre este particular, dizendolhe hora muy prejudicada a Snor. O gouernador de Pernambuco Caetano de Mello de Castro, em
sua faz . a r*formaçois que nesta praça se estanão dando todos os tres annos; o
achey plo contrario, porque nunca nena se dedo; antes he muy util que V Mag-e
carta de 14 de Março deste anno, di conta de V. Maga de hauer conçeguido a
conseda a soldados. serem os Alferes trienais, as retormaç5iz que depois tem. he morte do Zomby. ao qual hum Mutato de seu mayor valimento que os
asentarem Praga de soldados, e sua obrig.çao como tala, com a slxunstaneia de moradores do Rio Sio a.prœzfo-nar•äo. e remettA•dœelhe. topara hua das
terem sido OfficÌaes; para deneg se fiar qua:quer e asum ficao todos l tropas que dedicara aquenes destrictos que asertou de Paulistas em que hia
%rando a honra, que meres*m. animan265 por Cabo o CapitSo Andre Furtado de Mendonça, e temendosse o ditto
os homens nobres a seruirem com o intento de serem acrescentados; c V. Mag.e
Mulato ser punido por seus graves crimes oferecera que ægurandoselhe a
com o lu:ro de ter soldados guc fotão offR•iaes prompbos. p. a toda a ocas:äo em que vida em nome delle gouer. nador, se obrigaua a entregar o dittn Zomby, e
Corem
Também achey servindo a Agostinho Cezar de Andrade Gouernador da Forta.
aeeltandoselhe a offert8 dezempenhara a palavra, guiando a Tropa ao
leza nossa s . a do bom das sinco pontas. por parente de meu antecessor Dom Joio de Mocambo do negro, que tinha já lançado fora a pouca tamilia que o
Souza, com a qual requere a V. Mag.e a confirmação; he este sogeito capis de nåo só acampanhaua, ficando somente com vinte negr., dos quae8 mandara quatorze
ocupar este p.œto, senão outros mayores, assim por sua qualidade, vallor e para oe postos dag emboscadas, que esta gente vza, no seu modo e
desposição, como por ter ocupado o posto de Alfel&s de de Campo pago na Guerra; e
na o de Capitão; e ultimamente Coronel, e capítáo mayor da Capitanla de Itamaracå, hindo maes qlæ lhe restara-o a occultar no somidouro que arte fiçiO-
por Patentes de V. Mag.e esta que agora pede; espere eu da grandesa de V. Mag_e lha
conseda; porquanto conuem muito ao real seruiço de V _ Mag.e para a coneruRQ50 266
destes Fortes, hal_ær Gouermadores nelles para o reparo das ruinas das obras. e dos Zamente hausa fabricado. achando tomada a passagem. valetom.
quarteis dos soldados, porque tratão de tudo como deuem. e os Cappitals, que aty vão ou desea. peradamente matando hum homem, ferindo alguns. e
entrar de Guarda, e sayem nio atentao 80 re. paro. e descaminho qtR se segue a faz. a nio renderse nem os companheiros. fora precizo mata]os. apanhando so hum viuo; que
de V. Mag.e; e o soldo deste Gou or Se pode asentar nos effeitas da Cam. ra; na enviandoselhe a cabeça do Zomby, detreminara se puzesse em hum pao, no lugar
conformidade se paga aos terços: e me parece prezente a V. Mag.e que as Fortalezas mais publico da. quella praça a satisfazem os ofendidos e justamente queixosos, e
deste destricto gozem o que se obserua com as desse Rn.o; V. Magre mandará o que atemorizar os negroa que supertiqlonmente julgavaq este tnmortai; pelo que se
mais conuier a seu real seruiço. A Real de V. Mag.e. g. [k S.or como seus vassalos entendia q¥ neste emprea se acha de todo com os palmares; estimaria ene gouernador
hauem03 mister. Reçiffc de Pernambuco 8 de Agosto de 1685 _ qtæ em tudo se exprimentem teliçes para que v. Mag.e se satisfaça do com
que procura desempenhar as obrlgaçöee de leal vassallo.
Ao Concelho parece fazer presente a V. Mag. o que esctæue o Gou.or de per•
JOäo da cunha sotto.Maior. nambuco Caetano de Mello. de se hauer conseguida a morte do negro Zomby,
Tem à margem o seguinte despacho: Ao Conselho pto 80 1.0 ponto que nÄO entendendo que por este meyo se poderio reduzir os mais dos Palmares por ser este a
convem que se admita a paz com e8tes negros. pois A experiênc\a tem mostrado, que princ!pal todos as inquietaçöes, e mouimentos da gtErra, que t50 sensieul. mente
esta pratica é sempre um meio engano e ainda pelo gue toca 8 reputaçåo em se tratar e podeciåo os moradores daquellas capitanias, com tanta perda de suas fazas e morte de
à vista com eles ficamos com menos opiniäo pois isto 8äo uns pretos fugidos e catlvos muitos e que V. Max. de ha hauido. e que o perdäo que seu este mulato se aprouar no
e assim se deve dizer ao Governador que ele lhe faça a guerra da importancia Ceste e de poder por termo as hostelidades tao repetidas
usando daquelles meios que fizeram anbecessores comunicando aos moradores que
porque a hostilidade 11%ros é tudo em ordem à sua conservação e queiram quantas os vassalos de V. Max. exortaçåo e violençia deste negro Zomby- Lx _ a
contribuir com o que puderem para de todo Se extinguir o dano que padecem assaltos 18 de agosto de 1696 _
destes negros e no que toca ao 20. ponto deve V. Mag.e ser servido sejam pasoas JOIO de Sepulveda e Mattos
capazes de se poderem valer deles para toda a ocasiåo a estes considerando o m.to que Joseph de Fas Serråo
convem a seu serviço de que os capitåes servem dos 3.08 que nomeia o Gov.r João da O Conde de Atvor
Cunha e ( . ) de Souza se dê as suas reformaçöes para que tenham com que se e sc
(Transcrito do livro "As Guerras Nos Palmares" de Ernesto Ennes, pág. Caetano de Mello de Castro.
142) . (Transcrito do livro "As Guerras Nos Palmares" de Ernesto Ennee. pág. 142) .
"JORNAL DE SERGIPE" 19 DE MARÇO DE 1878 .
CONSULTA DO GOVERNADOR CAETANO DE MELLO E CAS'mo DB
12 DE MAIO DB 1697 EM QUE DA CONTA DOS NEGROS DOS No relatório apresentado por Manoel Spinota Junior (chefe polfcla) há
PALMARES ESTA- REM QUASE nxrrxros. E DIVISÃO QUE FEZ DOS o seguinte trecho :
PAULISTAS, POR CAUSA DA DISCORDIA Q— SE RECEAVA, HOU-v- œptura de Quilombalas. "Vem de Icaga epoca a exiatencia dos
EssE ENTRE ELES . quilombcg em diversos da ptovincla.
Reunidos em nos tennos de Lara.ngeim.s, Divina Pastora, Rosario, Ca•
Senhor- Pareceume dar parte a V. Maga de qt_k og Negros dos Palmares pella e Japaratuba, os sio uma constante arneaca segurança indl. vlduai e
estio quazi extintos. porque noticia dos que proximamente preizionario núo de propriedade.
che"o a trinta, os que se ocultåo naqueltes matos; e nem este limitado numero
can. servara muito tempo; Os Paulistas, e Indios da nova Aldea de Nossa Desde que entrei em exercicio nesta repartisäo, chegando
Senhora da Victoria tem feito varlaa prezas das quaes vieråo a esta praga conhecimento os praticados por taes escravœ, e a maneira aterradora
cento, e tantos. escravos em hum Barco tor5.o oitenta para o rio de Janeiro. e porque assaltavam lugal*s tenho me empenha&) æriamente par. que
os mais ficaråo nesta praça por nao exceder a ydade em que V. Maga de sesam enes cap. turadDs procurando assim tranquilisar
premite n50 sejao exterminados. A Gente dos paulistas devedi em dous d'aquelleg municfptos e luxares circumvizfnhos.
Arayes por evitar a ruina que de suas se receiava; e por ser isto de V. Excia. sabe perfeitamente o cuidado que me tem dado o serviço da captam
grande utilidade para 88 eapitannias circumvexinhas Palmares; o Mestre de desses malfeitores. e pode avaliar o interesse que ligo a este objecto peias
Campo Domingos Jorge Velho; ficou no mesmo lugar em que estava, e na providencias por mim tomadas, sempre de accordo com V. Exci8. que muita tem
sua companhia sinco capitåes que escolheo, e 08 outros nomeou para se auxiliado a policia nesse
agregarem ao Sargento mor Chrlstoväo de Mendonça o dito Mestre de Infelizmente, os resultados nio correspondem aiada aos esforços
Campo desejava muito apartir de sy; o Sargento Mor, e os mais capitais com empregados, por isso que em diversas diligencias procedida. depois que
Sua Gente ficáo cltuados nas cabeceiras de Porto Calvo: no mesnw lugar em estou em exercicio, nas quaes se tem o tenente do corpo de
que se pretendia fazer segunda Aldea de Indios como a V. Mag_ de avlzey o policie João Baptista da Rocha auxiliado pelas autoridades policiais
que agora se escuza, e os moradores de Porto Calvo recolhes*rn tantas encarregados de promove.las, nåo ge pode passar alem das seguintes
conveniencias nesta vezinha.nca dos Paulistas que me consta se lhe capturas: 8 no Rosario e 4 em Divina Pastora e 2 em Larangelras.
ObrigarSo a proveitos de todo o mantimento que necessitassem enquanto
Para isso nSo pouco concorrem alguns proprietarios dos referidos municipios.
suas rossas lhe nåo dessem o Sustento de que carecião. os quaes por um desleixo criminow não só deixam que
Poæm senhor paresse justo que aos officiaes deste Terço se lheg asista com o meio
soldo que V. Mag de roy concederlhe pera o que no menos tenhäo com se vi*tåo a que esses se acoutem em suas terras, Wmo tambem qòue se
não pode ser sem consignac.äo certa, quando V_ Magr de nio queira que da Fazenda relacionem com que nos seus engenhos, o que é de proveito
real se Cação estas despezas se detrimine que os Tabacos que das Alagoas, e rio de São áquelles, nåo podem ser apre.hen. sem Ãrande difficu\dade
Francisco se para a Bahia paguem súldio ccmo sempre foy um; e nesta forma Continüo, entretanto, a activar esse servico na esperança de conseguir
crecera tanto o rendimento do dito subcidio que com toda a faç4 0 gasto resultados completos. e estou convencido que havendo perseverança, sendo
deste crecimento; a aybda quando isto tosse novo tributo nunca se podtäo queixar repetidas, bem combinadas e promptas as dlllgencias, hão de os quilombos
aquelles Povos por serem os ma!' interessad% na conquista dos Palmares: como se desappareeer, porque escravos n'e11e8 reunidos ou serão capturados ou
verifica melhoras qE já hoje logräo. arnedmntaaos se
faço presente a V. Ma.de que os Capitåeg e officiaes Paulistas sam multos em procura da casa de seus senhores.
delte. catados. dezeJAo Búmamente mandar conduzir suas Molheæs, e f8• A ultima hipotese Já se vae realizando, conforme as communicaç5es que tive
da Capelta e acabo de receber de Larangeiras. onde ha poucos dias se apresentou
267 um dos mais temidos n'aquella localdade_
miliaa pera os Jugares em que rezidem. e donde intentåo fazer duas "111as; mas a A falta de força dos pontos é para isso um grande embaraço, maa espero que v.
pobæn lhes difficulta fretar embarcassåo em que vir Gente; util e Excia. que tanto quanto eu se interessa em ver restituida a tranquillidade dos
asertado; que V. Mag.de mande fretar huma humaça ou premita que VA esta propH.etarios da pmvincia se dignará de ptvvedenciar a como entender
Fragatinh8 Ingleza pera a condução que ae pretende a qual sera pera bem da aeertado para chegarmos aos rins que tio anciosamente desejamos" .
consciencia destes homens e particular serviço V. Mag.de Guarde Deos a real
de V. Magde Pernambuco 12 de Mayo de 697. "JORNAL DE SERGIPE" DE 14 DE MAIO DE 1873.
Quilombolas. — O atual delegado de Laranjeiras, Vicente Jeremias Segundo plano combinado e do exmo. presidente da provinch,
Roberto de CarvalÞw, procedeu uma diligência nas matas do Engenho encontrou 80 da Guarda Nacional para auxiliar força que o unha acompanhado e aos
Brejo. Por denúncia que teve da existência deles naqueles lugares. destacamentc« de diferentes 'aeatidades, aii concentrados. destncamentos, haviam
Infelizmente, apesar dos esforços empregados. os escravos conse. movido todos n•um só dia, já tinham prestado o serviço de devassar as mata.' dos
guindo apenas a escolta trazer prego um pardo de nome Francisco há malg engenhos que ficam em diNçåo ao Rosário e arroiar os estravo. para o lado onde
estava o da forca. O alfe'* Joåo Batista da Rocha recolhera-se no dia 10, depois de
268 percorrer as matas Os engenhos Asso, Grande e Jurema. Auxiliado
de um ano do seu senhor Manoel Curvelo de Mendonçx, sendo útáculo melhores admbH8trndor do 1• dos referidos engenhos, foi a um lugar encontrou 10 ranchos
resultado o mao tempo. a dificuldade de a escolta regularmente em uma que mandou destruir.
mata extensa e intransitável. e também a pouca força de que dispunha o delegado. Os quilombo'... que tinham formado nova aftuaçä.o próxima áquele lugar.
A prigho da escrava nSo deixa de ser de tmportåncin. porque veio se teriam Bido præos, se porventura nåo tivessem aviso: perseguidos deixaram grande
descobrir que tivera ela um filho nos matos e que o viera ckpositar em de porcåo de sebo gado, cordas, alimentos, etc .
A amilade e proteGäo que todos os escE8VOB dos engenhos votam qut•
uma mulher moradora em Laranjeiras conhecida por Maria Cabocla _
lomb0188 såo sérios obstáculos: dio n'O só aviso como guarida no caso de qual. quer
O Sr. Dr. Chefe de polícia tendo conhecimcnto desse recomendou que 0
emergencía, dentro das senzalas.
necessárias para saber se efeito existe o
Desconfiando-se que sob tal proteçáo esttveuem os quilombo]as, cujos ranchos
menor em poder da dita mulher, a fim de sendo tenha ciência o dr. juiz de orno.. a foram montados nas terras do Captm Assú. o snr, Dr. ehete de policia mandou cercar
quem cabe proceder a respeito da forma do rega que baixou com o decreto de 13 de as senzalas do dito engenho. Teve a satisfaçao de ser eficazmente auxilia•
novembro de 1872, por ser o menor considerado liberto.
Vê-se bem que eoes quilombolas praticam toda sorte perversidades 269
gares em que Be eneontram. Roubam, fazem mil privam-se dos seus proprios do pelo proprietaråo o mr. comendador Boto. Nio toram encontrados os quilombo.
filhos, quando n'O lhes dio a morte. como muitas vezes terá acontecido. 188, ma.' toram plEgos 4 escravos da fazenda que fizeram Importantes
Convém, poie. empregar todo o esforço para extinguir esses Na tar& de domingo seguiram 62 praças sob o comando do capftåo Joäo Este.
JORNAL DE ARACAJU: 15 DE MARÇO DE 1874. ves de Freitas para Divina Pastora e o snr. dr. chefe também para alf se dirigiu,
pelo respectivo delegado e pelo sempre prestante major Felix Ze•
No relatório com que o ex-mor snr. Antonio doa Miranda abriu A ferino Cardoso. Foram cercadas as senzalag dos engenhos Limeira, Piedade e Quin.
Assem. b'éla Legislativa Provincial no dia 2 de março de 1874, dongá. dirigindo-se ao 1• em companhia do delegado.
Quilombos : Os proprietários desses engenhos ou seus representantes felicitaram-se com
Ainda nio se pôde extinguir os quilombos de longa data, sio o terror de grande aque1a solucio da autoridade.
número de proprietarios, cuja fortuna e vida sofrem constante ameaça petas Viviam aterrados e razäo. A presença da força e á frente dela o chefe
escoRas que vez em quando d'O os escmvos em diferentes termos. Muitas d!li. se de polieia, desmoratisou quilombolas cuja audácia tinha chegado ao ponto
tem feito e resultados se há colhldo. Resta, porém, muito a faAnda n'O hó muito
de entrarem vilas e povoados, 10 e 12, armados e bem montados,
tempo, em 24 de dezembro último. foi c. chefe de poli. cla dar o plano pan ver
conseguia R captura de um grande gnlpo entre os termos de Capefla e de Infe\
disparando as na porta de algumas autoridades. A força
izmente quilombolas 8'eh8m.E. tSo prevenidos que, apezar de todas as resenpas, para a vila do Rosário e o Sr. Dr. Chefe chegou á capital no mesmo dia á
foram sabedores da di• noite.
Ilgencia que e na qual se contava vê-los capturados sem o mEnor desastre. Houve duaa prisöes importantes e um escravo tugido apresentou-se ao Senhor
que nio permaneœrei tnaUvo nesse serviço. bem que muis de na cidade de Maroim .
uma dificuldade existam contra os meus melhores desejos & respeito. a prlmef• ra São dignos de menções os serviços do alteres Rocha na arriscada
nio ter.* um número suficiente de praças para destinar-se, ao menos vinte, para missåo em acha e devemos louvar o auxntD prestado pelos particulares
cada têrmo em que os quilombola8 mais ap.æsentam, entäo pam formar. um como bem 0 tenente COIOnel Joio Gonçalves de Siqueira Maciei, peia
volante de nio menos 50 praças, sob o comando de um oflct&l brioso, se prontidäo com que dispôs a força da Guarda da vila do Rosário. Eis o
encarregasse de bater Bqueles malfeitores em todos os pontos que os ervcont.ranæ. importante serviço que prestou industria: o anr. dr. Barbosa Lima, tendo
Outra dificuldade consiste na falta de dinheiro para dest:nar-se espias o que abenegaçåo de empenhar seus serviço. quando •tåo próxima estava a sua
também multo concorreria pum a captura doa reteridos
partida para a comarca que lhe foi designada. chegaram dois escravos
JORNAL DE ARACAJO. 20 DE MARÇO DE 1872. presos nas matas do Capim Assú.
Diltgénc!a policia] — Como já tivemos ocastio de dizer *gutu no dia 8 0 No dia 16 foram cercados nas margens do engenha Floresta, com o
snr. dr. chefe de policia para Mamim e dali foi ao Rosário, no mesmo dia. valioso auxiuo do respectivo pmprietárfo José Bernardino D _ C. e Mello
que fomeceu não Bó cavalos e alimentaçåo como em pessoa acompanhou Animado pelo louvavel desejo de captura-los mas os quilombaas evadiram-se
disparando as pistolas que traziam, sendo que a do ucravo Ven. ceslau,
a força. por aviso dado do fugiram os quilombolas, deixando empregando-se em um dw cida.dios que diligeneiavam prender mal. teitoree.
vestJgios da precipitaçäo cm•n que o fl. Assim continuam ainda ousados quilomb01a.B, a despeito das sérias provi.
"JORNAL DE ARACAJû", 3 DE ABRIL DE 1872. den.cias qtE se tomado pan Convém redobrar de estorço nesse sentido. e que todos
aeeundem a açåo da autoridade por bem da tranquilidade dos proprietarios e da
Quilombo'as No dia 21 foram prosas nag matag do engenho Capim Assu 3
escravos tugidos, sendo — criminosos dois por se confessarem dos ferimentos graves provincia.
que sofreu Angelo de ta], no caminho de "JORNAL DE ARACAJO" DE AGOSTO DE 1872.
Um dêles de nome RomåO, declarou a Hércules tal, senhor do en. genho Boa Quilombos. — VSO de novo apparecendo em alguns pontoa os escravos
Nova: o de nome Evañsto ter fugi(b de mês e meio do engenho Sitio NOVO; a fugidos. O rigor do Inverno fa_l.os procurar as proximidades das povoados e a
escrava Germana ter fugido bá pouco tempo do termo de N. S. das Dores, onde protecçao parceiros doe engenhos. protecçäo que muitas tem burlado as
mora o seu senhor. diligencia-a da pollcia.
Antea &asas prisåes o deregado de Rosário tinha cercado 0a sftEos Ultimamente na vilta fez-se uma diligencia que senso foxe aquel'a
Baracho e proteçao grande seria a PæssenUram o movimento da força e delxando os
Façáo entre 8 mesma vila e o Pé Banco, m±eUmnente sem realEtado ranchos com plecipitaçåo refugiaram.* os guSlornb018s nas senzalas dos
por fa autoridade o auxilio do distrito vizinho. engenhos.
O delegado de Divina Pastora, cercou no dia 23, auxiliando o Foram destruidos nove ranchos e alguns animaesManifestaram.se
com algumas pragas da guarda nacional as matas do engenho ainda em pontos do baixo Confingujba og mesmos cravos _ A
Batinga, onde havia um quilombo de 11 negros. Infelizmente malogrou•ee administreçåo não se tem descuidado de garantir. quando lhe permitte a
a diligência por imperícia de alSumas praças Mo pusilanimidade. Apenas pouca força de que dispße. a ordem pub'!ca e segurança individual.
foi capturada uma escrava e apreendidos 4 cavalos, duas armas de fogo e de crer que propietaríos. os mais ameaçados com a nova atitude que vão
muitos de alo'amento. tomando OB quilmnbolas, se esforcem para manter nos seus engenhos severa vlgL
No engenho Floresta, têrmo de RosaHo, Cambem houve um cerco mas sem lancha em Ordem e prevenir o perigoso conluio que hora se då pRra frustrar os pla•
do bom auxfilo o proprietário daquele engenho, que deu monta às e acompanhou nos da autoridade.
diligências.
Sio dignos de touv01æs as auü)ridadeg que têm sabfdo corresponder á DESPACHO EM REQUERIMEZ•-ITO DOS ESCRAVOS CLAUDINO
confiança da autoridade superior na execugao de tio Importante tarefa; os alferes PEREIRA
executores de tao arriscadas diligêne'ag e cs proprietários que auxiliaram. JESUS E LUIZ BENGUELA PEDINDO LIBERDADE
A experiência tem mostrado o gran de relação que entretêm os quilombolas Os supp.e• vieräo com mais hum Captivo q aqui se acha da Va de Sam Matheus
com os emravos dos engemws: acham aqueles apoio e protecäo; troam farinha e e culpa de rebeliio remetidos .. . Cap. mor da Va eom hua carta de gula naq
agasalho pela partilha nos roubos dos primeiros e em caso de perigo invadem as declarava terem se levantado os pretos daquella terra forros e captivos contra Os
senzalas. brancos e pardos eq os ttnhão sido pæsos ca. becas desse motim querendo hum ser
Desde que os proprietários situados nos lugares mais percorridc€ pelos Rey e q. *estava procedendo a devaçø p ser remetida he qugnto destes pæsoe,
quilombolas exercem assidua fiscalizaçao na sua —a•avatura, «x»rtando quanto for eposso informar a V.S. que mandará o que for devido. Cadeia da Bah'a 16 de abril de
possivel a comunicacio protetora que tanto tem embaraçado as diligências, os 1822.
qu_ilom. æus próprios recursos, näo oporäo resistência A (Manuscrito existente no Arquivo Público do Estado da Bah'a) -
estratégia e seråo capturados.
O concurso de alguns senhores de engenhos, já tem produzido excelente. re. AUTO DE PERGUNTAS FFYI'AS AO REO
saltados. NOVO DE NAÇÅO
MACUA.
270
"JORNAL DE ARACAJO" — 5 DE ED 1872. Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos
Qullombos. — Na manha de 2 do corrente, no lugar denorninado Patioba, no e vtntc e trez aos trinta dias do mez de Abril do dito anno
termo de Japaratuba os moradores do mesmo nesta cidade do Salvador. Bahia de Todos Santos e
lugar em de preta africana dos quilombos Cadeias d'ella foi vindo o Doutor Juiz de Fom do Crime Luiz Paulo de Araujo
commigo Tabeliam aodiante nomeaù:», eo Eserl.
Venceslau e Rufino, o do engenho Colté e o cercaram
segundo do Bom Jardim termo do Rosário.
a va-o Adjunto José Hercula.no Pereira Lisboa da Cunha naç.åo afim Macua de aqum
fazer mandou perguntasvir aopreto novo quedeclarava chamar.se Lourlano de
a sua presença e tambem o Advogado e dos estava defendendo Evangelhos e para aos lugares suspeitos . aprehendesæm os ordem por enes cumprida,
conforme elhe encarregoue dc Oiteiro; bem curadm• do Reo quo effetuarao suas deligemga.s os resultados se evidenciSo æape&ivas partes,
igualmente entenderem mandava elingua dito do Ministro Reo. elhes vir encarltgou abei. xo — Participo a V. Se. que marchamos da Cidade as dez hora. do dia,
apresença os debaixo pretos domesmo Sebastiäo juramenta c Franciscoquc por que como me fol por V. ss. wde.nado. Com doze e hum Cabo, P.S o Cabuna, e
chegando a do d. o lugar tive noticia. que Os negros estav&o reunidos em o
elle Ministro passava a fazer e convl•
lugar denmninado Orubt — em numero pouco mais, ou menoe. de Cin.
commuucassem ao Reg as perguntas daem lingua portugueza as Respostas coenta. e tambem alguag Negras, eprocurando para ver se os encontrei
que cila '118Ne sem tanto enes como o Reo prejudicassem 8 hum Capitão de e mais dous Criolos gravemente feridos. soube terem sido
terceiras pessoa. e quo prometeram fazer. aquenes ferimentos p.eb' negrœ q se aahavåo levantados com esta cla
FOI perguntado Como se chamava de que Naçao era, e quanto* delibereime 8 segui]08 efi.naimente em huma baixa do ponto do Orubú
chamar-se InurianO aer de naç&o Macua, e parece ter deidade onde um Sgto, e 20 soldados do Regimento de Pira" e unindome com esta
vln. fui exercer 8 . o que sendo perceb!do pelos pretœ em detaz.a faændo pa
isso uso de hum corno de boi com hum . . na ponta inferior que formava
Fof perguntado motivos porque estava huma especle de cometa, e como armadœ de facas, Facöen*, Lazarinas,
Respondeo ser por causa brancos que foram mortos pelos pretos a bordo do Lanças, e mais Ou. curtos, griui-l_he q se entregassem, mais elles lançando-
navio em vinhSo.
se furiosos mbre a tropa gritavao Mata, e Mata, • foi-me necessario
Foi instado para dizer a verdade pois que B.eos parceiros diziáo que
mandar fogo, com o que oonseguf e indo em alcance prendi a negra
elle Respon. fora hum dos que Se havia leva'tado, matando os
ZefeMna a qual se achava arco e flexa na mio. e achei 3 negros mortos, e
brancos, eERncando.os no mar vivos; Celestino ice.
huma negra e alguns ocos farinha, eboracha, e já e eu nio tivesse certeza
ella nada de que jogar eom achas de lenha nos brancos e que
achas* negros por q todos tinhåo tugido deixei perto do Nterido lugar
nio matara a nenhum, e que assim mesmo tol porque os outros que se
assim nåo nzæ os brancos os comeriåo na sua terra e que quem aconselhara aog o mencionado Sargento e Sold.os de Pirajú pa observar qualquer
negros novos para se levantarem fora o pæto ladino de nome José Pato e que movimento q houvæ* retirando-me as horas da noite adar parte a S. S. do
quem matara brancos torno o pretos novos Mact Namatandû e MucutandO. acmteci(b e entregando neste Qel a preta aprehendid.a com o arco e nexa
setndo instalado pelo Ministm o objecto rew»ndeo pela mesma q lhe foräo achados .
forma E assim havia dito o Minatro estas perguntas as quaeg sendo lidas.
e Respondente declaradas Intendente eba.stiéo disse estamm eonforme 272
aånterpretacåo. como 0 o Interprete que esteve te dogue Ma Escrivaens Ba e Quartei de Polida de dezembro de 1826. J.é Baltha•r da Silveira. — Aluda..nte.
aamoa fé. E para constar fiz este termo que em assignou 6 Ministro os negros que jur*.o assim o execlnei, e nelles achei quinze negros e
arador Adjunto e o Responderte e Interpretes . oito '*gras 'que úo os seguintes — Antonio, de Sabino Vidra.
Joaquim Antonio de Alves Fialho escrevi, (Seguem-se as . (Manuscrito Conrado, de Luiz Ramos — Camilo, de da Rocha — André. do Capam
Arquivo Ptbllco do Estado da Bahia) . Felippe — Joaquim, de Antonio Guines —JAC, forro. — Roque, escravo de
D. Marta Constancia. — Fabé, de Antonio Coelho — Vitorino, de Faustino
PARTE CERAL DA DIVISÃO MILITAR DA GUARDA IMPERIAL DA POLICIA NO DIA 17 DE — Rafael, de Ma• noel Antonio dos Santos. — Mathias. do Coronel Fran '.o
José de Mattoa — Ignae\o. nao sabe o nome do Snr — Paulo de Aneonlo
Coelho. Joaquim Duarte, forro. — Severino. do Padre Joäo — Ignacla. do
S. I•aro . . Quero.. Tendo-se-me dentmdedo que alguns pretos, 'e das Tulhas — Felicio. de Joaquina de Araujo. — Arimna Piæs,
aquilombaväo. haa na • adade. dispunha.me aprevenlr, efruatar suna torra — Henriqueta. de Joeé Caetano Costa.
tentati. quando no dia d'hontem soube que alguns dos predt08 "a. vilo Clarinha. do Francisco de Tal. — Joana, de -Francisco pereira
ferido avarias no œm.l.nho do Cabuna e rapitado bua menina, que zua Angel'. ca. de José Fernandes, e mals tabaque et ma! s duas vioilas
familia pa—ava a hua no dito cido achada mal. tmtada e por foi Neothida armadas com plaçaba e sendo-me nessa mesma occagtäo denunciado que
ao da Mizericordia Dade se acha) e n'O agoardar o momento bavia na Rua da Orneio exiatia hum cazebre e hum grande numem de negros
dedgnaaopara momentaneamente, e as horas. que pela denuncia me dirime achando nove negros, hum pardo e hum .
pareciä.o propriaz, para capiturar os malfeitores. depois haver partlcipado
a V. Excla., tinha a tal respeito meo e immediataä•ente a Pires. do Baräo de Pira" — José. de D. Maria Portugal Vicente. do Padre
can.municar a varfoa omcials, a sua . Dias. — Antonio, de m. mo Snr. — Caetano. de JoaquLna Roza — José. de
Antonio Machado — Geraldo, de dos Santos — Antonio, de Manoet Gom8. Vieira que he soldado do 1' Batanúo de 2• Linha . tica neste QuaÑel de
— Joca, de José Liai — Bartholomeu Gonçalves. pardo forro. e casado com baixo da mesma pæcipitada Ordem, eq o preto Germano posto esteJa
aparda forra Joaquina Rodrigues Maria S. Isabel da Misericordia Joaqma no Hospital . n receber o preciso curativo está todavia * ordem de V.
Isabel. . S. Casa — Josefa, do Brigadeiro Ma• noel Pedro e Leonor, forra; e Sra., e mesma
'mals um chepeo de Sol grande e coberto com Pan. de ditfe.es cores. ocaziåo envio as
tendo em sima huma figura Com xitre, huma ama varetag„e feixes, hum Armas e
terro de ponta com 4 palmos e meio de comprido, huma faca de ponta can Utencilloa de diversas quald.es e Uzos que toram contadas . e se achSo .
4 palmos. e meio, e outras namengas, huma de couro cró com 8 partes.
cartuxos feitos de pao cheio de polvcra. e vartos instrumentos de dansa o
que tiz conduzir para este Qel como cumpria. Qel da Policia da Ba IT de De
zembro d. 1872. José da Costa 'Velloso. — Alferes. Em consequencia da de Dezembro de 1826.
ordem de V. Sa. passei do Maciel d. Baixo e nene Ilmo. Senr. De*mbargador Ouvidor Gerai do Crime
Em consequencia, pois desse nnmor popular e pa evitar funestas conseqtkncias Manoel Joaqulm Ponto . Tente Cel. Corn&.
g pela primeira vez se tem apresentado nesta Cidade paasel a requiaitar ao Exmo. (Manuacrito extstente no Arquivo Público do Estado _ da Bahia).
Snr. Gen. al mais gente e as provlderrefas, multiplicando Patru. lhas, fazendo
efectivas todas as ordena tendent. a evictar qualquer mao resultado q pudesse ter
lugar cumprindo."E ultimament* fazer certo a V, Exa. que Os negros appresionados
TRECHO DE Atrm DE DE DELITO
e armas gue lhes foram contadas, flcAo neste quartel athe que por V. Exa. lhe seja
designado o. destino e mui particularmente Wbre o preto Christoväo Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil eoitoeentos e
vinte seis aos desenovet dias do mez de Dezembro do dito anno nesta
da ditta revoiuç50 e que se achava todavia em sua caza. com preto Franc.o Cidade da Bahia em a egreja da Freguesia de São Bartolcrneu de Pirajá Eu
RomSo, porem indiciado do crime acima declarado. escr;vao vim effeito de se a exune e Corpo de cadaveres dos
(Manuscrito existente no Arquivo Público do Estado da Bahia). fallecidos Antonio Nunes dos Santos. Cabra Forro, de Manoel José Correa
branco, que tinhåo sido mortos no dia desecete do corrante pelo meio dia
TENENTE DA POLICIA no Sitlo denominado Caja• zelra por varios negros que se levantarão
naquelie dia. E sendo presente. Os Ctrurgi6ea aprovados. Fortunato
VÁRIOS ESŒZAVOS PRESOS EM DE ATIVIDADES SUBVE. SIVAS NA REVOLTA
DE 1826. Candido da Costa Dormerd e Bernardino José de Al. meida vista.' pela
comiçåo que tenho de dezembargador .
De ordem do Snr. Vir* Presidente, prezos Rdtsposlçäo de, V. SA.
pretoz 1ællacionad08 nu partes transcrfptas, compreendidos, huna na o Juramento dos Santos Evangelhos em hum livro denes sob cargo do qual lhes
rebeliåo. que teve lugar nos suburbioa desta cidade, e Outros indicados encarreguei gue verdadeiramente .examinng*m og dittos cadaveres e me
como propensos ao mesmo, por *rem aemnu.nciadog e encontrados em declarassem as Offenaas que unhåo e o instrument' com que toram feitas e Se
Cazebres e ajuntamt.o perogozos. iicando no Hospital o que se intitulava detlas lhes proveio morte. Recebido por elles o juramento assim prometeråo fazer.
Rey. o qual. entrajes proprios encontrado e que EEga.ndO seu nome, E passando a examinar o Cadaver de Antonio Nunes dos Santos Cabra declarou ter
todavia ae sabe ser egcz•avo de Francisco Anto Mascarenhgs nåo sendo huma ferida transversa] sobre o Osso Coronal dc de cinco pollegadas
(uma palavra ilegível) numeradas indleadaw partes, . por ser comp"cuda com tratura do meamo oco, outra sobre a parte superior nariz, feita
tranaver. salmente parte _ com offenças nesses ossos proprios do nariz, outra na
posteHormente no matto, e pela trapa do Cel. Franc.o da Costa Branco: do lado esquerdo principalmente do ang•tüo da boca a duas polegadas de
communico a V . Sa. hirem pretas captivas designadas nas referidas paztes extençåo. tem mais outra na parte anterior do pescoço com offença da -laringe e
Ordetnar o Snr. de as entregar a Senr.es arteriaz earotldaa tem mais duas feridas huma sobre o
273
para serem Bem assim os pretos forros Joaq.m Duarte, e da man direita ambas com duas ponegadag de extenN-o. outra mais na parte
ante. flor do braço do mesmo lado com extençAo de duas polkgadas, ecu'os
Miguei Valentim, e Francisco passados pam o Forte do
ferimentos mostrao feitos com instrumento incisivo ou cortante, as offençag da
Mar e Cabeça e as duas arterias de sua natureza sho mortaes e por isso se lhe
E mais nio declarou. _ Paçando a examinar o
cadaver do fallecldo Manoel José Correa Bmnco diceråo ter qua* toda a do 1
fraturada arrancamento de pecas ou perda de e falta de porçöes do cer•ro, tem
mas huma ferida na face do lado direito principiando desde atte aparte media do
que os vio com mals outros pretos em n• de 18 20 na
pesccco. A da Cabeça mostra ter sido feita com ins• trumento contudente. e a do manha do dia 10 de abri] do armo passado acometeNo a loja do Francisco
pescoço com instrumento cortante, a da cabeça mortal de necessidade e mais José Tupinambá na n» Fonte da.' Pedras donde tirarSo violu•tam.e 12
declarar50. espadas de copos, e S deixa•do fendo 0 Go da loja. no peito direito e o
Pagando a examinar o Cadaver do Fallecido Lourenço de Santa caixeiro Sitvl_no Rap• com eutilada na cabeça e huma estocada nadega.
Barbara, bran. co, dfceräo ter 2

Inferior do osso coronal com extençao de huma polegada, outra mais sobre o P. que os ditos pretoz a mesma auusda na loja de Manoel Coelho Travan
superclläo do olho direito com extençäo de pollegada e meia. outra perpendicular tambem com tomar as armas desta loja deferragem, e como
na parte anterior da oælha direita com extençåo _ de duas pollegadag outra na achaxem .re"tencia por se ter en•tSo prevenido o dono. e o. caixeiros •
parte posterior da orelha do mesmo lado sobre aporeäo escamosa do Osso dentro do bNcåo com e com bum b•camarte, oa fez intimidar apenas tira.rSo
temporal com extencúo nuca com tão ottenças bem de das tres vertebras huma parabiba; e pasundo para 8 de Francisco Jozé Late com igual tumulto
pollegedaa, . outra ditta na parte posterior do pescoço ou
roubarão seis das ditas Parahiba.naz.

e da medula espinhal de cinco pollegadas de extencåo e mortal de necessidade 3


todas estas • oftenças mostråo serem feitas com instrumento cortante mais n'O
E que munidos das sobreditas Os taes cabeças de motim, depois comette:em
declarar".
outms attentad08 na Juliåo ferido gravemente a Nicolao An. ton_lo da Maia
274 dirigiram.* ao Armu.em de Wenee8tau M]guel Almeida, a.nm de sublevarem os
captivos daquella e 'e retu»irem para azer corpo com que levar a exito
Insurreiçåo premeditada por elles, exundo a denuncia re• ferida no offlcio do mesmo
Comm.e da Policla "fls. 9.

P. os tae.s do motim de maia de 100 dos dlttos capuvos poderio seduzir.


e outros laa_noø que lhes foro fncorporando munl. de paog, atacarao a
guarda da Policia de que constava de T de a hum Carvalho argento; de
t
reno na madrugada do 17 corrente hua insurreiçåo de negros quem e neste tomaråo c•ifllcto a ferirao arma. gravarEnte ao Solda&)
imrnediacö• Pirajá termo au.-de da qual se seguirio asa8sfnios, roue Francisco Lopes
incBi&os de como me foi gæente pela Parte do mmdante DiVg50 Militar da
Policia e á aegumnça e tranquilidade desta mesma Cidade e Provincia tomar 5
todas 88 necesarias em negocio de tanta monta; ordeno ao Ouvidor Geral do P. qtæ os reos com mais os amotinados em .n• de 41 rcaräo prezes pela escolta
Crime que immediatamente em conformidade das Lais contra os reos . de tio Militar na Matta de S. Goncab pam tLnhSo fugido perseguidos Povo que enes se
pernicioso urime, procurando conheær por meio de aos o fim se _dirigia tal havia em defesa commum para 08 rechaçar. como felizmente acontece evitando•se
projecto, e do que achar me dará logo conta, para que eu providencie como a continuaçåo das hostilidades c houxores a que ge propozeråo.
o exigir a guranga publica. E quanto aos que foNo achados cazebræ,
metteN em proe— aque•es que pela natureza de culpas o merecer'n 6
segundo a parte que The será apresentada pelo sobredito TeNnte Coronel
Commandante, e outros fari policialmente corúorme 8 maior ou menor de *entes P. estabeleeidaz que conforme no o Codigo Direito Crtm!nal os reos devem
seu deUctOø, par. depois serem entregues a seus senhoree. Palacio do
Governo da Bahia 20 de Dezembm 1826. para exemplo ser punidos de outros, com congerva#o compe-do socego
(Manuscüo existente no Arquivo PObUco do Estado da Bahia).
libello que publico esperava e desagravo ver julgado da Sociedade afinal otfendlda,
LIBELO CONTRA UM DOS RØÜS IMPLICADOS NA INSURREIÇÃO DE 1830-
aprovado para por vlr que de se tudo.Officie o presente
P.R.C.I.O.M-I.M. mos atacados. de que nos salvamos na Fortaleza de Sam Pedro por grande felicidade
sendo desgracadamente morto o Sargento da Guarda Nacional Tito Joaquim da Silva
P.P.N-N. Machado procurei hoje empregando maior diligencia prender aquelles • inanr•
gentes que erio do meo Distrlcto e entre estes capitulei como eabeçaa e chefes de
Des.or. Antonio Cerqueira Lima. cEubs que se juntaväo na casa do Ingles Abrahäo e de quem anteriormente tinha
(Manum:rito existente no Arquivo Público do Estado da Bahia),
PORTARIA DO CHEFE DE POLICIA NO DIA POSTERIOR AO MOVIMENTO dado Ramn. parte Jaimes ao e Excellentis.simo João escravos de Presidente Abrahäo,
da Carlos, Provincia Thomas os Cabeças seguintes de clube sahfräoDiogo,
DE 1835

Illustri—) Senhor. Vossa SenhoNa repartirá pelo Distrieto e recolheram-se pela manhã aLnda com as ainda com calças com sangue
examinei nåo tinha ferida alguma no corpo eseravos de Francisco Robilhard.
immediatamente todos de Freguezia e og encarregará de entrarem em
Cornelio escravo de Pletori8 Ingles apanhou-se recolhido para casa confessou ter
todas as caus por lojas a pretœ Africanos dando huma l*gorosa busca para hido com os outro erio tão bem do clube, Luiz eseravos de . entrou pela manhå sujo
descoberc.a de armamentos. e na intelljgência de de polvora anel no dedo o senhor o entregou e d5sse que elle unha Aido era do
que que a nenhum Policia dene exige goza rigorosamente de Direito que de Cidadåo, clube. Thamaz encravo de Vagner cabeça do dlub, mestre que ensi.

276
por uma nem vez se deprevflegio acabe qualquerde nava a escrever consta recolher-se peia manhi. José e.cmvo de José Antonio
de Arauþ, o senhor mandou-o entregar por ter entrado na irwurreiç50 e
extrangetro. e pela manhã com uma bala atraveæ.ada penu, er• cabeça do de Evano por
denuncia que tive acha.se preso para acham-se presos, hum na ,fortaleza de
S. Pedro, e outro na Fortaleza do Mar por ordem de Vossa Senhoria. Bahia e
vigilancia de Aa triotismo nNtes tentativa do de ou das seo hoje interesse como primeiro Diatricto da Victoria vinte e cinco de mll e oito centos e trinta e
autoridades Distrieto em a deante da da Policiais noite gue px»prla deveräo Julgar cinco. Illusm•issimo Senhor Jutz de Paz do Primeiro Dstrlcto da Victoria-
passada. conservação haver nec—sarios quais Vossa innumeras me os daräo André Antonio Marques. Inspector.
Senhoria forçando-os nio patrulhas conta convencer chamará de a tudo de (Manuscrito existente no Arquivo Público do Estado da Bahia). TRECHO
obideeneia em cidadbs quanto para se prestarem.turma se e occorærgrandeo pa-os
DO INTERROGAT6RIO DE JOAO, ESCRAVO DO INGi.*S ABRAHÅO.
'nterrogado opreto do inglez Abrahåo da ma. neira
a tal respeito. exijo a parte do ocorreo hontes neste distrtctn. Ocos seguinte: Perguntado qual o nome, naturalidade reødencla etempo delia no
Districto vossa Senhoria di Victoria. Bahia vinte Francisco e cinco. Gonçalves lugar designado. Responde-o chamar.se Joio de naçåo Ñagou escravo do
inglez Abrahåo residente na estrada da Victoria a hum uno, pouco mais, ou
Ilustrissimo Martins.Senhor Juiz de Paz do Primeiro (MS existente no menos, sendo escravo a doze annos. Perguntou quais os meios de vida
Regpon&o aer coanheiro em cujo trabalho • se entrega na de senhor. Pergun
Arquivo Público do Estado da Bahia).
— conhecia apessoa que deu aparte contra elta, e desde que temlñ.
OFICIO DE ANDRE ANTONIO MARQUES AO JUIZ DE PAZ DO PRIMEIRO DISTRI'IX) DA Respondeo que conhecia de vista por ser morador na Estrada da Victoria
vrcIORIA: desde o tempo que para ahi veto morar. Perguntou se temfactos a anegar,
ou pras que justifiquem tnnocencia. Respondeo que não. Foi mais
Ilustrissimo Senhor: — Tendo rebentado na rwite de hontem pava o dia de hoje perguntado e não gabia quem tinha
que vinte hia e cinco eu sendo do corrente victim8 huma assim insurrelcäo 8. de Þåha no fundo da roça do Seo enhor, Ofim para que o effeito que
como Vossa de Senhora, escravos e para outrcx maior nas parte Merces pmduziräo reuniba, que pessoas ani ge 'untavao e de quem.
Nag6s, onde fo-de Respondeo que a Casa de palha foi feita peto seus Jaime e Diogo 8 fim de se
reunirem, oncb tão bem conversavao e por huma das vezes tol visto pelo
Inspector André Antonio Margues que se achava neste acto presente, epor
elle reconhecido houve um Santar onde reuntrio todos os escravos Nag6B d•
Inglezea muitos de saveim8 que Cidade outros de Brasileiros. os quais elle
lhe hé impossivel tÞclarar por seus nomes porem que se recorda do escravo
de Diogo morador no caminho da Barre Þr nome Sule em Sua terra ser o do occipital athé aparte anterior da mesma mandibola com corte total das arteriaz
Capitio deliæ todos Etuniåo e conheci mais Pedro, e Car10s de Nagou do carat.ldu, 't_gulares, pane8 e mitra situada mbre o labio superior e interior com
Doutor Ingks Dundar, mais os escravos do ingles Melon morador na Estrada direccio obUqua a parte superior da maça do rosto athé Rparte inferior do queixo
com destruicåo dos vasos, fractura dos cantne inc.isivoz, 'partes musculares, eufos
da Vlctoria, hum que se chama Joio. que andava no ca. minho, o cozinheiro
tecidos emontravåo terem sido feitos com Ins• trumento cortante cmno em
chamado Nicto. e Antonio vindo ultimamente de Pemambuco, mais dois conaequencia dos quaes lhe rezultou a mx•te. emais não declarou o que eu Eserivao
escravos Nagos Marna e Buremo cnÞs nomes såo conhecidos em sua lingua dou fé. .. Epar-a constar mandou o dito Juiz. etc. (seguem." aa assinaturas
dos escravos Nagôs do Ingleø Guilherme mc-ra.dor atraz da Egreja da das testemunhas).
Victoria CorræE_io Nagou da do Hamburguez Zi•tnn morador na Victoria,
Jacinto forro da do inglez Wolche, rnœ•ador na Victoria, Joio da nação AUTO DB EXAME CORPO DE DOS SOLDADOS DO CORPO DE
Nagou ru•ro que foi do escravos do Frederico Hobehan, Martinho, Ricardo, - ARTILHARIA.
Manoel e outro que capitão maz reo nio sabe o nome verda. delro que se
sentava no canto de Cadeira ao largo da Victoria e ze lembra agora dos dous "Auto de exame e corpo de delito, Anno do Nascimento de Nosso Senhor Ja•ms
do Ingles Robeliard. seos, nomes, chamarem-% Thomaz e Carlos, e Tomp Christo demit oito centos etrinta e cineo aos vinte e cinco dias do mez de Janeiro do
Nagou escravo do Inglez o moleque fflnna.z nagou do inglez We\ dito anno_ Nesta úiade da Bahia e Forta]eza S50 situada no Primeiro Districto da
cher, e Luiz cozinheiro do Americano -Signot de nacAo Calabar porém só tala Freguezfa da Victoria onde o Juiz de Paz respectivo o cidadåo Francisco José da Silva
Nagou, um mokque da do inglez Liú, baixo. de corpo, nacáo Nagou e outros Machado commigo o escrivåo deseo Cargo abaixo assignado e o Cirurgia mor Manoel
muitos que•elle se näo pode lembrar. Sendo na tarde do dia vinte e quatro José Bahia fomos, e sendo a.hl, mandou o Juiz proceder aexame e corpo de deycto
'*Cs ferimentos fetos nos soldados do Corpo de Artilharia por effeito da Insurreicao
de Janeiro avisado por alguns parceiros dos quais ene Reo n50 se kmbra do
dos Africanos na no!ta de hontem vinte e quatro do corrente, e presente o dito
seu nome pan naquela ma&ugada todos, a tim de matarem os bran,xB. Cirurgfåo Mor lhe defino o dito Juiz ajuramento dos Santos Evangelhos sob cargo do
pardos e elle Reo a noite pouco mais ou menos com os seus qua.' lhe encarregou de bem verdadeiramente examinar aos feridos de. eiarando suas
parceiros Diogo, Jaime e Daniel se toram reunir aos outros que no campo do gravidades, profundidades e tudo quanto hé relatorio. notando se ha perigo devida
Forte de S. epoøco depois, vendo o fogo que lhe faziam da Folta.leza ereeebido pelo dito cirurgião opinamento assim prometeo cumprir, e passando
fugiria. e se retirario para Casa de seus Senhores encaminhando-se para oa æterldo exame &-clarou que o Furriel da Primeira Companhia Joaquim Amorim .
quartos até que foram no dia seguinte e mais não epara constar achou ter um ferimento na parte lateral frontal junt" a sotura, tendo extencåo
mandou o Juiz lavrar este termo em que assignou c• Curador e ugtemunhas poUegada e meia e prorundldade 0 esta fenda parece ser feita com instrumento
eortante espa. da, na. se periga de vida. o que mllhor ge verá pelo do tempo. José
por nio saber o Reo
Marques de Silveira Soldado Terceira Companhia achou ter a orelha esquerda quase
(Manuscrito existente no Arquivo Público do Estado d. Bahia). mutilada pela sua extÆrna comprehendendo tegumentos, emusculos que revestem
PROCESSO CONTRA O ESCRAVO NELSON. OU NECIO, OU NOGENO, DE aparte pedroza sua parte posterior do osso temporal, ficando th0 somente ligada a
PROPRIEDADE DO INGLÊS RUSSEL CORPO DE DELITO. dita orelha por uma porç50 de duas ou tres linhas outra mais na parte 1a. teral media
externa do duas pol_kgaus de extençåo, estas feridas foram feitas com cortante tomo
"Auto de exame e c0Q0 de delicbq Anno nascimento Nosso Senhor Jesus
espada, não denoto perigo de vida esim mut_tlagúo da mesma orelha, o que melhor
Christo demil Otto trinta e cinco aos vinte e cinco dias do mez de Janeiro se verá pelo do tempo. Angelo Custodio Soldado da Oitava Companhia do meano
Corpo Com huma consideravel fenda sobre o osso parietal direito, na parte junto
277 aaotura seu cumprimento tendo extengåo quatro polegadas e meia,
do dito anno nesta leal valorosa Cidade da Bahia, e Primeiro Dl*trteto da Freguezia eprofunddade até a primeira substancia do mencionado osso, esta fertda M feita com
da Vietoria e lugar do largo Forte de Sio o Juiz de paz o cidadäo Francisco José Silva instrumento cortante como espada, enlo denota eminente perigo de vida mas pela sua
Escrfväo de œ.rgo abalxo nado o C n.'røao Ajudante José de Lima e Carnara e as senc! 8ttuaçAo e parece haver perigo. o que melhor se verá no processo do tra. tamento,
ais e corpo de delicto no cadaver sargento Tito Joaquim da Silva Machado na todos estes feridos deram grande porçåo de gangue fluente e mais nio o que eu
occasiäo da' insurrei.ç50 e presente o dito Clru_rgläo o dito Juiz e os $uramentado. escriväo dou fé ver, e para eon*ar mandou o dito Juiz lavrar este auto emque assignou
Santos Evangelhos encarregou-lhes de bem . examinando o cadaver declarando 0a com omenclonado cirurglio nós, e testemunhas e commlgo Jou Machado de Souza
ferimentos nelle exlztentea, qualidade'. profundiu_dea e 0 instrumento que ter sido Paixio eta — (seguem-se as azdnaturas).
feitas, e recebSo ale o dito Juramentado assim prometeo cumprir. e pasmndo o (Mut.crito existente no Arquivo Pbtäco do da Bahia) .
referido exame declarou achar.ze o cadaver com as seguintes otfenms, huma ferida
situada na parte rior do pescoço, e infer1Dr da mamÖb018 Comprebendendo 278
a. . TRECHO DO INTERROGATORIO DE AGOSTINHA (NAGO)-
qua mora casa em que foi presa a tez annoz por que he camq. tambcm este termo mandou egualmente que o em que au•nam o
rada de uchlor da Silva e que os papas na sua casa encmtrados neste acto mesmo Ju.i4 0 Officinl de Justiça Deste Boaventura Pimentel e ag testemunhas
sio do dfcto Belchior e de Gaspar da Silva Cunha outro negro Nagou que com presentes. etc. (Seguem•se as assinatura. das testemunhas) .
aquelle se acha e que s eamisoLa e tarda sio do dito Gaspar da Silva Cunha. Que os (Manuscrito existente no Arquivo Público do Estado da Bahia).
ÞIO mesmo mestæ de Gaspar e Belchior que he escrava de um homem aue raz fumo
no Caes Dourado e mo. a junto da egrej8de Guadalupe ehe N8.çAo Tappa, cuþ AUTO DE CONTINUAÇAO DE DILIGÊNCIA SOBRE A INSURREIÇÃO DE 1844
nome de sua terra he Sanin porque he como o trata por nio 0 que ene tem na
terra de Branco o qualnegro quando está no brinquedo tala tambem lingua de Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos
Nagou ehe velho com alguns ca. bellos brancos que o dito mestæ hia detla falar cm cquatro nesta Cidade da Bahia e caza8 do preto Marcelino de Santa
Belchior muitas vezes e Belchior taobem hl. aca8a do senhm• delle sendo a ultima
vez antes Guerra dos negros sexta feira . desta digo da mesma Guerra a noite pelas Escolastica on• velo o Doutor Delegado do Primeim Disù•ieto Domingos
ORO horas pouco maia ou menos que ene ficou na porta. falou tom Belchior por José Gonçalves Ponce de LAO comigo Tabeliåo sendo allmandou o dito Juiz
pouco tempo e roi se embora. Que alem do dito mestre tao bem hia continuar a busca na dita caza peb Inspector Quarteiråo Jœé Victor
conversar com o mestre os seguintes captivos cujos nomes da terra de branco ella Topazío oqual instrucçöes dadas pelo Juiz Mandou fazer huma escavaçSo
não sabe porque lá gÖ ralava com os nomes de sua terra que são hum nome IVA, no pavimento terreo da dito enologar onde se achava molhado e com hum
cujo senhor mora na rua da Laranjeira e he carregador de Cadeira outro de nome poiar de barro vermelho que denotava ter sido mo. lhado de proximo por
Bada que he ferreiro esemvo do ferreiro que tem tenda na outro de nome OJou achar muito mone o barro; e no dito logar foi achado huma panelta mva
Cadeira. cujo senhor he o vigario da Rua do Passo. outro de nome
de barro Vldrada coberta com hum testo ena diverços em. brumos todos
Mamonin. escravo do padeiro que mora na Egrcja do Hospielo do Pilar o qual dantes enes couza8 sedí2iam prvprios de feitiçarias ou maleflclos, e nada
vendia pio. e agora está em casa trabalhando com outro de nome ThtrA, cujo
houve odfto Juiz deu por finda a e levantou o cerco que havia na dita caza
senhor agora está no Bonfim, emora na Casa Gran•• de do Novo mais este
já hc forro. alnda que está morando por hora com 0 mesmo senhor e que quando se e na Do que para constar fiz este termo em que assignou o referido
juntaväo falavao em fazer guerra aos brancos mas que ena como mulher n'O se Inspector com o Julz e mais testemunhas.
mettia e antes dizia a Belchior que elta veio captivo de sua terra c aqui tinha ficado — "respondeo que na referida loja juntåo-se muitos neglW sendo a
forro que os brancos nio faziho mal porque se acha. seo vintem comi50 e bebi" e maior partete deU• Nagos e 'IÞas e alguns das seis horas noite muito
por isso que o dito Belchior nunca teve tensio de hir a Guerra e nem sahlo teste dia, durante este tempo. gritando e outras vezes contando a ella inter.
disse mais por lhe ær perguntado que o dinheiro achado em sua casa em sobre foi que todos os negros que se reunirio Com ecus mil reiz men cuja
contado neste dito por ena e he 8 quantia de setenta e nm'e mit quatrmerètos e appEca•o ena interrogada ignom ma. de proximo e por oca.øao
oitenta reb pertenæ ao dito Belchior e seos camaradas pæsos no Forte do Mar. e
mais n'O disse nem lhe foi perguntado pelo que manü)u o Juiz depositar a quantia 279
em poder do Inspectar Manoel Eustarquio de Figueiredo que assinou
da desavença entre o preto Francisco e a preta Maria ambos e amazios AVAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL, vol. 36, p. 42.43. verbete n• 18433. um do outro, soube que eneg eram MAIé8 eque Mari. hia
denunciar de facto denunciou daquenas e demais de .
(Manu.*'Hto existente no Arquivo PQbllco do Estado da Bahia).
NO 59
TRECHO DO INTERROGATORIO FEITO
PRETA JOANA JOAQUINA DE S. 261 Mlmo. e Exmo. Sr.
Neste meai-no d a mez e o interrogatorio . pela maneira seguinte. Fol•lhe perguntado se N• 29, l*vei
em a data Augusta de 2 do Presença mez passado, do Principe com Regente os documentos Meu Senhor que o o acompanhar'o, Offic'o de V. Exa.em tinha noticia da tentativa
ae insurreiçSo praucada pelos Africanos moradores na 10. que aceusando haver recebido o Aviso. que por esta Secretaria Estado se lhe por baixo com da ella Caa
interrogada.da interrogada e tio bem pela Atrfcana Antonia mom por os expedu escravos, em 18 afim de Marco de Se evitar. do pr%ente que para anno. o que futuro continha
comettåo algumas outra provideneias desordem seme-sobre
ena digo
Re»ondeo — que nSo teni noticias de semelhante tentativa mals sabe que na
referida e alguns costuma Deneg Aussás, reunir.* converção muitos negros muito gritho sendo a maior vezes parte e outras deneg riem-se Nagos bastante,e Tapas expöem lhante
ordem, a na os que parte, motlv08 praticou que gue diz huma tivera. respeito porçåo para á prohlbSçåo No de dar inteiro dos no Batuques. dia e liberal 28 de E cumprimento
Fevereiro o passado;aquellamezmo

durante as guas reuniões que Invariavelmente pzütcipiam da tarid. e acabam Senhor em consideracäo tudo quanto V. Exa. pondera. me ordenou participasse a as vezes as Oito horas da noite ignorando
porem interrogada 0 motivo destas tre reuniŒ-es o preto isto Francisco athé pouco e tempo preta mais Maria que ambos de prexiino moradores e por na ooeasiio - dita loja, da e disavença amacio
humen- de V. negros Exa.. que o. fontes, argumentos, de e que se näo tirados appucavets dos frequentes ao caso de afilntamentogque trata

do outro soube que aquenas reuniöes eram de Males que tentavåo ocØtra brancos por que que 8äo seria braços. de grande de que inconvenienbe,e todas as familias até impossivel se Servem prohibir,
no Braz". que os seus segundo lhe disse referida preta Marta que hih denunciar POIlda Como delato
denunciou. Senhores aos Templos. ao Theatro. vAo buscar agoa as fontes façio outros
(Manuscrito .êxistente no Arquivo Público do Estado da Bahia). cos desta natureza. em que o condurso detles nevitável. ainda que daqui possa seontecer alguma decordem: que a prohibicäo dos
Batuques nio está na mesma ra• zao. por que medida nåo só, n'O resulta inconveniente ou prejuizo algum aos CARA DE JOSø VENANCZO DE SE.XA PARA D. RODRIGO DE SOUZA habitantes dessa Cidade,
mas utilidade. concorrendo esta providencia para viverem COUTINHO. EM QUE LHE PARTICIPA TER CHEGADO A BAHIA E TER em mais socego e tranquilidade, po!s os escravos nestes divertimentos se
entregao TOMADA POSSE DE LUGAR DE PROVEDOR DA CASA DA MOEDA, REFE- mais a embriaguez, e fic50 ma!s aptos para Cometterem crimes. além de arrui. RINDO-SE A DIVERSOS ASSUNTOS DE
SERVIÇO POB1.aco E ESPECIALMEN- narem a sua aaude; e he esta a razio porque a Lei prohlbe semelhantes Bailes, o TE A DESCOBERTA DE UMA ASSOC¶AÇAO SEDICIOSA DE MULATOS. que tambem se
acha acautelado em alguns regulamentos de policia para os escravos da America; que ha difterença de oosh.unes e d. caracter entre diversas naç5es Bahi¾ 20 de outubro de 179-8. de Negros. como
reconhecem alguns que tratäo desta materia, e entre e'les a que Obra intitulada _L£ Commerce Z'Amer¼ue, par M geme, e "Huma das novidades inesperadas que aqui achei foi do perigo em
estlverAo que assim a difterença nåo pNvem somente Ou mau dos Senhores, os habitantes desta cidade com huma assocfaçäo sediciosa de mulatos. que n" podia para com os seus escravos.
deixar de ter perniciosas con»equencias, - sem embargo de ser projectada por pes. Vio Sua Alteza Real a ordem, Documento N' 1 que V. Exa. expedio, prohibindO soas
insignificantes; para se tortáficarem lhes bastavam Os escravos do• danças nas ruas e largos dessa Cidade. nio com tudo, gue mesticos inimigos irreconcillavéis
de senhores. euþ jugo por mais leve que os enravos se juntem nos largos da Graça e do Barbalho, e que ahi dancem até lhes Foi Deu. ærvido por hum modo bem singular o toque
das Ave Maria: e em a Eegurar a V. Exa.. que desordens cometeia ponta desta meada, fim da qual julgo tem chegado, que n'ella ache das. nåo nascem destes ajuntamentos, deneg
espera mal algum, que o embaraçada de estado decente. Creto que V. Exa. receber' n•egta ocasiåo numero de escravos que nelles se entertem be muito diminuto: desfarca Sua
Alteza huma conta muito circunstanciada d'este caso que enzina desconfiar para o futuro. Real a permissio, que V. Exa. concedeu. esperando pouco a pouco Eu poe» deixar de me
lembmr n•ta ocea.siåo que todas antigas extingo semelhantes dlveKimentos, como mais convem e ge ainda se consentem dirigida. ao Brazil a respeito de mulatos, os fazia
conservar em hum certo abau- nesta Capital, a que n'O convem hum número escravos tio excessivo, como V. mento, a entrada em qualquer Officqo- publico on posto militar, Exa.
gup5e he por que estes nio t.e_m feito desordenm, como og dessa capitania por inhibiçAo era ampliada ainda mesmo 808 brancos casados com mulatas. mala de huma vez, ha
annos a esta 0 que Obrigou o Conde da Ponte a dar providências mais energicas para 08 conter, e posto que V. Exa. mnnda observar traç50 A earO de' coloniu, regia porque 1766 foi
mandando segundo formar me parøœ corpo. hum milicianos de pollUea &sta qualidade em adminis.de Interino em geral, selw como Antecessores, se mostra do seguindo
Documento o estilo n' e. praticado as ordens pek. (b dito Governadores Conde, e Governodo Bre_

que indivfduos, esta gente o se que viram naturalment. Junto condecorados persuadida, do com posto. adiantou os de faz coronels :Kanper e em outros toda dmiihanteg. a
qual_laad.e idélascomde por depois ser constante de que que dizem se haviåo em prc-hibido quanto escravos. nio os estio Batuquæ.nio inteirados estavao do em que convem inteiro alterarvigor,
creio que as, exce•s.
O Real Animo do Principe Regente Meu Senhor está tranqutllo a respeito da
Esta materia me conduz a pôr na PNsença de V. outra em que me pam.ce que cometterio 08 escravos da Armaçåo de Manuel Ignacio, por ter V. indispensavel que V. Exa. de as mais promptes e
positivas ordens. Ha Ex• asseverado neste, e em outros Offlctos. que nho ha que consequencias se tem Ido formando acima da Cachoeira hum Quilombo de fugidos funestas e perigos iminentes da
sobredita desordem, e que quanto se tem espalhado. e ultimamente se forma outro ainda mus perigoso a 5 ou 6 legoas de dtstancia d'esta alem do que V. Bx• tem exposto nesta materia. he exagerado.
falso, e destituido clda&. A desercåo do. tem sido agora mais que excessiva V. Exa. de fundamento. e fica o mesmo Senhor na Intell_igencta da Ordem. que V. Ex• exnão ignora o que teem feito os negro.
marces franceas e holla.ndæas. t) ao Deæmbargador Ouvidor Geral do Crime. para Devaçar. afim de conhecer mem10 pode receiar vindo oa Quilombos a crescer. se nio forem deatnxfdos utes quais
as que teem espalhado æmelhantes rumoæs. podendo 8 que tomem consistencia. . V. Ex•, que até agora nu tkm subido a Augusta PNRnça de Sua Alteza Real, por
280
esta Secretaria de Estado. Represeruacáo de qualquer Corporaçäo. ou pessoa em• pregada
'Capitania, em que queixe da falta de da parte de V. sobre este obje(ñ
DeoR V. Ex•. Palacio do Rio de Janeiro em 8 Junho de 1814.
Marquez Aguiar Sr.

11.33.24,22
Offcio Juiz de Fora da Vila de Maragogipe, Antonio Augusto da Silva ao
Cmde dc. Arcos. 181'. 2 docs.
Doe.
rumo. e Exmo. Senhor
Hoje quatro p' horas da tarde fui avizaù que no Iguape. da Villa da Caxoeira tinhåo
sublevado og negros. e que estavho no de passar nesta Villa Maragogipe reuntne-o.se
todos no Engenha da Ponta. Imme• diata-mente ofticiei ao Sargento mor de Milicias da
aqui achava æv-lã-.& daB do respectivo Regimento p' pôr guaædgl da gente
Miliciana em tôdos os ponto. por onde os neg-m8 pua—m entrar p' esta Villa e ao tempo
que fechava o meu offlcio o gue elle me «rigio Ore o objecto, avista do qual tiz pŒem
mwimento toda a gente da Ordenança. e da Jusüça p' guarnecerem todos aquenes pontos
juntamente oom os hOMicianos. toda as entradas p• e".e Villa e a mama Villa por terra,
e os pontos da Villa e a mesma Villa — O Sargento mor partto no instante p• a
Tenho feito prtnder trez Aussá8 que me foram denunciados de terem continue, e
uva comuniuçåo com os do ùgenho da e que davao indicios de eoUeto ellea para fim
da sublevacåo. Ode tudo participo a V. Exa. Jun• tamente com o proximo Officio do dito
Sargento mor João Francisco de para que V. Exa. dC as providências paæceNm mais
adequadas. Deos guar& V. Exa. vina de Maragogipe 20 de março de 1814.
Illmo. e Exmo. Senhor Conde dos Areos Governador e Capitao General da Capitania da
B•
O Juiz de Fora Antonlo Augusto da Silva
NO verso do documento:
Em 20 de março de 1814
Do Juiz «e Fóra das Villas de Maragogipe. e Jaguarlpe,
participando ter sido avisado que no Iguape se tinhão sublevado
os e q projectavgo a Villa de Maragoglpe reunindo-se
todos no da Ponta.
rumo. Snr. Juiz de Fora
Participo a S. S. que vendo todo 0 Iguape insendiadO. e atacad. do dito,
e por tanto pagm as ordens nesseçari88 aos soldados afim de acautelar as
consequências que ge pockm esperar; queira V. S. sobre isto providenciar. como
Juiz Prodente, Active.
DE Ge- a v. s . p. de More.
20 1814

Joio
Major
litmo. Snr. Juiz de Fora Antonio Aug1Bto da S.
282
"asa teilsta
— Imprusäo e acabamento
Av. Senador Vergueiro.
1301 Fone:
Säo Bernardo do Campo •
SP
Brasil
A QUESTÃO SOCIAL NO
BRASIL

1. TELLES, JOVER - O
movimento sindical no —
Artigos publicados na
imprenB as lutas (1946-
1962) — Esboço
movimento operúio no Brasil
desde do "culo pasedo até
nossos — Discurso do autor
quando deputada Assembléia
lativa do RS, em 1947, onde
sua de operátb
minas de carüo de São
Jerônimo. 300 p.
2. PEREIRA, ASTRO'ILDO -
Construindo o PCB — de
Perúa publina impren* (1922-
1924). Organização e de
Zaidan.
3. DAMIANI, GIGI — A
questão socw no países p• os
quais 'Wo se deve emerar —
A é italiana, de 1920. Neste
opúsculo o autor retrata as
precárhs condiçöes de vida
dos imigantes opúE-ui0
é precedido de uma p"uena
biogafia de por Ugo
4. MILLET, HENRIQUE
AUGUSTO - os quebra•quilos
e a crise da lavoura — A
deste
liwo apueceu em
1876. A pre•
contém estudo
preliminar de Manuel
Correia de Andrade.
5. NEQUETE,
ABILIO - Memórias -
Nequete foi um dos
do PCB e seu primüo
geral. Nestas narra
sua nos primeiros
anos da fund*o do
PCB.
6. MOURA,
CLÖVIS - Rebeliões da
senzala A luta dos
esnvos negos pela
liberdade e sua
participação na
forma#o do Brasil.
Quilombos,
insurreições e
guerrilhas.
7. B2B: VINTE
ANOS DE -
1958-1979
(DOCUMENTOS) -
Resoluçöes políticas
do Comitê Central e
dos V e VI Congessos
do PCB, da Declar*o
de Março de 1958 à
resol*o sobre o
trabalho do Partido
entre as mulheres, de
maio de 1979.

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