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PROYECTO INSIGNIA
Inclusión en la agricultura y los territorios rurales
Contribuições da experiência
brasileira recente
João Torrens e Lauro Mattei
Contribuições da experiência
brasileira recente
João Torrens e Lauro Mattei
PROYECTO INSIGNIA
Inclusión en la agricultura y los territorios rurales
Cuaderno de Trabajo sobre Inclusión
Indice
Apresentação .......................................................................................v
Indice ..................................................................................................vii
Introdução ............................................................................................6
vi Cuaderno de trabajo 3
Introdução
As lutas sociais rurais e agrárias desde inclusão produtiva rural, seja por meio
os primórdios da década de 1990 co- de novos canais de comercialização
meçaram a ter maiores êxitos no Brasil viabilizados por esses diferentes orga-
quando o Estado passou a reconhecer nismos governamentais.
um conjunto de atores rurais que his-
toricamente haviam sido relegados ao Neste contexto, implementou-se no
esquecimento. Neste processo de ins- Brasil, a partir de diferentes órgãos go-
titucionalização das demandas desses vernamentais, um conjunto variado de
atores dois fatores foram importantes. programas e políticas públicas destina-
Por um lado, a própria criação de um das à promoção do desenvolvimento
ministério governamental – no caso o rural e à inclusão social e produtiva.
Ministério do Desenvolvimento Agrário Em sua maioria, essas políticas mobi-
(MDA) – que abriu espaço para que lizaram recursos públicos em prol de
agricultores familiares, assentados dos comunidades rurais que apresentavam
programas de reforma agrária e outros problemas na estrutura produtiva, altas
segmentos rurais tivessem canais de deficiências de infraestrutura e eleva-
diálogos e de reivindicações de suas de- dos graus de pobreza e exclusão social.
mandas. Por outro lado, o maior envol- Parte dessas ações foi analisada em ca-
vimento e integração de outros órgãos pítulos anteriores, os quais mostraram
e instâncias governamentais durante os avanços obtidos em várias áreas,
o Governo Lula – como foram os ca- bem como limites e desafios que ainda
sos do Ministério do Desenvolvimento precisam ser enfrentados no meio rural
Social e Combate à Fome (MDS), do brasileiro.
Ministério da Educação e do próprio
Ministério da Agricultura, Pecuária e Mesmo operando em um contexto
Abastecimento (MAPA) – foi decisivo rural ainda fortemente afetado pelas
para ampliar o papel político desses se- marcas históricas reveladas pelos ele-
tores no âmbito geral e específico, seja vados índices de concentração de terra;
por meio de programas destinados à pelo domínio político e econômico do
2 Cuaderno de trabajo 3
No período entre 1988 e 2002, observa- visão estratégica sobre o conjunto das
se uma forte tendência dos conselhos ações realizadas num mesmo espaço
locais de se restringirem à dimensão (município ou território), reduzindo-
municipal, principalmente porque du- se as possibilidades de gerar sinergias e
rante o predomínio das políticas de complementaridades entre as ações de-
recorte nitidamente neoliberais pre- senvolvidas em cada área de interesse
valeceu uma concepção que estimu- público.
lava estratégias de desenvolvimento
local nas áreas rurais do país. A ado- A execução desses mecanismos de ges-
ção dessas estratégias, num ambiente tão social previstos no marco constitu-
de retomada da redemocratização e cional nacional enfrenta diversos tipos
de valorização da participação cidadã, de resistências no interior de cada âm-
serviu para gerar aprendizagens coleti- bito de atuação, em especial nas esferas
vas relacionadas ao exercício compar- municipais, onde a superação da cul-
tilhado das decisões nos espaços locais, tura política autoritária e patrimonia-
formando atores para atuar nessas no- lista, fundada sobre a reprodução de
vas arenas de negociação, concertação práticas clientelistas e corporativas, se
e disputa. apresenta como um desafio atual.
2. No caso específico dos municípios, a organização dos Conselhos Municipais representava um pré-re-
quisito básico para viabilizar o repasse de recursos financeiros da União ou dos Estados para que as
administrações locais pudessem desenvolver as ações previstas num determinado programa.
4 Cuaderno de trabajo 3
territorial. O balanço geral desses proje- incidir politicamente junto a outros se-
tos aponta para o predomínio de ações tores do Estado. Além disso, a partir do
vinculadas à dimensão econômica do Governo de Dilma Roussef se verifica
desenvolvimento, em especial aque- uma clara tendência à diminuição do
las relacionadas ao fortalecimento das peso das políticas de recorte territorial,
infra-estruturas de apoio à produção valorizando-se a execução de ações a
agropecuária, à agroindustrialização partir das instituições pertencentes ao
e à comercialização. Os projetos terri- pacto federativo, o que provocou um
toriais que abordam temas como edu- deslocamento da importância dos es-
cação no campo, serviços de extensão paços de gestão social e da participação
rural, conservação ambiental, promo- política da cidadania na construção das
ção da cultura local, etc., ou seja, pro- políticas públicas.
jetos com uma perspectiva de trabalho
não centrada na dimensão agrícola ou Além disso, existem diversas outras
econômica, representam um número dificuldades que ainda precisam ser
menos significativo. Esta limitação se superadas, merecendo destaque: os
explica, dentre outros fatores, pela in- órgãos colegiados territoriais não con-
capacidade apresentada pela maioria templaram o conjunto da população
dos Colegiados Territoriais no sentido territorial, uma vez que nem todos os
de ampliar seu leque de fontes de fi- segmentos sociais que fazem parte do
nanciamento, permanecendo muito territorio participaram do processo;
limitados aos recursos disponibilizados a pluralidade de temas quase sempre
por organismos e programas governa- ficou restrita à questão da agricultura
mentais, como foi o caso do PRONAT. familiar, o que pode ter inibido a par-
ticipação de outros setores neste pro-
Com a criação do Programa Territórios cesso; a capacidade de formulação
da Cidadania, em 2008, e o aumento técnica carece de maior qualificação no
do número de instituições envolvidas momento de se propor inovações nas
na gestão das políticas e ações com foco políticas públicas; baixa coordenação
nos territórios rurais, estes problemas entre programas distintos e com dife-
de coordenação e capacidade de formu- rentes instrumentos de políticas públi-
lação de projetos intersetoriais e multi- cas; baixa articulação e integração das
dimensionais se revelaram ainda mais políticas entre os diversos níveis de go-
graves, evidenciando as limitações dos verno, provocando descontinuidades
colegiados, salvo raras exceções, para de ações, etc.
3. Além dessa dimensão socioprodutiva, pode-se analisar a importância também dos processos de inclusão
político-institucional, por meio da ampliação da participação dos setores tradicionalmente excluídos das
decisões políticas relativas à construção e gestão das políticas, ou ainda de inclusão cultural, mediante
a valorização dos saberes e conhecimentos locais, bem como da diversidade de manifestações artístico-
culturais expressas pelos atores dos territórios rurais.
8 Cuaderno de trabajo 3
taxas de informalização do mercado saúde, educação, transportes, cultura e
de trabalho em praticamente todos os lazer. Além disso, é fundamental que
países da América Latina, ocasionando seja garantido o acesso aos bens natu-
uma forte expansão dos índices de po- rais, especialmente a água e a terra.
breza, que atingiram seu teto máximo
em 2002, ano em que 43% da popu- Finalmente, a inclusão via políticas so-
lação latino-americano foi classificada ciais é o elo do tripé capaz de garantir
como pobre. inversões no processo de conformação
da pirâmide social, em cuja base deverá
Por isso, muitos analistas estão advo- estar assentada toda estratégia dessas
gando que a questão da inclusão socio- políticas. Para tanto, manter e ampliar
produtiva precisa ser entendida para as políticas de transferência de renda;
além do mercado de trabalho. Para universalizar o acesso a todas as polí-
tanto, torna-se necessário fazer uma ar- ticas sociais; ampliar as ações sociais às
ticulação entre três esferas essenciais en- camadas mais vulneráveis da popula-
quanto estratégia de combate à pobreza e ção; e estimular a organização social são
à exclusão social: a produtiva, a de acesso ações efetivas que irão contribuir no
aos mercados de bens e serviços; e a de sentido de se promover uma inclusão
inclusão social via políticas públicas. social ao estilo “bottom up”.
10 Cuaderno de trabajo 3
destinam ao enfrentamento de pro- o chamado CadÚnico (Cadastro
blemas multidimensionais; Único) dos potenciais beneficiários
desses programas, os quais podem
c) o enfoque universalizante desses acessar, a partir deste cadastro, di-
programas garante que todos os seg- ferentes políticas sociais. Com isso,
mentos sociais residentes em áreas além da redução da burocracia, ob-
rurais com elevada desigualdade servou-se uma ampliação do nú-
socioeconômica e regional possam mero de beneficiários efetivamente
usufruir dos benefícios oriundos de atendidos por esta política social;
tais políticas, com implicações di-
retas na melhoria da qualidade de b) a ampliação do programa em pratica-
vida de toda a sociedade. mente todos os municípios do país a
partir da decisão de se descentralizar
Esses elementos permitiram aos auto- o cadastramento dos beneficiários
res concluir que as mudanças provo- no âmbito de seu espaço domiciliar
cadas pelas políticas de infraestrutura foi determinante para ampliação do
analisadas são indispensáveis para fo- programa, o que exigiu dos órgãos
mentar a inclusão social dos agriculto- governamentais maiores investi-
res familiares, especialmente daqueles mentos em infraestrutura de comu-
que vivem em áreas rurais que apre- nicação e de assistência técnica nos
sentam precários índices de desenvol- próprios municípios;
vimento. Isto porque os programas
analisados, além de propiciar o acesso c) a gestão descentralizada iniciada
a serviços básicos essenciais, geram be- pelo Programa Bolsa Família pro-
nefícios irradiadores e multiplicadores moveu uma ampliação também da
que perpassam a percepção das pessoas oferta de serviços assistenciais, o que
sobre os resultados de determinadas contribuiu de forma decisiva para
políticas específicas. a criação e o fortalecimento do sis-
tema unificado de assistência social.
Finalmente, o terceiro caso – capí-
tulo V, assinado por Silvia Aparecida Esses elementos permitiram aos auto-
Zimmermann e Valdemar João Wesz res concluir que, embora os programas
Junior – analisou as políticas sociais de transferência de renda sejam rela-
de transferência de renda, com ênfase tivamente recentes no contexto das
no Programa Bolsa Família. Dentre políticas sociais brasileiras, eles estão
as principais conclusões dos autores, mudando a realidade de muitos mu-
destacam-se: nicípios do país que até então não re-
cebiam qualquer política de assistência
a) a importância da construção da social, vivendo apartados do restante
Plataforma Integrada de Informação, do país.
A partir de 1988, com a aprovação pela final de 1999 – quatro anos depois da
Constituição Federal da normativa que institucionalização do PRONAF.
estabelece o princípio da igualdade de
direitos para o acesso aos benefícios da Assim, ao longo desses últimos 15
Previdência Social por parte dos tra- anos, aproximadamente, essa tendên-
balhadores rurais, assegurando-lhes cia de diversificação e diferenciação
direitos anteriormente restritos às ca- dos instrumentos de fortalecimento
tegorias dos trabalhadores urbanos, da agricultura familiar vai ganhando
se observa a emergência de uma ten- maior força, sendo criados programas
dência à diversificação das políticas de assistência técnica e extensão rural,
públicas para a agricultura familiar. seguro, garantia de preços, agroecolo-
A criação dessas políticas respondeu, gia e produção orgânica, agroindús-
fundamentalmente, às manifestações trias rurais, comercialização, sanidade
e proposições das organizações de re- agropecuária, formação profissional,
presentação da agricultura familiar, educação do campo, compras institu-
bem como às críticas do modelo de es- cionais, alimentação escolar, crédito
truturação das políticas que, de fato, fundiário, turismo rural, moradia, ele-
excluía amplos setores da população trificação rural, água. Estes programas
rural do acesso a direitos, ativos, bens foram criados no âmbito do MDA ou
e serviços públicos para as áreas rurais. são desenvolvidos em parceria com
Além disso, é preciso reconhecer que outros ministérios e instituições do
esse movimento vai ganhar maior im- governo federal. Outras ações impor-
pulso com a formação do Ministério de tantes buscam valorizar a participação
Desenvolvimento Agrário (MDA), no das mulheres, da juventude rural e das
4. De acordo com SABOURIN et all (2015), em Cuba, a aprovação de políticas específicas para a agricultu-
ra familiar inicia em 1993, no marco do “colapso do bloqueio soviético” (SABOURIN, 2015, p. 6).
5. Nesse aspecto, o desenho institucional da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) serviu como um
importante ponto de partida para as discussões referentes ao Cadastro da agricultura familiar. A REAF
publicou em 2016 um estudo de sistematização dos registros nacionais da agricultura familiar intitulado
“Los Registros Nacionales de la Agricultura Familiar en el ámbito del Mercosur: el rol de la REAF en el
proceso de su construcción a nivel regional”, analisando os marcos normativos desses instrumentos no
Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia, Equador e Venezuela.
14 Cuaderno de trabajo 3
das políticas de extensão rural, con- com enfoque de inclusão e equidade,
tam com uma forte influência da ex- mediante o fortalecimento de amplos
periência brasileira. No caso específico processos de participação dos atores
do Uruguai, a constituição das Mesas institucionais e sociais na gestão dessas
de Desenvolvimento Rural revela uma ações. Na concepção dessa articulação
forte inspiração no modelo de gestão regional, duas experiências programá-
territorial implantado pela Secretaria de ticas assumiram um papel central, além
Desenvolvimento Territorial do MDA. das próprias lições extraídas das inicia-
No Paraguai, as iniciativas de fortale- tivas implementadas em seus respecti-
cimento de programas de alimentação vos países e territórios: a contribuição
escolar vinculados à produção familiar, europeia, em especial do Programa de
por exemplo, demonstram claras re- Desenvolvimento Rural Sustentável de
ferências com as políticas executadas Espanha, e a brasileira, por meio dos
no Brasil. Estes exemplos revelam a programas Territórios de Identidade e
influência das políticas públicas de de- Territórios da Cidadania.
senvolvimento territorial e de inclusão
da agricultura familiar desenvolvidas No plano nacional, esta influên-
no Brasil tanto no plano regional, no cia se manifesta na Política Nacional
âmbito da REAF, como no desenho po- de Desenvolvimento Rural Integral,
lítico-institucional referente a estes te- aprovada pela Guatemala, em 2009;
mas nesses países. no Programa Territórios de Progresso,
elaborado em El Salvador em 2011;
No caso da região centro-americana, na aprovação da Lei n° 9036, de 2012,
esta dupla contribuição (regional e que transforma o antigo Instituto de
nacional) das experiências brasilei- Desenvolvimento Agrário (IDA) da
ras também é possível ser constatada Costa Rica em Instituto Nacional de
de maneira muito concreta. Na es- Desenvolvimento Rural (INDER) e
fera regional, o Sistema de Integração cria, em 2015, a Política de Estado
Centro-Americana (SICA) aprovou para o Desenvolvimento Rural
oficialmente, em 2010, uma institucio- Territorial Costarriquense (PEDRT); e,
nalidade regional para formular uma na República Dominicana, a Estratégia
estratégia para o desenvolvimento sus- Dominicana para o Desenvolvimento
tentável dos territórios rurais. Nasceu, Rural Territorial, aprovada em 2014.
assim, a Estratégia Centro-Americana Nesses casos específicos, as conver-
de Desenvolvimento Rural Territorial sações realizadas pelas autoridades
(ECADERT), como instrumento de ar- governamentais, durante as missões
ticulação e proposição política supra- diplomáticas entre o Brasil e estes
nacional, que tem por objetivo geral países, a realização de intercâmbios
influir na construção das políticas pú- de experiências, a participação de
blicas de desenvolvimento territorial, autoridades ministeriais em fóruns
16 Cuaderno de trabajo 3
aprendizados muito pertinentes para familiar, no marco de estratégias in-
aqueles países interessados em desen- clusivas de desenvolvimento rural. As
volver instrumentos normativos que atividades realizadas em vários países
facilitem esses processos em cada con- da América Latina contribuíram para
texto específico. colocar o tema da agricultura familiar
num patamar mais elevado da agenda
Nesses processos de cooperação, de política desses países.
maneira alguma se buscou levar a
experiência brasileira para que suas O atual cenário político brasileiro,
políticas sejam adotadas cegamente após o impeachment da Presidenta
nesses países latino-americanos, o Dilma Roussef e o consequente des-
que resultaria totalmente inconce- monte dos programas de inclusão so-
bível, devido às diferenças geográfi- cial e produtiva implementados desde
cas, históricas, político-institucionais, 2003, aponta para um arrefecimento
sociais, econômicas e culturais que dessas ações e, muito possivelmente,
caracterizam a diversidade das traje- do orçamento público destinado a es-
tórias institucionais de cada país, bem sas políticas. A extinção do MDA en-
como das capacidades organizativas fraquece este campo de forças políticas,
e de autonomia dos atores sociais, da e, sem dúvidas, cria uma grande difi-
correlação de forças e dos projetos na- culdade para fortalecer os processos
cionais em disputa. de cooperação Sul-Sul. Mesmo assim,
e considerando-se todas as limitações
Além da contribuição promovida pelos apresentadas pelas políticas públicas de
organismos de cooperação internacio- desenvolvimento territorial rural e de
nal na difusão e intercâmbio das políti- agricultura familiar, entendemos que
cas brasileiras, percebe-se que as ações as lições e aprendizados dessa trajetória
desencadeadas durante e depois do Ano brasileira recente se constituem num
Internacional da Agricultura Familiar, legado fundamental para as institui-
em 2014, deram um maior impulso às ções governamentais e também para as
discussões sobre as políticas públicas organizações sociais dos demais países
para o fortalecimento da agricultura latino-americanos.
É certo que desde os primórdios do sé- que ainda precisam ser superados para
culo XXI a temática da ruralidade vem se construir um novo paradigma de de-
ganhando novos contornos analíti- senvolvimento, em que o espaço rural
cos a partir de um consenso formado passe a ser concebido para além de um
que ressalta o fato de que os espaços simples local de produção de mercado-
rurais – brasileiro e latino-americano rias agropecuárias.
– são cada vez mais heterogêneos e de
uma amplitude que vai além das tra- No caso do Brasil, como apontamos an-
dicionais classificações oficiais. Esses teriormente, após a adoção da política
dois aspectos (heterogeneidade e di- de desenvolvimento territorial no ano
mensão) atuam diretamente sobre as de 2003 abriu-se um leque enorme
políticas públicas, obrigando-as a se- de oportunidades, especialmente no
rem repensadas, ao mesmo tempo em campo da democratização das políti-
que se estabeleçam novos parâmetros cas públicas. Todavia, a trajetória das
no processo de construção, execução e políticas analisadas em um território
avaliação das mesmas. específico é reveladora de que muitos
gargalos ainda estão presentes, os quais
Isso ficou mais evidente em países influenciam decisivamente os próprios
onde esse repensar das políticas públi- resultados das referidas políticas. De
cas de desenvolvimento rural ampliou uma maneira geral, destacaram-se os
sua escala a partir da adoção da abor- problemas de coordenação dessas po-
dagem territorial, passagem esta que, líticas, tanto entre as diferentes esfe-
sem dúvida, foi limitada em muitos ras do próprio governo federal como
casos e portadora de inúmeras dificul- entre os distintos níveis de governo
dades. Todavia, o fato concreto é que (federal, regional e local); de falta de
essas experimentações recolocaram na capacitação para formulação de proje-
ordem do dia um conjunto de temas tos de desenvolvimento intersetoriais e
20 Cuaderno de trabajo 3
fato que impede um maior grau de das políticas nacionais, é fundamen-
empoderamento desses atores no tal buscar fortalecer as capacidades de
sentido de também torná-los prota- empoderamento dos atores territoriais
gonistas políticos. para que tenham melhores condições
de incidir nos processos de gestão de
De algum modo, todos esses fatos re- seus territórios, tornando-se, assim,
portados podem estar indicando um protagonistas da construção de um
certo esgotamento do processo que desenvolvimento inclusivo e susten-
estava em curso, o qual seguramente tável. Nesse sentido, os arranjos ins-
foi profundamente afetado pelo clima titucionais, criados ao longo desses
político que se instaurou no Brasil últimos anos, representam arenas de
após as eleições de 2014, culminando participação social que permitem a
com a deposição da presidente legiti- ampliação da vivência cívica aos ato-
mamente eleita no mês de agosto de res envolvidos nesses processos. Estes
2016. A partir de então, o clima de in- processos fortalecem a esfera pública
certeza tomou conta dos programas de da sociedade enquanto espaço de
desenvolvimento rural que estavam publicização e concertação de uma
em curso, especialmente da política de diversidade de demandas sociais e
desenvolvimento territorial. econômicas.
22 Cuaderno de trabajo 3
de construção de políticas públicas de regionais e hemisférico, em um tra-
combate à pobreza e de promoção de balho articulado com as instituições
estratégias de desenvolvimento terri- contraparte, deve incentivar e apoiar a
torial rural inclusivo avaliem o signi- criação e consolidação de espaços inte-
ficado das ações realizadas e, a partir rinstitucionais de debate e proposição
dessa avaliação, proponham uma nova de estratégias e políticas de desenvol-
agenda política para o desenvolvimento vimento territorial rural. Essas políti-
rural, que não seja apenas de caráter cas devem incentivar o entrelaçamento
meramente incremental. Para enfren- dinâmico das economias dos espaços
tar e superar os novos desafios das si- rurais e urbanos, a inclusão social e pro-
tuações de exclusão com propostas dutiva dos grupos sociais vulneráveis,
compatíveis com as relações contem- a sustentabilidade ambiental e a parti-
porâneas estabelecidas entre os espaços cipação cidadã na gestão das políticas
rurais e urbanos, se faz necessário con- nos territórios. Onde for politicamente
formar um novo acordo político-social, viável, é importante que se constituam
envolvendo governo e sociedade civil, marcos institucionais e instrumentos
que reconheça a necessidade de rea- operativos que deem o amparo legal
lizar uma profunda mudança institu- a essas políticas, incorporando os se-
cional capaz de dar suporte às políticas guintes eixos estruturais: (i) o fortaleci-
inovadoras de inclusão nas áreas rurais mento da produção agrossilvopastoril,
. baseada em um novo padrão tecno-
Essa nova agenda deve incorporar um lógico que priorize a soberania e a se-
conjunto de objetivos estratégicos, tais gurança alimentar e nutricional e que
como: (i) gerar um modelo de desen- seja resiliente às mudanças climáticas
volvimento com foco central na redu- em curso; (ii) a promoção da qualidade
ção das desigualdades e na superação de vida e do bem-estar social das po-
da pobreza; (ii) construir mecanis- pulações dos territórios rurais, conside-
mos solidários de integração entre as rando que estas regiões não se limitam
áreas rurais e urbanas, reconhecendo a espaços de produção e, portanto, ne-
a heterogeneidade social das popula- cessitam ter acesso a um conjunto de
ções rurais e valorizando seus espaços direitos, bens e serviços públicos e pri-
de vida e trabalho; (iii) consolidar os vados; (iii) o incentivo à implementação
direitos de cidadania, expressos no de processos continuados de inserção
acesso a ativos, bens e serviços que as- social e produtiva, com diversificação
segurem melhores condições de vida e dinamização das economias territo-
às populações rurais. riais, potencializando suas vantagens
comparativas; (iv) o fortalecimento de
Para viabilizar as condições institucio- ações focalizadas no empoderamento
nais que permitam alcançar este re- dos atores sociais, na discriminação po-
sultado, o IICA, nos planos nacionais, sitiva e na consolidação de mecanismos
28 Cuaderno de trabajo 3
Proyecto Insignia Inclusión en la Agricultura
y los Territorios Rurales