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TRABALHO PRÁTICO
Deontologia da avaliação psicológica em contexto de diagnóstico e intervenção
ENQUADRAMENTO
O presente trabalho visa desenvolver competências deontológicas no domínio da medição e da
avaliação psicológica. Dado que uma formação sólida em ética não se alcança através do mero
conhecimento de um conjunto de princípios ou de normas reguladoras de uma qualquer atividade, mas
envolve também o desenvolvimento de atitudes profissionais adequadas e de sensibilidade aos
problemas e dilemas que a prática coloca, este trabalho visa contribuir para o objetivo geral da formação
na UC de PSICOMETRIA: o “desenvolvimento de competências técnicas e atitudes de rigor
metodológico, humanismo científico e deontologia na medição e avaliação psicológica”. De facto, “tal
como vem expresso no artigo 4.1 do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a
avaliação psicológica é um ato exclusivo da Psicologia e um elemento distintivo da autonomia técnica
dos psicólogos. Por isso mesmo, devem os profissionais de psicologia ser os primeiros a dar o exemplo,
fazendo uma aplicação competente e consciente dos instrumentos que estão à sua disposição” (Ricou,
2014, p.26).
A utilização de testes psicológicos constitui, assim, uma competência exclusiva dos psicólogos,
sendo estes desde logo responsáveis pela escolha adequada dos instrumentos a utilizar num
determinado contexto, em face de uma problemática ou solicitação concreta. Quando não existam
instrumentos de avaliação previamente construídos e/ou estudados nas populações alvo, cabe aos
psicólogos construírem novos instrumentos, ou traduzirem e adaptarem testes desenvolvidos noutros
países, com o propósito de adquirir ferramentas de avaliação psicológica objetivas e fidedignas e de as
adaptar de forma tecnicamente correta para uso junto das populações com que trabalham. Além disso,
mesmo que existam já disponíveis instrumentos de avaliação alegadamente “aferidos” para uma
determinada população, cabe aos psicólogos, antes de qualquer utilização, ajuizar da sua pertinência,
atualidade e qualidade científica, para verificar a adequação desses instrumentos aos objetivos de
avaliação pretendidos. Em face do conjunto complexo de competências requeridas nesta área, os
psicólogos necessitam de dominar conceitos e técnicas de construção, estudo e avaliação dos próprios
instrumentos psicométricos, sendo-lhes exigida qualificação profissional específica – nomeadamente,
formação em Psicologia e em Psicometria.
Para mais, a qualidade dos resultados dos testes e a sua utilidade para tomada de decisão em
contextos de intervenção do psicólogo (por exemplo, em seleção, em clínica, em educação, em
orientação vocacional, etc.) depende cada vez mais do domínio que os seus utilizadores detêm, não só
dos conceitos da Psicometria, mas também, em larga medida, da investigação, conceptualização e
intervenção em Psicologia. Por exemplo, de que servem os resultados de um teste de personalidade a
um profissional que não tenha um profundo conhecimento do domínio de investigação, conceptualização
e avaliação da personalidade? Como poderá interpretar e utilizar esses resultados de forma adequada e
fidedigna? Como poderão esses resultados ser integrados com outros dados acerca da pessoa avaliada
e desse conjunto de informações serem extraídas implicações fundamentadas, para o diagnóstico e/ou
a intervenção? E como pode um profissional sem formação em Psicometria e Psicologia avaliar se esse
teste de personalidade seria, desde logo, o mais adequado aos objetivos de avaliação, no contexto em
causa?
Deste modo, a larga maioria dos instrumentos de avaliação psicológica requer da parte dos seus
utilizadores o domínio de conceitos, teorias, modelos e respetivas implicações para o diagnóstico e a
intervenção psicológica, não bastando que se conheça o conteúdo de um teste e se saiba quantos e
quais os resultados que proporciona, para que dele se faça uma utilização relevante, correta e
verdadeiramente consequente. Ainda assim, existe uma enorme diversidade de técnicas ou testes,
distintos quanto a diferentes aspetos – desde o tipo de conteúdos ao formato de aplicação, desde o tipo
de materiais aos tipos de resposta que solicitam, desde os constructos que pretendem medir ao nível de
complexidade da interpretação dos seus resultados…Desta diversidade decorre, naturalmente, que
diferentes instrumentos requerem da parte de quem os utiliza graus de formação e experiência
específicos, exigindo que os seus utilizadores apresentem “nível de qualificação” profissional adequado.
Esta exigência tornou-se mais premente, ainda, em face da possibilidade de divulgação de conteúdos
dos testes nos media, ou por via da internet (apesar de tal ser supostamente impedido pelos direitos de
autor e pelas exigências de reserva de informação psicométrica, por parte das editoras de testes): de
facto, a utilização indiscriminada dos instrumentos por quem não tem formação, competência e sentido
de responsabilidade para deles fazer um uso adequado constitui uma ameaça séria, não só à população
geral, que pode sair diretamente prejudicada do uso inadequado ou da interpretação falaciosa de
resultados, como à própria classe dos psicólogos, que pode ver-se alvo de ataques da população à
legitimidade dos instrumentos de avaliação que utiliza.
Assim, constitui responsabilidade dos psicólogos respeitar os princípios deontológicos que estão
subjacentes à prática da psicologia, genericamente, e em particular da avaliação psicológica,
reconhecendo as suas competências, bem como os limites dessas competências, e utilizando apenas
os instrumentos de avaliação psicológica para os quais tenham recebido formação adequada. Alguns
instrumentos poderão exigir apenas uma Licenciatura em Psicologia, outros uma formação mais
avançada (ao nível do Mestrado) e outros, ainda, podem requerer uma formação pós-graduada
específica ou mesmo uma prática prolongada de utilização supervisionada por um psicólogo experiente.
Para além de terem consciência destas exigências, cabe aos psicólogos, também, na sua esfera de ação,
evitar que terceiros desrespeitem os princípios deontológicos subjacentes à avaliação psicológica,
ultrapassando os limites das suas competências ao, por exemplo, utilizar instrumentos que exigem um
“nível de qualificação” superior ao que de facto detêm. É obrigação deontológica do psicólogo não ser
cúmplice de atuações de outros profissionais, psicólogos ou não, que lesem os Princípios do Código
Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses relativos à utilização de instrumentos de avaliação,
e que ameacem o bem-estar e a saúde mental dos utentes dos serviços de psicologia, bem como o bom
nome da própria classe dos psicólogos.
O exercício prático envolvido neste trabalho baseia-se, assim, numa denúncia dirigida à
COMISSÃO DE ÉTICA da Ordem dos Psicólogos Portugueses por uma psicóloga, docente envolvida na
formação de psicólogos, que, no âmbito de uma solicitação de um dos seus estudantes, tomou
conhecimento da sua prática continuada de atividades de avaliação psicológica com instrumentos que
exigem “nível de qualificação” elevada (“nível C”), sendo que o referido estudante não tinha ainda atingido
sequer o final do 1º Ciclo de formação em Psicologia (3º ano). Segue-se o texto da carta de denúncia:
PROCEDIMENTOS
Ponderação das razões que poderão levar a psicóloga responsável pela situação irregular
descrita a atuar desse modo. Antecipação da argumentação que a psicóloga XYZ poderá vir a
utilizar em defesa das suas práticas, para prevenir lacunas do Parecer a ser emitido pela
COMISSÃO DE ÉTICA.
Para elaborar este documento, do ponto de vista formal, sugere-se que seja efetuada uma
pesquisa sobre o formato de redação que um “Parecer” pode assumir e adotar um formato que
pareça ajustar-se ao contexto e objetivos da situação proposta neste trabalho. O parecer deverá
ser construído pelo grupo e evitar a simples transcrição adaptada de pareceres antes emitidos
pela OPP.
AERA, APA, NCME (2014). Standards for Educational and Psychological Testing. Washington,DC:
AERA. (Ver Parte II. Capítulo 6. Test Administration, Scoring, Reporting, and Interpretation, pp.
111-122; Capítulo 8. The Rights and Responsibilities of Test Takers, pp.131-138; Capítulo 9. The
Rights and Responsibilities of Test Users, pp. 139-150.)
International Test Commission (2003). Diretrizes Internacionais para a Utilização de Testes. Lisboa:
CEGOC-TEA.
http://static.cegoc.pt/wp-content/uploads/2012/01/DIRECTRIZES.pdf
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2016). OPP Código Deontológico. Ordem dos Psicólogos
Portugueses.
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/web_cod_deontologico_pt_revisao_2
016_1.pdf
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2019). Pareceres da Comissão de Ética da OPP. Ordem dos
Psicólogos Portugueses.
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/pareceres_comissao_de_etica.pdf
Ricou, M. (2014). A Ética e a Deontologia no Exercício da Psicologia. Lisboa: Ordem dos Psicólogos
Portugueses. (Sobretudo Capítulo 8. Processos de Avaliação Psicológica, pp.295-308).
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/etica_e_deontologia.pdf
Simões, M., & Almeida, L. (1996). Problemas Éticos e Deontológicos na Prática de Avaliação Psicológica.
Atas do Colóquio Europeu de Psicologia e Ética, pp.169-177. Lisboa: ISPA.
Tranel, D. (1994). The Release of Psychological Data to Nonexperts: Ethical and Legal Considerations.
Professional Psychology: Research and Practice, 25, 1, 33-38.
https://users.phhp.ufl.edu/rbauer/Intro%20CLP/tranel_94.pdf
Links sugeridos:
Pearson – “Qualifications”
https://www.pearsonassessments.com/professional-assessments/ordering/how-to-
order/qualifications.html