Depois que escrevi o conto O Anjo, muitas ideias e lembranças sobre a antiga Rio do Sul me apoquentaram a cabeça. Podia ter falado disso, podia ter falado daquilo. Ou poderia ter me lembrado deste nome ou daquele apelido. Enfim, muitas coisas mais caberiam no conto. Mas conto deve ser uma história curta, para não cansar o leitor. No entanto, como tenho em mente um projeto de fazer a cidade de Rio do Sul um tema literário constante, já que acredito que a História também se faça com literatura, resolvi empreender um tour pela Antiga Cidade de Rio do Sul e, vocês, são meus convidados. Bora nessa?! Iniciaremos pedindo as bênçãos na Catedral São João Batista. Devo confessar a vocês que é uma das igrejas mais bonitas que já vi. E eu já estive em oito capitais do mundo. É claro que a Capela Sistina e a Basílica de São Pedro são incomparáveis. Mas, também a claridade e a amplidão da nossa catedral é algo fora de série. Suas pinturas e ornamentos são mais visíveis por isso. E, sem querer desmerecer outras igrejas, mas a Catedral rio-sulense tem beleza e sobriedade, não é o exagero das igrejas barrocas. O segundo ponto que lhes convido a visitar é o Jardim, na Praça Ermembergo Pellizzetti. Seus passeios estão onde deveriam estar, por isso não se precisa de atalhos, forma que as pessoas encontram para desmentir o bom gosto e a praticidade do arquiteto. No meio dos passeios, há o busto do Senhor Ermembergo Pellizzetti, emérito deputado que empreendeu renhida luta para a emancipação da cidade, isso lá em 1931. O Jardim é um lugar aprazível para se descansar e bater um papo. Há bancos disponíveis para isso, além de árvores frondosas e flores, principalmente azaléas. Vamos, agora, ao Bar Ford, junto à Concessionária Ford. O cafezinho desse bar é saboroso, e se você quiser conversar sobre Rio do Sul ou sobre a região, principalmente se for sobre política, você está no lugar certo. Até o apelidaram de Senadinho, comparando-o ao Ponto Chic, bar semelhante a este que fica lá em Florianópolis., na esquina da Felipe com a Trajano. Bem, agora, que já tomamos o café, sigamos em frente, pela calçada da direita, encontramos, logo após a Ford, na Rua 7, indo em direção à Rua Carlos Gomes, a Distribuidora de Automóveis, revendedora da DKW Vemag, onde se vendiam aqueles automóveis cujas portas abriam da frente para trás, o contrário de como é hoje e, por isso, jocosamente, eram chamados de “Vencavê”, numa maliciosa referência ao fato de que as mulheres, ao desembarcarem do carro, pondo primeiro uma perna para fora, poderiam liberar alguma paisagem interessante para quem estivesse por perto. A porta escancarava tudo que pudesse ser visto. E a malandragem não perdia a oportunidade. “Hei, vem cá vê”. Daí o “Vencavê” ao invés de DKW. O proprietário era o conceituado economista e professor, Dr. Rubens Bins da Silveira. Logo em seguida vinha a Distribuidora Americana, loja de eletrodomésticos, que antes de se transferir para a Rua 7, esquina com a Carlos Gomes, funcionava na Rua 15 de Novembro, após o Cine Riosul. Seu proprietário era Francisco Vogelbacher. A malandragem fazia chacota com seu nome por não saber pronunciar o sobrenome alemão. Chamavam-no de “Chico Fogo em Baixo”. Ele não se importava. Participava da brincadeira. Em seguida tínhamos o Bazar Felipe, uma simpática loja de artigos para presentes e decorações. Seu proprietário era o Sr. Antônio Martinho Felippe (sogro de Rubens Gonçalves, diretor da RBA TV). Em seguida passamos pela Drogaria e Farmácia Gemballa e, ao lado, encontramos um corredor que leva à Churrascaria Meu Cantinho. Depois, temos a Fiambreria Rick, do Senhor Gustavo Buchmann. E, em seguida, o Banco da Indústria e do Comércio – Banco INCO -. Continuando pela esquerda, chegamos à Casa Azul, era uma retífica de motores e loja de autopeças. Trabalhava ali, como funcionário, o jovem Udo Paupitz, oriundo de Agrolândia, o qual mais tarde adquiriu a empresa, transferindo a retífica de motores para a BR-470 com o nome de Retífica Trevo. Mas continuando pelo lado direito, em seguida, encontrarmos outro corredor, que leva à Churrascaria Sertaneja, de propriedade do Senhor Ênio Avante Matos, o popular Zito, pai de filhos lindos: Marileusa, Marilu, Marili, e Mário. Continuando, temos a Casa Osvaldo Claudino e, em seguida, a Drogaria e Farmácia Catarinense. Embaixo da Catarinense, há o Restaurante Central. Bom, vamos voltar. Ou melhor, vamos atravessar a Carlos Gomes. Muito bem, agora aqui, no início da Rua Tuiuti, temos uma das mais antigas lojas de Rio do Sul, a Caça e Pesca, do grupo Osvaldo Claudino. Ao lado, no sentido ao Jardim, temos um corredor que leva à Oficina de Bicicleta do Senhor Bonfanti; à frente, há a loja da Bicicleta Pátria, bicicleta fabricada aqui na nossa cidade pelos Irmãos Hubisch. Havia, também, na Rua Carlos Gomes, praticamente defronte à Casa Azul, uma tradicional loja de móveis e eletrodomésticos: a Comercial Waldemiro Brandt que depois de muitos anos transferiu-se para a Rua 15 de Novembro praticamente defronte à sede da AMAVI. Em seguida, vem a loja de calçados do Senhor Adalberto Gaviolli, e depois o Mercadinho Serrano, que foi, por um bom tempo, do Zezo Zimermann, mas, se não me engano havia outro dono antes. Depois do Mercadinho, o Bar e Hotel Alvorada, ou Dos Viajantes, palco de muitas histórias que são contadas aqui. Ao lado, por uns tempos, o Zeca e o Orlando, ambos barbeiros, abriram a Zeor, primeira barbearia que apresentava algo fora do tom machista das barbearias tradicionais. Em seguida temos a Relojoaria Suíça, de Seu Luís Meneguetti. Mais à frente, a entrada da Auto Sul, e em seguida a Sissi Calçados; ao lado, a loja de Dona Shirlei Sedrez, e, quase anexo, o Banco Sulbrasileiro. Passamos pela entrada da antiga rodoviária, para chegarmos a Cia Paul. Depois encontramos o Banco do Brasil – mais tarde seria o Besc -, não me lembro o que havia antes no lugar em que foi construído o banco; ao lado, há a Loja de armarinho de Lauro André da Silva e Família. Laurinho, como era conhecido, foi deputado por algumas legislaturas, sempre pelo MDB. Ele mais José Tomé, Ângelo Ernesto da Silva, Ogenil de Oliveira, Danilo Lourival Schimit, foram os baluartes da esquerda do Alto Vale do Itajaí. Nessa época, meu sogro, Afonso Weiduschat, lá em Petrolândia, concorria à prefeitura, sem sucesso nas urnas, mas semeava uma outra voz além daquela que a Ditadura prescrevera como certa através da Arena. Tempos de fundamentos, de ideias e ideais enraizados no homem político. Não é como hoje, que se troca de partido como se troca de camisa. Vamos em frente, agora vem loja de calçados do Gadotti, não sei o que era antes. Colada à lojinha, vem a panificadora Brehsan, também muito antiga. Em seguida, havia uma quitanda, ou garapeira, de uma senhora chamada Lia. Não é de minha época. Tempos depois, arrumaram, no espaço entre a padaria e esta quitanda, um bar. O primeiro nome foi (em alemão) Südarms – Braço do Sul – era como Rio do Sul se chamava antigamente -, depois o (Bar) Südarms transformou-se em Varandão, proprietários, Aldo Siebert, seguido de Nilson Nunes, o nosso Da Bera. Atravessando a rua, na esquina, encontramos a antiga Casa Glória, antes eu não sei o que era. Em cima, ficava o XV de Abril, Escola Supletiva e, também, uma Escola de Datilografia, onde aprendi a arte com o Seu Moysés Boni. Grande professor, também de Inglês, no Dom Bosco, onde tive a oportunidade de ser seu aluno. Em seguida, vinha a Rádios Norberto, com dona Hilda Frahm. Ao lado da Rádios Norberto, a Feira Livre, onde os engraxates guardavam suas bancas e cadeiras. Na Alameda Aristiliano Ramos, ao lado da Catedral, havia a então muito famosa Churrascaria Ouro Verde, de propriedade de Rafael Siquela, a qual estampava com destaque nos seus letreiros: “Galetto all primo canto”, uma novidade na época. Acho que foi ali que foi servido o primeiro galeto no espeto em Rio do Sul. Naquela época não havia ainda granjas de criação de frangos de corte como há hoje, com cortes de todos os tipos em todos os supermercados. Frangos para os tais espetos de então, só os caipiras criados soltos na colônia. E quando davam seu primeiro canto eram trucidados para aproveitar-se a carne macia para assar na brasa. Galo velho era muito duro. Tinha que ser preparado cozido na panela de ferro no fogão à lenha. “Galetto all primo canto” seria, numa grotesca tradução do italiano “frango (galinho) do primeiro canto”. Ainda na Aristiliano Ramos haveria, alguns anos depois, as Lojas HM (Hermes Macedo S/A), uma potência em móveis, eletro e utensílios domésticos. Foi gerente durante muitos anos o sr. José Leonel de Souza. Voltando pela Rua Carlos Gomes, passamos pelo Jardim, depois pela fábrica de gelo, do Seu Pamplona, que mais tarde vem a ser, por muitos anos, a Feira de Retalhos, do Seu Antônio Pereira, mais esposa e filhas. Em seguida a casa e hospital do Dr. Romão Trauczynski. O filho dele, Dr. Bruno, trabalha em Blumenau há muitos anos. Continuando, chegamos ao maior ponto de encontro da juventude por muitos anos, o Lanche Bar. Com quatro ambientes: O balcão, um mezanino, um reservado, e uma parte rebaixada, que ficava mais atrás, perto dos sanitários. Após o Lanche Bar, temos uma loja onde hoje é a casa Borba, em seguida a Carlos Marçal e Filhos, loja de ferragens e de tudo que poderia precisar um profissional da construção civil, ou de consertos. Ao lado, a loja dos Müller, se não me engano a Casa dos Bordados. Em seguida, ou antes, havia uma loja de calçados, que mais tarde o Senhor Alírio Montibeller comandou. Em baixo, nos fundos, a Sapataria do João e do Tito, em cima, o Boliche dos Müller. Voltando à rua, passamos pela Loja Abreu e pelo Calçados Perfoll, de Dona Norma Perfoll. Depois havia escadarias para o consultório de dentista (Marcos Raizer) e de advogados. Havia, ainda, um terreno baldio antes da Casa Coelho. Mais tarde o Seu Nestor Cunha construiu ali a Ferragens Real. E aí fechamos a Rua Carlos Gomes. Quanto a Sete de Setembro, parte já foi vista parcialmente no conto do Anjo, por isso, quero citar aqui apenas a Barbearia do Senhor Kretschmar e a loja e escola de acordeão, do Senhor José Andrade. Terminando a rua, vinha a casa do Seu Orlandino Rodrigues, sei que esta casa, na esquina da Sete com A Aristiliano Ramos, já fora sede de casas comerciais, mas não é da minha época. Seguindo a Alameda, tinha-se a Instaladora Rio do Sul do Senhor Oscar Cordeiro, e de seus filhos, Osmari, Ataide e Celso. Ao lado, o Foto Marzall, e depois a escadaria que levava ao Orlando’s Restaurante, onde trabalhava Paulinho, o garçom. Embaixo, a Lanchonete Rouxinol; ao lado, a Caixa Econômica Estadual, espaço que depois veio a ser a ótica do Senhor Lula Ferro. Em cima, a Rádio Mirador, e escritórios. Depois, chegamos à Querência, Bar e Churrascaria. A clientela da Querência era bem eclética. Atendia-se aos senhores que queriam bater um dominó, atendia-se a quem ia para conversar sobre política, e também se atendia a um pessoal free lancer que gostasse de jogar sinuca. Mesa grande, seis caçapas. O proprietário era Senhor Reinaldo de Oliveira. Seguindo a rua, encontramos a Papelaria Moderna, de Seu Henrique Jorge e, em seguida, o Cartório Dellagiustina, de Seu Leandro, hoje da Zélia, sua filha. Fechando a rua, temos a casa e consultório do Doutor Arwino Walter Gaertner. Bem, vou parar por aqui, quem sabe ainda faça um tour II. Até mais.