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Neurociências 275

QUADRO 11E A importância do contexto na percepção das cores


A visão de cores requer, obviamente, teoria da visão da cor até o trabalho debate, que tem durado diversas
que as respostas da retina a diferen- de Edwin Land, na década de 1950. décadas, acerca da forma como as
tes comprimentos de onda sejam, de Em sua famosa demonstração, Land impressões de cor são geradas. Para
algum modo, comparadas entre si. A (que entre outras realizações fundou Land, a resposta estava em uma série
descoberta de três tipos de cones e a companhia Polaroid e tornou-se bi- de equações com medidas de razões
seus diferentes espectros de absorção lionário) utilizou uma colagem de pa- que poderiam integrar os espectros
é corretamente considerada, portanto, péis coloridos que têm sido chamados oriundos de diferentes regiões da
como a base para a visão de cores em de “mondrianos de Land”, em virtu- cena observada. Entretanto, como foi
humanos. Mesmo assim, ainda está de da sua semelhança com o trabalho reconhecido ainda antes da sua mor-
por ser determinada a forma como do artista holandês Piet Mondrian. te, em 1991, sua teoria, denominada
os três tipos de cones e os neurônios Utilizando um fotômetro telemétri- retinex, não funcionava em todas as
de ordem superior com os quais eles co e três fontes de luz ajustáveis que circunstâncias e era, para cada evento,
estabelecem contato (veja Capítulo geravam luz com comprimentos de mais uma descrição do que uma ex-
12) produzem as sensações de cor. De onda curtos, intermediários e longos, plicação. Uma explicação alternativa
fato, essa questão tem sido debatida Land demonstrou que dois desses desses aspectos contextuais da visão
por algumas das mentes mais brilhan- recortes que, sob luz branca, pareciam da cor é que a cor, como o brilho, é
tes da ciência (Hering, Helmholtz, ter cores bem diferentes (p. ex., verde gerada empiricamente, de acordo com
Maxwell, Schroedinger e Mach, para e marrom) continuavam a ter suas aquilo que os estímulos espectrais
nomear apenas alguns), desde que respectivas cores mesmo quando as signifiquem a partir da experiência
Thomas Young propôs pela primeira três fontes eram ajustadas de forma prévia (veja Quadro 11F).
vez que os humanos deveriam ter três que a luz que retornava da superfície
diferentes “partículas” receptoras, isto “verde” produzisse, nos três tele- Referências
é, os três tipos de cones. fotômetros, exatamente as mesmas LAND, E. (1986) Recent advances in
Retinex theory. Vision Research 26: 7–21.
Um problema fundamental tem leituras previamente observadas a
sido o de que a percepção da cor é partir da superfície “marrom” – uma PURVES, D. and R. B. LOTTO (2003) Why
surpreendente demonstração da cons- we see what we do: An empirical theory of
fortemente influenciada pelo contex-
vision. Capítulos 5 e 6. Sunderland MA:
to, embora as atividades relativas dos tância de cor!
Sinauer Associates, pp. 89-138.
três tipos de cones possam até certo Os fenômenos de contraste e cons-
ponto explicar essa percepção em tância de cor levaram a um acalorado
experimentos de combinação de cores
feitos em laboratório. Por exemplo,
um objeto colorido que retorna exa- (A) (B)
tamente o mesmo espectro de com-
primento de onda para o olho pode
parecer bem diferente dependendo
do fundo em que é colocado, em um
fenômeno denominado contraste de
cor (Figura A). Além disso, objetos
utilizados em testes que retornam
diferentes espectros ao olho podem
parecer ser da mesma cor, um efeito
denominado constância de cor (Figura
B). Embora esses fenômenos fossem
bem conhecidos no século XIX, não
tiveram uma posição destacada na

A gênese dos efeitos de contraste e constância exatamente pelo


mesmo contexto. Os dois painéis demonstram os efeitos sobre a
cor aparente quando duas superfícies com propriedades de refle-
xão similares (A) ou duas superfícies com propriedades de reflexão
distintas (B) são apresentadas no mesmo contexto, em que toda
a informação fornecida é compatível com a iluminação que difere
apenas em intensidade. A aparência das superfícies relevantes
em um contexto neutro é mostrada nas figuras abaixo. (Obtido
de Purves e Lotto, 2003.)

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