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UNIVERSIDADE DESÃO PAULO
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Reitor: Prof. Dr. Flávio Fava de Moraes
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Vice-Reitor: ProL1. Drn. Myriam Krasilchik
JoséJobson de Andrade Arruda f,
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Professor Titular de História Modema da Faculdade i
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E !
CIÊNCIAS HUMANAS de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
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Diretor: Prof. DI'. João Baptista Borges Pereira
Vice-Diretor: Prof. DI'. Francis H. Aubert
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DEPARTA MENTO DE HISTÓRIA f


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-k\ \ Chefe: Profa. Dra. Raquel Glezer
Vice-Chefe: Prof. DI'. Norberto Guarinello

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A Grande Revolução
Inglesa, 1640~1780
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Revolução Inglesa e Revolução Industrial
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ID1a Construção dia Sociedade Moderna
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Departamento de História - USP


Editora Hucitec

São Paulo
1996

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SÉRIE TESES é uma publicação do Departamento de História da USP.
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APRESENTAÇÃO
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Endereço
SÉRIE TESES
Departamento
para correspondência:

de História - FFLCH-USP
I I -r-
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Av. Prof. Lineu Prestes, 338 - Cidade Universitária
A Pós-Graduação em História Econômica do Departamento de
CEP 05508-900 - São Paulo/SP - Brasil História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da .
USP, representa hoj e uma das experiências mais bem sucedidas no
Produção Editorial: Oficina Editorial
Impressão: Provo Distribuidora e Gráfica Ltda. conjunto da Pós-Graduação do país. Depois de um período incerto,
Tiragem: l.500 exemplares por causa do número reduzido de docentes operando na área, a Pós-
Graduação em História Econômica alcançou e mantém a classificação
Co-edição com A na avaliação da CAPES, constituindo-se mesmo, em termos dá
Editora Hucitec Ltda. Humanismo, Ciência e Tecnologia
Rua Gil Eánes, 713 ~ 04601-042 São Paulo/SP .I sua produtividade mensurada pelo número de dissertações e teses
defendidas, vis-a-vis o número de orientadores, numa área consolidada
.j e em expansão. .
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Uma das poucas lacunas existentes no programa dizia respeito
a inexistência de instrumentos capazes de dar vazão à produção de
I dissertações e teses, que escalonam as prateleiras do Centro de
1 Documentação (CAPH). Por essa razão, a Coordenação da áreadecidiu

.i
I criar, com apoio indispensável da taxa de bancada disponibilizada
-I pela CAPES e CNPq, três instrumentos capazes de divlllgar.aprudu-
.,i ção científica hoje represada: a Série Instrumental, para publicação
Arruda, José Jobson de Andrade 1
~ de repertórios bibliográficos, documentais, cronologias; a Re\t:},Üa:
A grande revolução inglesa, 1640-1780: revolução inglesa e revolução industrial ~ de Cultura Econômica, para publicação' de artigos deal~íí~~' e
1
na construção da sociedade moderna / José Jobsonde Andrade Arruda. __ São ~ professores envolvidos com o programa; e, a Série Teses, .cuja
Paulo: Departamento de História - FFLCH - USP / HUCITEC, 1996. - - (série i finalidade é a publicaçãonaíntegra das dissertações de mestrado,
teses, 1)
teses de doutoramento ou de livre-docência, que não ellcoiiHª-ram
ISBN 85-2710347-8 , escoamento natural nas editoras comerciais.
... " -,J<

Alguns dos trabalhos que virão à luz foram defendidos perante


1. Revolução industrial - Inglaterra 2. Inglaterra - história 3. Capitalismo 4. banca há mais de 20 anos, mas permaneciam inéditos. Outros, defen-
Economia política r. Título Il, Série
didos mais recentemente, transformaram-se em best sellers inéditos,
CDD (20 ed.) - 909.81
talo número de cópias xerox que deles foram tiradas, mais do que
942 justificando a sua transformação em livros por meio dessa coleção.
330.122 Uma das suas características é a preservação dos textos com a
330.09 atualização bibliográfica e documental do momento em que foram
Ficha catalográfica elaborada por: Tania M. Bueno de Paula CRB8 - 5857 realizados, inclusive com suas páginas de agradecimentos, referências
importantes do ponto de vista da preservação da memória acadêmica:
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Interferência da Fome, Paz e Guerras na Determinação


1
do Ciclo.Econômico do Século XVII 102 Introdução i~'"

Representação Esquemática da Interferência da j


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Fome, Paz e Guerras naDeterminação do Ciclo


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Econômico do Século XVII 103

Gráfico 1 - Exportações Inglesas 1700-1, 1750-1 e 1797-8 120


Gráfico 2 - Reexportações Inglesas 1700-1, 1750-1 e 1797-8 121
Gráfico 3 - Importações Inglesas 1700-1, 1750-1 e 1797-8 126
Gráfico 4 - Movimento de Importação e Exportação A industrialização é, com certeza, o denominador comum a partir
1700-1800 128 do qual é possível caracterizar o mundo moderno. Assim sendo, o
Gráfico 5 - Crescimento do Comércio Exterior 1700-1800 129 industrialismo é a grande questão política do nosso tempo, uma vez
Gráfico 6 - Estrutura do Comércio Triangular 133 que ele é a base de quase todos os problemas do século XX. Se é
Gráfico 7 - Importação de Algodão Bruto na Grã-Bretanha 156 verdade que a industrialização ocorre em formações históricas distintas
Gráfico 8 - Salários Reais dos Trabalhadores e, portanto, apresenta configurações próprias, para além disso, em
Não-Especializados de 1583-1702 167 sociedades que possuem estruturas sociais diversas (capitalistas e
Gráfico 9 - Salários Reais dos Trabalhadores socialistas), também é certo que a industrialização imprime feição
Especializados de 1583-1702 168 peculiar nos países em que se realiza.
Gráfico 10 /'fendêl1cia Geral dos Rendimentos Agrícolas Dessa forma,mesmo no nível das aspirações mais comuns, o
!':e do; Custo de Vida 1785-1845 169 cenário mundial parece estar dominado por esta questão. De um la-
do, nos países capitalistas avançados, os principais problemas parecem
resultar da industrialização, seja a partir dos desdobramentos da tecno-
logia moderna para o conjunto da sociedade, seja a partir da necessidade'
de se manter uma posição proeminente no contexto internacional.
Por outro lado, as regiões periféricas têm na industrialização o seu
objetivo maior, à medida que esta se apresenta como única alternativa
capaz de dar respostas às questões intrincadas que assolam o terceiro
mundo. \:~
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Nos países socialistas é com base na industrialização que a nova
sociedade vem sendo construída. Assim, o desenvolvimento das socie-
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dades, quer capitalistas, quer socialistas, coloca-se nos quadros da ":J
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industrialização que passa a significar, primordialmente, em termos
das forças produtivas, a criação de uma tecnologia específica. Não
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nos parece exagerado afirmar, portanto, que o industrialismo é o grande l
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mito do nosso século, o que explica, em larga medida, a existência de :lj
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XIV
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JOSÉ JOBSON DE ANDRAOE ARRUOA.
A GRANDE REvOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780
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toda uma literatura voltada para este tema, buscando compreender não estar ligada à propriedade do capital, mas sim, à sua gestão -
3
a lógica da civilização contemporânea. pode absorver as aspiràções mais gerais, da sociedade . Destarte, a
A questão crucial, que subjaz a este tipo de literatura, é saber tecnologia perderia o caráter de parte integrante de uma totalidade
4
se existem ou não diferenças entre as condições de industrialização maior, tornando-se o princípio organizador da sociedade ,
capitalista e socialista; se as técnicas de produção não se diferenciam Se estas visões podem, porventura, exagerar os "efeitos" do indus-
ou, pelo contrário, se elas guardam uma diversidade resultante de trialismo, ao qual tudo é reduzido, elas apontam para questões vitais,
contextos históricos particulares, e mais, se a totalidade mais abrangente a exemplo das formas de dominação presentes no aparato tecnológico.
é a industrial ou se o recorte mais adequado está nas diferenças que Em outros termos, a Revolução Industrial engendrou um novo tipo
modelam, de forma exclusiva, as sociedades capitalistas e socialistas. de domínio através da transformação do processo de trabalhocapita-
O capitalismo e o soCialismo são duas manifestações de uma mesma . lista.' ,N esse rnomel1to, a força de trabalho submete-se totalmente
matriz? Haveria uma estrutura tecnológica comum e, nesse sentido, ao capital e a tecnologia viabiliza tal submissão
trans-sistêmica? E além disso, desde que a tecnologia traz embutida Neste quadro
uma certa lógica de dominação, em que parâmetros deveríamos situar "a tecnologia em vez de simplesmeilte produzir relações
a atuação política? Em outras palavras, traria o desenvolvimento sociais é produzida pelas relações sociais sepresentadas
tecnológico formas mais sofisticadas de controle, cuja racionalidade pelo capital'"
permearia a consciência do homem contemporâneo? Desaparece,neste contexto, a decantada neutralidade da técnica,
Em suma, essas são algumas das principais questões em torno tão ao gosto daqueles que a pensaram inócua, em princípio, remetendo
das quais tem gravitado a literatura específica. o problema para as suas formas de utilização. As diferenças entre
A respostaa estes problemas, e mesmo o seu aparecimento em capitalismo e socialismo se tornam mais nítidas e o fulcro do debate
obras atine,htes ao,terna, não surge de forma homogênea. Sem pretensões é deslocado para temas relacionados com a sociedade soviética e seus
de esgotar.o assunto, apenas com o intuito de caracterizá-lo, podemos possíveis "desvios".
dar alguns exemplos, Autores como Raymond ARON1, embora Nesta mesma linhagem de consideraçQes, embora numa vertente
rr!
reconheçam que é necessário buscar as diferenças entre as sociedades' um tanto diversa, essas questões perpassam a rica produção da Escola
como a soviética e as sociedades capitalistas, afirmam que ambas de Frankfurt. Preocupados que estavam com as manifestações totalitá-
guardam fortes similitudes em decorrência da sua organização in- rias que marcaram a história do século XX, seus autores elaboraram
dustrial. Daí propõe-se o conceito de sociedade industrial, entendido análises densas sobre o tema. A SOCiedade unidimensionalmarcusea-
como a categoria explicativa mais abrangente da sociedade atual" O na, por exemplo, tem por substrato o
aparato tecnológico, resultando
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mesmo, mutatis mutandis, poder-se-ia dizer das posições de J01m K. ni
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GALBRAITH, para quem a tecnologia adquireuma dinâmica própria GALBRAITH, John KelUleth - O Novo Estado Industrial. Trad. port. Rio de ·.1
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Janeiro, Civilização Brasileira, 1969, Capítulos XIII, XIV e xV
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e impõe novas necessidades, alterando a feição da sociedade, posto !I~.•

4 ELLUL, Jacques - A técnica e o desafio do nosso século. Trad. port. Rio de


que a emergência de uma camada dirigente, - a tecnoestrutura - por
Janeiro, Paz e Terra, 1968,passilll.,
MARX, Karl - O Capital. Trad, port. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
I Cf ARON, Raymond - La lutte de classes. Nouvel/es leçons SUl' les Sociétes 19712, Livro 1, volume 1, pp, 432-433,
Industrielles. Paris, Gallimard, 1964, p. 22.
BRAVERMAN, Harry - Trabalho e capital monopol isla, A degradação do ~r
trabalho no século XX. Trad. portoRio de Janeiro, Zahar Editores, 1980, p. 28. i
.1.
Idem, ibidem, p, 22.
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A GRANDE REvOLUçÃo INGLESA, 1640-1780 Joss JOBSON DE ANDRADE ARRUDA I
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num sistema de dominação determinado. Tampouco, nesta perspectiva, tura sobre a Revolução Industrial, desde que diferentemente orde-
é possível pensar a neutralidade da técnica e, nadas, adquirem um sentido explicativo novo.
"a racionalidade tecnológica ter-se-a tornado raciona- De há muito nos preocupamos com este tema. A Revolução In-
lidade política'". dustrial fez palie de nossas primeiras palestras, cursos em nível de
Talvez o totalitário tendesse a se espraiar, à medida que o indus- graduação e pós-graduação na Universidade de São Paulo. Desnecessá-
trialismo, que exige um certo tipo de tecnologia, torna-se dominante. rio insistir mais no seu significado. Com o industrialismo consolida-
Através destes raciocínios, cresceriam as similitudes entre o socialismo se o sistema capitalista e seu processo torna-se irreversível. Nosso
e o capitalismo. Semelhanças estas que residem na mesma dominação trajeto de pesquisa, porém, levou-nos por caminho aparentemente
totalitária, na alienação progressiva", no mundo da burocracia, gestan- distante deste tema: enveredamos pelo estudo das relações comerciais
do o que ADORNO denominou por "sociedade administrada'". no âmbito do Império português, analisando a dinâmica mercantil
Certamente, o pensamento contemporâneo não se pode furtar a que integrava a Metrópole, as Nações Estrangeiras e as Colônias.
considerar estas questões e, talvez, a forma mais fecunda de enfrentá- Aparentemente distante porque a análise das tabelas.e gráficos montados \.
a partir das Balanças de Comércio, permitiu-nos conclusõesdecisivas ~
Ias esteja no elucidar a gênese deste processo, ou seja, as raízes do
industrialismo moderno, entendido não apenas na sua manifestação sobre a exploração colonial, mensurável no ganho de monopólio, extração u
de sobre-lucro por via do sistema colonial e do capital mercantil. t
exclusivamente técnica, mas, essencialmente, no seu profundo conteúdo H:-í
histórico-social. Consolidavam-se assim, no plano empírico, as idéias mais gerais
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Um estudo sobre a Revolução Industrial seria, certamente, apenas sobre a exploração embutida no sistema colonial e sua importância
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mais um trabalho dentre os inúmeros existentes sobre o tema, não se no processo de acumulação originária de capitais, capaz de determinar,
justificassepela incorporação da bibliografia mais recente e, pos-
sivelmenter de sua superação. Neste contexto sobreleva a força da .
interpretação, aintegração de idéias, na maior parte dispersa em
centenas de autores.rnas que, reunidas numa determinadaperspecti-
a longo prazo, a Revolução Industrial. Esse mecanismo tornou-se
ainda mais explícito, ao verificarmos que a teia de relações comerciais
_engendrou, mesmo no caso .de Portugal, um processo particular de
criação de fábricas, largamente dependentes do mercado colonial,
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va, constituem uma explicação efetivamente renovadora. Para além fornecedor de matérias-primas e consumidor de produtos industria-
10 .
de incorporar, portanto, é necessário superar a bibliografia, naquilo ·Üzados . 1
que ela tem de essencial, ou seja, a discussão das questões mais Essas conclusões levaram-nos a um segundo trabalho de pesquisa
relevantes e que signifiquem uma contribuição à verticalização desse .. onde as relações comerciais entre Portugal ea Itália foram esmiuça-
processo histórico particular. Muitas das idéias aqui remetidas à litera- das, detidamente, no plano dos Convênios? Tratados, Correspondência
Mercantil e, sobretudo, das Balanças de Comércio. Uma vez mais, o
problema voltava à tona, ou seja, o comércio português apresentava
7 MARCUSE, Herbert - Ideologia da sociedade industrial. Trad. port. Rio de superavits no comércio internacional em função dos produtos extraídos
Janeiro, Znhar Editores, 1969, p. 19.
de suas colônias, que, certamente, lhe permitia vultosos lucros no
S "MlLLS,C. Wright -A imaginação sociológica. Trad, port. Rio de Janeiro, Zahar
Editores, 1969, capítulo primeiro,..
9 Cf ADORNO, T.w. - "Cultura y administración". In HORKHEIl\1ER, M. &
ADORNO, T. W. - Sociológica. Trad. esp. Barcelona, Taurus Editora, 1971, pp. 10 ARRUDA, José Jobson de Andrade - O Brasil no Comércio Colonial. São
69-97. Paulo, Editam Ática, 1980, especialmente, pp. 669 e segs.

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A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 JOSÉ lOBSON DE ANDRADE ARRUDA tll ' .:~

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comércio com os países europeus e, em especial, com a Itália, eviden-


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r triai no final do século XVIII, em decorrência de entraves institucionais 17
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ciando-se assim um processo de acumulação mercantilll. 1 e incapacidade para desenvolver uma política de expansão comercial ti
I
Um estudo específico sobre a Revolução Francesal2 levou-nos ! a exemplo da Inglaterra'f e, principalmente, devido ao caráter específico l"
1
r da Revolução Burguesa na França, que acabou por tolher o avanço I
à comparação com as Revoluções Inglesas do século XVII, no que ii
tange, particularmente, às suas relações com o desabrochar do capita- das forças produtivas capitalistas. ~
lismo. Renovam-se, atualmente, as perspectivas sobre o desempenho O caso da Holanda é muito significativo; país de estrutura mercantil 1
da economia francesa neste período':', geralmente tratadas emnivel densa, não atingiu, no século XVIII, o limiar da industrialização, i
1
. 14 .
de comparação com a Inglaterra . Parece certo que este crescimento apesar d e ser um dos mais." mo dermza . d os "d a E uropa 19 ,com enormes 1I
econômico foi significativo estando, na pior das hipóteses, em pé de disponibilidades de capital, baixas taxas de lucros e salários elevados .
20 !
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igualdade com a Inglaterra" e, provavelmente, em ritmo até.supe- Seus capitais, contudo, foram orientados no sentido do financiamento
rior'". Este dinamismo, porém, não resultou numa Revolução Indus- do comércio exterior, dos empréstimos internacionais, sem passar ao .
f

setor produtivo da economia, onde se manifestava uma ver~adeira


hostilidade entre o capital mercantil, que girava no circuito internacional,
~
I
11 ARRUDA, José Jobson de Andrade - O Comércio entre Portugal e a Itália e a indústria doméstica": A burguesia holandesa entendia seu país ~,
(J 796-1811). São Paulo, 1978. Exemplar mimeografado (A sair nesta Coleção). 'I
12 ARRUDA, José Jobson de A. - "A Era das Revoluções Burguesas. O problema das como uma nação primacialmente mercantil e, praticamente, sem futuro li
"
origens". Anais do Museu Paulista, São Paulo, tomo 30, 1980~1981, pp. 135-146. no campo industrial22 Tratava-se, efetivamente, de um fenômeno de
JJ FOHLEN, Claude - "France 1700-1914". In The Fontana Econotuic Hist07Y of cristalização da estrutura mercantil. 1::
Europe, vol. 4 (1) The Etuergence of Industrial Societies. London, Collins/
Fontana Books, 1973, pp. 7 -75; BERGERON, Louis - "Les débuts de Ia Révo-
lt{tion lnçltlstrielle en France vus à travers les archives éconorniques privées", ~'ti I
Revue dlIistoire:Êconoll1ique etSociale, vol, 53, 1975, pp. 140-143; ROEI-IL, Conférence Internationale d'Histoire Economique, Stockholm, Paris, ;t

Richard> "L'Industrialisution francaise. Une remise en cause". Revue Mouton, 1960,pp. 163-205; DAVIS, Ralph - The Rise ofthe Atlantic Economies. r
t
d 'Histoire Économique et Sociale, vol.'54,nº}, 1976:pp. 406-427; O'J3EJEN, . London, Weidenfeld, 1973, p. 288.' '''''-'' I
P. & K.EYDER, C. - "Voie britannique et voie française vers Ia société industrielle 17 Cf MANDROU, Robert - "Stimulants et freins au développeiiient du
(1780-1914)". Annales, Économies - Sociétés -Civilisations, n26, Novembre- capitalisme en France jusqu'a la fin du 18e siêcle". In Fourtli Internationl I,
Décembre, 1979,pp. 1284-1303. . Conference of Economic Hist07Y, Bloomington, Paris, Mouton, 1968, pp. 105- f
I

l-I Cf CRAFTS, N.F.R. - "Industrial Revolution in England and France: some 106.
~,
thoughts on lhe question, 'Why was England first"'". The Econontic History IS LÉON, Pierre - "La réponse de l'industrie". D.1 Histoire Éconotnique et Sociale b.
Review, Second Series,vol. 30, nº 3, August, 1977, pp. 429-441; CROUZET, de Ia France, tomo 2, 1660-1789, Paris, Pu.F., 1970, pp. 217-257. Idem - li!
Francois - "Croissances comparées de l'Angleterre et de Ia France au XVIIIe e
siécle". Annales, Éco710711ies- Sociétés - Civi lisotions, nº 2, Mars-Avril, 1966,
"Structure du cornmerce extérieur et évolution industrielle de Ia France.a.la fin
du XVIII siécle". In Conjoncture Économique Structure Sociale, Homage 'à
:i!
'I
il
pp.254-291. Einest Labrousse. Paris, Mouton, 1974, p. 422.
'1
15 Cf MARKOVITCI-r; Tihomir 1. - "La Révolution Industrielle: le cns de Ia 19 WR1GLEy, E.A. - "Modernisation et révolution industrielle en Angleterre".
~
France". Revue d'Histoire Éconoinique et Socia/e, vol. 52, nº 1,1975, jJp. 115- AI171a/es, Econotnies - Sociétés - Civilisations, nº 2, Mars-Avril, 1973, p 537.'
,111
125; Idem - "L'Évolution industrielle de Ia France au XVIIIe siêcle". Revue 20 Idem, ibidem, p. 528. ,i
d'Histoire Économique et Socia/e, vol. 53, n!1li 2-3,1975, pp. 266-288; Idem -
"La croissance industrielle S(;)l1S I' Ancien Regime". Annales, Éconoll1ies -
Sociétés - Civilisaüons.sv 3, Mài-]uin, 1976, pp. 644-655.
21

22
WILSON, Charles - Anglo-Dutch Commerce & Finance in lhe Eighteentb
Century. Cambridge, Carnbridge University Press, 1941, pp. J 99 e segs.
MOKYR, Joel - "The Industrial Revolutions in the Low Countries in the First
1
'11
16 Cf LÉON, Pierre - "L'industrialisation en France en tant que facteur de Half of the Nineteenth Century: A Comparative Case Study", Journal of ~
croissance economique, du début du XVIIIe siécle a nos jours". In Premiêre Economic History, vol. 34, n2 9, 1974, pp. 365-391. ~I
li':1
'I
I,

6 7

~
A GRANDE RE\iOWçÃO INGLESA, 1640-1780 JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA

As conclusões hauridas nessas análises aguçaram o interesse especializada, para inserirmos a nossa própria visão do proble-
pelo atual debate em tomo da gênese da industrialização na Inglaterra, ma, que se traduziria numa forma inicial de apreensão do objeto em
centrada na questão fulcral da determinação do mercado, particular-
questão.
mente, do mercado mundial e seu papel na gestação da Revolução O núcleo da documentação é constituído por fontes primárias
Industrial. Não se tratava, pois, de simplesmente eleger um tema signi- impressas, basicamente estatísticas, relativas à estrutura econômi-
ficativo e repassar a bibliografia à luz dos dados empíricos inéditos ca .da Inglaterra no decurso, do século XVIII, onde é salientada a
ou publicados. Havia interesse em percorrer um caminho traçado composição do comércio exterior. Essa documentação está sistemati-
que levasse à questão da industrialização. Que papel desempenhava zada em textos específicos, a exemplo de G.N. CLARK, Albert H.
o mercado? Seria lícito decompô-lo em mercado interno e externo? IMLAH, Werner SCHLOTE, Elizabeth Boody SCHUMPETER e B.R.
Não seria mais apropriado pensá-lo em termos de mercado mundial, MltCHELL23. Além destes textos, consultamos diretamente, no Bristish
portanto, tendencialmente capitalista? Museum, fontes complementares atinentes ao comércio exterior
O núcleo da transformação vital que conduziria ao industrialismo britâl1ic024 e no 'Public Record Office onde foram examinados os
está na passagem da manufatura à grande indústria, ao sistema fabril
CUSTOMS BOOKS.
De que forma a pressão do mercado mundial poderia ser, então, entendi- Devido à magnitude do tema, a pesquisa bibliográfica é pratica-
da como condição ao mesmo tempo aceleradora e criadora de condições mente inesgotável, ainda mais se adentrarmos o universo das revistas
para a solução do impasse? Afinal, em termos teóricos definidos no especializadas. Adotamos o critério da citação mais ampla pos-
processo histórico do capitalismo, teria a produção industrial, em sível nos temas considerados vitais, utilizando, propriamente, aque-
fase de gestação, condições para criar o seu próprio mercado? Ou, les textos que tratam o problema com maior profundidade e atuali-
pelo contrárioj.nocaso específico da primeira industrialização, o papel
zação.
determinante estaria no mercado mundial dominado pelo capital mer-
cantil? Emsuma.rqual o papel do mercado mundial no acirramento e
superação das contradições presentes no modo de produção dorni-
nante?
A resposta a estas questões pressupõe duas condições básicas: a
dinâmica do mercado mundial e a transformação na estrutura agrária,
bem Gomo, suas repercussões sobre a forma de produção industrial
23 CLARK, G.N. - Guide to English commercial statistics, 1696-1782. Royal
dominante. Contudo, o devido equacionamento dessas condições exige Historical Society, 1938; DvlLAH, Albert H. - "Real values in British foreign 'I,
uma retomada do processo histórico da Inglaterra a partir da Revolu- trade, 1798-1853". The Journal of Economic History, vol.S, nQ 2, November, 'j
ção do século XVII, num procedimento retrospectivo, para o qual se 1948, pp. 133-152;SCIDJOTE, Wemer -British Overseas Trade. From 1700 to
1930s. Oxford, Basíl Blackwell, 1952; SCHUMPETER, Elizabeth Boody,
I
propõe Um novo recorte que enlace o século XVII e o século XVIII li,i
English Overseas Trade Statistics, 1697-1808. Oxford, Oxford University ·'i-I
num contexto revolucionário, que se inicia na gentry e culmina no Press, 1960; MITCHELL, RR. & DEANE, Phyllis - Abstract of British 'U
'I
proletariado fabril. Historical Statistics. Cambridge, Cambridge University Press, 1971. '11
q
A análise desse tema exige' alguns passos preliminares; essencial-
mente oenquadramento da problemática da Revolução Industrial,
24 LEVI, LHist07yofthe British Commerce 1763-1870. London, 1872. Journal
of the House of Commons, LXI; MOREAU, C. - State ofthe Trade of Great
Britain With All Paris of the World. London, 1822; Idem - British and Irish
li
.i]
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'[.]
em termos dos conceitos e das explicações presentes na literatura Produce and Manufactures Exported From 1698 to 1824. London, 1826. "

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de industrialização
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L1 Primazia e especificidade

o processo de transformação da estrutura econômica e social


ocorrido na Inglaterra no decurso do século XVIII, cristalizado na
Revolução Industrial, constitui-se em momento dos mais significati-
vos do processo histórico global da civilização ocidental. Efetivamente,
a Revolução Industrial marca a consolidação do sistema capitalista,
tornadoirreversível a partir de então.
É, portanto, no quadro geral do crescimento da economia européia,
notavelmente acentuado a partir da expansão comercial e marítima
dos séculos XV e XVI, que se origina a transformação radical da.
estrutura social inglesa, quando o processo histórico inglês adentra
fase de desenvolvimento acelerado.
Por crescimento econômico, neste contexto, entendemos o cres-
cimento per capita da produção e o crescimento agregado da produção
num determinado país'. Em última instância, expressa a diferença

I Alguns autores preferem mesmo a noção de crescimento à revolução indus-


trial, considerando-a mais ampla à medida que se confunde com o crescimento
da totalidade econômica, na qual a indústria é apenas o motor. BOUVIER, Jean
- Initiation au vocabulaire et aux mecanistnes économiques contemporains
(XL'(e -Xxe 8). Paris, S.E.D.E.S., 1969, p. 101. Deenorme importância para o es-
tudo da industrialização como fator de crescimento econômico foi a PRllvIlERE
CONFÉRENCE lNTERNATIONALE D'HISTOlRE ÉCONOMIQÜE, realizado em
Stockholm em 1960, cujas atas foram publicadas em Paris, Mouton, 1960. Des-
tacam-se as contribuições de ROSTOW, w.w. - "Industrialization and economic
growth", pp. 17-34; COCHRAN, C. 1110mas -"An approach to economic deve-
lopment", pp. 10-16; VILAR, Pierre - "Croissance économique et analyse histo-
rique", PIJ· 35-82; CHAlvIBERS, 1. O. - "Iridustrialization as a factor in economic
growth in England, 1700-1900", pp, 205-216; EVERSLEY, ÜE.C. - "Population
and econom.ic growth in England before the "Iake-off' " pp. 457-474.
;:i
. I,
\ ji
li
A GRANDE REVOLUÇÃO INGLES.", '1640-1780 t
I JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA I'I,

entre a produção média no início e no final de um período pre-fixado".


i lij,
Foi exatamente na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, H
\ p.
A Revolução Industrial, por sua vez, representa momento culminante
I que teve início o processo acelerado de mudanças que se convencionou it
li
na seqüência do crescimento econômico que produz alterações radi- li,I
chamar - não sem razão - de Revolução Industrial. A Inglaterra foi
cais na estrutura técnica da produção e, principalmente, na estrutura a primeira nação industrial. Nestes termos, serve-nos de modelo pa- , i!
da sociedade. Tal momento tem sido identificado ao arranque ou I, ra o equacionamento teórico e histórico do.modo pelo qual se processa
1I
lil
decolagem das economias pré-capitalistas '. A partir de então, assiste- i
a transformação mais profunda no sentido da constituição da sociedade :1'
se ao desenvolvimento, que se constitui em transformação global, 1 i[I,
capitalista. A especificidade do processo histórico inglês, nestemomen-
não restrita apenas ao nível econômico, mas que demanda moderni- I i!
li

zação efetiva da sociedade em termos de redistribuição de renda, I to, torna-se vital para a compreensão do processo mais geral de
constituição das sociedades capitalistas efetivamente nascidas com
dê melhoria nos padrões educacionais e culturais, de aprimoramento a industrialização, momento no qual o processo de transição do siste-
das instituições políticas 4 ma feudal ao sistema capitalista completa-se de vez. !i
"
f!"
li
A questão da especificidade da Revolução Industrial na 1ngla-
2 Nestes termos, foi assumido por FOURASTIÉ, Jean, "Crecimiento". In
terra, entretanto, não pode ser um problema de mera constatação, à
"li
li
.Diccionario de Ciencias Econômicas, organizado por Jean ROlvffiUF, P. 284.
medida em que a percepção de seus meandros mais íntimos tornar- IIJ,
Num sentido mais amplo do termo crescimento, identificado com o alimento
rápido e sustentado di produção real per capita e das tranSf0D11açÕCScorres-
pondentes nos caracteres tecnológicos, demográficos e econômicos de uma
se-ão extremamente reveladores para o conjunto das nações que li ,;
sociedade, veja-se EASTERLIN, R.A - "Economic growth", in Intemational
Encyclopedia of Social Sciences, vol. 5, p. 395
rapidamente se industrializaram na esteira do processo inglês e, até
mesmo, para aquelas que não o conseguiram.
O fulcro da questão é a primazia inglesa na Revolução Indus-
~j

:11
'I
l
i

3 O conceito de take-off foi Claramente delineado no contexto das etapas do


;1
desenvolvimento econômico imaginado por ROSTOW, w.w. - As Etapas do trial. Matéria extremamente importante, mas de difícil tratamento d
Desenvolvimento Econômico (Um manifesto não-comunista). trad. port. Rio por exigir uma imbricação entre as razões da especificidade inglesa ti
de Janeiro, Zahar-Editores, 1961. Apesar das cerradas críticas que o esquema I!
interpretativo de Rostow despertou, alguns autores o assumiram completa-
e as razões da industrialização em si; por envolver a necessidade de !I
II
11
mente. Vide, por exemplo, o tratamento indiferenciado que é dado aos conceitos comparação com as demais nações em condições semelhantes e
I1
de Revolução Industrial e Decolagem que aparecem em BAlROCH, Paul - que não realizaram, na mesma época, nem com a mesma intensidade, I',I
Revolução Industrial e Subdesenvolvimento. Trad, port. São Paulo, Editora ,I
!,
Brasiliense, 1974. II
4 WRIGLEY coloca o problema em termos contrários, o que se pode apreender
nização, entendida aqui-como sinônimo de desenvolvimento. Tal identificação
Ii
desta passagem: "On s'accorde aussis généralement pour considérer que :1I,
é o apanágio daqueles que estruturalizam a História,' não considerando as
l'industrialisation n'est possible que comme partie integrante d'une ensemble i ~'
condições específicas da gestação de cada momento histórico. Nestes termos,
plus important de changernents sociaux définis collectivement sous le terme
de forma alguma, poderíamos considerar a adequabilidade dos termos indus-
de modernisation. En fait, dans les discussions sur le dévelopernent mondial
trialização, desenvolvimento e modernização, tanto para as sociedades atuais
actuel, le plus souvent les deux termes d'industrialisation et de modernisation
quanto para o processo histórico particular da Revolução Industrial inglesa
SOl1tutilisés indifféreent, ou bien le premier ri'est consideré que comme une
do século' XVIII. Além do mais, se o processo de modernização é mais ou
cornposant du second. Presque tout le monde considere Ia modernisation
comme une condition nécessaire de 1'industrialisation,
Ia traitentirnpliciternent
et de nombreaux auteurs
comme une condition suffisant". WRIGLEY, E. A. -
menos evidente nos países que passaram por uma Revolução Industrial, a
recíproca não é válida, pois há inúmeros exemplos de modernização
transformação da estrutura básica do sistema produtivo e, por consequência,
sem 1:I~
"Modernisation et Révoliition Industrielle en Angleterre". Annales, Écono- da sociedade. Sobre este ponto, veja-se lvffiNDELS, F.F. - "Industrialisation ;'1':
mies - Sociétés - Civilisation. nQ 2, Mars-Avril, 1973, p. 521. Como se vê, não i~
and population pressure in eighteenth century Flandres". Jou rnal of !!:I
nos incluímos' entre aqueles que identificam industrialização com moder-. 'I,
Economic History, vol. 31 (I), 1971, pp, 269-271. 'I
'I
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12 .i
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A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 JOSE JOBSON DE A,\URADE ARRUDA ~v

o processo de transformação da estrutura industrial. A primeira revo- a vantagem de uma proposta substitutiva que recoloque a discussão ,:[
lução econômica da História5 não se deu na Inglaterra; mas foi aí num patamar mais elevado de compteensividade". ·u:1'
que ocorreu, no século XVIII, a primeira Revolução Industrial, Se privilegiássemos apenas uma condição, ou um conjunto de
"a primeira economia a promover técnicas de alta condições, capaz de determinar a primazia inglesa, certamente tería-
produtividade sobre uma base industrial, com inova- mos dificuldades em demonstrar a lmfui'dhde da experiência inglesa
ções em cadeia num ritmo crescente, um desenvol- comparativamente aos países europeus, que poderiam ser considerados
12
vimento industrial rápido, que fez da Inglaterra um relativamente desenvolvidos para os padrões do século XVIII O
exemplo 'único', comparativamente aos casos histó- problema se tomaria ainda mais gritante se a comparação fosse realizada
ricos posteriores ... este primeiro arranque de indus- coma França ou com a Holanda13 Se as condições de partida tendem
trialização era sem precedentes e não poderia se a uma certa equalização, dependendo do aspecto considerado numa
repro duzi
UZH malS. ,,6 .
análise ex ante, o mesmo não acontece numa abordagem ex poste
O mundo não seria o mesmo depois da Revolucão Industrial7 pois, em 1870, as diferenças entre a Inglaterra e as nações potencial-
- , 14
Para um conjunto de autores, a especificidade da Inglaterra na mente concorrentes eram marcantes .
criação de condições para a industrialização pode ser reduzida a i

',·1-
uma razão crucial". Para outros, o problema se relaciona a umperío- 11 Uma retomada desta problemática que integra várias linhas explicativas e assume
do prévio de crescimento econômico equilibrado", no qual o timing postura critica rasante aparece em CRAFTS, N.F.R. - "Industrial Revolution in
England and France: some thougts on the question, 'Why was England first?'
das novações decisivas cria as condições indispensáveis à trans-
"The Economic History Review, 30(3), August, 1977, pp. 429-441. As conclusões
formação'". Tais colocações têm gerado acrimoniosas críticas, sem a que chega o autor não são convincentes. Primeiro por não propor efetivamente
uma alternativa que supere as proposições correntes. Segundo, porque desvia
para o problema da comparação entre a França e fi Inglaterra no século XVIII. ::1
Parte destas observações aparecem no artigo de ROSTOW, WW - "No random
Aqui pensamos na Revolução Neolítica, entendida como a primeira Revolução
Econômica. Cf NORTH, Douglas C. & TROMAS, Robert Paul - "The first ; ~ walk: a comment on 'Why was England First?'. The Economic History Review,
economic revolution", The Economic History Review, vol. 30(2), May 1977, . voI. 31(4), November, 1978,pp. 610-612.
11
12 Cf. MATHIAS, P. - "La révolution industrielle en Angleterre": un cas uni que?". ,(
pp.229-241.
Annales, Économies - Sociétés - Civilisation, n2 1, Janvier-Février, í 972,11. 36. ,I
6 Cf. MATIjIAS, P - "La révolution industrielle en Angleterre: un cas unique?"
13 Idem, ibidem.
Annales, Economies - Sociétés - Civilisations, n2 1, Janvier-Février, 1972, p. 33.
14 "La supériorité de sa technologie, que se manifestait à la fois dans une plus :1
7 Cf. LANDES, David - The Unbound Prometheus - Technological Change .!
grande efficacité de ces méthodes de production et dans le cout inférieur de
and Industrial Development in Weslern Europe Froin 1750 to lhe Present. i
ses produits industriels, avait encare accru Ia prépondérance relative de
Cambridge, Cambridge University Press, 1969, p. 12.
l'Angleterre dans les échanges intemationaux. Si nous considérons certains
Mesmo reconhecendo a impossibilidade virtual de atribuir peso específico a !fl
indices structuraux .. , l'agriculture empoyait en Angleterre une porportion de
um determinado fator; Ioni KEMP enfatiza a contribuição da revolução :i]
puissance-travail bien inférieur à celle-des autres pays. et contribuait pour
comercial, a habilidade dos mercados ingleses e dos proprietários dos barcos :U
une part bien moins grande au revenu national. En Grande-Bretagne, le \11
que ganharam Uma posição dominante nos mercados mundiais, como fator
pourcentage de Ia population urbaine était três en avance sur les autres pays
relevante para o arranque industrial da Inglaterra. KEMP, Tom - La Revolucion
plus particuliérement les pays à forte population y eut augmenté plus
Industrial en Ia Europa deI Sigla XIX. Trad. esp. Barcelona, Editorial 11
rapidement que dans nimporte quelle autre partie du monde. La démonstration fi
Fontanella, 1974,pp. 18e20. .
Ia plus claire de lavance de leconomie anglaise au milieu du XIXe siécle
9 Cf. HARTWELL, R. M. - "The causes of the Industrial Revolution: an essay
apparait peut-être dans les signes déngourdissement que celle-ci manifesta
in methodology". The Economic History Review, vol. 18, 1965, P 181.
au siécle suivant, comparativement à I'économie 'industrielle des autres pays".
10 Idem, ibidem, p. 174.
I

15
14
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JOSÉ JOBSON DE ANnRADE ARRUDA
A GRA.NDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 f.
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:t' do O crescimento, o arranque, o desenvolvimento ea modernização.


A diferença entre a industrialização da Inglaterra e as indus- j
trializa-ções que se verificaram posteriorniente não deve-ser buscada- Centramos, pois, 110SS9- atenção na, Reyolução Industrial, para_ cuja j"

prioritariamente no nexo causal que a determinou, mas, com maior


'~
compreensão é necessário partir do próprio conceito, do seu significa-
propriedade, no quadro histórico em que se produziu e nas transforma-
ções profundr s '1" f'!"trl't'1r social que legou às gerações posteriores.
'O
I do, para podermos delimitar o campo específico de nossa análise.

Efetivamente, não se trata de uma indusuialização qualquer, mas de


uma industrialização específica, que se dá nos parâmetros do sistema 1.2 Continuidade e ruptura
capitalista e marca sua consolidação como modo de produção. Não
é apenas o problema do crescimento econômico, mas sim do arranque . A discussão deste conceito reveste-se de problemas metodo-
11
imprevistoe revolucionário-em condições capitalistas'". Lembrar que lógicos complexos, pois, dependendo do conceito que tenhamos
da Revolução Industrial, tal será a pesquisa empíricaque reali-
li
se trata da primeira industrialização no quadro do sistema capitalista
não é de somenos importância, pois significa lembrar que a primeira zaremos, as explicações que daremos e as conclusões às .quais
industrialização nos quadros do sistema socialista; ocorrida na URSS, chegaremos. Obviamente, não afirmamos aqui que o conceito
no século XX, apresenta uma diferença de grau ede natureza. Pensar deva preceder a análise e mais, que em função do conceito se.
a especificidade inglesa é pensar um exemplo clássico e puro de in- deva moldar a procura e a explicação. Muito menos afirmamos
',i
dustrialização em condições sociais capitalistas". Nos países que que a simples constatação ernp írica se consubstancíaria na meta r"

final a ser atingida pelo historiador, na explicação do processo tli


se seguiram à Inglaterra no caminho do desenvolvimento industrial, ;;11
;j'l
graças aos estímulos procedentes deste arranque e da consolidação histórico. Qualquer um destes posicionamentos redundaria em il'
,i!

em novos )11veís #s forças produtivas e sociais no seu interior, não análise parcelar do problema e, portanto, limitada. No primeiro
estavam presen.tbs nenhuma das condições operantes na Ilha até caso estaríamos privilegiando o sujeito em detrimento do objeto,
.t.
meados do séculoXVm17 Por "nenhuma das condições", aqui..suben- ;

f
em postura eminentemente idealista. No segundo, recairíamos
ti
tendemos aquele conjunto de condições que produzem uma alteração r no privilegiamento do empírico, em perspectiva claramente positivista. 'I
:[.
~
qualitativa e que, isoladamente, poderiam ser encontradas em diversos
,"

Pensamos que a compreensão mais profunda do objeto social i!


outros países, mas não seriam capazes de produzir um clímax trans- envolve a apreensão do processo histórico, isto é, trabalhar a
massa empirica através de mediações sucessivas até o limite da "j
formador, uma reação química capaz de modificar radicalmente a
estrutura da sociedade. ultrapassagem dessa totalidade indefinida em busca de suas ,!
Neste enquadramento, percebe-se que o fenômeno chave é a determinações. Claro está que estas determinações não são alea-
tórias, pois correspondem a relações sociais de um tipo determi-
Ii
Revolução Industrial, pois em torno dele gravitam e adquirem senti- J
·1'
nado, e, por isso mesmo, históricas. Isto significaria passar do 'i~
MAIHIA9, P - "La révolution industrielle en Angleterre: un cas unique?". abstrato ao concreto, pois o abstrato é indeterrninado até que, no
Annales,Econo7l1ies-Sociétés-Civilisaiiol7s, n2 1, Janvier-Février, 1972, p. 38. processo de conhecimento, se atinja o concreto através da relação
15 Cf HOBSBAWM, Eric - En torno aios origenes de Ia revo!ución industrial.
dialética sujeito-objeto. Este conceito contém o objeto, isto é,
ii
Trad. esp Buenos Aires, 1971,.J). 93. li
16 Em nenhum outro país os agricultores foram eliminados com a mesma apreende suas relações fundamentais, mas, reciprocamente, o Ij
11
intensidade, nem a urbanização foi tão completa, ou o liberalismo tão bem li
acolhido. Idem, ibidem. conceito acaba por ser uma criação deste objeto. Por esta mediações L

17 Idem, ibidem. é que se pode afirmar que o conceito contém o real concreto.

16 17

,11
'(
A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 ~ JOSÉ JOBSON DE ANoRAOE ARRUDA ;j
'I ~j:
'~1!
Não é criação idealista, nem construção empírica. É captado na I autores, das mais variadas tendências, com diferentes formações,
~'"1!.

ill
análise histórica que flui da interação Homem-História. alguns, historiadores de profissão, outros, economistas-historiadores,
t 'Jê-j '
Assim pensando é que julgamos indispensável a retomada do I procuraram ver na Revolução Industrial o resultado de um longo e
i fli
conceito de Revolução Industrial, pois que o primeiro passo para arrastado processo que poderia ser demarcado entre os fins da Idade
li
compreensão de U111 determinado momento histórico é entender as I Média e o final do século XIX, durante o qual, lentamente, o crescimento
visões que tal fenômeno precipitou, o que nos ajudaria a avaliar a
abrangência de nossas explicações. Não pretendemos a exaustivi-
l
I
econômico acumulou forças que culminaram na Revolução Industrial.
Nestes termos, a Revolução Industrial constitui-se no ápice de um
dade. Apenas selecionamos, em função do critério de abrangência, i longo processo, resultado de uma evolução gradativa, sem mudanças
!
aqueles exemplos que nos permitiriam maior verticalidade em relação bruscas, ou rupturas profundas, na estrutura da sociedade. Desde
ao conceito de Revolução Industrial. que Arnold TOYNBEE teve suas lições em Oxfordpublicadas pela
Em termos historiográficos, o conceito de Revolução Industrial primeira veiO, avolumaram-se as obras e as abordagens sobre o
já mereceu estudos específicos'f. Muito pouco, contudo, do que se tema.
apreendeu nestas análises tem relevância para a nossa problemática. Nesta perspectiva - a de entender a Revolução Industrial é0l110
Interessante notar, porém, que a expressão Revolução, na acepção um processo gradativo -, destacam-se os autores cujas formulações
moderna do termo, surgiu na França, geralmente atribuída aos eventos não deixam margem a qualquer dúvida, tal como lU. NEF quando
políticos, o que é bastante fácil de entender se atentarmos para o afirma
sentido sócio-político das Revoluções ocorridas neste país. Foi a "A ascensão do industrialismo na Grã-Bretanha pode
partir de meados do século XIX que a expressão ganhou a densidade ser considerada, mais corretamente, como um longo
social de que se reveste atualmente, graças aos autores socialistas'". processo que remonta aos meados do século XVI e
Depois da::Segunda Guerra Mundial o termo foi popularizado, pois que se desenrola até o final do estado industrial, por
correspondia a uma série de questões ingentes postas à medida que volta do final do século XIX, do que com um fenômeno
a emergência de grandes potências, a crise da Europa e 6 acelerainento repentino, associado com o final do século XVIII e
do processo dedescolonização traziam à baila a questão crucial do primórdios do século XIX,,21
subdesenvolvimento. Alfred Marshall nega, peremptoriamente, a possibilidade de uma
É possível um certo enquadramento, quando pensamos as numero- revolução, expressando.inoutros termos, as mesmas idéias de NEF22 'I
[I
!II.
sas conceituações a propósito da Revolução Industrial. Numerosos Contudo, paralelamente, existem autores que, optando por esta vertente
i
explicativa; encontram razões para definir o momento histórico em
i.
questão como revolucionário, ao considerarem o drama social vivido fi
18 CLARK, Georg N. - The Idea of Industrial Revolution. Glasgow, Jackson and li
·i
Son, 1963,..pp. 13-21. Agumas reflexões sobre o conceito de Revolução I1
Industrial aparecem em NEF, J. U - "The Industrial Revolution reconsidered", 20 TOYNBEE, Amold - The Industrial Revolution. Boston, The Beacon Press, ,.
,I

111 Studi in Onore di Gino Luzzato. Milano, Giuffré Editore, 1950, pp. 259-267; 1956. COIUprefácio de Amold F. Tonybee e a modernização do título original "

La Naissance de Ia civilisation industrielle et le monde contemporaine. Lectures 0/1 the Industrial Revolution in England, de 1884.
NEF, J. U. The rise of British Industry. Londres, 1932, p. 253.
Trad. franco Paris, Arrnand Colin, 1954; Les Fondements culturels de Ia 21

22 "Los quatro o cinco decenios eu los que se desarroló em mayor medida Ia I'
civilisation industrielle. Trad. francoParis, 1964, e em muitos outros autores.
19 ENGELS, Friedrich - ta situ ation de Ia classe laborieuse en Angleterre. primacia de Inglaterra, se designan a veces como los de Ia 'revolución indus- 11
trial', cuando Ia verdad es que 10 que ocurrió entonces no fué una revo- ;1
Paris, Gilbert Badia, 1960, p. 35. !
lución, sino simplemente una etapa de una evolución que se habia desarrollado

18 19

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A GRA1<DE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 r Josá JOBSON DE ANDRADE ARRUOA


.!:jj;
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pela população inglesa", ou que, simplesmente, assumem a idéia de


revolução por considerá-Ia parte do donúnio c01l1um24do conhecimento
',! minantes na época, tornando oscilante sua conceituação da Revolu-
.;' .. •.... _ .. .• ...::~ ..~•..
ção Industrial. , ; ...:,

histórico. Ressalta neste conjunto a posição assumida por Paul r No quadro da historiografia não-marxista, na década de 50, co-'
MANTOUX. Autor influenciado pelo pensamento marxista, escreveu, meçaram a surgir textos que recuperavam a noção de ruptura, que
em 1905, um estudo ainda hoje fundamental, 110qual afirma que substituíam a noção de crescimento gradativo e cumulativo pela noção
"desde o início foi tão veloz, o seu desenvolvimento, de revolução. Já aqui, contudo, revolução tem um significado próprio,
tendo tais conseqüências, que pode ser comparado a inserida no contexto do crescimento a longo prazo, mas capaz de
- ,,25
uma revo Iu çao . provocar mudanças estruturais na sociedade. Típico desta nova postura
Até aqui havia um entrosamento de sua conceituação com a é o estudo de Alexander GERSCHENKRON, de 1957. Para ele,
corrente historiográfica à qual, de um modo geral, se filiava; porém, "há quem abomine as revoluções e qualquer mudan-
linhas adiante, reconsidera: - ça rápida, c quem, pelo contrário, ache terrivelmente
"Mas, por mais rápida que pareça ter sido a Rcvoiução aborrecida uma história sem revoluções't". -'
Industrial, estava relacionada com causas remotas". Entretanto, .
As hesitações demonstram a dificuldade do autor em se desvincular "se com a palavra 'revolução' entendemos, por exem-
completamente da idéia de continuidade dos eventos históricos, do- plo, nada mais do que um repentino salto para eima
de todas as taxas de incremento da produção indus-
durante centenares de aüos, casi sin interrupción". MARSHALL. Alfred - trial ... então, o historiador da economia somente pode
Obras escogidas. México, Fondo de Cultura Económica, 1949, p 17,
fingir, com grande dificuldade, que desconhece a exis-
23 "A Revolucão Industrial não foi súbita nem catastrófica no sentido comum
dessa p~h~as.,Foi um movimento que se difundiu por um período de 150 tência de revoluções industriais'Y'. .
anos e suas origens podem ser claramente discernidas em forças ativamente Nesta perspectiva, ainda mais significativa foi a contribuição de
em ação desde o fim da Idade Média. Mas o termo, de certo modo, não deixa
W.w. ROSTOW, pois, paraele há
de ser adequado. As modificações por ele descritas foram tão amplas e pro-
fundas, tão trágicas na sua estranha mescla do bem e do mal, tão dramáticas "um período no qual a escala da atividade produtiva
na sua combinação de progresso material e sofrimento social, que poderão alcança um nível crítico e produz mudanças que levará
muito bem ser classificadas como revolucionárias". BIRNIE, Arthur - História a uma maciça e progressiva transformação estrutural
Econômica da Europa. Trad. port. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1968, p. 13.
24 "A exatidão do título Revolução Industrial aplicável a uma série de mudanças é nas economias e nas sociedades das quais fazem parte,
amplamente discutível As mudanças não foram propriamente industriais, 111as mudanças definitivas mais qualitativas do que quanti-
também sociais e intelectuais. Por outro lado, o teI1110revolução implica numa tati vas ,,28. .
mudança repentina o que não é, em realidade, característica dos processos
econômicos. O sistema de.relações entre os homens que foi chamado capitalismo,
Temos aqui a recuperação da noção de revolução associada à
originou-se muito antes de 1760 e alcançou o seu pleno desenvolvimento muito idéia de ruptura, permanecendo, contudo, as restrições absolutamen-
depois de 1830; existe, por conseguinte, o perigo de ignorar o falo essencial ela
continuidade. Mas tendo em vista que o termo Revolução Industrial tem sido
empregado por muitos historiadores e plenamente adotado pela linguagem
26 GERSCHENKRON, Alexander - "Reflections on the concept of 'Preprequi-
comum, seria pedante tratar de substitui-lo". ASI-UON, T3. - The Industrial
sites' ofModem Industrialization". L 'Industria, vol. 42, 1957, p. 362.
Revolution 1760-1830 .. Oxford, Oxford University Press, 1960, p. 10.
27 Idem, ibidem. .
2; MA.NTOUX, Paul - La Revolucion Industrial en el Siglo ) ..'VlJI Trad. esp.
28 ROSTOW, W.w. - "The take-off into self-sustained growth". The Economic
Madrid, Aguilar, 1962, p. 3.
Journal, vol. 66, 1956, pp. 25-48.

20 21
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JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA
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'-.rocedentes que são feitas à sua teoria das etapas do crescimento
tI'-, ff- Industrial. A noção de ruptura, por sua vez, encontra-se dividida em t!
econom...o
A29 '

I
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duas perspectivas conflitantes: de um lado os que enfatizam as mudanças •
~
Finalmente, .t--"'''samosao conceito de Revolução Industrial hauri- ~
do na vertente marxista, ~~21ra o qual as Revoluções marcam indele- ~
r
qualitativas; de outro, a ênfase nas 'mudanças qualitativas como essência
do processo de transformação que integram as variáveis quantitativas,
I~
~ ~
velmente os momentos crucia.s do processo histórico, os momen- t i~
tos de transição, Nele, pela primeira vez na História, o desenvolvimento ~
, ~
í r
das forças produtivas possibilita, em detemúnadas condições das 1 1.3 O primado do social M
~ ~
relações de produção, que o desenvolvimento da grande indústria 1 ~
h
~
ocorra de uma maneira irreversivel''". Maurice DOBB opõe-se à opinião de que o desenvolvimento eco- ~I

No século XIX, o ritmo da alteração econômica, no
!
f; nômico possa ser medido exclusivamente a partir de variações quan-
referente à estrutura da indústria e das relações so- titativas contínuas, quaisquer que sejam elas, população, produtivida- ~
;1
ciais, o volume de produção e a extensão e a variedade de, mercado, divisão de trabalho ou estoque de capital ". Insiste que
do comércio, mostrou-se anormal", Uma era de alte- o processo histórico engendra pontos decisivos no curso do desen-
r
rações técnicas que rapidamente aumentava a pro- volvimento econômico, nos quais "
~
dutividade do trabalho, testemunhando também um "o ritmo 'se acelera além do normal e a continuidade II
aumento anormalmente rápido nas fileiras do proleta- é rompida, no sentido de uma mudança abrupta de iiII
d'ireçao
- na corrente dos acontecimentos
' ,,33
,
riado ", A essência da transformação estava na altera- ~
- do carater
' , pro duçao
- ,,31 ,
çao da Dito de outra forma, é evidente a continuidade no nível dos I:
Continuidadee ruptura são, pois, as duas grandes correntes que
se embatem nahistoriografia.a propósito do conceito de Revolução
acontecimentos, pois não há evento que não esteja ligado de forma
racional aos eventos que o precederam e aqueles que o sucederão,
,
~
!~j.

Assim, a sensação de mudança gradativa 110S é dada ao nos situarmos q

no patamar dos acontecimentos, porque, se atentarmos para as camadas 11·.

29 Para uma apreciação


nômico de WWROSTOW,
crítica da teoria dos estágios
veja-seVILAR,
do desenvolvimento
Pierre - "Desarrollo econômico y
eco-
mais profundas, no nível das estruturas, somos capazes de perceber
as rupturas, Em suma, no andar superior, dos eventos, existe a
,
~
progreso social: Ias etapas y los critérios", In Crecimento y desarrollo, Trad.
esp, Barcelona, Ariel, 1974, pp, 382-420, Igualmente a crítica contundente de continuidade; no primeiro andar, das estruturas, eclodem as rupturas, •~
NOVAIS, Fernando A. - "Sistema colonial, industrialização e etapas do exatamente o locus privilegiado para o historiador, no qual as mudanças R
~~
desenvolvimento", Comunicação no Encontro Sobre História e Desenvol- qualitativas são percebidas, realizando-se aí os momentos decisivos
vimento, Marília, 1970 (Exemplar mimeografado). da história, a exemplo da Revolução Industrial, uma das épocas mais I,i
30 Assim a Revolução Industrial, com a separação entre a propriedade e o trabalho
e a concentração da riqueza imobiliária, havia encerrado definitivamente a
criativas já ocorridas no transcurso da humanidade34 I!
sociedade dominada ainda por formas de propriedade e produção feudais, É nessa perspectiva que se entende a afirmação de Eric HOBSBA WM: III
"I
inaugurando uma nova sociedade, com novas formas de propriedade dos :'i
meios de produção, novas relações sociais decorrentes do processo de :'
32 DOBB, Maurice - Capitalismo, crescimiento econômico y subdesarrolo, "

produção capitalista, Cf MARX, K - El Capital. Trad. esp, Mexico, Fondo "

Barcelona, Ediciones de Occidente, p, 28,


de Cultura Económica, 1971 , Livro r. Quarta secção. Caps. XII e XIII,
B Idem, ibidem. '
31 DOBB, Maurice <Studies in lhe develepment of capitalism; London, Routledge
3,1 MORI, G, - Revoluciôn industrial histeria y Significado de UIl concepto,
& Kegan, 1954, p, 256,
Trad, esp. Madrid, Alberto Corazon, Ed., p, 15,

22
23
f
i:
,I j
l .1r.

i';";~::~;

A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 16,40-1780 JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRuo.'\ ~ .

"o sintoma decisivo da Revolução Industrial é o salto do. Nessa medida, não estamos diante de uma visão parcelar do
brusco, imprevisto e franco- de todas as curvas de processo histórico. Muito pelo contrário, sua finalidade última é a
indicadores econômicos cujas estatísticas possuímos captação do todo, ou da forma pela qual as transformações são fru-
tos da dinâmica global da sociedade, alterando-a no seu conjunto. , .
e, O fato de que, por trás deste salto, o desenvolvimen-
to continua com um ritmo novo e sem precedentes'F', Assume-se, portanto, a impossibilidade de segmentação da Histó- !
na qual se evidencia, nitidamente, esta imbricação entre os indicado- ria, utilizando-se o conceito de modo deprodução", pois, através
res quantitativos e as transformações qualitativas que as sustentam. deste conceito torna-se possível uma visão mais abrangente do pro-
Observadas em conjunto, as várias perspectivas atinelltc~ :::'0 cesso histórico, recuperando-se a dimensão especificamente social
conceito de Revolução Industrial, revelam pressupostos subjacen- que se encontra ausente na outra perspectiva.
tes e, portanto, nem sempre perceptíveis à primeira vista. Para os Se é própno afirmar que a Revolução Industrial se evidencia
adeptos da continuidade é patente a recusa em ver os grandes através de um crescimento mensurável quantitativamente, tal cres-
momentos de transformações, uma vez que estes sempre se fazem cimento é o sintoma das transformações mais profundas vividas pela
acompanhar de convulsões sociais mais ou menos intensas. Na verda- sociedade inglesa na segunda metade do século XVIII. A Revolução
de, para esta perspectiva, a História seria o resultado de acumula- Industrial é concomitantemente determinada e detenninante; fundada
ções lentas, evolutivas e, neste sentido, conducentes ao progresso, e fundante de uma sociedade com feições e estruturas completamente
perfazendo um roteiro natural. Na segunda perspectiva, que assu- novas. A partir daí, as relações sociais em seu conjunto são redefínidas,
me a idéia de ruptura -, existem duas vertentes diarnetralmente os conflitos sociais em seu conjunto são redesenhados num espaço
opostas. De um lado as análises do tipo rostowiano, que entendem determinado, cuja ultrapassagem significaria uma nova ruptura.
a ruptura do ponto de vista puramente econométrico, isto é, a revo- No limite, por detrás das concepções de continuidade e ruptura
lução ocorre no momento em que se adensam os volumes e as propor- quantitativa, emerge o universo mental da sociedade burguesa: sua
ções; em que se realçam as quantidades. Vislumbramos aí; não so- ideologia. Somente em fins do século XIX assumiu intelectualmen-
mente uma compartimentação do reai, pois se privilegia uma única te a existência da Revolução Industrial ", apegando-se a uma atitu-
evidência mas, também, uma visão tecnocrática da História mani- de de comiseração diante da miséria social que a transformação da
festa na concepção de que o desenvolvimento econômico é conquis- estrutura da produção trouxera.", realçando os efeitos e não as ra-
tado ao serem atingidas cifras de magnitude considerável. Nestes
termos, a História seria passível de manipulações por experts que
36 Cf VILAR, Pierre - "Histoire Marxiste, histoire en construction". Annales,
dominassem as variáveis do crescimento econômico.
Éeonolllies - Sociétés - Civilisations, n2 1, Janvier-Février, 1973, pp. 174-176.
Do outro lado, para as explicações marxistas, inspiradas na 37 Como vimos, Lectures 0/1 lhe Industrial Revolution in England, teve sua
concepção dialética da História, a ruptura ocorre não como resul- primeira publicação em 1884. Antes porém, em 1882, surgira o texto de
tado puro e simples da explosão dos agregados quantificáveis num CUNNINGI-JAM, W. - The growth of English Industry and Comerce in Modern
Times. Carnbridge, Carnbridge University Press, 1882, vol. III - Laissez Faire.
estágio de massa crítica, mas sim porque este crescimento revela
38 Exemplo característico de abordagem da Revolução Industrial pelo primado
transformações substanciais na estrutura da sociedade como um to- da injustiça social são os textos dos HAMMONDS, BAMMOND, J L. &
HAMMOND, B. - The Vil/age labouret; 1760-1832. London, Longmans,
1912; The TOWJ7Labouret; 1760-1832. London, Longmans, 1918; The Skilled
35 HOBSBAWM, Eric - En torno aios origenes .. Op. cit., p. 26. Labourer, 1760-1832. London, Longmans, 1919

24 .•.. -..• 25
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A 1640-1780
GRANDE· REVOLUÇÃO INGLESA,
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~'111:
JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA
~!
l~ ~~
~i!
zões de fundo deste processo histórico particular. Segue-se a tentati-
va de' esmiuçar as causas do fenômeno, sem que se ultrapasse o it, "inovações em três frentes principais - a substitui- ~l
Ji
ção das habilidades e esforços humanos pelas.máqui- ~,!r

nível da manifestação dos eventos, ressaltando-se a cadeia de COl1- ! V,'1

~
i. nas (rápidas, regulares, precisas, incansáveis); a sub-.
tinuidade ". A crise do capitalismo nos anos 30, o surgimento de
~ tituição de fontes animadas por fontes ;·,,,~.;,,,•.•.
uas ~f
uma nova opção para a sociedade terrena com a afirmação do socialis- r
~ de energia, particularmente, a :tIl! redução de engenhos
mo na URSS, explicam o avanço no sentido da assunção da noção I
,I
para converter o calco. em trabalho, abrindo assim
f~J
~I
de ruptura, de revolução, ainda assim, entendida nos parâmetros men- Ji
para o homem um suprimento quase ilimitado de ener- "'~'
tais dasociedade capitalista, pois as transformações qualitativas i'e!
I,;..l

gia; a l~tilização de matérias-primas mais abundantes id


resultariam de mudanças quantitativas e, desde que os volumes e as
_ e variadas, particularmente, a substituição de subs- ~II·
:;1
proporções fossem variáveis do crescimento, poderiam ser contróla- r,' ." ,,41
.. ~!J
das, administradas pela competência. tâncias vegetais e ammms por mmeralS . ~t
De toda evidência, a perspectiva que se fundava essencial-
Ou ainda, em termos bem amplificados, a formulação segundo ~f
s; e

mente na negação da sociedade burguesa revela-se mais abrangen-


a qual'
"a Revolução Industrial, no seu sentido estrito não
~[j
te, parque tinha sido capaz, desde meados do século XIX, de ati- E~
rr!
pode isolar-se das condições sociais em que se inicia, ~,
nar com a raiz do problema: a Revolução Industrial era um marco
que são as condições capitalistas. Entendida deste
no processo histórico porque criara uma nova sociedade. Estáva-
modo, não é senão o resultado da transformação es-
n
'!:

mos aí, no nível da essência do fenômeno e não na sua manifes- ~:


i
tação. trutural e doutrinária, que resulta da onda revolucio-
nária burguesa e que representa no aspecto econô- ~
Assim considerado o problema, pode-se afirmar que a Revolu- ~
ção Industrial mico o triunfo do capital; no social, o triunfo da ~
~
propriedade privada como direito básico e no ideoló- ~
"complementa o processo de formação do, método
..i~ gico, o triunfo da razão. É uma verdadeira revolução ~
de produção capitalista e marca uma etapa decisiva
de transição a partir de um estágio incompleto, pré-
capitalista, para 'um estado em que as características
no sentido em que transforma e substitui as estrutu-
ras econômicas, sociais e políticas do Antigo Regime
por outras novas, em que primam os valores cultu-
"
.,'
~
fundamentais do capitalismo se impõem; progresso ~
rais e mentais distintos e inclusive contrapostos aos ~
técnico continuado; capitais mobilizados para o lucro; M
tradicionais ,,42. ~
separação mais clara entre uma burguesia 'possui- ~
dora dos bens de produção e dos assalariadosv''[" ~
Em termos mais. restritos, porém não menos abrangentes, David 'til'
~ 1

LANDES lembra a existência de n~


~
;'1
39 Entre vários, lembramos CLAPHAM, 1. H. - An Economic History of A;[odern 41 LANDES, David - The Unbound Prometheus - Technological change and
Britain. Cambridge, Cambridge University Press, 3 volumes, 1926-1938. industrial 'development i12 Western Europe from 1750 to lhe present. 1'1
~
40 RIOUX, LP - A Revolução Industrial 1780-1880. Trad. porto São Paulo, Cambridge, Cambridge University Press, 1969, p, 41.
Livraria Pioneira Editora, 1975, p. 9, 42 VAZQUES
1970, vol.
DE PRADA, Valentin - História economíca mundial. Madrid, Rialp,
Ir. De Ia Revolucion Industrial a Ia actualidad, p. 27. .
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27 :1;1

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A Revolução Industrial: das explicações
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fragmentárias à problemática central ~
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~
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2.1 T~i.itos e compreensões ~
~
Definido o sentido social da Revolução Industrial resta-nos, agora, ~
~
uma dupla tarefa; a demarcação cronológica do processo a ser.estu- ~
~
dado' e a análise das razões de sua manifestação. ~
n
Segundo HOFFMAN, U.
~
"o ano de 1780 é a data aproximada na qual a taxa r
~
~
percentual anual de crescimento industrial foi, pela
primeira vez, superior a dois, um nível no qual per-
maneceu por mais de um século?'
Se levarmos em consideração o referencial dos índices quantitati-
vos para demarcar o momento do arranque industrial na Inglaterra,
foi certamente em 1783, com O fim da Guerra Americana de indepen- I:
;:

dência, que os valores relativos ao comércio exterior ascenderam ~


~
Bli
significativamente'. Como os índices relativos ao comércio exterior
O!:
e
são os de mais fácil compilação mesmo aqueles que estão à disposi-
t
I.

h
ção do pesquisador, pode-se afirmar que a expansão' econômica do t·
~
f
século XVIII, mensuradaa partir desses mesmos indicadores, con-
,F
P.

1 HOFFMAN, W. British Industry 1700-1950. Manchester, 1955, p. 30. Apud


~
DEANE, Phyllis. - A Revolução Industrial. Trad. port. Rio de Janeiro, Zahar,
1969, p. 13. ROSTOW, localiza no período que vai de 1790 a 1815 um rápido h
crescimento da produção, tanto na indústria quanto na agricultura, uma
H
U
incrementação substancial nas importações e exportações, bem como a :i,
;: elevação da taxa de juros e dos preços com tendência à baixa dos salários ,~
,
reais. Cf. ROSTOW, w.w. - The British Economy of the Nineteenth Century. 'li
~f

Oxford, Oxford Universily Press, 1969, p. 13.' iI


,f 2 Cf. MATI-llAS, Peter - The First Industrial Nation. An Econontic History of
~
~
;
Britain 1700-1914. London, Methuen, 1972, p. 18.
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A GRANDE REVOLUÇÃO 1640-1780 .~
INGLESA,

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JOSÉ JOSSON DE ANoRi\DE ARRUOA l~1
[
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~ li.
.';:-.

centrou-se principalmente em dois períodos'. entre 1730 e 1760, quan- -H


Ampliou-se, no século XVIII, o mercado rural e acelerou-se a indus- !~
do o valor das exportações britânicas praticarl"tente dobrou; entre ~
trialização no campo, a tal ponto, que vários autores se permitem
1785 e 1800, quando uma nova duplicação se verificou". Com segurança, falar numa protoindustrialização 8. .
~
os anos 1780 assistiram à mudança brusca na taxa de crescimento ~
de diferentes setores, tais como investimentos em transportes, ex-
Contudo, tais manifestações isoladas, independentes, coarcta- If
das e sem integração com os demais setores dinâmicos da economia ~
pansão do sistema bancário, bem como à emergência de inovações ~
técnicas cruciais na tecelagem do algodão, na metalurgia do ferro e
inglesa, não seriam capazes de produzir uma mutação de base, como
aquela que se verificou nos últimos decênios do século XVIII.
.
~
g
(
na produção de energia a vapor".
Quais as explicações para a ruptura ocorrida na Inglaterra no ~
Evidentemente, a ascensão dos indicadores quantitativos tinha final do século XVIII? As respostas são múltiplas e a densidade bi-
que se constituir na evidência mais imediata das tral1SfOflrlações ~
bliográfica enorme". Seria praticamente impossível, rias dimensões r~-
que se operavam na sociedade inglesa Por certo, entre 1780 e1800 desse trabalho e, ainda mais, nos limites do seu objeto, pretender ~
a estrutura da sociedade tinha se transformado radicalmente com a uma análise esgotante de todas as possibilidades de todas as _linhas f
emergência do sistema fabril.
explicativas até o momento aventadas pra a Revolução Industrial.
Existem vozes dissonantes em relação a esta demarcação crono- Contudo, uma rápida incursão nestes domínios é t?r~fq à qual pão ~
~
lógica da Revolução Industrial. Dentre os autores adeptos da conti-
nuidade, que costumavam datar a aceleração do processo de in-
podemos nos furtar, visto que, faz parte do entendimento desse processo
histórico, as compreensões para ele propostas"
I
dustrialização a partir de 1760, lembramos a insistência de John Usher
NEF em antecipar o início do processo para o século XVI, período HOLDERNESS, B.A - "The English land market in the eigthteenth century: i,

no qual, segundo o autor citado, teria havido um rápido aceleramento the case of Lincolnshire". The Economic HistoryReview, sevond serie, vol.
I;"'
industrial na produção de carvão. Este surto propiciou célere avanço 28 (4),November, 1974,pp. 557-576.
Sobre o conceito de protoindustrialização, ver JEA.Nl\(IN, P. - "La protoindus-
tecnológico e crescimento da produção em larga escala neste setor, trilisation: développment ou· impasse?" Annales, Economies - Sociétés -
G
a tal ponto significativo, que sejustificaria falar muna Primeira Revolução Civiiisations, n21, Janvier-Février, 1980, pp 52-65. KRIEDTE, Peter, MEDICK, 11
r;••.
5 Hans e SCI-ILU1v1BOHM,Jürgen - Industnalization Before Industrialization, ;~
Industrial entre 1540-1640 Efetivamente, considerando-se apenas fi
Trad. Ing. Cambridge, Cambridge University Press, 1981. ti
setores isolados da produção, seria possível constatar crescimentos Uma bibliografia completa da Revolução Industrial, dividida por temas e por 11
I.
autônomos significativos anteriores ao século XVIII. Até mesmo os países, encontra-se em POSTAN, M. - The Cambridge Economic History of li
manors ingleses testemunharam expansão industrial no século XV6 Europe, vol. 6 - The Industrial Revolution and Afters, parte 2. Cambridge, E

~
Cambridge University Press, 1966, pp. 927-1024. Sob o título Bibliografias,
~,
Fontes Primárias, Generalidades, Agricultura, Indústria, Comércio Exterior,
Finanças Públicas e Tributária, Preços e Salários, consultar DOUGLAS, David
Cf SCHUMPETER, Elizabeth Boody - English Overseas Trade Statistic 1797-
~
3 C. - English HistoricalDocuments, vol. 9, 1783-1832. London, Eyre & ~,
f,
1808. Oxford, Oxford at Clarendon Press, 1970, p. 15. ~•.. Spottiswoode, 1959, pp. 455-465. Será proveitoso consultar LANE, P -
Cf MATHIAS, Peter - Op. cit., p. 18. j;~
Documents Oll British Economic and Social History. London, Ma crnillan, ~.~
!.!1i
Cf. NEF, .LU - "The progress of technology and the growth of large scale 1968; ROUSTON, Pike E. - Human Documents of the Industrial Revolution in
industry in Great Britain, 1540-1640". The Economia History Review, vol. 5(1), Britain. London, Allen & Unwin, 1966. f"j.,
October, 1934,pp 3-24. . 10 Para se ter uma idéia da variedade de fatores normalmente arrolados para
6 CARUS" WILSON, E.M - "Evidences of industrial growth of some fifteenth explicar a Revolução Industrial, reproduzimos aqui um quadro sistematizado H:
century manors". In Essays in Economia History vol. 2, Ed. por E.M. CARUS-
.,r por HARTWELL, R. M. - "The causes of the Industrial Revolution. An essay
'~i"
WILSON, London Edward Amold, 1966, pp. 151-167. I in methodology". The ECOl107llic History Review, Second Séries, vol. 18(1),
I
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• A GRANDE REvoWÇAo INGLESA, 1640-1780
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JOSÉ ]OBSON DE ANoRADE ARRUDA

As primeiras tentativas de explicação para a Revolução Indus- ~


!f mente, até mesmo com uma certa periodicidade, na historiografia
trial salientaram o papel do liberalismo econômico, a substituição
,j da Revolução Industrial. De um lado as explicações que enfatizam
das regulainentações típicas do sistema corporativo de produção g
pela competição, sem a qual nenhum progresso poderia ser atin- o papel do crescimento demográfico e de outro, as que dão ênfase à
V
gindo". Tais explicações, surgidas no final do século XIX, enquadram- í importância do mercado ligado ao comércio internacional.
~ Em 1882, W. J. ASHEY centrava sua explicação para a Revolução
se perfeitamente na fase do capitalismo concorrencial, típico da pri- ~;
meira fase da industrialização. Industrial no alimento populacional resultante das melhorias ocorri-
Seguem-se então duas tendências explicativas que, nascidas no das na agricultura'<. Em 1932, E. GILBOY salientava o crescimento
final do século XIX e inícios do século XX, repontam, sistematica- da população e a mobilidade social aliados a uma alteração nos padrões
de consumo'<. Em 1950, A.R JOHN afirmava que a chave da mudança
August, 1965, pp. 167-168, reproduzido em HARTWELL, R. M. - The Causes estava no crescimento populacional e nas modificações ocorridas
of Industrial Revolutio» in England. London, Methuen 1972, pp. 53-80. na agricultura 14 Em 1962, num celebrado texto sobre o crescimento
1. Capital AcculJlulation: increased savings (frorn cornerce and agriculture),
econômico da Inglaterra, P. DEANE e \V. E. COLE faziam uma profissão
low interest rates, increased investiment (e. g. in transport); ploughing-back of
high proportion of increased industrial profits; increased illvestment from profit de fé na primazia do crescimento populacional como fator explicativo
inflation; better mobilizing of savings because of improve financia! institutions, para a Revolução Industrial, em detrimento das explicações favoráveis
economy of savings (e. g. inventories) because of improved transport. ao papel do comércio internacional:
2. Inllovatio17s - Change in lhe Technoloov and Organization of Agriculture
and Industry: new and improved machinery; new sources of power; more "Rejeitamos o papel do comércio internacional como
roundabollt and larger-scale production (e.g. enclosures and factories) with promotor do desenvolvimento econômico e salientamos
greater division of labour; industriallocalization (external economies). o crescimento agrícola e populacional como elementos :!
3. Fortunate Factor Elldowllle!/ts: coa I, iron ore, and other minerals necessary li
vitais do crescimento industrial do século XVIII,,15
for industrialization; favourable size of the economy (short hauls); favourable p
trading site forgrouwth markets (America and Asia);.skilled labour force; Pela seqüência das proposições vê-se que há uma tendência :;i

increasing labour inputs (because of absolute increase in population, and a em relacionar o crescimento populacional às transformações ocorridas ;:\
~~ ~:

relativeli larger industrial labour force, the result of greater agricultura 1 na estrutura agrária, o que de certa forma sustenta o equaciona- li
I:'
productivity); entrepeneurial and invenring talent in good suplly . F,.
mento atual da questão, quando é perceptível o deslocamento da
4. Laissezjaire: long-teml changes in philOsophy, religion, science, and law, r
culminating in the eighteenth century in secularisrn, rationalism, and economic explicação para a agricultura 16 ou para o crescimento populacio- r
f[i"
individualism propagandists for free enterprise and receptive statesmen;
Adam Smith;social mobility. /2 Cf. AS1-lLEY, W. J - The Economia Organization of England. London, 1914,
p.136.
.:".1..1
5. Ma rket Expansiol/: iàcreasing foreign trade ; increasing domestíe
consurnption becauss of (a) increasing population and (b) rising real incomes; 13 Cf GILBOY, E. W - "Demand as a factor in the Industrial Revolution". 111 The (!.
Causes of the Industrial Revolution , R. M. HARTWELL (Org.). London,
urbauization; improved transport which (a) lowered costs and prices; I':,
stimulnting demand and (b) unified and increased the market; relatively lower Methuen, 1972, p. 123.
prices of industrial goods, increasing demando /4 Cf JOI-IN", A.H. - "Aspects of English economic growth in the first half 011 the i:!~i
L
:j
6. Miscettoneous. Continental wars wich favoured English and discouraged Eighteenth Century". In Essays in Econotnic History. Ed. por E. M. CARUS- ',1

continental development; 'the bounty of God' (the decline of plague and the WILSON. London, 1962, vol. 2, p 373
good harvests of the 1730s and.l740s); theautonomoue growth of knowledge; /5 DEANE, P. & COLE, w.A. - British Economic Growth, 1688-1959. Trends and .~
'the English genius '. Structure. Cambridge, Cambridge at the University Press, 1962, pp. 82-97.
::1'
11 Cf TOYNBEE, A. - Lectures 011the Industrial Revolutim, of the Eighteenth /6 Para um resumo geral das transformações na agricultura, remetemos a I li
Centurv in England. London, 1884, p. 64. DOVR1NG, Folke - "The transformation of European agriculture". In The ~;!f
Cambridge Economia History of Europe. Op. cit., pp. 604-672. Dentre os 11I

32 I /'!'I'

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33 ~.!.
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A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 ~ JOSÉ JOBSON DE ANoRADE ARRUOA

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nal17 Um dos mais acérrimos defensores do primado da agricultura
I
poder aquisitivo, nível de poupança e até mesmo do investimento, I·
sobre os demais fatores que atuaram na Revolução Industrial é Paul
r-
com a utilização do conceito de profit inflation'", I
BAIROCH18 Outra vertente, que emergiu dessa linha de explica- ~
Paralelamente às explicações que tomavam por eixo o incre- I
ção, foi a importância na melhoria dos padrões de consumo, que
envolvia dois problemas correlatos, isto é, a questão crucial da determi-
~
f,
r
t'
mento populacional, corriam as explicações relacionadas à expansão
do mercado. Já no final do século XIX, em 1882, W. CUNNINGHAM
I
nação dos salários19 em relação aos preços, que indicaria o ritmo do ~ afirmava que o avanço econômico da Inglaterra era o resultado da
~ expansão dos mercados e da acumulação de capitais". Em 1905, P.
t
! MANTOUX era taxativo quando dizia que a Revolução Industrial
estudos mais acatados sobre o tema, veja-se CHAMBERS, J. D.& MIGAY, G. .~

E. - The Agricultura! Revolution, 1750-1880. London, 1966 e JONES, E L. fora um fenômeno essencialmente comercial, tendo sido preparada
(Ed.) - Agriculture dnd Economic Growth in England. London, 1967. Para a e acompanhada pela expansão do comércio e do crédito, e que
relação entre a estrutura agrária e social, bem como de seus liames com a
"o surgimento da maquinaria foi o resultado inevitável
Revolução Industrial, veja-se CROOT, Patricia & PARKER, David - "Agrarian
class structure and economic development". Past & Present, n2 78, February, do desenvolvimentocomercial,,22
1978, pp. 37-47. Para o período crítico da transformação na estrutura agrária,
o trabalho clássico de l/.JNGAY, G. E. - "The agricultural depression, 1730-
1750". The Economic History Review, Second Series, :';'01. 8(3), April, 1956,
pp. 323-338. Um excelente estudo bibliográfico e crítico encontramos em of consumables, compared with builders' Wagerates". In Essays in Economic
O'OBRIEN; P K - "Agriculture and industrial revolution". The Economic History, Ed, por E.M. CARUS-WILSON London, Edward Amold, 1966, pp.
History Review, Second Séries, vol. 30(1), February, 1977, pp. 166-181. 179-196. Extremamente interessante o debate travado na Economic History
'7 Para um estudo geral, GLASS, D. V. - "World population, 1800-1950". In Review, começando com o artigo ele FLINN, lVJ. W - "Trends in real wages
Cambridge Economic History of Europe. Op. cit., pp. 60-138; CIPOLLA, 1750-1850" Econoniic History Review, second series, vol. 27(3), August, 1964,
Carlo M. ,'" Historia Econômica de Ia Población Mundial. Trad, esp. Buenos pp. 395-411, o comentário crítico de GOURVISH, T.R. - "Flinn and real wage
Aires, Eudeba, 1994; BAIROCH, P. - "La population active mondiale (1700- trends in Britain, 1750-1850: A cornment". Economic History Review, Second
1970)". Annales, Economies-Societés-Civilisauons, n2 5, Septembre-Octobre, Series, voI.39(1), 1976, pp. 136"-142 earéplica de FLINN,M. W - "Real wage
1971, pp. 960-976. Para o estudo específico do crescimento da população trends in Britain, 1750-1850: a Reply". Economic History Review, Second
inglesa; FLIl\1N, M. W - Bntisli Population Growth 1700-1850. London, Séries, voI. 39(1), 1976, pp. 143-145. Com importância ainda o artigo de GILBOY,
Macmillan Press, 1972. Para o período particular da Revolução Industrial à E.W - "I salari in Inglhiterra nel secolo XVIII". InI Prezzi in Europa del )(111
coletânea de artigos organizada por DR~T(E, Michael - Population in secolo a oggi. ROMANO, Ruggiero (Org.). Torino, Giulio Einaudi Ed., 1967,
·Industrializatiofl. London, Methuen, 1969. Para o período anterior à indus- pp.351-373.
trialização CHAMBERS, J. D. - Population, Economy, and Society in Pre- 20 Lembramos aqui, a célebre .discussão a propósito das relações entre preços e ..
Industrial England. Oxford, Oxford University Press, 1972. Também são ilus- salários, como determinantes da acumulação capitalista capaz de gerar uma
trativos os debates recentes em tomo da ortodoxia néo-malthusiana, partindo Revolução Industrial, iniciando-se com o artigo de HAMILTON, E. J. - "Profit
do artigo de BRENNER, Robert - "Agrarian Structure and Economic Develop- intlation and the Industrial Revolution, 1751-1800". The Quartely Journal of
ment in Pre-Industrial Europe". Past & Present, 112 70, February, 1976, e a Econoniics, vol. 56, November, 1941, pp. 256-273, e as críticas procedentes de ::1:

resposta às críticas contidas neste artigo por LEROY LADURIE, Immanuel -


FELIX, David - "Profit intlation and industrial growth: lhe historic record and
"A Replay to Professor Brener". Past & Present, n2 79, May, 1978, pp.55-59. "i
contemporary analogies". The Quartely Journal of Economics , vol. 70,
is BAIROCH, Paul - Revolução Industrial e Subdesenvolvimento. Trad. port. 1,1
August, 1956, pp. 441-465.
São Paulo, Editora Brasiliense, 1974.
2' Cf. CUNNIGHAM, W. - The growth of English Industry and Coinmerce in
19 Em termos metodológicos, veja-se VILAR, Pierre - "Transforrnaciones eco-
nórnicas, impulso urbano y movimiento de los salarios: Ia Barcelona del siglo
Modem Times. Cambridge, Cambridge University Press, 1882, vo1. III - Laissez- :1
XVIII". In VILAR, Pierre - Creciniiento y Desarrollo. Trad. esp. Barcelona,
faire, p. 610.
:f
22 MANTOUX, Paul - La Revolucion industrial en el siglo ),1/111. Trad, esp
Ed. Ariel, 1974; pp. 194-233. Sobre a evolução dos salários de uma forma geral,
PHELPS BRO\VN, E.B. & HOPKINS, Sheila V- "Seven centuries of the prices Madrid, Aguilar, 1962, p. 117. . !~

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.[ Joss JOBSON DE ANDRADE ARRUD."
A GRANDE REVOLUÇAo INGLESA, 1640-1780
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~ da produção.". Abriu-se uni novo espaço de investigação para a
Em 1925, W BOWDEN reiterava estas proposições dizendo f contribuição das tcap:sformªçõestéçnica,~/~; .pafét o caráter do povo
que o século XVIII inglês se diferenciava dos anteriores pela procura
inglês, no que tange a sua atuação empresarial ".
intensa por mercadorias britânicas; sendo tão forte a demanda interna
e tão extensos os oceanos controlados pelos ingleses que, sem novos
27 O melhor estudo à nossa disposição, sobre o processo de formação de capital
métodos de produção, a estrutura manufatureira não teria sido capaz na Revolução Industrial foi organizado por CROUZET, François - Capital
de atender à pressão do mercado": Em 1931, A. REDFORD sustenta- _F Formation in the Industrial Revolution. London, Methuen, 1972. No ano
va que o estímulo fundamental para a transformação tecnológica seguinte surgiu o artigo de DEANE, P - "The role of capital in lhe Industrial
Revolution". Exploraiions in Economia Hist01Y, Sumrner, vol. 10 (4), 1973,
ocorrida na Inglaterra surgira quase certamente, dos efeitos resultan- pp. 349-364. Estudos específicos de caso têm surgido, como por exemplo
tes da progressiva ampliação dos mercados mundiais, que atuaram DONNACHIE, Ian "Sources of capital and capitalization in the Scottish .
decisivamente sobre a Inglaterra, possuidora de recursos mineirais BrewingIndustry, c. 1750-1830". The Economic HtstoryReview, Second Series,
vol. 30(2), May, 2977 , pp. 260-283.
e dotada com um povo enipreendedor'". Em 1949, E. LIPSON dizia Um dos textos mais completos sobre as transformações tecnológicas no. decurso

I
23
que a explicação estava na expansão do comércio marítimo e na da Revolução Industrial foi editado por SINGER, Charles - A History of
formação de um crescente império colonial na América, Índia e África, Technology, vol. IV - The Industrial Revolutiou c.J750-1850. Oxford, Oxíord at
the Clarendon Press, 1958. Sob o ponto de vista metodológico tem interesse
que juntamente com os mercados continentais ampliaram o consumo NORTE, Douglas C. - "Innovation and diflusion of technology. Atheoretical
de manufaturas25 Em 1963, H.J. HABAKKUK e P DEANE aderiam framework", In Fourth lnternationol Conference of ECOI101JIÍC History - ·1
a esta explicação: Bloomigton, 1968. Paris, Mouton, 1973, pp 223-232. Nestamesma publicação
temos o estudo de GILLE, Bertrand - "Progres scientifique, progrés technique et
I
"Não há que buscar por razões preponderantes. Re-
progres économique. Rapport général", pp. 20~-222 Em termos tecnológicos,
jeitamos a possibilidade de explicação do fenômeno um dos estudos mais penetrantes é de LANDES, David - "Technological change
através do crescimento populacional, inovações téc- and development in Westem Europe, 1750-1914".lil The Cambridge Econoinic
History of Europe, vol, VI - The Industrial Revolution and Afters. Cambridge,
nicas e aumento na taxa de investimento. Destacamos 'i
Cambridge University Press, 1966, pp. 274-603. Uma coletânea específica sobre
o papel exercido pelo comércio internacional como
elemento dominante,,26.
t o tema foi organizada por MUSSON, A. E Science, Techonology and Econoniic
Growth. London, Methuen, 1972. O problema da tecnologia no mundo do trabalho
(
!j
t n
em FOHLEN, C. & BÉDARIDA, F - Histoire Généraledu Travail, 1. III - L 'i~re 1~
~
~
O avanço desta linhagem explicativa estimulou o aparecimento ;:'
des Révolutions (1765-1914). Paris, Nouvelle Librairie de France, 1961. O
de novos ingredientes, de novas ênfases, como por exemplo o papel problema da relação entre educação e Revolução Industrial em WEST, EG. -
desempenhado pelo capital, que deixava em aberto um vasto campp_ "Literacy and the Industrial Revolution". The Econoniic History Review, Second 4
de pesquisa para determinar a sua origem, ritmo de acumulação, Series, vo131(3), August, 1979,pp. 260-383. Quanto ao avanço tecnológico em I
tI

taxa de investimento, montante exigido em função da estrutura técnica


setores específicos, ver POLLARD, Sidney - "A new estimare of British coal
production, 1750-1850". Econotuic History Review, Second Series, vol. 33(2),
j
n Cf BOWDEN, W - Industrial Society in England towards the end of the
May, 1980, pp. 212-235; RIDEN, Philip - "The output of the British iron industry
before 1870". Economic History Review, Second Series, vo1. 30(3), August,
, ,
1977, pp. 442-459; MUSSON, AE. - "Industrial motive power in the United
Eighteenth Century. New York, 1925, p. 65.
Kingdom, 1800-70". Economic History Review, Second Séries, vol. 29(3), August, !I
24 Cf REDFORD, A - The Econontic History of England 1760-1860. London,
1931,p.3.
25 Cf LIPSON, E. - The Growtli of the English Society. London, 1949. p. 189.
29
1976,pp 415-439.
A explicação tradicional sobre o caráter empreendedor dos ingleses, durante a
Revolução Industrial, pode ser melhor definida a partir dos estudos de História
t,
26 HAE3AKKUK, RI & DEANE, Phillys - "The take-off in Britain", In The ~
1 Empresarial. Para o século XIX remetemos ao estudo de PAYNE, PL - British fl
Econotnics ofTake-off into sustained growth. Ed. por W ROSTOW, London,
1963,pp 77-78.
~
i
;
Entrepreneurship in the Nineteenth Century. London, Macmillan, 1974. '!l
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37 ii
36
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I
~
I
A GRANDE Rsvoiuçxo INGLESA, 1640-1780 JOSÉ JOBSON DE MURADE ARRUDA

A multiplicidade de explicações revela a complexidade do proble- ciência a sua concepção do universo: a Revolução In-
ma em questão. Mudanças radicais de posição não são raras. Basta dustrial foi também uma revolução das idéias, emparti-
lembrar que a célebre pesquisadora P. DEill.NE, escrevendo e111 1962, cular, a Riqueza das Nações inspirou novas atitudes, e
afirmava a preponderância do crescimento populacional. Um ano foi sob sua influência que a idéia de um volume de comér-
depois, 1963, não mais acompanhada por WE. COLE e sim por H.l cio mais ou menos determinado, dirigido e regulado pelo
HABAKKUK, rejeitava peremptoriamente a explicação através do cres- Estado, foi abandonado g(adualmente e com muitos
cimento populacional e realçava a importância do comércio internacio- retrocessos em favor do progresso ilimitado, numa eco-
nal. Este é, atualmente, o centro do debate em torno das origens da nomia livre e expansionista. Se procurarmos por um
Revolução Industrial: o papel desempenhadopelo impacto do mercado único fator em função do qual o passo do desenvolvimen-
.r: 1 ..,. ri'
ustna. mgiesa
lTIUl1Cna_ na estrutura TeC111Ca na m.....
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. to econômico foi acelerado na metade do século XVIII,
seria para a baixa taxa de juros pela qual o capital poderia
SP:[ obtido ,""I,",P deveríamos nlh':1r.,~31
-..., , \..J.'-- V '-4.V v.>-
..
•..•.•.. l .•.1.V'-' V.iJ..iU-.i .

202 A busca da integração Uma miscelânea incrível, pois reúne, praticamente, tudo que pode-
ria contribuir para um processo de aceleramento econômico em qualquer
Como expressão evidente da dificuldade de equacionamento momento ou lugar, embora pouco consiga provar, pois, muitos dos
da questão surgiram, extemporaneamente, definições que represen- elementos jogados na explicação são contraditórios entre si, como
tavam verdadeiros melting-pots, como se a Revolução Industrial por exemplo a alta de preços que, se por um lado, aumenta o lucro
fosse o resultado explosivo da conjugação de uma série enorme de dos empresários, do outro, rebaixa o poder aquisitivo da camada
ingredientes, combinados numa dosagem certa. O célebre autor T.S assalariada fazendo retrair o mercado. Para além disso, acima de
ASHTON, em 1948, reunia o seguinte elenco: condições realmente importantes, tais como capital, mão-de-obra,
"a conjugação de oferta crescente de terra, trabalho e mercado externo, o autor coloca a redução da taxa de juros como
capital, tomou possível a expansão da indústria; carvão elemento vital.
e vapor fomeceram o combustível e a energia para a Inventário de motivos presente na historiografia se reproduz de
produção manufatureira em larga escala; baixa taxa tempos em tempos e mesmo autores que evidenciam um elevado
de juros, alta de preços e elevada expectativa de lucro poder de crítica acabam por cair em equacionamentos semelhantes ",
ofereceram incentivo. Mas atrás e além destes fatores .' ou pior ainda, em posições absolutamente inconclusivasf.
materiais e econômicos, estava algo mais. O comércio
31 ASHTON, 1.S. - The Industrial Revolution 1760-1830. Oxford, Oxford
com o estrangeiro ampliou os horizontes humanos ea
University Press, 1960, p21
32 "Empezando por Ia desaparición de vetustos derechos feudales, de una fuerte
30 Assim encaminha o livro clássico de LANDES, David - The Unbound excedencia de productos agricolas que contribuía a alimentar Ias corrientes
Proinetheus - Technological Change and Industrial Development in Western de intercambio com el exterior, y de una mayor disponibilidad de capitales y
Europefrom j750to lhe Present. Cambridge, Cambridge Univesity Press, 1969. de bienes para la actividad productiva; eso, para no hablar de Ia posesión de
Num sentido contrário colocou-se DAVrS, Ralph - The Industrial Revolution ricas colonias, del creciente predorninio de Ias flotas y de Ias compaüias
and. British Over Seas Trade. Leicester, Leicester University Press, 1979. Um privilegiadas inglesas en el comercio intemacional". CASTRONOVO, Valerio
acirrado ataque ao papel dó comÚcio internacional aparece em BAlROCH, Paul - La Revoluciàn Industrial. Trad. esp. Barcelona, Ed. Nova Terra, 1975.
- "Le rôle du gran commerce dans Ia Révolution Industrielle anglaise". Annales, 33 Cf. MARX, Roland - La Révolution Industrielle en Grande Bretagne. Paris,
Économies - Sociétés - Civilisations, nQ 2, Mars-Avril, 1973, pp.541-571. Armand Colin, 1970, p. 39.

38 39

I
,
A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1649-1780
JOSÉ JOBSON DE· ANDRADE ARRUOA

Apesar do amplo leque de explicações até aqui aventado, mui- nas na sua relação com a totalidade, como componen-
ta coisa resta ainda por.fazer. SegundoR.M. HARTWELL, num.denso .. . tes-de uma estrutura- em .evolução. Neste sentido,
inventário das causas da Revolução Industrial, os historiadores iden- estamos para além da interdisciplinaridade vista co-
tificaram uma difusa cadeia de fatores, mas foram incapazes de de- mo justaposição de contributos e de momentos analí-
terminar a importância relativa destas forças, ou precisar como elas ticos diversos e, conseqüentemente, para além de uma
operaram conjuntamente num processo de mudanças econômicas. 'investigação de causas' que se limite a operações
Em suma, os historiadores não chegaram a uma definição de Revolu- muitas vezes predominantemente formais,,36.
ção Industrial, seja em termos da taxa de crescimento da produção? Num enfoque que descarta a decomposição entre fatores endó-
das mudanças na estrutura econômica ou das mudanças técnicas. genos e exógenos, R.M. HARTWFLL remete o problema parao seu
Não conseguiram explicar o ponto de viragem da estrutura econômica possível equacionamento em termos de crescimento desequilibrado
e nãoanalisaram a mecânica do 'crescimento do século XVIn34 e equilibrado No primeiro, elaborar-se-ia um modelo setorial, no
Um passo no sentido de tentar um arranjo dessas variáveis foi qual o setor líder (setor de ponta), num mecanismo de cr.eseimento
dado por Claude FOHLEl'T, cujo hTO sobre a Revolução Industrial desequilibrado ativaria o resto da economia, através de laços tradi-
divide a explicação em fatores endógenos e fatores exógenos. São cionais e mecanismos de difusão técnica, seguindo-se a criação de
entendidos como fatores endógenos aqueles que estão visceralmen- um modelo agregado no qual a variável estratégica teria impacto
te integrados no processo de produção, tais como: técnica e tecnolo- geral sobre toda a economia, operando num vasto fronte de agregação
gia, invenção e inovações; acumulação de capital e investimentos, capital-produção; no segundo, o investimento simultâneo em todos
papel dos empresários. Por fatores exógenos entende a revolução os setores da economia, exigiria planificação sistemática de um gover-
na agricultura, o crescimento da população, o papel da educação e a no intervencionista, capaz de pô-lo em prática.".
ação do Estad035 Os fatores levantados, contudo, mantêm entre si Esta possibilidade aventada por HARTWELL envolve um certo
relação de exterioridade, reduzindo-se à mera justaposição do que reducionismo, pois identifica a Revolução Industrial ao exclusivo pro-
se considera interno e externo, sem avaliar a natureza mesmadessa cesso de crescimento econômico. Já se disse que o quadro é muito
dicotomia que pode trazer em si problemas metodológicos de difícil mais amplo, que a Revolução Industrial somente pode ser entendida
superação. De fato, a classificação desses fatores, no contexto mais geral da sociedade. Nestes termos, deixa de ter
"não pode deixar de ser posterior à consideração da sentido a noção de crescimento equilibrado, pois no processo histórico
unidade primordial entre os elementos que entram momentos de equilíbrio e desequilíbrio se alternam. Ele não é retilí-
no processo em causa. O ponto de partida é a dinâmi- neo, uniforme e invariável. Move-se em função das contradições
ca da estrutura sócio-econômica no seu conjunto, isto que fluem do seu próprio andamento. Esta abrangência da Revo-
é, elementos como a 'revolução demográfica' ou a lução Industrial foi percebida por M.W FLINN, para quem
'revolução técnica' podem não ser considerados ape- "a Revolução. Industrial foi um movimento muito
mais profundo do que a mera aceleração na taxa de
34 Cf. HARTWELL, R.M. "The Causes of the Industrial Revolution. An Essay in
Methodology". The Economic History Review, Second Séries, vol. 18(1), ,
August, 1965, p. 179. "! 36 SALAMONE, Nino - Causas Sociais da Revolução Industrial. Trad, port.
35 FOHLEN, Claude - Qu 'est-ce que Ia Révolution Industrielle? Paris, Robert !
·l Lisboa, Ed. Presença, 1978, p. 56.
Laffont, 1971. pp. 69-l72. 37 Cf. HARTWELL, R. M - Op. cit., pp. 180-181.

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A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780 -~


i JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA
"

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~ profícuo, como se pode observar 110S ensaios recentemente surgidos


crescimento, de investimento, ou ainda, do produto
nacional. O nível mais elevado da produção foi con-
t em revistas especializadas 42. Contudo, quase nada, se fez ainda em 11
l
J< dois setores que nos parecem fundamentais para o devido equacionamento
seguido através de novas tecnologias que demanda- 1,
da questão, ou seja, o papel das Revoluções Burguesas e do Estado
vam inovações na organização da produção. Esta, "E
delas resultante na criação de condições essenciais ao crescimento
por sua vez, mudava a distribuição física da popula- ~
~ econômico e, principalmente, à transformação industrial. Sem estas
ção e alterava os padrões de relacionamento social ~
Jf duas dimensões, cremos, o problema da Revolução Industrial ficaria
entre trabalhadores e empregadores, bem como en-
reduzido na sua dimensão histórica, e, forçosamente, sua explicação
tre os próprios trabalhadores. Estas mudanças geo- t
"
{; redundaria extremamente simplificada, pois estaria referida a um
gráficas e econômicas, em outras palavras, foram f
"..,...-..."V\-~ .•.• ,,:-,+.r. .40 +<"l+r"\'r.oC"· ;., nrp.l··H"'!.nriç.r8-n(,~-:l rlp nn"'i coA f'Ãt0.r r{)n(lir0P:~
L.oVl1jU.llt..V U\..I .Lat..'-JJ.V0, á p.!..v ..l-'':-''.1..1UVLU-.!.LV.J.u.. v- ••...••...
te•..•...•.•...•....,. ..•.••...•.••..
...;:..•., yv-' .
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acompanhadas por mudanças sociais e culturais não


exógenas ou endógenas, ou ainda, ao produto de um crescimento
menos dramáticas efundamentais'r".
equilibrado ou desequilibrado. Em suma, as condições apontadas não
Reconhecem alguns autores, que a Revolução Industrial tem
podem ser consideradas como partes independentes entre Si e sim
recebido um tratamento preponderantemente vazado em termos I
manifestações efetivas do próprio processo histórico, cujo núcleo
econômicos, que poucos esforços foram realizados, até aqui no plano
. 1 e eu 1tura 139. Raros sao
- os textos que b uscam uma interpretação
. - precisa ser captado numa dimensão que não se reduza ao econômico,
SOCla_
mas que englobe a estrutura ampla da sociedade e a configuração
sistemática da Revolução Industrial em termos sociais. Uma exceção
peculiar do Estado, a ela inerente.
é o livro de N.l SMELSER, que busca integrar a teoria econômica \

na teoria geral dos sistemas sociais, considerando a economia em si


como um sistema social?". Ganha força neste sentido o estudo dos
23 Contradições e superação
movimentos sociais, das rebeliões, do universo do mundo do trabalho,
'1 .' "
das ideologias" , O avanço da pesquisa neste campo tem se revelado
o
devido equacionamento da questão coloca problemas metodoló-
gicos de difícil solução. Se pensarmos a Revolução Industrial a partir
33 FLINN, M.W. - Origins of the Industrial Revolution. London, Longmans, das condições de sua gestação, perdemos de vista o objeto mesmo
1966,p,16.
39HARTWELL, R. M. - The Industrial Revolution and Economic Growth.
London, Methuen, 1971, p. 51. Industrialization and Industrial Labor in Nineteenth Century Europe. New
40 SMELSER, Neil J. - Social Change in lhe Industrial Revolution. An York, John Wiley, 1973. A renovação dos estudos neste setor é representada
Application 011 Theory to lhe Lancashire Cotton Industry 1700-1840, pelo texto de FOSTER, John - Class struggle and Industrial Revolution.
London, Routledge & Kegan, 1972. London, Methuen, 1974.
41 Considerando-se a importância do tema são reduzidos os textos relativos ao 42 Cf HOBSBAWM, Eric - "Labor history and ideology". Journal. of Social
movimento trabalhista na Inglaterra, sendo um dos mais antigos COLE, G,D.H. History, vol. 7(4), 1974, pp. 371-381; MUNGER, Frank - "Measuring repression
- A Short history of the British working-class movement. London, Allen & of popular protest by English justices of peace in the Industrial Revolution".
Unwin, 1925, Entretanto, o estudo clássico sobre a classe operária na Inglaterra Historical Methods, vol. 12(2), Spríng, 1979, pp. 76-83; DAWLEY, Alan -
é deTHOMPSON, E. P. - The Making of lhe English Working Class. New "Working-class c:ulture and politics". Journal of Social History, vol 9(4),
York, Peguin Books, 1963. Um estudo específico sobre os protestos da classe Sumrner, 1976,pp. 466-480; LANE, Roger - "Crime and the Indusrial Revolution:
operária e as suas contestações aparece em STEARNS, Peter N. (Ed.) - The British and American views". Journal of Social History, vol. 7(3), 1974, pp.
Impact of the Industrial Revolu tion. New Jersey, Prentice-Hall, 1972. Também 287-303; WALTON, John K. - "Lunacy in. the Industrial Revolution: a study
apresenta interesse a coletânea elaborada por SHEEHAN, Jarnes. -
.,,-•.. -e. "

43
42

I
r
A GRANDE REVOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780
JOSÉ JOBSON DE ANoRADE ARRUDA

de nossa observação, que é a própria Revolução Industrial. Porém,


"A manufatura propriamente dita não só submete ao
saber. exatamente no que consiste a transformação nuclear .que
comando eà disciplina do capital o trabalhador antes
emblematiza a Revolução Industrial, ajuda-nos a identificar as condições independente, mas também cria uma graduaçãohie- .
predominantes da sua gestação. Somente então, poderíamos remeter rárquicaentre os próprios trabalhadores,,45.
a explicação de conjunto à revolução burguesa ocorrida na Inglaterra A ampliação do número de trabalhadores exigidapela divisão
no século xvn e ao Estado liberal capitalista, daí oriundo.
do trabalho manufatureiro é uma imposição técnica. Da essência
Eric HOBSBAWM tocou precisamente no cerne da questão. mesma da manufatura, surgem obstáculos de natureza vária. Como
Mas. não lhe deu a devida importância, considerando-o "condições oprincípio característico da manufatura é a extrema divisão do traba-
SUptrS.~.i3.is,,43 Referi-mó-nos a três condições que estimularam o
" arranque ". lllg 1"es, &331111
., especinca
.fi d as: lho, resulta o isolamento das diferentes fases da produção e a
independência recíproca entre os trabalhadores. Nestes termos,
à) "uma limitação externa para a expansão dos velhos "para estabelecer e manter a conexão entre as dife-
métodos (como por exemplo a escassez de mão-de- rcrues funções isoladas é necessário o transporte
obra e os altos custos do transpor,e) que tomavam ininterrupto do. artigo de uma mão para outra e de
difícil aumentar a produção além de um certo ponto .. ,,46
um processo para outro ,
com os métodos existentes; e sem dúvida, resultando em enormes limitações impostas pelas dificuldades de
b) uma perspectiva de expansão do mercado tão ampla transporte que intercalava as diferentes fases do processo de pro-
que justificasse a diversificação e o aperfeiçoamento dução, elevando consideravelmente os custos. Além disso a estrutu-
dos métodos antigos; e
ração hierárquica das manufaturas criou trabalhadores hábeis e iná-
c) tão rápida que a ampliação e modificação (dos beis, mas o número destes tendeu a se contrair por assimilação das
métodos antigos) não lhe pudesse fazer frente,,44
técnicas de trabalho, criando um trabalhador resistente em função
O problema jaz na estrutura da produção manufatureira.e na de sua especialização zelosamente garantida por sete anos necessá-
sua inadequação ao desenvolvimento de novas forças produtivas.
rios de aprendizagem. Nestes termos, a habilidade manual consti-
Deixando de lado o problema da origem da manufatura e sim consi- tuía-se em fundamento do trabalho manufatureiro, o que levava à
derando-se apenas sua estrutura íntima, o processo de trabalho, a luta constante entre o capital e a "insubordinação dotrabalho"47
manufatura já se constitui num modo de produção capitalista Nela
"Ao l~lesmo tempo, a manufatura não podia assenho-
a organização coletiva do trabalho evidencia a existência do capi-
tal. rear-se da produção social em toda a sua extensão,
nem revolucioná-Ia em seu cerne. Como obra de arte
econômica atingiu seu apogeu apoiada na extensa base
constituída pelos ofícios das cidades e pela indústria
doméstica rural. Mas, seu estreito fundamento téc-
of Asylum admission in Lancashire, 1848-50". Journal of Social History, vol.
13(1),1979, pp. 1-21; TYOR, Peter L. - Asylum and society: an approach to
institutional change"Journal of Social History, vol 13(1), 1970, pp. 23-48. 45 MARX, Karl. O Capita!. Trad. porto São Paulo, Civilização Brasileira, ·1971,
43 Cf. HOBSBAWM, Eric - En fomo a Ias orlgenes de Ia Revolución Industrial. Livro I - O processo de produção capitalista,voI. 1, p. 412.
Trad. esp Buenos Aires, Siglo XXI, p 104.
46 Idem,ibidem,p. 395. .
44 Idem, ibidem.
47 Idem, ibidem, p. 421;

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44 "'--
45

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JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUOA
~
A GRANDE REvOLUÇÃO INGLESA, 1640-1780

.Fr~1
acelerado de mudanças que remete a uma GRANDE REVOLUÇÃO ,h
nico, ao atingir ela certo estágio de desenvolvimento,
INGLESA, no interior da qual é possível tracejar as raizes do mun-
entrou em conflitocomoas necessidades de produção ~
. 1 . ,,40
que e a mesma cnou .
A superação destas contradições, como algures aludimos, de-
do moderno. .
'I
!t.1
pendia de uma rápida expansão do mercado mundial e de seu im-
pacto sobre a Revolução Industrial inglesa do século XVIII. Na base
deste processo estava a Revolução Inglesa do século XVII. ti·,i!,
A vinculação entre a Revolução Inglesa do século XVII e a ~
- Revolução Industrial já foi anunciada por alguns historiadores 49 ~
:~
O que não se fez ainda foi uma análise aprofundada destas rela-
ções". O que pretendemos aqui é estabelecer uma imbricação estru-
tural entre as duas Revoluções, entendendo-as como parte do mes-
mo processo; como o verso e o reverso da mesma moeda. Tão vis-
ceralmente relacionadas, que uma é condição da outra, tornando-se
II
~
impossível entender a eclosão da Revolução Industrial sem enten-
der as transformações decorrentes na estrutura da sociedade, da
economia e do Estado inglês, resultantes das revoluções sociais. Re- 1
ciprocamente, as revoluções sociais do século XVII somente ad-
qui rem sentido se analisadas no contexto mais global do processo ~
,j
histórico por elas desencadeado, e que tem sua culminância na
transformação industrial. Nestes termos, não tem lugar nestaaná- . I
.i
lise a tradicional compartimentação, presente na historiografia, entre I
revoluções sociais e políticas no século XVII e a revolução eco- I,
HILL, C. _ Reformation to Industrial Revolution, vol. 2 da The Pelican
nômica no século XVIII. Economic Hist01Y of Britain. Hannondsw.orth, Penguin Books, 1975, espe- '.i!li:
L

Em conclusão, a Revolução Puritana de 1640 e a Revolução cificamente os capítulos "The Revolution" e "From political to Industrial !t'
Rev.oluti.oll". Inversamente, historiad.ores que centraram suas atenções na
Industrial de 1780 são o momento inicial e final de um processo Rev.olução Industrial, de uma forma indicativa, procuraram suas raizes nas I
Rev.oluções Inglesas. Tal é o caso de HOBSBAWM, Eric - En torno ... Op. cit., ~l!
Ii

p. 96, quando se refere à imp.ortância da burguesia britânica e seu papel


48 MARX, Karl- O Capital. Livro I, vol, 1 . Op cit., pp. 421-422. agressiv.o no sentido de eliminar o atraso e ref.orçar o progress.o econômico,
49 Numa exposição radiofônica C. HILL disse: " ... I would see the English :!,,.
. o que, evidentemente, s.omente pode ser entendido no contexto da Revolu-
Revolution of the seventeenth century as clearing the path for the sort of ção Inglesa. Em outro artigo, ao estudar a crise geral do século XVII, ,
\.,
economic development which made the Industrial Revolution happen in HOBSBAWl'v1afirma que se trata de uma crise de crescimento, que resultaria 'I
England first". The Listener, 4 de outubro de 1973. Apud RICHARDSON, R. ·,1
numa Revolução realizada na Inglaterra e frustrada em vários lugares, o que
C. - The Debate on lhe Englislt Revolution. London, Methuen, 1977, p. 107. permitiria àquele país o acelerament.o da caminhada rumo ao capitalismo. Cf.
50 O que tivemos até aqui, de lUTIaforma geral, foram historiadores especializados HOBSBA WM, Eric _ "La crisis general de Ia economia europea en el siglo irl
nas Revoluções Inglesas, que tiraram ilações das repercussões produzidas
XVII!". rnEn torno. Op. cit. pp. 7-68
por estas revoluções e a Revolução Industrial. Exemplo típico é o texto de 'I
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46 I I

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