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NOMES SECRETOS E RIQUEZA VIsíVEL: !,
NOMINAÇÃO NO NOROESTE AMAZÔNICO ,
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Slephen Hugh.Jones
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A relevânciü dos nomes pess.oals e dos sistemas de nominaçlio é uma dos I ,i
marcas distintivas dã literatura elnográfica sobre as terras baiXas da Amé.
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rica do Sul. ~e a o~~,é.stica roi regulannente cxcluídtli di] pesquisa antro-
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pológica sobre 9':pa~~rilesco
. - como testemunha a literatura sobre o (ema ','

-, quando se frata tias complexas estruturas sociais dos Jê c Bororo ou i


dos sistemAS de seçõe~ kariera dos' Pano, as relações baseadas na trllnde.
rência de nomes moslrll.m.se de imporlfinda cruciatJ. Acompanhando os
trabalhos pionci~o5sobre esses grupos. li maioria das monografias a res.-
;. ..
peito dos amerín.dios das terras baixas inclui agora uma seçào dedicada
aos nomes c iI nomimu;.io e algtunas são inleirllmente devotadas a este tó-
,'.
pico (ver Gonçalves 1993).
E~ um conhecido eXCUT!';O comparativo, Vh eiros de Castro sugere que
os sistemas de nominllção ameríndios podem ser classificados em um con-
tlnllum que iria do pólo "exanímico" ao pólo "endonfmico". Nos sistemas
exonimicos dos Ikpeng, Yanomemõ, Areweté c outros grupos tupi, os nomes
vêm do exterior e dos OLltros: deuses, morlos, in4nigos ou onbnais, Nos sis-
. lemas cndonflnicos de po.vos jé, como os J(ayapó e Timbi~a, o~ nomes, assim
como os bens herdados, são mantidos no interior do grupo, CtInstituindo par-
te de sua propriedade e IdenUd~de corporl3~as c tIesignando relações sor.iais
particulares, Além disso, paro os cxonímicos tupinambli, il. ênfase eslava
na aquisição individuai, heróIca, de nomes slngulares e mio L"ransmiss{vcis'
que individuali'l.6va'm seu PC?rladofj paul os endonfmicos ka}'lI:pó. por outro
lado. li: ê":f~se está na transmissão inlervlvos, coletivamente sancionada c
cerulionializoda, que mantém um estoque limitado de nomes em perpé!ua .
circula't;'ão. No primeiro C<1!'iO, os names pertencem ao dominio do melaU!';:I-
ta e possuem uma função individualizante; no último, eles remelem.h or~
dom social e têm f~ções.clasSHicatóttas (Viveiros ue C6~lro 1986:151.155).
Os povos lukano do Noroesle AmazônJco"quc Viveiros de Castro colo-
ca no pólo cndonímico do continuum, são dos mais bem dncurnclll_"dos das " NOMEPROF.° ~ "o"
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COD. G1'~''PASTAJ6L'
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NOMES :se~iITOS I! ~IOUE7.A VlslVBL
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terras baix~s d~;'~ó.rica do:S~1.No entanto, ape~~r d'a'~.p~rtãncia'dos no. Uma exlensa investigação dos etnônimos tukano está além do esco-
mes e da noinu:aç~,o!Ia c9nstituiç~0 e perpetuaçã6dos grupos palrilineares po deste trabalho. No entanto, como esclarecerei li seguir, qualquer diS-
tukano, grupos análogos às c~rporações de perfil "~âirilineftr'" e bese ono- cussão sobre os nomes pessoais t~kano deve incluir, necessariamente, al-
mástica ka.yap6, t~~ira e bo'ro:o,as informações.sob:ie'a'oll9mástica tukano guma referência aos nomes dos gr-upose dos clãs exogêmicos. EtnÔnimos
são esparsas' e'di~'pe"rsB~~.
Um dos objetivos deste traba1ho.co~iste simples. como Bnrasana, Tatuio, Karapana ou Tukano, que os agentes externos
mente em reun.ir alguns .da.dosbásicos sobre e onom6sli,catukano, que irão usam para se referir fi grupos tukano particulares, provêm, em sua maio-
ria, da Ungua Geral (LG),uma üngua fronca tupi difundida pelos primei.
tanto complernent~r as informações sobre outros lugareSna ~azOniB. quen.'
to esclarecer a:.n~tuieza da•.••
paLrilinearidade" IpcitWiny)tukano (ver; tam. ros missionários e ainda {nloda por algumas pessoas mais velhas no Bra.
":' .. sil. Os próprios lhkano fazem uso regular desses elnônimos, em parle por-
bém, S. H~gi't-Jones 1995) .. Gostaqa nínda de kxplorar o p:apeldos nomes e
da nominação h8 constituição da pessoa, observa~d.o'as ocasiões ritualiza- que Comecem urna alternativa conveniente aos seus nomes de grupo sa.
das de mlsciment~, iniciação C! m:~rte!quando os nomê~ e a nominação pas- grados ou semi-sagrados, em parle porque são aqueles empregados por
agentes exlernos com os quais eles lêm que lidar cada vez mais. Alguns
sam a primeir~ plano. f~almenle, utillzarei os jnsJghl~ de Viveiros de Castro
nomes em língua geral são os equivalenles diretos desses nomes de gru.
para siluar esse'~1H'iterial
em um contexto comparativo; E~ particular, apre.
po propriamente ditos, outros aludem a eles e outros equivalem aos no.
daria mostrar que, embora seu padrão .seja basicarh,ente e~donírnico, não
mes (sagrados, comuns ou jocosos) d.e um dos clãs componentes do grupo
é exclusívamente ~ssim e que há algumas diferenças importantes entre o
e que serve, metonimicarncnte, para denolar o lodo. Knrapnna (LG) ou
sistema de nomin~ção dos 1\.1kanoe aquele dos.lê e dos Dororo.
"Mosquito" para Múlea (K) é um exemplo de equivalência direta; Tatuio
ou Totú-Tapuio (LG), "Povo do Tatun, equivalente a Pamoa'(n, nome de
Os Tukano' e seus nomes um dos clãs de um grupo cuja autodesignação é Hüna (T), é wn exemplo
de metonímia.
Os grupos cxogãmicos tukano são convencionalmente descritos co-
Os Tukano compreendem um sistema social aberto localizado na região
Vaupós.Uaupés ao longo da fronteira equatorial entre a Colômbia e oBra.
mo "patrilinearesn, um termo que poderia ser tomado para sugerir que a
identidade do grupo, o pertencimento a ele e o propriedade estão todos
sil. Estão ciiv.idido's.cmcerca de quinze ou mais grupos interligados matri-
baseados em algum princípio abstrato e a prior; de descendência. Na pH'i.
monialmente, cada um deles associado a um território particular, que rei.
tiC8, as COiSilSfuncionam de maneira oposta: é a propriedade material e
vindico des~encip.ncin de unl ancestral comum e que possui um conjunto
.:' imaterial e as noções de essência, propriedade c identidade que cQnsU.
distintivo ~e bens que inciiJi i!1strumentos musicais sagrados, ornamen .
luem os grupos e os lomam "pntrilineares" - e aqui a língua, os nomes e
tos plumários, 'musicos, cantos: (6~"!'}lasmagicas e nomes. Em pr'incípio,
a nominllção passam a primeiro plano. Muitos dos nomes próprios, sagra-
cada grupo exogâmico possui e fala "uzrialíngua dHerente, de' modo que
dos, para os grupos exogâmicos são derivados de ou conotam o nome do
tlS pessoas.de~eriam se casar com falantes de uma língua distintá da SUB,
ancestml do grupo elou a sua posição cosmológica. Assim, um dos nomes
um trnço associado'ao multili~g:illsmosislêmico. Antigamente, os Thkano
viviam em g'rlmdes casos multifamiliares ou malocas, sendo o núcleo resi- próprios dos Barií (LG) é Wai Malta (E), "Povo-Peixe", os descendentes e
'",
as ma-nifestações de Wai Pino (B),Cobra-Peixe. Outros "Povos-Peixe são
dencial formado p.orum grupo'de irmãos com suas esposas; atualmente, fi
os Pirá-Tapuio (LG, "Povo.Peixc") c os YuruU (Wayara, .'Povo-Peixe"].
maioria vive em.al~eias.t:!ucIea~as, inspiradas nas missões., Os dados de
Uma outra manifestação de Wa; Pino é Ide Hjno (M), "Cobra d'Água", o
que disponho provêm basicamente da pesquisa de campo enlre os Bará
ancestral do Ide Moso (M) ou Povo da Água que forma um segmento dos
(B),Barasana, ,Makuna (M), T~iwilnà..e Totoyo (T) da bacia do Pirá-Paraná
Mekuna (LG). Porta.nto, os Bará, Ide Masa, os Pirá-Tapuio e os Yuruli são
e de trablflho's'publicados sobre os Makuna, Thkano (Th)3e Cub.eo. No
todos Povos-Peixe/da Água: são "innãos" e constituem parle de uma Ira.
enlanto, tudo parece sugerir que, co.mpe:quen8s y.Briações,o sistema de
nomes e nominaçiio de que vou tratar é comum 8 todos os grupos'tukano tria não nominada. Do mesmo modo, os Barasana (LG), que são descen.
do Noroeste.Amazônico e, prQvavelmente, também aos seus vizinhos ha. dentes ele Yeba Meni Hino, "Cobra da Terra Meni"<tsão Yeba Masa ou "Po-
n;wa (ver, p. ex., Journet 1995:52-5.4). vo da Terra" . Outro npovo da Terra" são os Tu.kano (LG) ou Ye'pa Musa
•• HOMl1$ ~tCRl:!TOS n RIOur.l.A VIStvt!L

('fu) e os Yiba Masa (M), sendç os úllimos arins dos Ide Masa e consti-' l_ -' sag~ados (basere wamc; wame gO;O)'..Ein .certos caSOSsão os ~es~05 d~:.
tuindo parte do outro segmcnto'dos Makunn .. - d~' .ancestral, em alguns são os no~es d'ados 80 clã por seu ancestral e em:
Jackson está correta ao afirmarq1,lc, na região do V8upés, 8 língua .-o~tr'?s são derivados do nome do .ancestral. Esses nomes sagrados encat~
lundona com~ um emble~a codificado da identidade do 9luPO (1983: 165). nam.~ pot~nd8 e a essência d? clã l:7~ão, nornlalmcnte. pronunci~d~ ape~.
No entanto, é muito mais do que isto.:é também urna ma~Úestnção da es- ..nas no contexto e nas fomias- especiais de discttrso uttlizados durante ,os.
sência, do espfrilo e da patê'ncia do grupo, uma essência e Ul~llipotêncin encontros rituais: no discurso ordi~ár1o. os clãs são rcfcrido8.~r seus
que estão condensadas nos vários nomes sagrados que um grupo possui e nomes comuns ou pelos noines joçosbs (waine, ahari wamc). . .,.
nalíngull que fala. Isto é evidente nas palavras utilizadas para denolar a .~nquantb seus rÜhos, os oriceslrais.do clã são partes destotalizadas e .
própria linguagem. Em b.arasana, nyemero, "língua" [o órgão), oka, ".qua~. m8~ifestaçôes do c~,bra áriceslrol, Qssj.m'como 05 instrum~ntos sag-r~4oS:e ..
xo" e o sufixo possessivo -ye nas expressões yüa-ye. mU-ye.,Qu ina-ye, ~o
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outras parafernálias ritltais 'Sãose~s óssos e oulras partes do corpo. b~'pro •. " .
que pertence fi n6s, a você ou 8 eles" todos se referem à "Língua" [lingua..,
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c~ssos de de.stotalização c-geração iinplicam a translção entre d~is 'eslo~ .
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gem). De modo mais abstrato,,em frases como buli-oko, "força", kunj.oka, . dos. No plano das origens ..os filhos .~~~ãomais próximos de se to~arem.
humanos do que o pai; na.vida htlm6n~, os pais estão m5is próXim~s aos'
"proteção, poder defensivo", ou guari.oka, "impetuosidade, poder agres-
sivo". oka significa "comportamento, qualidade, capacidade, disposição a~cestrais e à ~tncestra1ida.de do ciú.e ~eus filhos. Os aI1c~strni's da co-brii ..
etc .••.Do mesmo modo, na maioria ou em todas ll.l~lútguas da família tuka- ~ã-oregularmente refeddo~ co'mo "rÜhos'\ Assim., no contexto ciãs:narrali- .
no, wame significa tanto "nome" quanto "coisa". enquanto na língua tu- . vas núticas conhecidas de lodos, o ancestral dos Bará figura. ~omo um'a &-.
kano propriamente dita, wame-TO ("nome-coisa") significa "força ....Os no- vindade chamada WaJ Pino (B) o~ "C~bra Peixe", emquonlo ~o conle~t~
mes são a essência das coisas. "d~scantos borá relacionados II suas próprias origens, ele figura com~ Wai '
. Basere, os "encantamentos soprados", a elocução silenciosament~ Pino Makü (B), "Filho da Cobra .peixe": As nautas sagradas e o~ ti'om'petcs '
proferida dos nomes esotéricos dos seres vivos, serve para controla! ou ou furupati (LGJ, os ossos do ancestráf, também são seus filhos, em si mes- ..
transformar as manifestações do seu espírilo. Os nomes próprios e sagra- . mo~.pessoas, seres .espirilmlis (Jlec) .lra'nsicionais entre os verdade"iros ~~. .:.
dos de individuas (basere wamc) são atribuídos pelo sopro, um processo cestr~is e os verdlldeiros humanos, Eles não têm carne nem san'gue,_nius
que envolve üsü wasoase, fi "Lransfonnaçõo da nlmo, do espIrito". Do mes- ,tâm almas, vozes e r:aomessagrados quê se sobrepõem àqueles dos ances-
mo modo, os encantamentos soprados sobre os alimentos derivados de trais do clã e aos nomes de,seres hU.~8'DOSverdadeiros. -
animais para torná-los seguros envolvem a listagem dos nomes esotéricos "Além de seu próprio nome.sag~~do e do(s) nome(s) de se~ Ancestral,'
de lodos os animois no clilSse,relevnnte, junto com os injunções performnU- cáda gr~po lem, assim, nomes para (?s ancestrais de seus clãs ~ompQnen-
vos que lavam, limpam, quelYrnm ou por outros meios neutralizam seus les, nomes para os clãs eÚl si, nomes pára os instrumentos sagrndos,e !1~-
potentes atrib.utos. Assim, as capacidades e essências, os lfnguBs dos dife- mes para os seus componentes hum-anos vivos. Dado que os ancestrais .do.
renles grupos ;~iiQ~nerenlemente ciistinl~s, Não importa muito se são. de _clãc as flautas siio, ambos, parles dcslot"alizadas da mesma entidade, pois
fato, idênticas. como fia "endogamia iingü(stica" dos Makunil ou Cubeoi as.flautas são ancestrais do clã com uma aparência diferente e as pessoas
quase id~nlicas. como no caso dos Barosana e seus afins'Taiwanoj ou mui- ~ivas portam os nomes dos mor~os,'há aigurna justaposição, mas não tolal, ..
lo diferentes, cwno ent~c 'ó~D~rasana e TQluio~..Em essência, elas slio sem- e~tre esses diferentes conjuntos de nomes, tanto em termos de. seus no-
pre diferentes. O'~nesrilo se aplica -aos ornamentos plurnários e aos instru- mes reais quanto em termos de referência semântica. A compl~a' elabora- -
mentos musicais sagrados. Ç>sornamentos e instrumentos de todos os gru~ ção.de nomes para ftnccs~rais.,grupos e clãs ê um troço marca~te, ela cut:.
pos tukano pa~eccm)4~ntiços e
são feitos dos mesmos materiais, mas seus . tura tükano (ver, p. ex., Brüzzi Alves d.rSilvll 1962:fi9-136; Pulop'1954} e'.
nomes e orige~s'fnític8s -s-ü-hes'peclficosao grupo, os instrumentos são os cercada de muito sigilo e de interptetações políticas e rivais. Mais do que
ossos de seus ancestrai~ e cada' gruPo dá voz a eles à sua maneira. tentar especificar a relaçõo preciso entre esses conjuntos'dê nomes ~
Cada grupo está dividido em um ou mais conjuntos de clãs hierar- provavelmente uma tarefa impossívcl- C!fercçoos seguintes exemplo~.
quizados, cujos ancestra~ são os rilhos da cobra ancestral original, classi- Yeba Meni Hino e Meni J{umu são.nomes sagrados do ancestral dos
ficados por sua ordem de nascimento. SarJa clã tem um ou mais nomes Batasana (LG), um grupo cujas autodenomü~ações incluem Han,cTa e Veba
'.~
NO'-tCS $feIlETOS ~ RIO~l.A VlstVLL
NOMU st!CllI!TOS 11 RIQUCZA VlSIVl:lL

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Masa. Meni rigtml'outra ~ezem'Meni Mosa, "Povo M~ru",o nome de um uma criança, é dfldo a ela um nome pertencente a esse repertório e que foi
clã barasana, e ,tanto Yeba' .quanto Men; figUIam.~?m.ó'0'5 nomes sa-grados previamente POl'ladopor uma pessoa morta do mesmo grupo, do segunda
geração ascendente, um pai do pai (FF) real ou clQ5Sificotóriopara roem.
dos indivíduo,s masculinos
. . bnrllsana. Do mesmo mo'do Maha "Arara" , é,
.' ., '.' nos e uma innii do pai do pai (FFZ)paro meninas. Os indivíduos recebem,
ao mesmo te,mpo~um,!l0me sagrado para indivídu~s do Sexo masculino,
portanto, nomes de membros falecid:osdo grupo, tal com~ estes haviam re-
o nome de uma lliiuta sagrada e o nome de uma-divindade que'é, em si;: .
cebido os seus nomes; os nomes dos vivos são 'logicamente os nomes dos
,,'
uma manjfcsh~ç~,b'de Yeba ivreni Hino, o ancestr-~l do ,grupo barasana.
at1,ces,lrais.Como o conjunto de nomes é restrito, dois ou mais indivíduos
Mais uma vez; qs' ,Ba'~á,descendentes da Cobra Peixe, são o povo da água
leriio freqüentemente o mesmo n~me,
{ver acima}; MQ.Kato, ';P~'to", c Yawira, a'mbos'sãon~mes de mulheres
As pessolls enfnti'lBJnque o porlador anterior do nome nlio est6 reen-
barão Os Jl.nlo~'vj"ve!nna ág'ub.~ YqwJra é Úlha da Cobro P~ixe,
carnado na cri£lnç~;esta substitui o epOnímo mas não fica no seu lugar.
Tudo isso é''''el~va'nte.~oi~'<;omoobserva Lévi-Strb~SSacerca de siste-
, , Cruciaimentc, não há equivalente para as relações de Dominação tirnbira,
mas de rio~~aç~9 ~ir1JilaTes;~~ntr~indivíduo, clã:e ~rupo.exogânúco. "há
em que II equivalência mútua entre. os homônimos significo que um le-
uma homologia entre o sistema de indivíduos no inter'io~da classe e o sis-
-ceptormais novo tomará a posição social de seu homônimo' mais velho e
temo de cins~es rio.0[erloide cate"goriassupeJio~es".(1966:172;ver, tam-
vai se dirigir aos outros pelos termos de parentp.5co usados pelo ep6nimo.
bém, S. HlIgti~Jones 1977).,Nó entanto, eom os 1\ikano 'nâo encontramos
j

O nome é comparado a urno fenda ou a um espaço oco (1011) que deve ser
de filio, um Sis.íp~~'bem nr.nimado em que'os,n~m~s' 'do~'indivíduos sã~
mantido preenchido, de modo que todos os nomes disponíveis continuem
consislentc~ente.'."partes" literais dos nomes de 'clã ~ounomes.de ~lã lite- .
em circulação. Através da nominação, o indivíduo adquire a identidftde de
ralrnenlc "partes dé nomes de grupos, como nos cn;ós discutidos por Lévi-
grupo e uma parte da alma do grupo, enquanto a coletividade dos viven~
Strauss (1.966:173.-174) em que, por exemplo, os homens de u~ clã Urso
tes é a continuação dos ancestrais e mantém vivos suas memórias, nomes
porIam nonies tais como Garra de Urso, Urso Ne9roiÜrs~ éorredor e~c.
-, e vitalidade,
Cada nome é pensado comoincorporando qualidades particulares que
se ligam ao portador, um ponto vinculado à especialização de papéis. Em
Nomes Pessoais
teoria, n posição hierárquica do clã é associado à ocupação, de modo que
o clã siluado no topo, ou os Ninnãosmais velhos", são os cheIes, seguidos
Vimos acima que lIS divindades, os anc6stTnis, ~s.instru'nientos sagrados
pelos dançarinos e cantadores, guerreiros, xnmãs e servos, em ordem des-
e os seres humanqs todos têm' {um ou tbaisJ nomes p~ssoais. Cães e onças,
cendente. Também em teoria, o mais velho de um grupo de germanos mas.
ambos yai, t~mbém~Ô:JI:1 nomeS pessonisG, enquanto mitros animttis pos-
suem apenas ~esighri~ôes~e:;.éspéci~.,Essesnon:.esde espécie também são
°
culino deve lia ser chefe da maloca, o seguinte um dançarino e assim por
diante, Os nomes de espírito lwnbém estão ligados a essas idéias, de mo~
usados ~6ra se dirigii' aó~ 'animais de estimação:"":' como, por exemplo,
do que, para as crianças do sexo masculino, o xamanismo e a escolhn do
"porco dó mato, v~m cá;!".0s nomes 'de muitos pássaros e sapos são ano.
nome ao nascer deveriam detenninor o papel que assumirá na vida adulta,
matopéicos --;-o'que signií.ica que rev~.lamseus próprios nomes não ape-
No prático, não há nenhuma divisão de trabalho entre clãs diferentes e
nas na sua coloração distintiva mas também nos se'us cantos ou gritos.
manter uma rígida correspondência entre papel, ordem de nasdmeoto e
Além de seus nomes cotidianos, 1I1ailúferos,.pássaros e peixes têm um ou
nome seria difícil de alcançar de modo sistemático. Não disponho de ne-
mais nomes esotéricos que podem ser iltÚizadQs'e'mencantamento~ pa.
nhuma evidência de que isto aconteça, além do rato de 8S pessoas, às ve.
ra evitar q~e causem males. Esses noines são o aspecto espiritual de seus
1.es, afirmarem que seu nome é um unome de díinçorinou ou "mo nome de
",'
referenles, de modo que nomeor olgo é conferir poder, uma peculiorida.
guerreiro" (ver, p. ex" Àrhem 1984:177 e ss" n. 20, 1981:128), Essas afir-
rie que se aplica 'também aos nomes secretos de .grupos e indivíduos.
mações podem estar relacionadas ao uso de honoríficos. Além de bü/fÜI
Os indiyíduos, 1ti'~~nQtêm três lipos de nomes pessoais: nomes de cs.
bükiio, velho", amplamente utilizado para indicar respeito (como em
ft

pirita, apelidos c 'nomes ae, estrangeiro, Cada 9,rupo ~xogâmico possui um


Mario bükülSofin büküo), os honoríficos kumu e boyo indicam os papéis
conjunto particular de i\omes de espírito específkos quanto ao gênero
de X8111ã e dançarino (como em Pedru kumu ar Sira boya), Ao longo do
(basere w~me~bü](ü ~vame, nnÇ?mexarnânico ou an090").7. Quando nasce

'.
" ""OM~ SCCJ:nos e RIQUeZAVlsfvEL

tempo, e a partir de um precedente especialmente notável, um marcador e modificados de


tanto acordo com as demandas da fonolo~i8 d'as di~~re~.•,
de papel social pode acoplar-se a um nome particular; assim, nem lodos tes'línguas tukano, quanta com o c.apricho individual. Emborá possam S~t
hoje chamados Sir~ baya são efetivamente dançarinos. alterados ou acrescentados mais tarde,' nomes como estes S,fi~.conferid9s
Os nomes sngr~dos ou espirituais [armam um aspecto do espírito não 'làgo após o nascimento, quase sempre pe~os pais, mns, idealmente, por'
corpóreo ou alma (üsü),fomecem um elo direto com. Os ancestrais c são .uni agente externo e. melhor ainda, por um missionário em .u'mrito de
um aspecto íntimo. secreto do eu. As crianças, especialmep.te as lilhas, são .batismo. Tal Como os nomes Jacas-os, os nom.es de estrangeiros .po~e~ for-
freqüentemente chamadas por seus nomes de espírito, tanto em rercrên. .mor par com os nomes de espírito, de'modo que, através de várias gera.
cia quanto no vocativo, mas este hábito cessa quando atingem a puberdo. ções, diferentes indivfduos podem comparUlhm o mesma combinaç50'~c .
de. Os adultos não mencionam seus próprios nomes de espírito, não os Te. 'nomes sagrados e nomes de esfrangeiros. "
vc-lam aos oulros e podem se ofender se os ouvem falados. Estes nomes são ,,'
Após o nascimento de uma cri.ança, o pai ou n mãe podem:ser .tecri;o~....
raramente usados em referêncill, de modo que, para além do grupo de pa- nimicamenle denominados por qualquer uq,. dos nomes dn'criança,.to~1C~ .'
rentesco próximo, O nome de e~pírito de urna pessoa é geralmente conhe- . em HaUro Ha}{o/ü, "mãe/pai de HaUra": A forma lImãe/pai d.8'CJian'ç'a.".
cido apenas por ouvir falar. Em cont~xtos comuns, apelidos, nomes de es- (suJw ha.ko/ü) também é usada. Embora os outros possam se rer.erir.a,uin
trangeiros ou tennos de parentesco são usados tanto em referência como homem ou a uma mulher como "mãe/p~i de X", o uso da tecnonímt~ co-
no vocativo. mo vocativo é quase exclusivamente restrito aos pais entre si,:s~J.ldo tipi~'~.
Além de um ou mais nomes de espírito. as pessoas têm regularmente camente o mnrido quem se dirige.à esposa através da referêilCia ao seu :-;:
pelo menos um apelido. Os apelidos. (ahari wame, nome "jocoso") correm filho. Este uso tende a ~:Ulllinuirà medida que a criança cresce, mas s.~r$i-
ao longo de um espectro. Em uma extremidnde estiio os nomes jocosos ver- nida quando nasce uma nova criunça. Portanlo, em contraste Com os',Ara- •.
dlldeiros, a maioria dos qU6is se ref~re ao ni.~;I~dodos mamíferos, pássa- ••"eté (ver Viveiros de Castro 19'92:1.4.3),o Caráter temporário e m.ó~el:.d. B.
ros c peixes: Maka Hino, "Jibóia", Yese Hoo, "Caheio de Porco do Mato", tecnonfmia significa que não se pode dizer que o primogênito' seja <? q~e "
Siru, "Japim/XexéulRouxinol-do-Rio-Negro" e Wan; Hilro, "Rabo de pei- dá nome aos paIs. Além do mais, a tecnonfmia lukano é sempre, transge- .1
xe-geográfico" são exemplos. Aqui, a~ palavras 'perQem seus referenles :racional e assim, diferentemente do padrão araweté (Viveiros de Castro'
originais: aquele que é chamado Jibóia não é de modo algum uma cobra. 1992:144), um homem nurici~ pode ser tratado r:omo "parceiro de X"'. FI-
. '.ir
Outros apelidos têm alguma referência direta ou oblíqua à vida, aos hábi-" ri~lmente, embora não haja evllação ~xplíciln, as pessoas mostram'u.ma i
tos, à apa.rênci~ físico.ou caráter do portador~ corno uma criança RiU, "Car- certa relulânda em nomear ou mesmo. em se referir aos que n1orre.rl'lmre.
vão", que eslava sempre suja, e Güso Lise, "Boca de Jacaré, que fora mor- centemenle. Se o (azem, têm o cuiuado de apor o sufixo -nymabori, o equi-
1
dido uma vez por um jacaré. Inventados e empregados por diversos Ou. valenle ao espanho.1 "finado", ao nome relevante ou leono de pari!ntest;b .. .1,
lros, esses nomes não.trnnsferíveis e biográficos servem para individuoli- I
I,
?..Qr o portador. Na outra cx(cemidade do espectro estão os nomes comuns,

veneráveis, semI-sagradost cujo conteúdo semântico é semelhanle 60S dos Endonlmia e exonímia
verdadeiros nomes jS'côs~s dos quais, suspeito, eles podem derivar, mas
que agora forromn par com nomes de espíriLo e são transinitidos com eles. . Antes de prosseguir, vale a 'pena enfatizar alguns dos principais peritos que
Embora não sejam secretos nem sagrados, os nomes jocosos de um emergem do moterial apresentado'acíma. Deveria estar claro agora que
adulto são, no entanto, íntimos e demandam respeito. Freqüentemente usa- os nomes de espírito lukano estão, 'de várias maneiras, ligados aos .nom~s
dos em referência por aqueles que os conhecem, são empregados como' (iã constituição cios grupos fIOS quais pc'rlc.ncem. Os nomeS do esp;rilo 5ii.o .;
vocativos principalmeIl.te por p~rentes e amigos. Entre os afins de sexo os .nomes dos ancestraIs do cli't,'são propri~onde dos grupos exogâmicos
masculino, a zombaria que envo~ve os apelidos ~ um componente_ quase aos quais perlencern ~s clãs e scrvcm.para.perpetuar a ex1slênci~ e a viltf: ..
obrigatório do jocosidade rltualizoda que ocorre naS festas de c~uiJ1l.Mais Hdad."e do grupo que está acima fi a16~ da vida dos indivíduos que;te.m-
lugar. comum ainda são'os nomes de estrangeiro (gowa wame), a maioria .porariamente, são seus portadores ..Os nomes são partes de um todo ,e,:ao .
nomes cristãos colombianos 01} brasileiros que são, em geral, abreviados p~r.l~r um nome: o indivíduo em questão c~mparlilha a vitalidade do 'gru:'
50S' NOMES SECIlt!TOS E RIOU~IA\'lslV!!t
,
NOMES SECAETO!,( B 11IQUJ!ZA Vlslvl!1,
i'
I
~. !

po e é identificado com ele. Além disso, assim coma os indivíduos têm no.
~:
., à sua biografia individual 8. Mas os apelidos também partilham mna certa

rnes ~e trê.~tip~s difer~ntesj'os grl.!-posexogâmicos e ~lãs também são co- I•r.. qualidade externa tanto porque muitos deles (tnlvez a maioria) aludem i
I
;!I'
direta ou indiretamente ao mundo dos animais, quanto porque surgem
nheClda~ por t1m~ co,lylbinaçãode nomes s.ngrados,'ap"elidos e nomes de
estrangeiro. .: " .
~
como camndns adicionais de vestimentas atribuídas por Outros na vida l'
Viveiros de Castto (1992:155)observa quc, assiril~o'moos grupos tu- , subseqüente, enquanto os ossos e os nomes sagrados são aspectos inte.
pi obtêm suas'csposas no interior do grupo e.seu:s nomes fora dele a en-
donÍmia dos Thkan~ e dos Jê também é a contrapártid~ ~e 'uma ênf~se na
.~
'.,
grais e interiores do eu e da alma' adquirida no jnfclo na vida (ver, também,
C. HU9h-Jones 1979,134-135).
Apesar da orientação externa predominante da cosmologia araweté,
!I
II
exogamia, um ponlo que será mais explorado adiante em relação às na- II
sua pre~erência por dar fiOS primogênilos nomes de membros falecidos <10
ções de alma e 'espírito.
grupo confere uma qualidade endonÚTIkoao seu sistema de Dominação. !I
O tom geral ~f?si~tema de nominação tukano é,' na :verdade, endonÍ-
Viveiros de Caslro sugere que essa aparente inversão se relaciona ao lato ii I
.;. mico; 05 nomes sograd.os,'qs q~e realmente impo~i.am:são transmitidos !
de que, para os Araweté, os nomes pessoais têm, comparativamente, um
internament~ ao grupo, servem para perpetuar a sua.',existênciae têm fun-
"baixo rendimento sociológico e cosmológico" e desempenham apenas um
ção genéric~ e ci.fissificat6ria,em que a outorga de úm. nome oriundo de
um conjunto determinado estabelece e afirma o 'p~rtencimento ao clã e'
ao grupo. No é~lan,to, os o,omes que as pessoas usam em sua vida diária
papel subordinado, secundário em sua estrutura cosmológica (1.992:150~
151). Para .osThkano, os elementos de exonírnia em seu sistema de norei.
naçâo, prcdooúnantemente endonímico, são consistentes com uma com~
I
e que servem.para individualizá-las vêm de fora'.jst~ é inteiramente ver-
plementaridade mais geral entre dois modos de reprodução e conlinui~
dadeiro em reln'ção aos nomes de estrangeiros, q.uc.sã~ exlernos por de-
dade, um linear e baseado na transmissão de sêmen, ossos, nomes e ou-
Onição. "
tras manifestações intemas de subslâncias anímicas no interior lIo grupo
Em um nível.'mundano, esses nomes exóticos são, uma alternativa
agnático, e outro materno, exterior e associado à afinidade. Os Pano têm
conveniente ao.s.~omes in~rgenas secretos e, junto com os pntronimicos
um sistemn de nominação endonÍmico que Iunde os traços já e lukano.
colombianos e brasileiros, compreendem partes de~ejndas e cada vez
mas aiuda depende do exterior para a produção de "identidades" (Vivei-
mais necessárias dn 'p~oc~sso .de, modernização. Mais esoterlcame.nte,-'
TOS de Castro 1992:155).As identidades tukano provêm largamente do seu
esses nom,as ta~bém..it:lcorp.oram"Os,poderes exóti.cos e externos (ewa)
interior, no entanto é como se dependessem do exterior para a produção
dos estra"n9~iros:.~.ca~o',i~usisóbvio em questõÇ)foi a adoção do nome Cris..
lo pelos lideres dos mávimenlos messiânicos do' sêculo X[X, e o uso de no-
de corpos. Isto fica claro nos eventos que cercam o nascimento c 6 outor- I
mes como'Sa~l~iago; ~ Poro (Pt\.ulo)p~los adeptos dQ7ulto."~o enlanto, plHa
ga de nomes de que vamos .tralar agorn. I
alguns Thkano~m.a!.~"tradicionais", mas de modo'mais difuso, essa apr~. iI
priação de.pod.e.resdo~.e~trangeiros incorporada 'em seus nom~s continua II
Nascimento e Nominação I,
nté o presente" S~.os iro~~s'.sagra~os-sãO manife~tações de ancestralida. ,I
de, alma ou espírito, enl€fo.t ~s.nomes de estrangeir.~s p"bden~ser mllnifes-
o processo de nominação acompanha os processos de desenvolvimento, 11
tações de'.anliespfJito e os;brnncos seriam como.antian'cestrais. Duas cai. ~I
de modo que uma pessoa adquire nomes no início da vida e deve despir-
50S justificam 'e~tásugestão. Po~ttm lado, com a mo~ie, ~s ~omes de espf-

rito retornam ~_scasas dê.origem ancestrais, ou.cas~s de l!ansformação


se deles no firo. A maior porte das inIonnaçõe:::clisponfveissobre os even~
tos que cercam o nascimento tukano não procede de observação em pri-
!f
!~
(maso yuhiri wiJ, Hcasas do despeitar das pessoas"), situadas nas corr~-
meira milo, mas de depoimentos gerais c idellli7.ndos,a maioria deles pres- iI
deiras e nas saliências rochosas. llor oulro, os xomãs falnm dos espfritos
tada por homens. Apesar dessas linutações, todas as fonles parecem con. II
dos mort~s vi~enrlo em uma morado"celestial completa, com geradores, !!
corda r nos pontos principais. O que se segue é um breve resumo basea~
Jâmpadas'de rua e lodos os outros adereços das cidá:des locais colomhja~
do nos meus dados. e em duas fonles inéditas sobre os Makuna!l.
nas e brasileiras. "..
UIna mulher, normalmente, dó à luz nas roças de mandioca em lorno
Em co~tr,aste.com l!mbos,os tipos de no~es espiritualmente carrega.
da casa: ela é, em geral, assistida por sua sogra ou outra mulher experien.
dos, os apelidos. mundanos relerem.se aos aspectos corporais da pessoa e ,.
...
" NOl«S St!C1Il:TOS l': R~QUr:zA VJSlvtl

.. j
te que se torna ti "ni~dtlntta~ (masolio) da criança. Não há homens pre- d,o espirituallmateriaJ dos anceslrais para assumir forma material aVqu~C. . JI
sentes. O bebê é pintado com tinta preta (wee) e banhado no rio; a mãe. agora, o bebê como carne e sangu.e, o n.ome co~o pintura 'venne1ha (para "
então, retoma à casa ance o rosto e o corpo do recém-nascido são ungidos meninas) ou cera de abelha (para' meninos) aplicadas.em seu .corP~.:O . .l
com pintura vermelhà (günanya). Antes de sua entrada, os homens remo-
vem de dentro delo,todos os b~ns domésticos - itens rituais, armas, ba~.
nome é o hee üsü ma, "o caminho da alma ou elo com os nrices.u:.6is••..
~ en.'.
quanto o xamã sopra, Oseu sopro confere vida, um processo, de tran.sf~r- ~
I
cosopoles e outros apor,Dtos de cozinha etc. - e eles mesmos saem da c~~ mação que começa durante o tra.b8lho de parlo, mas que 56 é .~onduido
..;
Sil. Um xll.mã faz então B. "fumiga-ção de~ta com cera de abelha inca~des- no finar do período de rer.1usão.
cenle, um ato que marca B separação enlre os vivos e o mundo dos espíri- . A partir deste breve relato, emerge ':Im padrão de nnsc'imento d.up!.ol..
tos {ver S. Hugh.Jones 1979:186-189}. Os pais e a criança fkam então de 'que é ao mesmo tempo malerial c.espiritu81, que acontm:c. tanto n.n.r~ça
três li dez dias reclusos juntos, em um compartimento no interior da casa. corno no rio, que vem lanto da mã,e quanto do xamii, e que é ré;d'upIfcndo
Durante esse período, as atividades e a dieta de ambos ficam restritas pa. nas seqüências paralelas do banho, que estruturam o pedodo de reclusão.
ro evitar males à criança i t;Jn partic:UJar, o pai deve abster-se do trabalho. "Ocorpo do bebê é formado por sutistância~ lornecidas por ambos '00 pais:
O fim da reclusão, com seus alimentos e outras TE!strições,é marcado pelo o s~men paterno se torna,osso e o.sangue materno se convert~ em.c~;iie
banho no rio dos pais e da criança, tendo 6 água sido antes tornada segu- e sangue. Como uma entidade viva; o bebê também tem uni coração,'pUi.
ra através da (umaçn (de lenha, tabaco ou cera de abeUla) soprada por um rnões e respiração -Iodos eles üs~. À'linha de sêmen que passa d'o riai
xamã, ou um homem ou uma mulher mais velhos. Antes do banho, li mãe para a criança c a relaliva' durabilidade dos ossos em relação õ càrne !;80
e o bebê têm a pele pintado com uma tin~ufll,preti\ (wee), lodos os bens importantes idiomas de patrilinearldade tukano. Os instrumentos sagr~-
domésticos são mais uma vez removidos, os moradores saem e a casa é dos mostrados aos rapazes na iniciaçãq' são, simultaneamente., 95', ances-
novamente fumigada com cera incandescente. Umél.v'ez de volta il esta, o trais do clã e os ossos do únic~ lmcest;al. do grupo que adota os inician.dos
bebê é novamente ungido com pintura vermelha. Agora é considerado co'mo filhos {ver S. Hugh-Jones 1917}. Sob forma simbólica, esses,~itos
completamente humano e seus pais podem retomar gradualmente sua t?mbém envolvem a transmissão de sêmen dos mais velhos para os mais
dieta e as atividades normais, novos (ver S. Hugh-Jones 2001). . . .
Os grupos tukano mais centrais e ao norte, como os Desana, Cubeo Se as idéias tukano que dizem respeito li concepção revelam ulila
e Tuknno, adiam o nominação até que os ossos do criança estejam dUT:oS relação complementar entre scmen~o~so agnálico e cnrne/sangu"e por n.Ú..
e ela comece a llndor e (alar, considerando que os nomes são muito "pesa- nidade, os rituais que envolvem o nasCimento inlroduze'm um novo ord~.
dos. e potentes parlJ serem p.Q.rtadospor bebês pequenos. Aqueles que .namento lia mesmo tema. lnicinlmente,. ma'rido e esposa estão sepalad~s: ..
e
vivem nl) região do Pirá-Paraná nns redondezas conferem nomes às suas quando a mãe dá à luz, o pai fica 'con(os outros homens. Esla s~pa'raçlio 'é
crianças logo após o nascimerttoj neste caso, fi justificativa é que il Domi- en~atizadlJ e encerrada pelo banhb.dado p~la mãe em seu Hnio, pela Úl~
nação "transforma e modifica a abna" (üsü wasoase) da criança, dando- C,8hdescência da cera de abelha e pela remoção dos homens e dos bens.'
lhe força e vitalidade e. aumentando suas chances de sobrevivência. . d~.casa, ações idênticas AqueiiJs que' inarc~m o fim da fase exclusivBI~en..:
Como a mãe dó à Lü;'n~.roç8, o xarnã (kuJlIu), idealmente o parente te masculina dos rilos de hliciação .fver'S. H.ugh.Jones Hág:186~169) ..N~
agnállco do pai cla criança: submete.se a um processo parlllelo,'sentando .. .enlaIito, upós a separação inicial, Q' ~a/,.a miie e o recém-nascido são t~a- .
se em um bnnco durante hora~,.a fiO ~nquanto sopra encnntament~s sobre tu.dos .como uma unidade implica'clã,no" bem-estar corporal da cria~ça:e
a pinlura venllelha e/ou a cera de ,abelha (buscre. wanore). Em seus'pen- cornplement{ir ao papel d~ j(lJnlf(d~ loc:a,lizar seu nome e su~ n]~a,.Os" I
samentos, ele viaja para a casa de or,igem do grupo Ou casa de transfor. pais ficam reclusos'juntos.e.8s restrições r~lacionadas, em particular; às .J.
I
moção (musa yuhiri wJl), onde ele localiza n criança em forma de espírito: atividades do pai, mar.ca~ um,elo.de substlincin comum: o que ele ra'z .
i
Consultando os ancestrais (hee büküra), el'e também escolhe Um nome e p~de fazer qlal ao 'corpo' e à vitéllid~de,d,a criança. O xamã, ~omo ú'rn ~ip.6:. i.
um pnpclliluaJ pilra a criança e ad'ivinha seu destino e os perigos que lhe' .dci" "pai" está sujeito às 'me~mas r~stJições que os'pais verdadeiros:. ' i,
podem ocorrer na Vida. Ele, então, ncompànha e protege a crlança~espíri. , A vitalidade da criança, aSÜ"cot.lt~âpõe-se ao seu nome e eSJJ~rito-;- .
to (üsü) e o nome, enquanto )un~os eles se movem graduabnerite do mun- ..; üs-Ci,.aqui como "alma-nome", qu~ está sob os 'cuidados do xamã ~nã~.pro.-
NOM,"S SIlCIlETOS 1; RIOUl:lA V151V1ll. NOMUS SGCRETOS 11 RIOU£1A VI"SIVE1.

'. dos diferentes grupos tukano são idênticos na (orma e diferem apenas no
vém do pai, mas da' coletividade de ançestrais e, em particular, de um
"avÔ" recentemente falecido. A contribuição de 05S0S 'do pai é relativa- nome e na origem mítica. em vez de grupos "matrilineareslt, os nomes e \ :

mente durável,'o nÇlmc do ançestral indiscutivelmer\tc também. Compa- os ornamentos são de propriedade dos clãs pnlrilineares que, ao invés de I;
rando os .nomes às nautas sagradas, aos omamentos.plumários e a outros circularem sua riqueza, guardam-na primordialmente para si mesmosll. ii,.
Ao nllficer, junto com seu nome, uma criança tukano recebe apenas a "
bens, um xamã makuna afirma: "eles são com? o 501- não apodrecem"
(ver, também, c, Hugh.Jon'es 1:979:134.135),É apenas no final da reclu. "
decoração núnimll' sob 8 forma de pintura vennelha e preta. A pintura ver- ã
I
são, quando O' corpo e o espírito da. criança, \lIma-corpo e alma-nome, es- melha, como o "sangue", serve para aumentar a vitalidade da criança: os
Cubeo (e talvez outros grupos) dizem que Q pintura preta ajuda a criança
tão completamente. unidos que ela é considerada cOIflpletamente huma-
li soltar SUll pele Cetal(Goldman 1972:169). Na inicinção - um ritual que
I:
na 10, um momentt? marcado tant{)pelo banho conjunto dos pais com a cri. "

dos bens d~méstico's. ": ~.


..
onça, como pela q\leima de mais cera de abelha.e por.U;ffio nOvaremoção
. .
representa um segundo nascimento e que repete as seqüências do banho
e da pint\lTl'\descritas acima -. os meninos são considerados fortes o su-
ficiente para começar fl usar os poderosos cocares e outros ornamentos
.... Uma seção de um'mito que {ri'rInaa base de .grande parte do xnnlB-
nismo envolvendo' o parto esclarece esse' padrão de duplo nascimento. Su- que marcam seu status de adultos. Ao mesmo tempo, o xamã-guardião
gere também que se a orig~m material dos b~bês está nas mulheres, sua do menino (gu) reafirma o papel que foi escolhido para ele ao nascer. O
origem espiritual está 'no rio. àssim como tod"osos Thkano afirmam uma iniciando pode também receber wn ou mais nomes de espírito adicionais.
origem aquática única a partir dos ancestrais saídos' da Cobra d'Água; De- Esta também é a ocasião em que tais nomes deixam finalmente de ser usa4
pois que a mãe de WaIimi foi morta pelas onçil~,'ele escapa para o rio, sob dos aberta e publicamente. Portanto, o momento em que os nomp.sde um
a forma de .espírito'.Ali ele brinca com um grupo-de crianças que tramQm rupoz - componente pessoal do poder e dn identidade do grupo - se lor-
agarrá-lo. Enterram uma menina na margem arenosa do rio, urinam sobre nam completamente internalizndos, e deixam de ser pronunciados, é tam;
bém o momento em que ele começa il exibir aspectos mais gerais de seu ,
sua pélvis e se o'fostam. Enquanto WarÍlni brinca com as borboletas atra(~
das pela urina, ela bate suas pernas e lhe dã à lu~, eoe.amado em 'uma cri-
onça (ver S,liugh.Joncs 1979:277), '
poder sob a forma de ornamentos.
Os ornamentos que hoje os homens adultos tukano usam nas danças
são provenientes de lrês fontes distintas. Em primeiro lugar, cada homem
I:
I'
veste um conjunto idêntico composto por um cocar, um cio.turão de den- :!
Nomes e ornamen.tos tes, uma tanga e oulTos artigos que ele retira de uma caixa especinl que
é propriedade coletiva de seu clã. Em segundo. os homens usam seus pró~
Ii
Os Bororo c Kayapó do Brasil Central estabelec.em um forte elo entre os
nomes e os ormunentos que formam a identidade e.a .riqueza de seus clãs,
prios cordões de miçllngas e outros acessórios, muitos dos quais adquiri4
dos no comêrcio local. Finalmente, também usam roupas, toalhas. sapatos I;,!
e outros artigos que obtêm dos brancos. Os ornamentos de um homem po-
segmentos reside'nciais ou casas. Sempre mantend<?~ c~nttole e 6 propde-
dade definiU~os,.os membros desses 'grupos de perfil !'matrüin'ear" ciren. dem, assim, ser vistos como o complemento visual de seus nomes, pois em L',:
la~ essa riq~ezQ.entre si como.um modo de.estabeieter relações interpes-.
se
cada caso eles provêm de três diferentes fontes: de seu clã, de seus ami-
I,
soais e conslruír'prestígio"'Quando um homem
esposa, seu ~o~e
t6ma pai na casa de sua
~etorna peTB.o filho de sua ilmã ~a s'uo casa natalj'o no~
gos e vizinhos e de estrangeiros.
Os distintos aspectos da pessoa que são construídos ao longo de sua
1:
I"

me de úma mulher passa para a fiI"ilade sel! irmão ctn,uma outra casa, mas vida se separam na morte. A carne apodrece deixando os ossos, mais du- I'
deve retornar~inai's tnrdc para a ro.~te (Lea 1992; 1995). Este elo entre os ráveis, e a alma ou tisü, como a vilolidllclc, torna.se sombril (wlillo) e es~
nomes C' os orn~mentos tamb.ém.é verd~deito para os Tukano. sendo pro- pectro (waa) que pairam em torno do cadáver para assombrar os vivos.
Os homens importantes são enterrados com on\amentos plumários. O rio
11,.
!, :
vav~lmente sig'niÚcativo p.ar9 eles o fato de os pASsaros, cujas penas são
utilizadas n:li confecção dOessesprnamentos, também falarem seus nomes do mundo subterrâneo é descrito como,inundado com os pertences de va- !,
quando gritam. 'Mas aqui b sisterl1a se transConna. Em lugor de atuarem lor do mario, e os mitos de origem tukano descrevem os mortos chegando
I
como sinais'dià_crfl.icosvisíveis de identidade, o~ orn.amentos principais na terra como espíritos de OTllllrnentosplumários, que assumem forma hu- I:
NOMES SECClI!TOS Fi. 11QUI!:tA Vlsh'EL
" NOME~ SflCRETOS E RIQUEZA. VISIV'El

mano no viajer rio /lcima no interior da canoa-cobra ancestral (ver Kumu


e Kenhíri 1980:62). Embora ninguém lenha me llfinnado isto dir.etamente,
encobertas e fortemente guardadast2• Seus , ,
outros nomes são abertamente
.
revelados de diferentes ma.nelras ~ .para distintas categOrios de Oulros c0-
. I "I
a implicação seria que tanto os nomes quanto os ornamentos circulam en- {
mo sua identidade pública. Seus nomes de espfrito pertencem a um 9~uP~
~.
tre os vivos e os mortos. Os ornamentos vêm dos ancestr~is como bens que cujos clãs componentes s? revelam seus ~omes coletivos esotéricos .no,4is•
são herdados no interior do grupo. Os ornamentos no rio subterrâneo tam- ',' .curso rHual, em cerimônias coletivas. Durante os rituais de tro~o.cerímó-
bém são manifestações tangíveis dos nomes de clãs que retornam às casas
.~ . ni'al, os clãs exibem sua força e vitali~ade através do canto, dança e 'orna-
dos ancestrais situadas nos rochedos que formam as corredeirns e nas co- mentação, cantllndo histórias de origem'que detalham como seus ances.
trais' adquiriram. ns prerrogativas que validam SUB posição e id~ntidade.
linas. Os nomes permanecem nessas casas até o nascimento de uma nova
Durante os rilos de iniciação, os horncns:do Clã revelam para os jovens ini- ,
criança. Uma outra irQ.!?1ic~çãoseria aquela de que uma pessoa s6. estará
ciandos os ossos do ancestral nos inslrumentos lnusicois sagrados, c coSi-, ...
completamente morta quando seus nomes tiverem retomado aos VIVOS •.
nam-lhes os nomes e as proezas de seus ancestrais. To! como a vllQ1idade.
fi es~ência e a identidade, algo dos nomes deve ser revelado. Os. }.lomens

Conclusão , 'a.dultos não revejam seus nomes sccrelos,.mas nos rituais eles agem co.
mo pá~saros ..Do mesmo modo que:os pássaros reveJam seus .nornes c:td.
. cantos ollomatopéicos e na plumàgcrn' colorida, os homens vestem seus
Pode-se concluir, a partir do expo~to. que 05 nomes pessoais tukano cons-
..no~~s em s~us corp'os como ornl'lmento~, tocam-nos nas flautas e entoam-
tituem parte de um conjunto tle idéias que dizem respeito fi dife~entes as-
nos em seus cantos e músicas.
pectos ou componentes do co~o e 96 pessoa - sangue, ossos, carne e p~-
Thdo'isso representa uma penhutação particular tukano de um cqr:t.
le: pinlura, amamento e vestimenta; língua, encantamentos, can,tos e mu-
junto de idéias amplarrten'te difundido oa Amazônia. Os seus paralelos
sica; sopro, espírito vital, almQ'~ sombra, Tipos diferentes de nome pes-
~~is.pr6ximos são enco~trados ~ntre ~s Bororo e os grupos jê ~g Brasil ..
soallambém estão ligados a distintas esferas de relações sociais: nomes
Ce~tral, todos situados na extrenlict'ade,endOIú":'J.ucado espectro: sugerido.
de espírito para os relações ognáticas ou c1ânicas; apelidos para as rela-
por viveiros de Castro. Emhora não demarcadas como duás categorias cla-
ções com amigos e vizinhos; e nomes ~stnmgeiros para as relaç~es com ~s
ramente distintas e norniJ,lodüs, as i~éios tukano que di1.em respeito às,
brancos, Tais nomes também devem ser vistos no contexto do oelo de VI-
almas-nome' (üsü), aos ornamentos e tlncestrais (ltee), por um lado, e ao .1
da onde os processos de conexão e desconexão fazem e d~sfazem fi pes-
'sopro/vitalidade (üsü). e sangúe. por.ó~~ro, estão muito próximas aos,prin~
soa, Finulmente, como contrapartida dos ornamentos.c dos instrulllen~os
cípio~ bororo de arae e bcipe, res'pc:clivarnente, essência' imo~tá}, nome,
sagrados, os nomes enlram em uma complexo interaçáo entre o segredo
csp.írito e ornamenlo versus processo, sangue. vitalidade e entropiD;.:(ve.r'
e a revelaçiio, o encobrimento e él exibição,
Crocker 1985).
05 nomes de espírito ou sagrados pertencem a um conjunto que in-
Há, também. paralelos próximos entre o sistema de nomillaçõo tukallo
clui o sêmen c os ossos paterna ou agnat~camente derivados, além de ar.
e.o dos kayap6 e outros grl.:'pos jê do n~fte'. Em ambos os casos: encontra.
namentas, flautas sagradas, ti língua, os cantos e as danças qoe [oram trans-
mos grupos de tipo "linhagem" ~ "patrilincares" para os Thkano e ,"ma-
mitidos internamenle ao grupo corno prol?riedade durável ou bens her-
.trilineares" para os Jê -, cuja identidade, existência c continuidade d.e-
dados. Estes são complementados por um conjunto mais efêmero que vem
p~lidem do controle e da transmissão de conjuntos de nomes' e prerr6g.a..
de fora: carne e sangue derivapos ç:l~lado materno, as pinturas que as mu-
Uvas rituais sobre ornamentos, Vincuiada aos ornamentos e aos rilos de
lheres fazem e aplicam nos corpos dos homens, os nomes estrangeiros e
nominação, a categoria ~ayap6 de nelrrets. ou "riqueza", é mUi,lopróxÍJii':l
05 cantos que as mulheres, compõem para sÍ mesmas, 05 apelidos também
rio gaheuni barnsBllil, uma categoria que engloba todos os bemi e ,'possé_s•.
pertencem, em parte, a este cC??junto:alguns vêm dos pais ~ ~aren'es; mas
.mns que se aplica ertt particular à riqueza cerimonial, propriedade de C8.
muitos constituem parte das provocaçõe~ jocosas caroctensbcas das Tela.
ções entre afins de sexo masculino, '.. " ..
. da çlrupo exogâmico e de seus elas componentes. A distinção kaYBp6 en. '
Como os ossos de uma. pessoa', os seus nomes sagrados vem de den-
tie nomes "bonitos" e "comuns" ,.os primeiros usados em ceri,mÔnias d.e
nominação coletivas junto com o~~amentos elaborado~ (Th~ner 19~!;
I.
tro do rupo e constituem parolede uma vitalidade e de uma força interior
'., .
....
....
••
I
NOMES SECRI!TOS. fi UQUP.ZA VlslV8L
NOMr:S Sl:CRETOS E'.RIQUtZA. '~JSIVE1."
"
",

Verswijvcr 1992':74.'e 55.),~ria 'distinções que slí6 de algum modo análo- o papel da.s relações 'baseadas nos nomes nn constituição e perpetuação
gas à hierrirqtrl.ad.os clã; dos-Tukano. . -... '. de gmpos sociais no Brasil Central colocou problemas para a aplicação
No ent~~to, i~á"
alg'um~s diferenças ímportantes ~rilr~ os Tukano e os de noções de "desce~ê:lência" 13. Os paralelos entre os Thkano e os Jê su-

Jê. A dife~enç6 fêit~':'peIÓs entre as relações de 'nominaçãO e as rel~ções geririam que, se os Thkano devem ser descritos como "patrilineares., cn.
de substlJnciã qu'fiÚação encobtrll algum eco nos eventos que envolvem ~ .' tão deve ficar claro que isto deve ser compreendido à luz do matf',J'iaÍ80.
nnscimenl.o tu~~~: Estc'~enfatizaI;D.os elos subs'taniiv~s éntre os pais e a bre:onomástica apresentado aqui (ver, também. S. Hugh-Jones 1995).Es-
cr.innçfl,ta~to:ell1.oposiçiio ao papel do ~amã como nominador como ao . le material também reforça a tese de que n procriação em si é uma noçtlo
daquele que busca os nome~. HÓ,.na verdade, umn.~e~6çãoesped81 enlre culturalmenle específica, illcluind~ processos de (ransmissfio e outorga de
nomes, .
uma criü~çil e:o xü;mãq'ue lhe dá o nome, mas. esta i'elaç~o está.baseada
nfio em um 'm)n~e'parUlha'do.~nasno papel mais ger~l d~ xamã em prote- Como sugeriu Viveiros de Castro, o sistema de nominação endonÍmi-
'~

ger a criança .ap{}so período do nascimento. O.Xal1!~é j~ealmcnte u.m co tukano é, em muitos aspectos, semelhante ao dos Jê e distante da que.
parente agnático\do pai da criança, e o ilto de nominá-Ia transfonna.o em
i:
"
les sistemas exonÍmicos de grupos CJmazônicosmais típicos, como os Ara-
seu gUflrdiiio:ri,luB!,:OIJ co-pai '(gu), um elo rlluill-importante que será weté (Viveiros de Castro 1992J.ParakCJná(Fausto 2001) ou Pirahii (Gon-
"': '. çalves 1993). Nestes casos, os nomes vêm de agentes externos -animais,
(idColmeri.t~)'repl1~~do e .Teforçado no rilo de iniciBç~o"masculina ou de
puberdade fenuninaI':: .,.. . inimigos, deuses e mortos - e tanto as fontes como o outorga de nomes
Mais uma ve;z,os 'l1"oines üiknno vêm dos avós. 'assim como'OSnomes lêm regulnnnente fortes conolações de afinidade. Além disso, em grupos
jê vêm de 1J~a categoria que asStmila aos avós os gemlaI10S(de sexo opos-
como os 11.1pinarnbó.que eslão próximos dop61o exonímico, a ênfase está
to) dos pais. ~os'a diferença cruciaf'r:eside no fato de que, para os Jê, os no aquisição individual de novos liomes que não devem ser depois trans-
nomes siio t.ransmitidos entre pessoas vivas, lipicamente, do irmão da mitidos.
mãe e d~' irmã do .pai para os sobrinhos/as. "Estatransmisséo inlervivos dó No entanto, um dos objetivos deste trabalho loi ampliar e dar poli.
origem a uma rél.ação cerimonial especial enlre nóminador e nominando, menlo aos insights de Viveiros de Castro à luz de dados mais complelos
e também diz respeito ao fflto de que aqueles que compartilham nomes sobre os Thkano. Conforme indicado acimo, de acordo com um sistema de
são eslruturalmente equivalentes. Esta equivolêncin estrutural signHica grupos palrilinearcs que dependem de seus ilHnspara reprodução, o siste.
que, embora as combinações particulares de tais nomes sirvam para' incJi- ma tukono difere tanlo daquele dos Jê como dos Arnweté, mas por razões
vidu£lliz8r, os ,nomes são basicamente classificalórios e relaciono1dos a muilo diferentes, ao combinar endonímia' com elemenlos de exonílllia.
posições sociílis fb;us aln:l.vésdas'quais as pessoa~ circulam no te~npo.
No caso'tukilno, a relação entre o nominado e o epônimo é.entre o
Trbduçiio de Inrn fcum~
vivQe o mario, l\ÍiQ há relação especial entre fudividuos vivos que. compar-
Rf!r:~hido elll 10 de junho de 2002
lilham nomes. ~.embora.8 afiliação de grupo eslej~ ligada à norninnça'o,
Aprovado em '20 du julho de 2002
os nomes ~m si N50 denotam posições sociais fixas. De acordo com isso, o
'.' .:' processo.de darnom.es é relativamente menos rilualizado do q.ue entre
os Jê, e nunca constitll~pa!IC de uma cerimônia pública e coletiva.
Os nom~s foram e"xcl';1ídosdos estudos de parentesco clássicos, em
parte porque. eram considerados infra. sociais, em parte porque o paren-
tesco era visto qu~se que exclusivamente em termos de procriaçiio. Em-
bora não seja amplamente recohhecido além dos círculos americanislas, o
trabalho do proj~to Harvard.Brasil Central (ver Maybury-Lewis 1979) so- Slep~cn Hugh.Joncs é professor em Antropologia Social na Universily ar
bre as relações.baseadas nos nomes entre os Bororó e os Jê efetivB1Jlen.
j Cambridge. É autor de The PaIm and tllCPleiades (1979)e co-editor de
.,'. Abati'lhe Housc (199S). Sua publicação mais recente ~ -The Gender of some
te, desafiou a idcntUicação do P8rent~sco à procriação e pr~figurou o que
ngora se 10mou conhecido como o "hovo parentesco" (ver Carsten 2000). Amazonian Gilts- (2001).

. ::'.
...
:"

..
•• NOME.," SECRF.TOS E RlOtlC%4 vlSlvel
'

No••,ssac •..,o, • RlOUH1.• v'SI"'" .:1 ". I"


ir

.....
Notas

. I'. pm~mentos plumárlos: e Óutr8s.iiq~2aS rltu~\i.!lslio ocasional~nc~~tc 'troc~:


I Sobre o Brasil Central ver, entre outros, Crockcr (1979); Lave (1919); LC8
(1992; 1995). e Melalti (19i9). Sobre os Pano, ver Erllcson (1996:151-170)(l<onsln- d~s,entre grupos de afins para criar 11":l~'~elflç80de hce {enyua. -"afinidade W1C~~-
lral~. y.erS. Hugh.Jones (1Q92i 2001):.' . ".
ger (1995), e MelatU (1917), .

2 Ver Koch.Grünberg (1909/10, t:'31j) - Thyukaj McGovcrn (1927:252) - Tai-


..: '~ H.istorlcamente,'há ré~istros dos' C~beO, 1\.lkano, Tariana e de' (mt~o~
grupos' .
doV{lupés bebendo chi.chl! misLurndn às cinzas elos'ossos incinerados de se'lIs nlor- :
wanOj Slradclli (1928129:537) - Thkano em geral; Brüz'2.i Aves da Silve (1962:429)
_ Tukano etn geral; Goldma.n (1972:t4'O) - Cubeol Reichel.Dolmatolf (t971:140).- tos.
Ver Wallace (J889~6;34~)i Coud~ca~. ÚS86/87, U:li3): ~och.Grunberg (i~i09/.'
10. 1I:1S2)i e Goldman (1972:249-250). Esta ,'onna.de .endocanlbaHsmo~ seria eoo:- .
De,ana, C, HU9h-Jone, (1979:123-134)- B';asana: Ârnem (1981:74-75, 112;128 ..
.sist.ente com 'as noções relado~adas à 're~clôgem.dos nomes e outras 'subsl~cias
129, 1984) - Malruna, Vincenl (1985:39-52) ~ Thkano, Cheroela (1993:49-50)-
anímicas no interior do grupo:.' . .
Waoano: Ci1yon (1998:142-152) - Mekuna.

:t Palavras nlio especificadas estão em barasana,


. 13
. .U~8
- Ver Les (1995) para .. d.iscus;ã~
. .; ~~bre~ssa questão.
4 Derivado da raiz do verbo meni-: ~razer. confeccionar" ~

s Os cosos CIofalantes cubeo que se casam com outro,s falantes cubeo e


falanLcs makuna que se casam com outros falantes makuna são freqüentemente ' ..!: .
dtados como exceções à regra lukano de exogamia linauísticil. Isto deixa escapar"
o sentido da ~regra" e tende a sugerir que 05 Cubco c os Makuna são "tribos". Mui-
.:.
tos falanlcs cubeo e m8kuna sc casam com falantes de línguas.distintas das suas
e os Cubeo e os Mnkuna nlÍo são m.enos porte de um sislema regional que os de-
mais {alantes Lukano. . i

6 AlgW1S desLes nomes, como o nosso "Spot" [Pintal, ou o barasana OllarJ (de. -,
óha. "dn7.a") para um ctio cinza, slio ldiossincráticos e derivados de car~.cteJísticos
físicas ou comportamenlais. Outr'os, como Thpari ou Yaima provêm de u'rna classe
cspccitü de nomes vcrdadelros (e freqüentemente inlr~duz(veis) de cã%nça. AlgW1S
di7.cm que as antas também têm nome.c;muito especiais, mas desconheço exemplos.
..
Embora não dJSPOilh.8de dâdos para de~onslrá:lo, é prováve~ que os (mC-
'7 ,
i
renles clãs tenham a propriedade de subconjuntos desses nomes. Ver, também,
Joumet (1995:5J-54) sobte os Curr~paco.
,
i
•,
Agradeço a Viveiros de Castro por m~ chamar 11a:tenção pora a relação
11

complementar entre nomes de espírito e nomes d~:eslIangeiros.


.~.
Cayon (1998) c uma lranscriçâo de uma grl,\vaçlio feita por Roberto Gardll
!l
J "
I.
(Makuna) do rio Toncélpara o prol. Àrhem. Sou-lhe 9:ralo por ter permitido utilizar
esse malerial.

10 Embora ninguém lenha me afirmado isto, pode-se pensar que este seja o

momento no qual a pessoa. de quem prov~m o nome da criança esteja agora com-
pletamente morta e se torne um anceslrar.
~.
.
,
'\
.. " _ .,...:-:;.,.- .
I
\
•• NO,"'!S SIiOtTas. li 1I10Ur.7.A Y1SIVEL
NOMES SECllETas E lUOUttA vlslVEL .
"
.-;.,
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.' ".,
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