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1. AUTORES:
Ana Silvia Volpi Scott - Possui Graduação em História pela Universidade de São
Paulo (1981), Mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (1987) e
Doutorado em História e Civilização pelo European University Institute / Itália
(1998). Professora vinculada ao Departamento de Demografia e Núcleo de Estudos de
População (NEPO), ambos da UNICAMP. É professora permanente no Programa de
Pós-Graduação em Demografia e no Programa de Pós-Graduação em História
(IFCH-UNICAMP)
1. OBJETIVO CENTRAL:
Fazer um balanço sobre a contribuição dada ao estudo da população, da família e do grupo
doméstico no Brasil. Pelo menos, desde os finais da década de 1970 historiadores brasileiros
tem usado e se inspirado na produção do grupo, capitaneado por Peter Laslett, que foi
também seu fundador. Além de discutir a influência desses trabalhos, procura-se chamar a
atenção para outros aportes que foram menos explorados pelos pesquisadores brasileiros.
2. CONCEITOS HISTÓRICOS
- Nova História
- Demografia Histórica
- Historia da Familia
- Conceito de Família
- Análises quantitativas, nominais
3. FONTES HISTÓRICAS
- Mais importante ainda era o fato do livro trazer uma série de hipóteses de trabalho e
uma clara linha de investigação. Colocavam-se em evidência as vantagens de tratar as
fontes através da metodologia de Reconstituição de Famílias, ao invés da contagem
meramente agregada dos Registros Paroquiais. Os dados de Wrigley, sobre Colynton
publicados entre 1966 e 1968, fizeram com que depressa essa localidade se tornasse
tão conhecidos como Crulai, localidade francesa que havia servido de ensaio-estudo
para Louis Henry.
- Peter Laslett, juntamente com Richard Wall, organizou o também clássico volume
Household and Family in Past Time. Comparative studies in the size and structure of
the domestic group over the last three centuries in England, France, Serbia, Japan,
and Colonial North America, with further materials from Western Europe,
Cambridge, 1972.
- Este livro conta, na sua introdução, com a discussão das definições, métodos e
esquemas de análise propostos por Laslett e seus companheiros de Cambridge para o
estudo do grupo doméstico. Esta proposta ampliava a abordagem limitada à família
biológica, recuperada através da metodologia francesa da Reconstituição de Famílias.
Propunha o estudo do grupo de co-residentes, que dividiriam o mesmo espaço e
teriam atividades comuns, compartilhando, eventualmente, relações de parentesco,
através da utilização de listas nominativas de habitantes de 100 comunidades inglesas.
- Para Peter Laslett o uso das listas de habitantes constituía um privilegiado instrumento
para os historiadores, pois agrupava os indivíduos co-residentes a partir de três
critérios básicos: um critério geográfico, pois os indivíduos dormiam sob o mesmo
teto; um critério funcional, já que os indivíduos partilhavam certas atividades; e um
critério de parentesco, ao reunir indivíduos com laços de sangue e/ou aliança.
- Ressalve-se que este último critério nem sempre era verificado.
- O conceito de ciclo de desenvolvimento familiar foi elaborado por Lutz Berkner, e foi
explorado em um artigo já citado, publicado em 1972, que analisava uma região da
Áustria, durante o século XVIII. Para Lutz Berkner o estudo da família e do domicílio
deveria ser realizado com base na análise do ciclo de vida do chefe do domicílio,
apontando os estágios diferenciados do domicílio camponês.
- O ponto crucial reside no fato de que Berkner acreditava que as famílias atravessavam
ciclos de desenvolvimento como indivíduos que compunham e interligavam seus
ciclos de vida. O censo ou a lista de habitantes apresentaria apenas um corte
transversal no tempo, dando um quadro estático dos domicílios e das famílias. Na sua
concepção, o domicílio deveria ser tomado como uma unidade em transformação, de
acordo com a dinâmica de movimento da família que o compunha, por isso o censo
não mostraria, por si só, o ciclo que o domicílio atravessava. Concluía que era
necessário acompanhar-se o domicílio em suas diferentes fases ao longo do tempo.
Neste artigo Berkner defendia que a baixa freqüência da família troncal não
testemunharia sua pouca importância, ou que a sociedade não fosse fundada neste tipo
de estrutura familiar. Mostraria apenas que a fase nuclear era a fase predominante.
- Laslett e seu grupo, mais uma vez inovaram e lançaram as sementes que acabaram por
relativizar a pouca importância dos nascimentos ocorridos fora do matrimônio
legítimo em algumas áreas da Europa Ocidental, que incluíam Portugal, e que
mereceriam uma atenção maior dos pesquisadores brasileiros
- O tema do envelhecimento, por sua vez, que ainda hoje continua na pauta de interesse
de demógrafos e historiadores também recebeu atenção especial de Peter Laslett. Em
parceria com David Kertzer, Laslett publicou, em 1995, o livro Aging in the Past:
Demography, Society, and Old Age.
- O problema geral que se coloca é como, num trabalho histórico, no qual um indivíduo
pode ser citado diversas vezes, em diversos documentos e em diferentes momentos
temporais, o investigador pode estar certo de que quando um indivíduo é mencionado
num registro é realmente o mesmo indivíduo citado noutro registro.
- A correta identificação dos indivíduos passa, dessa forma, a ser a pedra de toque, o
cerne da investigação. Por conseguinte, é indispensável saber como superar as
dificuldades inerentes à utilização de fontes nominativas elaboradas num contexto
histórico-temporal onde alguns atributos identificadores como o nome, o nome de
família, a idade, não detinham a importância que desfrutam nas sociedades atuais. E,
neste sentido, os trabalhos de Wrigley e MacFarlane constituem marcos
teórico-metodológicos fundamentais. Integram-se na mais pura tradição do
Cambridge Group, isto é, a produção de artigos e livros que mudaram os rumos e
enriqueceram o estudo da família e da população no passado.
PARÁGRAFO SÍNTESE
Um dos grandes desafios para os demógrafos historiadores é aprofundar o estudo do
“cenário” complexo sobre as diferentes famílias que compunham a sociedade colonial e do
Brasil independente, pelo menos até os meados do século XIX, refinando a análise do
“significado mais abrangente da família” nas sociedades do passado pré-industrial, como
propôs Mitterauer. Afinal, as funções que a família desempenhava nas sociedades tradicionais
eram largamente diferentes daquelas que a caracterizariam nos tempos contemporâneos. E
esse me parece o momento propício para estimular tais reflexões, por conta dos caminhos que
estão sendo trilhados pela recente produção historiográfica luso-brasileira.