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Camila Mohr
CAXIAS DO SUL
2016
UCS – Universidade de Caxias do Sul
Especialização em Modelagem de Moda: Conceito e Interpretação
Camila Mohr
Resumo
Introdução
A pesquisadora de tendências, apontada pela revista Time, como uma das pessoas
mais influentes do mundo da moda, Li Edelkoort, apresentou o Manifesto Anti-Fashion no
inicio de 2015, ressaltando que a moda do jeito que conhecemos hoje está obsoleta devido à
imensa exploração de mão de obra escrava, produtos tóxicos, ritmo desenfreado de produção
e descarte sem pensar nas consequências ambientais e sociais. Ela acredita que antigamente
havia muito mais ousadia, os grandes nomes propunham novidades e mudanças sociais e hoje,
tudo que se vê são reutilizações de tendências passadas.
Um dos exemplos da desvalorização da moda seria o fast fashion, caracterizado pelo
alto grau competitivo e por baixo custo de produção, devido a um momento da indústria que
se baseia em um crescimento de consumo e uma produção acelerada. O segredo das grandes
magazines é conquistar os consumidores com peças que não desequilibram o orçamento e
que, ao mesmo tempo satisfaçam o desejo por novidades. Percebe-se que funciona como um
inclusor social ao facilitar o acesso aos produtos de moda às classes menos favorecidas,
contribuindo para uma maior democratização da moda. No momento em que questões
relacionadas à sustentabilidade estão em voga, esse sistema segue ao caminho inverso, já que
consiste na substituição prematura de produtos. O consumo excessivo, fomentado pela moda
de uso rápido, causa consequências diretas ao meio ambiente, pois, para manter o ritmo
acelerado de produção, há gastos exagerados de energia, matéria-prima, transporte, entre
outros, além de uma alta produção de lixo. (MARQUIORO, 2010).
De Souza e Emídio (2015) ressaltam que o problema do fast fashion é sobretudo a
efemeridade dos produtos. Como o consumidor deste modelo quer sempre as últimas
novidades da moda à disposição, e muito rapidamente são lançadas novas tendências, a busca
pelo novo e o descarte do antigo é um processo muito rápido, o que faz com que a indústria
tenha um volume de produção muito grande para suprir essa necessidade de novidades.
“Para fugir desse cenário homogêneo que está se tornando a indústria da moda,
começa a ser cogitada a possibilidade de uma desaceleração no processo de produção do
vestuário, a busca por um design mais original no qual a inovação e a diferenciação sejam
reais, com maior qualidade, proporcionando ciclos de vida mais longos aos produtos”.
(MARQUIORO, 2010, p.134). Ao operar em proporções menores e obedecer a princípios
éticos e sustentáveis, o slow fashion se apresenta como uma estratégia de moda que visa a
proteção e a melhoria da utilização dos recursos humanos e naturais necessários para o nosso
futuro e sobrevivência. (FABRI; RODRIGUES, 2015).
De Carli (2013) salienta que diante de um cenário de saturação do mercado e variação
cada vez mais rápida da moda, faz-se necessário um olhar dirigido às necessidades humanas,
uma análise mais intimista. O objetivo geral deste projeto é desenvolver um trench coat
mediante aos conceitos de sustentabilidade, fazendo uma ligação entre a modelagem e o
conceito slow fashion, explorando o design como inovação, porém respeitando algumas
características principais da peça, reforçando os conceitos de identidade e atemporalidade que
ela transmite.
REFERENCIAL TEÓRICO
1. Tecnologia e Sustentabilidade
Nasce uma nova sociedade moderna. Trata-se não mais de sair do mundo para aceder à
racionalidade moderna, e sim de modernizar a própria modernidade. “Na hipermodernidade,
não há escolha, não há alternativa, senão evoluir, acelerar para não ser ultrapassado pela
“evolução”; o culto da modernização técnica prevaleceu sobre a glorificação dos fins e ideais”
(LIPOVETSKY, 2004, p.57).
Este crescimento acelerado e o consumo cada vez maior têm causado prejuízos sociais
e ambientais por parte de vários setores, cujos produtos são mais descartáveis, como é o caso
do vestuário. A indústria têxtil é uma das atividades de maior faturamento no mundo,
movimentando cerca de US$ 33 bilhões anualmente, segundo a Associação Brasileira da
Indústria Têxtil, o que corresponde a 3% do PIB, perdendo apenas para a indústria alimentícia
que ocupa o primeiro lugar. Entretanto é uma das maiores responsáveis por causar
insustentabilidade no ciclo ambiental, que ocorre desde a extração de suas matérias-primas ao
descarte final.
O mercado atual exige cada vez mais das empresas de moda a entrega de valores que
satisfação fisicamente e emocionalmente os consumidores, requerendo assim um maior
investimento de pesquisas e experimentações na hora da criação, estabelecendo assim uma
relação entre indivíduo e objeto. As marcas que trabalham no conceito slow utilizam métodos
artesanais na elaboração das peças, permitindo a dedicação de um tempo maior na concepção
e produção do produto, assim como seu uso. São roupas bem construídas, com a utilização de
materiais de alta qualidade, ênfase no design e excelência nos acabamentos. É mais do que
uma forma politicamente correta de produzir peças do vestuário; é um novo olhar sobre o
ritmo do tempo, uma nova consciência ecológica relacionada ao ato de vestir; é um
movimento que resgata a memória afetiva de objetos, propõem a reciclagem, a
multifuncionalidade e a possibilidade de personalização ao longo do tempo.
Morace (2012) acredita que com globalização no mundo contemporâneo foi
fortalecido o consumidor autoral, que valoriza produtos que tenham originalidade, significado
e que sejam inovadores e distintos. O consumidor é parte atuante do processo de
gerenciamento da informação que resulta em escolhas cada vez mais segmentadas,
culminando em escalas reduzidas de produção, que chegam até a individualização e
customização. (NOBRIGA, 2015).
Ao perceber o potencial de exclusividade das peças artesanais, o mundo da moda
iniciou um processo de aproximação com ateliês, artesãos, cooperativas e oficinas, muitas
delas situadas em comunidades carentes, agregando conceitos da economia solidária,
formando redes de crescimento socioeconômico em localidades que necessitam de
investimentos. Isso gera empregos para parcela da população negligenciada pela forma
hegemônica de produção. A roupa feita manualmente é elaborada de forma personalizada,
com acabamentos criteriosos, corte preciso, caimento perfeito, ao contrário da produção feita
por máquinas, no processo manual há sentimento e história, são peças únicas que resgatam a
identidade cultural, a memória e a tradição. Para Silva (2010) a chave do sucesso deste tipo de
confecção, mais lenta, e de melhor qualidade está na projeção de produtos personalizados e
com edições limitadas, afirmando que o cliente torna-se devoto à marca por receber
tratamento diferenciado e produtos singulares. O valor e conceito agregados às peças, é
suficiente para que o consumidor volte a comprar, talvez não tantas vezes seguidas, por se
tratar de peças bastante duráveis e de preço pouco mais elevado que além de tudo podem ser
combinadas facilmente com as demais peças de seu guarda-roupa, mas de tempos em tempos,
garantindo fidelidade e sucesso à marca.
Outro diferencial que deve ser destacado neste mercado é a inovação das peças.
Muitas vezes, erroneamente, o termo é associado a uma estética primária. No entanto, as
produções de moda sustentável têm se destacado justamente pelo design funcional e arrojado.
Também é válido pontuar o repentino e estrondoso interesse na reutilização de vestuários por
meio do público consumidor de moda, a busca por peças de brechó e customização de roupas
já existentes no armário, vem crescendo cada dia mais, pois além de encaixar-se em um estilo
vintage que atualmente encontra-se em alta, o usuário ainda contribui para uma
conscientização ambiental.
O design para a sustentabilidade é, sem dúvida alguma, um novo enfoque, que rompe
algumas barreiras do sistema de design de moda vigente na atualidade. A principal mudança é
entender o processo de design a partir de uma abordagem do ciclo de vida útil do produto, que
vai desde sua concepção até as estratégias de gestão para o fim de sua utilização. (SALCEDO,
2014). “A conscientização progressiva de que habitamos um planeta com recursos finitos vem
trazendo consigo o inicio de um período de transição e busca por outros modelos de
desenvolvimento, paradigmas possíveis dos quais possamos evoluir no termo
sustentabilidade”. (SALCEDO, 2014, p.125).
Audrey Hepburn garantiu a popularidade do trench coat por muito tempo, tornando-o
peça obrigatória para a adolescente que aspirava ter a graça da atriz. Tanto em Sabrina (1954)
como em Cinderela em Paris (1957) e Bonequinha de luxo (1961), ela o usa antes de se
transformar na deusa da alta moda em Paris. “O trench coat de Audrey era uma peça de
alfaiataria premonitória, uma sacada do gosto e refinamento impecáveis que ela iria mostrar
em sua personificação da alta costura”. (SMITH, 2004, p. 166).
Orientador: Professora Bernardete Lenita Suzin Venzon 5
UCS – Universidade de Caxias do Sul
Especialização em Modelagem de Moda: Conceito e Interpretação
Grandes estilistas como Yves Saint Laurent e Jean Paul Gaultier também exploraram
as possibilidades, com interpretações fantásticas das linhas veneráveis da peça. Yves Saint
Laurent apresentou um trench coat pela primeira vez em 1968, em suas mãos ficou mais
fluído e sensual do que o protótipo inglês, mais ajustado ao corpo, revelava mais sensualidade
inata da roupa. Ele tornou o casaco uma peça essencial do guarda-roupa feminino no início
dos anos 1970, um símbolo da mulher chique e liberada. Por sua vez, Jean Paul Gaultier
explorou as possiblidades mais ousadas, com interpretações fantásticas das linhas veneráveis
da peça. Em sua coleção de alta-costura de 1998, ele incluiu um vestido de baile talhado
como um trench longo, de lã azul-marinho, a roupa abraçava o corpo e terminava em uma
calda, enfatizando as curvas da silhueta com duas carreiras de botões. (SMITH, 2004).
Inúmeras revistas festejaram-no como um “clássico” que nunca sai de moda, que só
melhora com o passar do tempo e sem o qual todo guarda roupa é um fracasso. Qualquer
composição ganha ares de sobriedade e sofisticação com a peça, o que não significa que ela
não possa parecer moderna. Nos últimos anos, o trench coat foi redescoberto por uma nova
geração de usuários. Estilistas como Marc Jacobs e Oscar de la Renta puseram-no nas
passarelas , muitas vezes personalizando-o com novas versões em couro, seda, estampas,
cores vivas e metálicas, e abotoamentos assimétricos , atribuindo charme e elegância a
qualquer look. (SMITH, 2004).
Os primeiros trench-coats de 1901 e os desfilados atualmente nas passarelas
continuam com as mesmas características, mais de 100 anos após a sua criação continuam
sendo ícone da marca e um sucesso de vendas a cada coleção lançada. Um item eterno que se
reinventa de acordo com os muitos tipos e gostos dos seus consumidores atuais, mas sem ficar
repetitivo e nem perder sua identidade, sobrevivendo aos modismos, e reinando soberano até
hoje.
“Do final da Antiguidade (476 d.C.) até meados da Idade Média, não houve grandes
mudanças nas formas do vestuário em quase toda a Europa, em grande parte por causa da
doutrina cristã.” (MARIANO, 2011, p.48). As roupas eram compostas por capas e véus para
cobrir os corpos, de camisas, túnicas e calções para homens e uma espécie de túnica longa
para as mulheres. (DINIS; VASCONCELOS, 2014.)
“A roupa feminina foi recebendo ajustes ao longo do século XI, e as túnicas eram
cobertas por uma sobreveste, cujas mangas foram crescendo e alargando em direção
ao punho. Os modelos variavam em volume, e a evolução das técnicas de
modelagem permitiu que as peças fossem mais recortadas e recebessem nesgas e
pregueados.” (DINIS; VASCONCELOS, 2014, p.62).
Braga (2004) salienta que do final da Idade Média e o principio do Renascimento foi
de estrema importância, pois foi nessa passagem cronológica que foi surgindo o conceito de
moda. “Inicialmente de cunho religioso, as cruzadas foram ganhando também o caráter
comercial ao estabelecerem acesso a inúmeros artigos que o europeu ocidental desconhecia.”
(Braga, 2004, p.40). Com as cruzadas e a reabertura do comércio vieram não apenas os
tecidos orientais, mas as próprias roupas ou a técnica de corte. (LAVER, 1989). Para Leite
(2010) a tomada de consciência de que é possível teorizar e codificar as coisas tem uma
implicação direta no desenvolvimento tecnológico. A geometria analítica e o sistema de
coordenadas propiciou a concepção de uma tecnologia com esteio científico para a construção
de roupas ajustadas e ajudou na invenção de ferramentas facilitadoras. “Entre os séculos
XVIII e XIX, ocorre uma série de transformações nos meios de fabricação, no que diz
respeito à confecção de vestimentas. As indústrias têxteis emergiram e o uso de enchimentos,
entretelas, forro e barbatanas favoreceram o desenvolvimento da modelagem. Uma gama de
tecidos de diferentes pesos e graus de flexibilidade afetou a maneira como as roupas eram
estruturadas e apontou para novas possibilidades. (MARIANO, 2011 apud TARRANT,
1996).
Até meados do século XIX, segundo Lehnert (2001) a produção do vestuário era
manual, alfaiates confeccionavam o vestuário masculino e costureiras e modistas serviam ao
público feminino. Com a Revolução Industrial, a alfaiataria se tornou uma ciência e alfaiates
habilidosos tiveram suas próprias metodologias de utilização das medidas do corpo humano,
usadas em construções de padrões variáveis, gerando roupas prontas para o uso, com
ampliação e redução de tamanhos. “Três adventos foram fundamentais: o aparecimento da fita
métrica, o busto manequim (manequim técnico) e o estabelecimento de um traçado básico do
corpo.” (LEITE, 2010, p.3). Dinis e Vasconcelos (2014) apud Jones (2005), afirmam que com
a invenção da máquina de costura em 1829 foi possível a produção em massa. As primeiras
peças a serem confeccionadas em máquinas foram as roupas masculinas e os uniformes
militares. Costureiras foram levadas para as fábricas e nelas houve uma padronização de
tamanhos, os desenhos de moldes e procedimentos de classificação e etiquetagem se
desenvolveram.
No ano de 1858 surge Charles Frederick Worth, apresentando uma nova proposta,
modificando o conceito de moda até ali estabelecido, instituindo a Alta Costura.
“As origens da alta costura remontam ao inicio do século XVII, quando a França era
o centro dos têxteis de seda de luxo da Europa. Mulheres da nobreza pagavam para
que criadores produzissem vestidos e acessórios personalizados para ocasiões sociais
e da corte. Esses couturies (do francês “couter”, que significa costurar), criavam
peças exclusivas para as clientes e incluíam seus nomes em etiquetas costuradas nas
roupas.” (RENFREW; RENFREW, 2010, p.80).
Worth não confeccionava vestidos segundo o desejo de suas clientes. Criava coleções
que apresentava e depois às senhoras da sociedade, que apenas precisavam escolher o tecido
desejado. (LEHNERT, 2001). “Worth conseguiu concretizar os seus ideais de beleza e
elegância, tendo dessa forma cometido a proeza de transformar o alfaiate num criador de
moda e o artesão num artista.” (LEHNERT, 2001, p.9). Assinin e Masson (2014) ressaltam a
obsessão do estilista pelo caimento perfeito, sendo pioneiro a entender o quanto o tecido e
design de uma roupa precisavam andar juntos. Percebeu a importância de alinhar o molde ao
urdume do tecido, o que se tornou um dos fundamentos da modelagem.
Entre as várias invenções para o vestuário da época está o recorte ou linha princesa. A
partir de experimentos para descer a costura da linha da cintura para um pouco acima da linha dos
quadris, Worth conseguiu eliminar a costura horizontal que unia corpete e saia, graças a recortes
verticais descendo do busto até os quadris. (MARIANO, 2011)
preocupação com a moda da época, suas obras são famosas pela elegância atemporal e pela
maneira como valorizavam o corpo. (SHACKNAT, 2012). “Grès via o seu trabalho como
uma arte, que não tinha tanto a função de tornar a vida mais cómoda para as mulheres, mas
mais a de acentuar a beleza do corpo.” (LEHNERT, 2001, p.38).
Fonte: http://www.blue17.co.uk/vionnet-part-2/
Obs: Este diagrama mostra a geometria matemática precisa por trás das linhas fluidas
Fonte: http://www.blue17.co.uk/vionnet-part-2/
Fonte: http://www.vogue.it/en/news/encyclo/designers/g/madame-gres
As revistas de moda dos anos 20 dão uma ideia dos costureiros que ditavam as
tendências em Paris e no resto do mundo. Dentre eles destaque para Gabrielle Chanel, a
responsável por tornar a moda realmente moderna. A simplicidade de suas criações fazia furor
em uma época que muitas mulheres continuavam a usar espartilho por baixo de vestidos
carregados de adornos. Suas criações contribuíram para cimentar a imagem da mulher na
sociedade que hoje parece obvio. Chanel pretendia ajudar as mulheres a emanciparem-se
pondo à disposição um tipo de vestuário confortável e desportivo, para ser vestido em
qualquer ocasião. Trabalhava para mulheres modernas e independentes como ela própria.
(LEHNERT, 2001).
Após a guerra e um período de grande penúria e escassez, a alta-costura começou a
fazer as primeiras tentativas de suavizar a silhueta e de renovar o conceito clássico de
elegância. Em 1947 Chistian Dior, um jovem estilista pouco conhecido na época, lança sua
primeira coleção, a qual deu o nome de New Look. Com suas saias de pregas, franzidos,
forros e armações, cintura de vespa, corpetes justos, ancas acentuadas e ombros estreitos, que
valorizavam as formas femininas. A característica mais marcante do novo estilo era a total
modificação das linhas. Os ombros das mulheres tornaram-se mais estreitos, readquirindo os
conceitos naturais, e os enchumaços eram evitados. Porém seu maior trunfo foi a definição
das linhas “A” ou a linha “Y”. A cada nova coleção surpreendia e entusiasmava o mundo com
suas criações, ditando realmente a moda da época. Em apenas dez anos, Dior conseguiu
construir um império de insuperável renome internacional. (LEHNERT, 2001).
Entretanto neste mesmo período, as casas de alta-costura fundaram boutiques que
atenderiam ás necessidades de mudanças que o momento exigia. Linhas mais baratas,
oferecendo coleções com pronta-entrega, conhecidas como prêt-à-porter. O prêt-à-porter, ou
pronto para vestir consiste em roupas produzidas em quantidade, diferentemente das peças
exclusivas, de confecção artesanal e sob medida da alta-costura. São produzidas para uma
quantidade maior de clientes e em tamanhos padronizados. Até 1950, a moda italiana e a
moda americana dependiam da alta costura de Paris, de onde eram copiados os modelos.
Christian Dior foi um dos primeiros a vender moldes em musselina para os Estados Unidos
para serem copiados e vendidos em lojas de departamentos. (RENFREW; RENFREW, 2010).
“Para a moda, a revolução dos anos 60 se dará sobre tudo pela explosão do prêt-à-
porter, que passa a ser o principal polo irradiador de novas tendências e de
criatividade, marcando o declínio da alta-costura, cujo fechamento das maisons será
proporcional à diminuição da clientela. Os anos 60 são fortemente marcados pela
ascensão do jovem enquanto categoria individualizada.” (CALDAS, 2013).
Nos anos 70, Yyes Saint Laurent lançou a Rive Gauche, prêt-à-porter para homens e
mulheres, popularizando sua abordagem de estilo, luxo e dos consumidores de moda
contemporânea. Saint Laurent construiu de forma magnifica um império da moda
internacional com base no prêt-à-porter, tinha diversidade cultural e coragem para questionar
as regras, e também criando conceitos chocantes para a época, incluindo o conjunto safari e
um terno estilo smoking para mulheres. (RENFREW; RENFREW, 2010). Foi um homem
conectado com o mundo, sempre acreditou que a roupa devia estar a serviço da mulher e não
ao contrário.
Na década seguinte, para Braga (2014) houve uma verdadeira profusão de influências
e contrastes, opostos conviviam em harmonia e ambos eram aspectos de moda. Surge também
nesse período as “tribos de moda” e o culto ao corpo se fez presente num inicio de onda
frenética às academias de ginastica. As roupas eram extremamente justas e coloridas. Em
Paris criadores japoneses se estabeleceram e influenciaram a moda com suas propostas de
intelectualidade através da limpeza visual. Issey Miyake, Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto
diziam em suas linguagens de moda o máximo com o mínimo possível de cortes, cores e
acabamentos m suas roupas. Um visual andrógino também era característica dessa tendência.
(BRAGA, 2014).
“Também nesse decênio, além da tecnologia têxtil, não se pode esquecer do início
da informatização para o setor de moda. Computadores com programas específicos
de modelagem, estamparia e outros passaram a fazer parte do dia-a-dia das
confecções, acelerando a produção e dinamizando possibilidades no trabalho de
moda.” (BRAGA, 2014, p.99)
tomando partido a evolução tecnológica que permite a construção das peças sob medida e
comercializadas pela internet. (DINIS; VASCONCELOS, 2014).
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Para que seja possível desenvolver uma coleção ou mesmo apenas uma peça de roupa
são necessárias várias etapas dentro do processo produtivo. O setor de modelagem é
considerado como uma das partes de maior relevância, pois é ele que permite dar forma as
ideias do estilista. “A modelagem pode ser compreendida como o processo que permite
correlacionar a natureza bidimensional dos tecidos à tridimensionalidade do corpo, seja
respeitando seu formato anatômico ou remodelando-o.” (MARIANO, 2013). Como um
processo essencial na confecção é possível realizar a modelagem de diferentes técnicas, tais
como:
Moulage ou modelagem tridimensional que pode ser definida
como um trabalho artístico durante o qual o tecido é amoldado diretamente
sobre o corpo (ou manequim) de modo a obter marcações que darão forma
geométrica ao molde, possibilitando a visualização direta do resultado e da
aparência do produto e seu caimento com o tecido utilizado; (OSÓRIO, 2007).
“Esta técnica representa uma forma prática e rápida de se obter resultados
positivos no caimento de peças do vestuário, oferendo grande liberdade de
construção para o modelista e até mesmo para o designer.” (DINIS;
VASCONCELOS, 2014, p.95). Depois de finalizada a moulage da peça, faz-se
todas as marcações necessárias para identificar as linhas do molde, esta é
retirada do manequim para a planificação das partes e o acréscimo de costura.
5. Tabelas de Medidas
domínio dos métodos de modelagem e suas respectivas técnicas, não são por si só suficientes
para desenvolver formas vestíveis.
MANDELLI (2014) acrescenta que para usuários que prezam pela qualidade, o
acabamento e a boa costura são essenciais para uma peça, mas esses fatores isoladamente não
fidelizam o cliente a uma marca. A modelagem é um fator importantíssimo na busca da
satisfação do consumidor. Ao apropriar-se dos recursos da modelagem durante o processo
criativo, a empresa ou profissional agrega valor ao produto, tornando muito mais interessante
aos olhos do consumidor contemporâneo. Osório (2007) enfatiza que o design moderno de
produto tem o foco principal à integração de novas tecnologias, de modo atender às
necessidades de conforto, beleza e praticidade exigidas pelos consumidores.
Para o presente trabalho foram aplicadas técnicas de modelagem plana tradicionais
mescladas com a técnica Transformational Reconstruction, desenvolvida por Shingo Sato,
com o objetivo de trazer uma nova roupagem para o tradicional Trench Coat, desenvolvendo
variações e construções diferentes para a peça.
A metodologia usada para o desenvolvimento das bases de corpo frente e costas foi a
estudada no Curso de Design de Moda da Universidade de Caxias do Sul, adaptada pela
professora Lígia Osório. Para a construção da manga foi utilizado o método apresentado por
Sonia Duarte e Sylvia Saggese no livro Modelagem Industrial Brasileira.
8. Ilustração do projeto
Como resultado da pesquisa, foi desenvolvido um trench coat em tecido lona de seda
(70% seda e 30% algodão) da empresa Casulo Feliz. Esta produz os fios de seda de forma
manual, aproveitando os casulos impróprios para a indústria e também reciclando os
subprodutos dessa mesma matéria-prima. No forro foi usado sarja 100% algodão orgânico,
fornecida pela Justa Trama. A organização é referência em economia solidária no Brasil e
reconhecida internacionalmente como a rede nacional mais completa do país, por ser uma
cadeia produtiva que começa com o plantio do algodão agroecológico e vai até a
comercialização de roupas feitas com o produto final e que trabalha nos preceitos da
economia solidária, sustentabilidade e comércio justo. A modelagem do trench desenvolvido
respeita sua forma básica, porém seu diferencial encontra-se nos seus recordes resultantes da
técnica Transformational Reconstruction.
A partir de uma mesma base de um trench coat tradicional foi pensado em três
modelos, todos confeccionados com tecidos sustentáveis. O primeiro modelo é uma versão
para ser usado só ou complementando um look, com mangas curtas, este mantém alguns
elementos do tradicional, com transpasse, lapelas, pala e um cinto. A segunda opção é um
modelo mais moderno, em virtude dos recortes desenvolvidos com a técnica
Transformational Reconstruction, porém seu corte reto faz com que se mantenha entre os
clássicos, passando um ar mais sóbrio e elegante. Por fim o terceiro modelo utiliza também a
estrutura básica do trench, possui lapela e pala, mas foi transformado em um maxi colete de
alfaiataria. Todas as peças são versáteis e podem ser usadas por todos os tipos de
consumidores, dos clássicos aos mais modernos.
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Orientador: Professora Bernardete Lenita Suzin Venzon 35
UCS – Universidade de Caxias do Sul
Especialização em Modelagem de Moda: Conceito e Interpretação
Anexos
Fonte: http://www.lillystrends.com.br/category/viagem
Figura 14: Divas do cinema: Marlene Dietrich (1948), Sophia Loren (1958) e Audrey
Hepburn(1961)
Fonte: http://en.vogue.fr/fashion/fashion-inspiration/diaporama/how-to-wear-a-trench-coat/25941#sophia-loren-
a-rome-en-1958
Figura 15: Twiggy (1968), Jackie Kennedy (1970) e Audrey Hepburn (1980)
Fonte: http://www.harpersbazaar.com/fashion/trends/g2926/iconic-trench-coat-fashion/?slide=7
Figura 17: Modelagem período românico, idade média gótica, renascimento na Itália,
Alemanha e Inglaterra